quinta-feira, novembro 04, 2010

DORA KRAMER

Sapo de fora 
Dora Kramer 
O Estado de S.Paulo - 04/11/2010

Não há nada que se diga sobre a maneira de o PT se relacionar com seus aliados que o PMDB não esteja cansado de saber. Adeptos tardios da política de alianças - só aderiram mesmo depois de Lula perder três eleições presidenciais -, os petistas têm exata noção de ocupação de espaço e executam-na com rigor.

Essa história foi contada ao PMDB por Luiz Inácio da Silva em 1989, quando passou ao segundo turno contra Fernando Collor e recusou a oferta de apoio de Ulysses Guimarães.

Arrependeu-se publicamente, tempos depois. No entanto, repetiu a narrativa quando eleito pela primeira vez, em 2002, e desarmou na última hora o acordo feito por José Dirceu para a entrada do PMDB no governo em postos de destaque junto com a banda que havia apoiado o PSDB na eleição, Michel Temer incluído entre os governistas recém-convertidos.

Se o PMDB nutrisse algum tipo de ilusão, teria abandonado qualquer uma na campanha da eleição de agora com a mesma história que, outra vez, o PT contou ao aliado na Bahia em Minas Gerais, para citar só dois dos casos mais ilustres.

Durante a campanha o candidato a vice e presidente do partido, Michel Temer, só apareceu na propaganda de televisão ao final e no primeiro turno ficou apartado, pelo menos de público.

O PMDB ganhou assento na coordenação do programa de governo, após reclamações, e agora Temer recebeu o posto de "coordenador-geral" da transição também após se queixar. Cargo sem significado, pois as tarefas importantes estão com os petistas.

Sabendo de tudo isso e mais um pouco, ainda assim o PMDB acha que vale o trabalho de brigar todos os dias para se afirmar, calar quando for conveniente, falar quando for necessário e usar o poderio do partido no Congresso quando for indispensável lembrar ao Planalto que sapo de fora também chia. E forte.

Alvíssaras. As primeiras entrevistas da presidente eleita não revelaram grande coisa em termos de conteúdo. Mas no tocante à forma, Dilma Rousseff mostrou-se racional, elegante, mentalmente mais desenvolta que na campanha e a léguas de distância do estilo populista do atual presidente.

Povo da floresta. Chama atenção no mapa dos resultados o desempenho do candidato José Serra no Acre: 68% contra 30% para Dilma.

No primeiro turno, Marina Silva ficou em terceiro lugar, contrastando com o sucesso no restante do País.

O senador Tião Viana (PT-AC) disse que o Estado foi "injusto" em relação a Lula.

Mas, segundo quem acompanha a política local, a hostilidade do Acre - governado há 12 anos por uma frente liderada pelo PT - não é contra Lula nem contra Dilma.

Seria contra o governo estadual. O jornalista acreano Altino Machado diz que as principais reclamações são de truculência contra a imprensa, excesso de propaganda enganosa e perseguições a adversários.

Transpartidária. O projeto prevê um viaduto, mas por enquanto figuras proeminentes do PSDB apenas se dedicam à construção de uma ponte de ligação com o PSB.

O partido aumentou em 100% os Estados que governa - eram três, agora são seis - e ficou com mais governadores que o PMDB (cinco).

Quando se fala no PSDB na possibilidade de Aécio Neves ser o candidato a presidente em 2014, ouve-se o conselho para que se preste atenção em Eduardo Campos, presidente do PSB e governador reeleito de Pernambuco.

A ideia não é de exclusão ou substituição. É de composição.

Calma no Brasil. Há no PT a interpretação de que o discurso de Serra pós-derrota foi agressivo por ter sido feito em tom de assembleia permanente, resumido na frase "a luta continua".

Melhor não puxar o assunto, já que Lula saiu da derrota de 1998 dizendo que a vitória de Fernando Henrique havia sido um "estelionato eleitoral".

GOSTOSA

MERVAL PEREIRA

A economia e a política 
Merval Pereira 

O Globo - 04/11/2010

As duas eleições, a brasileira — com a renovação da Câmara e de 2/3 do Senado e também para a Presidência da República — e a americana — para parte do Senado e a totalidade da Câmara — reafirmaram a tese que ficou famosa a partir da eleição de Bill Clinton: “É a economia, estúpido”, avisava o marqueteiro James Carville.

Pois foi a economia que ditou o resultado nos dois países, que passam por momentos bastante distintos.

Dilma Rousseff foi eleita alavancada pela popularidade de Lula, mas, sobretudo, pela sensação de bem-estar trazida pelo crescimento econômico, que também é o grande responsável pela própria popularidade do presidencial.

A base aliada do governo dominou as duas Casas do Congresso com uma maioria de cerca de 70% que, embora seja apenas teórica, mostra sua força eleitoral.

Nos Estados Unidos, o presidente Barack Obama vive momento oposto.

Sua popularidade desceu a níveis mais baixos desde que foi eleito em 2008, e a economia americana só fez desabar desde então, fazendo com que o índice de desemprego chegasse aos maiores números da História recente.

Ao contrário, no Brasil, a taxa de desemprego é das menores já registradas.

Este ano materializouse de forma mais clara o desafio enorme que os EUA enfrentam como consequência de opções feitas ao longo desses anos de pós-guerra, com uma sociedade movida a alto consumo interno.

O candidato Obama, que parecia ter a solução para todos os problemas que a crise econômica que eclodiu no final de 2008 trouxe à tona, transformou-se no presidente que, diferentemente de Lula, teve muito azar e virou o para-raios da frustração dessa mesma sociedade que não está acostumada a ter que poupar e conter seus gastos.

O que ocorre é uma espécie de catarse coletiva, com o Partido Republicano tornando-se o desaguadouro de todas as reclam ações da sociedade americana, que não sente efeitos positivos nas medidas econômicas adotadas pelo governo Obama.

A mesma catarse que transformou Barack Obama na solução mágica contra a era Bush, com guerras contra o terror que levavam inquietação ao país, e a crise econômica que vinha se aprofundando.

Provavelmente por inexperiência, Obama estabeleceu prioridades equivocadas e falhou na execução — do começo ao fim, na opinião generalizada dos analistas.

O governo gastou muita energia na aprovação da reforma da Saúde, que era uma das prioridades da campanha, mas que deveria ter sido postergada diante do agravamento da crise econômica, que se mostrou muito mais severa do que se imaginava no início do governo.

Há uma percepção negativa exagerada de Obama, provavelmente fabricada pelos investidores de Wall Street, caracterizando-o como “anti-business”.

O Partido Republicano recusou desde o primeiro momento a proposta de Obama de fazer um governo bipartidário para enfrentar a crise, e atacou sem piedade as medidas do governo, ressaltando o alto custo da reforma da saúde, por exemplo.

Essa postura radicalizada da oposição nos Estados Unidos também pode ser comparada com a oposição brasileira durante os últimos oitos anos, que se deixou intimidar pela popularidade do presidente Lula e, depois do episódio do mensalão, foi neutralizada pela ação política agressiva do próprio presidente.

Ao mesmo tempo, os radicais do Tea Party ressaltam o que consideram ser indícios de um “socialismo” de Obama.

É difícil afirmar que a carreira política de Obama esteja encerrada com esta derrota espetacular que sofreu ontem, mas que ele corre o risco de se tornar um Jimmy Carter, isso corre.

O semblante do presidente Barack Obama durante a entrevista coletiva em que admitiu que o recado de descontentamento das urnas era muito claro mostra como ele se abalou com o tamanho da surra que o Partido Democrata levou nas eleições.

Sua primeira reação foi jogar para os Republicanos a responsabilidade agora de apresentar propostas que devolvamos empregos aos americanos.

Talvez Obama seja até beneficiado pelo crescimento do Partido Republicano no Congresso.

Por um lado poderá compartilhar responsabilidades e culpas.

Por outro, terá uma chance de mostrar que aprendeu a lição e também suas habilidades de líder e negociador.

Há quem veja na substituição de Nancy Pelosi no comando da Câmara uma ajuda ao governo democrata, já que a deputada é considerada uma péssima negociadora.

Há analistas que consideram que o Tea Party, o grupo mais radical do Partido Republicano, seja um problema tão grande ou maior para os republicanos do que para o próprio Obama.

O paralelo mais comentado depois da derrota foi o que aconteceu com Bill Clinton, quando também o Partido Democrata sofreu uma derrota acachapante nas eleições de meio de mandato e depois se recuperou.

Em 1994, porém, a economia dos Estados Unidos estava em recuperação, o que não acontece hoje e provavelmente não acontecer á nos próximos dois anos.

Ao contrário, a crise está levando as empresas a cortarem suas gorduras, e o aumento da produtividade no país pode segurar o desemprego em taxas altas pelos próximos dois anos.

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Trabalho abundante 
Sonia Racy 

O Estado de S.Paulo - 04/11/2010 

A mesma delegacia de Araraquara que apura o caso do "Rodeio das Gordas", acaba de abrir inquérito para investigar o... "Bundalelê". Prática que virou tradição durante os jogos Interunesp.
O que é isso? Várias moças de fino trato, sentadas lado a lado na arquibancada, levantam-se e, simultaneamente, viram-se para plateia e, surpresa: abaixam suas saias e mostram suas calcinhas. Peças que aparecem com ou sem mensagens escritas.
Autoridades veem a encenação como crime de ato obsceno. Os registros no YouTube servirão de prova.


Contra o tempo
Ricardo Teixeira, da CBF, vem a São Paulo, segunda, para uma conversa sobre Copa 2014 com Geraldo Alckmin.
O governador eleito, aliás, começou ontem a discussão sobre a formação do secretariado. José Henrique Reis Lobo está cotado para a pasta da Cultura.
Volta, vai
Luiz Gonzaga Belluzzo não terá alta terça. Por precaução, os médicos estenderam sua licença por mais duas semanas.

Leleô
Na tentativa de conhecer melhor o perfil do torcedor brasileiro, a FIFA chancelou iniciativa da Orimatla. Torcedores defenderão seus times, votando por telefone, na Copa do Mundo das Torcidas. Querem eleger a mais apaixonada do Brasil. A partir do resultado, a ideia será exportada para outros países.
Estranha, a vida
O Itaú divulgou ontem o melhor lucro de sua história. As ações na Bolsa, a exemplo do que aconteceu com as do Bradesco, caíram. Na falta de explicação, players do mercado atestam que foi por causa do alto custo operacional. A mesma razão dada na queda das ações do banco da Cidade de Deus.

Páreo
Na discussão sobre quem vai para o Ministério da Cultura, surgiu o nome de Marcos Vilaça. Sondado em outras oportunidades para assumir o cargo, o presidente da ABL declarou à coluna desconhecer a possibilidade.
Já no seu Twitter, outro nome aparece, José Abreu declara "nem cogitar" qualquer ilação neste sentido.


Dúvida cruel
Dilma deu ontem sua primeira entrevista coletiva com atuação muito melhor do que a registrada durante sua campanha. Engessamento de marqueteiros enterrado, a presidente eleita mostrou estilo determinado e objetivo. Totalmente diferente do implementado por Lula nesses últimos oito anos de governo.
Ao lado de Dilma, o presidente pregou que o governo de sua sucessora tem que ser a cara e semelhança da ex-ministra. Se assim é e será, por que Lula tanto falou durante a entrevista... Dela?

DNA no olhar
Enquanto se discute que ministro permanece ou não no governo Dilma, em termos de cliques a decisão foi rápida.
Sai Ricardo Stuckert, fotógrafo oficial de Lula nos dois mandatos e entra... Roberto Stuckert Filho para suceder o irmão.

Festa do interior
Dando start à ideia de reservar seu Spa Sete Voltas também para eventos, Myriam Abicair fechou acordo com Adriane Galisteu.
Acontece em Itatiba, no fim de semana do dia 27, a cerimônia de casamento da apresentadora que terá a presença de Ana Maria Braga, Hebe Camargo, Giulia Gam, entre outros. O Spa acaba de ser eleito o melhor do Brasil pelo Guia 4 Rodas e pela Revista Viagem e Turismo.


Na frente

Lewis Hamilton vai ciceronear um brasileiro em visita ao paddock da McLaren. O sortudo está sendo escolhido via desafio da Johnnie Walker no Facebook.
Rivais no campo, Felipão, do Palmeiras, e Tite, do Corinthians, participam do Footecon, fórum organizado por Parreira. Sábado e domingo,no Copacabana Palace.

David Trubek, da Universidade de Wisconsin-Madison, abre hoje seminário sobre Brics, na Direito GV.

Funk da CT, documentário sobre a invasão do baile funk carioca em SP, será lançado sexta no bar Sonique. Com direito a exposição de fotos.
Paulo von Poser autografa A Cidade e a Rosa no Museu da Casa Brasileira. Dia 11.

Celinha Luz e Gislaine Crunfli assinam os camarins e os camarotes dos shows de Paul McCartney, em SP.

No Palácio do Planalto, ontem, garçons e copeiras foram liberados para ouvir a futura dona da casa.

O PSDB se arrepende de não ter acreditado na eleição de Tião Bocalon, ao governo do Acre. O candidato chegou a pedir recursos ao partido. Sem retorno, perdeu no primeiro turno por causa de 4 mil votos.

EUGÊNIO BUCCI

Que a liberdade seja mesmo irrestrita
Eugênio Bucci 
O Estado de S.Paulo - 04/11/10


Na noite de domingo, após vencer as eleições, Dilma Rousseff, apresentou enfim a síntese de seu programa de governo. Num discurso escrito, sem margem para improvisos, listou suas metas e, acima delas, seus compromissos democráticos. No que afirma sobre a imprensa, o texto dificilmente poderia ter sido mais oportuno.

"Zelarei pela mais ampla e irrestrita liberdade de imprensa", proclamou Dilma Rousseff.

Aparentemente, a presidente eleita disse o óbvio: como chefe de Estado e de governo, só o que lhe compete, nessa matéria, é zelar pela liberdade plena. Nada de novo. Mas, aqui, o óbvio é especialmente bem-vindo. Na ressaca das violências verbais da campanha, essas poucas palavras adquirem um valor único. Lembremos que, neste ano eleitoral, o presidente da República, em pessoa, atacou a imprensa em várias ocasiões. No dia 20 de setembro, no Tocantins, ele chegou a impor condicionantes à liberdade: "A liberdade de imprensa não significa que você possa inventar coisas o dia inteiro. (...) Significa que você tem a liberdade de informar corretamente a opinião pública, para fazer críticas políticas, e não o que a gente assiste de vez em quando".

Segundo a hermenêutica lulista, a liberdade não é nem pode ser irrestrita. Teriam direito a ela apenas aqueles que informam "corretamente a opinião pública". O que nos traz um enigma: o que seria, então, "informar corretamente"? Ora, muito simples: "informar corretamente" é aquilo que o chefe de Estado acha que é "informar corretamente". A conclusão é inevitável: quem abraça esse raciocínio não acredita em liberdade irrestrita.

Dilma pensa diferente, ainda bem. Com extrema elegância, ela discorda de Lula. Ambos conheceram na pele os danos que o jornalismo irresponsável pode causar; poucas pessoas foram tão feridas por notícias mal apuradas, ilações maldosas, calúnias enviesadas, baixezas inomináveis em blogs, jornais e revistas. Mas cada um deles enxerga trilhas diferentes para a melhoria da imprensa.

Lula, conforme deixou claro em seus comícios, acredita que o chefe de Estado pode sair por aí passando pitos em editores, articulistas e repórteres. Ele semeou a polarização e a intolerância, como se imprensa livre fosse um privilégio de classe. Lula é um democrata, não há dúvidas; é um grande vulto da História do Brasil, que nos orgulha a todos. Mas, nesse capítulo, promoveu a discórdia e a confusão, desnecessariamente.

A boa notícia é que o primeiro discurso de Dilma aposta em outro rumo. Ela certamente não ignora as mazelas do jornalismo pátrio, mas parece crer na velha máxima segundo a qual os problemas da liberdade de imprensa só se resolvem com mais liberdade de imprensa. Vejamos outra passagem de seu pronunciamento: "Não nego a vocês que, por vezes, algumas das coisas difundidas me deixaram triste. Mas quem, como eu, lutou pela democracia e pelo direito de livre opinião arriscando a vida; quem, como eu e tantos outros que não estão mais entre nós, dedicamos toda a nossa juventude ao direito de expressão, nós somos naturalmente amantes da liberdade. (...) Prefiro o barulho da imprensa livre ao silêncio das ditaduras. As críticas do jornalismo livre ajudam ao País e são essenciais aos governos democráticos, apontando erros e trazendo o necessário contraditório."

Com essas declarações a presidente eleita deixa para trás as impropriedades que apareceram na primeira versão do seu programa de governo, registrada no Tribunal Superior Eleitoral no início de julho. O documento trazia uma avaliação negativa do comportamento dos órgãos de imprensa - o que era exatamente isso, uma impropriedade, uma vez que não faz parte das atribuições do Poder Executivo tomar medidas para melhorar o jornalismo. Aquela primeira versão do programa, segundo noticiou a Agência Estado, em reportagem Marcelo de Moraes (5/7), afirmava que "a maioria da população brasileira conta, como único veículo cultural e de informação, com as cadeias de rádio e de televisão, em geral, pouco afeitas à qualidade, ao pluralismo, ao debate democrático". Na sequência, prescrevia a adoção de "medidas que promovam a democratização da comunicação social no país, em particular aquelas voltadas para combater o monopólio dos meios eletrônicos de informação, cultura e entretenimento".

Além de descabidas, as opiniões da primeira versão do programa resultavam num enlouquecimento da ideologia: crer que os governos possam sanear e aprimorar reportagens e editoriais. É fato que as democracias adotam leis para inibir monopólios e oligopólios na radiodifusão, mas isso com a finalidade de assegurar concorrência comercial e diversidade de vozes, nunca para melhorar os conteúdos. Governos são incapazes de melhorar conteúdos de TV. Nesse campo, não é função do Poder Executivo ditar balizas de "qualidade" para a imprensa. A não ser que queiramos viver numa ditadura.

Para sorte da democracia brasileira, a primeira versão do programa de Dilma logo foi revogada e substituída. Vieram outras. Agora, o discurso da noite de domingo nos serve de síntese final. No que diz sobre a imprensa, está de bom tamanho. Finalmente. É claro que os erros dos jornais podem e devem ser discutidos pelos cidadãos, e mais ainda durante as campanhas políticas, mas não há sentido institucional na inclusão desse tópico na plataforma de um candidato a governante. À Presidência da República, como bem disse Dilma Rousseff, cabe apenas "zelar pela mais ampla e irrestrita liberdade de imprensa", o que não é pouco. O resto é com a sociedade e, em alguma medida, com o Poder Legislativo e o Poder Judiciário.

Que a nossa sociedade, a nossa legislação e a nossa Justiça, com o engajamento declarado da nova presidente da República, assegurem ao nosso povo uma liberdade de imprensa verdadeiramente irrestrita.

JORNALISTA, É PROFESSOR DA ECA-USP E DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO (LATO SENSU) DA ESPM

GOSTOSA

CELSO MING

QE2 

Celso Ming 
O Estado de S.Paulo - 04/11/2010 

É a segunda operação de afrouxamento monetário quantitativo.

Não se assuste com o palavrão aparentemente complicado. Não é nada mais do que aquilo que todo o mundo conhece pura e simplesmente como imprimir dinheiro. A sigla, fabricada e adotada em Wall Street, é essa que vai no título: QE2 (quantitative easing number 2).

A decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) presidido por Ben Bernanke, foi comunicada ontem em comunicado oficial, após a reunião ordinária do Comitê de Política Monetária (Fomc) que manteve os juros básicos (Fed funds) perto do zero por cento ao ano, onde estão encalhados desde dezembro de 2008.

Trata-se de nova operação de despejo extra de dinheiro no mercado por meio da recompra de títulos do Tesouro americano. Desta vez, serão US$ 600 bilhões, a serem escoados até junho de 2011, à velocidade de US$ 75 bilhões por mês. Foi uma dose maior do que a esperada (meio trilhão de dólares).

Juros em torno de zero por cento já equivalem à abundância natural de dinheiro vivo. A primeira operação (QE1) foi iniciada em dezembro de 2008 e correspondeu a um lançamento de US$ 1,7 trilhão, entre recompra de investimentos podres e de títulos do Tesouro.

Como nem os juros a zero nem a primeira rodada extra de emissões ajudaram a tirar a economia americana da estagnação e do desemprego, o Fed já vinha anunciando o e reforço. A ideia prevalecente é a de que é preciso ainda mais dinheiro para destravar o crédito, aumentar o consumo, empurrar a produção e reduzir o desemprego. Como as finanças públicas dos Estados Unidos estão desequilibradas, uma vez que o governo federal está gastando por ano fiscal US$ 1,3 trilhão a mais do que arrecada, vai sendo afastada a proposta de cortar impostos ou de despejar mais recursos do Tesouro para produzir o mesmo resultado.

Não dá para dizer que a primeira operação de afrouxamento quantitativo não serviu para nada, porque tudo poderia ter ficado pior sem ela. Mas são enormes as dúvidas de que esse tipo de heterodoxia monetária funcione porque está tentando mobilizar um consumidor altamente endividado, tomado pelo medo do desemprego e do futuro, pouco propenso a se atolar em novas dívidas.

Por outro lado, essa inundação monetária corre o risco de provocar duas distorções: novas bolhas financeiras que um dia explodem e produzem catástrofes como as da corrida imobiliária nos Estados Unidos em 2007; e de provocar hiperinflação. Por enquanto, não há nem o mais pálido sinal disso.

Essa operação produz um terrível efeito colateral: o de criar enorme liquidez nos mercados que, por sua vez, tendem a derrubar o valor do dólar em relação ao ouro e às outras moedas fortes. O enfraquecimento do dólar deve aumentar (em dólares) os preços das commodities e dos ativos de risco, como ações, imóveis e títulos, não porque estes tenham se valorizado nos mercados, mas porque a desvalorização da moeda americana exige mais dólares para comprar a mesma coisa.

Para o Brasil, esta é uma notícia ruim porque boa parte desse despejo de moeda estrangeira acabará por chuveirar também por aqui e ajudará a valorizar o real. É o que fará com que a formação de reservas e a imposição de pedágios (IOFs) na entrada de capitais pareçam inúteis operações enxuga-gelo.

MÍRIAM LEITÃO

Ajuste necessário 
Miriam Leitão 
O Globo - 04/11/2010

A hora é de arrumar a casa para o novo governo. É nessa tarefa que está concentrado o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, um dos coordenadores da transição. O foco é o Orçamento de 2011, que precisa ser ajustado para atender às novas demandas da presidente eleita, Dilma Rousseff, mas a tarefa mais árdua será desmontar armadilhas que inviabilizariam uma gestão mais austera das contas públicas.

O primeiro desafio é o reajuste do salário mínimo.

A armadilha seria os R$ 600 já em 2011, promessa do candidato da oposição José Serra. O governo tem uma política de recuperação do mínimo até 2023, que está em xeque porque não prevê aumento real em 2011. Há espaço no Orçamento para um reajuste “um pouquinho além da inflação”, segundo Bernardo, mas as centrais pressionam e a oposição não dará trégua na discussão no Congresso.

Ele lembra que o crescimento de 2010, na casa dos 7%, seria incorporado ao mínimo já no começo de 2012. A presidente eleita usou os mesmos argumentos na entrevista de ontem, mas o governo já admite mudar a regra para atender às centrais.

— Se a discussão ficar muito dura, pode haver a antecipação dessa revisão. Garantimos agora um reajuste real e teremos uma outra política no ano que vem. O que não pode é mudar agora e voltar no ano que vem com a mesma regra — afirma.

Outro desafio é a política de pessoal. O governo Lula foi pródigo na concessão de reajustes e na reestruturação das carreiras do funcionalismo, mas na visão de Paulo Bernardo esse processo foi concluído.

— Vejo que há uma expectativa de algumas lideranças sindicais de que se repita os reajustes que foram dados nos últimos anos, mas a reestruturação já foi feita. Hoje o mais razoável é manter o poder de compra dos salários com correção pela inflação — afirma.

O mesmo raciocínio vale para as demandas do Judiciário.

Um dos projetos que tramita no Congresso prevê reajuste de 56% para os servidores da Justiça.

— Não tem recursos no Orçamento para essa despesa.

Tem que dizer de onde vai sair o dinheiro — afirma, lembrando que este é um problema também para os governadores eleitos.

— Vai deflagrar um efeito cascata nos estados.

Uma das propostas que ganha força na equipe de transição é criar uma trava para as despesas correntes. O ministro Paulo Bernardo defende a medida, mas alerta que é preciso arrumar a casa primeiro para viabilizar um mecanismo desse tipo: — Uma meta para as despesas correntes será uma boa coisa. Receitas correntes crescendo abaixo do crescimento do PIB abrem espaço para os investimentos.

Mas colocar a tranca depois da porta arrombada não resolve.

‘Dream team’

No intervalo de uma daquelas reuniões intermináveis na Casa Civil, já durante a campanha eleitoral, um grupo de colaboradores muito próximos à então candidata do PT, Dilma Rousseff, resolveu escalar o que seria o “time dos sonhos” para tocar o projeto desenvolvimentista comandado por Dilma. Para quem não acredita em coincidências, não é por acaso que muitos desses nomes figuram agora na bolsa de apostas para ocupar cargos no primeiro escalão.

No time dos sonhos, o ministro da Fazenda seria Luciano Coutinho; Nelson Barbosa, atual secretário de Política Econômica do ministério, comandaria o Banco Central; Welber Barral, hoje secretário de Comércio Exterior, assumiria o Ministério do Desenvolvimento, e Roberto Azevedo — considerado pelo grupo o melhor negociador do Brasil e hoje na OMC — seria o ministro das Relações Exteriores.

Coordenando os trabalhos de governo, na chefia da Casa Civil, o “Dilmo” seria Paulo Bernardo.

Dever de casa

Embora em posição confortável no ranking de países mais citados como destino de Investimentos Diretos Estrangeiros (IDE) até 2012 — ocupa a terceira posição, segundo a Unctad — o Brasil precisa se preparar para uma disputa cada vez mais acirrada por esses recursos, alertam especialistas.

— Vemos a necessidade de uma ação mais agressiva para atrair investimento para o Brasil. Reduzir a burocracia e melhorar a infraestrutura são fatores fundamentais.

Precisam estar no centro das atenções do novo governo — afirma Luiz Afonso Lima, presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet).

Lima lembra que, no atual contexto global, os países emergentes estão recebendo uma fatia maior de investimentos estrangeiros, mas o volume total de capitais diminuiu, afetado pelas incertezas da economia mundial, acirrando a competição com os países avançados.

— Países que antes eram investidores no Brasil, fornecedores de capital, como França e Inglaterra, agora estão batendo na nossa porta e concorrendo com a gente na disputa por investimentos — observa.

MARÉ VERDE: Chegará a US$ 3 trilhões a base monetária da economia americana após o anúncio do Fed de injeção de mais US$ 600 bilhões em estímulos.

Nunca se viu tantos dólares em circulação na economia mundial. Com os juros americanos zerados, é mais combustível para a valorização do real.

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA

Abre a janela 
Renata Lo Prete 

Folha de S.Paulo - 04/11/2010

A "janela" para permitir que políticos com mandato troquem de legenda sem ferir a lei da fidelidade partidária, ficando assim liberados para disputar a próxima eleição, virou novo instrumento de barganha entre PT e PMDB na disputa pela presidência da Câmara.
Antes refratário à ideia, por considerar que o PMDB tende a ser mais favorecido pelo movimento de adesão à base governista, o PT agora acena com a possibilidade de abraçá-la, desde que a sigla do vice Michel Temer desista de reivindicar o comando da Mesa Diretora no primeiro biênio da legislatura. O PMDB tem especial interesse na "janela" para vitaminar projetos locais, voltados à eleição municipal de 2012.

Mix O movimento que tenta evitar a ida de Antonio Palocci para a Casa Civil do governo de Dilma Rousseff é liderado por petistas de dentro e de fora do Palácio do Planalto. Conta ainda com a participação secundária do PMDB. Não que o partido aliado almeje especificamente esse cargo. Trata-se apenas de "demarcar terreno".


Que tal? O ministro Franklin Martins (Comunicação Social) foi o mentor da ideia da entrevista "em dupla", concedida por Lula e Dilma na manhã de ontem.

A conferir Quem conhece a dinâmica interna do PMDB aposta que Temer não fará, individualmente, dois ministros. Traduzindo: ou Moreira Franco assume posto no primeiro escalão ou Wagner Rossi segue no comando da Agricultura.

Solistas Assim como o PMDB entende que a eventual permanência de Henrique Meirelles no futuro governo não deve ser computada como indicação do partido, o PSB considera que Ciro Gomes, se retornar à Esplanada, será na "cota pessoal" da presidente eleita.

Mergulho A reversão do placar no Espírito Santo, que no segundo turno deu vitória a José Serra, diminuiu as chances de o governador Paulo Hartung (PMDB) vir a ser ministro de Dilma.

Next A Corregedoria da Receita marcou a segunda rodada de depoimentos das funcionárias suspeitas do vazamento de dados sigilosos de pessoas ligadas ao PSDB. Addeilda dos Santos, Ana Maria Caroto e Antonia Neves Silva serão ouvidas entre os dias 16 e 19 em São Paulo.

Meio-termo A influência de José Serra sobre a montagem do secretariado de Geraldo Alckmin não será tão grande como imagina o círculo próximo do ex-governador. Nem tão pequena como gostariam os alckmistas.

Dá uma força aí Entre as pressões recebidas por Alckmin está a da Força Sindical, que gostaria de instalar na Assembleia o presidente do sindicato dos trabalhadores da construção civil, Antonio Ramalho (PSDB). Como ele é segundo suplente, dois deputados eleitos pela coligação tucana teriam de ser levados para o Executivo.

Eixo vermelho Gestada na campanha, a decisão de Alckmin de criar estrutura dedicada às regiões metropolitanas tornou-se irreversível diante do fraco desempenho eleitoral dos tucanos no ABC e no entorno de Campinas. Ele defende "nova agenda" executiva para conurbações próximas da capital.

Sessão pipoca Adriano Diogo (PT) exibiu ontem no plenário da Assembleia vídeo atribuído à campanha de Serra no qual a vitória de Dilma é relacionada ao apocalipse. Sob protestos da maioria, ele usou o expediente para discorrer sobre o "baixo nível" da disputa eleitoral.

Visita à Folha Paulo Maluf, deputado federal pelo PP, visitou ontem a Folha.

tiroteio

"Diz o folclore político que usar cocar dá azar. Imagine então passar o tempo todo, durante meses, ao lado de um índio transgênico."
DE FERNANDO FERRO (PE), líder da bancada petista na Câmara, fazendo graça a propósito do companheiro de chapa do tucano José Serra.

contraponto

Traço de audiência


Um tucano encontra com outro e pergunta:
-Você viu o Zé Dirceu no "Roda Viva"?
Diante da resposta negativa do interlocutor, o tucano dá detalhes sobre a entrevista com o deputado cassado e ex-ministro da Casa Civil de Lula, exibida um dia depois da vitória de Dilma Rousseff nas urnas:
-Um horror! Falou as maiores mentiras sobre o PSDB, e ficou tudo por isso mesmo...
Depois de respirar fundo, ele mesmo contemporiza:
-A sorte é que a TV Cultura ninguém vê mesmo...

GOSTOSA

CARLOS ALBERTO SARDENBERG

O Brasil diferente
CARLOS ALBERTO SARDENBERG
O GLOBO - 04/11/10



A taxa básica de juros, depois de sucessivos aumentos, é de 2% ao ano em Israel - e há quem a considere muito alta, comentou o presidente do Banco Central israelense, Stanley Fisher, em conversa com o colunista em Tel Aviv, no domingo passado.

Já a mesma taxa no Brasil está em 10,75% - e há quem a considere baixa ou insuficiente para colocar a inflação na meta de 4,5% ao ano. De fato, a maior parte dos analistas acha que os juros vão subir em 2011.

A inflação em Israel chegou a 2,4% nos 12 meses encerrados em outubro último, e a previsão é de que suba um pouco nos próximos trimestres.

Assim, a taxa real de juros (descontada a inflação) é praticamente zero.

Já no Brasil, a inflação roda na casa dos 5% e as previsões indicam que vai ficar mais ou menos por aí.

Desse modo, os juros reais estão em torno dos 5,5%, de longe os mais elevados do mundo para os países relevantes. Nestes, os juros reais estão zerados ou são negativos.

O Brasil está, como se diz, fora da curva.

Entretanto, quando se olha o jeitão da economia, o Brasil é muito parecido com os demais emergentes importantes. Praticamente todos vinham crescendo fortemente antes da crise global (2008/09).

O vendaval financeiro jogou quase todos em recessão, mas apenas por um breve período. Logo, os emergentes se recuperaram e voltaram a crescer expressivamente, na onda da China e com base em políticas de estímulo dos respectivos governos.

Finalmente, as taxas de juros caíram no momento da crise e voltaram a subir, moderadamente, quando se retomou o crescimento acelerado. A inflação deu uma subida no período mais recente, para todos. E, como no Brasil, a maior parte das moedas emergentes está valorizada.

Assim, quando se olha para a floresta, o Brasil é normal. Quando se olha para as árvores, aparece uma muito feia e fora de lugar, que é a taxa de juros. Não há dúvida: esse é o problema brasileiro.

O que fazer? Muita gente por aqui acha que os juros são elevados porque o Banco Central é idiota ou, pior, neoliberal.

A redução dos juros seria uma questão de ideologia ou de vontade política.

Não faz sentido. Nem é preciso demonstrar.

Basta pensar mais ou menos assim: se fosse tão fácil, alguém já teria feito, não é mesmo? Na verdade, os juros reais caíram fortemente no Brasil no processo de instalação e consolidação do Real. O problema é que depois desses anos todos de estabilização macroeconômica, a taxa de juros permanece muito maior do que no resto do mundo.

Há uma intensa discussão entre os economistas, dentro e fora do governo, sobre qual seria a taxa neutra - ou seja, qual o juro real necessário para colocar a inflação na meta, e ao mesmo tempo manter a economia em crescimento. O Banco Central tem dito que essa taxa caiu, muita gente fora do governo concorda, mas ninguém acha que poderia ser muito menor do que algo entre 5% e 6% ao ano.

No tempo da inflação, muita gente dizia que o Brasil era diferente e poderia viver perfeitamente sem estabilidade de preços. Não podia. Hoje, de novo, há quem diga que o país, diferentemente dos outros, pode seguir com esses juros.

Não pode. E isso fica cada vez mais evidente.

Tudo considerado, recomenda-se um outro exercício. Se a taxa de juros no Brasil é tão diferente, isso deve ser consequência de outras coisas que também são diferentes do que se passa nos demais emergentes.

Procurando um pouco, encontra-se a grande diferença: o setor público no CARLOS ALBERTO SARDENBERG Ataxa básica de juros, depois de sucessivos aumentos, é de 2% ao ano em Israel - e há quem a considere muito alta, comentou o presidente do Banco Central israelense, Stanley Fisher, em conversa com o colunista em Tel Aviv, no domingo passado.

Já a mesma taxa no Brasil está em 10,75% - e há quem a considere baixa ou insuficiente para colocar a inflação na meta de 4,5% ao ano. De fato, a maior parte dos analistas acha que os juros vão subir em 2011.

A inflação em Israel chegou a 2,4% nos 12 meses encerrados em outubro último, e a previsão é de que suba um pouco nos próximos trimestres.

Assim, a taxa real de juros (descontada a inflação) é praticamente zero.

Já no Brasil, a inflação roda na casa dos 5% e as previsões indicam que vai ficar mais ou menos por aí.

Desse modo, os juros reais estão em torno dos 5,5%, de longe os mais elevados do mundo para os países relevantes. Nestes, os juros reais estão zerados ou são negativos.

O Brasil está, como se diz, fora da curva.

Entretanto, quando se olha o jeitão da economia, o Brasil é muito parecido com os demais emergentes importantes. Praticamente todos vinham crescendo fortemente antes da crise global (2008/09).

O vendaval financeiro jogou quase todos em recessão, mas apenas por um breve período. Logo, os emergentes se recuperaram e voltaram a crescer expressivamente, na onda da China e com base em políticas de estímulo dos respectivos governos.

Finalmente, as taxas de juros caíram no momento da crise e voltaram a subir, moderadamente, quando se retomou o crescimento acelerado. A inflação deu uma subida no período mais recente, para todos. E, como no Brasil, a maior parte das moedas emergentes está valorizada.

Assim, quando se olha para a floresta, o Brasil é normal. Quando se olha para as árvores, aparece uma muito feia e fora de lugar, que é a taxa de juros. Não há dúvida: esse é o problema brasileiro.

O que fazer? Muita gente por aqui acha que os juros são elevados porque o Banco Central é idiota ou, pior, neoliberal.

A redução dos juros seria uma questão de ideologia ou de vontade política.

Não faz sentido. Nem é preciso demonstrar.

Basta pensar mais ou menos assim: se fosse tão fácil, alguém já teria feito, não é mesmo? Na verdade, os juros reais caíram fortemente no Brasil no processo de instalação e consolidação do Real. O problema é que depois desses anos todos de estabilização macroeconômica, a taxa de juros permanece muito maior do que no resto do mundo.

Há uma intensa discussão entre os economistas, dentro e fora do governo, sobre qual seria a taxa neutra - ou seja, qual o juro real necessário para colocar a inflação na meta, e ao mesmo tempo manter a economia em crescimento. O Banco Central tem dito que essa taxa caiu, muita gente fora Brasil é muito maior do que no resto do mundo emergente. Muito maior quer dizer o seguinte: o governo gasta mais em todos os quesitos e, para pagar isso tudo, cobra mais impostos e toma mais dinheiro emprestado.

Pode comparar: o governo brasileiro gasta 11,5% do Produto Interno Bruto (PIB) com pagamento de aposentadorias e pensões. O emergente que mais gasta depois do Brasil fica nos 6%. A dívida bruta do governo equivale a 60% do PIB, enquanto na média dos emergentes não passa dos 40%. O governo brasileiro (em todos os níveis) gasta todo ano cerca de 40% do PIB, enquanto os demais não passam dos 30%.

Alguns dizem que esses dados não são importantes. Os juros seriam elevados no Brasil porque os banqueiros exigem. Bobagem: os bancos já ganharam e estão ganhando dinheiro nos países em que a taxa básica de juros é zerada. Os bancos brasileiros não são diferentes dos demais.

Outra bobagem: dizer que a meta de inflação tem que ser mais alta para permitir juros menores. Basta olhar em torno: nos demais emergentes, a meta é menor que a nossa e a taxa de juros, idem.

Não tem quebra-galho, nem saída "política". Para ter juros iguais aos outros, é preciso ter gastos públicos, carga tributária e dívida iguais aos dos outros.

CARLOS ALBERTO SARDENBERG é jornalista.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Setor de energia importa da China para fugir de preço alto 
Maria Cristina Frias 

Folha de S.Paulo - 04/11/2010

Na busca por redução de custos para geração de energia, dada a queda do preço final do megawatt, cresce o número de empresas que estudam a importação de equipamentos da China.
Empresários do setor reclamam do preço cobrado por fabricantes nacionais.
A Itacá Energia, que gera e comercializa energia, além de fazer equipamentos de média tensão, tornou-se sócia de um empresário chinês e passou a importar máquinas daquele país.
"Sempre utilizei equipamentos nacionais, mas em setembro passado nacionalizei a primeira turbina hidráulica para geração de energia da China", conta Carlos Sampaio, sócio-diretor da Itacá Energia. "É a primeira turbina chinesa no Brasil", diz ele.
De olho no mercado crescente, o engenheiro já encomendou outras 22 turbinas do fabricante chinês ao qual se associou.
"Já são 37 as empresas que nos procuraram para cotar preços, interessadas em importar também", diz Sampaio. O valor das turbinas varia conforme o tamanho, de R$ 700 mil a R$ 12 milhões.
A empresa importou também um conjunto gerador para eólicas que, segundo Sampaio, também é inédito no mercado brasileiro.
"O custo da turbina chinesa é 170% menor que a nacional e o preço do conjunto eólico é 120% inferior ao similar nacional, sendo que a qualidade é muito superior. Isso viabiliza empreendimentos, mesmo com os preços dos últimos leilões", afirma.

Auditores da Receita protestam hoje contra norma de sigilo fiscal

Hoje, os auditores fiscais da Receita Federal não vão acessar os sistemas informatizados com os quais trabalham como forma de protesto contra a medida provisória 507, editada no mês passado.
Um dia sem acesso ao sistema significa perda de R$ 92 milhões para a União, segundo o Sindifisco Nacional (sindicato dos auditores).
A norma institui sanções para combater a violação de sigilo fiscal, mas compromete o exercício da profissão e o combate à sonegação, segundo a entidade.
"Temos de reprimir somente o vazamento. É inerente ao cargo de auditor acessar os dados para investigar e ele não deve ser punido por isso", diz Kurt Krause, diretor da entidade.
Em 2009, os autos de infração emitidos pelo órgão totalizaram R$ 35 bilhões, dos quais 70% foram pagos.

PÁREO DO RODOANEL
Devem participar do leilão de concessão dos trechos sul e leste do Rodoanel, que será realizado hoje pelo governo paulista, as empresas OHL e Bertin de um lado, e a OAS com a Odebrecht de outro.
Do grupo formado com a OAS, a CCR pretendia participar, mas pode desistir.
Nenhuma das empresas confirma a participação.
A construção do trecho leste tem investimento de R$ 4 bilhões. Ao longo dos 35 anos de concessão os investimentos somarão R$ 5 bilhões em ambos os trechos.
A Artesp (agência dos transportes de SP) também não confirma os nomes das empresas. Informa apenas que a sessão pública para a abertura dos envelopes com as propostas dos licitantes ocorrerá hoje.
A menor tarifa de pedágio será o critério adotado para a seleção do vencedor.
Serão considerados os tetos de R$ 6 para o trecho sul e de R$ 4,50 para o leste.

Na calculadora Em dez anos de operação, a Bolsa Eletrônica de Compras da Secretaria da Fazenda de São Paulo movimentou R$ 6,9 bilhões em compras realizadas a preços médios 25% menores. A economia é de R$ 2,06 bilhões aos cofres públicos.

Nomeado Robertson Emerenciano, sócio do escritório Emerenciano, Baggio e Associados assumiu em outubro a presidência do Lawrope, associação que atua em 19 países. Ele fica à frente da instituição pelos próximos dois anos.

Missão... O Brasil recebe este mês a segunda Missão Comercial da Irlanda, conduzida pela Enterprise Ireland, agência governamental de fomento do país. O grupo, que reúne empresas de diversos setores, terá reuniões em São Paulo e no Rio de Janeiro.

...à vista No Rio, o foco será a busca por parcerias para a Olimpíada de 2016 e há expectativa de que contratos sejam fechados. Acompanha a missão o ministro para Empreendimentos, Comércio e Inovação da Irlanda, Batt O'Keefe.

PÃOZINHO MAIS CARO
O preço do pão francês e dos demais panificados subiu 2,55% em setembro, segundo o IPV, da Fecomercio SP. Foi a 11ª alta consecutiva.
O encarecimento do pãozinho se deve, principalmente, ao fato de o Brasil não produzir trigo suficiente para suprir a demanda interna, tendo de importá-lo, segundo Julia Ximenes, assessora econômica da Fecomercio SP.
"Além disso, a Rússia, principal exportador mundial de trigo, está passando por uma seca, o que fez o país suspender as vendas."

SELO SEGURO
A Hanesbrands, fabricante da cueca Zorba, e a SBU (Sociedade Brasileira de Urologia) se unem em uma campanha nacional pró-saúde masculina.
A partir deste mês, a embalagem da cueca comercializada no país terá um selo social que chamará a atenção para o assunto.
"No início, 5 milhões de unidades terão o selo. Como cada embalagem é vista por três pessoas em média, a expectativa é que a campanha atinja 15 milhões de pessoas", diz Osvaldo Cordon, presidente da Hanesbrands no Brasil.
A empresa não espera retorno financeiro com a campanha. "É uma ação de responsabilidade social da marca", diz ele.
A meta da SBU é conscientizar o homem da importância da prevenção.
"Está aumentando o número de homens que vão ao consultório na faixa dos 30, 35 anos, porém, na maioria das vezes, recomendados pela mulher. Ainda é difícil conscientizá-lo", diz o médico João Hipólito Pous, secretário-geral da organização.

INFLAÇÃO

2,55%
foi a alta do preço do pão francês e dos demais panificados em setembro, segundo o IPV

4,53%
foi o aumento dos preços dos panificados vendidos em supermercados em setembro, a quinta elevação consecutiva, segundo a Fecomercio SP

PUTEIRO

ROBERTO MACEDO

Dilma Dochefe
Roberto Macedo 
O Estado de S.Paulo - 04/11/10



Os jornais pós-eleição vieram com chamadas e manchetes que cairiam bem em discursos do presidente Lula quando recorre a seu próprio método de análise histórica, o Nanp ("nunca antes neste país"), que não tem a preocupação de provar o que foi dito.

Nos jornais, sempre em busca do insólito, o Nanp pós-eleitoral centrou-se no período da República e nas eleições diretas para a sua Presidência. Assim, ficou mais fácil para os leitores, em particular os menos jovens, perceberem por si mesmos a veracidade dos textos, sustentada também pela confiança nas fontes de informação.

Nessa linha, Dilma foi apontada como a primeira mulher e praticante de guerrilhas eleita para o cargo, e também ficou na ponta ao chegar a ele com apoio de maior número de partidos, dez. E, ainda, como objeto da primeira vez em 65 anos que um presidente fez seu sucessor pelo voto direto. Também poderia ser dito que foi a primeira a se candidatar e a se eleger com um penteado criado por estilista do ramo, substituindo o que lhe dava ares de governanta, mas não de governante.

Sucessão lembra herança, no caso, em circunstâncias também peculiares. Recorrendo à metodologia lulista, arrisco-me a dizer que Nanp um presidente se empenhou tanto em eleger um sucessor. Com isso, Dilma também foi a primeira em empenho do antecessor.

Para tratar de outra peculiaridade sucessória, usarei lição recebida numa aula de Direito, cujas noções costumam integrar o currículo de cursos de Economia. Foi sobre fideicomisso, um instrumento jurídico pelo qual uma pessoa, o fideicomitente, deixa um legado a outra, o fiduciário, para que este, a certo tempo ou sob certa condição, o repasse ao herdeiro final, o fideicomissário.

Era uma daquelas aulas que pareciam valer apenas como curiosidade, mas ficou na memória. Com isso, vi na candidatura e na eleição de Dilma um quê de fideicomisso, com Lula no papel de fideicomitente. Aparentemente ela herdou o mandato, mas tudo indica que não poderá dispor dele conforme sua própria conveniência. Ademais, poderá privar-se de outra parte do legado, a possibilidade de reeleição. Assim, é como se ficasse na condição de fiduciária, e com o ouvido aquecido por novas ponderações e exigências do fideicomitente.

Hoje, o mais provável fideicomissário de uma candidatura em 2014 é o próprio Lula. Vi essa possibilidade atribuída à própria Dilma, em conversa com aliados no Rio de Janeiro (Folha de S.Paulo, 26/10, pág. 4). A mesma notícia referiu-se ao desejo de Sérgio Cabral, governador reeleito do Estado, de ser vice numa chapa encabeçada por Lula. Menciona também conversa entre Cabral e o marqueteiro de Dilma, João Santana, na qual o governador, ao defender um maior protagonismo de Lula na propaganda eleitoral, saiu-se com esta: "Dilma é Rousseff, mas também é "do chefe"." O trocadilho tem muito de verdade, e o título acima apenas o sintetiza.

Voltando ao fideicomisso e, de um modo geral, à influência de Lula sobre Dilma, este é o tema apontado por vários analistas como o mais interessante e importante a acompanhar, tanto na definição da equipe de governo como no exercício dele. Em paralelo, há outro, o de como Dilma se equilibrará entre o petismo e o lulismo, pois foi eleita por este, mas como presidente estará agora sob mais forte pressão daquele, além de seu passado denotar um compromisso maior com o ideário petista mais radical.

Na área econômica, no governo Lula esse ideário foi marginalizado pela combinação de pragmatismo com a percepção de que rupturas de políticas públicas envolvem riscos altíssimos nesse caso. Na avaliação deles é indispensável ponderar a tal "reação do mercado", muitíssimo mais complexa, ágil e difícil de lidar e de influenciar que todos os aspectos envolvidos na negociação com a base de sustentação política do governo.

Diante desse quadro, e também por manter distância de questões como câmbio e juros, conforme transparece de seus próprios discursos, Lula optou por não fazer marolas nem marolinhas, deixando o comando para Meirelles e Palocci, e deste médico para o economista Mantega, numa passagem que marcou o fim do que havia de disciplina fiscal no governo, mas sem invadir o espaço do Banco Central. Dilma também é economista, porém mais voluntariosa e de currículo com toques de ousadia noutras artes.

Mas deve também afinar como outros que ocuparam a cadeira presidencial. E, no caso, também pela influência de Lula e de sua experiência quando chegou ao governo, quando abandonou propósitos petistas de rupturas. Na economia, ele sabe muito bem que mesmo inovações menos ousadas precisam vir com muito cuidado. Sintomáticas dessa disposição são as notícias de que teria recomendado a manutenção da dupla Meirelles-Mantega.

Ou seja, na economia o mais provável é que no horizonte imediato venha mais do mesmo, o que não quer dizer que os problemas da área sejam poucos e com solução encaminhada. Ao contrário, permanecem muitos e há novos. A economia está com crescimento travado por eles e não se pode iludir com os 7% ou mais de aumento do PIB neste ano, pois no biênio 2009-2010 a média ficaria em 3,5%.

Há os tradicionais e enormes juros básicos e spreads. Na área fiscal, Dilma herdará, em parte de si mesma, uma situação lamentável, em que pontificam a carga tributária elevada, um orçamento fiscal em que investimentos são sacrificados, e há agora um nada democrático orçamento paralelo de financiamentos construído mediante forte expansão da dívida bruta. Na área monetária, a inflação volta a preocupar e a expectativa é que seja enfrentada com juros ainda mais altos, já que o atual governo abomina a moderação fiscal e Dilma até aqui não deu sinais concretos de que agirá em contrário.

ECONOMISTA (UFMG, USP E HARVARD), PROFESSOR ASSOCIADO À FAAP, É VICE-PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DE SÃO PAULO)

ANCELMO GÓIS

Caneta de Dilma 
Ancelmo Góis 
O Globo - 04/11/2010 

Lula, na coletiva de ontem, disse que já havia decidido consultar seu sucessor, fosse quem fosse, sobre o substituto do ministro Eros Grau no STF.

Mas um amigo do peito conta que o presidente bateu o martelo: não vai se envolver e deve deixar a nomeação para o próximo governo. Um nome bem cotado, diz o mesmo amigo, é o de um xará de Lula — o advogado-geral da União, Luís Inácio Lucena Adams.

Leva o Nego, Dilma

O destino de Nego, cachorro da residência oficial da Casa Civil, preocupa ONGs de defesa dos animais. É que o totó já foi largado uma vez, com a saída de Zé Dirceu da pasta, e se apaixonou por sua sucessora, Dilma.

Agora, com a eleição da petista, Nego pode ficar só de novo.

Segue...

A esperança é que Dilma, que sempre passeava com Nego, um labrador, no Lago Sul, leve o cão para o Palácio da Alvorada: — É de praxe presidentes e reis apresentarem seus animais de estimação — apela Sheila Moura, da ONG Fala Bicho.

A fé de Cabral

Sérgio Cabral e a mulher, Adriana, têm frequentado o Lar de Frei Luiz, a tradicional casa espírita de caridade, no Rio.

Ontem, o casal estava lá por volta de 20h. O governador faz tratamento médico e espiritual.

Hora do recreio

Dilma disse ontem que, entre suas prioridades, não está a educação porque, nesta área, “está tudo bem”.

Ah, bom!

Versinho para Dilma

Nelson Sargento, o grande compositor mangueirense, fez um anagrama (aquele tipo de poema com as iniciais de uma pessoa) para Dilma. Veja só: “Dinâmica/Inteligente/Leal/Magnânima/Altruísta.” Não é um fofo?

UM GUARDADOR de carros que faz ponto na Rua Barão da Torre, em Ipanema, salpicou de verde a selva de concreto da grande cidade.

Sozinho, o brasileirinho plantou, veja só, pés de tangerina, acerola, manga e jaca nos canteiros das calçadas. Cuidou com carinho até florescer. Agora, as frutas são uma atração para a vizinhança.

Ainda aumentou a sombra para quem passa.

Uma beleza

Romário em campo

Romário, agora deputado, voltará aos campos. Jogará pelo Brasil contra seleções da Holanda, da Argentina e da Inglaterra no Football Festival da Soccerex, no Rio.

O time de veteranos, com Zeti, Cafu e Denílson, será dirigido por Carlos Alberto Torr

País do petróleo

Em agosto, pela primeira vez desde 2007, a produção de óleo e gás pelas petroleiras miúdas, as chamadas independentes, ultrapassou a marca de 2 mil barris por dia.

Olavo verde

Olavo Monteiro de Carvalho, presidente do conselho administrativo do grupo Monteiro Aranha, criou uma empresa de soluções ambientais, a Geociclo.

Vai fabricar fertilizantes orgânicos a partir de resíduos de grandes produtores agrícolas, como esterco de galinha e bagaço de cana.

Perdeu, pirata

Policiais civis apreenderam ontem no Camelódromo da Rua Uruguaiana, no Rio, 400 DVDs piratas de “Tropa de elite 2”.

A ação foi assessorada pelo escritório Dannemann Siemsen, contratado pela Zazen, produtora do filme de José Padilha.

‘Down no society’

O restaurante Alessandro & Frederico do Fashion Mall, shopping de bacanas do Rio, teve, só em três meses, R$ 48 mil devolvidos em cheques sem fundo.

Av. Júlio Coutinho

A nova grande via que Eduardo Paes vai abrir na região do Porto do Rio vai se chamar Avenida Prefeito Júlio Coutinho.

Tesouros de Marcito

A Livraria Rio Antigo promove sábado um leilão da segunda parte do acer vo de Márcio Moreira Alves, o saudoso coleguinha e político.

A morte do Rio

O russo Evgeny Brahkman, 3ocolocado no II Concurso Internacional BNDES de Piano, levará uma lembrança triste do Rio.

Caminhava para a Escola de Música da UFRJ quando teve a bolsa arrancada por pivetes.

Dentro, só partituras em russo.

Volta, Quitéria

Mestre Zuenir Ventura aumenta o cordão de torcedores do Império Serrano inconformados com a saída de Quitéria Chagas do posto de rainha de bateria da escola de Madureira: — É um golpe de Estado que lesa a pátria imperiana.

Precisamos mobilizar nossa nação contra esse golpe!

A SÉRIE DE TV “Clandestinos”, que vai ao ar hoje na Globo, apresentará ao Brasil a beleza morena de Adelaide de Castro, 20 anos, revelação mineira que viverá na telinha uma história semelhante à sua — de uma jovem que veio do interior do Brasil em busca do sonho de ser artista

O MAESTRO EDINO Krieger cumprimenta Antonio Menezes, nosso grande violoncelista, na noite de autógrafos de sua biografia, “Arquitetura da emoção”, de Luciana Medeiros e João Luiz Sampaio, na Travessa

PONTO FINAL

No mais De um observador ferino: — Para explorar o pré-sal, Dilma prefere o modelo de partilha. Mas, na negociação com o PMDB, o sistema vai ser de concessão mesmo.

MAURÍCIO TUFFANI

PEC do diploma e desonestidade científica
MAURÍCIO TUFFANI
FOLHA DE SÃO PAULO - 04/11/10



Apesar de não ser documento científico, deve-se exigir um mínimo de cientificidade de proposta legislativa, como a PEC do diploma do jornalismo

O que têm em comum o livro "O Ambientalista Cético", do estatístico dinamarquês Bjorn Lomborg, e o relatório da proposta de emenda constitucional (PEC) da Câmara dos Deputados que visa restaurar a exigência de formação superior específica em jornalismo para essa profissão no Brasil? Resposta: a desonestidade científica.
Para refutar a tese do aquecimento global, Lomborg questionou-a com estudos de pesquisadores. Mas, em vez de apresentá-la com fontes de igual status, recorreu a dados da mídia. Em 2003, o Comitê Dinamarquês sobre Desonestidade Científica enquadrou essa unilateralidade em seus "critérios objetivos de desonestidade científica".
Esse mesmo tipo de unilateralidade está no relatório aprovado em julho na comissão especial da Câmara sobre a PEC do diploma.
No texto do relator, deputado Hugo Leal (PSC-RJ), figuram como favoráveis à obrigatoriedade professores de jornalismo, advogados e sindicalistas; como contrários, somente representantes empresariais da imprensa.
Em outras palavras, o relatório contempla posições divergentes, mas dá ao saber acadêmico o papel de fiel da balança em favor da obrigatoriedade, algo como uma razão científica contra os patrões.
Porém, isso não passa de uma distorção enganadora.
Na verdade, nesse documento, as sínteses dos depoimentos de professores omitem o ponto de vista acadêmico contrário à obrigatoriedade, que não é minoritário fora do país. Assim, o texto desconsidera obras de pesquisadores de jornalismo respeitados internacionalmente, como Daniel Cornu, diretor do Centro Franco-Suíço de Formação de Jornalistas, em Genebra.
É o caso também de Claude-Jean Bertrand, da Universidade de Paris 2, além de Bill Kovach, da Universidade do Missouri, e Tom Rosenstiel, diretor do Programa para Excelência do Jornalismo, em Washington.
Sem falar em brasileiros, como Bernardo Kucinski, da USP, e Ivana Bentes, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Em contraposição a longos trechos com exposições de advogados pró-diploma, o relatório apenas menciona, sem apresentar, pareceres contrários de Sidney Sanches e Célio Borja, ex-ministros do STF. E deixa de considerar outros juristas renomados, não só brasileiros, como Geraldo Ataliba e Eros Grau, mas também estrangeiros, como Jean Rivero e Hughes Moutouh.
Embora um relatório parlamentar não seja um documento científico, exige-se um mínimo de cientificidade de uma proposta legislativa.
Ainda mais por pretender restaurar uma exigência já condenada pelo STF e que só vigora em poucos países, entre eles África do Sul, Arábia Saudita, Colômbia, Congo, Costa do Marfim, Croácia, Equador, Honduras, Indonésia, Síria, Tunísia, Turquia e Ucrânia.
Não está em pauta aqui minha posição pessoal contra a obrigatoriedade do diploma, que desvinculo da função que exerço. As objeções deste artigo podem ser feitas até mesmo por partidários não casuístas dessa exigência, fiéis ao preceito jornalístico, científico e ético de não obstar o confronto de posições divergentes.
Além da PEC da Câmara dos Deputados, também já seguiu para votação em plenário outra, no Senado, de igual teor, apresentada com um relatório mais limitado ainda nos aspectos ora destacados.
Com o devido respeito aos parlamentares que atuaram nas duas propostas, aos quais seria temerário atribuir desonestidade, elas não estão em condições de serem votadas, muito menos de contestar uma decisão do STF.
MAURÍCIO TUFFANI, 53, é jornalista, editor do blog Laudas Críticas e assessor de comunicação e imprensa da Unesp.

GOSTOSA

VERISSIMO

Mulher na direção
VERISSIMO
O GLOBO - 04/11/10

O preconceito masculino contra as mulheres tem uma longa história, que vai desde a atribuição da origem de todos os males do mundo ao mitológico vaso (leia-se o útero) de Pandora até a última anedota sobre algum incompreensível (para os homens) hábito feminino. O preconceito tem um lado obscuro e doentio – a misoginia é um traço comum a toda a tradição judaico-cristã, e não vamos nem falar nos extremos de ambiguidade que a mulher provoca na cultura islâmica – mas manifesta-se também nessa persistente perplexidade que a mulher causa no homem, e que já é mais folclórica do que qualquer outra coisa. De
acordo com o folclore, homem jamais entenderá a organização de uma bolsa feminina. Homem jamais se acostumará com a peculiar noção de tempo e pontualidade da mulher, e menos ainda com a sua lógica. E homem, decididamente, jamais confiará em mulher na direção.
Se você é homem, pense na seguinte situação. Você está num táxi e um carro na sua frente acaba de realizar uma manobra, digamos, não ortodoxa. O motorista do táxi buzina, reclama e, na
ultrapassagem, vê que quem está dirigindo o carro infrator é uma mulher. Comenta:
– Só podia ser. Mulher na direção...
Você faz o quê? Diz ao motorista que ele é está sendo antiquado e injusto, que já há quase tantas mulheres quanto homens dirigindo carros, inclusive táxis, e que a maioria não faz loucuras, ou pelo menos mais loucuras do que
homens, na direção? Ou sorri, sacode a cabeça e concorda com o motorista?
Confesse: você concorda com o motorista. Você é um cara esclarecido, livre de qualquer forma de intolerância, sem resquícios obscurantistas, mas concorda com o motorista. Ele e você pertencem à mesma irmandade, a do pomo de Adão e do xixi em pé, e nada, nem mesmo o bom senso, os fará abandonar suas convicções atávicas. Mulher na direção está invadindo um território que não é dela. É uma ameaça aos seus domínios.
É verdade que, depois de domingo, nosso hipotético motorista talvez mudasse seu comentário irado. Depois de dizer “Viu só?
Mulher na direção...”, acrescentaria: “Sem querer falar em política, claro”.
NÚMEROS
Por falar em mitos, tem um que está se criando sem justificativa. Não foi a votação da Dilma no Norte e no Nordeste que lhe deu a vitória. Mesmo sem a vantagem que teve na região ela venceria o Serra com os votos que recebeu nas outras regiões do país. Só seria mais apertado. A ideia de um Brasil atrasado derrotando o Brasil mais politizado e sofisticado não se sustenta nos números.

CLÁUDIO HUMBERTO

“Um ex-presidente da República não indica, não veta”
PRESIDENTE LULA AFIRMANDO QUE NÃO VAI INTERFERIR NA FORMAÇÃO DO GOVERNO DILMA

LULA PODE ASSUMIR A SECRETARIA-GERAL DA UNASUL 
Após deixar o governo ou mesmo antes disso, o presidente Lula poderá assumir o cargo de secretário-geral da Unasul, a União de Nações Sul-Americanas, em substituição ao ex-presidente argentino Néstor Kirchner, recém-falecido, que havia sido eleito em maio deste ano. Teoricamente, a sede da Unasul fica em Quito, capital do Equador, mas na prática Lula pode transferi-la para Brasília ou São Paulo.

AREIA DEMAIS 
Lula sonhava com a secretaria-geral da Organizações das Nações Unidas (ONU), mas era areia demais para o seu caminhãozinho.

TRATADO CONTINENTAL 
A Unasul foi criada por tratado, em maio de 2008, em Brasília, durante a III Cúpula de Chefes de Estado dos doze países da América do Sul.

MANDATO RENOVÁVEL 
A ex-presidente do Chile Michelle Brachelet foi a primeira secretária-geral da Unasul. O mandato é de dois anos, renovável uma vez.

O DESTINO 
A presidente eleita Dilma Rousseff se recusou ontem a revelar seu refúgio à beira-mar. Mas ela está na região de Ilhéus (BA).

PT HOSTILIZA PIMENTEL E O TRATA COMO ‘TRAIDOR’ 
Além de perder a eleição para o Senado, o ex-prefeito de BH Fernando Pimentel perdeu o respeito do presidente Lula e do PT. A presença dele no palco, tentando se juntar aos demais “papagaios de pirata, durante discurso de Dilma Rousseff, domingo à noite, foi rechaçada pelos próprios assessores da presidenta eleita sob os gritos de “traidor”. Dilma viu tudo e nada fez para desautorizar a hostilidade.

PEGOU MAL 
Na campanha para o Senado, Fernando Pimentel criou o comitê “Pimentécio”, associando-se ao ex-governador tucano Aécio Neves.

‘DOS SONHOS’ 
O comitê “Pimentécio” batizou de “chapa dos sonhos” Fernando Pimentel e Aécio para o Senado e Anastasia para o governo mineiro.

PESADELO 
A “traição” de Fernando Pimentel, segundo os petistas, incluindo Lula, derrotou Hélio Costa e o vice Patrus Ananias para o governo mineiro.

CARGO É DESTINO 
Ao ser preterido por Lula para o Ministério da Justiça, José Eduardo Cardozo (PT-SP), entristecido, anunciou que deixaria a política. Mas Dilma o “resgatou” para trabalhar ao lado dela, na campanha. Agora, o deputado que é pianista nas horas vagas pode virar ministro da Justiça.

NOME DE PESO 
O embaixador Carlos Alfredo Lazary Teixeira, o “Cafredo”, ex-assessor internacional de Dilma Rousseff na Casa Civil e diplomata admirado no Itamaraty, terá função de relevo no novo governo. Talvez chanceler.

‘COMPAGNI’ 
Como a coluna noticiou em junho, Lula dará “asilo humanitário” ao terrorista Cesare Battisti, que executava suas vítimas sem o menor resquício de humanidade. Vai sobrar para Dilma, quando visitar a Itália. 

MINISTRO MOKA 
O senador eleito Waldemir Moka (PMDB-MS), presidente da Comissão de Orçamento, tem sido mencionado para o Ministério da Agricultura, hoje controlado pelo seu partido. Ele é ligado ao agronegócio.

SEM DISPUTA 
No DF, o delegado Miguel Lucena, amigo próximo do governador eleito Agnelo Queiroz (PT), nega que esteja disputando a direção da Policia Civil. Leal, antes mesmo das prévias do PT ele já estava com Agnelo.

O PROFETA 
Por mais de duas vezes, na saborosa coluna no Globo, o excelente escritor João Ubaldo Ribeiro vaticinou que, no máximo em dois anos, Lula e Dilma estarão brigados, e enfatizou: “quem viver, verá.”

FUI! 
O Brasil tem oficialmente menos 45 brasileiros desde ontem: eles optaram ser cidadãos de outros países, como Estados Unidos, Áustria e Holanda. 

POR POUCO... 
Adivinhos da América Latina discutem no Chile a profecia maia (dos pré-colombianos, não do ex-prefeito do Rio) de que o mundo acabaria em 21 de dezembro de 2010. Se não acabou em 3 de outubro...

HORA DO LANCHE 
Nos EUA, Obama engasgou com os radicais do “Tea party”. No Brasil, Dilma terá de engolir o “Bread Party”, ou “partido do pãozinho”. 

PODER SEM PUDOR
BIÓGRAFO DE CAXIAS 
Vice de Marco Maciel, quando governador de Pernambuco, Barreto Guimarães era muito escalado para substituir o chefe nas solenidades de comemoração de datas históricas. Num 25 de agosto, Dia do Soldado, foi encarregado de fazer a saudação. Guimarães exagerou. Traçou um perfil começando pelo Caxias menino. Quarenta minutos depois, e quando a sobremesa já tinha sido servida, foi interrompido por uma salva de palmas sinalizando que devia terminar logo. Mas ele não entendeu o recado. Bebeu água, respirou fundo e prosseguiu:
–Então, senhores, era Luiz Alves de Lima e Silva, alferes...
Poucos esperaram para saber quando o patrono do Exército brasileiro chegou a Duque.

BLOCO DOS SUJOS

QUINTA NOS JORNAIS

Globo: Obama se diz humilhado após derrota histórica

Folha: EUA inundam mercado com US$ 600 bilhões

Estadão: Lula diz que todo poder é de Dilma: 'Rei morto, rei posto'

JB: Lula pede que oposição não se vingue

Correio: Dilma já fala em CPMF e aliados buscam receita

Valor: Derrota eleitoral de Obama ameaça retomada global

Estado de Minas: Debate sobre CPMF e mínimo de R$ 600 abre a era Dilma

Jornal do Commercio: Dilma admite criação de um novo imposto

Zero Hora: Dilma avalia aumento maior para mínimo