O GLOBO - 06/11
Prisão de dirigentes da Fifa, em meio a denúncias de suborno com o pagamento de propinas milionárias, e falência dos clubes no Brasil são sintomas de um mesmo mal
Pouco mais de um ano após a Copa no Brasil, a extradição do ex-presidente da CBF José Maria Marin para Nova York — preso em maio na Suíça com outros dirigentes da Fifa — foi mais uma evidência dos maus passos que o futebol vem dando no sentido diverso daquele que o transformou em potência do entretenimento. O envolvimento de cartolas, empresários e outros integrantes do grande circo da bola em episódios de corrupção, ações em si condenáveis, pode até ser entendido como pontos fora da curva numa atividade cujas ações se medem por bilhões. Já a intervenção do FBI, que levou à descoberta de um esquema intercontinental de propinas e enriquecimento ilícito, seria um desejado antídoto contra tal roubalheira.
Jogo jogado ou não, o que impressiona de fato nesse desvio do futebol do âmbito do esporte para a rota da criminalidade são os valores movimentados ao largo dos estádios. Um dos pivôs do escândalo das propinas, que abala a credibilidade da Fifa e suas atividades, o empresário brasileiro J. Hawilla se comprometeu com a Justiça americana a devolver o equivalente a R$ 575 milhões — mais que o custo unitário de cinco das arenas da Copa de 2014. Por sua vez, para ter o direito a prisão domiciliar na luxuosa Trump Tower, em Nova York, Marin desembolsa US$ 15 milhões (ou R$ 57 milhões, quase a soma mensal das seis mais altas folhas salariais do futebol brasileiro).
São cifras astronômicas, e ainda assim apenas dois exemplos, entre tantos, nesse jogo de multiplicação de fortunas amealhadas à custa de subornos, que alcançam valores incalculáveis. Imensuráveis também são os prejuízos éticos para um esporte que, por sua carga de emoção, atrai multidões em todo o mundo — mas cuja imagem de lisura, vê-se que não por acaso, tem sido tisnada por denúncias com potencial para fazê-lo mergulhar em graves crises de credibilidade e, como previsível consequência, de público.
No chamado país do futebol, o esporte também vai mal das pernas. O legado do pentacampeonato perde-se nos desvãos da má gestão dos clubes, da incompetência de dirigentes e dos interesses pessoais acima das agremiações — estas, cada vez mais endividadas, na proporção inversa da qualidade dos espetáculos que os times têm oferecido em campo. Assim como a Fifa, a CBF também tem sido alvo de denúncias. Da soma desses maus passos resulta, entre outros aspectos deletérios para o esporte, uma crise gerencial (que, por sua vez, alimenta a indigência técnica medida por estádios vazios) responsável por uma generalizada falência.
No caso específico do endividamento dos clubes, o Brasil dispõe, agora, de um instrumento de renegociação de débitos, o Profut. É uma promessa de saída realista para a questão do gerenciamento financeiro. A ver. Resta, no entanto, implantar no país um sistema que também moralize o futebol como um todo. Não é pedir muito para quem ganhou cinco Copas do Mundo.
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