domingo, junho 27, 2010

JOSÉ (MACACO) SIMÃO

Maradona é Nelson Ned!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 27/06/10


Eu sei a tática para jogar contra os EUA. É só gritar "Olha o Bin Laden!". Saem todos correndo


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! Direto da Cópula do Mundo!
E tá decidido: hoje o Maradona entra no lugar da bola. Jaburu Obesa! E a África do Sul está de parabéns. Conseguiram construir um estádio em que cabe o ego do Maradona!
E eu já instalei uma vuvuzela no meu celular. Aliás, já saiu a Mulher Vuvuzela: quando ela vai para a cama com o marido, o prédio inteiro fica sabendo! E qual a origem da vuvuzela? O Galvão transou com uma boneca inflável, e nasceu a vuvuzela.
E qual a origem etimológica da vuvuzela? Vuzela, em africano, quer dizer chato pra cacete. VUVUzela quer dizer chato pra cacete duas vezes. Rarará. Quem foi o corno que inventou essa corneta?!
E os EUA não têm problema no gol. Têm problema no GOLFO! E eu sei qual é a tática para jogar com os EUA. É só gritar: "Olha o Bin Laden!". Saem todos correndo. Ô! Ô! Ô! Osama é um terror!
E eu disse que jogo feio é o Tevez em câmera lenta. Um leitor discorda: jogo feio é o Tevez em câmera congelada e com a língua pra fora! Aquilo é o mapa do inferno.
E o Maradona é o Nelson Ned da Argentina! Então a Copa já tá com dois anões: Dunga e Maradona! Rarará! E o Maradona: A COCA DO MUNDO É NOOOOSSA! Com o Maradona não há quem poossa! E o México, que joga com um Guardado e um Torrado?!
E a Selexotan do Dunga? "Brasil reconhece jogo ruim contra Portugal e promete eliminar erros." Elimina o Dunga. Troca de anão. Muda pro Atchim. ATCHIM! ESPIRRA, DUNGA! Rarará!
E o Kaká, o Elano e o Robinho fazem muita falta, o Felipe Mello só faz falta e o Júlio Baptista não faz falta nenhuma! Tem uma amiga minha que tá louca pra dar pro Elano.
E a frase escrita no busão do Uruguai: "Gaúcho é a mãe, TCHÊ!". E a Jabulani? Já temos a Jaburu, que é o Maradona. A Jabiraca, que é a bola sogra, só serve pra dar unha inflamada e calo no dedinho do pé. A Jabudilma: só faz o que o dono manda. E, em homenagem ao Serra, lançaram a JABUTI: não sai do lugar. Rarará!
E os coreanos? Coreano come cachorro. Cachorro-quente na Coreia senta, pula e dá a pata! Rarará. Nóis sofre, mas nóis goza. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

BRASIL S/A

Maior que o G-20
Antonio Machado

CORREIO BRAZILIENSE - 26/06/10

Problemas do crescimento desafiam chefes de governos do Grupo dos 20 a romper com a mesmice


A diferença entre os políticos padrões e os líderes ou estadistas é que os primeiros nunca se arriscam e os segundos farão o que for preciso sem temer o julgamento eleitoral. Os problemas da economia mundial colocam a bancada dos chefes de governos do Grupo dos 20 (G-20) no nível da mesmice. E não só pelo vulto da dívida soberana e dos deficits fiscais legados pela grande crise do crédito.

Que não tivesse existido o subprime das hipotecas nos EUA nem as contradições fiscais da união monetária na Europa do euro e, ainda assim, questões de enorme amplitude continuariam a pedir respostas inadiáveis — e as indefinições, a gerar apreensões de toda ordem.

Nos próximos 40 anos, por exemplo, projeta-se a frota de carros, no mundo, em 3 bilhões de veículos. Só a frota da China, em 2050, segundo tais projeções citadas pelo financista e visionário Vinod Khosla, físico indiano radicado nos EUA, equivaleria à que existe hoje no mundo. Na Índia, seria 50 vezes maior que sua frota atual.

Números com tamanha grandeza sugerem imensas oportunidades, além de desafios e riscos de igual magnitude, sem abandono da economia movida a energias fósseis, como o petróleo, um dos grandes vilões da poluição urbana e das emissões de CO2 responsáveis pelo aumento da temperatura da Terra. Isso é sabido. Mas os “líderes” do G-20 não veem tais questões com a urgência que atribuem às mazelas das finanças globais. É como se a qualidade de vida pudesse esperar.

Transportes demandam 70% da produção de petróleo no mundo. Não é possível extrair mais do que já deu a energia que o mundo poderia consumir sem ameaçar a sobrevivência da Terra ou, se não tanto, a qualidade de vida, pelo menos. O carro elétrico pode ser a saída.

Mas não é. A bateria recarregada com energia elétrica gerada por usinas alimentadas a carvão, a fonte primária de eletricidade nos EUA, na China, na Índia, em suma, na maior economia do mundo e nos dois países mais populosos. China e Índia têm mais gente que a África e a Europa juntas. E já alcançaram um Produto Interno Bruto medido pelo critério de paridade do poder de compra de suas moedas de 16% do PIB global ou o equivalente à economia da União Europeia.

Esse padrão de produção e consumo altamente intensivo em matérias-primas, emulando o modelo das sociedades de consumo do mundo rico, tem riscos porque ameaça o futuro. E ameaça o Brasil, dependente da exportação de minérios, e que se vai amarrar à produção de petróleo do pré-sal — projeto de maturação a longo prazo, quando, talvez, já se tenha migrado para as novas energias mais limpas.

Ansiedade e reflexão
Essas ansiedades, acompanhadas das devidas reflexões, ocuparam as atenções de outra versão da conferência anual promovida pelo Banco Mundial sobre desenvolvimento econômico, conhecida por ABCDE, de Annual Bank Conferences on Development Economics. O tema do evento este ano, realizado na Suécia, foi sobre o desenvolvimento no pós-crise, com foco em meio ambiente, pobreza e a inovação.

A relação entre o preço das commodities em meio à crise econômica e a escassez ambiental foi apresentada pelo economista Ramón Lopes, da Universidade de Maryland, com conclusões preocupantes.

Para onde vai o lixo
A produção nos países avançados, segundo ele, se desmaterializou, mas não o consumo. A consequência é que as economias ricas não se tornaram mais limpas, mas melhores em descarregar o lixo em outros lugares. Um terço de todas as minas e larga fração da produção de petróleo e gás se localizam em áreas frágeis, diz Lopes, tais como florestas tropicais e plataformas marítimas. A tragédia no Golfo do México, onde vaza petróleo desde abril, reforça a sua tese.

A tendência é que tudo fique pior. Ou não. Depende das rupturas ensaiadas por investidores em tecnologias de ponta e uma vanguarda de políticos, que tentam influenciar a virada do governo de Barack Obama a partir de leis que releguem o petróleo à obsolescência.

Uma China a cada 3 anos
Não há meio-termo contra a crise que se estabeleceu no mundo, e não só a que está na pauta do G-20. Considere-se que nos anos 2000 o aumento da produção anual no mundo, sobretudo de matérias-primas, foi da ordem de US$ 2,3 trilhões, como debatido no painel do Banco Mundial. É como se uma nova China fosse adicionada ao mundo a cada três anos. A crise abrandou tal processo. Se o crescimento voltar a toda, o modo de produção, o meio ambiente e a ecologia urbana vão chocar-se, e não por questões programáticas, mas de deseconomias e disfuncionalidades sociais. É uma conta que o G-20 finge ignorar.

Outro Jimmy Carter?
Por razões relacionadas à tendência que vem ganhando adeptos no circuito financeiro, segundo a qual EUA e Europa caminham para uma segunda onda recessiva este ano, o economista David Rosenberg diz que “o mercado está perdendo a confiança na capacidade dos nossos líderes para dirigir o mundo na direção certa”.

Nos EUA, discute-se se Obama repetirá Jimmy Carter, que exerceu um governo de ideais, mas inepto para tirar o país da crise. Ele foi presidente de um só mandato. É nesses termos que se coloca a necessidade das transformações da economia. O crescimento que se anseia também pode ser tão traumático quanto a sua falta — debate já entranhado no Banco Mundial. E pobre no Brasil, onde decisões para o século 21 são tomadas com a cabeça no século 20.

GOSTOSA

CELSO MING

Agregação de chavões


CELSO MING 
O Estado de S.Paulo
Até que ponto vale a pena agregar valor a um produto? Dia 18, esta Coluna (Fazendão Brasil) levantou dúvidas sobre um desses princípios consolidados ao longo dos anos pelo pensamento econômico do Brasil sem submetê-los ao crivo das transformações e que, assim, não passam de chavões. É preciso voltar ao tema.
Na segunda metade do século passado, a flagrante deterioração das relações de troca do Brasil, tese campeã do professor argentino Raúl Prebisch, recomendou a política de substituição das importações e a relativamente rápida industrialização do País. Mas, no âmbito da globalização, a aplicação cega de velhos axiomas já não serve para atender ao interesse nacional.
As relações de troca entre o Brasil e o resto do mundo já não são tão desfavoráveis quanto eram há 50 anos. Ao contrário, atualmente elas jogam a favor dos emergentes. Além disso, poucas coisas hoje aumentam o valor agregado mais do que uma boa produção de commodities. O agricultor paga R$ 60 por uma saca de 40 kg de sementes selecionadas de soja e colhe 3 toneladas. Uma conta tosca mostra que o valor adicionado é de mais de 2900%. A partir daí, pode-se agregar mais valor ao produto, mas será sempre marginal. "Com produtividade média e preços médios (probabilidade de atingir estes números na ordem de 80%), tenho taxa de retorno esperada de 50% para um ciclo de seis meses", observa o produtor Roberto Salles Zancaner. E coisa semelhante se pode dizer do setor de açúcar e álcool "capaz de proporcionar o dobro do retorno obtido na produção dessas engenhocas eletrônicas, por uma fração da complexidade (e risco)", diz Zancaner.
Um desses consensos equivocados que se formaram por aí é o de que a indústria, qualquer que seja, sempre estará agregando mais valor e criando mais empregos e, portanto, é mais desejável do que a produção e exportação de commodities. Uma visita a essas lojas de R$ 1,99 mostra quanta tralha industrializada está disponível a qualquer poder aquisitivo. Qual é hoje a agregação de valor obtida pela produção de calculadoras, celulares (que a companhia telefônica já está fornecendo quase de graça), televisores, camisetas ou meias de algodão? Há dez anos, era difícil encontrar computador por menos de R$ 5 mil. Hoje, um dos objetivos da indústria é vender um notebook por menos de US$ 100.
Há alguns anos, o produtor brasileiro de calçados estufava o peito e dizia que fazia parte de um dos setores produtivos que mais criavam emprego. Hoje, o calçado que a moçada usa é um aglomerado de tecido e plástico prensado que praticamente não emprega mão de obra - sem insistir demais no desemprego provocado na corporação dos engraxates. E convém notar que o calçado campeão de exportação do Brasil, sempre copiado e tantas vezes igualado, são as Havaianas. Do ponto de vista da agregação de valor, o que, afinal, são as Havaianas?
Alguma moral da história é preciso tirar daí. Não se pode jogar no lixo as conquistas da Teoria das Relações de Troca. Mas é preciso reciclá-las aos tempos da Tecnologia da Informação e da globalização. É preciso, também, ajustar a economia ao novo ciclo da produção de commodities agrícolas, metálicas e energéticas, cada vez mais estratégicas, e não simplesmente repetir que a indústria está sendo sucateada.
Nova mordida
A decisão do Banco Central de aumentar a retenção compulsória dos bancos sobre depósitos à vista, de 42% para 43%, anunciada na última sexta-feira, pode parecer irrelevante, mas tem o objetivo de conter a expansão do crédito. Em maio, as operações de empréstimo do sistema financeiro haviam ultrapassado o R$ 1 trilhão ou 45% do PIB.
Não vai parar
O Banco Central avisou ainda que, até 2014, o compulsório vai subir até 45%. É uma indicação de que o Banco Central não considera a hipótese de que o novo governo a ser empossado em janeiro e, portanto, de que eventual mudança da diretoria da instituição possam alterar essa trajetória.
Crédito mais caro?
O aumento do compulsório deve ser visto também como uma forma de conter o consumo dispensando alta adicional dos juros básicos (Selic). Nas próximas semanas se saberá quanto essa mudança vai encarecer o crédito.

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Promessa e dívida
SONIA RACY
O ESTADO DE SÃO PAULO - 26/06/10

Roger Abdelmassih prometeu, não cumpriu e o Hospital do Câncer de Barretos conseguiu novo parceiro. O Instituto de Reprodução Alfa vai construir um centro de congelamento de sêmen e de óvulos para jovens em tratamento de câncer.
A quimio e a radioterapia podem influir diretamente na fertilidade dos pacientes.
Passione
João Doria fará as honras da casa a Silvio Berlusconi. Recebe o primeiro-ministro italiano para jantar com empresários.
A convite da Câmara Ítalo-Brasileira de Comércio e Indústria. Amanhã, no Terraço Itália.
Eco
Celso Amorim ficou surpreso. Descobriu que Ségolène Royal, ex-candidata à presidência da França, citou uma frase sua em discurso em NY, nesta semana: "Os centros tradicionais de poder não compartilham seus privilégios".
Back to Bahia?
Mosab Hassan Yousef, autor de Filho do Hamas, corre risco de ser deportado dos EUA.
Mosab, que pediu asilo político no país em 2007, terá audiência em San Diego para decidir sua situação. "Acabei sendo considerado uma ameaça. Leram alguns trechos do livro e colocaram em um contexto que só interessava a eles", revelou o palestino à sua editora brasileira, Sextante.
Telecurso
A zoeira das vuvuzelas exigiu esforço extra dos árbitros na Copa. A Fifa fez, na última hora, um curso para que os homens de preto apitassem e fossem ouvidos durante os jogos.
Responsabilidade social
O Ministério do Meio Ambiente fechou parceria com a operadora Vivo. Até quarta-feira enviará 8 milhões de SMS para incentivar a substituição das sacolas plásticas.
Carlos Miele elaborou edição especial de lenços em prol da campanha contra o câncer de mama. Parte da renda será revertida para o IBCC. A partir de setembro, em suas lojas.
Já Mellina Nunes criou lenços de seda para ajudar cães sem lar. Parte das vendas do mimo vai para a campanha Pedigree®Adotar É Tudo de Bom.
O Instituto Azzi completou dois anos com 20 investidores sociais e 40 projetos atendidos. Pretende dobrar esses números no ano que vem.
Representantes do Instituto C&A estão em Nova York. Participam do National Conference on Volunteering and Service, com outras companhias que desenvolvem ações de voluntariado empresarial.
O Ilha Vera Cruz, programa de alfabetização da escola Vera Cruz, faz prova classificatória para jovens e adultos interessados nos cursos gratuitos. Quarta-feira.
O Pão de Açúcar lançou campanha para ajudar os desabrigados das chuvas em Alagoas e Pernambuco. Postos de arrecadação foram instalados nas lojas da rede.
Está aberta a seleção do programa Oi Novos Brasis. Que oferece apoio para projetos sociais que usam tecnologia da informação para o desenvolvimento humano.
Detalhes nem tão pequenos...
1. Não basta escutar, a música encanta os artesãos de biscuits.
2. Olhos até nas costas. Tudo para não perder nenhuma paquera.
3. O chá importado chegou no Brasil em boa hora. Para acalmar os nervos dos brasileiros em tempos de Copa do Mundo.
4. Ah que saudade de Pelé e de Arthur Friedenreich...
5.Na época em que não se contabilizavam calorias, eram bons os bambolês de açúcar.
6. Já é inverno, mas as flores insistem em desfilar pelas galerias de arte paulistanas. 

GOSTOSA

EMÍLIO ODEBRECHT

A reforma prioritária
EMÍLIO ODEBRECHT
FOLHA DE SÃO PAULO - 27/06/10

Algumas semanas atrás afirmei, aqui nesta coluna, que precisamos concluir urgentemente todas as reformas que vêm sendo debatidas pela sociedade, priorizando a reforma política, porque é uma condição fundamental para a viabilização das demais.
Alguns leitores me perguntaram por que ela não aconteceu até hoje. Essa é uma indagação instigante. Afinal, os tempos mudaram, a sociedade mudou, o Brasil de hoje é muito diferente do país em que vivíamos 20 anos atrás e continuamos administrando assuntos da mais absoluta relevância com base em modelos que se tornaram anacrônicos.
O Brasil não tem instituições frágeis, e nossa democracia está consolidada, mas o funcionamento dos três Poderes precisa de uma reengenharia, porque eles continuam operando baseados em conceitos superados pela evolução natural de outros setores da nação, principalmente a sociedade civil e o sistema produtivo.
Uma reorganização estrutural certamente resultará na convergência de suas missões com as novas demandas da cidadania. Já a reforma política pode ser a desencadeadora do processo que levará à revisão das legislações fiscal, tributária, previdenciária e trabalhista, por exemplo, no mínimo pelo efeito demonstração.
Como estamos em um momento de renovação de nossas casas legislativas, temos a oportunidade de buscar entre os candidatos aqueles que nos convençam de que estão, de fato, comprometidos com a mudança.
Ao reformar o sistema político, nossos representantes no Congresso Nacional exercitarão a capacidade de mudar o que, aparentemente, seus antecessores preferiram preservar. A atitude destes é até compreensível, porque mobilizações dessa natureza normalmente proporcionam benefícios às gerações futuras e não àqueles que a elas se dedicam.
Por isso, pressupõem convicções, força de vontade e quase sempre disposição para abrir mão de privilégios e de interesses.
Algumas das propostas de mudanças apresentadas nos últimos anos, por iniciativa popular ou do Congresso Nacional, acabaram conhecidas por apelidos simbólicos da deterioração do modelo vigente.
Há três anos, tivemos a lei da "compra dos votos". Agora, temos a lei da "ficha limpa". Ou seja: a agenda não tem sido pautada por motivos superiores e nobres, mas pela busca de salvaguardas contra o abuso e a contravenção.
Por isso, insisto: precisamos, políticos e sociedade, decidir sobre o que é prioritário com visão de geração, não com visão de eleição.

PAINEL DA FOLHA

Falando sozinho
RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 27/06/10

Não bastassem a dianteira assumida por Dilma Rousseff e o caos instalado na escolha do vice de José Serra, uma outra preocupação ronda o comando tucano: os tão sonhados "embates diretos" com a candidata de Lula, instrumento para produzir o "confronto de biografias", podem no final ser bem poucos.
O QG dilmista assumiu o compromisso de levá-la a quatro debates de televisão. Mais um de internet. E chega. Toda a ênfase será colocada na propaganda e em entrevistas, nas quais ela estará livre da presença do adversário. Há quem tema que Serra tenha apostado alto num recurso do qual pouco poderá se utilizar.

Proeza Com o pandemônio produzido pelo anúncio de que Álvaro Dias (PSDB) seria seu companheiro de chapa, Serra conseguiu algo que há muito não se via no DEM: consenso. Contra ele.

Gasolina Convencido de que seria escolhido, Álvaro circulava pelo Senado, na semana passada, dizendo a quem quisesse ouvir que o vice não seria do DEM, porque este é um "partido de mensaleiros". Que agora ameaça deixar a aliança.

Cotoveladas A ideia, propagada pela cúpula do PSDB, de que a presença de Álvaro na vice viabilizaria um desempenho do tipo "arrasa quarteirão" no Paraná, dado que estarão na chapa também seu irmão, Osmar Dias (PDT), e o tucano Beto Richa, não leva em conta uma realidade amplamente conhecida pelo eleitorado local: os três não se bicam.

Fala sério Palpite de quem acompanha de perto a política do Paraná: depois de passar pelo menos três meses negociando simultaneamente com o PSDB (para renovar seu mandado de senador) e com o PT (para ser candidato ao governo estadual e dar palanque a Dilma Rousseff), Osmar Dias corre o sério risco de sair da eleição menor do que entrou.

Gerais 1 Pesquisas internas levam a campanha de Dilma a concluir que o avanço da candidata na região Sudeste, principal destaque do último levantamento do Ibope, foi puxado por Minas.

Gerais 2 Há um mês, Serra conservava vantagem de quase dois dígitos de intenção de voto sobre a petista na terra de Aécio Neves. Agora, a situação se inverteu.

Jogos de guerra Um estrategista da oposição reconhece que a campanha de Dilma vem executando com disciplina uma velha máxima das batalhas eleitorais, a saber: "perder de pouco onde você perde e ganhar de muito onde você ganha".

Queimada O acúmulo de sinais de que a polarização entre Dilma e Serra se consolidou preocupa a campanha de Marina Silva (PV) não apenas pelo risco de asfixia quando começar o horário eleitoral em televisão e rádio, mas também por uma ameaça real e imediata: desestímulo aos potenciais doadores de recursos.

Mesa redonda Lula promoverá amanhã uma reunião ampliada da coordenação do governo para ouvir os relatos dos ministros envolvidos na operação de socorro às áreas atingidas pelas chuvas no Nordeste.

Ponte aérea Braço direito de Alexandre de Moraes (DEM) quando este ocupava a Secretaria de Transportes da Prefeitura de São Paulo, o advogado Wellington Márcio Kublisckas foi nomeado para um cargo de confiança na Casa Civil da Presidência da República, agora sob o comando de Erenice Guerra. com SILVIO NAVARRO e LETÍCIA SANDER

Tiroteio

"É sempre bom lembrar que ninguém é obrigado a acompanhar velório."
DO SENADOR DEMÓSTENES TORRES (GO), sobre o apoio de seu partido, o DEM, à candidatura presidencial de José Serra (PSDB), à luz do anúncio da escolha do senador tucano Álvaro Dias para ser vice da chapa.

Contraponto

De duas, uma

Perto do final de "A Ditadura Derrotada", Elio Gaspari relata a surra tomada pela Arena, partido de sustentação dos governos militares, na eleição de novembro de 1974, quando o MDB obteve 72,75% dos votos para o Senado e quase dobrou a bancada na Câmara.
Diante da total discrepância entre as previsões do SNI e as tabulações feitas pelo próprio serviço durante a apuração, Heitor Aquino Ferreira, secretário particular do presidente Ernesto Geisel, anotou em seu bloco:
-Inacreditável. Não entendemos nada de política, ou o povo não entende nada de governo.

QUERO UM INIMIGO

CLÓVIS ROSSI

Entre Toronto e o Nordeste
CLÓVIS ROSSI
FOLHA DE SÃO PAULO - 27/06/10

SÃO PAULO - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez muito bem em trocar Toronto, no Canadá, sede da cúpula do G20 neste fim de semana, pelo inundado Nordeste brasileiro. Fez bem por dois motivos: primeiro, porque é sempre louvável quando um governante mostra solidariedade com os que sofrem. Sempre.
Segundo, porque a catástrofe nordestina põe em evidência que uma fatia ponderável do Brasil -muito provavelmente majoritária- não cabe no G20+. Cabe, sim, no G20-, aquele clube de miseráveis de vida precária que a TV esfrega na cara dos relativamente poucos que sentir-se-iam à vontade na rutilante Toronto.
O presidente nem precisa ser apresentado a este segundo clube. Conhece-o de sobra. Quando candidato de oposição, apresentou o Nordeste miserável no programa eleitoral gratuito como prova da insensibilidade dos governantes da época, em especial das oligarquias regionais.
Agora, as oligarquias regionais não podem mais ser criticadas. Nem por Lula, aliado delas, nem pela oposição, que é também formada por oligarcas.
Lula poderia aproveitar a oportunidade para ir além da solidariedade e além de promessas pontuais de ajuda ou remendo. As dimensões de tragédias recentes (em Santa Catarina, em São Luiz do Paraitinga, no Rio de Janeiro, agora em Pernambuco e em Alagoas) deveriam provocar no mínimo a curiosidade de saber se está ou não havendo um aumento avassalador não só na quantidade de água que invade as cidades como na capacidade destrutiva delas.
As cenas que a TV Globo mostrou quinta e sexta-feira sugerem a primeira hipótese, mas apenas estudos técnicos sérios poderiam confirmá-la ou desmenti-la. Só assim -e, claro, tomando as providências decorrentes- é que o Brasil poderia começar a sair do G20-.

MERVAL PEREIRA

Ao mestre
Merval Pereira
O GLOBO - 27/06/10

No dia 25, o jornalista Carlos Castello Branco, uma espécie de patrono dos colunistas políticos brasileiros, o maior entre nós todos, teria feito 90 anos. Reproduzo aqui trechos do prefácio que escrevi para a reedição de seu livro clássico “Os militares no poder”, da Editora Record. E adianto que brevemente estarei lançando um livro, pela mesma editora, com o título de “O lulismo no poder”, uma homenagem ao mestre. Quem quiser saber mais sobre o Castelinho, como era conhecido, pode ir ao endereço www.carloscastellobranco.com.br.

(...) A “Coluna do Castello”, publicada diariamente no “Jornal do Brasil” por 31 anos até sua morte, em 1993, teve provavelmente o mais influente papel que o jornalismo pode exercer na política brasileira, e não apenas metaforicamente.

No período mais negro da ditadura militar, “o Congresso só existiu na minha coluna”, disse ele, certa vez. Sua importância era tamanha que, tendo Carlos Lacerda interesse em que o “Jornal do Brasil” defendesse certa posição, foi-lhe sugerido que procurasse o presidente do jornal, Manuel Francisco Nascimento Brito, genro da condessa Pereira Carneiro. Ao que Lacerda retrucou: “Eu vou é falar com o Castelinho, que é quem manda”.

Já durante o período de distensão, angustiado com a necessidade de continuar o processo de abertura política “lenta, gradual e segura”, o presidente Ernesto Geisel não sabia como convencer a opinião pública de que continuava com a intenção inalterada, mesmo depois de ter fechado o Congresso e ter baixado o “Pacote de abril”. O ministro da Justiça, Petrônio Portela, interessado em dar prosseguimento ao processo de abertura política, aconselhouo: “Só há um homem no Brasil que fará com que se acredite que o senhor quer mesmo fazer a abertura política. Este homem é o jornalista Carlos Castello Branco”.

Anterior à era da multimídia no jornalismo, Carlos Castello Branco tinha o dom da palavra escrita, mas não o da fala. Ao contrário, tinha uma dicção péssima. Chegou a fazer comentários políticos na televisão, mas essa não era sua praia. Por isso, escrevia sempre seus pronunciamentos, e não se justificava: dizia-se, sobretudo, um jornalista, o que naquela altura se resumia principalmente à imprensa escrita.

Escrevia com uma rapidez e clareza tão grandes quanto falava atabalhoadamente, comendo as palavras, quase resmungando.

Tinha uma memória notável, e não foram poucas as ocasiões em que o interlocutor se surpreendeu com a reprodução perfeita da conversa sem que Castelinho tivesse tomado uma nota sequer da conversa.

Ao tomar posse na Academia Brasileira de Letras, em 1982, fez questão de ressaltar: “Chego à Academia como jornalista. Foi essa condição que me deu notoriedade e abriu-me caminhos nos vossos corações. (...) Mas devo ressaltar que, em determinado momento da vida profissional, quiseram os fados que fosse o intérprete mais ostensivo dos sentimentos que não se podiam, então, exprimir. A sociedade ansiava por informações; e coube-me abrir, graças ao apoio do ‘Jornal do Brasil’, um canal de mensagens cifradas mediante as quais atendia a expectativas tão amplas quanto frustradas. Sei que não trabalhei em vão, e é muito em função disso que me acolheis aqui, independentemente dos sentimentos políticos de cada qual. Eis, talvez, a razão por que um repórter chega pela primeira vez, como tal, a ocupar uma cadeira nesta Casa de expoentes da vida brasileira”.

Castelinho tinha a noção exata de que fazia parte da História, e era desse ponto de vista que analisava os fatos políticos cotidianos: “os fatos vão se criando e as explicações, se multiplicando, ganhando coerência ou clareza à medida que os surpreendemos no seu aparecimento, no seu colapso, no seu ressurgimento, nessa permanente elaboração, fundada em contradições que nem sempre chegam a sínteses, que caracteriza a ação política”, definiu ele na introdução de uma das edições deste “Os militares no poder”.

(...) Anteriormente, em 1970, já concorrera à ABL, e por razões políticas: como havia sido eleito pouco antes o ex-ministro do Exército de Costa e Silva e membro da junta militar de 1969, General Aurélio de Lira Tavares, que usava o pseudônimo de Adelita, um grupo de acadêmicos desejava preencher a nova vaga com um candidato de oposição. Castello acabou sendo superado por Antonio Houaiss, num segundo turno.

Anos antes, quando o Ato Institucional no5 foi editado, em dezembro de 1968, Castelinho fora preso, acusado de ter participado do movimento político que culminou com a recusa do Congresso em processar o jornalista e deputado Marcio Moreira Alves.

Sua coluna foi proibida de circular durante algumas semanas. Do final do governo Costa e Silva até todo o governo Médici, a repressão política aumentou fortemente, e com ela a pressão para que o tom da coluna de Castelinho fosse alterado.

Ele passou a transmitir as informações, então, segundo suas palavras, “quase em mensagens cifradas”, e chegou a pedir demissão duas vezes, por não ter espaço político para suas análises. Numa dessas ocasiões, em pleno governo Médici, foi dissuadido por dois ministros de origem militar, Mario Andreazza e Jarbas Passarinho, que sabiam a péssima repercussão política que essa decisão geraria, e trabalharam para arrefecer as pressões.

(...) Em outubro de 1978, foi homenageado nos Estados Unidos com o prêmio Maria Moors Cabot, pela Universidade de Columbia, Nova York, destinado aos jornalistas notáveis das Américas.

Com a posse de Geisel e o projeto de abertura política, Castelinho ganhou mais liberdade para escrever, mas, em consequência, atraiu a fúria da linha dura que se opunha à democratização.

(...) Mesmo cessadas as ameaças, Castelinho conviveu durante muito tempo com a paranoia de estar sendo perseguido, e em 1982, depois de eleito imortal da Academia Brasileira de Letras, teve que ser internado num hospital com princípio de infarto. Pediu que os fios que ligavam seu corpo aos aparelhos fossem retirados. “Suspeito que eles tenham sido instalados pelo Serviço Nacional de Informações”, comentou, entre irônico e precavido.

GOSTOSA

ELIO GASPARI

Dilma e Serra são parceiros de um fracasso
ELIO GASPARI
FOLHA DE SÃO PAULO - 27/06/10

O cerimonial das campanhas eleitorais determina que a oposição prometa rios de mel, os governistas digam que eles já existem e ambos joguem os problemas sobre as costas dos outros. Dilma Rousseff e José Serra formam uma dupla rara. Compartilham em silêncio pelo menos um desastre e poderiam explicar à patuleia o que pretendem fazer para consertá-lo.

Trata-se de discutir a ruína do ressarcimento ao SUS dos custos que caem sobre a rede pública de saúde pelo atendimento dos clientes dos planos privados.

Essa questão está aí desde 1995, no início da gestão tucana, e é lei desde 1998.

O fracasso prosseguiu durante os oito anos petistas.

Segundo o Tribunal de Contas, entre 2003 e 2007 a Viúva deixou de coletar pelo menos R$ 2,6 bilhões das operadoras de planos de saúde cujos clientes são atendidos na rede pública. A conta pode ter chegado a R$ 5 bilhões.

O governo entendeu que, se um cidadão paga um plano privado, a operadora ganha dinheiro bancando custos de sua saúde. Caso um cliente do melhor plano do país sofra um grave traumatismo craniano num acidente de automóvel, deve ser levado para a emergência de um pronto-socorro público. (Se for para o melhor hospital privado da cidade, arrisca morrer antes da chegada da equipe de neurocirurgia, pois só há esse plantão em alguns pontos na rede do SUS.) A vida desse paciente será decidida nas primeiras 24 horas, a um custo de pelo menos R$ 20 mil. Noutro exemplo, um cidadão precisa fazer hemodiálise, vai para a rede pública e, novamente, nada de reembolso.

As operadoras surram a Viúva há doze anos. Marcando em cima no Congresso, na nobiliarquia médica e na Agência Nacional de Saúde Complementar, desossaram todas as iniciativas dos governos.

Quatro mil cobranças estão travadas na Justiça.

Teatralmente, o ministro José Gomes Temporão enganou quem lhe dava crédito, inaugurando um novo sistema de cobrança que simplesmente não existia.

A ANSS tem agora cerca de 200 funcionários trabalhando na cobrança do ressarcimento.

Estimando-se em R$ 4 mil o salário de cada um, custarão R$ 10 milhões anuais. Em 2008, no auge da ruína, a Agência coletou R$ 2,6 milhões.

Dilma e Serra podem responder: “Noves fora platitudes, o que tenho a propor?”. Recomeçar do zero, mobilizando a opinião pública, como fez o companheiro Obama, pode ser uma boa ideia.
Recordar é viver

O poderoso banco de investimentos Goldman Sachs está lutando bravamente para entrar na engenharia financeira da capitalização da Petrobras.

Dos grandes, é o único que está fora do negócio.

Deveria ser chamado a participar, desde que seu principal executivo, o doutor Lloyd Blankfein, peça desculpas públicas por uma molecagem e por um mau conselho que seu banco deu aos brasileiros.

A molecagem: No início da campanha presidencial de 2002, quando o dólar começou a subir, o Goldman Sachs criou o Lulômetro. Era uma elegante equação onde cada interessado podia prever o preço do dólar depois da eleição, mudando as variáveis de acordo com suas expectativas políticas. Num resultado otimista, a vitória de Lula levaria a moeda americana de R$ 2,70 para R$ 3,04. Caso José Serra fosse eleito, ela cairia para R$ 2,52. Terrorismo eleitoral, do bom.

O mau conselho: Em janeiro de 1999, quando o governo de Fernando Henrique Cardoso estava afogado numa crise cambial, o Goldman Sachs recomendou uma “medida de grande impacto”, a privatização da Petrobras, da Caixa Econômica e do Banco do Brasil. Paulo Leme, diretor de mercados emergentes do banco, acreditava que o botafora aumentaria a credibilidade do país, e a Petrobras renderia até US$ 60 bilhões. O valor de mercado da empresa estava em US$ 15,4 bilhões.

Hoje está em US$ 165 bilhões.

Leme era um queridinho da ekipekonômica tucana, que desejava colocá-lo numa diretoria do Banco Central. Foi abatido em voo pelo então ministro José Serra.
O embaixador inglês contou tudo

Há um bom livro na praça. É “Diplomacia suja”, de Craig Murray, embaixador da Inglaterra no Uzbequistão de 2002 a 2004, quando foi posto para fora do serviço diplomático.

Seu subtítulo diz tudo: “As conturbadas aventuras de um embaixador beberrão, mulherengo e caçador de ditadores, sem um pingo de arrependimento.” São três as qualidades do livro. Primeiro, dá uma ideia do que é a vida na tirania da Ásia Central pós-soviética.

Islam Karimov, o cleptocrata uzbeque, ferve opositores. Depois, Murray expõe a hipocrisia das chamadas “potências” ao lidar com essas ditaduras.

Para os Estados Unidos, Karimov é um santo, porque abriga uma base militar e torra as riquezas minerais do país. Quando o ex-embaixador narra a maquinação que fraudou um relatório do FMI, entende-se o que foi a festa da globalização do século passado.

Finalmente, o livro retrata o mundo mesquinho e covarde de uma burocracia diplomática. Nesse sentido, é uma leitura útil para quem vive ou pretende viver nesse meio. Para quem fantasia um serviço diplomático chique e inteligente, é um instrutivo choque de realidade.

Murray soa vulgar e machista, mas fica um registro: ele e Nadira, a stripper que conheceu em Tashkent, vivem juntos e felizes em Londres.
Conversão do crente

O resultado da pesquisa CNI-Ibope levanta a suspeita de que o tucanato esteja com a febre dos candidatos mordidos pelo mosquito que os leva a fazer campanhas com o objetivo de converter os convertidos. Essa prática ajudou a derrotar Lula em três eleições presidenciais.

Pregando para os convertidos, José Serra consegue que seus eleitores multipliquem a raiva que têm de Nosso Guia. O problema é que uma pessoa com cinco vezes mais raiva do PT continua valendo um só voto.
Retranca

O comissariado de Dilma Rousseff decidiu radicalizar a blindagem da candidata. E só deve se expor a diálogos, entrevistas ou sabatinas de risco zero.

Se puder, ficará no “Bom dia, boa tarde”.
Off demais

A novela da indisciplina militar americana no Afeganistão está longe de terminar. O general Stanley McChrystal ficou no papel de paspalho por conta de seu exibicionismo pueril e cinematográfico, mas seu papel era secundário.

Desde que entrou na Casa Branca, o companheiro Obama percebeu que os generais tentavam emparedálo, impondo-lhe a expansão da guerra. Nesse jogo, McChrystal sempre foi um peão de seu colega David Petraeus, muito mais esperto, ambicioso e hábil na manipulação de políticos e jornalistas. Petraeus foi para o lugar de McChrystal.

Quando se vê que McChrystal e seus Rambos foram apanhados dizendo bobagens para um jovem freelancer que conheceram em Paris, percebe-se que os craques da grande imprensa que trabalham em Washington e Kabul estão ouvindo demais e publicando de menos.

JOÃO UBALDO RIBEIRO

Flashes da Copa em Itaparica
JOÃO UBALDO RIBEIRO

O ESTADO DE SÃO PAULO - 27/06/10

Como seria de esperar-se, declarou-se grande revolta, entre muitos cidadãos, pela ausência de Obina dos gramados da África do Sul. Sua exclusão da lista de Dunga não foi surpresa, embora houvesse quem botasse fé até o último minuto e hoje não esconda a decepção, diante do que foi visto por alguns como mais um exemplo de discriminação contra a ilha. Discriminação ou não, a revolta se acirrou depois que os primeiros jogos foram assistidos e se chegou à conclusão de que Obina faria magnífica figura, entre os numerosos pernas de pau que andam se exibindo na Copa. Um grupo de representantes do Baiacu, onde ele nasceu, se preparava para realizar uma festa de desagravo - já designada, por alguns entusiastas, como a Lavagem da Chuteira - quando uma ideia melhor surgiu, no curso de um debate entre Jacob Branco e Zecamunista, onde se chegou à conclusão de que às vezes a pátria amada é meio ingrata e, por consequência, justificavam-se certas atitudes. Jacob propôs que, assim pelo jeitão e porque na Alemanha, na França e na Inglaterra já tem muita concorrência, Obina se naturalizasse dinamarquês, mas, depois que ponderaram que dinamarquês usa chapéu de chifre, a escolhida final foi a Holanda. Ninguém esquece que os holandeses invadiram a ilha nos anos seiscentos e o mínimo que eles nos devem é dar logo o passaporte de Obina, no que, aliás, estarão fazendo um favor a si mesmos, depois da enésima Copa em que todo mundo diz que a Holanda é a porreta das porretas, para depois ela não chegar a lugar nenhum. Obina van Baiacko em 2014, é a palavra de ordem.

Em relação aos problemas de Dunga com a imprensa, as opiniões se dividem. Os dunguistas se solidarizam com o técnico e os mais exaltados professam admiração por ele ainda não ter sacado a peixeira na direção da reportagem. Sua convicção não chegou nem mesmo a ser arrefecida pelo argumento de que, com o salário que Dunga ganha, dá para aguentar fácil qualquer desaplauso, porque esta alegação esbarrou no fato de que a maioria duvidou que existisse tanto dinheiro neste mundo, que não haveria cueca de deputado que coubesse. De concreto, temos que Azeda se ofereceu, mediante cinco por cento do líquido, receber tudo o que é dirigido contra Dunga, de restrições a xingamentos.

- Por mais um porcentozinho, eu tomo até umas porradas - disse Azeda. - Aliás, pode ser qualquer coisa, menas a mãe.

- E por dez por cento, Azeda?

- Bom, aí ela vai compreender - disse ele. - Mãe é mãe.

De forma inesperada, a Copa contribuiu também para reparar uma injustiça histórica, de que foi vítima meu antigo companheiro de trio de defesa do glorioso Futebol Clube São Lourenço, Nego Toia, nosso goleiro. Deu-se que, num clássico contra o nosso rival Esporte Clube Ideal, um juiz de Salvador, que havia sido subornado com uma moqueca pelo cartola idealista Aurélio Alfaiate, marcou um pênalti inexistente, contra as nossas cores. Tudo certo, Nego Toia a postos, prepara-se para a cobrança meu compadre Edinho, igualmente negão, só que com uns dois metros de altura por dez arrobas de peso, bicudeiro famoso por certa feita haver trespassado o balão de couro com o dedão. Toia olhou, conferiu e abandonou a meta.

- Aqui pra vocês todos! - disse ele a seus companheiros e à torcida. - Tou cedendo a camisa a qualquer um, quem quiser que fique na frente dessa bufa de baleia!

Durante muito tempo, Toia suportou calado os que criticaram sua atitude. Parece que adivinhava que o futuro o vingaria. No jogo entre os Estados Unidos e a Eslovênia, como todo mundo viu, o goleirão da Eslovênia cobriu a cara e saiu de baixo, na hora em que o americano mandou um chute enviezado em cima dele, que terminou sendo gol.

- Ah-ha! - gritou Toia, levantando-se no bar de Espanha. - Olhaí! Viram vocês o que manda a regra e o juízo exige? Quer dizer que, porque é branco e fala inglês, ele pode! E eu não posso? Aqui pra vocês todos!

Também têm suscitado debates os animais africanos mostrados nos noticiários. Ainda há muitos caçadores na ilha, todos invejosos de lugares como a África, cheios de bichos que aqui não existem. Nossos incontáveis talentos ficam se perdendo, como é o caso de Xepa, que, como já contei aqui, um dia destes estava pescando desencalmado, quando sentiu um puxão na vara e esse puxão era um tatu, ele fisgou um tatu. Agora, vendo esses bichões no telão do bar de Espanha, fica tendo umas ideias. Com toda a certeza, usando um bom pernil de isca, ia dar para fisgar um leão, por que não?

- Fisgava com toda a certeza - me disse ele. - Agora, ia ter que ter braço pra embarcar o bicho.

Finalmente, a despedida da França foi recebida da mesma forma que pelo resto do Brasil, com a notável exceção de Zecamunista, que sacudiu a cabeça pesaroso, ao ver o final de jogo com a África do Sul. Crispando os lábios, murmurou qualquer coisa incompreensível, revirou os olhos e suspirou lastimosamente.

- Que foi que houve Zeca, você gosta assim da seleção da França?

- Você conhece o enjambement déroulé?

- Não.

- E o passe-partout réversible?

- Também não. São jogadas?

- São, mas não o que você está pensando, você não conhece a vida. Meu negócio não é a seleção francesa, são francesas selecionadas.