segunda-feira, junho 22, 2015

Fini! - RICARDO NOBLAT

O GLOBO -22/06

"Dilma está no volume morto. O PT, abaixo do volume morto. Eu estou no volume morto". Lula

Começar por onde? Pelo aumento do desemprego? Ou da rejeição a Dilma, agora na casa dos 65%? Pela decisão do Tribunal de Contas da União de pedir explicações ao governo sobre manobras fiscais? A decisão pode dar vez a um processo de impeachment contra Dilma. Ou começar pelo desabafo de Lula detonando Dilma, o PT e ele próprio? Ou ainda pela prisão surpreendente dos dois maiores empreiteiros do país?

A PRISÃO DOS empreiteiros remete à Queda da Bastilha. Só havia por lá sete presos quando o povo de Paris tomou-a de assalto. Os presos foram libertados. A cabeça do diretor da prisão desfilou pela cidade espetada na ponta de uma lança. A Bastilha era um símbolo do poder absolutista dos reis. Sua queda virou um marco da Revolução de 1789 que mudou a França e repercutiu no mundo todo.

ATÉ QUE A Bastilha fosse destruída, tinha-se como inconcebível que a ralé pegasse em armas para varrer o regime. Os reis eram figuras divinas. Por aqui, parecia inconcebível que Marcelo Odebrecht, herdeiro de um império que faturou R$ 107 bilhões no ano passado, fosse parar na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba, obrigado a comer quentinhas. Ele e o presidente da Andrade Gutierrez.

E NÃO SÓ pela fortuna que Marcelo amealhou, capaz de realizar todos os seus desejos de consumo, e também os desejos das próximas gerações dos Odebrechts. Mas, principalmente, pelas conexões políticas e econômicas que Marcelo estabeleceu com políticos e governantes daqui e de uma dezena de países. Lula virou seu empregado. E, junto com Dilma, refém do que Marcelo sabe.

SE O MAIS poderoso empresário brasileiro decidisse colaborar com a Justiça, a República literalmente cairía. Imagine se viessem à luz detalhes de um dos encontros de Marcelo com Dilma no ano passado, quando ele fez um circunstanciado relatório sobre os bastidores dos negócios entre as empreiteiras e a Petrobras? Por essa e outras, ele jamais imaginou que seria preso.

EM NOVEMBRO último, durante encontro com os executivos do Grupo Odebrecht em Costa do Sauípe, na Bahia, Marcelo se sentia tão inatingível que os aconselhou: "Se algum de vocês for preso, conte tudo. Que eu me apresentarei e contarei tudo" Não se animem! O maior patrimônio de Marcelo, a essa altura, não é a Odebrecht. É sua memória. E os documentos que guarda. Não falará.

LULA ESTÁ furioso com a companheira Dilma. Ele a acusa de não ter usado o poder do cargo para impedir que a Operação Lava-Jato, comandada pelo juiz Sérgio Moro, chegasse até onde chegou. Mas como Dilma poderia atender à vontade de Lula se ela se reelegeu com base em mentiras, lidera um governo cada vez mais fraco, e seu desempenho só é aprovado por 10% dos brasileiros?

O FATO É que Lula cobra de Dilma o que ela não pode dar. Ou talvez não queira dar. Poucas coisas boas ficarão do período Dilma. Uma delas, a justa fama de não ter atrapalhado o combate à corrupção. As críticas de Lula a Dilma, compartilhadas com os religiosos que o visitaram no Instituto Lula, deixam nu um político que não entende a real dimensão da crise do PT e da esquerda.

A CRISE DERIVA de erros cometidos por Lula e Dilma. O pai da crise é ele. A mãe, ela. De nada adianta Lula sugerir a Dilma que vá para a rua falar com o povo. Ela não tem o que dizer. O PT, tampouco. Envelheceram o discurso e os métodos do Sr. "Brahma," como Lula foi chamado por alguns empreiteiros. É um ciclo político que se esgotou. Apenas isso, e nada mais.

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

Mesmo contra, Levy terá de defender ‘pedaladas’

O ministro Joaquim Levy (Fazenda) anda constrangido com a ordem que recebeu do Planalto: defender o crime financeiro conhecido por “pedaladas fiscais”. Tem dito a amigos que foi chamado para “consertar o futuro” e não para justificar os erros de outros. O ministro acha a manobra contábil criminosa, mas terá de usar sua credibilidade para ajudar Dilma a se safar de punições da Lei de Responsabilidade Fiscal.

Blindagem
Mediante acordo de “blindagem” no TCU e na Justiça, o ex-secretário do Tesouro, Arno Augustin, assumiu responsabilidade pelas pedaladas.

Constrangimento
Arno Augustin é investigado no crime das “pedaladas”, mas foi só um auxiliar. Pela Lei, a responsabilidade e as contas são da presidente.

É crime
Em cada dez auditores do Tribunal de Contas da União e a maioria dos ministros se convenceram da conduta criminosa das “pedaladas”.

‘O céu é o limite’
Mais um pouco e acabam em CPI as ofertas de emissários do governo para que ministros do TCU alterem posição no caso das “pedaladas”.
E-mail suspeito na Odebrecht cita um certo ‘André’
O chamado mercado morre de curiosidade para saber quem é o André citado no e-mail que é uma das provas que levaram à prisão de Marcelo Odebrecht, presidente da poderosa empreiteira. O e-mail faz referência ao sobrepreço de US$ 25 mil por dia em um contrato de operação de sondas. Na época, já estava em operação a Sete Brasil, do banqueiro André Esteves, fornecedora de sondas à Petrobras.

Chave de cadeia
O e-mail suspeito é de Roberto Prisco Ramos para Marcelo Odebrecht, Fernando Barbosa, Marcio Faria e Roberto Araújo, vários deles presos.

Sobre-preço
O e-mail tem o tom de relatório: “Falei com o André em um sobrepreço no contrato de operação da ordem de $20-25000/dia (por sonda)”.

Manipulação
Em outro trecho, o e-mail sugere “envolver” a UTC e OAS, para que não se tornem concorrentes em “afretamento e operação de sondas”.

Burras cheias
Preso, sexta-feira, Marcelo Odebrecht preside, a empreiteira que mais faturou na era Lula e Dilma, de quem é amigo próximo. No total, a Odebrecht faturou 53% dos R$ 71 bilhões gastos com empreiteiras.

Eles voltarão
Os malucos chavistas não perdem por esperar. Só faltou os senadores agradecerem a anta Nicolás Maduro pela repercussão mundial das hostilidades em Caracas. Breve, muito breve, a comissão vai voltar.

Tungados
O impostômetro já bateu a marca de R$ 950 bilhões arrecadados, e o ano nem sequer chegou à metade. E pensar que grande parte dessa tunga aos contribuinte já foi tungada pelos esquemas de corrupção...

PP faz cara feia
O PP se reúne, esta semana, para discutir e oficializar o desembarque do blocão de partidos aliados do governo na Câmara. Cansou de ser “linha auxiliar” do PMDB, partido para o qual tem perdido cargos.

Tomando mais um
Para azedar ainda mais as relações com o PP, o líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), vai entregar ao vice Michel Temer sua indicação para a direção da CaixaPar. A estatal é feudo do PP.


Demaquilante
Parlamentares duvidam que Dilma consiga convencer o TCU a aprovar as contas do seu governo. Dizem que se nem a romaria de políticos e ministros conseguiu, não será Dilma, “miss simpatia”, que o conseguirá.

Conversão carioca
Ex-assessora de FHC, a jornalista Ana Tavares, agora radicada no Rio, rompeu com o Santos, desde a venda de Neymar, para se converter a um novo e também glorioso alvinegro: o Botafogo.

Merecido
Um raro idoso a não ser prejudicado pelo Trio Malvadeza (Carlos Gabas, Nelson Barbosa e Joaquim Levy), o cavalo Galeto recebeu uma bonita homenagem pelos 30 anos de serviço à Polícia Militar do DF.

Caminho das Índias
A Lava-Jato da PF descobriu que o apelido de Lula na OAS, do “amigo sogro”, era “Brahma”. No caso, “deus” líquido e certo do esquema.


o poder sem pudor ‘Cobras’ à espreita
Jânio Quadros nunca teve muito apreço por jornalistas. Considerava-os como a serpentes. No final dos anos 80, prefeito paulistano, ele foi à casa do deputado estadual Fauze Carlos (PTB) para se encontrar com o presidente nacional do partido, Paiva Muniz. Deparou-se com dois jornalistas, que, claro, logo pediram uma “conversa rápida”.
— Ah, são só dois?...
Os repórteres se animaram, mas só até ele completar, às gargalhadas:
— ...e não dá para um comer o outro, e ficar um só?