quinta-feira, junho 04, 2020

Ato contra Witzel tem cheiro de arbitrariedade, a mesma que já o beneficiou - REINALDO AZEVEDO

UOL - 04/06



Marcelo Bretas e Wilson Witzel logo depois da posse. De amigos de fé, irmãos, camaradas a antípodas. O juiz continua terrivelmente bolsonarista à espera de que Bolsonaro indique para o STF alguém terrivelmente evangélicoImagem: Reprodução


Que as coisas caminharam pelo pior na construção dos hospitais de campanha do Rio de Janeiro... bem, não há como duvidar. Dos sete prometidos, que um dia foram nove, só um funciona. E, ainda assim, sem plenas condições de atendimento.

O governador Wilson Witzel assinou um decreto nesta quarta que afasta o Iabas (Instituto de Atenção Básica e Avançada à Saúde) do comando dos hospitais móveis. A Fundação Estadual de Saúde vai assumir a gestão dos espaços. Em meio à tragédia abismal do coronavírus, há lances de um ridículo tragicômico. Em um dos descalabros protagonizados pelo Iabas, respiradores, previstos no contrato, foram substituídos por mesas de anestesia.

Mais: o ex-subscretário de Saúde Gabriell Neves, preso sob acusação de superfaturamento na compra de respiradores, diz que cumpria ordens superiores. Vamos ver.

Uma coisa é certa: os dados de posse da Procuradoria Geral da República, que motivaram o mandado de busca e apreensão em endereços do governador e o recolhimento do seu celular são de uma fragilidade assombrosa. Entendam: NÃO ESTOU AFIRMANDO QUE NÃO HOUVE IRREGULARIDADE. Estou dizendo que aquilo de que dispunha a PGR não era suficiente para motivar aquele tipo de operação — ainda que autorizada pela Justiça.

Por enquanto, nem mesmo se tem uma acusação direta contra o governador ou alguém que diga ter atuado em parceria com Witzel em alguma lambança. TRATOU-SE DO CLÁSSICO "VAMOS MANDAR COLHER O MATERIAL PARA VER SE ACHAMOS ALGUMA COISA". OU POR OUTRA: NÃO SE INVESTIGA A PARTIR DE UM INDÍCIO, MAS SE ABRE A INVESTIGAÇÃO EM BUSCA DO INDÍCIO.

É claro que não é assim que se faz na democracia.

O PRÓPRIO REMÉDIO

Pois é.. Witzel, um ex-juiz federal, enfrenta um procedimento claramente heterodoxo. Mas já foi um beneficiário de patranha execrável.

No dia 4 de outubro de 2018, Alexandre Pinto,secretário de Obras do Rio quando Eduardo Paes era prefeito, afirmou, em depoimento ao juiz Marcelo Bretas, que o ex-prefeito — então candidato ao governo do Estado — havia recebido propina da Odebrecht. Atenção! Em dois depoimentos anteriores, ele já havia negado o envolvimento de Paes com atos irregulares. Mais: em delação premiada, diretores da empreiteira negaram, com depoimentos devidamente gravados, que o ex-prefeito tivesse recebido propina.

E o que fez Bretas, que era amigão de Witzel? Tornou público o depoimento de Pinto a três dias da eleição. E, claro!, o troço caiu como uma bomba na campanha de Paes, beneficiando, por óbvio, o agora governador.

Witzel, pois, foi um beneficiário de uma ação absolutamente heterodoxa do juiz. E, por óbvio, as provas contra Paes nunca apareceram. Antes caçador, o governador agora se vê no papel de caça.

Será que eu digo um "dane-se!"? Não. Lamento a miséria do estado de direito no país e do devido processo legal.

Pouco depois da posse de Witzel, o governador e o juiz posavam para foto de mãos entrelaçadas.

Nota final: Bretas e Witzel estão distantes. O juiz segue fanaticamente bolsonarista e não perde a chance de deixar claro que é "terrivelmente evangélico". Chegou a fazer parte de uma comitiva de autoridades que recebeu Bolsonaro no Rio, ainda na pista de pouso.

Sonha com uma vaga no Supremo.

Eis flagrantes da tal "nova política"...

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