UOL - 04/06
O país não vai se transformando apenas num grande cemitério de vítimas da Covid-19. O velório da vergonha na cara precedeu em muito esse desastre. E que coisa, não? Temos um general falastrão e palanqueiro, que tem a coragem de aderir a um protesto que prega golpe de Estado, mas que se acovarda quando a confirmação diária de mortes bate recorde.
Leiam o que informa a Folha. Volto sem seguida.
O Brasil registrou um novo recorde diário de mortes, com 1.349 óbitos, além de 28.633 novos casos de coronavírus nas últimas 24 horas, segundo o Ministério da Saúde. Ao todo, são 32.548 mortes e 584.016 casos confirmados no país até agora. Na terça (2), o Brasil havia registrado 1.262 novos óbitos, e ultrapassado a marca tétrica de 30 mil óbitos desde o início da pandemia. Esse é o segundo dia consecutivo com recorde de mortes.
O Ministério da Saúde não comentou os novos números. Uma entrevista com a equipe técnica para apresentar um perfil epidemiológico da epidemia da Covid-19 no país estava marcada para a tarde desta quarta, mas acabou cancelada e adiada para quinta (4). A divulgação dos dados também sofreu atrasos. Inicialmente marcada para 19h, só ocorreu às 22h. Em nota, o ministério alegou problemas técnicos para a mudança de horário. Atrasos, porém, têm sido frequentes.
As mudanças na divulgação dos dados começaram ainda na gestão do ex-ministro Nelson Teich, e se intensificaram sob a gestão do ministro interino, o general Eduardo Pazuello. Antes diárias, as coletivas de imprensa passaram a ocorrer em dias intercalados, e sem análise dos números atuais. A pasta também passou a destaque ao número de recuperados da Covid-19 em plataformas próprias, em detrimento do total de mortes.
Das 1.349 novas mortes confirmadas nesta quarta, 408 ocorreram nos últimos três dias, e o restante em dias anteriores. A distribuição por data não foi divulgada. O total real de casos e mortes, porém, tende a ser ainda maior, devido a subnotificação e ocorrência de casos ainda à espera de análise. Boletim do Ministério da Saúde aponta que o país soma 4.115 óbitos em investigação.
Análises recentes feitas pela equipe do Ministério da Saúde em boletins agora semanais apontam ainda que o país segue em tendência de aumento de casos e mortes pelo novo coronavírus, sem que haja sinais de desaceleração da epidemia. O diretor-executivo da OMS, Michael Ryan, afirmou nesta quarta (3) que a transmissão comunitária de coronavírus continua intensa no Brasil e que o país é um dos que preocupam a OMS, ao lado do Haiti, da Nicarágua e do Peru.
"Quando a transmissão comunitária se instala, é muito difícil interrompê-la. Exige várias intervenções em conjunto, coordenação entre todos os níveis de governo, comunicação clara, adesão da população e decisões baseadas em conhecimento científico", disse ele.
Segundo a líder técnica da entidade, Maria van Kerkhove, a experiência de países que foram mais afetados pela pandemia (como Itália ou Espanha) mostra que, quando a transmissão está fora de controle, é preciso priorizar os locais onde há mais concentração de vírus circulando: aqueles em que há mais contato entre as pessoas.
Dados compilados pela Universidade John Hopkins (EUA) apontam que o país é hoje o segundo em número de registros da Covid-19, atrás apenas dos Estados Unidos, que soma quase 1,8 milhão de casos. Em número de mortes, o Brasil ocupa a quarta posição no ranking, atrás de EUA, Reino Unido e Itália -- a qual deve em breve ser ultrapassada na lista, caso seja mantido esse ritmo de aumento por aqui.
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RETOMO
É um acinte e um disparate que o Ministério da Saúde evite uma entrevista coletiva no dia em que se tem um novo recorde de mortes. O colapso no atendimento ameaça várias capitais, mas o nosso homem de guerra que cuida da pasta silencia.
Faz sentido. Ele não está lá porque tenha algo a dizer a respeito. Está justamente porque não tem nada a dizer.
Se, no entanto, estivesse ocorrendo uma manifestação em favor do golpe de Estado, como a do dia 24 de maio, ele se apresentaria às armas, como se apresentou. De máscara e passos resolutos, lá estava ele, com coragem, num ato que pedia o fechamento do Congresso e do Supremo.
Também teve a coragem de assumir o protocolo da cloroquina. Contra a ciência.
Ele só amarela diante da realidade.
Como é mesmo a frase do nosso Sêneca da pistola com leite condensado? "Todos nós iremos morrer um dia".