sexta-feira, novembro 06, 2015

Explicação cega - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 06/11

O Brasil de hoje (ou de sempre?) está tão bizarro que o deputado Eduardo Cunha pode escapar da condenação por quebra de decoro parlamentar devido a uma engenhosa montagem financeira que protegeu seu dinheiro ilegal no exterior.

Como está sendo processado por supostamente ter mentido na CPI da Petrobras ao afirmar que não tinha contas no exterior, Cunha não se preocupará, neste primeiro momento, em se explicar sobre os outros crimes que presumivelmente cometeu, como sonegação fiscal e evasão de divisas, além, claro, da acusação mais grave, a de que recebeu propina do dinheiro desviado da Petrobras.

A explicação para o depósito de US$ 1,5 milhão feito por um envolvido na Lava-Jato é tão bizarra quanto a situação em si: Cunha diz que não sabe por que esse dinheiro foi depositado, e imagina que seja uma dívida paga pelo filho de um deputado já falecido, a quem emprestara o dinheiro.

O advogado Marcelo Nobre, que defende Cunha no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, explica didaticamente por que seu cliente não faltou com a verdade. "Ele não tem conta-corrente em outros países, e isso é absolutamente simples de entender. Eduardo Cunha, na verdade, faz parte de um truste, de um fundo, do qual é tão somente beneficiário. Ele não sabe onde esse fundo tem contas, onde aplica o dinheiro, ele não administra nada".

Por essa descrição, o presidente da Câmara tem na verdade um "blind trust" e aí a situação começa a ficar grotesca. Um "blind trust" é aquele administrado sem que os beneficiários tenham interferência nas aplicações, geralmente utilizados por políticos e outras personalidades que querem evitar conflitos de interesse entre suas atuações no setor público e os investimentos dos fundos. Daí o nome, algo como uma carta branca para os administradores do fundo.

O ex-ministro da Justiça do governo Lula Marcio Thomaz Bastos colocou todo seu dinheiro em um "blind trust" quando se tornou ministro, justamente para evitar mal-entendidos. O "blind trust" é muito útil também para os que querem manter sua fortuna protegida dos bisbilhoteiros.

Resta saber qual é o caso de Cunha: ou tentou esconder o dinheiro num "blind trust" ou, pelo contrário, procurou evitar conflitos de interesse dando a terceiros a administração desse dinheiro que, alega, ganhou fora da política, em negócios de exportação.

Cunha manteve seu dinheiro administrado por um "blind trust" e, portanto, não precisava ter uma conta pessoal num banco estrangeiro. Tudo deve estar em nome de empresas ligadas ao "trust", inclusive os cartões de crédito que serviram para pagar as aulas de tênis na Flórida e outras despesas suas e de sua família.

Com essa explicação, ele pretende safar-se da perda de mandato no Conselho de Ética da Câmara, o que é muito possível.

As manobras políticas que Cunha domina tão bem poderão, no entanto, prejudicá-lo. O relator escolhido, deputado de primeiro mandato Fausto Pinato, do PRB, só entrou na Câmara graças à votação de Celso Russomanno, a grande estrela do partido da Igreja Universal.

Candidato novamente, desta vez à prefeitura de São Paulo, Russomanno como sempre começa liderando as pesquisas. Não vai querer logo na largada aparecer como o protetor de Eduardo Cunha.

De qualquer maneira, na Câmara, Cunha ainda tem margem de manobra. Mais difícil será provar a origem lícita dessa dinheirama que está no exterior sem ser declarada oficialmente. Sobretudo convencer a maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal de que o dinheiro depositado em sua conta por um dos intermediários das falcatruas da Petrobras na verdade não tem nada a ver com elas, mas com uma antiga dívida paga em nome de um defunto.

Mas, se o projeto do governo de repatriação do dinheiro no exterior for aprovado pelo Congresso, Cunha poderá legalizar seu dinheiro sem maiores problemas.


Pedaladas e avanços institucionais - MAÍLSON DA NÓBREGA

FOLHA DE SP - 06/11

É pouco provável que tenha havido pedaladas fiscais em 2015. Afigura-se procedente, pois, a negação feita pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy. A nova gestão do Tesouro Nacional dificilmente terá recorrido às tristes manobras contábeis de anos anteriores, condenadas por especialistas e depois pelo TCU (Tribunal de Contas da União).

Pedaladas são artimanhas contábeis utilizadas pelos governos do PT para esconder a grave situação das contas públicas. O objetivo foi falsear as estatísticas para dar a impressão de que as metas fiscais eram cumpridas. Houve dois tipos de pedaladas. Uma violava a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF); a outra era mero atraso no pagamento de obrigações do Tesouro, sem infringir a lei.

Um exemplo de manobra ilegal foi a orientação à Caixa Econômica para pagar benefícios do Bolsa Família, sem que previamente lhe tenham sido transferidos os correspondentes recursos.

Neste caso, há um relacionamento formal entre o Tesouro e o beneficiário. A Caixa atua como agente responsável pelo pagamento. Se ela pagou o benefício de seus próprios cofres, realizou um empréstimo ao Tesouro, o que é proibido pela LRF.

No caso do BNDES e de outros bancos oficiais, o governo celebra um contrato pelo qual a instituição se compromete a conceder empréstimos mediante taxa de juros subsidiada, isto é, inferior à taxa de captação dos correspondentes recursos.

O relacionamento formal do Tesouro é com o banco e não com o beneficiário. Cabe-lhe fazer a "equalização" das taxas, isto é, pagar a diferença entre o custo incorrido pela instituição para obter os recursos e o que ela recebe do cliente. Se a obrigação não é cumprida no prazo previsto, caracteriza-se atraso no pagamento. O banco não terá efetuado um empréstimo ao Tesouro.

A LRF não veda atrasos de pagamentos. A inadimplência, comum em momentos de crise, acontece também em obras de infraestrutura e no fornecimento de bens e serviços ao governo. Se os atrasos não forem regularizados até o término do exercício, virarão "restos a pagar", ou seja, obrigações de orçamentos anteriores que podem ser liquidados no exercício corrente.

O fornecedor do bem ou serviço deixa de receber seus direitos tempestivamente, mas não efetua um empréstimo ao Tesouro.

Do ponto de vista financeiro, os dois tipos de pedaladas produzem o mesmo efeito, adiar o desembolso de caixa. Sob o aspecto formal, representam operações com características distintas. A primeira afronta a lei. A segunda, quando utilizada de forma sistemática, diz mal da gestão do Tesouro.

Uma pode redundar em parecer pela rejeição das contas do governo pelo TCU; a outra não tem serventia para qualquer fim, menos ainda para justificar um pedido de abertura de processo de impeachment.

A exemplo do que ocorreu em outras oportunidades, distorções funcionais como as das pedaladas criam oportunidade para promover avanços institucionais, em benefício da melhoria de gestão e para evitar a repetição de erros lamentáveis.

Esse é, pois, momento para aperfeiçoar a legislação com dois novos dispositivos. Primeiro, proibir bancos oficiais de efetuar pagamentos por conta do Tesouro sem o prévio recebimento dos correspondentes recursos. O segundo dispositivo estabeleceria que atrasos superiores a, digamos, 30 dias seriam automaticamente contabilizados como despesa ou dívida pública.

Como se sabe, as pedaladas não aconteceram por escassez de caixa. O Tesouro tem perto de R$ 1 trilhão depositados no Banco Central. O objetivo era simplesmente manipular as estatísticas das contas públicas.

Com essas duas medidas, não haveria incentivo para manobras contábeis, pois não seria mais possível mascarar maus resultados das contas públicas. A transparência e a precisão das estatísticas aumentariam.

Mudanças adicionais poderiam ser adotadas para desestimular outras manipulações empregadas pela gestão anterior da Fazenda e do Tesouro, mas essas duas tenderiam a ser as mais relevantes.


O ano que não existiu - VINICIUS TORRES FREIRE

Folha de SP

Passamos o ano a falar de coisas imaginárias e desastres reais.

Foi um ano consumido pela tentativa de impeachment que fracassou, mas nem por isso houve governo.

Foi um ano em que a política econômica para este ano ficou para o ano que vem.

Foi um ano em que o programa do maior partido de oposição, em tese engraçada o PSDB, foi adotado, reproduzido e ampliado pelo partido maior da situação, na triste realidade o PMDB, o partido de todas as situações.

Terá sido um ano em que a economia voltará ao tamanho que tinha quando Dilma Rousseff era candidata a presidente pela 1ª vez, em 2010.

Um ano de vazios e regressos, talvez apenas de cadeias mais cheias, mas até aí ainda sobra espaço para quem deveria estar lá.
Considere-se.

Apesar das tentativas de requentar estratégias de abater a presidente da República e dos propósitos insondáveis desse despropósito que é o presidente da Câmara, sabe-se que o impeachment é um jogo adiado para depois do Carnaval, ou "sine die".

Ontem, o Banco Central disse oficialmente "Feliz Ano Velho" à política econômica.
No ano do fez de conta, intenção era levar a inflação à meta de 4,5% em 2016.

Agora, acertar a meta fica para 2017. O objetivo para 2016 é evitar que o IPCA supere o teto da meta, como em qualquer dos anos Dilma Rousseff. Se a inflação não passar de 6,5%, está bom. A previsão mediana dos povos do mercado para 2016 anda pela casa de 6,3%.

A cerimônia do adeus à meta de poupança do governo, de superavit primário, foi ainda mais longa que a do BC. A temporada de despedidas começou em julho.

Desde então, a meta de superavit fiscal, de 1%, estava morta. Nesse tempo em que esteve em tese embalsamada, à espera do funeral, apodreceu.

A morta deve baixar à sepultura em deficit de 2%, um desvio em torno de R$ 180 bilhões.

O PSDB dedicou-se desde o primeiro dia do ano a derrubar Dilma Rousseff. Pelo menos assim o fez seu ponta de lança, Aécio Neves, senador que nesse ínterim dedicou-se a ser um líder de Eduardo Cunha na Câmara, do tucano-cunhismo e seus deputados "cabeças pretas".

Quanto a seu programa, da boca para fora ou em parte adotado fraudulentamente pela presidente da República, o PSDB dedicou o ano a dele fazer picadinho, apoiando votações que ajudaram a depredar mais o país que sua inimiga Dilma Rousseff.

Enquanto PT e PSDB se desmanchavam em seus variados vexames ou infâmias, o PMDB, partido de oposição e adesão ao governo, dedicou-se mais uma vez a ser o partido de todas a situações. Recolheu o papel picadinho do programa do PSDB, colou tudinho, fez uns anexos, passou um verniz e apresentou um programa para o futuro do país.

Nesse programa, o partido proclama enormidades. Por exemplo, que o lugar do PSDB agora será dele, PMDB. Que todas as ações e crenças de política econômica da presidente da República e do PT são ruinosas. Que a situação é de urgência em um país quebrado pela economia e pelo ódio. Resultado do governo Dilma 1, da Constituição de 1988 e da oposição liderada oficialmente pelo PSDB.

Ao fim deste ano, a ponte para o futuro é o PMDB.

"Julguem", como se diz nas redes sociais.

Clareza, volver - CELSO MING

ESTADÃO - 06/11

O BC passou a admitir mais abertamente que empurrou para 2017 a convergência da inflação para o centro da meta (4,5%)


O Banco Central deixou de lado nesta quinta-feira a linguagem cifrada e quase sempre ambígua dos seus relatórios, atas e comunicados e tentou ser mais claro na sua comunicação.
Passou, por exemplo, a admitir mais abertamente que empurrou por um ano o período de convergência da inflação para o centro da meta (4,5%). Até outubro ainda insistia em que entregaria a inflação no centro da meta no fim de 2016. Quando percebeu que foi ultrapassado pelos fatos, voltou ao hermetismo e às expressões confusas. Agora, declarou sem rodeios que a entrega da inflação no centro da meta ficou para 2017 - e não mais para “o horizonte relevante da política monetária” - horizonte sempre cambiante, como as partículas subatômicas.

Foi o que garantiu, nesta quinta-feira, em entrevista coletiva à imprensa o diretor de Política Econômica do Banco Central, Altamir Lopes. As razões para o adiamento da convergência da inflação já eram conhecidas, mas ficaram mais explicitadas.

A primeira delas foi o impacto produzido pela recomposição dos preços administrados, aqueles que dependem de decisão do governo. Essa carga sobre a inflação foi bem mais forte do que esperava o Banco Central, que não contava com reajustes tão altos das tarifas da energia elétrica e dos combustíveis. Aí, boa dose de sinceridade nunca é demais.

Não mencionado por Altamir Lopes, dá para acrescentar entre as causas do adiamento o efeito inflacionário produzido também pela alta do dólar no câmbio interno, de mais de 50% apenas em 2015.

O outro fator que levou o Banco Central a deixar para 2017 a convergência da inflação para a meta foi a enorme incerteza produzida pela área fiscal do governo federal. É um campo sobre o qual o Banco Central vinha pisando em ovos com salto alto, supostamente para não deixar em má situação o ministro da Fazenda da administração anterior, que dizia e repetia, com escancarada cara de paisagem, que tudo ia muito bem, obrigado, nas contas públicas.

A última ata já mencionava as incertezas provocadas pelo emperramento do ajuste fiscal tanto no governo federal quanto no Congresso. Mas, nesse ponto, ainda falta clareza. Em vez de insistir em que “o balanço do setor tende a se deslocar para a zona de neutralidade” e coisas dessa ordem, o Banco Central seria mais bem entendido se dissesse de uma vez que há incertezas demais na área fiscal e que isso não ajuda a combater a inflação. Mas, ainda assim, que continua apostando em que as coisas acabem entrando nos eixos.

O problema é que a lenga-lenga do governo e do Congresso deixa tudo nublado. Se, por exemplo, não sair a aprovação da CPMF, o governo será obrigado a puxar para cima a Cide, que é um tributo embutido no preço dos combustíveis. Seria injeção de alta dose de inflação na veia. Essa ameaça paira sobre os mercados dos preços, do câmbio e dos juros.

Se essa manifestação de transparência do diretor Altamir Lopes for indicação de mudança na maneira de se comunicar com o público, então o Banco Central estará aumentando a eficácia de sua política monetária.

CONFIRA:




Os gráficos mostram como evoluem exportações e importações por volume negociado - e não por preço.

A prova do quantum

Altamir Lopes apontou o aumento do volume (quantum) exportado e, ao mesmo tempo, a redução do volume importado como os melhores indicadores do ajuste por que passam as contas externas. Esse ajuste, por sua vez, é o melhor indício de que a economia está se acertando: “O quantum das exportações é que vai dar o tom do ajuste externo, contribuindo de forma expressiva para o PIB”, disse Altamir.

Perigosas semelhanças - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 06/11

Ameaçados pela iminência de derrotas eleitorais, em razão da dramática situação econômica a que conduziram seus países, governos de viés populista da América Latina, como os da Venezuela e Argentina, revelam indesejáveis semelhanças com o que se tem visto no Brasil nos últimos anos. Nenhuma delas joga a favor da prosperidade econômica da sociedade ou, muito menos, da consolidação da democracia.

Por isso mesmo, sobram razões para a cidadania brasileira não perder de vista o que ocorre nesses dois vizinhos, que, diga-se, tinham tudo para frequentar a parte alta das economias desenvolvidas, de modo a garantir boa qualidade de vida sustentável a sua população, sem necessidade de socorros assistencialistas.

No Brasil, todos se lembram do assustador vídeo do programa eleitoral do PT mostrando uma família modesta à mesa do jantar assistindo impotente ao desaparecimento da comida, enquanto outra cena mostrava banqueiros e executivos sorrindo. Dizia o anúncio que isso ocorreria se o eleitorado cometesse o erro de votar em candidatos da oposição ao governo. Ao mesmo tempo, era insistente a falsa informação de que, se o PT fosse derrotado, programas sociais como o Bolsa-Família seriam extintos.

Esse marketing do medo é exatamente o que empregam os candidatos governistas às eleições presidenciais da Argentina e legislativas da Venezuela. Conduzido com mão de ferro por Nicolás Maduro, o sucessor do coronel Hugo Chávez, fundador do anacrônico socialismo do século 21, o regime venezuelano é uma boa amostra do que se deve evitar se se pretende viver uma democracia. Chávez aproveitou-se de erros e divisões da oposição para dominar o Legislativo e minar o Judiciário.

Foi isso que lhe permitiu aprovar uma constituição a seu gosto e conveniência. Levantamento da ONG internacional Human Rights Watch constatou que apenas 20% dos juízes venezuelanos desfrutam de garantias constitucionais. Os demais são juízes provisórios (52%), temporários (26%) ou sem qualquer tipo de estabilidade (2%), ou seja, sujeitos às vontades do governo. Resultado: políticos de oposição são mantidos presos sob alegações sem qualquer prova, como denunciou ex-promotor refugiado em Miami.

Se perder a maioria do Legislativo, como indicam as pesquisas, Maduro não terá como impedir a revisão imediata das leis absurdas que fez aprovar. É o caso da recente Lei Habilitante, chamada por Maduro de "antigolpe", que lhe permitirá governar por decreto, caso perca as eleições de 6 de dezembro, "já que, nesse caso, a Venezuela terá uma das etapas mais obscuras de sua vida, pois não entregaríamos a revolução", ameaça Maduro.

Não menos ameaçador passou a ser Daniel Scioli, candidato governista a presidente da Argentina, desde que foi obrigado a disputar um apertado segundo turno, com evidente risco de ser derrotado. Além do marketing do medo em relação aos programas sociais parecidos com os que há no Brasil, ele afirma que a vitória da oposição será um golpe na integração sul-americana, com prejuízos para a Argentina.

Golpe, aliás, é mais uma palavra comum no discurso de governos populistas que se veem ameaçados de derrota ou de afastamento por meios legais. São semelhanças que o Brasil deve evitar a todo custo, pois vêm de quem usou a democracia para destruí-la, assim como fizeram com a economia de seus países. Apontam para onde não queremos ir. Não iremos.


Petrobras capturada EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 06/11

A irresponsável greve dos petroleiros e o aumento acelerado do buraco na Petros (o fundo de pensão dos funcionários da Petrobras) são evidências de que os problemas da empresa vão muito além da rapinagem posta a claro pela Operação Lava Jato.

Esses episódios atestam o quanto a estatal se tornou uma organização capturada não só por partidos, mas também por sindicatos e parte do corpo executivo, que se valem de posições de comando e influência para impor agenda própria e obter vantagens desmedidas.

São grupos que trabalham em detrimento dos direitos e benefícios dos acionistas –em especial a União, que representa o contribuinte–, ultrajando princípios como gestão eficiente e integridade nas relações com a coletividade.

A paralisação começou na semana passada e reduziu a produção de petróleo em 400 mil barris diários. Os sindicatos demandam aumento salarial de 18%, um absurdo em relação à calamitosa situação financeira da companhia –para nada dizer da recessão que contamina toda a economia.

Pregam também a suspensão do plano de desinvestimento a partir de toscos argumentos nacionalistas, como se o reequilíbrio da estatal contrariasse objetivos do país.

O que afronta o interesse nacional é a pilhagem da Petrobras, e a esse propósito convém perguntar: de que se ocupou a Federação Única dos Petroleiros nos últimos anos, quando houve o maior escândalo de roubo e incompetência gerencial da história da empresa?

Quanto à Petros, o rombo monta a R$ 10 bilhões, uma escalada de 60% neste ano. Os investimentos renderam 5,8%, abaixo da meta de 10,3% para o pagamento de benefícios aos pensionistas.

A direção da entidade culpa a queda dos preços das ações, citando também as perdas com a empresa de sondas Sete Brasil.

Pode ser, mas cabe avaliar a gestão dos recursos. Um dos critérios mais elementares é a diversificação de riscos. Se os empregos e proveitos dos funcionários estão ligados aos destinos da Petrobras, por exemplo, não faz sentido que também seus planos de previdência invistam no setor de petróleo.

Ponderações como essa, contudo, dificilmente terão recebido acolhida nas reuniões dos comitês de investimento da Petros. Nesse capitalismo de compadrio, os fundos de pensão se transformam em meros executores da vontade do governo de plantão, direcionando recursos para os amigos do poder.

Nada disso vai mudar enquanto não houver disposição para levar a cabo verdadeira agenda de modernização –governo e Congresso só poderão destravá-la se resistirem às demandas corporativistas.


O predomínio da imoralidade - EDITORIAL O ESTADÃO

ESTADÃO - 06/11

Tem razão o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, quando declara que não será “nada anormal” se o Congresso aprovar as contas do governo de Dilma Rousseff. O normal, hoje no País, é o predomínio da imoralidade no trato da coisa pública, razão pela qual será surpreendente se os parlamentares tomarem uma decisão justa, em vez de articularem mais um vergonhoso conchavo, quando forem analisar os crimes cometidos pela presidente na área fiscal – de resto sobejamente comprovados pelo Tribunal de Contas da União (TCU).

Órgão auxiliar do Legislativo, o TCU aprovou por unanimidade, em outubro, um parecer recomendando que o Congresso rejeitasse as contas de Dilma. Os ministros daquele tribunal consideraram que o balanço apresentado pelo governo, relativo ao ano passado, continha manobras fiscais que violavam a Lei Orçamentária e a Lei de Responsabilidade Fiscal.

Na ocasião, o TCU deixou claro que os procedimentos do governo para maquiar suas contas “afrontam de forma significativa” vários itens daquela legislação. O relatório, de mais de 1.400 páginas, não deixa dúvidas sobre os delitos de Dilma – que, em países respeitadores da lei, seriam mais que suficientes para embasar um processo de impeachment.

Não bastassem as evidências recolhidas pelos técnicos do TCU, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, entregou à Comissão Mista de Orçamento do Congresso a confissão de que o rombo causado pelas “pedaladas fiscais” chega a inacreditáveis R$ 57 bilhões, fazendo saltar o déficit primário do governo para quase R$ 120 bilhões, ou 2,08% do PIB. Se isso não é irresponsabilidade fiscal, devidamente prevista como crime na legislação, então nada mais é.

Mas o Brasil “normal”, conforme querem os petistas e seus sócios na campanha de conquista do Estado, é aquele em que se faz a equivalência moral de situações incomparáveis, com o objetivo de causar confusão e, assim, tentar livrar a cara dos culpados pelo arrombamento das contas públicas. Para se defender, Dilma diz que o governo de Fernando Henrique Cardoso também “pedalou”, isto é, também atrasou repasses do Tesouro aos bancos públicos; logo, se todos cometeram o tal crime, hoje e no passado, crime não há.

É com esse argumento malandro que os petistas pretendem induzir o Congresso a ignorar o TCU e aprovar as contas de Dilma, sugerindo que a Lei de Responsabilidade Fiscal foi mal aplicada pelo tribunal. “Todo julgamento é uma interpretação”, disse Jaques Wagner. “Você tem, à luz da Lei de Responsabilidade Fiscal, uma interpretação que foi dada pelo TCU. Nós vamos debater aqui no Congresso, à luz da mesma Lei de Responsabilidade Fiscal, e vamos dar outra interpretação.” Por “outra interpretação” se entenda concluir que o governo é inocente porque teria repetido prática de seus antecessores.

No entanto, o que o TCU demonstrou, acima de qualquer dúvida razoável, é que os crimes cometidos pelo governo petista, tanto em volume de dinheiro quanto em extensão de tempo, não têm paralelo na história do País.

O objetivo das pedaladas, já está claro, era esconder a terrível situação financeira causada pelo populismo desatinado do lulopetismo. A conta desse truque contábil finalmente chegou – mas o governo, como se estivesse a negociar a compra de um fogão numa loja popular, quer parcelar a dívida em 60 suaves prestações.

A aposta do governo petista, contudo, passa muito longe do tal debate legalista sugerido por Wagner. No Congresso, qualquer decisão que venha a ignorar o parecer do TCU, plenamente embasado em fatos irrefutáveis, não será uma decisão técnica, e sim política. E a política está de tal modo abastardada, reflexo de um governo licencioso e de um Congresso dominado por desqualificados do baixo clero, que talvez seja fácil para Dilma cabalar votos para aprovar suas criminosas cambaias.

Será um desfecho ignominioso, mas muito característico do momento em que vivemos.

Escândalos e má gestão mancham o futebol - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 06/11

Prisão de dirigentes da Fifa, em meio a denúncias de suborno com o pagamento de propinas milionárias, e falência dos clubes no Brasil são sintomas de um mesmo mal



Pouco mais de um ano após a Copa no Brasil, a extradição do ex-presidente da CBF José Maria Marin para Nova York — preso em maio na Suíça com outros dirigentes da Fifa — foi mais uma evidência dos maus passos que o futebol vem dando no sentido diverso daquele que o transformou em potência do entretenimento. O envolvimento de cartolas, empresários e outros integrantes do grande circo da bola em episódios de corrupção, ações em si condenáveis, pode até ser entendido como pontos fora da curva numa atividade cujas ações se medem por bilhões. Já a intervenção do FBI, que levou à descoberta de um esquema intercontinental de propinas e enriquecimento ilícito, seria um desejado antídoto contra tal roubalheira.

Jogo jogado ou não, o que impressiona de fato nesse desvio do futebol do âmbito do esporte para a rota da criminalidade são os valores movimentados ao largo dos estádios. Um dos pivôs do escândalo das propinas, que abala a credibilidade da Fifa e suas atividades, o empresário brasileiro J. Hawilla se comprometeu com a Justiça americana a devolver o equivalente a R$ 575 milhões — mais que o custo unitário de cinco das arenas da Copa de 2014. Por sua vez, para ter o direito a prisão domiciliar na luxuosa Trump Tower, em Nova York, Marin desembolsa US$ 15 milhões (ou R$ 57 milhões, quase a soma mensal das seis mais altas folhas salariais do futebol brasileiro).

São cifras astronômicas, e ainda assim apenas dois exemplos, entre tantos, nesse jogo de multiplicação de fortunas amealhadas à custa de subornos, que alcançam valores incalculáveis. Imensuráveis também são os prejuízos éticos para um esporte que, por sua carga de emoção, atrai multidões em todo o mundo — mas cuja imagem de lisura, vê-se que não por acaso, tem sido tisnada por denúncias com potencial para fazê-lo mergulhar em graves crises de credibilidade e, como previsível consequência, de público.

No chamado país do futebol, o esporte também vai mal das pernas. O legado do pentacampeonato perde-se nos desvãos da má gestão dos clubes, da incompetência de dirigentes e dos interesses pessoais acima das agremiações — estas, cada vez mais endividadas, na proporção inversa da qualidade dos espetáculos que os times têm oferecido em campo. Assim como a Fifa, a CBF também tem sido alvo de denúncias. Da soma desses maus passos resulta, entre outros aspectos deletérios para o esporte, uma crise gerencial (que, por sua vez, alimenta a indigência técnica medida por estádios vazios) responsável por uma generalizada falência.

No caso específico do endividamento dos clubes, o Brasil dispõe, agora, de um instrumento de renegociação de débitos, o Profut. É uma promessa de saída realista para a questão do gerenciamento financeiro. A ver. Resta, no entanto, implantar no país um sistema que também moralize o futebol como um todo. Não é pedir muito para quem ganhou cinco Copas do Mundo.

Dois é demais - NATUZA NERY - COLUNA PAINEL

FOLHA DE SP - 06/11

O Palácio do Planalto e líderes petistas no Congresso reagiram com preocupação à manobra gestada no PMDB com setores da oposição de jogar para o ano que vem a mudança na meta fiscal de 2015, o que abriria nova frente na batalha pelo impeachment de Dilma Rousseff. Até porque o governo ainda não reúne capital político suficiente para suportar a análise de dois casos tão decisivos na Comissão Mista de Orçamento: a alteração da meta e as pedaladas fiscais condenadas pelo TCU.

Sede ao pote 

Por essa razão, ninguém entendeu a decisão da presidente de antecipar sua defesa ao Congresso contra a acusação das pedaladas, algo que poderia ser feito até março do ano que vem.

Não gostei 
Os líderes governistas Delcídio Amaral, José Pimentel e Humberto Costa, todos do PT, reprovaram a estratégia. Sequer compareceram à cerimônia de entrega da defesa.

Muita calma 
O adiamento da análise das contas de Dilma interessa a Renan Calheiros. Ao conduzir o processo por mais tempo, o presidente do Senado também amplia sua margem de pressão sobre o Palácio do Planalto.

Bandeira branca 
Antes declarado inimigo, Augusto Nardes passou a ser protegido pelo Planalto. Com o intuito de reduzir a crise política, o Executivo orientou sua tropa no Congresso a barrar a convocação e a quebra de sigilo de Juliano Nardes, filho do ministro do TCU que relatou as pedaladas.

Vai tu mesmo 
Mesmo considerando frágeis alguns argumentos de Cunha, a tropa de choque do peemedebista respirou aliviada com os primeiros sinais de como será sua defesa. Esperavam um fio ao qual se agarrar para conseguir sustentar apoio ao presidente da Câmara.

Sonho meu 
Dilma Rousseff decidiu intensificar a cruzada do governo pela aprovação da CPMF. Tocará cada vez mais no tema. Acredita que, “jogando mais luz” sobre a medida, obterá ajuda do setor privado para aprová-la no Congresso.

Crise longa 
Em encontro fechado com empresários em Maceió, nesta quinta, a presidente incluiu 2017 no apelo para viabilizar o imposto. “Nós não vamos sair da crise sem a CPMF. É fundamental para 2016 e 2017, não para o governo, mas para o país”.

Me dê motivos 
Celso Jatene, secretário de Esportes da gestão Haddad, está deixando o PTB para se filiar ao PR. Ele disse que está saindo do partido porque, depois de três anos de fidelidade ao prefeito, quer estar ao lado do petista na campanha pela reeleição.

Razões 
A entrada de Jatene no PR tem servido de argumento por parte do ministro Antônio Carlos Rodrigues (Transportes) para tentar convencer Gabriel Chalita a também migrar para a legenda. A promessa é colocá-lo, de vez, como vice na chapa de Haddad.

Tarde em Itapuã 
Depois de participar de um encontro do PSDB em Salvador, nesta sexta, o senador Aécio Neves (MG) acompanhará o prefeito ACM Neto (DEM) em uma visita a Itapuã –bairro de Dorival Caymmi. Enquanto roda o país, o tucano se aproxima da maioria dos diretórios regionais da sigla, crucial para vencer eventuais prévias contra Geraldo Alckmin em 2018.

Pula-pula 
O PPS foi à Justiça Eleitoral pedir o mandato do vereador Ari Friedenbach, de malas prontas para o PHS. Em 2013, um ano depois de ser eleito para a Câmara municipal, o vereador migrou para o recém-criado Pros.

Visita à Folha 
Walter Schalka, diretor-presidente da Suzano Papel e Celulose, visitou ontem a Folha, onde foi recebido em almoço. Estava acompanhado de Alexandre Alfredo, diretor de comunicação da empresa, e Waldomiro Carvas Junior, presidente da GWA Comunicação Integrada.

TIROTEIO

Haddad quer fazer lojinhas de R$ 1,99 para vender artesanato na cracolândia. Espero que não traga a Dilma para administrá-las.

DO VEREADOR ANDREA MATARAZZO (PSDB), sobre a prefeitura criar loja para vender produtos feitos por usuários de crack vinculados ao Braços Abertos.


CONTRAPONTO

Mama África

No fim de dezembro de 2014, o governador Geraldo Alckmin telefonou para Floriano Pesaro, recém-eleito deputado federal, para convidá-lo a assumir a Secretaria da Assistência Social.
Do outro lado da linha, Pesaro aceitou a oferta, mas disse ao governador que não poderia comparecer à cerimônia de posse, marcada para 1º de janeiro, porque estava em viagem à Namíbia, na África. Depois de acertar outra data para o futuro secretário assumir a função, Alckmin desligou o telefone e logo disse a assessores:
–Acertei! Escolhi um secretário da área social que passa férias na África!

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

 ‘MPGR INVESTIGA MENSALINHO’ NOS GOVERNOS DO PT
Nem só de Mensalão e Lava Jato vive a corrupção no governo. Criaram também “mensalinho”. A Procuradoria-Geral da República tem reunido procuradores para analisar centenas de processos que investigam a distribuição de dinheiro direto da União para prefeituras e ONGs amigas do governo, por meio de convênios, nos governos Lula e Dilma. A maioria envolve pequenos valores, mas há também quantias vultosas

AFANO MILIONÁRIO
Esta semana, quatro procuradores e respectivas equipes passaram a limpo mais de duzentos processos, um deles no valor de R$22 milhões.

‘MENSALINHO’ NA VEIA
A suspeita é que o “mensalinho” em pequenos valores foi uma tentativa de não chamar a atenção dos órgãos de controle.

SÓ PARA OS DE CARTEIRINHA
A distribuição suspeita de recursos públicos beneficia só as prefeituras e entidades controladas pelo PT ou por aliados fiéis ao governo.

DE UMA TACADA, 800 CASOS
No mais recente mutirão, na PGR, procuradores passaram o pente fino em cerca de 800 contratos de distribuição farta de dinheiro público.

GOVERNO MANOBRA PARA ENTERRAR CPI DO BNDES
O governo escalou o ministro Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) para impedir a prorrogação da comissão de inquérito que apura empréstimos do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Trata-se de manobra para blindar o ex-presidente Lula. Nesta quinta (5), a tropa governista impediu as convocações do ex-ministro Antônio Palocci e de José Carlos Bumlai, amigo de Lula.

TOP-TOP DE NOVO
O governo está preocupado com o tráfico de influência do assessor da Presidência, Marco Aurélio Garcia. Ele pode complicar Lula e Dilma.

MEIA CALABRESA
“É alta a pressão para encerrar a CPI”, diz o presidente da comissão, Marcos Rotta (PMDB-AM). As atividades vão até 4 de dezembro.

MEIA PORTUGUESA
O presidente do banco, Luciano Coutinho, mandou funcionária para auxiliar petistas a encerrar a CPI. Ela não perde uma reunião.

NÃO É PIADA
Nomeada para a Suframa, a ex-deputada Rebecca Garcia abriu mão da participação como gestora de quatro empresas do pólo de Manaus. A exigência é da Comissão de Ética (sim, ela existe) do Planalto.

LÍDER FALASTRÃO
“Prevendo incidentes piores”, Sóstenes Cavalcante (PSD-RJ) entrou com representação no Conselho de Ética contra Sibá Machado (PT-AC), que insuflou agressão a manifestantes pró-impeachment de Dilma

EM FAMÍLIA
O Solidariedade resolveu constranger Chico Alencar (Psol-RJ). Após entrar no Conselho de Ética por notas frias, o partido vai vasculhar a empresa de Cláudia Zur, ex-mulher dele, “por usar laranjas”.

DESABAFO
O deputado Fernando Francischini (SD-PR) aproveitou a visita do príncipe japonês Akishino e desabafou: chamou o nobre no canto e lamentou a situação da corrupção no Brasil. “Está imoral,” disse.

AUSÊNCIA ILUSTRE
O deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ) sentiu falta de Eduardo Cunha na comemoração de seu aniversário. Cunha está furioso com Picciani, que ousadamente articula substitui-lo no comando da Câmara.

VAIDADE TUCANA
Mesmo sem mandato, o ex-deputado José Aníbal, suplente do senador José Serra, usa a estrutura da liderança tucana na Câmara para distribuir aos gabinetes seus artigos certamente prenhes de sabedoria.

NA PRESSÃO
Deputados fixaram na Câmara um painel de adesões ao impeachment Dilma. O líder do PPS, Rubens Bueno (PR), acha que a iniciativa serve também para pressionar Eduardo Cunha a abrir o processo.

DESTINOS CRUZADOS
Enquanto o presidente do Conselho de Ética, José Carlos Araújo (PSD-BA) andava para anunciar Fausto Pinato (PRB-SP) relator do processo contra Eduardo Cunha, os três se encontraram no Salão Verde.

PENSANDO BEM...
... a Operação Lava Jato bem que poderia ser rebatizada de “Operação Lavou, tá Novo”.