quarta-feira, fevereiro 08, 2012

O bicho homem - ZUENIR VENTURA

O GLOBO - 08/02/12

Já antes de Cristo, se dizia que "nada do que é humano me é estranho", mas foi preciso o Google para evitar que a frase continuasse sendo atribuída a Karl Marx, que de tanto repeti-la foi confundido com o verdadeiro autor, o dramaturgo da antiguidade romana Terêncio.

O que interessa agora, porém, é que, mesmo se a gente admitir não ser o homem um bicho estranho, ele não deixa de assustar.

Às vezes é difícil aceitar que sejamos todos feitos do mesmo barro, isto é, de idêntica matéria-prima. Que semelhança pode haver entre o que somos e, por exemplo, o marido que matou a mulher a facadas e em seguida repetiu o gesto consigo próprio? Ou então, como nos identificar com os cinco celerados que massacraram um jovem que tentava impedir que eles fizessem o mesmo com um mendigo? Nessas horas de perplexidade, e para aliviar nossa indignação, costumamos alegar que se trata de "animais", como se alguma besta irracional fosse capaz de premeditar tanta crueldade gratuita e covarde. Não tive tempo de consultar minha psi favorita sobre o homicídio seguido de suicídio ocorrido em Belo Horizonte.

Matar a esposa a facadas, como fez o empresário mineiro, não chega a ser novidade num país de machismo violento. Em Belém, um homem esfaqueou 15 vezes a esposa e quatro vezes o filho. Depois, tentou se matar enfiando a lâmina no pescoço e no peito. No interior paulista, outro ciumento desvairado matou a mulher a facadas e em seguida golpeou o próprio pescoço e o tórax.

Socorrido, não resistiu aos ferimentos.

O que intriga no caso de Minas é a incrível persistência com que o assassino agiu contra si mesmo. Trancado sozinho num motel, ele se esfaqueou durante horas, desafiando a dor dos golpes e o instinto de conservação.

Produziu 28 perfurações no corpo até atingir um órgão vital. Para o homicídio, a motivação foi o ciúme doentio. Mas e para o suicídio, qual a explicação? Quanto aos cinco pitboys da Ilha do Governador, cuja covardia tanto chocou, há pouco o que falar, a não ser que se trata de um crime hediondo sem qualquer atenuante e com clara intenção de matar por perversa diversão, deixando a vítima em tal estado que precisou receber no rosto oito placas de titânio, 63 pinos e enxerto ósseo. Para que a punição seja exemplar, o mínimo que merecem é a pena máxima.

Para mostrar que a Justiça não perdeu credibilidade, o ministro Cezar Peluzo, presidente do STF, citou em discurso as demandas judiciais, que em 2011 teriam superado 23 milhões de sentenças. "Se não confiasse, (o povo) não acorreria ao Judiciário em escala tão descomunal", afirmou. Mas há controvérsia. Esta semana, a Fundação Getúlio Vargas publicou uma pesquisa em que 67% das pessoas consideram o Judiciário pouco ou nada honesto. Em confiança, ele ocupa o sexto lugar, atrás das Forças Armadas, Igreja Católica, MP, grandes empresas e imprensa escrita.

GOSTOSA


Questão de interesse - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 08/02/12


SÃO PAULO - O administrador público deve agir com base em considerações racionais e justificáveis ou tomar decisões levando em conta seu apelo popular? Quem defende a primeira opção pode ralhar com o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD).

Por causa do desabamento de três prédios no Rio de Janeiro, Kassab resolveu pedir à Câmara que derrube o veto que ele próprio impusera, em 2009, a um projeto de lei que obriga os proprietários da maioria dos prédios da cidade a apresentar laudos de segurança estrutural a cada cinco anos.

A deliberação faz tanto sentido quanto cancelar uma viagem de avião após ler notícias sobre um desastre aéreo. Acidentes e barbeiragens de vez em quando acontecem, mas não se pode perder de vista o quadro geral: aviões são um dos meios de transporte mais seguros que existem.

De modo análogo, a maioria das edificações paulistanas não vai ruir da noite para o dia, mesmo que uma ou outra possa ocasionalmente fazê-lo, como se viu anteontem no ABC.

Aprimorar a segurança é sempre positivo, mas não a qualquer custo.

Assim como não faria sentido reduzir a velocidade máxima dos carros a 10 km/h para reduzir as mortes no trânsito, é complicado impor a todos os donos de prédios a obrigação de contratar vistorias quinquenais.

Como um laudo desses não sai por menos de R$ 4.000, estamos falando de uma nova despesa de R$ 800 anuais -um verdadeiro trenzinho da alegria para os escritórios de engenharia. Pergunto-me até se teriam condições de atender à demanda. Pelo projeto, depois que a lei for promulgada, dezenas de milhares de prédios com mais de cinco anos teriam apenas 365 dias para fazer a primeira vistoria.

Quem quiser mais razões para rechaçar a proposta, leia a justificativa de veto apresentada por Kassab há três anos, na qual ele elenca inconstitucionalidades, ilegalidades, impropriedades técnicas, além de descompasso com o interesse público. Em qual Kassab devemos acreditar?

A volta das privatizações - CRISTIANO ROMERO

VALOR ECONÔMICO - 08/02/12

A privatização de três dos maiores aeroportos brasileiros é, até este momento, a grande realização do governo Dilma Rousseff. Representa uma quebra de paradigma em governos do PT, partido historicamente contrário a privatizações, abre caminho para que a gestão de outros setores da economia administrados pelo Estado, como os portos, também seja entregue à iniciativa privada e contribui para o aumento da eficiência da economia.

A privatização, que, como assegura o ministro da Secretaria de Aviação Civil, Wagner Bittencourt, não ficará restrita a Cumbica, Viracopos e Brasília, é um marco histórico. É o reconhecimento de que o Estado não tem capacidade de investir em todos setores da vida econômica. Ademais, mostra que, depois de 14 anos, as privatizações foram retomadas no Brasil.

A última rodada importante de desestatização ocorreu em julho de 1998, quando o governo Fernando Henrique Cardoso leiloou o Sistema Telebrás. É redundante lembrar que, quase uma década e meia depois, o país deixou a Idade das Trevas em matéria de telecomunicação para se tornar uma das plataformas mais modernas do mundo - com muito a avançar ainda, registre-se, no segmento de internet banda larga e no respeito ao consumidor.

Um ano antes, em 1997, foi privatizado o controle acionário da Vale, hoje uma das maiores empresas de mineração e logística do planeta. Na mesma época, venderam-se quase todas as distribuidoras estaduais e federais de energia. Na primeira metade dos anos 90, foram desestatizados os setores siderúrgico e petroquímico, além da Embraer, que, em mãos privadas, tornou-se estrela reluzente da indústria aeroespacial mundial.

Em 2001, o governo abriu o capital da Petrobras, criando espaço para a empresa aumentar fortemente investimento e produção. Hoje, todas áreas privatizadas, com exceção de algumas distribuidoras de energia, apresentam resultados positivos. Algumas empresas, como a Embraer, a Vale e a Petrobras, tornaram-se multinacionais competitivas.

Daqui a 20 anos, a gestão Dilma Rousseff será lembrada pelo início da privatização dos aeroportos. Assim como ocorreu no caso das vendas de outras estatais, ela está sendo criticada, especialmente por seus correligionários, acostumados que estão a demonizar as privatizações. Com o tempo, as críticas desaparecerão por uma razão muito simples: os aeroportos vão crescer e tornar-se confortáveis; mais empregos serão gerados; os preços das passagens áreas, por causa da maior oferta de voos, vão cair e mais brasileiros serão incluídos no mercado de aviação.

A privatização dos aeroportos, como bem lembrava Solange Vieira, ex-diretora-geral da Agência Nacional da Aviação Civil (Anac), é antes de mais nada uma necessidade. Por causa da estabilização da economia, a aviação civil cresceu a taxas recordes. Sem investimentos privados na infraestrutura, os aeroportos não acompanharam esse crescimento, impedindo a criação de novos voos e a entrada de novas empresas transportadoras de passageiros.

Na verdade, o mercado cresceu à revelia da infraestrutura aeroportuária nos anos recentes, tornando caóticas as condições de atendimento dos passageiros. Viajar de avião no Brasil tornou-se um exercício de paciência. Aeroportos hiperlotados, instalações precárias, serviços indignos, tudo contribui para tornar o que poderia ser um prazer num verdadeiro suplício. Sem mudança nos aeroportos, a tendência dos preços das passagens é disparar, expulsando desse meio de transporte os milhões de brasileiros que passaram a usá-lo nos últimos anos.

O ministro da Secretaria de Aviação Civil, Wagner Bittencourt, desembarcou no governo em abril do ano passado. Em apenas nove meses, liderou o processo que resultou na privatização emergencial de três aeroportos. Ontem, cumprida a primeira missão, ele parecia aliviado, mas ao mesmo tempo incomodado com algumas críticas que ouviu e leu sobre o leilão. Uma delas foi sobre o ágio médio (de 347%) oferecido pelos ganhadores, fato que teria criado desconfianças sobre a capacidade de pagamento e de investimento das empresas.

"Antes do leilão, vimos muita gente dizer que o preço de alguns aeroportos estava muito alto, que o leilão não ia sair, e vimos depois que saiu e com ágios grandes, e alguns até com ágio superior ao de São Gonçalo do Amarante (RN) - 228%", disse Bittencourt. "O preço depende da avaliação e das expectativas dos agentes econômicos. Então, não existe nisso erro ou acerto. É impossível alguém acertar uma coisa como essa. Essa é uma falsa questão."

O ministro denuncia o que chama de "discriminação deplorável" - as críticas ao fato de as empresas e os operadores vencedores dos leilões serem de porte médio, quando comparados às grandes empreiteiras que ficaram de fora. "O importante é a competição. Quantos mais investidores tivermos [num leilão], melhor. Além disso, ninguém nasceu grande. Se não dermos oportunidades aos médios, como demos em outros setores da economia, como energia e rodovias, ficaremos limitados. O país está crescendo muito e, portanto, precisa de novos atores."

Bittencourt não teme a capacidade financeira dos grupos ganhadores nem tampouco a qualidade dos três operadores estrangeiros. "Minha visão é que esses grupos têm perfeitas condições de cumprir as suas obrigações e mais: nós estamos estruturados para fiscalizar os grupos. Vamos cobrar e os contratos são bem firmes em relação a isso", assegurou. "Além da carta de garantia [bancária, dada pelos consórcios para participar dos leilões], os grupos terão que aportar capital antecipadamente na SPE (Sociedade de Propósito Específico) para garantir a execução das obras, principalmente, dessas que precisarão ser feitas até a Copa do Mundo. Ninguém entrou ali para brincar."

Socuerro! A PM tá de TPM! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 08/02/12


E podiam fazer um surreality só de travecas: Mulheres Picas! E um só de falidas: Mulheres Lisas!

Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
Aderi ao movimento Bahia Pede Paz! Já se entenderam? Tô indo pro Carnaval. Eu quero pular na pipoca, não no pipoco! Eu teria mandado a Ivete pra negociar. Chegava gritando: "Poeeeira! Poeeeira! Vamos levantar a poeira!".
E a greve da PM não acabou com o Carnaval na Bahia. Interrompeu! PM interrompe o Carnaval na Bahia. Rarará! Porque o Carnaval na Bahia começou em 1500! Com os portugueses gritando: "Ivete à vista".
Coisas surreais. Ouvi numa rádio o seguinte: "Jaques Wagner descarta adiar o Carnaval". Carnaval não se adia. Só Portugal que, em 2000, adiou o Réveillon. É verdade. Na cidade do Porto, os fogos falharam e eles adiaram o Réveillon pro dia 8. Viraram duas vezes! Rarará! E se adiar o Carnaval, a Jennifer Lopez vai sapucar em Miami! E mais coisas surreais. Como esse bilhete-ameaça que os comerciantes receberam: "Amanhã o comércio em Periperi não abrirá, OUVIRAM?". "Ouviram" é sensacional. Bilhete falante! E isso vai se espalhar pelo Brasil! A PM tá de TPM!
E o surreality show "Mulheres Ricas"? Ops, Mulheres Bizarras. Eu já contei que em Osasco tem uma traveca imitando a Val: "Hellooo, 20 dólares e só tomo champanhe". Agora apareceu outra traveca imitando a barbie Brunete Fracarolli. É o Bruneco: da cintura pra cima é Barbie e da cintura pra baixo é o Falcon! Rarará! Aliás, a Brunette devia se chamar Bruneca! Rarará! E podiam fazer um surreality só de travecas: Mulheres Picas! E um só de falidas: Mulheres Lisas!
E um amigo meu pegou tanta mulher feia nesse fim de semana que o apelido dele é para-raios de baranga. Rarará!
É mole? É mole, mas sobe! Ou como disse aquele outro: é mole, mas trisca pra ver o que acontece!
Blocos 2011! Começou a Grande Festa da Esculhambação Nacional. OBA! No Rio, temos o bloco Já Comi Pior, Pagando! Isso não é um bloco, é uma verdade insofismável!
E, no Recife, um grupo de professoras universitárias criou o bloco Cansei de Ser Profunda! Isso! Vamos cair na gandaia.
E acabei de ser convidado para o pré-carnavalesco do Nóis Sofre, Mas Nóis Goza! Bloco de Recife que adotei como filosofia de vida.
Nóis sofre, mas nóis goza.
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

A César o que é de César - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 08/02/12




A Lula o que é de Lula. A Dilma o que é de Dilma. Desde que seja tudo do PT, a maioria dos petistas não vai se incomodar. É assim que eles veem a adoção do modelo de privatização tucano para os aeroportos

Na Santa Igreja, a frase “a César o que é de César” representa a separação do que é do mundo dos homens e o que se deve ao mundo de Deus. Foi dita por Jesus aos fariseus e herodianos que queriam saber se era lícito pagar impostos ao imperador. Está na Bíblia. Na boca do povo, é bem mais simples: “Cada um com as suas coisas” e ponto. Na política, entretanto, o PT decidiu reformular esse ensinamento divino e ficar com as coisas de um e de outro: a Lula o que é de Lula. A Dilma o que é de Dilma. Desde que seja tudo do PT.

É mais ou menos assim o que ocorre agora com o discurso da privatização dos aeroportos, o qual mencionei aqui na segunda-feira. “Os tucanos já perderam vários discursos, o da estabilidade da moeda, o do Bolsa Família, que eles (do PSDB) começaram com a Bolsa Escola, lá em Campinas. Agora, perdem mais esse, o da privatização”, dizia-me ontem o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), coberto de razão.

Os tucanos tanto sentiram o golpe que ontem convocaram uma entrevista coletiva na sala de reuniões da liderança do PSDB para deixar claro que os petistas passaram oito anos negando as privatizações. Em 2006, Geraldo Alckmin, perdeu a graça no segundo turno por causa desse tema. Ficou um tempo precioso na defensiva, vendo os votos migrarem para o então presidente-candidato. Em 2010, os petistas passaram a campanha tratando das privatizações como “coisa de tucanos”.

No caso dos aeroportos, até o modelo de privatização, avisa o PSDB, é igual ao adotado no governo Fernando Henrique Cardoso: financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e participação ostensiva dos fundos de pensão, como a Previ, do Banco do Brasil. O ágio foi considerado espetacular. Se está tudo bem, entretanto, avisa o PSDB, com boas doses de razão, veremos lá na frente, em 2014.

Por falar em “lá na frente”...

Os petistas sequer franziram o cenho para as reclamações do PSDB quanto ao “estelionato eleitoral” das privatizações. Estão como aquele time que joga feio, mas, até o momento, está ganhando o jogo. Quando eles criticavam as privatizações, o PSDB não as defendeu. Seus dois candidatos a presidente, José Serra por duas vezes, 2002 e 2010, e Geraldo Alckmin, em 2006, deixaram de lado os aspectos positivos. Renderam-se aos conselhos marqueteiros que, não raras as vezes, fazem avaliações equivocadas. Como dizia Olga Curado a Dilma, nos bastidores da campanha petista, “quando estiver emparedada, procure a verdade dentro de você, sempre funciona”. O PSDB se escondeu.

No PT, a avaliação geral é a de que cobrar isso agora não cola. O partido, entretanto, terá seus problemas internos. No Rio Grande do Sul, por exemplo, os petistas com assento na Assembleia Legislativa estadual são contra a prorrogação do pedágio nas estradas gaúchas para não ferir a coerência partidária no que se refere às privatizações, tão criticadas na campanha. Em Brasília, por enquanto, o partido, nem “tchum”. Há quem diga que não se faz política para o retrovisor. Se o PSDB não defendeu as privatizações, o problema é dele. Ontem, ouvi de muitos integrantes do PT que, se o modelo de concessão escolhido por Dilma der certo, o lucro é deles. Simples assim. Se der errado, o que eles não acreditam que vá dar, aí, eles estão no sal. Mas isso é o chamado lá na frente.

Perguntei a alguns se o fato de Lula ter sido contra as privatizações e ter atrasado as obras nos aeroportos não contava pontos negativos ao partido. A resposta foi curta e grossa: “Olha, o governo Lula teve muitos méritos. Agora, Dilma está fazendo um outro governo, de continuidade, mas com algumas mudanças”. Ah, tá. Agora entendi. A Lula o que é de Lula. A Dilma o que é de Dilma. Desde que seja tudo do PT, a maioria dos petistas não vai se incomodar. É assim que o PT vê a adoção do modelo tucano de privatização para os aeroportos brasileiros.

Enquanto isso, na Rodoviária de Brasília…

Começa esta semana a distribuição de panfletos convocando os policiais militares para a greve no Distrito Federal. A carta da categoria já circula na internet. O carnaval de 2012 promete. Aguardemos.

Cavalhadas - ROBERTO DaMATTA


O Estado de S.Paulo - 08/02/12


Meu artigo sobre o cavalo do Spielberg suscitou mensagens. Todas generosas. Quando recebi o telefonema de um colega, tive a certeza de que havia acertado na mosca! Dois leitores chamaram minha atenção para os cavalos não citados e eu quero usar a lembrança de um deles para reiterar como o ditado "santo de casa não faz milagre" é verdadeiro.

Meu texto sobre o cavalo é uma prova de como é realmente impossível controlar o consciente - esse agente motivador da atividade de escrever - e o seu lado obscuro, o inconsciente (esse hóspede não convidado), indispensável em qualquer escrita. Pois durante o ato de escrever, o inconsciente promove incríveis esquecimentos e faz inusitadas lembranças, deixando ao leitor a complementaridade essencial ao sucesso da empreitada.

De fato, ao falar dos cavalos eu mencionei São Jorge, um "santo a cavalo", mas deixei de fora - vejam o trabalho do inconsciente - o "cavalo de santo". Mencionei os cavalos dos nossos automóveis, mas esqueci os que são cavalgados pelos deuses nos nossos "terreiros". Esses mediadores que, como montaria dos orixás, eventualmente ajudam na nossa cavalhada neste mundo.

O conceito brasileiro de "cavalo de santo" revela a luta que ocorre em todas as sociedades conhecidas entre uma percepção do ser humano como sendo feito de muitas "almas " e num processo e a visão individualista e moderna que estabelece a consciência de si como uma entidade indivisível e acabada, dada de uma vez por todas sendo - seria preciso lembrar Freud, Lévi-Strauss, Louis Dumont e alguma literatura como Poe, Stevenson, Machado? - no mínimo problemática. Pois como disse na semana passada, por mais que sejamos individualistas, somos todos fabricados pelos outros, de modo que por mais que cavalguemos nos nossos egos, outros egos e relações também cavalgam com e contra nós.

Valores como dignidade, honra, culpa, vergonha, gratidão e amor são indicativos dos laços e dos pesos desses vínculos dentro de nós. Donde os "cavalos de santo". Essa expressão apresenta um extremo da experiência da subjetividade. Pois não existe nenhum homem por quem os sinos não dobrem e nenhum que não tenha tido os seus projetos individuais dobrados por alguma relação ou afeto.

* * * *

Coincidentemente, a coerência como um valor cavalgou conosco nestas últimas semanas. Em relação a Cuba, por exemplo, a presidente Dilma disse com todas as letras que os direitos humanos não têm importância universal. Tais direitos devem ser relativizados em casos como o de Cuba (e, é claro, dos Estados Unidos) porque todos temos "telhados de vidro". Ou seja, em algum momento somos cavalgados por coisas maiores (ou menores) do que nós. Por isso, escolher e desejar introduzem a incerteza em todo pensamento que tenta ser absolutamente fiel a si mesmo. O governo Dilma criou uma imponente Comissão da Verdade, mas os vínculos que a esquerda brasileira tem com Cuba e a sua personalização na figura de Fidel Castro (vejam a força desse nome!) facultam escapar de valores cruciais da vida democrática. Algo que nas cavalgadas corresponde ao peso que cada ideologia, fé e moralidade coloca no lombo do cavalo, fazendo-o empacar ou mudar de rumo.

* * * *

Assisti, deslumbrado, ao espetáculo Tim Maia. Um musical que faz mais do que trazer à tona um formidável talento musical, pois o drama de Nelson Motta ressuscita Tim Maia e, por meio da música, transforma em mito e ritual a "vida real" do artista que o próprio Nelsinho biografou no livro Vale Tudo - O Som e a Fúria de Tim Maia (Objetiva, 2007). Com isso, o espetáculo põe no palco a complexa cavalgada entre a força de um talento vulcânico e o seu gerenciamento; a onipotência do sucesso e a sua capacidade de devastar os seus cavaleiros; o deixar que tudo possa acontecer conosco e os limites que cada qual se vê obrigado a se impor, sob pena de acelerar o próprio fim, embora o fim - eis o que Tim Maia descobriu - seja inevitável. Graças ao bom gosto e à lucidez de Nelsinho Motta, todos se emocionam com essa biografia musicada reveladora de uma alma sensível aprisionada num corpo que ia se avolumando na medida em que sucessos e fracassos permeavam sua vida. É muito raro assistir a um casamento tão benfeito entre vida, época, mito e música.

Nesta semana em que testemunhamos a grande cavalgada cósmico-legal dos ministros do STF que, para o bem de todos, deram um passo adiante no sentido de reiterar que numa democracia ninguém deve escapar da igualdade perante a lei, chegou a sexta-feira. E nessa véspera da ilegalidade dos sábados imortais do Vinicius de Moraes eu, a todo pulmão, cantei com o Tim Maia e graças ao Nelson Motta, uma das minhas fantasias favoritas: "O que eu quero? Sossego!"

Financiamento público DORA KRAMER

O Estado de S.Paulo - 0/02/12



O Tribunal Superior Eleitoral divulgou anteontem uma notícia que passou batida. Em 2012, os 29 partidos existentes no Brasil receberão R$ 286,2 milhões para manutenção de suas estruturas.

Para receber basta estar registrado na Justiça Eleitoral, mediante critério estabelecido em lei: 5% são distribuídos em partes iguais e 95% conforme a votação obtida na eleição anterior.

Em 2011 a dotação foi de R$ 265 milhões. O PT recebeu mais (R$ 44 milhões, descontados os quebrados), com o PMDB em segundo lugar (R$ 33 milhões), o PSDB em terceiro (R$ 30 milhões) e o DEM com derrocada e tudo, em quarto (R$ 19 milhões).

Todos ganham do fundo partidário, até legendas sem a menor expressão como, de resto, é a maioria. No ano passado os novatos PPL e PSD ganharam a cota mínima de R$ 125 mil; o PCO, R$ 447 mil; o PSL levou mais de R$ 1,2 milhão, um pouco menos que o PRTB (R$ 1,36 milhão), mas bem mais que o PTN (R$ 917 mil) cuja votação não foi tão bem sucedida quanto a do PHS (R$ 2,58 milhões) nem tão espetacular quanto a do PRB (R$ 5,24 milhões).

Esses R$ 286 milhões do fundo partidário acrescentados aos R$ 851 milhões em descontos de impostos dados às emissoras de rádio e televisão em 2010 (serão R$ 606 milhões em 2012) pela veiculação de propaganda política obrigatória somam nada menos que R$ 1,13 bilhão.

Portanto, ao contrário do que dizem políticos que propõem a destinação de parte do Orçamento da União para campanhas eleitorais, já há financiamento público aos partidos.

O que ainda fica faltando é os partidos darem a contrapartida ao público.

Não tragou. A despeito de dúvidas quanto a possíveis aportes de dinheiro público em virtude da participação (49%) da Infraero, a privatização dos aeroportos de Brasília, Guarulhos e Viracopos foi bem-sucedida. Na perspectiva petista, o tema saiu do armário.

Em tese sairia também da agenda eleitoral, não estivesse o PT engatilhado para dizer que não vendeu, apenas concedeu.

Manada. Um dos efeitos colaterais, talvez o mais grave, da militância cega é a perda da independência mental - aquele estado em que não se tem mais a liberdade de dizer as coisas como elas são.

Petistas se envergonham da convocação do Exército para ocupar as ruas durante a greve dos policiais na Bahia, governada pelo PT, só porque acabaram de criticar o uso da polícia para assegurar o cumprimento de uma ordem judicial de desapropriação no interior de São Paulo, governado pelo PSDB.

Tucanos e simpatizantes, por sua vez, tratam do assunto sob o prisma da revanche verbal.

Acabam ambos os contendores dando pesos e medidas iguais a situações inteiramente diferentes apenas para não abrir mão do direito à dependência de ação e pensamento.

De onde, vivemos uma dicotomia política de fachada.

Em cima da hora. O PSDB saiu da eleição de 2010 anunciando planos para se reorganizar, não desperdiçar o patrimônio de 44 milhões de votos obtidos, para investir na unidade interna e restabelecer o diálogo com a sociedade.

Pois no quesito organização nada mais desorganizado que as prévias previstas para a escolha do candidato à Prefeitura de São Paulo, daqui a um mês.

Sem conseguir saber sequer quem são os filiados com direito a voto, os tucanos contrataram serviço de telemarketing para atualizar o cadastro de eleitores internos.

É de se perguntar para quem, então, andam falando os quatro pré-candidatos do partido à eleição mais importantes do País.

Quanto aos outros pontos do projeto anunciado, ainda andam em círculos na busca de um discurso enquanto se dedicam a desperdiçar os tais 44 milhões de votos desqualificando o então candidato José Serra.

Sacode Luiza - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 08/02/12



Na berlinda desde que a presidente Dilma começou a fazer mudanças no Ministério, a ministra Luiza Bairros (Igualdade Racial) vai ajustar sua equipe na expectativa de ficar no cargo. Ela decidiu exonerar a secretária de Políticas de Ações Afirmativas, Anhamona de Brito, e a secretária de Políticas para Comunidades Tradicionais, Ivonete Carvalho. A gestão de Luiza é mal avaliada.

Governo quer votar unificação do ICMs
A área econômica do governo avalia que a guerra fiscal está deixando de ser um diferencial para a instalação de empresas no país. A Hyundai, a JAC, a BMW e a Land Rover vão decidir em função da proximidade com o mercado consumidor, os fornecedores e portos para exportação. O Sudeste e o Sul são preferidos, embora a Bahia possa ficar com a JAC. Por isso, o governo quer votar logo a alíquota estadual única do ICMs de importação. Não há intenção de atender o Espírito Santo, que tem um incentivo regional, de se fazer uma transição. Diz um ministro: "Eles mamaram 20 anos e ainda querem um prêmio de consolação".

Quero saudar o reposicionamento do PT em relação às privatizações. Vamos ficar livres da cantilena demagógica que as demonizava” — Aloysio Nunes Ferreira, senador (PSDB-SP)

CAMPANHA EM CLIMA DE MENSALÃO. Os advogados dos réus petistas no processo do mensalão avaliam que o STF deve iniciar o julgamento do caso em maio. A publicidade será negativa para quem em outubro pretende ampliar o número de prefeituras administradas pelo PT. O réu mais notório, o ex-ministro José Dirceu (foto), não é candidato, mas outros, como o ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha, vai concorrer em Osasco.

No divã
Em reunião na casa do novo líder do PSDB na Câmara, Bruno Araújo (PE), na quinta-feira, lideranças tucanas discutiram os motivos pelos quais o partido tem sido tão criticado pela opinião pública. Eles, claro, se sentem injustiçados.

Casquinha
Adversário do governador Jaques Wagner, o vice-presidente da CEF, Geddel Vieira Lima, faz ironia sobre a greve dos PMs: "O da Bahia disse que foi surpreendido, o governador do Rio antecipa reajuste salarial para evitar greve dia 10".

Zumbis
Terceira maior bancada da Câmara, o PSD ameaça obstruir as votações, se não tiver direito de participar das comissões temáticas. O partido já fala até em lançar candidato à Presidência da Casa. "Não estamos no acordo que deu dois anos para o Marco Maia e dois anos para o Henrique Alves", disse o deputado Dr. Paulo César (PSD-RJ), aplaudido pelos colegas na reunião da bancada. Os partidos que perderam deputados para o PSD não aceitam ceder lugar nas comissões.

Mais do mesmo
A nova ministra Eleonora Menicucci (Mulheres) disse que a descriminalização do aborto é questão para o Congresso. Apesar de favoráveis, todas as titulares da pasta se esquivaram do assunto. O governo não quer levantar essa bandeira.

Ponto final
O presidente do PT de Niterói, Anderson Pipico, ligou para informar: "O secretário estadual Rodrigo Neves é o virtual candidato do partido à prefeitura, e o ex-vereador Romério Duarte faz domingo café da manhã em apoio a Rodrigo".

PELA METADE. O governo Dilma cancelou 181 convênios irregulares, mas a CGU e a Casa Civil não divulgaram os nomes das ONGs envolvidas.

O GOVERNO vai tentar votar hoje o projeto que cria o Funpresp. Para aprovar é preciso de maioria simples. O PT, o PMDB e o PSB têm esses votos.

O MINISTRO Gilberto Carvalho (Secretaria Geral) recebeu ontem militantes da ONG Humanos Direitos, entre eles a atriz Camila Pitanga, que pedem proteção para Maria Joel da Costa, presidente do sindicatos dos Trabalhadores Rurais de Rondon (PA).

GOSTOSA


Denucci e PP, tudo a ver - RENATA LO PRETE

FOLHA DE SP - 08/02/12
Num discurso na Casa da Moeda em agosto de 2010, Guido Mantega foi só elogios a Luiz Felipe Denucci, agora demitido por suspeita de desvio de dinheiro. "Estou muito satisfeito porque, além de tudo, a Casa da Moeda está dando lucro", declarou o ministro. E arrematou: "Continuem nesta trilha e contem comigo".

Nenhum político do PTB, sigla à qual o titular da Fazenda atribui a responsabilidade pela indicação de Denucci, estava no evento. Em compensação, discursaram o presidente do PP, Francisco Dornelles, e Márcio Fortes, também pepista e na época ministro das Cidades. Denucci e Dornelles são amigos de longa data.

Aqui? Jamais! No mesmo evento, programado para marcar o lançamento de nova linha de produção de cédulas, Denucci afirmou aos jornalistas: "Vocês nunca vão ouvir por aí notícia de que houve roubo aqui dentro".

Sou você amanhã O governo considera a pressão salarial vinda dos policiais militares em greve não apenas um problema em si, mas também um prenúncio de reivindicação semelhante por parte das Forças Armadas.

YouTube Em 2006, o candidato Jaques Wagner exibiu na TV o contracheque do atual líder da greve na Bahia, Marco Prisco, como forma de protestar por melhores condições para os policiais. Em 2010, Prisco já criticava o governador: "Trabalhamos na campanha dele, a tropa confiou na gente, e depois disso ele nos traiu".

Mal na foto Pesquisa à disposição do governo baiano indica que Wagner já está pagando a conta pelo surto de violência em Salvador e outras cidades na esteira da paralisação da PM.

Currículo Além do petista Nelson Pelegrino, candidato na capital, também a correligionária Moema Gramacho, prefeita de Lauro de Freitas, dividiu o megafone com os sindicalistas na greve realizada pela PM em 2001.

Barriga cheia PMs entrincheirados na Assembleia baiana receberam ontem 80 frangos assados, feijoada, dezenas de melancias e pencas de bananas. Enquanto almoçavam, um grevista gritou: "Alguém aqui quer voltar para casa?" Um "não" enfático e coletivo ecoou no recinto.

Nas alturas 1 Alvo de ralhos de Dilma no início de sua gestão, Wagner Bittencourt (Aviação Civil) colhe agora os dividendos da privatização dos aeroportos. O Planalto credita o aparente sucesso dos leilões ao ministro, ainda despachando em sede provisória e com estrutura enxuta no CCBB.

Nas alturas 2 O ágio nos pregões aumenta a pressão sobre Bernardo Figueiredo, da ANTT, encarregado de licitar o trem bala até outubro.

Maria da Penha Acusado de desviar R$ 280 milhões na Assembleia de Alagoas, o novo líder do PP na Câmara, Arthur de Lira (PP-AL), também é investigado por agressão à ex-mulher e por ameaças a um oficial de Justiça. O deputado chegou a ser preso, em 2008, por descumprir a decisão que o proibia de ter contato com a ex-mulher.

Oremos As declarações da futura ministra Eleonora Menicucci (Mulheres) em favor do aborto preocupam o QG de Fernando Haddad. A ala do PT ligada à Igreja Católica teme que o assunto, presente na disputa presidencial de 2010, volte à baila na campanha pela prefeitura.

Auditoria A PM paulista pediu que um promotor acompanhe as investigações de suposto abuso sexual que teria sido cometido durante a desocupação do Pinheirinho.

Abastecimento Depois de três dias de queixas de falta d'água na Campus Party, a Sabesp vai deslocar caminhões-pipa a partir de hoje ao Pavilhão do Anhembi, em São Paulo. A estatal montará tendas para atender os frequentadores da feira.

com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI

tiroteio

O 'reposicionamento' dos petistas em relação aos aeroportos nos livrou, para todo o sempre, do estelionato eleitoral em torno das privatizações.

DO SENADOR ALOYSIO NUNES (PSDB-SP), sobre os leilões de concessão

dos terminais de Guarulhos, Campinas e Brasília, cujos resultados foram comemorados pelo PT, que em época de campanha critica o modelo.

contraponto

Calor humano e escaldante

Nem bem chegou à Campus Party, o ministro Paulo Bernardo tirou paletó e gravata para suportar a inclemente temperatura paulistana de ontem. Ao abrir sua participação na feira, o titular das Comunicações, transpirando muito, agradeceu a receptividade do público:

-Percebo que neste ano o evento está mais caloroso... Acho que preciso de mais água!

A indústria brasileira vive de produtos importados - EDITORIAL O ESTADÃO

O Estado de S.Paulo - 08/02/12


O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou, recentemente, que a produção física da indústria em 2011 havia acusado um aumento de apenas 0,3%, muito menos do que se pode esperar de um crescimento do PIB estimado entre 2,8% e 3%.Trata-se de uma taxa de aumento inferior não só à do PIB (o que significa queda de participação da indústria na formação do PIB), como à da própria população. No entanto, segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o faturamento do setor teve aumento real de 5,1%, que certamente estará mais próximo dos dados sobre o crescimento das vendas varejistas.

Dada a grande diferença entre o aumento do faturamento real da indústria e o do volume produzido, a explicação mais plausível é de que a indústria passou a vender produtos cujo conteúdo importado é muito elevado e que o setor está, cada vez mais, se tornando apenas um montador de componentes produzidos no exterior.

A partir desse diagnóstico, é interessante examinar os resultados setoriais quanto ao faturamento real. De 19 setores incluídos no levantamento da CNI, apenas 9 apresentam aumento do faturamento real acima da média do setor (5,1%), com resultados bem diferenciados. Esses 9 setores são equipamentos de transporte, excluídos veículos automotores, com faturamento que cresceu 28,4%; material eletrônico e de comunicações (+20,6%); couros e calçados (+17,5%); produtos de metal (+13,2%); máquinas e equipamentos (+7%); produtos químicos (+6,7%); edição e impressão (+5,9%); veículos automotores (+5,5%); e máquinas e aparelhos elétricos (+5,4%).

São todos setores em que predominam as importações realizadas pela indústria, que se limitou a montar os produtos acabados. O setor mais ilustrativo é o de material eletrônico e de comunicações. Se examinarmos os setores que apresentaram piores resultados, encontramos alimentação (-0,4%); madeira (-1,9%); e têxteis (-9,2%) - justamente aqueles em que o Brasil tem um vantagem natural.

O setor industrial utilizou 80,6% da sua capacidade de produção em dezembro, ante 79,4% no mesmo período de 2010, um desperdício. As horas trabalhadas aumentaram 0,9%; o emprego, 2,2%; e a massa salarial, 5,2%; o que permite ocultar a grave crise que atravessa uma indústria que a cada ano importa mais para sustentar uma atividade em que os salários estão muito altos. Isso torna os produtos nos quais há muito conteúdo importado ainda mais caros do que nos países de origem. Cabe, pois, ao governo estudar uma política industrial que livre a produção nacional dessa armadilha.

BOLA NA TRAVE - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 08/02/12
Depois de recusar "proposta de R$ 220 milhões", o Corinthinas estaria prestes a fechar negócio para que uma grande empresa explore os "naming rights", ou o direito de batizar a arena do clube. Palavra de Andrés Sanchez, presidente licenciado do Timão. A oferta "bate nos R$ 400 milhões", diz o cartola. A Ambev está no páreo.

TRAVE 2

O Corinthians lançou pontes também para outras empresas que, como a Ambev, patrocinam o futebol na TV Globo. Uma delas, o Itaú. Isso facilitaria acordo para que a emissora citasse o nome de quem batizasse a arena na transmissão dos jogos. O clube já decidiu que não fechará negócio com nenhuma empresa concorrente das que bancam as partidas na Globo. O Itaú não comenta.

ESPUMA

E a Ambev iniciou investida para tomar o lugar da Heineken no patrocínio ao G-4, que reúne os grande clubes paulistas: Palmeiras, Corinthians, São Paulo e Santos. Está fazendo oferta para investir em centros de treinamento, salas de troféus, vestiários e gramados.

O problema é que, para isso, o G-4 teria que descumprir contrato com a holandesa. A Ambev não comenta.

PROFISSÃO DE RISCO
A atriz Tainá Müller posa com uma cobra de 2 m para a 'Alfa': 'Pra fazer coisas difíceis, crio uma fantasia e consigo superar meus temores'

13 TIMES E 7 NO BAnco
A lista de mulheres convidadas para a festa de Neymar, no domingo, tinha 150 nomes. O promoter Leonardo Cardoso, responsável pela "convocação", diz que "outras cem vieram me pedir, mas não pude colocar". O craque subiu no palco e cantou músicas de Alexandre Pires e Gusttavo Lima, além de funks como "Se Dormir Vai Tomar Dormindo" e "Que Isso Novinha?".

JOGO DURO

"Eu diria que é o [resort] Xangrilá do futebol", diz o técnico do São Paulo, Emerson Leão, sobre o novo CT (Centro de Treinamento) de Cotia. O time passou a primeira quinzena de janeiro lá antes de estrear a temporada, no domingo. "Quase 90% dos jogadores têm origem humilde. Quando viram o hotel, a casa caiu."

MÃOS AO ALTO

Uma nova modalidade de crime atemoriza moradores do Morumbi. Ladrões sequestram funcionários de casas de alto padrão, que normalmente possuem as chaves dos locais, e os obrigam a abrir os imóveis para roubá-los. Na semana passada, o motorista de uma família foi rendido. Um assaltante da quadrilha foi preso ontem, no 89º DP. Outros dois já foram identificados.

TROPA ELETRÔNICA

O diretor Marcos Prado, sócio de José Padilha, vai apresentar seu próximo longa, "Paraísos Artificiais", que se passa no universo da música eletrônica, na Rio Music Conference, neste mês.

Fará painel no próximo dia 16 sobre a produção e exibirá o trailer.

MERCHAN

No aniversário de Sabrina Sato, anteontem, no bar Louis, na rua Amauri, Fabiana Justus, filha de Roberto Justus, chegou com um presente em uma sacola grande de sua própria loja.

ZIGGY STARDUST

Uma grande exposição sobre a vida e a obra do cantor David Bowie desembarca no Brasil em 2013, no MIS (Museu da Imagem e do Som) de SP. A mostra será aberta antes no museu Victoria & Albert, de Londres.

SUBSTITUIÇÃO

A atriz Selma Egrei fará o papel de Lady Macbeth, que seria de Ana Paula Arósio, na peça "Macbeth". A estreia, prevista para o dia 18 de maio, no teatro Vivo, foi remarcada para 1º de junho.

UMA NOITE PARA PORTINARI

O cantor Milton Nascimento, a bailarina Ana Botafogo e a atriz Beatriz Segall se apresentaram na cerimônia de abertura da exposição "Guerra e Paz, de Portinari", anteontem. A família do artista, como a neta Maria Candida, e a ministra Tereza Campello foram ao Memorial da América Latina.

CURTO-CIRCUITO

Idália Almeida medeia debate com índios Mehinko hoje, às 15h, na Casa Amarela, nos Jardins.

A Osesp realizou ontem coquetel na embaixada brasileira em Londres para apresentar sua nova regente, Marin Alsop.

Mario Beni assume hoje a presidência do Conselho das Entidades Nacionais de Turismo, em cerimônia no Expo Center Norte.

O publicitário Fabio Fernandes promove hoje feijoada para o conselho criativo da Saatchi & Saatchi.

O Instituto Tomie Ohtake abriga hoje, às 19h, o lançamento do livro "Kimi Nii", com textos de Antonio Gonçalves Filho.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

O GLOBO - 08/02/12
Espanhola investe R$ 1 bi em setor metalomecânico do CE

Uma laminadora que demandará investimentos na ordem de US$ 600 milhões (cerca de R$ 1 bilhão) será instalada próxima à Companhia Siderúrgica do Pecém, no Ceará.

O aporte virá do grupo espanhol Añon. O Estado, que tem intenção de montar um polo metalomecânico na região, será sócio do empreendimento com 10%.

A expectativa da empresa é começar as obras em junho e, no futuro, adquirir matéria-prima da própria Companhia Siderúrgica do Pecém, formada pela Vale e pelas sul-coreanas Posco e Dongkuk Steel.

"Ainda não temos nada fechado, mas há essa intenção. E também há possibilidade de comprar de outras empresas", diz o conselheiro do grupo, José Manuel Fernández.

O grupo Añon já teve duas laminadoras, uma na Espanha e outra na França. Elas foram vendidas em 2007 por € 425 milhões (cerca de R$ 972 milhões).

À época, o grupo planejava instalar uma planta em Pernambuco. O projeto de expansão foi vendido com as outras duas fábricas. Também ficou determinado que a empresa não voltaria ao setor nos três anos seguintes.

As lâminas produzidas no Brasil devem ser vendidas no mercado interno, principalmente, para às indústrias eólicas e navais, de acordo com o conselheiro do grupo.

"Também estamos analisando um sócio no Brasil para montarmos uma fábrica de cimento. Estamos na fase de estudos técnicos e de terrenos", afirma Fernández.

NÚMEROS DA EMPRESA

€ 220 milhões foi o faturamento da empresa no ano passado, aproximadamente R$ 503,3 milhões

€ 240 milhões é o faturamento esperado pelo grupo espanhol para este ano, cerca de R$ 550 milhões

148 hectares tem o terreno onde a fábrica brasileira será instalada, na cidade de Caucaia (CE)

8 é o número de plantas industriais que o grupo tem na Espanha, todas do setor de ferro e aço

ACORDO MEXICANO

O governo começou ontem as negociações com técnicos do México para alterar o acordo automotivo com o país.

A primeira reunião, no Itamaraty, foi preparatória para encontros de hoje e amanhã.

Todo o processo de revisão do tratado automotivo deve durar até dois meses, segundo pessoas que acompanham as conversas.

O acordo será alterado por causa do elevado déficit comercial brasileiro com o país em veículos, que ultrapassou US$ 1,5 bilhão em 2011.

Preocupado com a possibilidade de o governo brasileiro "denunciar" o acordo, linguagem técnica para rompimentos, o presidente mexicano, Felipe Calderón, ofereceu à presidente Dilma Rousseff contrapartidas no acordo.

Entre elas, o atendimento a uma demanda antiga do Brasil, de incluir no acordo utilitários, ônibus e caminhões, produtos que ajudariam a equilibrar a balança comercial do setor.

Diversos modelos vendidos no Brasil são fabricados pelas montadoras no México, como o Fusion e New Fiesta (Ford), Fiat 500 e Freemont (Fiat), Jetta (Volkswagen), Captiva (GM) e March, Sentra, Tiida e Versa (Nissan).

Cultura... A Embaixada da Itália em Brasília, obra do arquiteto Píer Luigi Nervi, de 1975, abrirá suas portas. A partir de amanhã, será possível fazer visitas guiadas no local.

...italiana A iniciativa é parte do Momento Itália-Brasil, série de eventos programados até junho. As visitas poderão ser feitas na primeira e na terceira quinta-feira de cada mês.

Contingência deve aumentar por superavit de 3,1%, diz banco

O orçamento de 2012 adota um superavit primário de 2,5% do PIB, 0,6% do PIB inferior à meta. Ela é considerada cumprida graças à dedução de gastos do PAC.

Desde a aprovação do orçamento, as previsões para crescimento e inflação em 2012 caíram. Por isso, o contingenciamento de despesas poderá considerar projeção de receita menor.

"Um contingenciamento de R$ 47,1 bilhões seria o suficiente para assegurar o cumprimento da meta fiscal em 2012 (3,1%), diz Nilson Teixeira, economista-chefe do banco Credit Suisse.

Dadas as incertezas sobre a arrecadação, porém, seria recomendável que o governo anunciasse um corte de despesas mais expressivo, de cerca de R$ 60 bilhões, o que elevaria a probabilidade de cumprimento da meta integral de superavit, avalia.

"A decisão sobre o tamanho do contingenciamento de despesas passará também pela avaliação da presidente sobre o custo de contingenciar uma parcela importante de emendas parlamentares em ano de eleições municipais, em face aos benefícios de sinalizar, fortemente, uma política fiscal rígida."

TI EM XEQUE

A maioria das empresas (84%) não está "plenamente satisfeita" com a avaliação dos investimentos na área de TI, de acordo com estudo da Amcham (Câmara Americana de Comércio).

Entre as principais dificuldades encontradas pelas companhias estão a demonstração dos benefícios das ações implementadas (41%), o estabelecimento de indicadores confiáveis (30%) e a obtenção de informações internas para avaliação (18%).

A pesquisa foi realizada em janeiro passado.

Produção de plástico Um terço dos acidentes entre os trabalhadores da indústria de plástico ocorre devido ao manuseio inadequado do material de produção. O dado será divulgado amanhã em estudo do Sesi sobre o setor, que tem 11 mil indústrias e emprega atualmente 350 mil pessoas no Brasil.

TRABALHO LONGE DE CASA

Os brasileiros estão atrás apenas dos mexicanos entre os que mais gostariam de trabalhar fora do país por um período de dois a três anos, segundo levantamento da Ipsos feito em 24 países com 19,3 mil pessoas.

Entre os brasileiros, 32% se mostraram favoráveis à mudança. No México, esse número é de 34%. A média global, de acordo com a pesquisa, é de 19%.

O estudo também mostra que, no mundo todo, os funcionários com renda mais baixa (32%) são os mais propensos a temporadas de trabalho no exterior. Em seguida, aparecem os que têm pouca escolaridade (31%), os menores de 35 anos (30%) e os executivos seniores (29%).

A margem de erro da pesquisa é de 4,5 pontos percentuais para mais ou para menos.

COM JOANA CUNHA, VITOR SION, LUCIANA DYNIEWICZ E MAELI PRADO

Nova decolagem - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 08/02/12


Brasília é um aeroporto de 14 milhões de passageiros e é de conexão, por estar no meio do caminho entre as várias regiões do país. Agora, o aeroporto terá uma nova fonte de renda: a tarifa de conexão. Guarulhos, que tem hoje 30 milhões de passageiros, quando concluir o terminal 3 vai ter capacidade para 50 milhões. O presidente da Infraero, Gustavo do Vale, acha que é o começo de uma nova era.

A empresa está diante de uma série de desafios:

- Um estudo que fizemos mostra que em 30 anos nós teremos 30 milhões de passageiros não atendidos se não tivermos novos aeroportos. Isso significa faltar um aeroporto do tamanho de Guarulhos, no Brasil. Portanto, São Paulo terá que ter outro aeroporto, em alguma outra das grandes cidades do interior.

Neste momento pós-privatização dos três primeiros aeroportos, Gustavo do Vale diz que tudo está em análise. Funcionários da Infraero estão se preparando, por exemplo, para o desafio de serem integrantes de conselhos de administração:

- Estamos treinando alguns dos nossos executivos porque a Infraero até hoje era uma empresa monopolista sem associação com nenhum outro grupo. Agora teremos que nos sentar em conselhos de administração com outras empresas.

Quando era tudo da mesma empresa, a tarifa aeroportuária era cobrada apenas na origem, mas agora, com a diferenciação, haverá uma tarifa de conexão.

- Disso, quem se beneficia é, por exemplo, Brasília, que é o maior hub que liga Norte-Sul, Sul-Norte-Centro-Oeste. Terá uma nova fonte de receita, além de ter um potencial comercial enorme. Temos grandes áreas próximas ao aeroporto - afirma Gustavo do Vale.

Essa enorme área poderá ser explorada comercialmente porque passará a ser do consórcio que levou o Aeroporto de Brasília pagando 673% de ágio. Gustavo do Vale não quis entrar no mérito de discutir a qualidade do consórcio nem as dúvidas que se tem sobre a capacidade de o grupo tocar o projeto. Esta semana entra em análise a qualidade das garantias oferecidas pelos consórcios, que é a terceira fase do leilão, o que será feito pela Secretaria de Aviação Civil. Enquanto isso, a Infraero continua tocando as obras, mesmo em aeroportos vendidos:

- Os investimentos não podem parar, alguns são nossa responsabilidade pelos termos do edital. A terraplanagem do pátio do terminal 3 de Guarulhos tem que ser concluído até julho, concluindo um investimento de R$ 450 milhões. O comprador tem que fazer o resto. Em Brasília, há uma reforma que estamos terminando, mas os concessionários têm que concluir a ampliação do terminal. Esses dois são mais urgentes por causa da Copa.

A contradição de todo o processo é que a Infraero também pagará parte da conta que foi contraída pelos consórcios que elevaram o preço, apesar de terem sido vendidos ativos da empresa.

- Quem vai pagar será a Sociedade de Propósito Específico, que será formada pelo consórcio que comprou e a Infraero, e o custo dessa outorga será pago por esta SPE com a remuneração da operação do aeroporto - disse Gustavo do Vale.

Isso é uma evidente contradição. Mas ele argumenta que tudo irá para o fundo destinado a ter recursos para investir em outros aeroportos pelo Brasil. O risco, no entanto, é entrar no caixa único e virar superávit primário, como ocorreu com o Fust (Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações), que deveria ser usado para incentivar as telecomunicações no Brasil, mesmo nas áreas em que não há interesse comercial, e para aumentar a informatização das escolas.

Dos grandes aeroportos, faltam ainda o Galeão, no Rio; Salgado Filho, em Porto Alegre; Confins, em Belo Horizonte; Guararapes, no Recife, entre outros, mas nada ainda foi divulgado sobre qual deles irá a leilão. Tudo será decidido dentro do Plano de Outorgas, que será divulgado pela Secretaria de Aviação Civil, em março. Gustavo do Vale disse que não se conversou na Infraero sobre a venda de outros aeroportos, por enquanto, e que isso será decidido por instâncias superiores.

A Infraero terá que entrar com R$ 600 milhões do capital inicial das empresas que vão gerir os três aeroportos. Mas, segundo presidente da empresa, esse valor já está provisionado.

Entre os especialistas, continua havendo dúvidas sobre a capacidade de alguns consórcios, principalmente o de Brasília, mas ao mesmo tempo há a expectativa de que melhoras nos aeroportos aconteçam em pouco tempo. Sem as amarras do setor público, será possível tomar decisões mais rapidamente. Não porque o setor público seja incompetente, é que ele toma decisões mais devagar através de licitações, contratações, demissões e rompimentos de contratos. Tudo é mais lento com as amarras do setor público.

O presidente da Infraero não acha que o fato de o consórcio que comprou Guarulhos ser formado por fundos de pensão de estatais faz com que na prática o aeroporto continue estatal. Acha que o importante é que esta semana o setor aeroportuário entrou em novo momento, saindo do modelo em que eram todos geridos pela mesma estatal.

Há várias esquisitices no Brasil, como a que acontece com pequenos aeroportos que não são públicos, ou seja, não são usados pelas companhias aéreas, como os pequenos aeródromos instalados em resorts, por exemplo. Pela lei, eles não podem ter receitas, e obviamente têm. A partir da privatização dos primeiros aeroportos, tudo começou a mudar.

Flexibilização trabalhista é um bom remédio - SÉRGIO AMAD COSTA

O ESTADÃO - 08/02/12

Vários países da zona do euro, cada um à sua maneira, começam a se mexer visando a flexibilizar as relações trabalhistas para recuperar os empregos que foram perdidos com a crise atual. Portugal, que fechou o ano de 2011 comum a taxa de desemprego de 13,6%, saiu na frente.

Naquele país, reduziu-se o período de férias, de 25 para 22 dias por ano, e foram extintos quatro feriados nacionais. Quanto às horas extras dos empregados, ficou permitido às empresas administrarem um banco de até 150 horas anuais por trabalhador, no que tange aos contratos individuais. Desobriga-se, assim, de pagar horas extras, caso um funcionário trabalhe mais tempo em um dia, compensando uma jornada menor em outro dia. Nas negociações coletivas, foi elevado de 200 para 250 o limite de horas extras. E a indenização por demissões e do auxílio-desemprego foi reduzida de 30 para 20 dias por ano trabalhado, com teto de 12 salários.

A Espanha, que encerrou o ano de 2011 com uma taxa de desemprego de mais de 20%, conta com um mercado de trabalho extremamente rígido. Para reverter o quadro de desemprego, o governo procura, agora, negociar a redução temporária da jornada de trabalho e o custo do emprego. Também quer atrelar os salários à produtividade das empresas e do país, desvinculando-os do índice de inflação.

A França, que terminou o ano com uma taxa de desemprego na casa dos 9,1%, procura, entre outras reformas, estimular o emprego parcial. Para evitar mais demissões, a ideia é manter o empregado trabalhando menos, mas com um salário menor. Com o tempo livre forçado, o trabalhador participará de capacitação profissional patrocinada pelo governo. Há também propostas para desonerar a folha salarial.

A Itália, com uma taxa de desemprego que beira a 9%, também discute a flexibilização de suas relações trabalhistas. Em meio à "babel" de contratos de trabalho lá existentes, visa a alterar o sistema de demissões, reduzindo a diferença entre contratos que garantem empregos por toda a vida e os que estabelecem um curto prazo e são muito vulneráveis. Mudanças no sistema de previdência também estão em foco, comas ideias de reformas.

E nós, quando vamos começar a discutir para valer as necessidades demudanças na área trabalhista?

A situação do Brasil é bem diferente da apresentada hoje na zona do euro. Mas, com certeza, o País não está imune ao desemprego, caso a crise financeira internacional não seja amenizada num curto espaço de tempo.

O governo aqui agiu, no ano passado, desonerando a folha salarial do setor de tecnologia da informação (TI) e de algumas poucas áreas da indústria. Na área de TI a medida obteve êxito. Mas ficou só nisso. É muito pouco e em nada flexibilizou o nosso tão engessado sistema trabalhista. Pelo contrário, encerramos o ano engessando-o ainda mais, com a Lei n.º 12.551, de 15 de dezembro de 2011, sobre o trabalho a distância, o que vai gerar muita confusão.

A discussão sobre flexibilização aqui não ocorre porque, quando o Brasil está com a economia muito aquecida, parece que a sociedade não tem tempo para pensar nos entraves existentes no processo trabalhista. O foco fica apenas na produção para atender às demandas dos produtos e dos serviços. E, quando o País é atingido por uma crise financeira internacional, como ocorreu em fins de 2008 e durante o ano de 2009, os opositores da flexibilização argumentam que não há clima para negociar reformas. Então, às pressas, o governo adota medidas paliativas, emergenciais, que não evitam o desemprego.

Masa flexibilização das relações trabalhistas não é só para evitar o desemprego em momentos de crise, como se observa nas intenções dos países da zona do euro acima mencionados. Ela é imprescindível, também, para fortalecer o crescimento econômico em períodos de bonança financeira. Portanto, deveríamos considerar esse assunto prioritário para manter em bom estado a saúde da nossa economia.Flexibilizar é um bom remédio.

DILMA E SEUS 37 PILANTRAS AMESTRADOS


O fracasso do Uca Total - ELIO GASPARI

O GLOBO - 08/02/12


A doutora Dilma deveria mandar que sua Secretaria de Assuntos Estratégicos divulgasse o conteúdo do relatório final da "Avaliação de Impacto do Projeto UCA Total (Um Computador por Aluno)", coordenado pela professora Lena Lavinas, da UFRJ. Ele está lá, a sete chaves, desde novembro passado. A providência é recomendável, sobretudo agora que o governo licita a compra de até 900 mil tablets. Com 202 páginas, relata um desastre. A professora Azuete Fogaça, da Federal de Juiz de Fora, trabalhou na pesquisa e resume-o: "Boa parte dos computadores não foi entregue nos prazos. Outros foram entregues sem a infraestrutura necessária para sua adoção em sala de aula. O treinamento dos docentes não deu os resultados esperados. O suporte técnico praticamente inexiste. Os laptops que apresentaram problemas acabaram encostados em armários ou nos almoxarifados, porque não há recursos."

O programa UCA Total, lançado em 2010, comprou um laptop para cada um dos 10.484 alunos da rede pública de cinco municípios-piloto - Tiradentes (MG), Terenos (MS), Barra dos Coqueiros (SE), Santa Cecília do Pavão (PR) e São João da Ponta (PA). Uma equipe de onze pessoas acompanhou a iniciativa.

Os computadores chegariam a escolas equipadas com internet sem fio e professores capacitados colocariam a garotada no mundo novo da pedagogia informatizada. Em São João da Ponta, o sinal mal chegava à escola. Em Barra dos Coqueiros, chegava às praças públicas e, para recebê-lo, os estudantes saíam do colégio. Em Terenos não havia rede. Tudo bem, porque algum dia ela haverá de chegar. Até lá, alguns heroicos professores pagam as conexões de provedores privados com dinheiro dos seus bolsos.

Os laptops comprados pelo governo têm baterias para cerca de uma hora. Como as aulas duram cinco, como fazer para recarregá-los? (Uma tomada para cada carteira, nem pensar.) As prefeituras colocariam armários-alimentadores nas salas. Nem todos os municípios fizeram isso. Na Escola Estadual Basílio da Gama, em Tiradentes, não havia sinal, nem armários de recarga, e os laptops estavam encaixotados.

Deixou-se em aberto uma questão central: o aluno deve levar o computador para casa? Em três municipios, levavam. Num, foram instruídos a não trazê-los todos os dias.

Só metade dos alunos tiveram aulas para aprender a usar os laptops. Depois de terem recebido cursos de capacitação, 80% dos professores tinham dificuldade para usar as máquinas nas salas de aula. (Problema dos cursos, não deles, pois 91% tinham nível superior ou Curso de Especialização.) Uma barafunda. As escolas estaduais não conversavam com as municipais e frequentemente não se conseguia falar com o MEC ou com a Secretaria de Assuntos Estratégicos.

Não se diga que os laptops são trambolhos. A garotada adorou recebê-los e os professores tinham as melhores expectativas. As populações orgulharam-se da novidade. O problema esteve e está na gestão.

A única coisa que funcionou foi a compra de equipamentos. O professor Mario Henrique Simonsen, que conhecia o governo, ensinava: "Às vezes, quando um sujeito te traz um projeto, vale a pena perguntar: ´Qual é a tua comissão? Dez por cento? Está aqui o cheque, mas prometa não tocar mais nesse assunto.´"

O programa "Um Computador por Aluno" atolou, mas o governo dobrou a aposta, esquecendo-se da Lei de Simonsen

Um pacto pelo atraso - ROLF KUNTZ


O Estado de S.Paulo - 08/02/12


Saiu no Clarín: a presidente Cristina Kirchner pretende convencer o governo brasileiro a adotar sua política comercial, para deixar mais dólares no Mercosul e frear a busca de lucros das multinacionais na região. A intenção, segundo o jornal, é juntar o Brasil à "estratégia de fomentar o comércio intra-Mercosul em substituição ao externo". É mais uma ideia contrária aos objetivos iniciais do bloco, há muito tempo esquecidos pelos governos da região. O Mercado Comum do Sul foi concebido como projeto de integração regional e como plataforma de inserção global das economias brasileira, argentina, paraguaia e uruguaia. Não foi planejado como fortaleza para defender a produção regional da concorrência externa, mas como arranjo destinado a facilitar a criação de escala (pelo aumento do mercado), o aproveitamento do potencial de cada sócio (pela criação de cadeias produtivas) e a inserção competitiva nos mercados (pelos ganhos de produtividade e qualidade).

O Mercosul, portanto, foi uma concepção voltada para o futuro. A política dos Kirchners é voltada para o passado, assim como boa parte da impropriamente chamada política industrial brasileira. Esta política tem sido amplamente protecionista e pouco dedicada à superação das deficiências da economia nacional. Mesmo os itens aparentemente positivos, como a desoneração parcial da folha de pagamentos e o incentivo à inovação, continuam mal planejados e com alcance muito curto. No caso da desoneração, a política, além de restrita a poucos setores, ainda resulta no aumento de encargos para alguns segmentos. Quanto à inovação, falta muito para uma política bastante articulada e com potencial para envolver mais que as empresas já empenhadas em pesquisa e desenvolvimento.

Estudo recente com 40 grandes empresas - 30 nacionais e 10 estrangeiras - ressalta a pouca importância do mercado exterior e da internacionalização das companhias como determinantes da inovação. O foco está claramente no mercado interno.

"Mais do que a falta de cultura, a baixa inserção externa da empresa brasileira responde pelo seu tradicional atraso", escreveu o professor Júlio Gomes de Almeida, consultor do Instituto de Estudos do Desenvolvimento Industrial (Iedi) e ex-secretário de Política Econômica, em comentário sobre aquele estudo.

A "concorrência em mercados do exterior, muito mais do que a defesa do mercado interno, tem o poder de renovar e perpetuar a necessidade das empresas de atualizar produtos, elevar a produtividade e reduzir custos", acrescentou.

A relativa abertura da economia brasileira, hoje bem mais ampla do que até o começo dos anos 90, com certeza traz para dentro do País um pouco desse estímulo. A importação expõe o produtor nacional à pressão de concorrentes mais propensos a ganhos de eficiência e de qualidade por meio da inovação. Mas a pressão é certamente menor do que se esse mesmo produtor estivesse mais empenhado em conquistar fatias do mercado global e menos protegido por barreiras tarifárias e não tarifárias. A tendência protecionista do atual governo reforça a barreira contra aquela pressão competitiva, sem, no entanto, neutralizá-la.

O empresário instalado no Brasil enfrenta, é claro, muitos outros obstáculos, apenas parcialmente compensados pelo protecionismo - deficiências de infraestrutura, custos fiscais, insegurança, energia absurdamente cara, escassez de mão de obra adequada, etc. Se o governo cuidasse desses problemas, seria menos pressionado ou tentado a criar barreiras. Mas, nesse caso, as concepções seriam outras e a política seria mais voltada para a inserção externa.

Criado como instrumento de projeção global de quatro países, o Mercosul foi desvirtuado pela ação combinada dos Kirchners e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A mudança de rumo, oficializada quando o presidente Lula decidiu, como ele mesmo disse, "tirar a Alca da pauta", condenou o bloco a reduzir suas ambições e a se concentrar no jogo da divisão inferior, com a prioridade à chamada relação Sul-Sul. O fracasso na negociação do acordo com a União Europeia foi um desdobramento normalíssimo dessa decisão.

O acordo com os europeus, por alguma razão muito obscura, foi considerado menos odioso que um pacto com participação dos Estados Unidos. Mas o esforço deu em nada e isso se deveu, em boa parte, a obstáculos criados pelo lado argentino. O Mercosul jamais funcionou de fato como zona de livre comércio, embora seja, nominalmente, uma união aduaneira. Se o governo argentino conseguir mais uma vez enrolar o governo brasileiro e cooptar a presidente Dilma Rousseff, o compromisso com o atraso será reforçado. Só restará, nesse caso, caprichar ainda mais no protecionismo rastaquera, tirar o pó da substituição de importações e preparar o consumidor para produtos caros e vagabundos.

É a indústria... - ANTONIO DELFIM NETTO

FOLHA DE SP - 08/02/12


Em relação à política industrial ("Brasil Maior"), acreditamos que é razoável exigir cuidado sobre como executá-la num ambiente globalizado em que os produtos devem ser "mundiais" e cada país tenta criar uma plataforma de exportação. O que não é razoável é condenar, "a priori", qualquer política industrial apoiada na "teoria do equilíbrio geral", da qual não se pode extrair conclusões normativas.

Há um estado de guerra econômica entre três parceiros importantes, os EUA, a eurolândia e a China. Cada um deles usa como arma políticas industriais explícitas ou veladas, apoiadas na manipulação de suas taxas de câmbio.

Os EUA e a eurolândia utilizam suas políticas monetárias, e a China surfa uma espécie de "dollar standard", arbitrando a fixação de sua taxa à americana. Isso acabará num massacre do setor industrial dos países emergentes pela consequente tendência à valorização das suas moedas.

Quem ainda tem dúvida sobre o estado de guerra não deve deixar de ler o capítulo referente à política industrial dos EUA, contido no "State of the Union Address", que, todos os anos, o presidente americano apresenta ao Congresso no fim de janeiro.

"Pense -nos diz ele nas preliminares- na América que está ao nosso alcance. Um país que lidera o mundo na educação do seu povo. Uma América que atrai uma nova geração de indústrias de alta tecnologia e empregos bem remunerados. Num futuro no qual nós estaremos no controle de nossa própria energia, de nossa segurança, de nossa prosperidade e (sic) relativamente independentes das instabilidades do mundo. Uma economia construída para ficar, onde o trabalho duro vale o sacrifício e a responsabilidade é recompensada."

E continua: "Essa nova América começa com o setor industrial... Apostamos nos trabalhadores americanos. Apostamos na sua engenhosidade. Nesta noite, nossa indústria automobilística está de volta. Podemos trazer de volta também os empregos que foram exportados (para a China)".

A seguir explica como vai fazê-lo: 1º) modificar o sistema tributário que estimula a fuga industrial; 2º) aumentar os impostos das multinacionais que produzem no exterior; 3º) reduzir a tributação do setor de alta tecnologia; 4º) investigar as práticas comerciais de países como a China e 5º) reafirmar o projeto, que vai muito bem, de dobrar as exportações nos próximos cinco anos.

A mensagem é simples: "É tempo de pararmos de beneficiar quem produz no exterior e exporta emprego e de estimular os que criam emprego aqui na América". Não importa a avaliação dos economistas sobre esse programa. O que interessa é o que Obama vai fazer com ele...