sábado, junho 01, 2013

Isto não se faz - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 01/06

Camila Pitanga e Nathalia Dill entraram com ação de danos morais contra a “Playboy”. Na edição de dezembro, a revista reproduziu, sem autorização, cenas de filmes em que as atrizes estão sem roupa.
As duas, no passado, já foram convidadas para posar nuas para a revista, mas negaram o convite.

Aliás...
A capa de julho da “Playboy” é, como se sabe, Antonia Fontenelle, viúva de Marcos Paulo. O ator e diretor danadinho brincava que tinha namorado cinco capas da revista (Cibele Dorsa, Flávia Alessandra, Vera Fischer, Marina Mantega e Lúcia Veríssimo).

Eleição 2014
Há queixas de que a torneira de dinheiro do governo federal fechou para Pernambuco nos últimos seis meses com o lançamento da candidatura do governador Eduardo Campos à presidência. Será?

Bom dia, Vietnã

“Essa terra”, de Antônio Torres, será lançado no Vietnã e na Albânia. Com isso, sua obra chega a dez países.

Os penetras

Policiais do Núcleo de Atendimento a Grandes Eventos (Nage) da Polícia Civil vão ao Maracanã amanhã para reprimir cambistas e o marketing de emboscada (ações de propaganda de empresas não autorizadas).
Dentro do estádio, o Nage terá 20 agentes bilíngues.

Jogo que segue
De Helio de La Peña, o humorista, sobre a situação dos estádios do Rio:
— Onde a torcida corre mais riscos: entre os vergalhões do Maracanã ou sob as estruturas do Engenhão?
Faz sentido. 

A Hora da verdade
O crítico literário Luiz Costa Lima, uma das sumidades no assunto no país, deu uma entrevista à “Revista de História da Biblioteca Nacional” acusando Gilberto Freyre pela sua cassação depois do Golpe de 1964.
Na época, Costa Lima trabalhava com Paulo Freire no programa de alfabetização. Segundo ele, o major que o interrogou logo após o golpe militar disse que ele tinha sido denunciado por Freyre, autor de “Casa-grande e senzala”.

É que...
Costa Lima diz que Gilberto Freyre foi que mais se opôs ao projeto de Paulo Freire e à tentativa de renovação das universidades. “A classe média de Recife considerava a campanha de alfabetização um instrumento comunista”, destaca Lima. A revista chega às bancas no dia 7.

Em família

O cantor e compositor francês Georges Moustaki, que morreu semana passada aos 79 anos, era primo de Joelle Rouchou, pesquisadora da Casa Rui Barbosa.
Moustaki adorava o Brasil e gravou “Fado tropical”, de Chico Buarque.

Entre as dez mais

A revistona inglesa “The Economist” deu ao Rio o sétimo lugar na lista das dez cidades mais poluídas entre as maiores economias globais.
O Rio ficou atrás de Montreal e Londres. No topo da lista, ficaram cidades do México, da China e da Índia.

O Rio é uma festa

Que o carioca adora uma festa todo mundo sabe.
Mas veja só: pesquisa da Textual/Overview mostra que 77,9% dos cariocas dizem que vale a pena sediar eventos como a Copa do Mundo. Já em São Paulo, este número cai para 66,3%.

Ônibus desgovernado
A 3ª Câmara Cível do Rio condenou a Transportes Barra S/A a pagar R$ 30 mil, por danos morais, a um passageiro.
É que o coletivo, em velocidade incompatível com o local, bateu em um caminhão e causou lesões corporais graves no passageiro.

Loja do ourives
Dom Orani foi ontem ao Centro Cultural João Nogueira para assistir a “Enlace, a loja do ourives”, musical baseado em texto do Papa João Paulo II e que faz parte da programação cultural da Jornada Mundial da Juventude.
Aproveitou para abençoar o elenco. Não é fofo?

Em tempo...

A Rádio Corredor diz que a próxima Jornada da Juventude será na Polônia, terra de João Paulo II.
O anúncio deve ser feito no Rio, em julho. A conferir.

A cor do amor
Às vésperas do Dia dos Namorados, a Duloren registrou aumento de 25%, em relação ao mesmo período de 2012, nas vendas de... cuecas vermelhas.
Caraaaaaamba!

Sim, tinha um dinheirinho - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 01/05

RIO DE JANEIRO - Imagine sentar-se a uma mesa para um uísque tendo atrás de si uma parede com poemas de Vinicius de Moraes, Paulo Mendes Campos e Antonio Maria, rabiscados pelos próprios; barquinhos pintados por Pancetti com o batom vermelho de Dolores Duran; uma pauta com a melodia de "Aquarela do Brasil", por Ary Barroso; o autógrafo de Pablo Neruda; desenhos de Di Cavalcanti, Antonio Bandeira e Carlos Thiré, e frases de Sergio Porto, Lucio Rangel, Fernando Lobo, Haroldo Barbosa, Aracy de Almeida, Dorival Caymmi, garatujados por eles a caneta, giz ou lápis, inclusive de sobrancelha. E tendo à sua volta os citados.

Nos anos 50, esses artistas, escritores e jornalistas se reuniam nos fundos do Villarino, uma uisqueria na avenida Calógeras, no Centro do Rio, em frente à Academia Brasileira de Letras. Como trabalhavam por ali, o Villarino era para onde eles convergiam no fim da tarde, à espera de que o trânsito para a Zona Sul desafogasse. Foi lá, em maio de 1956, que Vinicius propôs ao jovem Tom Jobim trabalharem juntos, e Tom perguntou: "Tem um dinheirinho nisso?".

Anos depois, o esvaziamento do Centro atingiu o Villarino. Os habitués sumiram e, por ignorância ou má-fé, os proprietários cobriram de tinta azul o painel, destruindo-o. Mas o Villarino não morreu. Sobreviveu como importadora e, desde os anos 80, em melhores mãos, voltou a atrair profissionais da música e da palavra. Tem agora, dez andares acima, outra vizinha ilustre: a editora Casa da Palavra, um xodó carioca.

Um dia caiu-me às mãos uma foto do Villarino, em que aparecem alguns dos grandes frequentadores e o famoso painel. Rita e Antonio, os novos proprietários, mandaram ampliá-la e cobriram uma parede com ela. Nem tudo se perdeu.

O Villarino faz hoje 60 anos. E, sim, tinha um dinheirinho na proposta de Vinicius para Tom.

Bullying estatal: mil ao contrário - MARCELO RUBENS PAIVA

O Estado de S.Paulo - 01/05

Nascemos. Com determinação genética e papel social, como um animal político (Aristóteles). Com signo, ascendente e um mapa que detalha nossa personalidade. Alguns acreditam que um carma nos seguirá a vida toda. Se mamãe ouviu música erudita durante a gravidez, nascemos relaxadinhos. Mas logo o Estado mostra as garras.

Papai tem que ir ao cartório. Ganhamos um nome. Que pode ser mudado depois. E uma nacionalidade. Poderemos ganhar outra depois. Nos é dada uma certidão da República Federativa do Brasil, na comarca de um Estado. Um escrivão assina o registro civil. O meu se chama Messias Faria.

Messias certificou na folha xis, do livro número A-15, num registro lavrado na data tal, que nasci no dia ípsilon. Assentou que sou do sexo masculino, de cor branca, filho de papai e mamãe. Meus avôs paternos e maternos, que chamarei de vovô e vovó, foram identificados. Os padrinhos, não. E me darão os melhores presentes...

Ganhamos um RG, que em outros Estados não se chama RG. É um número extenso, o primeiro que devemos decorar, com a data de nascimento. Hoje em dia, também nos pedem a data de emissão do RG, e o UF em que foi emitido. Descobrimos que UF é o mesmo que Estado. Além do RG, data de nascimento, nome do pai e da mãe, data de emissão e do UF, precisamos saber também qual foi o órgão emissor. No meu caso, foi a Secretaria de Segurança Pública do UF SP. Ou SSP/SP.

Aos 16 anos, ganhamos o direito de votar e um Título de Eleitor, uma zona e uma seção. Não podemos deixar de votar, nem perder o recibo do tamanho de um bilhete de metrô, o Comprovante de Votação. Aos 18 anos, temos que ir atrás do Certificado de Alistamento Militar. Os rapazes. Mas o que valerá mesmo é o que vem depois, o Certificado de Dispensa da Incorporação, fornecido pelo Ministério do Exército, Marinha ou Aeronáutica. Depois de jurarmos com a mão no peito e diante da bandeira nosso amor à Pátria. O documento não serve para muita coisa. Ressurge na renovação do passaporte. Como o Título de Eleitor e os Comprovantes de Votação. Falei para guardá-los.

Nascemos, crescemos, ganhamos direitos, deveres e um CIC, depois foi denominado CPF, número que também deverá ser decorado, com seu dígito, e cobrado no preenchimento de cadastros de compras, como o de uma cafeteira. Muitos perguntarão no futuro: "CPF na nota?". Quem não tinha decorado até então, se viu obrigado.

Decoramos até então a data de nascimento, nomes do pai, da mãe, RG, data de emissão do RG, órgão emissor do RG, UF do RG e CPF. Espera. Faltaram o telefone e o DDD, o endereço e o CEP. Curiosamente, perguntam: "Você sabe o CEP?". Tem gente que não sabe? Birra em decorar outro dado importante da nossa existência? Preguiça? Mas é o menorzinho dos números...

Começamos a trabalhar. Mais um número e série, da Carteira do Ministério do Trabalho. Que não vale muito. O que vale mesmo, e agora é requisitado em contratos e cadastros, e não conseguimos decorá-lo, por ser enorme, é o da Inscrição no Pasep, que por alguma razão é chamado de PIS. "Você sabe o PIS?", nos perguntam. Nada de pânico. PIS é Pasep.

O câmbio está favorável, vamos emitir um passaporte? A cada cinco anos, emitiremos um. Na Polícia Federal. Que além de caçar terroristas, contrabandistas, traficantes internacionais, investigar fraudes bancárias, políticos corruptos em operações de grande destaque, emite o documento que precisamos para conhecer o Mickey, o Pateta. Eles querem saber da nossa situação militar, se estamos em dia com o Título de Eleitor. Escaneiam nossas digitais. Até os mindinhos.

O amor chega. Você é flechado pelo cupido, conhece a outra face, a metade da laranja, e se casa. Ganha uma Certidão de Casamento, identificada no livro xis, folha ípsilon, sob o número tal. Outro Registro Civil, o Assento do Matrimônio. Que, por alguma razão que a lógica da burocracia assim determinou, passa a ter o mesmo valor de uma Certidão de Nascimento. Como se casar fosse um renascimento. O Messias que me registrou vai para o esquecimento. O nome de uma companheira que conheci num xaveco despretensioso num boteco (e escolhi) entra na minha vasta planilha documental com a mesma relevância que papai, mamãe, vovôs e vovós (que não escolhi).

A coisa desanda. Melhor não entrar em detalhes. O amor acaba, dizem, para simplificar. Nos separamos. Nos desquitamos. Nos divorciamos. Ganhamos fossa, desânimo, desconfiança, decepção e um Mandado de Averbação. Que, alegria, pode ser simplesmente equacionado em outro casamento, quando conhecemos outra cara-metade, a terceira face da laranja, e ganhamos outro Registro Civil, o Assento do Matrimônio, que também passa a ter o mesmo valor de uma Certidão de Nascimento, o renascimento, arquivando o baixo-astral Mandado de Averbação, que pode ser enviado com a ex para o Azerbaijão, tomar no Baku, a capital, estricnina.

Além de Física, nos tornamos uma Pessoa Jurídica, com a alma inscrita em Município (CCM), Estado (IE) e num cadastro nacional. Outro número a ser decorado, o CNPJ. Depois da barra, costuma vir zero, zero, zero, um, que alguns dizem "mil ao contrário".

Placa do carro? Sim, melhor decorar. Pois você pode escutar pelos alto-falantes do shopping, quando for trocar a cafeteira, que veio com defeito, "favor proprietário do carro placa...". Quando anunciam a placa do seu carro por um alto-falante, deu merda. Nunca é uma notícia boa. Você não ganhou um sorteio, nem uma viagem para conhecer o Mickey. Falei do Renavan, do recibo do IRPF anterior?

O alívio nessa estressante e burocrática existência vem no final. Sua Certidão de Óbito. Nem precisa se preocupar. Dela, não precisa correr atrás, tirar cópias, autenticar, decorar o registro. O problema não é mais seu, mas dos patetas que ficaram.

Crônicas de hospital - ZUENIR VENTURA

O GLOBO - 01/06

Já constitui uma espécie de subgênero de autoajuda o relato de experiências com doenças e hospitais - quando, bem entendido, se sobrevive para contar. Rubem Braga falou do pulmão que perdeu para o câncer: "Quem quiser que se fume." Verissimo contou como foi parar numa emergência com uma infecção generalizada. João Ubaldo descreveu como escapou por milagre de uma pancreatite. Eu mesmo publiquei aqui há tempos a crônica "Com o autor na UTI", onde lembrava como em menos de uma semana fora parar duas vezes na Unidade de Tratamento Intensivo da Casa de Saúde São José, com direito ao susto de uma septicemia, por causa de uma pedrinha no rim.

A lição era: "para qualquer sinal de alteração no organismo, o melhor remédio é procurar um médico correndo. Nada de automedicação ou de protelação, de deixar para amanhã." Agora, foi a vez do colega Denis Cavalcante, de Belém do Pará, com o texto "Sírio & Libanês 1211", relatando suas peripécias durante o mês em que esteve hospitalizado. Sua pressão chegou a 6 x 3, ficou doze dias em jejum, as "dores atrozes" só passavam com morfina e emagreceu doze quilos, mas tudo bem: "Quanto mais excesso de bagagem, mais curta a viagem." Ele seguiu à risca o princípio de que um cronista pode perder até parte do estômago, parte do intestino, mas não pode perder o humor. A exemplo de um companheiro de corredor, com quem travou o seguinte diálogo: - Você sabia que esse andar é o dos pacientes desenganados? Qual foi a sua cirurgia? - Operei o intestino - respondeu Denis.

- Fala sério! Isso é fichinha. O intestino eu fiz no Natal. Agora retirei o baço, um pedaço do pâncreas e outro do fígado.

"Tudo num hospital de grande porte", ele escreveu, "se resume a uma abominável palavra: protocolo.

Um simples cotonete pode demorar horas para chegar. Um picolé de abacaxi nem se fala! Em contrapartida, recebia regularmente um catatau de antibióticos e medicamentos de última geração, a fim de evitar uma infecção que, naquele momento, poderia ser fatal." Denis termina sua crônica pra cima. "Uma coisa é certa: em momento algum ousei desistir. Grande parte da cura é o desejo de ser curado." Quem já passou por experiência parecida sabe o quanto isso é verdadeiro. A vontade pode não resolver tudo, mas ajuda muito.

A Justiça tarda, mas não falha. Demorou, mas mandou soltar quatro réus do incêndio da boate Kiss, em Santa Maria. O advogado deles comemorou, debochando dos que reclamaram da decisão: "Isso é choro de perdedor." De fato, é o choro indignado dos que perderam 242 inocentes, vítimas da irresponsabilidade dos acusados.

Ueba! Maluf tá devolvendo tudo! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 01/06

E eu sempre digo que notícia econômica é a coisa mais democrática que existe: ninguém entende nada!


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Predestinado do dia! Sabe o nome do analista que acertou a previsão do PIB? André Perfeito! Rarará!

E qual o boato de hoje? O chargista Vasqs diz que o boato de hoje é que: o Maluf tá devolvendo tudo! Rarará! Tumulto na boca do caixa.

E como disse ontem: o Maluf tá devendo para um jordaniano chamado Hani Bin Al KALOUTI! O Maluf deu calote no Kalouti. Dessa vez ele se superou! Rarará!

E o papa? O Francisco falou que até o papa tem pecado. Ser argentino é pecado? Rarará.

E olha o folheto imobiliário que recebi: "Casa-loft, obra conjunta de dois arquitetos e um apaixonado". Dois arquitetos e um apaixonado é Parada Gay! Rarará!

E a Volta do PIB! Só se ouve e se lê: PIB, PIB, PIB! E sabe o que a Dilma gritou?. "Maaaantega, cuidado pra não pisar no PIB!".

Lei de Murphy: o PIB caiu com o Mantega pra baixo!

E ninguém sabe o que é PIB. PIB é a Pobreza Individual do Brasileiro. PIB quer dizer Pinto Indo pro Brejo! Rarará.

E eu sempre digo que notícia econômica é a coisa mais democrática que existe: ninguém entende nada! É como novela mexicana: todos trabalham mal, ninguém constrange ninguém!

E diz que o Paris Saint-Germain está interessado em comprar o Ganso. Mas se o Ganso for pra França, ele vira patê! Os franceses não perdoam; o Ganso vai virar patê! Rarará!

E o feriadão? Na casa dum amigo chegou o sogro, a sogra, a cunhada, a prima e o concunhado, a marcha dos vadios! Rarará! Feriadão! A Marcha dos Vadios! É mole? É mole mas sobe!

O Brasil é lúdico! Olha essa faixa num bar em Ilhéus: "Vendemos todos os cigarros. Menos aquele". Rarará!

E num mercadinho em Porto Seguro tem um cartaz na gôndola das cervejas: "Promoção Cerveja Curacu, R$ 1,89". Deve ser a cerveja do Marco Feliciano. Rarará!

E na Bahia, filão de pão se chama "vara" e pãozinho francês se chama "cacetinho".

E eu já vi muito senhor sério de terno e gravata entrar na padaria e gritar: "eu quero uma vara e dois cacetinhos". Rarará.

Nóis sofre mas nóis goza.

Hoje só amanhã!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!!

Hitchcov e Nabocock - SÉRGIO AUGUSTO

O Estado de S.Paulo - 01/06

Creio ter sido o primeiro crítico a desconfiar que Alfred Hitchcock e Luis Buñuel eram almas irmãs, que seus filmes mantinham um intrigante diálogo estético e filosófico. Compartilhei essa suspeita com o mais antigo brasilianista de minha intimidade, Robert Stam, quando passamos juntos uma temporada em Berkeley, em 1971, e ele, passados alguns anos, desenvolveu um ensaio a respeito, incomparavelmente mais profundo que o melhor que eu poderia ter escrito.

Outras almas irmãs (noves fora os imitadores) Hitchcock ganharia nas décadas seguintes, nem todas críveis, nenhuma tão surpreendente quanto Vladimir Nabokov.

Em princípio, os dois só teriam em comum algumas coincidências biográficas. Nasceram em 1899, iniciaram suas respectivas carreiras na década de 1920, emigraram da Europa para a América quase ao mesmo tempo e lá se consagraram mundialmente, com o inestimável arrimo moral e profissional de suas respectivas mulheres. Ainda é pouco, convenhamos.

Ademais, se o cinema do primeiro nos remete, automaticamente, a Cornell Woolrich, Patricia Highsmith e a outros romancistas policiais de menor envergadura, a ficção do segundo estreitou seus laços cinematográficos com Stanley Kubrick, Tony Richardson, Jerzy Skolimowski, Rainer Werner Fassbinder, jamais com Hitchcock. Onde, então, os dois se cruzam?

Não é segredo que Hitchcock admirava Nabokov, e vice-versa. A trama de Lolita fascinara o cineasta, o humor negro (e seco) de O Terceiro Tiro deleitara o escritor. Conheceram-se por telefone, por iniciativa do cineasta, em meados da década de 1960. Decepcionado com a performance comercial de Marnie e decidido a voltar a dirigir um thriller de espionagem, Hitchcock pediu a Nabokov que o ajudasse a elaborar uma intriga que, afinal assumida pelo canadense Brian Moore, resultaria em Cortina Rasgada, com Paul Newman e Julie Andrews.

Em carta datada de 19 de novembro de 1964, o cineasta manifestou suas dúvidas sobre como a noiva de um suposto desertor americano deveria se comportar em plena Guerra Fria, se incondicionalmente a favor do noivo ou, a contragosto, da pátria. Junto enviou outra ideia, que não pudera desenvolver quando ainda dirigia filmes na Inglaterra, girando em torno de uma jovem que trocava uma longa permanência num convento suíço pela azáfama de um grande hotel internacional explorado por uma parentela de escroques. Alegando ignorar como os órgãos de espionagem americanos funcionam, Nabokov descartou a primeira sugestão, interessou-se pela segunda, exigiu total liberdade de criação (concedida por Hitchcock), mas pediu mais tempo para pensar no assunto do que o cineasta lhe podia conceder.

Na mesma carta-resposta, postada em 28 de novembro, Nabokov revelou ruminar, fazia tempo, uma intriga na contramão de Cortina Rasgada, explorando a vida infernal de um desertor soviético refugiado nos Estados Unidos, e, de lambujem, ofereceu a Hitchcock o esboço de uma promissora história de amor, decadência e ressentimento envolvendo um astronauta e uma estrela do show business, que tampouco medrou.

Os biógrafos dos dois costumam desprezar essa troca de cartas e ideias, por desconhecê-la ou minimizar, tolamente, sua importância. O cineasta e o escritor mantiveram contato, invariavelmente por telefone, até pelo menos o final dos anos 1960, quando Nabokov viu-se tentado a escrever o roteiro (adaptado) de Frenesi, que compromissos inadiáveis o impediram de levar adiante. Anthony Shaffer fez um ótimo trabalho, mas a hipótese de um script elaborado por Nabokov até hoje excita minha curiosidade.

"Quantos filmes intrincados, complexos e eletrizantes os dois não teriam feito de parceria?", perguntou-se num ensaio James A. Davidson, o primeiro e, que eu saiba, único crítico a especular sobre as afinidades menos supérfluas e exteriores entre Hitchcock e Nabokov, desde a influência que sobre os dois e suas obras exerceram Kafka e certos autores do século 19, como Edgar Allan Poe e Robert Louis Stevenson, que ambos devoraram na juventude, até o pronunciado gosto por ludibriar espectadores e leitores, brincar com os gêneros (Fogo Pálido, de Nabokov, é uma paródia da literatura detetivesca como Psicose, uma paródia do filme de terror), e deleitar-se com autorreferências.

A estreia simultânea na América, em 1940 (Hitchcock com Rebeca, a Mulher Inesquecível, Nabokov com seu primeiro romance escrito em inglês, A Verdadeira Vida de Sebastian Knight), é detalhe perfunctório se comparado ao peso de Poe e Stevenson sobre os duplos hitchcockianos (Pacto Sinistro, O Homem Errado, Um Corpo Que Cai, Psicose, Intriga Internacional) e nabokovianos (Hermann e Felix em Despair, Quilty e Humbert Humbert em Lolita) e as bem-humoradas intromissões narcisistas dos autores em suas obras. Hitchcock, com raríssimas exceções, às escâncaras; Nabokov, mais sobriamente.

Os dois principais personagens de Fogo Pálido, John Shade e Charles Kinbote, têm muito a ver com o escritor, e o próprio assassinato de Shade por Jacob Gradus não disfarça sua semelhança com a morte do velho Vladimir, pai do autor, no exílio. A três parágrafos do final de Bend Sinister, seu primeiro romance escrito no país adotivo (ele e Hitchcock se naturalizaram americanos), Nabokov assume inopinadamente a narrativa na primeira pessoa depois da morte do protagonista, Adam Krug. Não sei se isso é mais ou menos significativo que as aparições físicas de Hitchcock e a intromissão do próprio Nabokov em Pnin, assumindo o posto acadêmico de seu epônimo anti-herói. Não sei nem preciso saber para aceitar a tese de que Hitchcock e Nabokov nasceram um para o outro.

CADERNO ESPECIAL - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 01/06

As melhores experiências nas escolas públicas brasileiras vão ser estudadas e catalogadas pela Comissão de Educação da Câmara dos Deputados. A ideia é que um grupo de parlamentares viaje pelo país e visite aquelas que conseguiram apresentar os maiores avanços nas avaliações dos alunos.

CADERNO 2

Os dados vão ser depois publicados no portal Observatório da Educação Brasileira, que será lançado no fim do ano, em Brasília.

CADERNO 3

Em junho e agosto, parlamentares da comissão, presidida por Gabriel Chalita (PMDB-SP), vão visitar os Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraná, Tocantins, Pará, Bahia e Minas Gerais. Outros locais ainda estão sendo agendados.

CRIADOR E CRIATURA

Autor da paródia contra Lula baseada na música "Faroeste Caboclo", que já teve mais de 432 mil acessos no YouTube, o empresário Pedro Guadalupe, 27, que trabalha com marketing político digital em Belo Horizonte, diz que apagou o vídeo de seu canal. Mas a peça continua no ar porque, segundo ele, foi copiada "rapidamente" por outros usuários.

RÉPLICA

"Até concordo com o que o filho do Renato Russo [Giuliano Manfredini] falou e cheguei a sentir remorso", diz ele, referindo-se à iniciativa do jovem de tentar tirar do site a brincadeira com a música do pai. "Mas tentar censurar a internet é um erro", diz Guadalupe. Manfredini afirma que não quer que a obra do líder da banda Legião Urbana seja usada para "atacar as pessoas".

LULA OU PAPA

Guadalupe, que fez sátiras apoiando a campanha de Patrus Ananias (PT-MG) para a prefeitura da capital mineira em 2012, diz ter interesse em trabalhar com o senador Aécio Neves (PSDB-MG) se ele for candidato a presidente. E nega que a crítica tenha sido encomendada. "Eu queria falar sobre alguém popular. Se não fosse do Lula, seria de quem? Do papa?"

VIDA CIGANA

Um caminhão com obras de Lygia Clark está rodando Portugal. A mostra itinerante "Lygia Clark Caminhando, Em Busca do Próprio Caminho", que faz parte da programação oficial do Ano do Brasil em Portugal, passará por sete cidades até o dia 30. O projeto nasceu de uma carta escrita pela artista brasileira, em 1963: "Compraria um trailer que se chamaria Caminhando' e faria uma espécie de excursão de ciganos. Seria a maior aventura da minha vida".

CORAÇÃO NO BOLSO

O brasileiro é solidário, aponta relatório anual da ActionAid, organização internacional que luta contra a pobreza no mundo. A arrecadação da instituição no Brasil cresceu 58% em 2012, em comparação com o ano anterior.

BAIXINHO INVOCADO

O ex-jogador e deputado federal Romário (PSB-RJ) diz à "Marie Claire" que brigava muito dentro e fora de campo. "Vejo que era um babaca."

Ele conta que não sabia bem o que fazer na Câmara antes da posse. "Pensei: o que estou fazendo aqui?', mas lembrei do quanto os políticos são malvistos. Não tenho coragem de roubar. Posso até não fazer nada de bom, mas não vou fazer nada de ruim."

RITMO DE FESTA

Os apresentadores Patricia Abravanel, Felipe Andreoli e Rafaella Brites e o ex-presidente do Corinthians Andres Sanchez foram à festa de aniversário do empresário Bruno Dias na casa da promoter Alicinha Cavalcanti.

TUDO VERMELHO

O artista plástico Vermelho inaugurou a exposição "Imaginário Mundo" na galeria Paralelo. O diretor do Museu Afro Brasil, Emanoel Araujo, a artista Madô Lopez, a advogada Ana Lúcia Pires e a galerista Flávia Marujo compareceram ao vernissage.

CURTO-CIRCUITO

A sexta edição da Mostra Audiovisual Israelense do Centro da Cultura Judaica será aberta com festa para convidados hoje, às 16h.

Eduardo Ferreira, do Itaú Microcrédito, foi convidado pelo Banco Mundial para dar palestra em seminário em Tóquio, na terça.

A Cavalera faz festa hoje, com o DJ Erik Marçal, para lançar o novo visual da loja da rua Oscar Freire. A partir das 11h.

Zeca Pagodinho canta no Credicard Hall nos dias 28 e 29. Ingressos a partir de R$ 50 (meia). 14 anos.

fale com ele O espanhol Antxón Gómez, diretor de arte de muitos filmes de Pedro Almodóvar, está no Rio; ele trabalha no set de "Não Pare na Pista - A Melhor História de Paulo Coelho", cinebiografia do escritor brasileiro

Se até o Papa peca... - CACÁ DIEGUES

O GLOBO - 01/06

Tudo que nos der prazer na vida está proibido, como se nossa natureza tivesse sido criada para o pecado, e assim devermos evitá-la e sufocá-la


Vivemos num mundo em que a obsessão pela perfeição técnica conflitua com o cada vez maior descaso pela perfeição moral. Não estou me referindo à moral religiosa dogmática, intolerante e muitas vezes criminosa. Estou falando da necessidade de um mínimo de acordos humanos respeitados universalmente para que o progresso não destrua a civilização.

No último e fascinante best-seller de Dan Brown, “Inferno”, essa crise de nosso tempo é vista como resultado do crescimento demográfico e da competição entre os homens pelo que sobra no planeta. Uma versão catastrofista e sem saída para a espécie. Ao longo da história humana, já vivemos graves crises de escassez e sobrevivemos. Hoje, ao contrário, vivemos uma cultura de abundância (na informação, na criação técnica, nos meios de sobrevivência, na duração da vida) que certamente nos fará encontrar a saída para a superpopulação.

Como nos diz o professor Denilson Lopes, em seu livro sobre a delicadeza, é preciso “caminhar diante do peso das coisas, com a leveza na alma”. Ou, dito de outro modo, levar tudo a sério sem perder nunca a alegria. Algumas fantasias podem nos levar à desgraça. Mas, se cultivamos uma fantasia que nos ajuda a viver melhor, por que nos descartarmos dela em nome de uma racionalidade que não nos faz feliz? Temos portanto o direito de sonhar com o gênio solitário que encontrará soluções para qualquer desses nossos problemas físicos e materiais.

A crise moral, no entanto, não pode ser resolvida por um homem só. Ela necessita da pregação e do entendimento entre todos, um contrato acordado, mesmo que virtualmente, entre 7 bilhões de pessoas. Moral é tudo aquilo que permita a esses 7 bilhões conviver um com o outro, sem provocar prejuízo um ao outro. Ela começa pela aceitação da diferença entre os semelhantes e pelo respeito aos direitos do próximo. Como ensinava Rosa de Luxemburgo, “a liberdade é sempre e fundamentalmente a liberdade de quem discorda de nós”. A moral começa portanto pela consagração da democracia.

Quando o Papa Francisco diz ter muitos pecados, mas confia no perdão divino, como declarou esta semana, ele está produzindo uma revolução na hierarquia e desafiando o dogma de infalibilidade de sua religião, em nome de um novo humanismo não triunfalista, em que os homens reconhecem sua natureza imperfeita, e é dela que vão construir sua grandeza. Para quem não acredita em Deus, o perdão divino é o consenso moral dos homens a seu favor.

Na mesma semana em que fomos iluminados por esse exemplo de humanismo, lemos nos jornais que outro homem poderoso, o ex-ditador da Argentina, general Jorge Videla, responsável pela prisão, tortura e morte de tantos “desaparecidos”, morreu no cárcere, sentado no vaso sanitário de sua cela. Ou seja, morreu fazendo cocô, necessidade natural de qualquer outro ser humano, de qualquer outro bicho desimportante do planeta.

A declaração do doce Papa Chico nos atualiza com o comportamento dos dois papas João XXIII. O primeiro João XXIII, Baldassare Cossa, eleito em 1415, durante o longo cisma da Igreja, foi logo deposto pela Cúria, com o apoio dos nobres católicos de toda a Europa, por afirmar a igualdade entre os homens e viver essa experiência durante seu curto papado. Depois de sua deposição, a Igreja riscou seu nome da lista dos papas, só corajosamente retomado, em 1958, pelo cardeal Angelo Roncalli, o grande e definitivo João XXIII, reformador político e social da Igreja, com repercussão em todos os grupos religiosos e em todo o mundo.

Para os crentes dogmáticos, o nosso é um mundo provisório, onde devemos sofrer para termos direito ao paraíso que nos espera depois da morte. Tudo que nos der prazer na vida está proibido, como se nossa natureza tivesse sido criada para o pecado, e assim devermos evitá-la e sufocá-la. O “pecado” que todos nós, mesmo um papa, estamos sempre a cometer justamente por ele fazer parte de nossa natureza.

Em vez da punição do passado, o perdão de nossos pecados deve servir à construção do futuro, como uma celebração moral da sociedade em que vivemos. Na organização dessa sociedade, temos que pensar no bem-estar comum como condição para nosso próprio bem-estar. Uma concepção includente da riqueza produzida por todos, difícil de ser aclamada, mas indispensável à nossa paz.

De nosso acordo moral universal deve fazer parte nosso direito à nossa natureza, sem medo dela e sem usá-la para oprimir o outro. A base essencial dessa moral é a tolerância e a consciência de nossos direitos iguais. É isso que Francisco, nome de um santo suave e megalômano, o que mais amava e o que mais sofria, quis nos dizer ao se afirmar um pecador como qualquer um de nós.

O perigo é, daqui a pouco, toparmos com alguns desses políticos marombeiros a argumentar que, se até o Papa peca, por que se sentirem culpados do que fazem?

Lendo sonhos em tempo real - FERNANDO REINACH

O Estado de S.Paulo - 01/05

Existe uma janela que nos permite observar o que se passa em nossa mente enquanto dormimos. São os sonhos. Quando acordamos, muitas vezes temos a impressão de que tivemos sonhos longos e complexos. Outras vezes nos lembramos somente de uma cena ou de uma sensação. Mas a verdade é que não sabemos exatamente quando o sonho foi criando por nossa mente. Ele pode ter se formado nos últimos momentos antes do despertar, horas antes, ou imediatamente no momento em que acordamos.

O que sabemos com certeza é que, se a pessoa for acordada em certos estágios do sono (por exemplo quando os olhos se movem rapidamente), ela é capaz de relatar que estava sonhando. Em outros estágios do sono, relata que não estava sonhando. Mas isso não é uma prova que não estava sonhando, afinal reportamos somente o que nos lembramos.

Para compreender o que se passa durante a formação dos sonhos, é necessário um método capaz de "ler" nossos sonhos independentemente do que reportamos ao despertar. Foi exatamente isso que um grupo de cientistas japoneses conseguiu desenvolver: um método capaz de decodificar nossos sonhos a partir de nossa atividade cerebral.

Equipamentos de ressonância, semelhantes aos usados em hospitais, são capazes de medir a atividade de cada área do cérebro. Faz anos que os cientistas são capazes de associar a ativação de certas áreas do cérebro a um tipo de pensamento ou visão. Olhar para um cachorro ativa certos grupos de neurônios, sentir medo ativa outro grupo, e assim por diante. Foi com base nessas descobertas que foi possível desenvolver o método de ler sonhos.

Teste. Três voluntários concordaram em dormir dentro de uma máquina de ressonância, ligados a um eletroencefalógrafo capaz de detectar quando os voluntários adormeciam. O voluntário deitava no equipamento de ressonância e tentava dormir enquanto a ressonância media a cada segundo a atividade de todas as regiões do cérebro. Assim que ele adormecia, os cientistas acordavam a pessoa e pediam para ela relatar o que estava sonhando. Ela relatava oralmente e voltava a dormir. Quando estava dormindo novamente, os cientistas esperavam cinco minutos e o coitado era acordado e relatava o sonho. Dessa maneira, os cientistas obtiveram o relato de 672 sonhos de três voluntários e simultaneamente a atividade de todas as regiões do cérebro nos minutos e segundos que antecederam o despertar e o relato do sonho.

Usando esses relatos, os cientistas identificaram as palavras e imagens mais frequentes. Com os voluntários acordados, as imagens relacionadas às palavras foram mostradas e, simultaneamente, a atividade cerebral foi medida. Com base em todos esses dados, um computador foi programado para aprender a associar padrões de atividade cerebral a certos grupos de imagens e palavras e a organizar esses padrões ao longo do tempo. Os seja, descrever o sonho.

Em um segundo passo, os cientistas submeteram ao computador somente os dados obtidos pelo equipamento de ressonância (a atividade de cada região do cérebro) durante os nove segundos que antecederam o despertar do voluntário e pediram para o computador descrever o que o voluntário estava sonhando. O resultado é impressionante: o computador gerou uma descrição do sonho. A descrição do computador foi comparada ao que os voluntários descreviam ao acordar. Nos casos em que o sonho era principalmente visual, com imagens vívidas o computador foi capaz de fazer previsões muito precisas e acertou 80% dos sonhos. Veja um exemplo:

Computador: "Imagem de um homem, comida, carro na rua". Relato do voluntário: "Um homem estava procurando comida em um carro estacionado na rua".

Medo. Quando os sonhos envolviam o sentimento "estava com medo de algo desconhecido", o computador acertava muito menos, mas na média o conteúdo de 60% dos sonhos foi decodificado corretamente pelo computador.

É claro que esses resultados ainda representam o início de uma nova linha de investigação e, no estado atual da tecnologia, o computador claramente não é capaz de descrever a riqueza de detalhes que caracteriza os sonhos de cada um de nós. Mas é impressionante que sejamos capazes de ter uma primeira ideia do que uma pessoa está sonhando antes de ela acordar.

Esse resultado comprova de maneira experimental o que já suspeitávamos: que o sonho que nos lembramos ao acordar é o que estávamos sonhando imediatamente antes de acordarmos.

Mas essa tecnologia também abre novas possibilidades. É possível identificar o conteúdo de todos os sonhos que são gerados durante uma noite (mesmo os que não nos lembramos) e o conteúdo de sonhos que, por serem muito assustadores ou estranhos, não somos capazes de lembrar.

Sem dúvida, essa nova tecnologia aumenta muito a janela que nos dá acesso ao inconsciente. Freud ia gostar dessa possibilidade.

Urge a vinda de profissionais qualificados - SÉRGIO AMAD COSTA

O Estado de S.Paulo - 01/06

Há grande carência de mão de obra especializada em áreas estratégicas da nossa economia, como tecnologia da informação, indústria naval, telecomunicações, construção civil, petróleo e gás, automação e obras de infraestrutura. E essa deficiência impede que o Brasil apresente, de forma constante, taxas significativas do Produto Interno Bruto (PIB). Não há, no País, tecnologia suficiente para gerar um crescimento sustentável.

Engana-se quem acha que a tecnologia são máquinas e equipamentos. Ela é, isso sim, a aplicação prática do conhecimento científico nas mais diversas áreas. É o resultado de um saber que envolve um conjunto de instrumentos, técnicas e métodos. Portanto, a tecnologia está na cabeça dos profissionais, em suas qualificações, e como esses não são, no Brasil, em número suficiente para atender à demanda, ela se torna escassa em nosso país.

Máquinas e equipamentos podem ser adquiridos muito rapidamente. Basta ter recursos financeiros para isso. Mas os profissionais que vão criar esses equipamentos, operar essas máquinas e desenvolver sistemas e métodos não são possíveis de serem obtidos da noite para o dia, por mais recursos financeiros que existam para essa finalidade. Faz-se necessário formar esses trabalhadores e isso leva tempo.

Mesmo que a educação passe a ser focada como principal prioridade para tornar a nossa economia competitiva, teremos de esperar alguns anos para desfrutar desse investimento. Assim, uma maneira de mitigar, no curto prazo, esse obstáculo que faz frear o crescimento econômico da Nação é estimular a vinda de profissionais qualificados para o País. Mas é complexo estruturar um movimento de mobilidade de trabalhadores especializados. Não se trata de abrir nossas fronteiras e dizer aos profissionais qualificados: "Venham para o Brasil". É preciso elaborar uma política atualizada de migração para o trabalho. E isso não é tarefa fácil.

Uma das dificuldades é não termos uma cultura acostumada com o ingresso expressivo de trabalhadores qualificados, de outros países, no nosso mercado de trabalho. Em 2011 o Ministério do Trabalho e Emprego emitiu 70.524 autorizações de vistos para estrangeiros trabalharem no Brasil. Em 2012 o número de autorizações foi praticamente o mesmo. Esses números ainda são pequenos e a maioria das autorizações é para trabalhos temporários.

Outra dificuldade para elaborar essa política não está nos fatores de atração, e sim nos de retenção desses profissionais. No que tange à atração, as condições são favoráveis. O Brasil, para profissionais especializados, oferece salários substanciais, tem sólidas instituições democráticas e poucos conflitos de ordem religiosa, política ou étnica, se comparado a outros países, como, por exemplo, China e Índia.

Quanto à retenção desses trabalhadores no País, as condições ainda não são muito favoráveis. Na elaboração da política de migração, é preciso criar um ambiente mais propício para esses profissionais, levando em conta a integração deles, tanto social quanto econômica, promovendo a qualidade de vida e dando acesso a serviços públicos. Fazem parte desse contexto, também, déficits de competências no mercado de trabalho, validade de documentos entre diferentes sistemas educacionais e parcerias de cooperação no âmbito das relações exteriores.

O fato é que essa estrutura migratória é complexa e para ser elaborada envolve diversos setores governamentais, como alguns ministérios e o Congresso. Estudos têm sido realizados pelo governo federal, envolvendo vários de seus órgãos, mas os resultados aparecem lentamente. Urge que o País sistematize o mais rapidamente essa política de migração, pois, no curto prazo, é a única forma de aumentar a capacidade de gerar inovação e melhorar a produtividade. Sem ela, enquanto não revertermos o atraso educacional, inexiste chance de obtermos crescimento econômico significativo.

Flutua, mas nem tanto - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 01/06

Quem tomou ao pé da letra as últimas declarações do ministro da Fazenda e do presidente do Banco Central de que o câmbio voltou a ser flutuante deve estar decepcionado.

Ontem pela manhã, quando a cotação atingira R$ 2,147, o Banco Central interveio. Anunciou um leilão de venda no mercado futuro (swap cambial). E foi o que ainda limitou o fechamento à alta de apenas 1,75%. (Ao lado, os rastros das cotações do dólar no câmbio interno.)

Aí há dois pontos de análise: as causas da disparada e o resultado prático.

Tudo começou dia 22, quando Ben Bernanke, presidente do Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) preparou os espíritos para uma virada de sua política monetária.

Hoje, o Fed despeja US$ 85 bilhões na compra de títulos no mercado financeiro. A operação conhecida como afrouxamento quantitativo (quantitative easing) objetiva criar condições para a retomada da atividade econômica dos Estados Unidos, prostrada pela crise. Desacelerar ou suspender (ainda não está claro) a operação implica emissão de menos dólares do que o esperado e, portanto, valorização em relação às outras moedas. Foi a principal razão pela qual o dólar ganhou força nos mercados e, com ele, reduziram-se as cotações das mercadorias negociadas na moeda, sobretudo commodities e ouro (veja o Confira).

O movimento coincidiu com a percepção mais forte de deterioração da economia brasileira: mais inflação, crescimento decepcionante do PIB no primeiro trimestre e, fator relativamente novo, aumento do rombo das contas externas. Esse último está caracterizado pelo avanço do déficit em Conta Corrente, onde são contabilizadas entradas e saídas de moeda estrangeira no comércio de mercadorias e serviços e nas transferências ao/do exterior. É o melhor indicador para avaliar necessidades futuras de moeda estrangeira. Em quatro meses, o rombo saiu de 2,4% para 3,0% do PIB.

Isso não é tudo. A ênfase do ministro Guido Mantega e do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, de que não interviriam mais no câmbio havia sido entendida como aviso de que o governo tem especial interesse na desvalorização do real, com o objetivo aparente de melhorar a competitividade do setor produtivo, principalmente da indústria.

A atitude de Mantega e de Tombini não foi dizer que "câmbio é assunto sobre o qual as autoridades não falam". Nem foi reafirmar que, no Brasil, continua em vigor o regime de "flutuação suja". Foi garantir que não haveria intervenção, a não ser para evitar excessiva volatilidade dos fluxos (entrada e saída de dólares), o que não aconteceu.

Independentemente do que dizem as autoridades, o leilão de ontem mostra que há limites para a desvalorização do real. Elas não olham só para a premência de garantir competitividade à indústria. Temem que uma disparada cambial turbine a inflação e ponha muito a perder.

Qual é o limite? Provavelmente, nem elas sabem. Mas já dá para avaliar que, se persistir, apenas a alta de maio pode ser suficiente par a puxar em 0,4 ponto porcentual a inflação dos próximos meses.

O governo parece desnorteado com a piora dos fundamentos da economia.

Labirinto ao lado - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 01/06

A Argentina era um terra devastada quando o então governador de Santa Cruz, uma pequena província da Patagônia, Néstor Kirchner, candidatou-se pelo Peronismo. Era um dos três candidatos do mesmo partido. Nas ruas de Buenos Aires, as pessoas exibiam aflição. O país vivia há meses o corralito , o colapso da economia e a hecatombe do governo Fernando de la Rúa.

Meses depois da saída de de la Rúa, o país ainda tinha um governo provisório, e ninguém se dispunha a ajudá-lo a sair da encrenca econômica. O Fundo Monetário Internacional (FMI) não apenas não emprestava dinheiro como fazia mais exigências a uma economia combalida, que enfrentou quatro anos seguidos de recessão, entre 1999 e 2002. Numa série de reportagens que fiz nessa época, encontrei os argentinos sem esperança.

O presidente Néstor Kirchner, com a ajuda do então ministro Roberto Lavagna, começou a pôr ordem na casa. Depois da queda do PIB de 10% em 2002, teve início uma recuperação forte, com alta de 8,9%, em 2003, e taxas fortes de crescimento até a crise de 2008. Kirchner impôs aos credores externos uma enorme perda, mas renegociou a dívida e reorganizou a economia. Esse foi o começo da década da família Kirchner no poder. E a melhor parte. Vem daí a popularidade que o levou ao governo e depois elegeu sua mulher, e, mesmo depois da sua morte, a reelegeu.

Os méritos foram esses; os defeitos, muito maiores. O autoritarismo econômico fez a Argentina perder a confiança de investidores, inclusive dos brasileiros. O calote deixou sequelas, e o país tem sido questionado em cortes internacionais. A intervenção no instituto oficial de estatísticas, o Indec, foi um erro dramático que produz até hoje uma enorme confusão econômica.

O país não confia nos números oficiais quaisquer que eles sejam, contou a correspondente do GLOBO Janaína Figueiredo, na série que fez sobre a Argentina. E, de todos, o mais necessário para a economia é o índice confiável de inflação, porque com ele são negociados os contratos, estabelecidos os preços e feitas as transações. Nos últimos seis anos desde a intervenção, seguida da demissão de funcionários de carreira e de nomeação de militantes, a inflação acumulada oficial é de 68% e a extraoficial é de 193%. Para este ano, há previsões de que a taxa anual chegue a 30%.

A manipulação da inflação empurra a economia argentina mais ainda para o dólar, e o paralelo disparou. Diante dos sinais de que estão se formando distorções no sistema de preços, o governo responde com mais intervenção: controle cambial, restrição de compra de dólares até para viagem e proibição de divulgação de índices privados de preços.

Para um país que viveu, há poucos anos, um avassalador processo hiperinflacionário, esse é um caminho muito perigoso. Enquanto o Brasil reage aos estouros do teto da meta, mostrando desconforto, a Argentina manipula índices e o governo apresenta como vitória uma taxa de 10% ao ano.

A pressão sobre a imprensa é outro erro crasso, pelo país ter vivido uma ditadura das mais sanguinárias. A atitude republicana correta seria fortalecer as instituições democráticas e não miná-las.

O desvario econômico na Argentina atingiu diretamente o Brasil pelas vias comerciais. O Mercosul virou um obstáculo a que o país negocie acordos de comércio. O isolamento argentino deixa o Brasil paralisado, enquanto vários países no mundo fazem acordos bilaterais.

O saldo é desfavorável ao kirchnerismo. O casal entrou em cena num momento crucial e ajudou a reconstrução, mas os Kirchner colocaram a Argentina em retrocesso. Uma vez mais.

Caminhos cruzados - MARCOS CARAMURU DE PAIVA

FOLHA DE SP - 01/06

O desafio dos chineses é combater a percepção de que só se é bem-sucedido com a bênção do governo


Comparar a China e o Brasil é exercício que pode levar a equívocos. Os dois países são radicalmente diferentes no quadro político, há um oceano entre suas culturas, as realidades econômicas mostram pouco em comum.

A China tem elevadíssima taxa de poupança. Precisa levar a população a gastar mais, fomentar o mercado interno, fazer o crescimento depender menos das exportações industriais. O maior dilema econômico brasileiro vai na direção oposta: elevar a poupança, depender menos de recursos externos, inserir melhor a indústria na exportação.

A China é relativamente aberta no comércio e fechada do ponto de vista financeiro. O Brasil é relativamente fechado a importações e integrado financeiramente à economia internacional. Os governos estaduais no Brasil são fortes. Na China, a gestão estadual tem mais de formulação política do que de ação. As prefeituras comandam o show. As cidades no Brasil dependem financeiramente das demais esferas de governo. Na China, geram recursos próprios com leasing de terra e operam com limitada dependência dos recursos federais. E assim vai.

Aqui e ali, no entanto, é possível fazer ilações.

As políticas hoje em voga no Brasil ""estímulos setoriais seletivos pela via do financiamento ou isenções tributárias, apostas em segmentos e empresas considerados promissoras, maior influência do Estado na orientação da vida privada"" têm algo do modelo asiático. Mas elas não geram sozinhas o crescimento. É necessário manter a confiança nas regras horizontais e na saúde dos pilares macro que garantem a disposição para investir.

Os chineses têm pela frente um desafio que, a um só tempo, contrasta e se identifica com nossas políticas recentes: combater a percepção do setor privado de que só se é bem-sucedido quando se tem a bênção do governo, reduzir o corpo a corpo empresários-Estado, formular e respeitar mais frequentemente normas horizontais.

Nos primeiros meses da administração Xi Jinping, o recado de que as coisas precisam mudar foi dado. Instituiu-se uma vigilância ferrenha sobre os contatos entre dirigentes governamentais e empresários.

Os funcionários públicos passaram literalmente a temer ser vistos em jantares com o setor privado. Os próprios gastos do Estado com banquetes, festas e presentes estão sob escrutínio pesado. A tal ponto que já há quem avalie os reflexos sobre a rentabilidade dos hotéis, restaurantes e marcas de luxo. O preço de um bom Maotai (aguardente apreciada) caiu mais de 50%.

É impossível saber se as orientações chinesa e brasileira se manterão ao longo do tempo. Países emergentes, por definição, têm pilares não consolidados de gestão pública. O empenho em determinadas ações está sempre sujeito a mudanças. No mundo de hoje, aliás, até as economias mais desenvolvidas mergulham em experimentos novos e audaciosos.

O importante, para Brasil e China, é focar no que tem sustentabilidade, evitar o que parece bem no curto prazo, mas obscurece a visão do essencial. Só isso pode gerar nos agentes econômicos a convicção de que se está no caminho certo.

FLÁVIA OLIVEIRA - NEGÓCIOS & CIA

O GLOBO - 01/06

Empresa de fornecimento de mão de obra cresce com novos shoppings e condomínios
Em linha com a expansão do segmento de Outros Serviços no PIB, um dos poucos que crescem acima da média da economia brasileira, a Personal Service fechou 2012 com faturamento de R$ 606 milhões. Bateu em R$ 6 milhões a meta fixada para o ano passado e espera faturar R$ 700 milhões em 2013. A empresa, de mão de obra terceirizada, cresce na esteira da multiplicação de shoppings centers, hospitais e condomínios comerciais e residenciais. Nos últimos meses, conta Luiz Claudio Garcia, diretor-executivo, a Personal fechou contratos com VillageMall, ParkShopping Campo Grande, Boulevard São Gonçalo, Shopping Via Brasil e com o Hospital Unimed-Rio. O grupo, agora, quer crescer comprando empresas, especialmente em São Paulo e Brasília, onde não atua.
2,6%
em outros serviços foi quanto cresceu o segmento no 1º trimestre de 2013, sobre um ano antes, segundo o IBGE. O grupo inclui terceirizadas e empresas que servem a famílias. O PIB, no mesmo período, avançou 1,9%.

MOBILIZAÇÃO TRIBUTÁRIA
O Movimento Brasil Eficiente estreia campanha pela simplificação tributária no país, na 4ª. O Assina Brasil quer recolher 1,5 milhão de assinaturas em prol de seis medidas. Uma é a unificação de alíquotas do ICMS, com posterior redução para 4%. O filme é da Africa.

Educação
Só este ano, o Banco do Brasil já fechou 150 mil contratos de financiamento estudantil, o Fies. O número já supera em 33% a marca do 1º semestre de 2012, de 112 mil operações. A carteira do fundo bateu R$ 14 bilhões, emprestados a 382 mil universitários.

Viagem
O SuperBônus Viagem, plano de benefícios dos cartões Santander, atendeu 21 mil clientes desde maio do ano passado. Trocou
17 mil passagens e três mil reservas de hospedagem.

Dívida
Pesquisa de Fecomércio-RJ e Instituto Ipsos mostra que a proporção de famílias com dívidas parceladas no país saiu de 37%, em abril de 2012, para 43%, este ano. A inflação em alta estimulou as compras a prazo.

Dúvida
A confiança dos empresários do comércio (Icec) caiu 3% em maio, para 124,7 pontos, informa a CNC. Foi o maior recuo desde agosto de 2012. Pela 1ª vez em nove meses, a avaliação da economia no presente ficou abaixo de cem pontos. Rompeu, assim, a barreira do pessimismo.

Só o amor
O CDL-Rio estima em 6,5%
a alta nas vendas do varejo carioca para o Dia dos Namorados. Os presentes devem custar R$ 150 em média. As mulheres são as que mais presenteiam.

Premissas erradas - OSMAR TERRA

FOLHA DE SP - 01/06

O argumento central de quem defende a liberação das drogas parte de premissas erradas. Dizem que travar uma guerra contra as drogas nada resolve. Falam que, desde que foi promulgada a lei nº 11.343, de 2006, a pena mínima para traficantes aumentou de três para cinco anos, o número desses criminosos presos triplicou, mas o tráfico não diminuiu.

Seria, portanto, um mal menor liberar. Esvaziaria as prisões, acabaria com o tráfico, geraria mais impostos. Mas como explicar que um aumento de 60% no tempo de pena tenha gerado crescimento de 300% no número de traficantes presos?

Na verdade, a causa maior, não admitida nos discursos liberacionistas, é a explosão da epidemia do crack. De 2006 para cá, aumentou muitas vezes a oferta da droga, o número de dependentes químicos e, por consequência, de traficantes.

No Rio Grande do Sul, em 1998, comemorávamos não haver qualquer registro de uso do crack. Em 2008, estimávamos que mais de 1% dos gaúchos (ao redor de 110 mil) virou refém dessa droga. De lá para cá, o número só aumentou.

Em todo o Brasil, a maior causa de pedidos de auxílio-doença do INSS sempre foi o alcoolismo. Até 2006. Em 2012, o crack e a cocaína já eram responsáveis por 2,5 vezes mais auxílios-doença que o álcool.

Pesquisas da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) apontam que, em 2011, já tínhamos 2,8 milhões de usuários de crack e cocaína. E entre os 3,8 milhões de usuários de maconha, 2 milhões também usavam crack simultaneamente.

Com base nos números do Ministério da Saúde, pode-se deduzir que o crack é a maior causa, direta ou indireta, de mortes de jovens de 15 a 25 anos no país. A droga também é a maior causa, direta ou indireta, de homicídios. No mundo, o Brasil já é o maior consumidor de crack (segundo a Unifesp) e o recordista de homicídios (segundo a ONU).

Comprovando a gravidade dessa epidemia, constatamos que, apesar do extraordinário aumento de consumo e da apreensão de drogas, de 2006 para cá, o preço da pedra de crack não aumentou. Isso significa que a oferta, que gera a epidemia, é colossal. Isso se deve em grande parte às extensas fronteiras que temos com todos os produtores de coca do mundo.

Liberar drogas nessas circunstâncias seria trágico. Hoje, os dependentes de drogas legais, como álcool e tabaco, chegam perto de 50 milhões. Estima-se serem 6 milhões os dependentes das drogas ilícitas. E o número só é menor por serem criminalizadas. Se liberadas, rapidamente seus dependentes chegariam, em número, aos patamares das drogas lícitas. Uma tragédia humana inimaginável.

A lógica da epidemia viral vale para todas as drogas. Quanto mais vírus circulando, mais doentes. Quanto maior a oferta de drogas, mais dependentes químicos, que se tornarão doentes crônicos.

Diante de tão grave problema, necessitamos de ações à altura. Quando a epidemia do crack chegou a níveis avassaladores nos EUA, durante a década de 80, o governo aumentou o rigor das penas e a oferta de tratamento. Hoje, existem menos dependentes do crack lá do que no Brasil, e o número de homicídios caiu à menos da metade.

Situação semelhante ocorreu na Suécia, na década de 60, quando todas as drogas eram liberadas. Aumentando o rigor das punições, passou a ser o país da Europa com menor número de dependentes necessitando tratamento e com as menores taxas de acidentes de trânsito e de homicídios.

A epidemia das drogas é problema complexo que não se resolve num passe de mágica. Precisamos de medidas firmes e abrangentes, mantidas por longo tempo, para contê-lo. Daí uma lei que aumente o rigor como a proposta do projeto de lei nº 7.663/10, e não uma que libere. Que o governo dê a prioridade que o assunto exige.

São as eleições - IVAN IUNES

CORREIO BRAZILIENSE - 01/06

Com a oposição extremamente enfraquecida, especialmente depois da diáspora promovida pela criação do PSD, era questão de tempo a transformação da própria base aliada em principal adversária do Palácio do Planalto. Um tempo eleitoral, claro. Com uma base estimada em cerca de 420 deputados, a presidente da República, Dilma Rousseff, deveria ter facilidade para aprovar o que bem entendesse. Nos primeiros anos de governo, noves fora questões de forte cunho ideológico, como a reforma no Código Florestal, o Planalto aprovou o que bem entendeu, enterrou as comissões parlamentares de inquérito (CPIs) que quis e reteve ao máximo o pagamento de emendas parlamentares. Até mesmo a principal pedra no sapato do Orçamento, a definição do salário mínimo, foi removida com uma fixação prévia do índice de reajuste até o fim do governo.

Tudo ia relativamente bem até que... bem. Até que o período pré-eleitoral foi antecipado. Na disputa presidencial, Dilma parece ter diminuído a disposição para um voo solo do aliado e governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). O problema é que a movimentação se estendeu, quase que por inércia, às definições estaduais. E elas estão ligadas, diretamente, à atual crise na base aliada. Muito do mantra repetido por peemedebistas e petistas “falta diálogo do Planalto com a base” tem como objetivo manter a relação entre base e governo federal sob tensão.

Existem problemas sérios de diálogo, é verdade, mas a antecipação do debate eleitoral torna a paz entre aliados, neste momento, desinteressante. Corda tensionada, o poder de barganha se multiplica. Sem se esquecer dos interesses individuais, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) também cria dificuldades a rodo na Câmara dos Deputados de olho na corrida fluminense, onde o governador, Sérgio Cabral (PMDB), tenta a todo custo evitar que Lindbergh Farias (PT-RJ) entre na disputa contra Luiz Fernando Pezão (PMDB). A cada entrevista concedida, Cunha promete transformar o plenário da Casa Baixa em um campo minado para Dilma. Deixa, assim, um grau de tensão suficiente para colocar em dúvida os benefícios do Planalto em se manter como fiador da campanha de Farias.

Os petistas adotaram estratégia semelhante e o presidente do partido, Rui Falcão, deixou claro que a legenda também merece atenção na costura. O político paulista repetiu o “falta articulação política ao governo”. O recado é claro: se ceder demais ao PMDB nas definições estaduais, o Planalto que se prepare para encarar no PT um adversário no Congresso. A falta de quórum para votar a Medida Provisória da Energia na segunda-feira é mais uma demonstração de que peemedebistas e petistas pretendem jogar com a tensão entre base e governo para colher vantagens nas alianças estaduais em 2014. Na prática, a MP caducar na próxima segunda-feira não significaria problema algum ao governo. Como o texto foi editado no ano passado, poderia ser repetido em nova MP, que passaria a valer a partir de terça-feira, sem deixar lacunas para o consumidor no desconto da conta de luz. A mesma manobra foi utilizada a rodo pelos governos de Fernando Henrique Cardoso e de Luiz Inácio Lula da Silva. Simbolicamente, no entanto, o governo não conseguir levar sua base aliada numa segunda-feira ao Congresso representa demais. Um tensionamento medido a régua para não provocar rupturas.

Não é apenas a disputa no Rio de Janeiro que acende o pavio no parlamento. A situação não é menos tensa no Rio Grande do Sul, onde o PMDB lançará candidato contra o governador Tarso Genro (PT). Nos maiores estados ao sul do país, os dois partidos ainda serão adversários no Paraná, com Roberto Requião (PMDB) e Gleisi Hoffmann (PT), e, provavelmente, em São Paulo, estado em que os nomes das duas legendas ainda estão indefinidos. Em Pernambuco, a chance de uma chapa única também é próxima de zero, mesma realidade da Bahia. No Nordeste, ainda caberá aos petistas cederem espaço para os principais caciques peemedebistas, em Alagoas, com Renan Calheiros; e no Maranhão, com a sucessão de Roseana Sarney. Da mesma forma, Amazonas é um estado onde Eduardo Braga (PMDB) deve contar com o apoio petista, e no Pará e no Ceará, Jader Barbalho e Eunício Oliveira, respectivamente, também pressionam por apoio. Os peemedebistas se preparam para devolver a “gentileza” no Acre, com apoio a Tião Viana, e no Distrito Federal, com Agnelo Queiroz. A lógica em todas essas disputas, tanto para petistas quanto para peemedebistas, é tentar eliminar o adversário/aliado já no ponto de partida e garantir a exclusividade de Dilma e de Lula no palanque. Onde isso não for possível, que o Palácio do Planalto se comprometa à neutralidade. Ficar em cima do muro, contudo, é uma posição que Dilma não conseguirá tomar até a formatação final das alianças, em meados do ano que vem. Até lá, que não espere facilidade.

Parceiro é o Cabral, diz Dilma - JORGE BASTOS MORENO - Nhenhenhem

O GLOBO - 01/06

Não tivesse o Cabral me trocado pelo "coisa-ruim", saberia hoje, aqui, que foi personagem de um dos maiores elogios da presidente Dilma a um governador de estado.
Flagrei a presidente, numa conversa descontraída com assessores, divagando:
- Parceria só existe quando há determinação das partes. Não adianta uma parte se esforçar tanto, se a outra não tem disposição. Vejam, por exemplo, o caso da parceria com o governo do Rio para o combate da violência. Quando há ocupações, o Cabral fica o tempo todo me informando. Há providências legais que cabem ao governo federal, outras, ao estado. A gente age em conjunto, e as Forças Armadas com as polícias Militar e Civil fazem a operação. E tudo dá certo.
Dilma fez uma pausa, para um gole d"água, e prosseguiu:
- Aliás, em matéria de Segurança Pública, Cabral é o especialista. Reorganizou as forças de Segurança e deu autoridade e autonomia para o secretário de Segurança.

Bicho-papão
Realmente, Cabral é corajoso. Enfrenta o narcotráfico. Mas (trauma de infância) tem medo do "coisa-ruim".

Rábula

Aliás, de tanto me processar, "coisa-ruim" deve ter cacoetes em suas defesas: "Doutor, eu só roubo em defesa da honra".

Humor negro
E, por falar no capeta, a médica Virgínia Helena Soares, acusada de abreviar morte de pacientes de UTI, na conversa com a megarrepórter Daniela Pinheiro, para a edição da revista "Piauí", que já está nas bancas, foi informada de que circula na internet charge na qual, visitando Sarney no hospital, Lula, olhando para ela, aponta para o suposto moribundo (ou seria marimbondo? ): "Você está em boas mãos!".
A chamada "Dona Morte" se arruma toda na poltrona para depois, num gesto exagerado de êxtase, exclamar:
- Sensacionaaalll!!!

Beleza pura
Na entrevista, Virgínia reconhece que a sua, digamos, beleza diferente prejudica um pouco sua defesa, na presunção de inocência.
Calma, bela, a justiça é cega!

Deusa
A justiça pode ser cega, mas eu, não.
Como está cada dia mais linda a ex-presidente da nossa Suprema Corte Ellen Gracie?!
Linda e elegante!
Deve ser ela, então, a famosa "justiça divina" de quem nos falavam os salesianos no catecismo.

Macho, pero...
Renan, presidente do Senado, desligou telefone na cara da ministra Gleisi Hoffmann.
Irritou-se porque a ministra comunicou-lhe que estava negociando com uma assessora.
Queria ver desligar na cara do Zé Dirceu.

Mil perdões
Ontem, candidamente, Renan argumentava sobre seu deselegante gesto:
- Desliguei, sim! Estava com pressa para presidir a sessão.
O presidente do Senado deveria é ter pedido desculpas à ministra e à nação.
Se bem que, no caso, é a nação que deve pedir desculpas à ministra, por ter mandado para o Congresso senadores capazes de eleger Renan Calheiros presidente do Senado.
E o Renan estava se regenerando aos olhos do Planalto. Mas mexeu com as meninas, mexeu com a Dilma.
E comigo, né, Ideli?

É de poder!
E o ex-ministro Furlan, cortejado por governadores e entidades esportivas no governo Lula, só vai ao jogo amanhã porque é convidado dos ingleses.
Assim é o poder.

Dilma é "mara"
A troca do nome do programa que teve Adriana Esteves, "Toma lá dá cá" pelo "Sai de Baixo", foi um equívoco meu, não da presidente Dilma.
É que, de tanto a presidente, na entrevista aqui, ter falado do "Sai de Baixo", na hora que ela elogiou a atriz, por um lapso, troquei as bolas.
Mas a presidente estava tão convicta do que falava que, junto com a Esteves, lembrou com saudades da dra. Percy (Miguel Magno), da Bozena (Alessandra Maestrini ) e do inesquecível Ladir (Ítalo Rossi).

Tio Sam faminto
No meu caso, atribuí a um excesso de zelo com a minha saúde. Mas o gesto se repetiu com o vice Joe Biden.
Dilma não serviu nada ao vice de Obama. O cara, na saída, nem quis falar com a gente. Entrou no carro e foi traçando logo um sanduichão.

Novo capítulo? - SONIA RACY

O ESTADÃO - 01/06

Eliane Ganem vai recorrer da decisão do STJ, que rejeitou sua acusação de plágio contra Lauro César Muniz –autor da minissérie Aquarela do Brasil, exibida pela Rede Globo em 2000.

A escritora alega ter apresentado texto muito semelhante à emissora, quatro anos antes. 

Pompa
O ex-ministro do TST Caputo Bastos casou um filho na terça-feira e a filha na quarta. Onde? Em Roma, intramuros no Vaticano, com direito a bênção pessoal do papa e companhia de 250 brasileiros em ambas as cerimônias.

Trimmm
Henrique Eduardo Alves voltou de Washington impressionado com um sistema de... campainhas que funciona na House of Representatives. “Gostei da ideia, vou instalar no Brasil – lá a gente fica chamando, chamando... e nada.”

Brasil na OMS
A nova/sb, agência de Bob Costa e Silvana Tinelli, comandará a campanha do Dia Mundial do Doador de Sangue. Tema do dia 14? Doação de sangue, um presente devida.

Sangalo social
Ivete Sangalo terá instituto para chamar de seu. A cantora coloca em prática, até o fim do ano, o sonho de abrir um local para repasse de verbas a projetos sociais. “Nós, que temos imagem pública, podemos ser catalisadores de coisas boas”, explicou à coluna.

Aspetta!
A proposta da Inter por Paulinho... não veio. Culpa da crise que vive o clube de Milão. A coluna apurou que o silêncio dos italianos não chegou a desanimar o meio-campo do Corinthians, pois a Inter não se classificou para nenhum torneio europeia na próxima temporada.

O Timão agora aposta em uma boa Copa das Confederações para valorizar o jogador.

Esfihas
Aliás, com foco em novos negócios,a Câmara de Comércio Árabe Brasileira convidou empresários de Jordânia,Kuwait,Emirados Árabes, Bahrein e Arábia Saudita para a competição.

A expetativa global da ação é gerar cerca de um R$1,5 bilhão.

Quem vem
Andrew Parsons, do Comitê Paralímpico Brasileiro, ciceronear á sir Philip Craven, presidente do comitê internacional.
Ele vem este mês a São Paulo para reunião da entidade. E aproveitará para assistir a competições de atletismo, halterofilismo e natação.

Quem vem 2
Luís Onofre – designer português de sapatos que tem entre suas clientes Kate Middleton, Michelle Obama e Paris Hilton – desembarca no Rio também este mês. Para desfile no Palácio São Clemente, residência do cônsul português.

Onde pega - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 01/06

Não foi só a pressão do governo para votar medidas provisórias que levou o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e a ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil) a baterem boca. O Congresso pressiona o governo a fixar um patamar de liberação mensal de emendas de R$ 1 bilhão, além de pagar o mesmo valor em atraso. O tema deve ser abordado na conversa que Renan e o presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), terão com Dilma Rousseff, prevista para segunda-feira.

Martelo batido 
A volta do PTB ao governo do PT foi selada numa conversa entre Dilma e o presidente do partido, Benito Gama, ainda no início de maio. Na ocasião, a presidente formalizou o convite para o próprio Gama assumir uma vice-presidência do Banco do Brasil.

Carta branca 
De Roberto Jefferson, cacique petebista e delator do mensalão, sobre a volta do partido à órbita petista: "Eu não negociei, saí da frente para o Benito compatibilizar os anseios da bancada com o governo. As minhas lutas são minhas, o partido tem as dele''.

Pré-temporada 
A articulação para a volta do PTB ao governo funcionou como teste de dois prováveis coordenadores da campanha de Dilma à reeleição: a costura começou a ser feita pelo governador Jaques Wagner (PT-BA) e os arremates foram dados pelo ministro Aloizio Mercadante (Educação).

Furos... 
Além das situações complicadas em Estados como Bahia, Rio de Janeiro, Pernambuco e Minas Gerais, a aliança PT-PMDB enfrenta desgaste também na Paraíba.

... no casco 
O senador Vital do Rêgo (PMDB) pressiona para que o PT apoie seu irmão, Veneziano do Rêgo, ex-prefeito de Campina Grande, para o governo. Mas os petistas preferem fechar aliança com o ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro, que pode ser candidato pelo PP.

Dia D 
Aliados de Marina Silva fixaram a quarta-feira como dia nacional de mobilização para a coleta de assinaturas de apoio à criação da Rede. A data coincide com o Dia Mundial do Meio Ambiente. Pelos cálculos dos marineiros, a marca de 500 mil assinaturas deve ser atingida em meados do mês.

Condição 1 
Após anos de disputa com órgãos de defesa do consumidor, as operadoras serão obrigadas a baixar em até 25% a assinatura básica da telefonia fixa. Essa deverá ser a exigência da Anatel (Agência Nacional de Telefonia) em contrapartida aos pedidos de fusão de empresas para obter ganhos fiscais.

Condição 2 
A ideia é aprovar a medida rapidamente e permitir que a conta fique mais baixa ainda neste ano. Sercomtel e Telefônica já tiveram aprovado pedido de fusão de suas empresas, mas ainda esperam a decisão das contrapartidas. A Oi deve ser a próxima a pedir a fusão.

Tudo... 
São Paulo e Rio de Janeiro devem fechar nas próximas semanas os primeiros contratos para oferecer internet aos passageiros de trens e metrô e das barcas que fazem a ligação Rio-Niterói.

... conectado 
O sistema está sendo desenvolvido pela empresa CMA, que ainda estuda uma forma de implantá-lo em ônibus. A tecnologia permitirá ainda monitorar os veículos para flagrar casos de assaltos e depredações.

No lucro 
O investimento na tecnologia é equiparável ao gasto pelas empresas na manutenção de veículos depredados, cerca de R$ 3 milhões anuais. Por isso, elas devem oferecer o serviço sem reajustar as passagens. Brasília, Salvador e Fortaleza também planejam oferecer internet no transporte público.

Outro lado 
O ex-diretor da ANS (Agência Nacional de Saúde) Leandro Tavares, cuja recondução será analisada pelo Senado, diz que a venda da Amil para a norte-americana United Health foi aprovada por unanimidade pela agência. Ele diz que trabalhou na Amil como chefe-médico, e não como executivo.

com ANDRÉIA SADI e LUIZA BANDEIRA

tiroteio
"Se a ideia era mostrar que o PSDB se renovou, ela foi por água abaixo com as aparições de FHC e Serra. Não vale a pena ver de novo."
DO DEPUTADO ANDRÉ VARGAS (PT-PR), vice-presidente da Câmara, sobre a propaganda tucana protagonizada por Aécio Neves e exibida na quinta-feira.

contraponto

O cheiro da riqueza
"Em sua visita a Dilma Rousseff, ontem, o vice-presidente dos EUA, Joe Biden, reencontrou Graça Foster, presidente da Petrobras, com quem visitara o centro de pesquisas da empresa no Rio, dois dias antes. Referindo-se à visita, Biden disse a Dilma:

--Presidente, esta mulher me fez sentir cheiro de óleo. E minha mulher gastando dinheiro com perfume...

A piada arrancou risos das duas mulheres e dos ministros.