sábado, dezembro 26, 2009
EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO
O ESTADO DE S. PAULO - 26/12/2009
É Natal, bimbalham os sinos e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se fantasia de Papai Noel dos pobres, distribuindo bondades a catadores de material usado e a moradores de rua. Ele aproveita a ocasião, como era previsível, para falar mal do bicho-papão de sempre, o rico insensível e egoísta. A festa natalina inclui - por que não? - uma breve malhação de Judas. Afinal, não há populismo sem a lembrança permanente de um inimigo do povo. Mas é hora de alegria. Desta vez o saco de bondades traz um incentivo fiscal para as empresas compradoras de resíduos, a promessa de habitações e uma ampliação do Bolsa-Família para moradores de rua. Os presentes são anunciados num discurso com farto conteúdo eleitoral. A cena prenuncia o estilo da campanha dos próximos meses.
O presidente estimula o auditório a apresentar reivindicações, sem medo e com pressa, porque dentro de um ano ele será um "rei posto". Há pouco tempo para a distribuição de bondades e para a formulação de promessas. Em dezembro de 2010 outra pessoa terá sido eleita para a Presidência. Há risco para o povo, mas também há esperança de continuidade: "Se for quem eu penso que vai ser, a gente pode trazer junto aqui para fazer promessa." Rei posto, sim - pois ele não se refere a si mesmo como "rei morto". O discurso é quase místico: "Não faço isso por bondade, faço isso porque está no meu sangue, nas minhas entranhas. Sei de onde eu vim e para onde vou voltar."
Quem se oporá, em princípio, à concessão de incentivo fiscal - crédito do IPI, neste caso - a quem converter resíduo em matéria-prima? Pode ser bom para o ambiente, para toda a sociedade e, de modo especial, para os catadores de lixo organizados em cooperativas. Falta saber se as empresas precisam desse estímulo para usar o material reciclável. É um detalhe técnico, mas disso o presidente não cuida. Não é assunto para comício. Seja qual for a seleção de materiais para uso incentivado, o lance eleitoral está feito.
Da mesma forma, a promessa de entrega de imóveis federais a moradores de rua não se cumprirá imediatamente. Foi formulada antes, pelo mesmo governo, e seu cumprimento mal começou, mas quem se lembra disso? Seja qual for a fidelidade aos compromissos, o presidente não tem motivo de preocupação. Sempre sobra um saldo político aproveitável e sempre se pode responsabilizar os inimigos do povo, se os benefícios não se concretizarem.
Mas pelo menos com dinheiro o presidente não tem de se preocupar. Todos os presentes prometidos no encontro com os catadores e moradores de rua são relativamente baratos. Mas não haveria grande problema, se fossem caros. O governo dispõe de uma enorme tributação para distribuir benefícios a setores e a grupos selecionados segundo seus critérios de conveniência - ou segundo seus interesses eleitorais.
Por isso o presidente Lula não admite discutir a redução da carga tributária. É indispensável, segundo ele, a um Estado forte. A alegação é falsa. Estados muito mais fortes que o brasileiro - mais eficientes na prestação de serviços e mais poderosos militarmente - são mantidos com impostos menos pesados. Em 2007, pelo menos 12 dos países da OCDE, o clube dos industrializados, tinham carga inferior à brasileira.
A excessiva tributação do Brasil é um fator de força não para o Estado, mas para o governante. Impostos pesados servem para pressionar, para ameaçar e para causar danos. Mas servem também para financiar a distribuição de favores, a cooptação de aliados e a competição eleitoral. Mesmo com a recessão e com a concessão de benefícios anticrise, a tributação brasileira continuou mais pesada que a da maior parte dos emergentes. Com a reativação, os incentivos desnecessários serão eliminados, anunciou o secretário do Tesouro, Arno Augustin. Estímulos distribuídos segundo o critério do governo poderão, de fato, ser dispensáveis a partir de agora ou em breve. Mas o problema essencial permanecerá: os produtores brasileiros são onerados por tributos incompatíveis com o investimento e com o aumento da competitividade. Se esses tributos forem reordenados de forma ampla e racional, o Brasil será um país mais forte. Mas o governante terá menos recursos para o exercício do arbítrio e do poder pessoal ou de grupo. O presidente Lula sabe disso e fez sua escolha.
ANCELMO GÓIS
Lobo Mau
O GLOBO - 26/12/09
Lula vai sancionar segunda uma nova lei de proteção ao meio ambiente.
Mas o ministro Edison Lobão, das Minas e Energia, quer que o presidente vete alguns artigos. Logo agora que Lula saiu de Copenhague consagrado como sincero defensor da causa verde.
Intolerância
Nestes dias natalinos, na casa noturna Ilha Acústico, em Vitória, duas clientes foram expulsas porque se... beijaram.
Foi dia 19. A turma presente - gays e, na maioria, simpatizantes - manifestou-se contra a intolerância, e a direção da casa foi radical: cortou o som e expulsou todo mundo.
Aliás...
Vitória tem antecedentes de intolerância.
Há seis anos, em outra casa noturna, a Pub 455, a turma GLS promoveu um beijaço contra o preconceito no local.
Sucessão aberta
Elie Horn e Rogério Zylbersztajn, sócios da Cyrela, de olho no futuro da construtora, bateram o martelo: em 2015, entregam seus cargos e vão para o conselho da empresa.
Já buscam sucessores.
Natal de Battisti
Cesare Battisti, deprimido, recebeu neste Natal a visita do advogado Luís Roberto Barroso, a quem deu o seguinte bilhete, escrito à mão, em português:
- Minha maior amargura não é ter sido condenado por crimes que não cometi, mas chamarem minha militância da vida inteira de crime comum.
É. Pode ser.
Livro do Natal
A Editora Sextante parou para fazer as contas no Natal: já vendeu no Brasil 250 mil exemplares de "O símbolo perdido", de Dan Brown, desde o lançamento aqui, há um mês.
Uma média de 347 exemplares por hora.
Na gaveta
Um especial da TV Globo que homenagearia as cinco Copas conquistadas pelo Brasil, chamado "Esquadrão de Ouro", foi para a gaveta.
Os astros de 1970, Pelé, e 2002, Ronaldo, não acertaram suas participaçõe$$$$$.
'BBB' aéreo
O Ministério da Justiça e a Secretaria de Ordem Pública do Rio negociam a compra de dois aviões israelenses não tripulados para monitorar a orla carioca e o crescimento de favelas em 2010.
O avião serviria também para vigiar grandes eventos e conferir questões ambientais.
Nem no Natal
A produtora Anna Barroso fazia compras de Natal estes dias, por volta de 18h30m, nas Lojas Americanas do shopping Rio Sul, quando... "Pega ladrão!" Surrupiaram sua sacola de presentes.
Depois de esperar duas horas pelo gerente, ouviu apenas que deveria ir à polícia. A produtora registrou o caso na 10ª DP.
A primeira rainha
Nanana, passista que, em 1972, foi a primeira a desfilar à frente dos ritmistas, e é considerada, por isto, a primeira rainha de bateria, será homenageada pela Mangueira em 2010.
Virá no carro abre-alas da escola presidida por seu filho Ivo Meirelles.
Diogo e a Globeleza
Diogo Nogueira vai interpretar o samba, de autoria de Jorge Aragão, que conduz a evolução da Globeleza nas chamadas de carnaval da TV Globo este ano.
Desfalque
O Jogo das Estrelas no Maracanã, amanhã, terá Zico, Adriano, Romário, mas entrará desfalcado de... Sérgio Cabral.
O zagueiro Cabral foi vetado por causa de uma contusão, domingo passado, na pelada que jogou na Praia de Copacabana.
JOSÉ SIMÃO
Neste Natal, um amigo saiu do armário, outro fez um "avicídio': matou o peru e afogou o ganso
BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O Esculhambador Geral da República! Direto do País da Piada Pronta!
FERNANDO RODRIGUES
Os nanicos
BRASÍLIA - Poucos prestaram atenção, mas TVs e rádios interromperam suas programações para que o obscuro PT do B desse seu recado na noite da véspera de Natal.
Foram cinco minutos pagos com o dinheiro dos contribuintes, pois as emissoras abatem parte do prejuízo com essas transmissões na hora de pagar impostos.
No início do mês, o PT e o PSDB também tiveram seus programas em rede nacional -dez minutos cada um, o dobro do tempo do PT do B. Há uma disfunção nessa divisão.
O partido nanico recebeu apenas 0,3% da votação para deputado federal na eleição de 2006. Já petistas e tucanos tiveram 15% e 13,6% dos votos, respectivamente.
De todas as anomalias político-partidárias, uma das mais perversas é o chamado horário "gratuito" em rádio e TV. Uma massa de desconhecidos, com inserção minúscula no eleitorado, aparece regularmente propondo aerotrens e outras excentricidades. Muitos programas servem apenas de boca de aluguel para políticos alienígenas atacarem adversários.
Tudo começou por uma razão nobre. A ditadura militar (1964-85) destruiu os partidos. Na volta da democracia, os novos agrupamentos políticos pressionaram para ter acesso ao rádio e à TV. Fazia sentido. Era necessário um canal de comunicação com a sociedade. Passaram-se 30 anos e a benemerência permanece intacta. Alguns partidos se consolidaram. Outros sumiram. A maioria, nanica, vive de sugar o dinheiro público.
Seria errado proibir a formação das microssiglas. Mas é um desrespeito ao eleitor dar a essa minoria um tratamento incompatível com os votos recebidos nas urnas. Basta uma lei para limitar essa farra no rádio e na TV. Embora tecnicamente simples, nenhum governo se atreve a tratar do assunto. É sempre útil ter essa turma à disposição quando é necessário falar mal de alguém numa campanha.
ELIANE CANTANHÊDE
Brasil agora enfrenta ''risco de país grande'', diz Jobim - ENTREVISTA
FOLHA DE SÃO PAULO - 26/12/09
Ministro da Defesa afirma que perdedores da disputa para fornecer caças podem retaliar
Jobim diz que "americano tem mania de achar que a América Latina é uma coisa só" e defende relação com os EUA "no mesmo nível"
O ministro da Defesa, Nelson Jobim, admite a hipótese de retaliação política dos perdedores do programa F-X2, de renovação de 36 caças da FAB, e avisa que o Brasil tem de estar preparado para elas. "Pode haver questões políticas que você tem de saber administrar. Quando você faz opções, sempre pode ter problemas. Isso é risco de país grande, e só vamos ficar sabendo depois", disse ele à Folha.
Deixando claro nas entrelinhas a opção pelo Rafale, da França, que concorre com o Gripen NG, da Suécia, e o F/A-18 Super Hornet, norte-americano, Jobim disse ainda que chamou a Aeronáutica para mudar as regras da indicação técnica. Segundo ele, foi porque "a transferência de tecnologia passou a ser prioridade". Depois de 34 viagens internacionais no ano, disse que a América Latina deve ter uma relação com os EUA "no mesmo nível, não de baixo para cima". Neste ano, firmou o maior acordo militar brasileiro na história recente, comprando R$ 22 bilhões em submarinos e helicópteros franceses.
FOLHA - Por que investir bilhões em armamentos num país como o Brasil, com tanta coisa por fazer?
JOBIM - Não é investir em armamento, é investir em desenvolvimento. Tudo o que a gente está fazendo em relação à Marinha e à Aeronáutica diz respeito à construção no Brasil de submarinos, de helicópteros e futuramente de caças. Um brutal avanço tecnológico, porque a empresa estrangeira associa-se a empresas nacionais e produz no país, formando técnicos, gerando expectativas, criando empregos, o diabo a quatro. Toda a alta tecnologia se desenvolve primeiro na área militar, só depois vai para a área civil.
FOLHA - E para que um submarino nuclear?
NELSON JOBIM - O território imerso do Brasil tem 4,5 milhões de quilômetros quadrados e, numa faixa de Santa Catarina até o Espírito Santo, há a maior riqueza submersa do país. É preciso dissuasão.
FOLHA - Por que não usar os submarinos convencionais, que têm manutenção muito mais barata?
JOBIM - O submarino convencional tem uma estratégia de posição, ele vai a profundidades muito grandes, mas desenvolve velocidade baixíssima. Já o de propulsão nuclear tem estratégia de movimento e chega a até 60 km/hora. Para nosso litoral, não é possível escolher um ou outro, tem de ser um e outro.
FOLHA - Ao perseguir liderança internacional e os projetos na área nuclear, o Brasil caminha para modificar a Constituição e ter condições de construir a bomba, como desconfiam diplomatas estrangeiros?
JOBIM - Nem pensar. Isso é cogitação de diplomata que chega sem saber nada sobre o Brasil.
FOLHA - O governo deixou a decisão dos caças para 2010 porque os franceses não estão cumprindo as promessas de Nicolas Sarkozy?
JOBIM - O problema todo é esse: havia uma decisão política de prosseguir a aliança estratégica com a França e havia um processo de seleção estabelecido pela Aeronáutica, que chegou aos três finalistas. A análise que tem de ser feita é quanto à plataforma, que significa basicamente o avião; à transferência de tecnologia; à capacitação nacional; ao preço e, finalmente, ao custo do ciclo de vida. A FAB faz a análise quanto à plataforma e sua adequação às necessidades do país e informa as tecnologias que as empresas estão oferecendo, inclusive detalhando as regras de cada país para aquela tecnologia.
Aqui, surge o seguinte: a França desenvolve toda a tecnologia do seu avião, depois tem a Boeing, em que toda a produção é norte-americana, e, por fim, a Saab, sueca, que tem produção americana, que é o motor, e outras europeias.
Então, tem de verificar a regra para transferência de tecnologia de cada uma dessas coisas. Não podemos iniciar o desenvolvimento de tecnologia no país e ser surpreendidos lá adiante por um embargo.
FOLHA - A FAB apresentou um relatório e o sr. devolveu, pedindo mais explicações?
JOBIM - Eu disse a eles o que eu queria. O que eles tinham era uma modelagem que vinha desde a época do governo passado, a da Copac [Comissão Coordenadora do Programa Aeronave de Combate], e eu disse ao brigadeiro [Juniti] Saito [comandante da Aeronáutica]: "Olha, mudou a modelagem. Não é mais essa aí".
FOLHA - Foi uma forma de pedir para refazer o resultado e evitar um favorito que contrariasse a preferência do presidente?
JOBIM - Isso é presunção sua, conclusão de jornalista, partindo do pressuposto de que montei tudo para chegar à conclusão que eu quero. Não é nada disso. Quero chegar ao seguinte: isso aqui é que determinará a conclusão e não a conclusão que vai impor isso. Entendeu?
FOLHA - Não está se mudando na reta final uma regra e uma comissão que vêm há muitos anos, aliás, muito antes do governo FHC?
JOBIM - É que você teve, no meio do caminho, uma coisa que não tinha antes, a Estratégia Nacional de Defesa, que interfere em tudo, transforma a transferência de tecnologia em prioridade.
FOLHA - Na prática, o sr. vetou a FAB de indicar o favorito?
JOBIM - Não vão indicar mesmo, quem decidirá é o governo.
FOLHA - O risco de não saírem os caças é zero?
JOBIM - Praticamente zero. O presidente decide em janeiro e depois vem a negociação do contrato, que pode levar uns dois meses, como na Marinha.
FOLHA - Não é preocupante pendurar todas os contratos e equipamentos num único país fornecedor?
JOBIM - A premissa é falsa, antiga. Confunde compra de oportunidade com capacitação nacional. Se você simplesmente compra alguma coisa que não sabe fazer, sim, você fica na mão do fornecedor. Antes era assim, o que exigia uma diversidade enorme de fornecedores e o preço da logística ficava uma barbaridade. Hoje, com a premissa da capacitação nacional, é melhor produzir um tipo só, porque reduz o custo.
FOLHA - É uma defesa dos Rafale, já que os contratos são todos com a França?
JOBIM - É a defesa de quem transferir tecnologia.
FOLHA - É possível algum tipo de retaliação dos perdedores? Jurídica, por exemplo?
JOBIM - Não, porque não é uma licitação, é um processo de seleção, ou seja, com dispensa de regras previstas na 8.666 [Lei das Licitações]. Bem, pode haver questões políticas que você tem de saber administrar. Evidentemente, isso pode acontecer em qualquer hipótese. Se você escolher o Gripen, pode ter problemas com os franceses e os americanos. A mesma coisa se for o F-18. Quando você faz opções, sempre pode ter problemas. Isso é risco de país grande, e só vamos ficar sabendo depois.
FOLHA - Qual o foco de reequipamento em 2010?
JOBIM - Na Marinha, nós temos interesse em navios de patrulha oceânicos, logísticos e costeiros. A Itália e a Ucrânia vão mandar gente aqui em janeiro. No Exército, o presidente autorizou R$ 43 milhões para o início do projeto do blindado sobre rodas para substituir o Urutu. A princípio, vai se chamar Guarani. Na Aeronáutica, o FX-2. E, em comum para os três, o satélite de monitoramento.
FOLHA - A nova lei de Defesa é para preparar as Forças Armadas para agir em crises urbanas, como no Rio?
JOBIM - No Exército não muda nada, porque desde 2005 ele ganhou competência de patrulhamento, revista e prisão em flagrante em caso de crimes ambientais e transfronteiriços. O que faz a nova lei? Autoriza a Aeronáutica e a Marinha a poderem fazer o mesmo.
FOLHA - Como foi a conversa com o secretário-adjunto para o Hemisfério Sul, Arturo Valenzuela?
JOBIM - Muito boa. Eu defendi que os EUA se reapresentassem à América Latina, e a reapresentação passa pela relação com Cuba. O problema americano qual é? Não é o caso dele, mas americano tem mania de achar que a América Latina é uma coisa só, e não é. Mostrei a ele que nós queremos criar uma região de paz e ter uma relação com os EUA no mesmo nível, não de cima para baixo.
FERNANDO DE BARROS E SILVA
Os bem-amados
SÃO PAULO - José Roberto Arruda, tucano de outrora e ex-DEM, agora sem partido, é o governador-panetone, mas o troféu Uva Passa ficou com Yeda Crusius, do PSDB do Rio Grande do Sul. Ela conseguiu a proeza de figurar atrás do colega do Distrito Federal, em último lugar no ranking produzido pelo Datafolha a partir da avaliação popular dos governos em dez Estados.
A comparação entre desempenhos administrativos em diferentes Estados pode ter algo de arbitrário, mas saber que a sociedade do Sul é mais organizada ou foi mais à escola do que os candangos do DF não refresca muito a vida de Yeda. O fato é que os gaúchos hoje parecem pôr em dúvida a capacidade da tucana para administrar uma penteadeira.
O caso de Arruda é até mais acintoso. Sua simples presença no ranking já incomoda. É o tipo de participação que "avacalha" qualquer jogo democrático. Às pessoas de boa-fé, soa escandaloso que Arruda ainda esteja no cargo, assinando papéis, dando ordens "administrativas", gerindo o dinheiro público, distribuindo seus "panetones".
Papai Arruda Noel antecipou o pagamento do funcionalismo, liberando cerca de R$ 248 milhões, como forma de obter apoio para se segurar no cargo. E conseguiu protelar para janeiro a análise do seu impeachment na Câmara Legislativa.
Conforme se distancia da política nacional -carta fora do baralho- e se isola, Arruda amplia paradoxalmente a chance de se salvar, ainda que relegado à sarjeta moral.
O Distrito Federal se tornou nas últimas semanas uma espécie de Sucupira pós-moderna, com seus personagens corruptos e seu enredo meio fantástico. É incrível que a capital da República tenha se convertido em pastiche tardio da telenovela que há mais de 30 anos alegorizava a corrupção e a politicalha dos coronéis no interior do país.
E para quem ainda desconfia da atualidade de Odorico Paraguaçu, o Bem-Amado, vem aí Joaquim Roriz, o padrinho de Arruda, favorito nas pesquisas para o DF em 2010.
MÍRIAM LEITÃO
Tribos e eventos
O GLOBO - 26/12/09
“Combata a nudez” era o meu grupo favorito de manifestantes em Copenhague. Tinha o “Be Veg”, que garantia: o vegetariano emite 70% menos C02.
Tinha defensores de animais ameaçados, no topo, o belo urso polar. As grandes ONGs tinham bandeiras macro. Mas o “Fight nudity” era guerreiro.
Um dia, estavam de cuecas na porta do Bella Center, num frio glacial.
Os entrantes eram saudados pelo grito de guerra: — Fight nudity! Fight nudity! — berravam, pulando na vestimenta sumária.
Não salvaram o mundo, mas divertiram os que enfrentavam os desafios da entrada diária no centro de convenções superlotado da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-15). O metrô exibia o filme da ONG: dois funcionários se encontram numa empresa. Um diz: “Você veio nu?”. O outro: “Com esse aquecimento global, cada dia tenho que tirar uma peça de roupa, por isso decidi assumir.” Voltei ao assunto Copenhague para falar de duas coisas: o papel das ONGs, e que lições pode tirar de lá um país que se prepara para hospedar dois grandes eventos: a Copa e as Olimpíadas.
Dentro do Bella Center, as várias ONGs faziam manifestaçõesrelâmpago que capturavam a atenção pela criatividade.
Mas engana-se quem pensa que aquele teatro, os gritos nas passeatas ou na porta do Bella Center eram o resumo da atuação das organizações não governamentais.
O maior trabalho era silencioso. As grandes ONGs como Greenpeace, WWF, Oxfam tinham dezenas de técnicos dentro do centro de convenções com uma extraordinária capacidade de saber o que se passava e especialistas em todas aquelas complicações técnicas.
A burocracia internacional do clima criou um mar de siglas, uma montanha de detalhes técnicos e uma floresta impenetrável de mecanismos.
Não dá para se mover nesse planeta sem os técnicos das ONGs. Saíam documentos e rascunhos sucessivos.
Para entender o que significava cada colchete, cada número, cada sutileza era preciso recorrer aos tradutores especializados.
Da metade para o fim da Conferência foram sumindo os técnicos, os especialistas.
A gente ligava, e eles diziam que não tinham conseguido entrar no Bella Center. E aí chegamos ao segundo assunto da coluna: o colapso logístico provocado pela incapacidade dos dinamarqueses ou da ONU, ou de ambos, de dimensionar o evento.
O metrô de Copenhague é uma maravilha. No sinal luminoso, o aviso aparece: Vanloose em três minutos. Podia contar, em dois minutos e meio estava chegando o trem para Vanloose. Meio minuto para o pessoal se acomodar e saía o metrô na hora certinha para a próxima estação. Tudo muito bem, até que chegaram os bárbaros: nós.
Credenciados para a COP eram 45 mil. Mais o pessoal de apoio, a cidade explodiu.
Isso já se sabia quando meses antes do evento não se achava um único quarto em hotéis na cidade. A saída boa foi ver a lista de imóveis para alugar, no próprio site da ONU. O meu locador, Rasmus Grei, era um jovem de 21 anos, fazendo MBA. Já veio ao Brasil e se apaixonou. Sua casa é decorada com uma foto do Rio em cima da cama, uma das Cataratas do Iguaçu, na sala, e uma miniatura do Cristo Redentor, na estante.
Quando ele pretende voltar ao Brasil? Em 2014 ou 2016.
Isso nos remete ao que não fazer na Copa ou nas Olimpíadas.
O pior erro é subdimensionar.
No caso da COP, isso produziu uma quantidade de desconforto indescritível.
Tínhamos que ir cedo para o Bella Center, do contrário a entrada poderia significar horas nas filas a zero grau. Dependendo do número de manifestantes, ou de pessoas tentando entrar, tudo podia acontecer. O negociador brasileiro Luiz Alberto Figueiredo ficou preso na multidão, e até Rajendra Pachauri, o presidente do IPCC, o grupo dos cientistas da ONU, teve dificuldades para entrar. Isso vira enorme propaganda negativa.
No começo da segunda semana, o metrô deu sinais de que não conseguia digerir tanta gente. Um dia, fui carregada pela turba de passageiros para dentro do vagão e lá fiquei empacotada.
A massa compacta lembrava os trens do subúrbio do Rio. O metrô é tão preciso que trens em direção contrária compartilham o mesmo trilho.
— Eu precisei de dois dias para entender isso, que no mesmo lado da estação podem passar trens que vão em direção opostas — me disse um americano.
Uma noite, Sônia Bridi esqueceu a mala com computadores e equipamentos pessoais dentro do metrô.
Ligou para a central. Eles disseram que não tinham condutores, mas que ela ficasse na estação que a mala voltaria. Voltou.
Com tal logística de precisão, o metrô às vezes informava que o trem estava atrasado e sem previsão. Tudo preparado pra funcionar e muita coisa deu errada. A segurança era errática. Houve um dia, quando vários chefes de Estado já estavam lá, que colocaram detectores de metais na entrada do centro de imprensa, avisaram que homens e mulheres teriam que dividir o mesmo banheiro — o dos homens havia sido trancado — e decretaram que jornalistas só poderiam sair do centro acompanhados por policiais.
Uma hora depois, desistiram de tudo, tiraram os detectores e abriram o banheiro dos homens.
A comida dentro do Bella Center era indigente. Eles entregaram para um monopólio que oferecia os mesmos dois sanduíches em cada ponto de venda, as mesmas três opções de almoço.
Por isso fez tanto sucesso quando o capitalismo chegou na forma de uma carrocinha de cachorro-quente.
Filas enormes se formavam na frente do que foi — na opinião do jornalista Andrei Netto, do “Estadão” — o “único consenso da COP15”. Lá, um dia vi até o poderoso Yvo de Boer, o secretário-executivo da Convenção do Clima, combatendo sua fome.
ARI CUNHA
Está se aproximando o fim do ano. As festas foram alegres para uns e dramáticas para outros. Nem tudo foi alegria. O papa Bento XVI viveu surpresa. Uma senhora em Roma interrompeu a Missa do Galo. Seguranças acudiram rápido. O papa também caiu. Liberto, continuou a celebração do nascimento de Cristo. O susto ficou. Harmônico, Bento XVI continuou a jornada. Esse é o pensamento da experiência do líder religioso. Só se morre uma vez. Estamos vivos. Vamos festejar o Natal. O espanto de quem via a missa em todos os países logo teve fim. Não se alterou em nada o cerimonial da festa.
A frase que não foi pronunciada
“O STF usou dois argumentos para liberar Roger Abdelmassih. A sociedade tem 56 para mantê-lo atrás das grades.”
Pensamento de uma das vítimas do médico.
Esporte
Brasil entra no sistema de preparar os jovens. Mundial de futebol começa a se desenvolver desde tenra idade. Quando chegar o dia, dos 5 mil meninos e meninas, pelo menos 50 estarão prontos para representar o país. Indica que teremos vencedores.
Barretão
Solidaridade de gente de todos os países com a dor sofrida pela família do Barretão. Mensagens do mundo inteiro estão chegando ao Rio. Lucy e Luiz Carlos Barreto Borges sentem a dor de ver o filho Fábio entre a vida e a morte depois de um acidente de carro.
Fernando Collor
Ex-presidente da República é amaldiçoado por muita gente do Brasil. Falta reconhecimento pelo trabalho instituindo o progresso na indústria automobilística, uma das vencedoras com a campanha “carroças na rua”. Hoje, quando surgem cabelos brancos, reconhece que houve falta de participação que unisse os Três Poderes como em nossos dias.
Funcionários
Sabendo que o grosso está entre funcionários, o governo da República promove concursos. Nomeações livres também. Até 2010 serão contratados 47.335 só no Executivo.
Maldosos
Foi Aécio Neves dizer que paulista gosta de conversa e não de decisão, para abandonar a candidatura a candidato a presidente da República e a política se desfazer. PT avança, conquistando novos líderes.
Desvio
INSS descobre dinheiro que está sendo desviado. A Receita Federal participa do movimento, dando informações oficiais. Para o ano, vai aumentar. Há profissionais liberais dando certidão de serviços prestados. O CPF tem auxiliado no fechamento ao cerco no próximo ano.
CTIS
A CTIS é grande firma de eletrônicos de Brasília. O crescimento e áreas de venda entenderam como melhor esclarecer o assunto. Fácil para compradores, e difícil de aproximação com os corretores de imagem.
Dívida popular
No próximo 1º de janeiro a vida se transforma. Até 14 de abril, o cidadão vai trabalhar só para pagar os impostos do governo. Poço sem fundo a arrecadação de tributos no país.
Armas
Prorrogado o prazo para registro de armas. Cidadão pode ser pacífico. Se possuir armas, tem prazo para não ser preso. Nos morros, a lei é ditada pelos contraventores. Além de permanecerem fazendo o policiamento, infratores contam com batalhões de associados para deixar sempre a polícia em maus lençóis.
História de Brasília
Estão se assustando à toa, os funcionários do Executivo, em torno da “dobradinha”. O presidente já sabe que há muita injustiça, como a do contínuo que ganha oitenta contos, e a do médico que ganha 44 mil cruzeiros. (Publicado em 21/2/1961)
PAUL KRUGMAN
Novidades reconfortantes
O ESTADO DE SÃO PAULO - 26/12/09
Perdoem-me por lhes contar uma versão no futuro próximo de "Um Conto de Natal", de Charles Dickens. Ela começa com notícias tristes: o jovem Timothy Cratchit, vulgo Tiny Tim, está doente. E seu tratamento custará bem mais do que seus pais podem pagar do próprio bolso.
Felizmente, nossa história se passa em 2014, e os Cratchits têm seguro-saúde. Não de seu empregador: Ebenezer Scrooge não paga benefícios a empregados. E alguns anos antes, apenas, eles não teriam tido condição de comprar o seguro por conta própria porque Tiny Tim tem uma condição pré-existente e, de qualquer modo, os prêmios estariam foram do seu alcance.
Mas a lei de reforma sancionada em 2010 proibiu a discriminação do seguro com base no histórico médico e também criou um sistema de subsídios para ajudar as famílias a pagarem pela cobertura. Mesmo assim, o seguro não fica barato - mas os Cratchits o têm, e estão gratos. Deus nos abençoe a todos.
Certo, isso foi ficção, mas haverá milhões de histórias reais como essa nos próximos anos. Por imperfeita que seja, a legislação que o Senado aprovou na quinta-feira e provavelmente, numa versão ligeiramente modificada, deverá se tornar lei em breve, fará dos EUA um país muito melhor.
Sendo assim, por que há tanta gente reclamando? Há três grupos principais de críticos.
Primeiro, há a direita maluca - uma franja lunática que não é mais uma franja mas se deslocou para o centro do Partido Republicano. No passado, havia um entendimento geral na política americana de que os grandes partidos ao menos fingiriam se distanciar de extremistas irracionais. Mas essas regras já não são operacionais.
Uma segunda posição de oposição provém do que vejo como o bloco do "Báá, Mentira": os críticos fiscais que rotineiramente emitem advertências sobre o aumento da dívida. Por direito, esse bloco devia encontrar muita coisa para gostar na lei de saúde do Senado, que o Escritório de Orçamento do Congresso diz que reduzirá o déficit, e que faz mais para o controle de custos que qualquer um já tentou no passado.
Mas, com poucas exceções, os críticos fiscais não tiveram nada de bom para dizer sobre a lei. E, no processo, revelaram que sua alegada preocupação com déficits é, bem, mentira.
Por último, tem havido oposição de alguns progressistas que estão descontentes com as limitações da lei. Alguns não admitiriam menos que um sistema completo single-payer (em que o governo paga a assistência e o setor privado fornece o serviço) tipo Medicare. Outros apostavam na criação de uma opção pública para competir com as seguradoras privadas. E há queixas de que os subsídios são inadequados, que muitas famílias ainda terão dificuldade de pagar pela assistência médica.
Diferentemente dos outros dois tipos de reclamantes, os progressistas decepcionados têm queixas válidas -mas não constituem um motivo para rejeitar a lei.
A verdade é que não há uma maioria no Congresso a favor de algo como o single-payer. Há uma estreita maioria a favor de um plano com uma opção pública moderadamente forte. A Camara aprovou um plano assim. Mas do jeito como funcionam as regras do Senado, é preciso 60 votos para fazer quase tudo, impondo limites estreitos para o que pode ser aprovado.
Se os progressistas quiserem mais, eles terão de fazer da mudança dessas regras do Senado uma prioridade. E, a longo prazo, terão de trabalhar para eleger um Congresso mais progressista. Até lá, contudo, a lei que o Senado acaba de aprovar, com alguns ajustes, é o que a liderança democrata pode obter. E com todos seus defeitos e limitações, é uma grande conquista.
Paul Krugman é Nobel de Economia
RUY CASTRO
Vida de fantasia
E havia quem sonhasse com o estúdio de Walt Disney. Não com um parque de diversões, como a Disneylândia, que ainda não existia, e muito menos a Disney World, mas com o estúdio mesmo, onde nasciam os grandes personagens, de Pateta ao Zé Carioca e à Maga Patalójika. Bem, um sujeito chamado Roy Disney realizou essa fantasia.
É verdade que ele era sobrinho de Walt e filho de Roy Sr., o irmão encarregado de podar os delírios de Walt alegando que não havia dinheiro. O fato é que Roy Jr., nascido em 1930, teve o estúdio como seu playground e presenciou tudo que aconteceu ali: “Branca de Neve”, “Pinóquio”, “Cinderela”, “Bambi”, “Peter Pan”.
Era o primeiro menino do planeta a conhecer os desenhos que seriam a paixão de milhões. Às vezes, era até chamado para aprová-los, isto quando não o convocavam para servir de modelo para certos movimentos e posições. Pois nem assim Roy Jr. foi feliz: o estúdio era um atroz arranca-rabo entre seu tio e seu pai e, quando ambos morreram, os acionistas se apossaram.
Ele próprio se afastou da empresa em 1977 e só voltou muito depois, como último representante do nome Disney. Morreu outro dia, aos 79 anos, certo de que a vida nas corporações está mais para o João Bafo de Onça do que para o Pluto.
PAINEL DA FOLHA
Cunha Lima, o outro
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SÃO PAULO - 26/12/09
A Justiça da Paraíba julga no próximo dia 7 recurso do ex-deputado federal Ronaldo Cunha Lima (PSDB), que há dois anos renunciou ao mandato para perder o foro privilegiado e assim fugir de julgamento no Supremo pelo atentado a tiros, em 1993, contra o ex-governador Tarcísio Burity. O tucano quer agora afastar o juiz estadual que brecou tentativas de anular provas já aceitas pelas cortes superiores.
Em 2007, a renúncia de Cunha Lima (pai de Cássio, governador cassado) foi definida como "escárnio" pelo ministro Joaquim Barbosa e apontada pelo ministro Cezar Peluso como precedente para réus do mensalão. Trata-se, porém, de hipótese distante, pois o mensalão deverá ser julgado apenas em 2011.
Sondagem. Os advogados de José Genoino (PT-SP), Luiz Fernando Pacheco, e de João Paulo Cunha (PT-SP), Alberto Toron, negam que seus clientes pretendam seguir o exemplo de Cunha Lima. Mas Pacheco diz ter sido procurado por defensores de outros réus do mensalão, que especularam sobre "a chance de forçar a ida do processo para a primeira instância".
Na mesma. O promotor paraibano Francisco Sarmento acredita que Cunha Lima irá a júri popular em 2010, pois não encontrou na Justiça local ambiente para postergar a ação penal. O juiz Marcos William Oliveira fulminou as manobras que fariam a ação recomeçar do zero.
Argumento. O advogado de Cunha Lima, Luciano Pires, alega que em 1993 seu cliente deveria ter sido investigado pelo Superior Tribunal de Justiça, e não por delegado.
Topa? Na Assembleia paulista, um deputado do PT brinca com colega do PSB: "A gente até pode apoiar o Ciro Gomes para governador. Eu não sei é se vocês apoiam". A bancada do PSB é unha e carne com o governo tucano.
Em baixa. Até pelas declarações do próprio, o projeto Ciro-SP está definhando a olhos vistos. Mesmo a ala mais maleável do PT local avalia hoje que, se Lula quiser mesmo remover o deputado da disputa presidencial, terá de lhe dar outro destino, seja ele a vice de Dilma (e durma-se com o barulho do PMDB!) ou o retorno ao ministério no último ano de governo.
Tela quente. O PT acionou o Ministério Público Eleitoral acusando José Serra de fazer campanha antecipada numa série de entrevistas a programas populares de TV.
Duas mulheres. Pressionado pelo Planalto e pelo núcleo governista de seu partido, Garibaldi Alves (PMDB-RN) diz que, "por ora", está "inclinado a apoiar Dilma" nacionalmente, ainda que pretenda se reeleger senador abraçado à candidatura da oposicionista Rosalba Carlini (DEM) ao governo potiguar.
Um pé lá... Há quem veja estímulo do governador Eduardo Campos (PSB-PE) à candidatura ao Senado de Fernando Bezerra Coelho (PSB), secretário de Desenvolvimento Econômico.
...outro cá. Como uma das duas vagas da chapa ao Senado é de João Paulo (PT) e ninguém tasca, o incômodo recai sobre o deputado Armando Monteiro Neto (PTB), também aliado de Eduardo Campos e candidato declarado.
Má fase. Presidente da CNI, Monteiro Neto anda às voltas com o escândalo que derrubou o petebista Silvio Costa Filho da Secretaria de Turismo por suspeita de superfaturamento de contratos.
A conferir. Na esteira do anúncio de Gilmar Mendes de que CNJ irá monitorar, a partir de 2010, não só a população dos presídios como também os presos em delegacias, Sérgio Cabral (PMDB) disse ao presidente do STF que planeja acabar com essa modalidade de detenção no Rio ainda em seu atual mandato.
com SÍLVIO NAVARRO e LETÍCIA SANDER
Tiroteio
Nós tivemos que engolir o apoio a Newton Cardoso e ficamos calados.
Do deputado petista VIRGÍLIO GUIMARÃES, aliado de Fernando Pimentel, em resposta ao grupo de Patrus Ananias, que critica as alianças do ex-prefeito de BH; em 2006, o ministro pediu voto para o ex-governador peemedebista, que concorria ao Senado; Pimentel e Patrus disputam a vaga do PT na eleição para o governo de Minas.
Contraponto
Questão de princípio A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara discutia, na semana passada, projeto que autoriza o governo a doar três aviões Tucanos T-27 ao Paraguai. A certa altura, Régis de Oliveira (PSC-SP) identificou erro na formalização do pedido ao Congresso. Consultado, Flávio Dino (PC do B-MA) deu seu parecer e aproveitou para brincar:
-De fato, devo reconhecer que esse erro existe, mas faço questão de deixar bem claro que sou e sempre serei a favor da exportação de tucanos!
Diante do riso dos colegas, Dino acrescentou:
-Aliás, apenas lamento que sejam três, e não todos!
VILAS-BÔAS CORRÊA - COISAS DA POLÍTICA
Um mágico chamado Lula
JORNAL DO BRASIL - 26/12/09
De ler o imperdível romance de Frei Beto, Um Homem chamado Jesus, que conta a passagem do filho de Deus sobre a terra seguindo os passos da Bíblia, mas com a liberdade do escritor que humaniza o enredo e os personagens – santos, pecadores, inimigos – nos diálogos, que vai do tom ameno das lições à indignação com os incréus que se converteram e seguiram Jesus até a ressurreição.
Curiosamente, mas não por acaso, a cada página e até em cada linha, fui surpreendido pelas semelhanças entre o romance histórico de Frei Beto e a vertiginosa ascensão do menino nascido em Garanhuns, de família humilde e da mais indigente pobreza e que disparou na carreira fulminante de líder operário, o maior da história deste país, fundador do Partido dos Trabalhadores, o PT, de crônica contraditória como o criador do caixa 2 e do mensalão, que acaba de gerar mais um monstrengo com a roubalheira que desmontou o governador de Brasília, José Roberto Arruda, filmado na distribuição de pacotes de milhões a secretários, parlamentares e cupinchas, que escondiam a bolada do suborno na cueca, nas meias, nos bolsos e outras cafuas pouco recomendáveis.
A honestidade do presidente jamais foi posta em dúvida. Mas, o seu salto acrobático para o topo de um dos mais populares líderes do mundo, de causar inveja ao presidente da maior nação do mundo, Barack Obama, e que o identificou como “este é o cara”; os êxitos da política econômica; a mágica da Bolsa Família distribuída a milhões de deserdados da sorte, ex-Bolsa Escola, que escancara a janela às crianças da extrema pobreza para a obrigatoriedade de frequentar escolas mexeram com os miolos presidenciais.
O Lula que inventa a candidatura da ministra Dilma Rousseff para sucedê-lo é a contradição ambulante do militante petista, deputado federal constituinte, contrário à praga da reeleição, aprovada no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso com a vergonhosa distribuição de sinecuras para cabos eleitorais e parentes dos parlamentares. Não pode mirar-se no espelho na hora de aparar a barba e os cabelos que começam a rarear no cocuruto sem o arrepio do mal-estar com as contradições impostas pelas quebras de ética política.
Por fora bela viola. Mas, se as aparências enganam, também estimulam as desconfianças. Lula e a sua candidata podem desdenhar das pesquisas com a análise do panorama pré-sucessão, com o sucesso da sua tática e da campanha escancarada, mandando às favas os prazos constitucionais com a andrajosa peta de que ele e a ministra-candidata viajam às custas da Viúva, sobem nos palanques, discursam, são abraçados, concedem autógrafos como artistas de novela para fiscalizar as obras do Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC, e do Minha Casa Meu Voto.
O sobe-e-desce dos índices das pesquisas não são definitivos nem podem ser interpretados ao pé da letra. Apenas indicam o lento crescimento dos índices da candidata oficial, que ainda sequer foi aprovada pela convenção do PT.
Frioleiras: a legenda tem dono e senhor e faz o que seu mestre mandar.
Candidata que está fazendo prodigiosa carreira, saltando do chão para tentar a Presidência do Brasil, a ministra Dilma parece artista da primeira novela, decorando as falas e testando o vestuário para os comícios, as entrevistas, as conversas com os chefes políticos.
A bravura com que enfrentou o tratamento do câncer linfático até a cura com 90% de definitiva, ainda a expõe a constrangimentos como a da aposentadoria da peruca dos sete meses de tratamento e a estreia do novo visual com o cabelo curto, como uma touca.
A especulação política é um vício que reclama cautelas para não cair no ridículo. Antes da definição do candidato da oposição e do seu vice, nenhuma análise vai além do palpite.
A oposição não pode levar a lengalenga do governador José Serra, seu virtual candidato, além da passagem do ano e do recesso do Congresso. E a encrenca para a escolha do vice está resolvida por Lula e pela firme atitude do PMDB, que já anunciou aos quatro ventos que escolhe o seu candidato a vice. E que o nome e sobrenome é o de sempre, deputado Michel Temer.
O que os candidatos ainda não pensaram é no programa de governo, na recuperação de Brasília, uma capital feita de encomenda e arruinada pela incompetência e pela roubalheira.
Por aí, continuamos na estaca zero.
ACABEI
CLÁUDIO HUMBERTO
ADVOGADO LUÍS ROBERTO BARROSO, RESPONSÁVEL PELA DEFESA DO TERRORISTA CESARE BATTISTI
NO SENADO, RECESSO E FÉRIAS SOMAM 85 DIAS
Em janeiro, por decisão do diretor-geral, vão trabalhar no Senado um terço dos servidores. Os demais serão obrigados a entrar em férias, e detestaram: para eles, recesso nada tem a ver com férias. Além dos 30 dias anuais de qualquer trabalhador, os funcionários – sobretudo dos gabinetes – querem gozar 40 dias do recesso parlamentar, no começo do ano, e mais 15 dias no meio do ano. Total: 85 dias de férias anuais.
REVEZAMENTO DO ÓCIO
O trabalho durante o recesso sobra para servidores administrativos, no Senado. Uma espécie de revezamento garante a folga da maioria.
ANARQUIA
Olha a esculhambação no Senado: apesar da multidão de servidores, uma funcionária terceirizada dá posse a novatos, na direção de RH.
APROPRIAÇÃO INDÉBITA
O relatório final da CPI da Conta de Luz da Câmara tem 440 páginas e concluiu que pagamos “valores indevidos”. Mas, devolver, que é bom...
PRENÚNCIO
A Receita meteu 1 milhão de na malha fina, este ano. Em 2010 será pior, para fazer caixa que suporte despesas previstas no Orçamento.
DF: DEPUTADOS TORRAM R$ 13 MI EM EMENDAS
Os deputados envolvidos no rolo do “DEMsalão” foram quem mais conseguiram liberar recursos de suas emendas individuais em 2009. Leonardo Prudente (sem partido), o deputado das meias cheias de grana, Eurides Brito (PMDB) e Júnior Brunelli (PSC) foram autorizados em 2009 a gastar cerca de R$ 13 milhões. Brito é campeã de recursos executados, com R$ 2,4 milhões até o final de novembro deste ano.
É OFICIAL
Os dados dos gastos com emendas pelos deputados distritais são do Sistema Integrado de Gestão Governamental.
GRANA DE VOLTA
As despesas com ressarcimentos, indenizações e restituições da Câmara do DF somaram R$ 3,45 milhões este ano.
CASA CARA
O gasto com a verba indenizatória do exercício de 2009 na Câmara Legislativa do DF fechou o ano em R$ 2,243 milhões.
MARCADO PARA MORRER
O presidente licenciado da Câmara Legislativa do DF, Leonardo Prudente, aquele que enfiou grana nas meias, deve renunciar ao cargo ou a mesa diretora, de maioria ligada a Arruda, votará sua destituição.
RUPTURA DE ARAQUE
O PPS fez cara de nojo e anunciou “rompimento” com o governador José Roberto Arruda, mas alguns dos seus principais representantes continuam nos cargos de direção da Polícia Civil e do Procon-DF.
PREOCUPAÇÕES
Segurança é o que mais preocupa o cidadão do DF, atesta pesquisa Dados (31,9%). A Saúde está em 2º lugar, com 23,9% e a Corrupção, que emporcalha a imagem de Brasília, é a 11ª preocupação.
PERNAS CURTAS
Mentira que os defensores do terrorista Cesare Battisti difundem no governo: o “direitista primeiro-ministro Silvio Berlusconi” é quem insiste na extradição do bandido. Romano Prodi, líder de esquerda, foi o chefe de governo que a solicitou. E recentemente a reiterou ao próprio Lula.
CIRCO ARMADO
A família marqueteira do menino Sean Goldman contratou, além do time de advogados, uma assessoria de imprensa. Foi o vale-tudo para tentar atropelar a lei e a convenção de Haia.
É O QUE MANDA A LEI
É mentira atribuir a decisão da Justiça, de devolver Sean ao pai, a um “acordo comercial” com os Estados Unidos. A decisão do ministro Gilmar Mendes foi baseada na lei e na convenção de Haia.
RESPEITO É BOM
A CPI da Conta de Luz pede que o Ministério de Minas e Energia e a Agência Nacional de Energia Elétrica respeitem a lei e revertam as concessões elétricas já vencidas. E depois realizem novas licitações.
CASA DE PARTO DE GRAÇA
Em São Sebastião, nos arredores de Brasília, a classe média começa a descobrir que pode ter parto normal como antigamente sem pagar pela doulas, mulheres que acompanham a hora do parto, e sem hospitais. Ela pode ter o filho sentada, de cócoras ou numa maca apropriada.
XÔ, PANETONE
As empresas aéreas Gol e a Webjet tiveram a péssima ideia de sortear panetones nos vôos. Os escolhidos nem comemoram o presente...
PODER SEM PUDOR
RUINDADE É PARA VELHOS
Virou galhofa, no governo, o caso dos velhinhos maltratados pelo INSS em 2003. Na última reunião ministerial na Granja do Torto, antes da viagem de Lula às Arábias, o ministro Ricardo Berzoini (Previdência) pisou a pata da cadela de Lula, Michele, aquela que também usava carro oficial. A cachorrinha gritou e o gaúcho Tarso Genro não perdoou, arrancando gargalhadas gerais:
– Ô, Berzoini, ela é muito novinha...