O Estado de S.Paulo - 01/06
Há grande carência de mão de obra especializada em áreas estratégicas da nossa economia, como tecnologia da informação, indústria naval, telecomunicações, construção civil, petróleo e gás, automação e obras de infraestrutura. E essa deficiência impede que o Brasil apresente, de forma constante, taxas significativas do Produto Interno Bruto (PIB). Não há, no País, tecnologia suficiente para gerar um crescimento sustentável.
Engana-se quem acha que a tecnologia são máquinas e equipamentos. Ela é, isso sim, a aplicação prática do conhecimento científico nas mais diversas áreas. É o resultado de um saber que envolve um conjunto de instrumentos, técnicas e métodos. Portanto, a tecnologia está na cabeça dos profissionais, em suas qualificações, e como esses não são, no Brasil, em número suficiente para atender à demanda, ela se torna escassa em nosso país.
Máquinas e equipamentos podem ser adquiridos muito rapidamente. Basta ter recursos financeiros para isso. Mas os profissionais que vão criar esses equipamentos, operar essas máquinas e desenvolver sistemas e métodos não são possíveis de serem obtidos da noite para o dia, por mais recursos financeiros que existam para essa finalidade. Faz-se necessário formar esses trabalhadores e isso leva tempo.
Mesmo que a educação passe a ser focada como principal prioridade para tornar a nossa economia competitiva, teremos de esperar alguns anos para desfrutar desse investimento. Assim, uma maneira de mitigar, no curto prazo, esse obstáculo que faz frear o crescimento econômico da Nação é estimular a vinda de profissionais qualificados para o País. Mas é complexo estruturar um movimento de mobilidade de trabalhadores especializados. Não se trata de abrir nossas fronteiras e dizer aos profissionais qualificados: "Venham para o Brasil". É preciso elaborar uma política atualizada de migração para o trabalho. E isso não é tarefa fácil.
Uma das dificuldades é não termos uma cultura acostumada com o ingresso expressivo de trabalhadores qualificados, de outros países, no nosso mercado de trabalho. Em 2011 o Ministério do Trabalho e Emprego emitiu 70.524 autorizações de vistos para estrangeiros trabalharem no Brasil. Em 2012 o número de autorizações foi praticamente o mesmo. Esses números ainda são pequenos e a maioria das autorizações é para trabalhos temporários.
Outra dificuldade para elaborar essa política não está nos fatores de atração, e sim nos de retenção desses profissionais. No que tange à atração, as condições são favoráveis. O Brasil, para profissionais especializados, oferece salários substanciais, tem sólidas instituições democráticas e poucos conflitos de ordem religiosa, política ou étnica, se comparado a outros países, como, por exemplo, China e Índia.
Quanto à retenção desses trabalhadores no País, as condições ainda não são muito favoráveis. Na elaboração da política de migração, é preciso criar um ambiente mais propício para esses profissionais, levando em conta a integração deles, tanto social quanto econômica, promovendo a qualidade de vida e dando acesso a serviços públicos. Fazem parte desse contexto, também, déficits de competências no mercado de trabalho, validade de documentos entre diferentes sistemas educacionais e parcerias de cooperação no âmbito das relações exteriores.
O fato é que essa estrutura migratória é complexa e para ser elaborada envolve diversos setores governamentais, como alguns ministérios e o Congresso. Estudos têm sido realizados pelo governo federal, envolvendo vários de seus órgãos, mas os resultados aparecem lentamente. Urge que o País sistematize o mais rapidamente essa política de migração, pois, no curto prazo, é a única forma de aumentar a capacidade de gerar inovação e melhorar a produtividade. Sem ela, enquanto não revertermos o atraso educacional, inexiste chance de obtermos crescimento econômico significativo.
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