terça-feira, outubro 25, 2011

VINICIUS TORRES FREIRE - Economia, eleição e os nem-nem


Economia, eleição e os nem-nem
VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 25/10/11

Economia, corrupção ou outra "questão de fundo" devem ter ainda menos peso no pleito de 2012

ESTÁ MAIS difícil calcular a combinação de arranjos partidários para a eleição de 2012 do que o destino de inflação ou desemprego. Ainda mais difícil, pois, especular sobre as possibilidades da eleição municipal. As alianças são cada vez mais esdrúxulas e o futuro de fatores importantes do estado de espírito do eleitorado parece muito incerto, os econômicos em particular. Ou não seria tão incerto assim?

A hipótese de o país crescer bem abaixo de 4% no biênio 2011-12 é cada vez menos improvável. Mas esse número bruto e geral demais, o do crescimento do PIB, tende nestes anos a dizer pouco sobre o humor socioeconômico do eleitorado. Excetuadas, como sempre, as hipóteses catastróficas, o desemprego tende a permanecer baixo até bem perto da eleição de 2012. A sequência de anos de bom crescimento econômico tende a tornar menos perceptível o declínio do biênio.

O enorme avanço do salário mínimo, tabelado e indiferente ao aumento da produtividade, continuará a beneficiar dezenas de milhões. Mais imperceptíveis para quem vive nas áreas ricas dos centros ricos do país, programas sociais localizados, como crédito rural e urbano para micro e nanoempresários, devem tornar a vida um pouco mais palatável para essas pessoas que eram faz meia década "excluídas".

Não parece provável que se possa pescar por aí, pelos humores socioeconômicos, as tendências do eleitorado. Mas não há clima para crítica renhida ao governo federal. De resto, nem é preciso dizer que as escolhas municipais costumam se pautar por critérios paroquiais mesmo. "Costumam", ressalte-se; em parte, complemente-se.

Lembre-se que nas municipais de 2000 houve uma "onda rosa", vitórias da esquerda, favorecida pelo desgaste dos anos FHC, por anos de crise econômica e, também, pela estratégia do PT de limar seus ares "radicais", de ser mais "pragmático". Em 2004, perdeu o PT, já no governo federal e gerindo dois anos de crise econômica herdada.

2012, porém, será uma eleição disputada em ambiente muito novo -ou melhor, a geleia partidária foi remixada de forma nova. Desbaratada pela sua incompetência e avariada ainda mais pelo bonde de Gilberto Kassab, o PSD, a oposição nominalmente restante é, em termos nacionais, minoritária.

Do outro lado está um degradé que começa no PT e se degrada em diversos matizes de adesismo. Certo: nas municipais, a indiferenciação entre governo e oposição, ou quaisquer outras, é grande. Mas, agora, em que há partidos quase dilmistas paridos das costelas de DEM etc, a geleia partidária virou suco, batido no liquidificador dos anos da pax luliana-dilmiana. Economia morna, tanto em termos políticos como sociais; partidos e coalizões cada vez mais indiferenciados: o que sobra de possível vetor de debates, críticas ou campanhas, afora questões municipais?

Corrupções? O ambiente econômico morno e a miséria da oposição fazem com que o tema ocupe por ora apenas minorias "indignadas". O ambiente parece propício para os líderes do nem-nem (PSB, PSB) fazer fortuna no espaço aberto pelo desgaste normal do petismo e pela miséria de PSDB e DEM. A esperteza da costura e dos remendinhos políticos deve valer muito mais que as "questões de fundo" em 2012.

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