sexta-feira, agosto 07, 2009

AUGUSTO NUNES

VEJA ON -LINE

Três missas negras em sete dias

7 de agosto de 2009

O olhar homicida e o estoque de insultos ficaram na portaria. O Fernando Collor que apareceu na sede provisória do governo no começo da noite de terça-feira era o católico caridoso, que anda assombrando a tribuna do Senado com leituras de escritos do Papa. O encontro foi excluído da agenda oficial, como se recomenda a conversas entre bons companheiros.

Oficialmente, Lula só queria explicar a Collor, contrário à entrada da Venezuela no Mercosul, que Hugo Chávez é gente fina. Não sobrou tempo para isso. Trataram exclusivamente das coisas do Congresso. O anfitrião, acusado pelo ex-presidente de tentar forçar o aborto da filha, cumprimentou o visitante que acusou de corrupto. Acharam positivo o balanço do primeiro dia da ofensiva tramada para socorrer José Sarney, que ambos chamaram mais de uma vez de ladrão. Ficou combinado que o ataque seria retomado por Renan Calheiros na quarta-feira e encerrado na sexta por Paulo Duque.

O presidente do Conselho de Ética nomeado pelo governador Sérgio Cabral fez o serviço sujo com muita animação. Sepultou entre comentários debochados as denúncias restantes e deu o assunto por liquidado. Não foi. Os pastores da seita dos primitivos, que rezaram três missas negras em sete dias, terão de encontrar-se com bastante frequência. Collor vai virar gente da casa. Se Lurian estiver por lá em noite de visita, o pai pedirá que traga um prato de salgadinhos para o tio Fernando. E um balde de gelo.

Os brasileiros do Bolsa Família abdicaram do direito de sonhar

7 de agosto de 2009

“Primeiro tenho de saber se a patroa deixa”, condicionou Neili dos Santos Ferreira ao ser convidada pela produção do VEJA Entrevista. Liberada pela dona do apartamento de que cuida uma vez por semana, a diarista nascida na Bahia, 39 anos e dois filhos escolheu a melhor roupa, cobriu-se com uma contrafação de casaco de pele, incompatível com a tarde quente, e apareceu no estúdio pronta para contar o que pensa e como vive uma brasileira inscrita no Bolsa Família.

Incluído o salário do marido, a renda familiar é de R$1,8 mil. Pelos critérios dos alquimistas federais, pertencem à classe média os quatro brasileiros que, sem dinheiro para a casa própria, moram com a sogra de Neili. Ganha do governo R$ 20 por mês, mas se daria por satisfeita com a metade. ”O Lula é um paizão”, abre o sorriso a diarista, decidida a votar no sucessor escolhido pelo único político em quem confia. ”Ele foi pobre igual à gente”, explica.

Não sabe quem é Dilma Rousseff, mas a ministra pode contar com quatro votos se Lula quiser. Ouviu dizer que, se a oposição vencer, o Bolsa Família vai acabar. Não sabe muito sobre o mensalão e outros escândalos. Não lê jornais nem revistas, nunca leu um livro. Anda evitando os noticiários da TV “porque só falam em coisa ruim”. Não vê diferenças entre os partidos, mas se declara fiel ao PT, “que mudou para melhor”. Na última eleição, só votou num candidato a deputado. Não recorda o nome: ”Foi meu irmão que indicou”.

Sempre falta dinheiro no fim do mês. Se ganhasse na loteria, compraria uma casa. Sem tempo nem verba para qualquer tipo de lazer, nunca viu uma peça de teatro e foi ao cinema só uma vez. A filha quer ser cabeleireira, o filho tem jeito para futebol. O que faria se o menino se tornasse um craque internacional? Ajudaria o irmão alcóolatra. Parou de estudar ainda no segundo grau porque não gostava.

Não dá maior importância à formação escolar. Lula, por exemplo, não precisa aprender mais nada para lidar com qualquer problema, até mesmo complicações internacionais. Se for preciso, basta chamar um professor particular. Neili acompanha à distância as bandalheiras no Senado, não entende direito o que está acontecendo. O ser humano é muito ganancioso, generaliza. Num recado a José Sarney, recomenda ao senador que, se tiver culpa no cartório, confesse o que fez e peça desculpas. Lula não tem nada a ver com a confusão, ressalva.

A incursão pelo universo do Bolsa Família é reveladora e inquietante. Como a diarista, milhões de brasileiros admitem que a vida anda difícil, mas não têm queixas a fazer, muito menos exigências a apresentar: sobreviver é suficiente. Abdicaram do direito de sonhar. Conformam-se com pouco mais que nada.

GOSTOSA DO TEMPO ANTIGO


ARI CUNHA

Não é o Senado. Somos nós


Correio Braziliense - 07/08/2009




O que ocorre na Câmara Alta é reflexo do Brasil. Governo faz horrores. Poderes são independentes e conflitantes. Um entra na seara de outros. O Brasil está vivendo como barril furado. Quando respinga de um lado, o dedo fecha o outro. O povo só sabe a metade do que acontece intramuros. As eleições são financiadas. Nós recebemos dinheiro para votar. Não temos consciência em quem votamos. Não lembramos o nome do candidato. Vamos atrás dos nossos representantes para pedir favores pessoais. Se o Senado é dominado pela oligarquia, a Câmara dos Deputados é sustentada pelo mensalão. O povo deve defender pureza para a Justiça. Quando essa falta, país e povo se desalinham. Vêm o sofrimento e o caos.

A frase que não foi pronunciada


“Nem se pense que D. Pedro I ou jornalistas do Império fossem fáceis de manejar, como uma espécie de títere.”

  • Otávio Tarqüínio de Sousa, de onde estiver, em comentário sobre o ontem e o hoje.

  • Liberdade

  • Na Venezuela, Hugo Chávez dita a democracia pessoal. Fecha estações de rádio, prende a oposição. Não se sabe até quando, mas ele é a lei e a vida do país. Lincoln ensinava: parte do povo pode ser enganada por muito tempo. Parte do povo pode ser enganada por todo o tempo. Nunca todo o povo durante todo o tempo.

    Dados
  • Enquanto isso, dados da Secretaria de Pesquisa e Opinião Pública do Senado mostram que 51,77% dos entrevistados, ou 4.199 pessoas, disseram ser favoráveis ao ingresso da Venezuela no Mercosul, contra 48,23%, ou 3.912 pessoas. No total, 8.111 responderam à enquete.

    Lulinha de paz
  • Presidente Lula da Silva não ataca ninguém. Defende Hugo Chávez e fica com o povo no Brasil. Países vizinhos são todos amigos. Burila a política como se fossem, os políticos, “picolos de Podreco”. Faz encenação de mágicas políticas. Corre mundo abrindo embaixadas em países que não conhecemos. De bem com o exterior. Assim é a vida.

    Financiados
  • Quando Geisel visitou a Inglaterra, pessoas que não falavam português acenavam faixas contra o Brasil. À noite, a hora era paga em dobro. Eram mercenários de vários países, pagos para protestar contra o que não conheciam. No Brasil, sindicalistas recebem dinheiro para fazer protesto e criar mais um sindicato que vai render os tubos. Olho gordo no dinheiro do trabalhador.

    Em questão
  • Informativo elaborado pela Presidência da República com edição de Isabela Vilar aos poucos muda o formato da linguagem, substituindo o texto com ar de oficial para o informal. Boa estratégia para o público alvo. Um exemplo é a matéria sobre o Dnit, que socorre motoristas em rodovias federais. Só pecou com a informação de que o serviço é gratuito. Os impostos contradizem.

    Sem prevenção
  • Apesar de ser um grupo benquisto pela comunidade, falta ânimo ao Corpo de Bombeiros durante a seca no Distrito Federal. Mesmo com uma unidade no Paranoá, o fogo que por ali se alastra, seja no pinheiral ou no cerrado, não é apagado a contento. Há demora e desconhecimento dos atendentes do 183 quanto às siglas, áreas e identificações geográficas do DF. Só cinco meses de seca valeriam a prevenção e mais empenho.

    Braba
  • Com goiano não se brinca. Sem saber onde estava pisando, o ministro Lupi perdeu para a senadora Kátia Abreu. CNI, CNC, CNA e CNIF oficializam saída do Codefat. Foi o resultado da tentativa de ingerência do ministro no Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador.

    Sem proteção
  • Emerson Gomes é o nome do garoto de 12 anos que deu a vida pelo amigo de 6. Ao perceber um tiroteio, a criança abraçou o colega. Levou um tiro no quadril e não resistiu. A governadora Ana Julia Carepa e equipe não têm capacidade para diminuir a violência no Pará.

    Estranho
  • Ainda não se sabe a razão de o jornal O Estado de S. Paulo ter demorado tanto para ter a página disponível na internet. As notícias da agência eram acessadas sem problemas, mas, para os assinantes do jornal impresso, no início da manhã, nada.
  • CELSO MING

    Pré-sal no ponto zero


    O Estado de S. Paulo - 07/08/2009

    Em agosto do ano passado foi anunciada a criação de uma comissão interministerial destinada a estudar e definir o novo marco regulatório do petróleo. O compromisso era apresentar os projetos de lei até outubro.


    De lá para cá, a conclusão da empreitada foi sucessivamente postergada, sob as mais diversas justificativas. O último adiamento aconteceu quarta-feira, porque o governo Lula não conseguiu superar as divergências internas. Como das outras vezes, as explicações para mais esse atraso foram insatisfatórias.

    Pelos sucessivos balões de ensaio divulgados ao longo desse tempo, ficou claro que o núcleo do governo que examina a matéria mudou várias vezes sua proposta sobre diversas questões. A mais importante delas foi sobre o papel da Petrobrás no novo sistema. A ideia original era reservar-lhe um papel secundário por tratar-se de uma empresa com capital preponderantemente privado (39% dele, estrangeiro), o que significaria entregar grande parte da renda do pré-sal "pros gringos". Há dois meses, a conversa passou a ser outra. A Petrobrás ficaria como operadora única de novos contratos que seriam assinados sob o regime de partilha.

    O governo aparentemente não tem clareza sobre como distribuir o produto da arrecadação dos royalties e das participações especiais nem como garantir a capitalização da Petrobrás.

    Até agora, o presidente Lula preferiu confiar as discussões a especialistas e autoridades da área. Mas, a partir de quarta-feira, entendeu que precisa ouvir empresários, lideranças sindicais e políticos, como informa o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. Não dá para imaginar que dúvidas o governo conseguirá dirimir quando essa gente disser o que pensa, se é que tem alguma opinião sobre o assunto.

    A comissão interministerial teve todo esse tempo para consultar quem lhe aprouvesse e parece difícil achar algum cartola da CUT capaz de esclarecer melhor as coisas. De mais a mais, o fórum adequado para discutir e decidir o novo marco regulatório do pré-sal é o Congresso Nacional.

    E talvez esteja aí o problema maior. O governo precisa do pré-sal para erigi-lo em bandeira a ser empunhada pela candidata oficial à Presidência da República, Dilma Rousseff. Mas o Congresso é um caldeirão em que o governo não confia. Não foi Lula que um dia afirmou que lá existem 300 picaretas?

    Além disso, há os conflitos entre governadores que disputam a foice a receita com royalties e o presidente Lula acha que os debates do pré-sal não podem azedar a formação de alianças que vão disputar o voto do eleitor.

    Há apenas duas semanas, o ministro Lobão avisava que o governo tinha pressa na aprovação das novas leis. Por isso, queria que os projetos tramitassem no Congresso sob regime de urgência constitucional, o que no mínimo ficaria esquisito, porque exigia aprovação rápida para anteprojetos em torno dos quais uma comissão diminuta não tinha ainda conseguido consenso mínimo.

    Mas as novas decisões sugerem que o governo está mais interessado em não criar problemas, a ponto de não ver inconveniente em adiar a conclusão dos trabalhos da comissão, que agora terá tempo para consultar os amigos.

    De todo modo, os interesses no pré-sal estão se manifestando e são poderosos. Falta saber onde está o interesse público.


    Confira

    Em alta - Os preços do petróleo voltaram a subir a montanha. O pico aconteceu em julho de 2008, nos US$ 146 por barril. O fundo do poço foi a US$ 44, em fevereiro deste ano. De lá para cá a alta já é de 62%. Em 2009, a acumulada é de 28%.

    GOSTOSA


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    AUGUSTO NUNES

    VEJA ON-LINE

    Os bandidos com imunidade parlamentar já usam a linguagem de esgoto dos colegas nos presídios

    7 de agosto de 2009

    O que tinha a dizer o senador Fernando Collor sobre a interpelação encaminhada por Pedro Simon?, quiseram saber depois do bate-boca de segunda-feira os jornalistas de plantão na saída do Congresso.

    — Manda ele ir… — interrompeu Collor no meio, para entrar no carro, o insulto que prescindia de complemento para ser compreendido.

    Três dias depois, o senador Renan Calheiros aproveitou a insistência de Tasso Jereissati em pedir à Mesa que retirasse o estranho ali sentado para retomar o fraseado dos jagunços.

    — Coronel de merda! Seu merda! — exclamou fora do microfone o outro destaque da mais medonha trinca do Senado.

    A primeira tentativa de transformar o Brasil numa imensa Canapi foi implodida pelo país moderno, que devolveu os provincianos a seu mundo primitivo. A segunda começou. Os reincidentes sabem que os mais ferozes inimigos de antigamente viraram companheiros, são todos sócios na base alugada. Sabem que o Brasil civilizado ficou menor, e que o Congresso vai ficando parecido com o que há de pior em Alagoas.

    Como se sentem em casa, os bandidos com imunidade parlamentar já nem procuram camuflar o que são. Antes, só agiam como os colegas nos presídios. Agora também falam como eles, expressam-se no mesmo dialeto do esgoto. Se o Brasil que presta não contiver prontamente a ofensiva dos fora-da-lei, logo circularão pelo plenário com bermudas e camisetas cavadas. Collor já tem até a tatuagem.

    CLÓVIS ROSSI

    O voo de galinha, na política

    Folha de S. Paulo - 07/08/2009

    SÃO PAULO - O leitor Marcio Bandeira de Azevedo, um dos indignados com o lodaçal político, importa da economia a expressão "voo de galinha" para dizer: "Chega de voo de galinha na política". Ajuda-memória: "voo de galinha" designa aqueles muitos períodos em que a economia brasileira tinha voos curtíssimos, como o da galinha, para ser logo abatida em geral por crises de confiança, interna ou externa.
    Parêntesis: não é o caso do recuo econômico dos dois trimestres mais recentes, causado unicamente por fatores externos.
    Fecho parêntesis e volto a Marcio Bandeira de Azevedo: "A economia realmente parece que mudou; falta um basta nesse submundo político para virarmos um país correto".
    A observação merece uma discussão aprofundada. Por partes: 1 - A eliminação da inflação colocou o país em uma situação de razoável normalidade. Agora, o brasileiro pode conversar em condições de certa igualdade com qualquer europeu ou norte-americano, porque a agenda é, no essencial, a mesma. Antes não. Falávamos um dialeto incompreensível, centrado em como acabar com a superinflação.
    2 - No governo Lula, acentuou-se essa normalidade com a eliminação (definitiva ou temporária, ainda está por se ver) das crises de balanço de pagamentos.
    Criaram-se, pois, quase todas as condições para acabar com os voos de galinha, uma maldição que durou décadas. A questão que o leitor levanta, se ele me permite uma livre interpretação, é a seguinte: uma economia que parece basicamente saneada pode voar quando o mundo político é tão podre como o era a economia nos tempos da superinflação?
    Minha resposta, por puro palpite, mas também por gosto, é "não". Mais cedo que tarde, até uma economia saneada bate no muro da podridão política.

    "BONS CUMPANHERO"

    AUGUSTO NUNES

    VEJA ON-LINE

    O que faz Renan fora da cadeia?

    6 de agosto de 2009

    No fim de maio de 2007, uma reportagem de VEJA escancarou a face horrível de Renan Calheiros, então presidente do Senado. Os homens de bem se estarreceram com o que viram, os colegas não viram nada de novo, Renan deixou o comando da mesa, foi para as coxias e esperou exatamente 24 meses para reaparecer na ribalta, neste fim de maio, no papel de parceiro preferido do presidente Lula. Por decisão do chefe de governo, cabe ao companheiro Renan, líder da bancada do PMDB e amigo de infância do presidente José Sarney, impedir que a CPI da Petrobrás consiga provar que a estatal praticou, permitiu ou patrocinou delinquências bilionárias.

    Está com a sensação de que já leu isso? Leu mesmo. É o trecho de um post de 28 de maio, que antecipava ocorrências quase palpáveis de tão previsíveis: o jagunço a serviço de todos os governos logo despejaria sobre outros senadores os sórdidos dossiês que coleciona obsessivamente. Lula tomara uma decisão acertada, continua o texto.

    As nuvens que se avolumam sobre a Petrobras são formadas por denúncias, suspeitas, indícios e evidências. Quem melhor para enfrentá-las do que o alagoano que sobreviveu a um tsunami de provas tangíveis e pilantragens visíveis a olho nu? É o homem certo no lugar certo. Para assassinar os fatos no nascedouro, foi convocado um serial killer especializado no extermínio de verdades inconvenientes.

    Fosse o Brasil um país sério e Renan não conseguiria pronunciar sequer uma vírgula sobre assunto nenhum. Primeiro teria de providenciar respostas verossímeis para questões que seguem pendentes. O que tem a dizer sobre as relações mais que promíscuas envolvendo as empreiteiras Gautama e Mendes Junior? E sobre as mesadas de R$ 16,5 mil entregues pelo amigo lobista a Mônica Veloso? E as notas fiscais que fraudou na tentativa de explicar o inexplicável? Que tal ensinar o truque da multiplicação de imaginários, que transformou um fazendeiro de araque em imperador do gado?

    Com incontáveis acertos a fazer com a Justiça dos homens e o Juízo Final, o extorsionário alagoano continua a brincar de inquisidor. Pastoreia a base alugada com a arrogância sem remorsos do pecador vocacional, enquadra os vacilantes do PT, banca o capitão-do-mato com em parceria com Fernando Collor. Depois de começar a bandidagem forjada para inocentar José Sarney, quer punir os que o acusaram. É o que está fazendo neste momento no plenário do Senado.

    Há algo de errado com a Justiça de um país que não consegue trancar na cadeia um fora-da-lei como Renan Calheiros.

    BRASÍLIA - DF

    Maioria manda, minoria chia


    Luiz Carlos Azedo Com Guilherme Queiroz
    Correio Braziliense - 07/08/2009



    Apesar da promessa de recorrer ao plenário contra o arquivamento de três denúncias e uma representação no Conselho de Ética contra o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), a oposição já admite ter poucas chances de ver sua contra-ofensiva prosperar. O regimento interno do colegiado prevê recurso apenas ao plenário do conselho, onde há folgada margem pró-Sarney. Para ser vitoriosa no plenário, a oposição precisaria do apoio da bancada do PT, que está imobilizada.

    ***
    A tropa de choque comandada pessoalmente pelo líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), pretende manter a ofensiva contra a oposição. A representação contra o líder do PSDB, Arthur Virgílio Neto (AM), não somente será acolhida pelo presidente do Conselho de Ética, senador Paulo Duque (PMDB-RJ), como dará início ao processo de cassação. Esse é o objetivo de Sarney e Renan, com apoio do Palácio do Planalto, que também gostaria de ver o tucano perder o mandato por quebra do decoro parlamentar.


    Nem pensar// Apesar de iniciar os trabalhos da CPI da Petrobras pela manobra contábil da estatal, a bancada governista na comissão não quer saber de convocar a ex-secretária da Receita Federal Lina Maria Vieira, responsável pela autuação. Para o governo, ela anda falando mais do que deveria.


    Retórica

    Renan pretende exercer com punho de ferro a maioria governista, de maneira a não dar o menor espaço para vacilação da bancada petista. Hoje, o fiador da permanência de Sarney na Presidência do Senado é o líder do PT, Aloizio Mercadante (SP), que gostaria de ver Sarney fora do cargo. O petista, porém, foi obrigado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva a recuar dessa posição. Na bancada, seis senadores querem o afastamento e quatro a permanência do cacique maranhense.


    Desgarrado


    O senador Tião Viana (foto), do Acre, foi o único petista a participar da reunião entre PSDB, PDT, PSB e DEM em que foi gestado o manifesto pela licença de Sarney da Presidência da República. Viana foi derrotado por Sarney, defende sua saída, mas mantém posição discreta. É o alvo preferencial de Renan na bancada petista, por causa do celular que emprestou à filha em viagem ao exterior.

    Limite



    Protagonista do arranca-rabo com o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) reclamou repetidas vezes de chantagens que seriam oriundas da tropa de choque de José Sarney (PMDB-AP). Sobre o senador Wellington Salgado (foto), o tucano bravejou que o “Cabelo”, apelido dado pelos colegas ao peemedebista mineiro, havia “passado dos limites”. Tasso é o segundo na linha de tiro de Sarney.

    Lobby


    A subsecretária de Estado dos Estados Unidos, Ellen Tauscher, e o assessor da Casa Branca para Segurança Nacional, general Jim Jones, aproveitaram o encontro ontem com senadores da Comissão de Relações Exteriores para fazer propaganda do caça F-18 Super-Hornet, com o qual a americana Boeing concorre no programa FX-2 da Força Aérea. Os americanos prometem, na reta final da disputa, a transferência de tecnologia e o uso da linha de montagem da Embraer.


    Latinhas

    Governador de Sergipe, Marcelo Déda(PT) inaugurou ontem, em Estância, a fábrica de latas de alumínios Arumã, terceira unidade da Crown (EUA) no país, investimento de R$ 120 milhões. Fabricará de 600 milhões a 1,2 bilhão de latas por ano.


    Colher/Antes de o clima no Senado descambar para a beligerância, os democratas Heráclito Fortes (PI) e Demostenes Torres (GO) trocavam figurinhas animadamente sobre os benefícios da cirurgia de redução de estômago, pela qual passaram. O goiano perdeu 33kg. O piauiense, que fez a cirurgia recentemente, 24kg. Heráclito, que sempre foi bom garfo, almoça mingaus e papinhas.

    Correntes/As correntes petistas Construindo um Novo Brasil (CNB), PT de Lutas e Massas, e Novo Rumo — as três tendências fechadas com a eleição de José Eduardo Dutra à presidência do partido — farão um ato em apoio à candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, à Presidência da República, amanhã, em São Paulo. Dilma vem demonstrando preocupação com a divisão interna do partido na disputa.

    Gastos/Estudo divulgado ontem pela Assessoria Econômica do Instituto Teotônio Vilela (ITV) mostra que os gastos do governo federal com pessoal cresceram R$ 26,2 bilhões entre o primeiro semestre de 2002 — último ano do governo Fernando Henrique — e o primeiro semestre de 2009, penúltimo do governo Lula. A cada primeiro semestre do ano, o governo aumentou os gastos em 5,9%, em termos reais. Pouco mais de 27% do total gasto com pessoal civil é referente aos cargos comissionados, revela o estudo.

    GOSTOSAS


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    MERVAL PEREIRA

    Sem vencedores


    O Globo - 07/08/2009


    O objetivo de dar transparência aos debates parlamentares ou às sessões do Supremo Tribunal Federal (STF) está na origem da criação dos seus canais oficiais. Quando, recentemente, o presidente do STF, Gilmar Mendes, discutiu em plena sessão com o ministro Joaquim Barbosa, chegou-se a temer que o próprio Poder Judiciário perdesse a credibilidade diante da opinião pública, e cogitou-se até mesmo cancelar as transmissões ao vivo. Não aconteceu, e a atuação de ambos os ministros ganhou destaque, com apoios e críticas.

    Ontem, aconteceu o contrário. A TV Senado mostrou, como uma espécie de ápice negativo de uma semana tumultuada, o bate-boca entre os senadores Tasso Jereissati (PSDB-CE) e Renan Calheiros (PMDB-AL), um chamando o outro de "cangaceiro" e "coronel", culminando com Renan usando até mesmo palavras de baixo calão.

    Era previsível o que aconteceu ontem no plenário do Senado, e espantoso é que não tivesse acontecido antes, ou na reunião do Conselho de Ética que, seguindo um padrão conhecido por todos, começou a tentar anular preliminarmente todas as acusações contra o senador José Sarney (PMDB-AP), sem permitir que uma investigação independente esclareça devidamente os fatos.

    Está em vigor a tentativa de impor a lei do mais forte, a maioria governamental disposta a se entregar à simplória, porém truculenta, lei de Cafeteira: o que importa é quem está a favor ou quem está contra Sarney, e não o que fere ou não o decoro parlamentar.

    O espírito de revanche está instalado no Senado, o que levou o senador Renan Calheiros a ler, em nome do PMDB, uma representação contra o senador tucano Arthur Virgílio (PSDB-AM), que havia mantido no exterior, com salário do Senado, um funcionário de seu gabinete que estudava teatro, sem os trâmites administrativos regulares.


    O líder do PSDB também foi acusado pelo PMDB de ter pedido emprestado dólares ao ex-diretor-geral da Casa Agaciel Maia, para pagamento de despesas pessoais no exterior, entre outras coisas. O que diferencia os casos de Arthur Virgílio dos demais que estão sendo debatidos no Conselho de Ética é que o senador admitiu publicamente seus erros, e o fez reagindo a uma chantagem que procurava constrangê-lo, para que não continuasse a denunciar os desmandos do Senado.

    O que o senador Arthur Virgílio fez, confessando a culpa e repondo o dinheiro, é um passo adiante nos costumes políticos brasileiros; e o hábito de usar o Conselho de Ética para retaliar os adversários políticos só faz com que a crise de credibilidade se aprofunde.

    O clima que está instalado no plenário do Senado não tem data para terminar enquanto o senador Sarney continuar na presidência, e dificilmente o PMDB sairá vitorioso, se prevalecer o ambiente belicoso que interessa à "tropa de choque" impor.

    A crise do Senado está explicitando para o grande público as características da forma de fazer política que o maior partido brasileiro adota com sucesso há muito tempo: chantagens, fisiologismo, patrimonialismo.

    O que está claro é que, assim como o Senado necessita de uma reforma administrativa que dê cabo aos desmandos e imponha regras definidas, também o país está necessitado de uma reforma política e de legislação eleitoral profundas, que transformem os partidos políticos em canais efetivos de representação da sociedade e não de grupos políticos.

    Quando os peemedebistas acusam a oposição de estar movida por interesses políticos com vistas à eleição de 2010, o que está por trás é a intenção de impor ao PT uma solidariedade compulsória à presença de José Sarney na presidência do Senado, como posição condicionante ao apoio do partido à candidatura oficial do governo.

    O presidente Lula está disposto a pagar essa fatura, e tem manobrado pessoalmente para tentar mudar a posição da bancada do PT, que defende a licença de Sarney para que as denúncias sejam investigadas.

    Nada indica que uma proximidade tão grande com o que há de pior na política brasileira possa trazer benefícios eleitorais a um governo tão popular quanto o de Lula no momento.
    Ao contrário, é previsível que essa aproximação possa trazer resultados negativos, e não apenas entre os eleitores da elite, como acredita o presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro. Ele negou que tivesse uma pesquisa que indica que a crise de Sarney não chegou às classes C, D e E.

    O próprio Sarney falou sobre essa suposta pesquisa a vários senadores, para convencê-los de que não correriam perigo de prejuízos eleitorais ao apoiá-lo, como registrei na coluna de ontem.

    O empenho do presidente Lula nesse apoio do PMDB parece inexplicável, pois os peemedebistas que estão hoje na base do governo na maior parte não têm alternativas políticas na oposição.

    Mas o que o presidente quer mesmo é impedir que o PMDB se divida, como costuma fazer, e levar para a candidatura oficial os valiosos minutos de televisão na propaganda da campanha eleitoral para presidente em 2010. Na definição do próprio Lula, os partidos políticos só têm importância em dois momentos: antes da campanha eleitoral, na definição das coligações, por causa do tempo de televisão, e durante o governo, para garantir a maioria parlamentar.


    Durante a campanha, o eleitor segue sua lógica própria, independentemente dos partidos em que os candidatos estejam inscritos. Mas, para isso, precisa de exposição pela televisão. Fiel a essa estratégia, Lula está jogando tudo na manutenção de Sarney. Pode estar cometendo um grave erro.

    A ESTRATÉGIA DE CHOQUE DA TROPA DE JOSÉ SARNEY

    EDITORIAL

    Valor Econômico - 07/08/2009

    A estratégia da tropa de choque do presidente José Sarney foi definida anteontem, em dois movimentos simultâneos. Um, político, do presidente do Senado, que fez um discurso tentando esvaziar as pressões políticas do plenário, colocando a sua defesa em termos técnicos e seu mandado na planície - ele, Sarney, um senador como os outros, que não fez nada além do que faria qualquer um de seus pares. O outro, operacional, de concentrar toda a luta política num Conselho de Ética no qual tem o apoio do presidente, o senador Paulo Duque (PMDB-RJ), e uma maioria folgada.

    No fim do discurso, integrantes do PSDB consideraram que Sarney tivera o êxito, pelo menos momentâneo, de desarmar os espíritos no plenário, que foi levado à combustão na segunda-feira, quando o senador Fernando Collor (PTB-AL) e o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), interpelaram asperamente o senador Pedro Simon (PMDB-RS), que discursava pedindo a renúncia de Sarney. O presidente da casa, afinal, não manteve a escalada ofensiva de sua tropa de choque e deu justificativas consideradas "técnicas". Terminada a reunião do Conselho de Ética, no entanto, o outro lado da estratégia ficou patente: o que está em jogo é a preservação pura e simples do cargo de Sarney, sob qualquer expediente. Em nenhum momento passa pela cabeça do presidente do Senado e de seus defensores provar a sua inocência, mas abortar qualquer questionamento ao seu comportamento e desconhecer as denúncias que proliferam diariamente nas edições dos jornais.

    A atuação do presidente da Comissão beirou o grotesco. Sem qualquer constrangimento, Duque arquivou três denúncias e uma representação, das dez apresentadas contra Sarney, e mais uma, contra o líder do PMDB, Renan Calheiros, sem se dar ao trabalho de encontrar argumentos diferentes para cada uma de suas decisões. Nas cinco, usou um acórdão do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Nelson Jobim, de que "declaração constante de matéria jornalística não pode ser acolhida como fundamento para a instauração de um processo criminal". Em todas, acrescentou observações semelhantes, de que o Conselho não pode ser instrumento de ação político-partidária.

    Aos reclamantes, o deboche. Duque foi chamado de "arquivador-geral" do Senado pelo senador Renato Casagrande (PSB-SE). "Arquivador, eu? Isso não foi nada. Tem mais de 20 representações para despachar", respondeu. Para que ninguém tivesse dúvida de que sua intenção é exatamente a de arquivar todas as denúncias que lhe chegarem às mãos sem ser importunado pelos outros senadores, disse que se limitará a encaminhar para publicação sua decisão sobre elas. "Vou ser franco: essa reunião de hoje convoquei porque tenho grande consideração pelo Conselho. Eu poderia ter mandado publicar direto num ato imperial", afirmou, antes de anunciar que as próximas decisões serão atos imperiais. Interpelado pelo jornalista Danilo Gentilli, do programa CQC, sobre que filme retrataria o que acontece no Senado, não teve dúvidas: "Bangue-bangue ao anoitecer". E sobre o que pensariam os seus eleitores: "Eles vão achar que sou lindo, que estava muito bonito aqui hoje". Esse, aliás, é o menor problema do senador fluminense. Ele é o segundo suplente de Sérgio Cabral (PMDB-RJ), que foi eleito governador do Rio, levou o seu primeiro suplente no Senado para a secretaria e deixou Duque no seu lugar, sem que ele tivesse se dado ao trabalho de pedir um único voto.

    Depois da política de terra arrasada que fará Duque no Conselho, o próximo passo dos opositores de Sarney será recorrer ao plenário para reverter a decisão do seu presidente. Dificilmente conseguirão. Segundo levantamento feito pelo jornal "O Estado de S. Paulo" em 30/7, dos 16 senadores titulares da Comissão, oito são réus em ações penais, ou tiveram envolvimento com nepotismo e atos secretos do Senado, ou as duas coisas juntas. Dos 14 suplentes, dez estão nessa situação. Engrossam o time dois senadores que não têm histórico de transgressões criminais ou disciplinares, mas darão seus votos para livrar Sarney. Dando tudo certo, assim terminará o calvário do senador José Sarney. Pagará menos do que pagou o senador Renan Calheiros, há dois anos, quando teve que renunciar à presidência do Senado para manter o mandato. Sarney ficará com os dois.

    GANG


    PAINEL DA FOLHA

    Deixa que eu chuto

    RENATA LO PRETE

    FOLHA DE SÃO PAULO - 07/08/09

    Entre os próprios peemedebistas, não faltaram vozes para desaconselhar Renan Calheiros a tocar fogo no paiol ao ler, da tribuna do Senado, a representação contra Arthur Virgílio (PSDB-AM), entremeada por comentários de tom intimidatório dirigidos a desafetos que o ouviam no plenário. Senadores do partido, como Romero Jucá, e seu presidente, Michel Temer, foram alguns dos que tentaram convencer Renan a apenas protocolar o pedido. Nada feito.
    O comando da sigla evitou envolver seus técnicos na feitura da representação -que Renan frisava ser "do PMDB". Por isso, o texto é aberto com requerimento do próprio senador, solicitando à Executiva que referendasse o documento, dando-lhe lastro partidário.




    Bingo. Uma das poucas representações no Conselho de Ética que o PT se comprometeu a acatar é a referente aos atos secretos. O período recordista em número de atos secretos é -como mostrou o PowerPoint de José Sarney- o da presidência de Renan.

    Divisória. Ao opinar sobre a crise, Aloizio Mercadante costuma dizer que há "dois grupos" no Senado. Para o líder da bancada do PT, "o Arthur Virgílio nunca participou de irregularidades."

    Moonwalk. Mercadante assistiu pela TV, de seu gabinete, ao quebra-pau no plenário. Ideli Salvatti (PT-SC) também manteve distância.

    Parou geral. Antes de Renan subir à tribuna, Sarney respondeu assim ao questionamento de Arthur Virgílio sobre quais matérias seriam votadas dali em diante: "Não há nada importante". Logo em seguida, completou: "As coisas mais difíceis eu tirei".

    Vai sonhando. De um ministro desolado no início da noite: "E eu que comecei o dia achando que caminhávamos para terminar a semana de forma mais tranquila..."

    Hora de assoprar. Três dias depois de mandar Pedro Simon (PMDB-RS) "engolir" e "digerir" suas palavras, Fernando Collor (PTB-AL) foi até Arthur Virgílio para elogiar o "tom sereno" de sua resposta a Renan. O mesmo tom conciliador foi adotado por Gim Argello (PTB-AL).

    O que será... De Marina Silva, falando ao Blog da Amazônia sobre a possibilidade de disputar a Presidência pelo PV: "Não estou fazendo cálculos. Se eu ficasse calculando tempo em programa eleitoral, jamais teria sido candidata. Você sabe que já fui candidata com um tempo de um minuto, que tinha que ser dividido com o Chico Mendes".

    ...será. De Fábio Vaz de Lima, marido da senadora, no mesmo blog: "Sou contra a saída dela do PT e já expus minhas razões. Mas a maneira como tem se conduzido até aqui me dá a certeza de que a Marina já tomou uma decisão. É possível até que ofereçam a ela a presidência do PV. Sendo assim, vou acompanhá-la. Sou capaz disso em quaisquer circunstâncias".

    Tal e qual. Uma cabeça experiente observa: com a ameaça da candidatura de Marina Silva, Lula prova de um veneno igual ou pior do que aquele que pretende administrar a José Serra ao inflar o balão da candidatura de Ciro Gomes em São Paulo.

    Xadrez. Assim como a investigação sobre o Detran gaúcho, a presidência da nova CPI contra a governadora Yeda Crusius (PSDB) será do PT: deputada Stela Farias. O PMDB luta para ficar com a relatoria, já que tem deputados citados na denúncia e teme por devassa no Banrisul, há anos controlado pela sigla.

    Repasses e metas. Em encontro com secretários estaduais de Segurança e de Justiça, o presidente do Supremo, Gilmar Mendes, defendeu a criação de um fundo de financiamento da segurança pública, nos moldes do que existe para a educação.

    com VERA MAGALHÃES e SILVIO NAVARRO

    Tiroteio

    "Sou advogado de defesa, não sou advogado de ataque."

    De ANTONIO CARLOS DE ALMEIDA CASTRO, o Kakay, defensor de José Sarney no Conselho de Ética, negando ter participado da elaboração da representação do PMDB contra o senador tucano Arthur Virgílio.

    Contraponto
    Território independente A iminência da entrada em vigor da nova e severa legislação antifumo em São Paulo foi assunto durante encontro casual entre Cunha Bueno (PP) e Andrea Matarazzo (PSDB). Em dúvida quanto ao calendário, o ex-deputado perguntou ao secretário municipal das Subprefeituras:
    -Até quando eu posso fumar?
    Matarazzo esclareceu que a proibição começaria hoje, 7 de agosto, mas procurou consolar Cunha Bueno:
    -Você sempre poderá fumar lá na minha casa...
    Sem prejuízo de sua antiga e estreita amizade com o antitabagista José Serra, Matarazzo mandou instalar em sua casa uma placa que diz: "Aqui se fuma muito!".

    MÍRIAM LEITÃO

    O morto-vivo

    O GLOBO - 07/08/09

    Enquanto a pátria mãe estava distraída, vendo as manobras para arquivar as ações contra o presidente do Senado, a Câmara deu vida a um esqueleto que pode custar mais de R$200 bilhões. A MP 460 é para subsidiar a casa dos pobres. Isso custa pouco. O subsídio aos muito ricos, pendurado no projeto, é caríssimo. Felizmente, a palavra final sobre a exigência dos exportadores será dada pelo Supremo.

    Quando morreu o crédito-prêmio de IPI aos exportadores? Esta a pergunta que o Supremo Tribunal Federal (STF) terá que responder semana que vem. Pode decidir que ele morreu em 1983, ou em 1990, ou que está vivo. Se a decisão atender aos exportadores uma enorme dívida recairá sobre os cofres públicos. Os ganhadores serão os exportadores, as tradings, os consultores e tributaristas que trabalham intensamente para dar vida ao morto.

    O crédito-prêmio é um fóssil. Vem do tempo em que se governava por decreto-lei, com base no AI-5; no tempo em que as regras do comércio internacional eram mais toscas; no tempo em que a transferência de dinheiro público para as empresas era mais explícita.

    Os governos militares mudaram de ideia várias vezes sobre o subsídio. Isso produziu brechas pelas quais entraram as ações judiciais dos exportadores. Pelo artigo de ontem do jurista Tércio Sampaio Ferraz na "Folha de S. Paulo", foram baixados cinco decretos-lei entre 1969 e 1981 dizendo coisas diferentes. O primeiro criou o benefício; o segundo, dez anos depois, fez um cronograma de redução que o extinguiria em 1980; o terceiro prorrogou a morte para 1983. O quarto, baixado dias depois do terceiro, deu ao ministro da Fazenda o direito de ampliar, reduzir ou extinguir o benefício. O quinto, de 1981, no meio da crise da dívida, suspendeu a extinção em 1983.

    O Supremo até agora só julgou um detalhe: considerou que aquela ideia de dar ao ministro da Fazenda o direito de manter ou extinguir o subsídio não vale. Mas no limbo do morre-não-morre, ele continuou dando lucro aos exportadores e sendo contestado pela Fazenda em vários governos desde então.

    Essa confusão até dá aos exportadores algum respaldo para dizer que ele valeu até 1990, ainda que existam bons argumentos contrários. Mas aí veio o tiro final. A Constituição de 1988 disse, nas disposições transitórias, que todos os incentivos fiscais não confirmados em dois anos estariam extintos. Portanto, um legista diria que ele morreu em 1990. Foi o que o Superior Tribunal de Justiça (STJ) também julgou.

    Mas os filhos do crédito-prêmio não se conformam com a sua morte. Ele era um pai tão generoso! Dava aos exportadores o prêmio de 15% sobre o valor exportado de produtos industriais. Esta era a alíquota máxima de IPI existente. Vários produtos tinham alíquotas menores. Não importa, o ressarcimento era sempre de 15%. Os países protestaram e retaliaram o Brasil por violar as regras do comércio internacional.

    Enquanto a Justiça decidia se valia ou não valia, as empresas continuaram usando o benefício para não pagar outros impostos. A política do fato consumado agora virou chantagem explícita. Dizem os muitos consultores, tributaristas, lobbistas, políticos que trabalham para os exportadores, que as empresas quebrarão se o crédito-prêmio for considerado extinto desde 1990.

    Na economia, o defunto produziu um intenso comércio. Empresas venderam esses supostos "direitos", empresas quebradas foram compradas só porque em suas contabilidades tinham esses créditos. Nem todas as empresas entraram na Justiça, nem todas as que entraram, descontaram. As prudentes fizeram provisões contra o risco de perder na Justiça, ou não usaram um incentivo tão controvertido juridicamente.

    Agora o fóssil voltou com tudo. Com medo de que o Supremo confirme que de fato ele já morreu, o lobby exportador começou a agir mais abertamente, enviou emissários mais poderosos ao governo, capturou defensores em todos os partidos políticos, manteve o governo em posição ambígua. O governo negociou abertamente a inclusão desse assunto na MP que trata de subsídio de casa para pobres. A oposição ajudou. A Fazenda disse que discordava, mas faltou ao Ministério força ou convicção. Na quarta-feira foi aprovado o projeto que disse que ele sobreviveu até 2002.

    O lobby exportador diz que aceita a data de 2002 para a morte do benefício, de pura bondade. Alega que estaria abrindo mão do direito ao subsídio até os dias atuais. Descaramento, pelo visto, não tem limites.

    Em pelo menos duas MPs a base aliada e seus aliados na oposição penduraram a proposta de dar vida ao crédito-prêmio até 2002. Isso cria um rombo de mais de R$ 200 bilhões nas contas públicas segundo a Procuradoria da Fazenda. Os exportadores mostram um estudo feito pelas consultorias de Luiz Gonzaga Belluzzo e LCA, que era Luciano Coutinho, dizendo que é de R$70 bilhões, mas que pode ser menos.

    No dia 12, o ministro Ricardo Lewandowski apresentará seu voto sobre a data da morte do benefício. Se no Supremo a decisão final demorar, o presidente Lula terá que vetar o artigo aprovado da MP 460. Ou então aceitar, saindo da posição ambígua que o governo tem mantido.

    A Fazenda diz que discorda mas o PT luta abertamente pelos interesses dos exportadores.

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    BARBARA GANCIA

    Pede indenização, Sarney, pede!

    FOLHA DE SÃO PAULO - 07/08/09


    Só faltou Sarney se dizer vítima dos militares e requerer indenização nos moldes das de Ziraldo e Cony



    SEMPRE que ouço a expressão "ex-presidentes", lembro-me daquela quadrilha de surfistas, um com a máscara do Reagan, outro do Nixon, outro do Ford, que assaltava bancos naquele filme com Patrick Swayze e Keanu Reeves em que o malucão do Gary Busey arrasa.
    "Point Break" virou clássico dos anos 90 e, na minha cabeça de alfinete, criou uma associação peculiar entre ex-presidentes e malfeitores. Pois, na quarta-feira, quando me reclinei no sofá com um saco de pipocas de micro-ondas para assistir ao discurso do nosso José Sarney, nem me lembrava mais de que um dia eu havia assistido ao filme em questão.
    Mas foi só o senador pelo Estado do Amapá (!) começar a falar, que logo a imagem dos surfistas com as máscaras de látex se fez presente, como se o quintal da minha memória tivesse sido invadido pela estátua do Borba Gato.
    Vem cá: a Itália não instituiu a figura do ex-presidente que automaticamente, salvo renúncia, vira senador vitalício? E o Chile e o Peru não copiaram a ideia? Após o término de seu mandato como chefe de Estado, o presidente da República vira senador sem direito a voto e passa a dar bons conselhos e a emprestar sua experiência ao país. E não se fala mais em novas aventuras na busca pelo poder.
    Não seria melhor ver os ex-presidentes tapuias se tornarem senadores vitalícios a suportar um senhor na casa dos 80 anos que não consegue domar seu apego pelo poder? Não seria mais apropriado para um membro da Academia Brasileira de Letras, que já está com mais um romance em andamento, ter a oportunidade de ir cuidar da vida, digamos, acadêmica, do que ficar às voltas com essa coisa pedestre de encaixar o namoradinho da neta nos bastidores do serviço público?
    Não seria mais salutar vê-lo apenas aconselhar a seus pares do que sermos submetidos ao discurso de alguém que esteve ao lado do regime militar desde o primeiro momento, foi eleito indiretamente, apoiou o AI-5 e agora vem querer nos passar a ideia de que era praticamente um guerrilheiro do Araguaia? Só faltou Sarney se dizer vítima dos militares e requerer uma indenização nos moldes das de Ziraldo e Cony.
    A verdade é que nós não merecemos ter a nossa inteligência pisoteada como foi nos 50 minutos em que Sarney usou o plenário para discursar. Para começar, seus colegas da Academia Brasileira de Letras devem ter cuspido chá para todo lado, tamanha a pobreza de sua oratória. Mas isso é problema dele. Problema nosso são as mentiras. Umas de rolar de rir, como quando ele disse que o Plano Real nasceu daquela trapalhada miserável que ele perpetrou em seu governo, o Plano Cruzado. Se tivesse algum juízo, Sarney perderia essa parte do seu legado debaixo de algum lençol maranhense.
    Mas o que eu gostei mesmo foi de ouvir que ele se encontrou com o Zuleido Veras, da Gautama, "apenas três ou quatro vezes". Você, meu nobre leitor, já se encontrou com Zuleido Veras? Pois é, nem eu. Vale lembrar que, enquanto Sarney contava vantagem no plenário, outro ex-presidente, Bill Clinton, voava de volta para os Estados Unidos com as duas jornalistas americanas que ele ajudou a livrar das garras do ditador Kim Jong-il.

    ANCELMO GÓIS

    A China vem aí

    O GLOBO - 07/08/09

    A China National Oil Offshore Corporation, gigante chinesa de petróleo e gás, negocia com a Petrobras sua entrada como sócia no projeto do Comperj, complexo petroquímico que é construído em Itaboraí, RJ, orçado em US$ 8 bi.

    FINGE QUE MORREU
    Quem anda quietinha, fingindo-se de morta, é a Câmara dos Deputados.
    Ou alguém acha que a Câmara é diferente do Senado em matéria de podridão?
    PONTO PARA AMORIM
    Veja como o governo Lula é contraditório. Ao mesmo tempo em que aparelha as estatais e quase toda a administração pública, permite que o Itamaraty viva momento inédito.
    Pela primeira vez em muitas décadas, não há um só embaixador brasileiro no exterior que não seja de carreira. Ponto para o chanceler Celso Amorim.
    VIVA MILTON!
    Milton Nascimento, nosso cantor, embarca para três grandes shows na Europa.
    Estreia em Nice, na França, no Festival des Nuits du Sud-Vence, depois canta em Marciac, também no país de Sarkozy, e encerra a minitemporada no Festival de Jazz de Oslo, na Noruega, dia 16.
    MAESTRO FRANCIS
    Francis Hime regeu, quarta, a Orquestra Sinfônica de Varsóvia. Comandou “O que será”, de Chico Buarque, tema do filme “Dona Flor e Seus Dois Maridos”. Foi parte de uma retrospectiva do diretor Bruno Barreto, que ocorre na Polônia esta semana.
    ATÉ ELE
    O médico Paulo Gadelha se recupera em casa de gripe suína.
    O presidente da Fundação Oswaldo Cruz, que atua na linha de frente do combate ao vírus H1N1, começou a ter febre quinta passada, em Brasília. Passa bem.
    BEIJO PROIBIDO
    Há testemunhas. De um guarda do Santos Dumont para outro, quarta, depois de encrencar com uma mancha de tinta vermelha no braço de um rapaz que passava pelos raios X:
    – Nunca se sabe. Com esse surto de gripe suína, nem minha mulher eu tô beijando mais...
    BEATLES EM IPANEMA
    A banca Cena Muda, de publicações antigas, em Ipanema, põe à venda amanhã um acervo raro dos Beatles. Era de um ex-roadie (profissional que arruma os instrumentos no palco) da banda. São cerca de 100 itens.
    CULTURA INÚTIL
    Às 12h34m56s de hoje, dia 07/08/09, a combinação entre horário e data vai pôr, em ordem, os números 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9.
    Para o numerólogo Gilson Chveid Oen, “a redução destes algarismos daria 11, o que significa um desdobramento de individualidade ou algo que chegou a um ponto de amadurecimento e produziu novos frutos”.
    Ah, bom!
    PETROCULTURA
    Terça, no Festival Ibero-Americano de Cinema, em Fortaleza, 125 artistas do setor assinaram um documento de apoio à Petrobras, em retribuição aos patrocínios da estatal.
    Entre os signatários, estão nomões como Carla Camurati, Monique Gardenberg, Tizuka Yamazaky, Lúcia Murat, Evaldo Moscarzel, José Joffily e Orlando Senna.
    SEGUE...
    No texto, a turma do cinema diz que o papel da Petrobras na área garante “transparência e democratização necessárias ao pleno alcance social e à afirmação da identidade brasileira”.