sexta-feira, agosto 21, 2009

AUGUSTO NUNES

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A mãe do PAC e o filho adotivo de Fidel nasceram um para o outro

21 de agosto de 2009

José Dirceu será o coordenador da campanha presidencial de Dilma Rousseff, decidiu nesta semana o presidente Lula. É o beijo da morte, compreendeu quem conhece a história do mineiro sessentão que, por querer tudo, hoje é nada. Em agosto de 2003, instalado na chefia da Casa Civil, caprichava na pose de sucessor de Lula. Passados seis anos, vai prestar serviços à “camarada de armas” a quem entregou o cargo do qual foi despejado 30 meses depois da posse.

Está pronto para naufragar com Dilma o companheiro que não acerta uma. Líder estudantil, namorou uma espiã chamada Heloísa Helena, a “Maçã Dourada”. Presidente da União Estadual dos Estudantes em 1968, resolveu que o congresso clandestino da UNE, com mais de 1.000 participantes, seria realizado em Ibiúna, com menos de 10.000 moradores.

O nativos ficaram intrigados com aquele cortejo de forasteiros jovens, barbudos e vestindo ponchos cucarachas que não parava de passar pela rua principal. Era muita gente, souberam na primeira noite centenas de congressistas tentando dormir debaixo de chuva. Era gente demais, desconfiou na manhã seguinte o dono da padaria confrontado com a encomenda superlativa: mais de 1.000 pães por dia.

Muito mais que os 300 que costumava vender, desconfiou. No interior, gente desconfiada chama o delegado. Como todos os policiais brasileiros, o doutor sabia que a estudantada comuna andava preparando uma reunião em algum lugar de São Paulo. Ligou para os chefes na capital, que avisaram a PM, que prendeu a turma toda.

Dirceu continua a afirmar que não conseguiu vencer o aparato repressivo da ditadura. Foi derrotado pelo padeiro. Ficou preso alguns meses não porque tinha ideias subversivas, mas porque teve uma ideia de anta. Teria dezenas ao longo da vida. Exilado na França, por exemplo, achou que Cuba era melhor.

Matriculou-se numa escola de formação de guerrilheiros, aprendeu a fazer barulho com fuzis de segunda mão e balas de festim, diplomou-se com o codinome de Daniel e considerou-se pronto para voltar ao Brasil e derrubar o governo a bala. Ficou muito emocionado ao despedir-se de Fidel Castro, que o tratava “como um filho”.

Dez metros depois de cruzar a fronteira, percebeu que a coisa andava feia, mudou de nome outra vez, esqueceu a luta no campo e resolveu ir à luta em Cruzeiro do Oeste, interior do Paraná. Carlos Henrique Gouveia, comerciante de gado, logo se engraçou com a dona da melhor butique do lugar, trocou a guerra de guerrilhas pela guerra conjugal e esperou a anistia para sair da clandestinidade. Só em 1979 contou à mãe do filho de cinco anos que se chamava José Dirceu de Oliveira, era revolucionário e voltaria ao combate na cidade grande.

Presidente do PT, escolheu Delúbio Soares para cuidar da tesouraria. Chefe da Casa Civil, escolheu o amigo Waldomiro Diniz, com quem dividira um apartamento em Brasília, para cuidar dos pedintes do Congresso. Waldomiro foi delinquir em outra freguesia depois do video que o mostrou pedindo “Um por cento pra mim” a um bicheiro. Dirceu voltou para a planície arrastado pelo escândalo do mensalão.

Prometeu correr o país para mobilizar a companheirada em defesa do governo ameaçado pela elite golpista. Foi corrido do Congresso depois de tentar inutilmente mobilizar parlamentares em número suficiente para escapar do castigo. Conseguiu ter o mandato cassado por uma Câmara de Deputados que não cassa nem representantes do PCC.

Sem abandonar a discurseira contra a burguesia exploradora, virou corretor de negócios feitos por patrões que, antes de discutir os detalhes do acerto, esperam as crianças saírem da sala e vão à janela para conferir se algum camburão estacionou por perto. Entre uma e outra corretagem, conversa com o advogado sobre o processo no Supremo e cumpre missões que Lula lhe confia.

O chefe gostou do desempenho do antigo capitão do time no esforço cívico destinado a livrar da guilhotina o pescoço de José Sarney. Gostou tanto que o incumbiu de livrar Dilma Rousseff das enrascadas em que anda se metendo e levá-la incólume à Presidência da República. Dirceu ficou feliz com o novo emprego. Coordenador da vitoriosa campanha de Lula em 2002, ele se apresenta como pai das ideias que o publicitário Duda Mendonça teve.

Dilma e Dirceu se entendem muito bem. Um sempre sabe o que o outro pensa, quer ou fez. É sempre o contrário do que diz.

ESPANTO

JOSIAS DE SOUZA

Lula deveria estabelecer uma cota de abate de petês


O BLOG DO JOSIAS NA FOLHA


O ano de 2009 passará à história como o período em que o extermínio da ética petista, antes gradual, assumiu proporções alarmantes.

Logo, logo Lula terá de estabelecer cotas de abate de petistas, para evitar o massacre indiscriminado. Uma alternativa seria a criação de um santuário.

Um lugar que pudesse ser coabitado por micos-leões-dourados e por meia dúzia de velhos petistas recalcitrantes, membros da resistência heróica.

Haveria na porteira um aviso: Proibida a entrada de predadores como Sarney e Renan. Ao longo da trilha, outra placa de alerta:

“Favor não alimentar os petês. Eles recebem ração diária de ideologia socialista. Não estão preparados para engolir e digerir sapos”.

No coração do santuário, seria aberta uma clareira. Ali, estátuas de políticos que ajudaram a construir o ex-PT preservariam a memória do sonho morto.

Aloizio Mercadante teria, obviamente lugar de destaque. Coleciona feitos que justificam a conversão em estátua.

Todas as manhãs, o Mercadante do Senado, um ex-quase-futuro-ex-líder, sobrevoaria a própria escultura.

Como uma espécie de pardal de si mesmo, o Mercadante que revogou o “irrevogável” sujaria, com desenvoltura dialética, a própria testa de bronze.

Ao renunciar à renúncia, o líder vivo, autoconvertido em pobre-diabo, não faz jus à memória do jovem idealista que sobrevive na estátua por ser feita.

O CHEFE DA QUADRILHA

LULA TIROU O BIGODE DE MERCADANTE

COMENTÁRIO

RICARDO NOBLAT


De que tipo de material é feito um político como Aloizio Mercadante - e tantos outros semelhantes a ele?

Nenhum dos seus colegas, ninguém do governo, representante algum do que o PT gosta de chamar de "mídia golpista" sugeriu sua renúncia ao cargo de líder do PT depois de o PT ter ajudado a manter José Sarney (PMDB-AP) na presidência do Senado.

Mercadante havia se exposto durante semanas cobrando o afastamento de Sarney. De princípio, teve o respaldo de sete dos seus 11 colegas. Bastou uma prensa dada por Lula para que parte dos sete amarelasse e desse o dito pelo não dito.

Candidato à reeleição para o Senado, Mercadante viu que ficaria mal com seus eleitores se mesmo assim se prestasse a fingir que lidera quem de fato só obedece às ordens de Lula.

Consultou amigos, parentes e assessores e ontem, por meio do seu twitter, declarou que renunciava ao cargo de líder de maneira "irrevogável". Explicaria seu gesto à Nação em discurso que faria à tarde.

O ministro José Múcio Monteiro, das Relações Institucionais, telefonou para Mercadante e lhe pediu que só formalizasse a renúncia depois de conversar com Lula.

No início da noite, a maioria dos sites de notícias dava conta do grau de disposição de Lula para tentar manter Mercadante no cargo. Grau zero.

O chefe estava furioso com Mercadante. Não via necessidade de conversar com ele. Decidira não lhe fazer apelo algum. E já escolhera o seu sucessor - o fiel João Pedro, senador sem votos pelo Amazonas, amigo de longa data de Lula e companheiro de animados banhos em igarapés.

Mesmo assim Mercadante foi ao encontro de Lula. Só foi recebido depois de uma hora de chá de cadeira. Saiu de lá com a desculpa que queria para renunciar à renúncia: uma carta onde Lula pede para que ele fique.

A carta deu o mote para que Mercadante, hoje, proclamasse, solene, em discurso no Senado:

- Mais uma vez na minha vida, o presidente Lula me deixa numa situação que não tenho como dizer não.

Que situação foi essa?

Lula reconheceu que errou ao pressionar a bancada do PT para votar afavor de Sarney?

É claro que não.

Lula garantiu que daqui para frente a bancada do PT terá autonomia para decidir sozinha como votar determinadas questões?

Também não.

Lula pelo menos admitiu que a bancada do PT no Senado, em casos excepcionais, poderá contrariar sua vontade?

Novamente não.

Então Mercadante ficou no cargo por quê?

Porque faltou-lhe coragem para seguir fingindo que era um político de posições firmes, para o qual há sempre um limite que não pode ser ultrapassado sob pena de se desmoralizar de vez. De ficar parecido com a maioria dos seus pares do PT que se acocorou.

Lula preservou o bigode de Sarney e tirou o de Mercadante.

Para o avanço da transparência entre nós foi melhor assim.

REVOGADO O IRREVOGÁVEL


MERCADANTE (ONTEM)

“Eu subo hoje à tribuna para apresentar minha renúncia da liderança do PT em caráter irrevogável.”



TRADUÇÃO DO BLOG:

DEU RÉ

COURO DE PICA

SUBMISSO

CAPACHO

COISAS DA POLÍTICA

O pudor e a nacionalidade

Mauro Santayana
Jornal do Brasil - 21/08/2009

O Senado deixou de ser a casa representativa dos estados e, nessa condição, revisora das decisões da Câmara dos Deputados. O que ocorreu quarta-feira passada ultrapassou os limites da razão política e violou o pudor elementar a que se obrigam as pessoas em seu convívio social e no exercício do poder. A partir da reunião do Conselho de Ética, os senadores José Sarney e Arthur Virgilio estão condenados a se tomarem íntimos, independentemente de seu comportamento político pessoal Não são apenas os dois que passam a depender um do outro. A eles se juntam os que, no Senado, contribuíram para a exculpação recíproca da maioria e minoria. Só se excluem dessa molesta situação os senadores que dela se esquivaram. Entre eles, há que se registrar o nome do senador Flávio Arns, que anunciou, em discurso, que deixará o PT, quando obtiver, na Justiça Eleitoral, o reconhecimento de seu direito a abandona-lo, sem renunciar ao mandato.

Nesse capítulo, temos mais um problema, que confirma o equívoco do STF em impor a fidelidade partidária. Como se comportará o PT diante da desfiliação da senadora Marina Silva? Será difícil ao partido não admitir que a senadora fora fundadora de uma agremiação política e abandona outra, distanciada de seus estatutos de origem.

Há outras consequências políticas que vão além do episódio ético. Qualquer cidadão ou cidadã tem o direito de pleitear a Presidência da República, se estiver no gozo de seus direitos políticos e tiver a idade exigida. A senadora Marina Silva é pessoa respeitada pela biografia e pela conduta política. Ela foi impelida a deixar o Ministério, quando vencida em sua ideias sobre a preservação da Amazônia. Era natural que se demitisse, quando o presidente da República aprovou decisões que a contrariavam. Mas uma coisa é o desempenho ético e, até mesmo técnico, de um candidato. Outra são as condições objetivas de que disponha para ganhar o pleito e, uma vez empossado, exercer, com liderança política e bom senso, seus deveres constitucionais. A um governante não bastam só as virtudes, mesmo porque ninguém se faz apenas de virtudes. Quando o general Ongania,ditador argentino e católico intransigente, nomeou um governo de homens tidos como absolutamente virtuosos, o bispo Jeronimo Podestá, da diocese de Avellaneda, perguntou se
não seria conveniente, naquele ministério de "santos", pelo menos um pecador. Podestá que, no ano seguinte, assumiria um caso de amor, ao casar-se com a secretária, foi destituído do episcopado e se tornou defensor do fim de celibato e partidário das posições políticas avançadas da Igreja.

O Brasil está entrando em.zona do tempo -que exigirá mais do que virtudes cristãs no governo. Temos que enfrentar a cobiça internacional sobre o território, e não podemos admitir, a que título for, que estrangeiros se metam em nossos negócios internos, nem mesmo quando exibam bandeiras "humanitárias". O assassinato de Chico Mendes mereceu estranho editorial do New York Times. O jornal afirmava que o ativista lutara e fora morto para que o mundo respirasse melhor. Deveria ser de leitura obrigatória, no Parlamento, no Poder Executivo, nas Forças Armadas, nas universidades, na UNE, nos sindicatos, o excelente estudo, que citamos recentemente, sobre a penetração norte-americana na Amazônia, a pretexto de sua "evangelização" e sob o comando de Nelson Rockefeller. Os que viveram aquele tempo, sabem com que desenvoltura o filho de John Rockefeller trafegava pelos corredores do poder em nosso país. O livro, Seja feita a tua vontade, de autoria dos jornalistas norte-americanos Gerard Colby e Charlotte Dennet, foi publicado em 1995 pela Harper Collins. Em 960 páginas, os jornalistas fazem documentada denúncia do avanço ianque sobre a soberania dos países-amazôniicos, principalmente a do Brasil. Ninguém tem direito à ingenuidade, quando se trata da defesa de nosso território e de nossa autodeterminação política.

Entre os corruptos e os ingênuos há milhões de brasileiros, capazes de se entregar ao serviço da pátria com honra, dignidade e coragem. Quando os Estados Unidos, a Holanda, a França e a Inglaterra se adestram para a guerra na selva, ao lado das nossas fronteiras, é preciso exigir dos governantes mais do que virtudes passivas; é preciso escolher pessoas dispostas a morrer na defesa da nacionalidade, como morreu Salvador Allende, em seu gabinete presidencial.

GOSTOSA


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INFORME JB

Flávio Arns entre PDT e o PSB

Leandro Mazzini
Jornal do Brasil - 21/08/2009

O Senador Flávio Arns vai dedicar o fim de semana a conversas com três partidos a fim de escolher qual será a sua nova morada. Depois de criticar abertamente o PT, que o acolheu depois de sua expulsão do PSDB em 2001, deixou claro que a decisão não tem mais volta. E, justamente por ter sido execrado do partido há alguns anos, o ninho tucano não será seu berço acolhedor no momento, acreditam interlocutores. O senador Arns está pendendo para o PSB, do líder Renato Casagrande (ES), e o PDT, do conterrâneo Osmar Dias. Em Curitiba, Arns ficará ao telefone e deve anunciar na sua volta ao Senado, semana que vem, a escolha por um destes partidos.

“Não tem mais essa de a bancada votar unida. O PT está rachado há muito tempo. Agora, o novo líder é o presidente Lula”
Cristovam Buarque, ex-petista e senador pelo PDT do Distrito Federal, ao explicar a atual situação do partido aliado

PV do Sarney
Marina Silva nem entrou no PV, e a legenda já está rachada. Fernando Gabeira e Alfredo Sirkis não estão se falando. O deputado não gostou do artigo que o vereador assinou no JB, dia 9, defendendo o senador José Sarney.

PV da Marina
É que agora tem o PV do deputado Zequinha Sarney – pró-papai – e o PV de Marina Silva, a ala que promete ser do contra. Mas há chances de paz.

Café da paz
Este humilde colunista propõe voar para o Rio e ser o intermediador. Sirkis, Gabeira, os aguardo para café na Letras & Expressões, como naquele sábado.

BH-Brasília
O PSDB quer enturmar o vice de Minas, Antonio Anastasia, com as bancadas federais. Foi disputado o jantar que o recebeu no apartamento de Fabinho (PV-MG), na Asa Sul, quarta.

BH-Brasília2
A turma foi eclética, passando por ACM Neto, Paulo Maluf, Eduardo Azeredo, e até anúncio apostólico, entre outros.

Ainda Bené
O presidente Lula teria dito a Benedita da Silva, em reunião: "Vou te apoiar sempre".

Bolsa-leite
A Procuradoria Regional da União da 2ª Região, no Rio, conseguiu derrubar decisão que obrigava a União à pagar 15 latas de Neocate, por mês, ao neto de deputado federal Simão Sessim (PP-RJ).

Atestado de pobre
O pai é o secretário de governo de Nilópolis, Marcelo Sessim. Ele alega não ter recursos. Neocate é usado por crianças com alergia a proteína do leite bovino. A lata chega custar R$ 400.

Grande família
Acredite. Atendendo a determinação da CGU, até ontem 6.640 servidores informaram que têm algum parentesco com outros servidores empregados em cargos de comissão ou funções de confiança na esfera federal. O número vai aumentar até 21 de setembro.

Siro e a lei
O desembargador Siro Darlan faz palestra hoje no Instituto de Arquitetos do Brasil, no Rio, às 16h, sobre Lei da Adoção.

Balanção
A venda de R$ 90 milhões de energia para clientes em 2008 (75 MW anuais) é destaque do balanço energético da ArcelorMitta1 Tubarão, no 24° Encontro de Produtores e Consumidores de Gases Industriais, em São Paulo.

ELIANE CANTANHÊDE

Lula engole o PT


Folha de S. Paulo - 21/08/2009

BRASÍLIA - OK, o PT "continua forte", como diz Lula, mas é preciso definir o que é ser "forte". O PMDB, por exemplo, é fortíssimo. Tem o maior número de governadores, prefeitos, senadores, deputados e vereadores. É isso que o PT quer?
Virar um PMDB? Sua verdadeira força sempre foi outra. E faz falta. Os fins justificam os meios. Antes, valia tudo pela causa. Hoje, vale tudo pelo poder. Ao jogar fora os escrúpulos de consciência (como faziam ministros civis na ditadura) para garantir o apoio do PMDB a Dilma Rousseff, Lula pode ter não apenas humilhado e rachado o PT no Senado mas conseguido o inverso do que queria.
Senão, vejamos: Lula agarrou-se a Collor, a Renan, a Jucá, desprezou o passado, sacrificou a bandeira mais cara do PT, dividiu a bancada, enlouqueceu o líder Mercadante, empurrou Marina Silva para a campanha presidencial e levou Flávio Arns a gritar que tinha "vergonha" do partido. E salvou Sarney.
Isso enfraquece a alma do PT, mas não fortalece a aliança com o PMDB para 2010. O apoio a Dilma não depende de Sarney estar ou não na presidência do Senado, depende da força e da capacidade de vitória que ela demonstrar.
E qual foi o resultado de toda a operação de Lula pró Sarney? Desde que lançada ao vento, a candidatura Dilma nunca esteve tão fragilizada, cheia de interrogações e pressionada. O que seria uma polarização Dilma-Serra, como operava Lula, virou uma campanha sortida, com Marina empunhando a bandeira do desenvolvimento sustentável e Ciro Gomes com os mesmos índices de Dilma nas pesquisas.
A esta altura, o PMDB está menos preocupado com Sarney e mais com o que acontece, ou vai acontecer, com as chances de Dilma. Ou seja: Lula e o PT pagam um alto preço por tirar o pescoço de Sarney da guilhotina, mas podem ter afastado, em vez de ter atraído, o apoio do "forte" PMDB. Que fica com Dilma se for para ganhar e pula fora se for para perder. Simples assim.

O BLOG VAI AO DENTISTA

BRASÍLIA - DF

Temer ganha fôlego

Luiz Carlos Azedo Com Guilherme Queiroz
Correio Braziliense - 21/08/2009



Está cada vez mais caro o apoio do PMDB à candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), refém da aliança com os caciques peemedebistas. Depois de apagar o incêndio no Senado, onde a bancada do PT se mobilizava para derrubar o senador José Sarney (PMDB-AP) do comando da Casa, o presidente Lula pretende voltar sua atenção para a Câmara dos Deputados. A bancada peemedebista anda rebelada por causa das disputas eleitorais nos estados e vota sistematicamente contra o governo em matérias econômicas.

A crise do Senado deixou desnorteados os senadores do PT, mas serviu para consolidar o apoio do grupo de Sarney e do líder do PMDB na Casa, Renan Calheiros (AL), ao projeto de Dilma. Agora, é preciso acalmar os caciques peemedebistas da Câmara, rebelados desde o momento em que o presidente da Casa, Michel Temer (SP), deixou de ser a primeira opção para vice de Dilma. Como Marina Silva (AC), pelo PV, e Ciro Gomes (CE), pelo PSB, têm intenção de disputar a Presidência da República, o peemedebista ganhou novo fôlego.


Bônus// A exumação do antigo imposto do cheque, depois de um acordo do ministro da Saúde, José Gomes Temporão, com a bancada do PMDB, será anabolizada pela liberação das emendas individuais dos deputados pelo Palácio do Planalto. Quem votar a favor da Contribuição Social para Saúde (CCS) será gratificado.

Mergulhou

Zequinha Sarney (MA) deixou a liderança do PV na Câmara determinado a submergir durante a operação de filiação da senadora Marina Silva. O deputado Edson Duarte (BA), com apoio da maioria da bancada, assumirá o posto. Fernando Gabeira (RJ) almejava o cargo, mas foi isolado.

Receita

Presidente do Sindicato Nacional dos Analistas-Tributários da Receita Federal do Brasil (Sindireceita), Paulo Antenor de Oliveira prevê nova queda de arrecadação da União por falhas na fiscalização, cobrança e análise de processos. Há R$ 100 bilhões disponíveis para cobrança, R$ 430 bilhões em processos fiscais e
R$ 45 bilhões em pedidos de restituição/compensação.

Estepe



O presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP), ao atropelar Mercadante com sua nota a favor do arquivamento de todas as denúncias contra o presidente do Senado, José Sarney, agiu com amplo respaldo na cúpula da legenda, que antes foi consultada por ele. Apesar do apelo para que Mercadante continue no cargo, a direção petista já trabalha com a possibilidade de o senador João Pedro (foto), do Amazonas, que é suplente, assumir a função. O ex-sindicalista é amigo do presidente Lula, não precisa jogar para a arquibancada e tem trânsito perante os colegas.


Viração

Governador de Minas, Aécio Neves inaugurou, ontem, em Beberibe, no Ceará, o Parque Eólico de Praias de Parajuru, a 103 quilômetros de Fortaleza, empreendimento da Cemig e da IMPSA, empresa argentina. É uma das três usinas que serão instaladas no Ceará por meio da parceria. Hoje, o governador mineiro amanhece em Aracaju, para um encontro de lideranças tucanas, mas também fará uma visita ao governador Marcelo Déda (PT).


Estrelas


Fora da pauta, a candidatura da ministra Marina Silva, que prepara sua entrada no PV, virou o centro das discussões do II Congresso do PSol, domingo, em São Paulo. Com 380 delegados e uma centena de observadores, inclusive estrangeiros, o partido está sem candidato a presidente da República. Heloísa Helena (foto), hoje vereadora em Maceió (AL), será candidata ao Senado.



Xará/ O PSDB paulista comemora a trombada de Mercadante com a cúpula do PT e o presidente Lula. Os tucanos avaliam que seu principal adversário na disputa pelo Senado não é imbatível. Aloysio Nunes Ferreira, chefe da Casa Civil do governador José Serra, postula a vaga de candidato ao Senado.

Calo/ A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Tarifas de Energia, presidida pelo deputado Eduardo da Fonte (PP-PE), aprovou, nesta quarta-feira (19), 13 requerimentos. A CPI investiga a atuação da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) na autorização de reajustes e reposicionamentos tarifários e promete infernizar a vida das autoridades do setor.

Fatura/ O PMDB e deputados da bancada ruralista convidaram o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, para um encontro na Câmara, na terça-feira. A ideia é barrar a portaria qu e altera os índices de produtividade rural. O partido e a Frente Parlamentar da Agricultura lembrarão a Stephanes que ele chegou ao cargo com o respaldo de ambos e vão cobrar solidariedade.

CLÓVIS ROSSI

Do orgulho à vergonha


Folha de S. Paulo - 21/08/2009

SÃO PAULO - Durante a campanha eleitoral de 1989, esta Folha recebeu em almoço todos os principais candidatos. Menos, salvo erro de memória, Fernando Collor, no que se revelaria uma profilática premonição do jornal.
Quando já terminava o almoço com Luiz Inácio Lula da Silva, o candidato do PT pousou o braço sobre os ombros de Octavio Frias de Oliveira, o "publisher", morto em 2007, e disse: "Frias, você ainda vai se orgulhar desse petezinho", como se o anfitrião fosse PT desde criancinha. Não era, claro, mas nunca escondeu seu respeito pelo que considerava padrão ético do partido.
Vinte anos depois, a profecia de Lula revela-se tão falsa como era equivocada a crença do "publisher" desta
Folha. Hoje, até um petista como o senador Flávio Arns diz sentir "vergonha", não orgulho, desse "petezinho".
Aliás, "petezinho" é expressão adequada, pelo nanismo ético e moral de sua camada dirigente, que deve ter contaminado boa parte da militância, talvez toda ela, a julgar pelo silêncio ensurdecedor a respeito do espetáculo de pouca vergonha que marca o PT. De quebra, ainda há o nanismo intelectual dos acadêmicos petistas, incapazes de abrir a boca, embora um deles tenha escrito, na esteira do "mensalão", que não mais admitiria nem sequer o sumiço de um alfinete do Palácio do Planalto.
Nada disso, no entanto, surpreende. Os intelectuais petistas se masturbaram com a debiloide teoria da conspiração para explicar os pecados do partido, mesmo ante a contundente evidência de que a única conspiração era a dos fatos. O que na verdade surpreende é a surpresa do senador Arns. Deveria ter sentido "vergonha" quando a direção do seu PT foi chamada de "organização criminosa" pelo então procurador-geral da República. Tudo o que veio depois é até café com leite.

GOSTOSA DO TEMPO ANTIGO

NELSON MOTTA

Adicional de insalubridade


O Globo - 21/08/2009

Como a crônica de uma patifaria anunciada, tudo correu como o previsto. O público assistiu ao vivo a um espetáculo deprimente de cinismo e covardia, protagonizado por um elenco de personagens quase inverossímeis em defesa do indefensável. Não chega a ser um consolo para os 70% de cidadãos que queriam Sarney fora, mas esses senadores não poderão sair na rua nem ir a lugar nenhum, a não ser cercados de seguranças. E vão disputar eleições no ano que vem.


Freudianamente, Sarney disse sobre o “Estadão” o que parecia dizer ao espelho: um velho de fraque e brincos.

Que nunca fez nada de errado na vida. Que é vítima inocente de cruel campanha. Arquétipo ou caricatura? Mas por que o “Estadão” (e a “Veja”, a TV Globo, a CBN, a “Folha de S.Paulo”, O GLOBO, a “Zero Hora”) iria mover tão cruel e injusta perseguição contra ele? Para enfraquecer o presidente Lula, a resposta está na ponta da língua, como um slogan de campanha. É a conspiração da direita, contra os pobres.

Agora perguntem aos eleitores de Lula, principalmente os de esquerda, se eles sentem orgulho ou vergonha do apoio de seu líder a Sarney e Renan? Alguém duvida que, para a opinião pública, a eventual queda de Sarney beneficiasse Lula? Ou, como perguntei ao Merval e nem ele soube me responder: se Lula e o PT abandonassem Sarney, e o PMDB, magoado, cumprisse a ameaça de abandonar Dilma, para onde iriam Sarney, Renan, Collor, Cabelo, Gim, Almeidinha e o resto da tropa? Para o palanque de Serra, de Marina ou de Ciro? (rs) Para onde iriam esses patriotas? Prefiro não comentar.

Claro, é apenas um sonho republicano, sabemos de todos os cargos e bocas e bocadas que o PMDB tem no governo e não vai largar, nem por Sarney nem por ninguém. É o jogo sujo de sempre, chantagens, alianças de conveniência, tática eleitoral, estratégia política, a luta pelo poder. Os fins justificam os meios, quando a causa é nobre — como a de cada um. Menos da oposição, que é vil, vilã e venal.

Enquanto isto, Sarney vai ficando. E Collor obrando. Os repórteres que cobrem política em Brasília mereciam receber um adicional de insalubridade.

MERVAL PEREIRA

Lula subjuga o PT


O Globo - 21/08/2009

O presidente Lula dizer que não vê crise no PT, se não for um achincalhe, pode parecer esperteza política, mas trata-se apenas da expressão de seu egoísmo ímpar. O projeto político do presidente há muito tempo deixou de ter — se é que já teve algum dia — um horizonte mais amplo do que a simples manutenção do poder. A senadora Marina Silva, ao dizer que abandonava 30 anos de militância petista em busca de uma utopia que o partido já não sustenta, estava dizendo, em outras palavras, o que o atual governador de São Paulo, e provável candidato tucano à Presidência em 2010, José Serra, constatou no início do governo: os petistas, na sua definição, eram bolcheviques sem utopias, cujo objetivo era o poder pelo poder

Foi o presidente do PT, Ricardo Berzoini, cara e jeito de burocrata stalinista, quem decretou o fim de uma tímida revolução de veludo na bancada petista do Senado, cuja maioria pretendia abrir processo contra o presidente do Senado, José Sarney, para manter pelo menos as aparências.

Mas o que menos importa a Lula são as aparências, escudado em sua popularidade excepcional, que parece blindada contra tudo. (Até quando?) Para levar adiante o projeto político pessoal de fazer seu sucessor — até o momento uma sucessora, na verdade — ele não mede esforços nem palavras. Desmoraliza os políticos de maneira geral, e os do PT com especial crueldade, e distorce a história política, a do país e a própria.

Como no momento o que importa é garantir o apoio do PMDB à candidatura de Dilma Rousseff, — leia-se minutos de propaganda eleitoral no rádio e TV —, ele mistura alhos com bugalhos e refaz a própria história do PT, comparando Sarney e Collor a Getulio e Jânio Quadros, todos vítimas, na peculiar visão lulista, de movimentos impensados da opinião pública, exacerbada pela mídia e por seus adversários.

Como se não tivesse sido um dos líderes do movimento que derrubou Collor do poder, aliado a Sarney, cuja filha Roseana chegou a ser definida como “a musa do impeachment”.

Crise após crise, Lula vai refazendo seus conceitos, abrindo mão de símbolos petistas para se aliar a símbolos da política que prometia combater ao chegar ao poder. O senador Flávio Arns, que está de partida do PT envergonhado do caminho que o partido vem tomando, é um remanescente dos grupos ligados às Comunidades Eclesiais de Base (CEBS), um dos pilares da fundação do PT.

Quando pensou em fundar um partido social-democrata, Fernando Henrique e outros políticos dissidentes do PMDB, à falta de uma base operária que é característica da social-democracia, procuraram Frei Beto para propor a organização partidária a partir das bases desses movimentos católicos.

Esses movimentos uniramse afinal aos sindicalistas de São Bernardo para fundar o Partido dos Trabalhadores.

A revolta do senador Flávio Arns, sobrinho de Zilda Arns e de D. Paulo Evaristo, arcebispo de São Paulo, uma tradicional família ligada à Igreja Católica e aos movimentos sociais de ajuda aos necessitados, — ele se dedica especialmente aos deficientes físicos — deve ter ecoado mais fundo em certos setores petistas do que até mesmo a desistência de Marina.

A senadora sai, afinal, com um projeto eleitoral que pode levá-la à Presidência da República e à realização de sua utopia verde.

Os próprios petistas já tratam de desqualificar seu gesto, atribuindo-o a uma suposta manobra do PSDB, mais especificamente do governador José Serra, a quem se atribui uma influência política muito maior do que a que ele realmente tem.

Já se fala em Marina para vice numa eventual chapa com Serra, numa coligação antes mesmo do primeiro turno, o que considero completamente sem sentido.

Se há alguma vantagem para os tucanos na presença de Marina na corrida sucessória é justamente a de quebrar o caráter plebiscitário da disputa, que o presidente Lula gostaria que acontecesse.

Trazer a senadora Marina Silva para dentro da chapa dos tucanos, além de reduzir seu gesto a uma manobra eleitoral, levaria novamente a disputa para a dupla PTPSDB.

E Marina não parece desses políticos que abrem mão de suas utopias por meras jogadas políticas.

Já Flávio Arns deixa o partido em protesto contra a f a l t a d e é t i c a d e s u a s ações políticas, o que tem peso nesses setores ligados à Igreja Católica que n ã o a c o m p a n h a r a m o s companheiros que se desligaram anteriormente ou do governo, como Frei Beto e Oded Grajew, ou para formar o PSOL.

Boa parte desses, como o deputado federal Chico Alencar, também ligada aos movimentos católicos da esquerda.

A tentativa de Lula de desqualificar seu gesto, chamandoo de “senador de primeiro mandato” e dizendo que ele sempre foi “encrencado” com o PT, só mostra o vezo autoritário de Lula, que não aceita discutir divergências no partido que comanda com mão de ferro.

O senador Aloizio Mercadante, que acabou compreendendo que já não era o líder de fato da bancada e que ao Palácio do Planalto agradaria sua saída efetiva do cargo, diz que vai continuar lutando dentro do partido para mudar os seus rumos, mas não parece ter o apoio nem o ânimo necessários a uma tarefa dessa envergadura.

Mais preocupado com sua reeleição para o Senado, que corre um sério risco de ser sabotada, primeiro dentro do próprio PT, e, se vingar, também pelos eleitores, Mercadante tende a ser engolido nesse turbilhão que engolfou o PT a pouco mais de um ano das eleições gerais.

Lula trata seus companheiros petistas com a prepotência dos autocratas: só quem segue fielmente seu comando, pode contar com as benesses que ele distribui com seu poder e sua popularidade.

GOSTOSA


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EDITORIAL - VALOR ECONÔMICO

A valiosa contribuição de Mercadante à crise do PT

Valor Econômico - 21/08/2009

A reunião do Conselho de Ética do Senado, anteontem, foi uma série de jogos para a plateia. A oposição fingiu que tentava recorrer da decisão do presidente do Conselho de Ética do Senado, Paulo Duque (PMDB-RJ), que, numa decisão autocrática, arquivou na semana passada, uma a uma, as seis denúncias e cinco representações contra o presidente do Senado, José Sarney, e a representação contra o líder do PSDB, Arthur Virgílio (PSDB-AM). A bancada governista fingiu que acreditou, mas ajudou a arquivar com todos os seus votos na comissão a representação contra Virgílio. Os deputados petistas integrantes da Comissão - Delcídio Amaral (MS), Ideli Salvati (SC) e João Pedro (AM) - votaram pelo arquivamento da representação, mas fingiram que a decisão não lhes cabia: foi lida carta do presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP), assumindo o voto dos três como decisão partidária.

No final de um dia de farsas, o PT havia perdido um senador, Flávio Arns (PR), que anunciou a decisão de mudar de legenda; foi-se o líder - o senador Aloizio Mercadante (SP) declarou que queria deixar a liderança, a bancada disse que não mais o queria, o governo quis vê-lo pelas costas e o partido não ficou feliz com sua atuação -, saída que deveria ter sido (e não foi) oficializada ontem; e a bancada do PT no Senado acusou um racha nunca dantes apresentado. Nesse dia de completo atropelo, a senadora Marina Silva (AC) anunciou, enfim, sua decisão de sair do PT.

De todos os atropelos do escândalos Sarney, o maior desastre foi o protagonizado pelo líder do PT, Aloizio Mercadante (SP). No início da sucessão de denúncias, o senador assumiu a missão, definida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de defender o presidente do Senado. Recuou em seguida, quando veio à tona gravações que flagraram a negociação familiar, entre neta e o avô Sarney, em torno de uma vaga. Tirou, na bancada, um documento oficial recomendando a Sarney que se afastasse do cargo enquanto se apuravam as denúncias, mas não conseguiu manter a posição diante da ofensiva do Planalto e da direção do PT, junto aos seus liderados, em favor do pemedebista. Até o último momento, tentou ainda uma saída que lhe tirasse da desconfortável posição de líder sem bancada: ajudar a arquivar todas as representações contra Sarney, exceto uma, que seria apurada pela Comissão como satisfação à opinião pública e aos seus eleitores - Mercadante é candidato à reeleição.

Antes da reunião do Conselho de Ética que analisaria os recursos contra o arquivamento das ações contra Sarney e Virgílio, os altos comando do PT e do governo se reuniram com o líder do Senado, que concordou com uma saída para se livrar do desgaste de liderar o apoio a Sarney: Mercadante leria uma nota assinada pelo presidente do PT, Ricardo Berzoini, assumindo como decisão partidária o voto dos senadores pelo arquivamento de todas as representações. Reunida a Comissão, no entanto. Mercadante decidiu não ler a nota e criticou os petistas que votaram com Sarney. "Seria uma hipocrisia ler uma carta com a qual não concordo", afirmou.

Na semana passada, o senador deixou de atender ao pedido de dois dos três integrantes do Conselho, Ideli e Amaral, de que fossem substituídos, para se preservarem para a disputa aos governos de seus Estados. Mercadante achou que seus liderados poderiam assumir o desgaste do apoio a Sarney. Na última hora, na frente dos holofotes, no entanto, fez prevalecer a sua decisão de não se submeter, ele próprio, ao risco do desgaste de liderar a sua bancada para uma ação pró-PMDB. Conseguiu a proeza de transformar uma posição eticamente recomendável e desejável, a de opor-se ao arquivamento das representações contra Sarney, em uma decisão destinada unicamente a salvar a sua própria pele. Não fortaleceu a posição dos governistas que queriam a apuração das denúncias contra Sarney, não conseguiu neutralizar a pressão do Palácio do Planalto sobre a bancada que liderava e sequer evitou que o líder do PMDB, Renan Calheiros, reinasse na reunião do Conselho como o fiscal dos votos petistas, com a "exigência" de que todos eles reforçassem a tropa de choque pemedebista. Seus avanços e recuos para tentar salvar o seu mandato nas urnas, no ano que vem, podem produzir o efeito inverso: o descompromisso do partido não apenas com a sua eleição, mas com a sua própria candidatura ao Senado.

TODA MÍDIA

Emprego, emprego

NELSON DE SÁ

FOLHA DE SÃO PAULO - 21/08/09


Só pela manhã, na manchete da Folha Online e do G1, "Desemprego cai pelo quarto mês". Também pela manhã, no UOL, "Desemprego é o menor do ano". Manhã, tarde e noite, na Reuters Brasil, "Desemprego no Brasil surpreende".
Por outro lado, fechando o dia no Valor Online, "Melhora no emprego derruba a aposta de corte nos juros" pelo Banco Central.

No exterior, com Bloomberg, foi a notícia de maior destaque ao longo do dia pelos sites de busca Google News e Yahoo News. No enunciado, "Desemprego no Brasil declina inesperadamente". Abrindo o texto, "cimenta as apostas de que a maior economia da América Latina emergiu da recessão".
Abrindo o texto no "Wall Street Journal", a queda "consolida a visão de que o mamute econômico da América Latina está saindo da recessão".

PSICOLOGICAMENTE
"Financial Times" e o site da Americas Society, entre outros, noticiaram a pesquisa da FGV e da Universidade de Munique que mostrou a "América Latina deixando a recessão". A reação é maior nos países voltados a exportar para a China e que "usaram forte estímulo" contra a crise, ou seja, Peru, Brasil e Chile.
O "Guardian" destaca pesquisa WIN Network em 22 países, que mostra Brasil, Canadá e Índia como "lidando melhor com a crise". Os três foram os únicos na categoria "otimista, poucos cortes e não afetado psicologicamente". Quanto à confiança no governo para enfrentar a crise, surgem na frente os chineses, com nota 7,2 a seus líderes, depois indianos (6,3) e brasileiros (6,1).

CRISE?
Da Folha Online ao portal G1, no fim do dia, "Lula nega crise no PT e diz que partido continua forte" ou "não vê crise". Sobre Flávio Arns, que elogiou Arthur Virgílio e foi parar no "Jornal Nacional", comentou que "é senador de primeiro mandato".
O blog de José Dirceu, que acabou destacado também, foi mais direto, dizendo que "ele se elegeu senador pelo PT em 2002 depois de se desfiliar do PSDB. E se elegeu por causa do presidente".

QUE CRISE?
Com destaque menor, mais defecção ou "troca-troca". "Mão Santa sai do PMDB por divergência com cúpula", no enunciado da Folha Online. Diz que o partido no Piauí foi "cooptado" e sua candidatura "corre perigo", dá negociar sua ida para o PPS.
E "Valter Pereira também deve deixar o PMDB". Como os demais, sua mudança se deve à indefinição da legenda no Mato Grosso do Sul quanto à candidatura. Ele estuda PSDB, PTB, PPS.

FATOS SUBVERSIVOS
Com resenhas elogiosas da nova "Economist" e jornais europeus, o historiador Timothy Garton Ash, professor de Oxford que escreve regularmente para "Guardian" e "New York Review of Books", está lançando "Fatos São Subversivos", sobre a "década sem nome" que abre o novo século.
Retrata, entre outras cidades do mundo, São Paulo. Ou melhor, a favela "Royal Park", o Real Parque do Morumbi. E escreve que a democracia não pode florescer onde traficantes recebem mais que professores. Para a revista, em seus melhores momentos ele ecoa seu herói George Orwell.

DIFERENTE
O ex-correspondente Larry Rohter volta a escrever de Brasil no "New York Times". Nada de Lula. Fez um perfil do músico pernambucano Otto. "Brasileiro, mas com batida diferente", que o célebre Rohter compara a Moby

GENIAL
Na crescente cobertura externa de Brasil, que agora avança sobre a cultura, a "Economist" acompanha os jornais americanos e europeus e dá longa resenha da biografia de Clarice Lispector, "um dos gênios mais obscuros das letras modernas". Na legenda, com ironia, "Se ao menos nós pudéssemos entender"

QUADRILHA NO PLANALTO


EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO

As críticas de Mendes ao MP

O Estado de S. Paulo - 21/08/2009


Insuspeito, por ter começado a carreira profissional como integrante da Procuradoria-Geral da República, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ministro Gilmar Mendes, voltou a criticar com veemência promotores de Justiça e procuradores da República que utilizam prerrogativas constitucionais para macular a imagem de pessoas públicas, favorecer partidos políticos ou criar situações de fato que possam interferir no resultado de eleições.

"Que peçam desculpas e até indenizem o Estado por terem usado indevidamente força de trabalho paga pelo poder público, paga pela sociedade, para fins partidários", disse Mendes, depois de lembrar o que ocorreu na época em que Fernando Henrique Cardoso era presidente da República, quando alguns membros do Ministério Público (MP) Federal, liderados pelos procuradores Luís Francisco de Souza e Guilherme Schelb, utilizaram o órgão como braço judicial do PT, propondo ações contra ministros, sem dispor de provas materiais nem de base jurídica.

A estratégia por eles adotada consistia em vazar informações falsas ou deturpadas para a imprensa e usar as notícias publicadas para justificar a propositura de ações de improbidade. Um desses procuradores chegou a ser condenado, anos depois, por assinar representações que já chegavam prontas, preparadas por adversários do governo. O objetivo era atingir o presidente da República, o que converteu o "denuncismo" irresponsável daqueles procuradores em matéria-prima para os discursos da oposição. "Funcionava como tal e propunha todo tipo de ação contra o governo", afirma Mendes. Embora a Justiça arquivasse as ações, o que interessava aos procuradores era explorar eleitoralmente as denúncias.

"Em alguns lugares, para ficar ruim o Ministério Público ainda precisa melhorar muito. Temos de definir qual o seu âmbito de aplicação para não gerar suspeitas de que há manipulação ou partidarização", concluiu Mendes, depois de cobrar do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) o mesmo rigor com que o CNJ tem punido magistrados que exorbitam de suas competências. Em resposta, o procurador-geral da República e presidente do CNMP, Roberto Gurgel, afirmou que a crítica de Mendes foi um "ataque injustificado" e sem o endosso dos demais ministros do STF.

O que levou o presidente do Supremo a elevar o tom das críticas que há muito tempo faz contra alguns setores do Ministério Público Federal foi o pedido de afastamento da governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius, formulado por um procurador com base numa ação de improbidade protocolada numa Vara Federal de primeira instância na comarca de Santa Maria, a 286 quilômetros da capital gaúcha. A governadora pertence ao PSDB e o processo foi aberto na mesma época em que o diretório estadual do PT começou a definir o candidato que lançará contra ela e a buscar apoio de outros partidos para as eleições de 2010. Desde então, a ação de improbidade é pretexto para a realização de passeatas semanais lideradas pelo PT e pelo PSOL, em Porto Alegre, pedindo a renúncia de Crusius.

O detalhe é que o procurador responsável pelo caso não tinha legitimidade jurídica para pedir a um juiz federal de primeira instância a abertura desse tipo de ação. Como o STF decidiu em 2007, ao julgar uma ação de improbidade contra o ex-ministro Ronaldo Sardenberg, que dirigiu a Secretaria de Assuntos Estratégicos e o Ministério de Ciência e Tecnologia no governo FHC, ocupantes de cargos públicos têm direito a foro privilegiado e as ações movidas contra governadores, em matéria criminal, têm de ser julgadas pelo Superior Tribunal de Justiça - a última instância da Justiça Federal. E é esse o caso de Yeda Crusius, concluiu Mendes, depois de afirmar que "o tema muitas vezes se presta à politização, para a obtenção, por exemplo, de liminares que pedem afastamento de deputados, senadores, governadores e prefeitos, gerando grandes tumultos institucionais".

Agraciado com autonomia funcional pela Constituição de 88, o MP tem por função defender a ordem jurídica e os chamados "direitos sociais indisponíveis". Como órgão fundamental para o regime democrático, é inadmissível que alguns de seus integrantes usem o cargo para fazer política partidária, como o presidente do STF deixou claro em sua crítica.