Cigarras e formiga
REGINA ALVAREZ
O Globo - 25/10/2011
O abismo que existe entre a Alemanha, maior economia da zona do euro, e países como Grécia, Portugal, Espanha e Itália também pode ser medido pela competitividade. O gráfico abaixo mostra a evolução do custo unitário do trabalho, uma forma de medir a competitividade. Para entender essa fotografia, considera-se que, de uma escala de 100 a 150, quanto mais em cima o país estiver, pior a sua situação no ranking da competividade. Luiz Otávio Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil, explica que haveria duas maneiras de atacar o problema, mas, no caso dos países da zona do euro, o caminho da desvalorização do câmbio não pode ser adotado. Assim, resta a segunda alternativa, que seria a redução real dos salários para diminuir os custos da produção, tornando os produtos mais competitivos.
- O problema é estrutural. Toda a confusão do endividamento dos países periféricos da zona do euro passa pela perda de competitividade contínua desses países desde a criação da moeda comum - diz o economista.
Poucas certezas
As informações ainda são muito confusas e imprecisas sobre as negociações da cúpula da União Europeia, que começaram no fim de semana, em busca de uma saída emergencial para a crise na zona do euro. Mas as manifestações dos líderes de Alemanha e França dão pistas sobre quais propostas têm mais chance de sobreviver até quarta-feira, o dia D para o bloco, e aquelas marcadas para morrer.
A economista Monica de Bolle, da Galanto Consultoria, considera que está mais claro que a proposta da França de dar poderes ao Fundo Europeu de Estabilização Financeira de acesso aos recursos do Banco Central Europeu (BCE) está descartada. Os alemães resistem à ideia de permitir o acesso aos recursos do BCE e não querem mudanças muito grandes na configuração atual do fundo.
Ontem aumentaram as especulações sobre o aumento do capital do fundo de resgate, que passaria dos atuais 440 bilhões para até 1 trilhão, depois de uma reunião de parlamentares alemães com Angela Merkel. Mas também não ficou claro de onde sairia o dinheiro. Um proposta que surgiu no fim de semana é capacitar o fundo para oferecer garantias aos países endividados da zona do euro na emissão de novos títulos.
Essas garantias ficariam entre 20% e 30% do valor dos bônus, ampliando as possibilidades de os países captarem mais recursos e recapitalizarem seus bancos em dificuldades. Monica considera essa proposta bastante viável, mesmo que tenha efeitos colaterais, como o aumento da percepção de risco do próprio fundo e de países como a França, já ameaçada de rebaixamento.
Outra proposta que ganhou destaque no fim de semana é o envolvimento dos países emergentes na ajuda aos europeus, por meio do FMI. A ideia de estabelecer dentro do FMI um fundo específico para a Europa com recursos dos países-membros é viável, explica Monica, desde que os recursos sejam direcionados aos governos.
E para o Brasil seria conveniente participar de um esforço desse tipo, porque o país poderia, com isso, aumentar o seu cacife no esforço que vem fazendo há anos para ampliar sua participação no FMI.
- Seria um erro não participar, mas não acredito que isso aconteça. Há interesses econômicos e geopolíticos envolvidos - prevê a economista.
SINAIS I: O mercado aguarda com expectativa a próxima ata do Copom. Espera que o documento traga mais pistas sobre a grande pergunta em relação aos juros: Até onde vai o corte promovido pelo BC? A ata sai na quinta-feira.
SINAIS II: Os últimos dados sobre inflação indicam, segundo a consultoria LCA, que o BC ainda continuará enfrentando bastante ceticismo do mercado em relação à aposta de convergência do IPCA para o centro da meta em 2012.
EMPREGO: A taxa de desemprego, que está em 6%, pode recuar para 5,8% em setembro, segundo previsão da Máxima Asset. O IBGE divulga o resultado também na quinta-feira.