quinta-feira, novembro 26, 2009

O VERME PASSA MAL

O BLOG TORCE PELA MORTE DO VERME

O INFERNO NÃO PODE ESPERAR

Sarney tem mal-estar e está no posto médico do Senado

O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), se sentiu mal nesta manhã e está sendo atendido no posto médico da Casa.

GLÁUCIO ARY DILLON SOARES

As prostitutas, os sádicos e as ficantes


Correio Braziliense - 26/11/2009




Sudhir Venkatesh é um sociólogo, pesquisador da Universidade de Columbia, em Nova York. O que estuda Venkatesh? Prostitutas. Há muitas categorias de prostitutas, desde as mais elegantes, ocultas e caras, até as mais baratas e visíveis. Entre as com menos prestígio e mais risco estão as de rua, exatamente as que o leitor vê esperando ou buscando fregueses. É esse tipo de prostituta que Venkatesh pesquisou em Chicago.

Diariamente, as prostitutas têm uma “janela de oportunidades” para trabalhar. Durante boa parte do dia a clientela potencial trabalha ou estuda. Parte significativa dos clientes talvez tenha obrigações familiares, o que reduz os horários e os dias da semana disponíveis. Somando tudo, dá, na média, 13 horas de trabalho por semana, durante as quais elas fazem sexo dez vezes. Para cada hora no trabalho, recebem US$ 27, ou US$ 1.400 — R$ 2400.

Muitas têm outros trabalhos, quase sempre pouco qualificados. A literatura romântica descreve a prostituição de muitas como um suplemento da renda familiar. Elas existem. Não obstante, a mulher de classe média casada ou a estudante universitária que usa a prostituição como suplementação de renda raramente está nas ruas. Pratica outro tipo de prostituição, inclusive virtual.

Na prostituição de rua, a função se inverte. A prostituição é a principal fonte, mas muitas têm outros trabalhos para suplementar a renda da prostituição. Venkatesh nos diz que a renda horária das demais atividades é quatro vezes menor. Se a prostituição de rua paga pouco, as atividades suplementares pagam bem menos. São exercidas nos horários “vazios”.

As prostitutas de hoje recebem menos do que as de décadas atrás. Por que? Em Superfreakonomics, Steven Levitt e Stephen Dubner sugerem que a liberação sexual da mulher é responsável pelo empobrecimento das prostitutas. Levitt e Dubner usam, mais uma vez, o olhar do mercado. Poucos pagam pelo que podem obter de graça. Há duas gerações, a perda da virgindade de uma percentagem significativa dos homens era com uma prostituta. Esses números baixaram muito. Em outra pesquisa americana, recente, apenas 5% tiveram a primeira experiência sexual com uma prostituta. Os valores sexuais contribuíram pesadamente: a infidelidade já foi motivo para o divórcio em muitos países, e crime em vários. Isso mudou muito. Recentemente, as festas sem casais de adolescentes e jovens adultos, onde muitos ficam com muitos e alguns continuam depois da festa, trivializaram o sexo. Para essa população, uma prostituta não faz sentido. Sobram poucos para a clientela das prostitutas.

Há quem exalte o glamour da profissão. Não é o que pensam as profissionais, nem é o que concluem as pesquisas. Não há glamour. As prostitutas, ainda hoje, enfrentam três grandes tipos de problemas: as doenças venéreas, a violência e a gravidez não desejada.

A prostituta entra na profissão “por baixo”. Uma pesquisa financiada pelo National Institute of Justice demonstra que muitas começam a carreira como menores de idade e usam o que ganham para financiar o uso de drogas e/ou para evitar morar na rua. Recuando no tempo — e na explicação — um número muito grande veio de famílias desestruturadas, marcadas pela droga, alcoolismo e violência, e muitas dessas jovens sofreram abuso (físico, sexual ou psicológico) em casa. Fugiram de casa (runaways) ou foram expulsas de casa (throwaways).

Fica pior depois. As prostitutas talvez tenham a mais alta taxa de vitimização homicida de qualquer grupo de mulheres, como demonstraram Potterat e associados em Mortality in a Long-Term Open Cohort of Prostitute Women, American Journal of Epidemiology 159 (8) (April 2004): 778–85. Três das 160 prostitutas estudadas por Venkatesh morreram durante a pesquisa. A média anual de incidentes de violência contra cada prostituta era doze, um por mês. Quem são as prostitutas assassinadas?

Jonathan Dudek estudou 123 delas. Sua pesquisa revelou que, nos homicídios individuais, as motivações sexuais eram minoritárias, ao passo de que a motivação dos serial killers de prostitutas era quase sempre sexual. As vítimas se concentraram na faixa dos vinte e muitos aos trinta e poucos, e 60% eram negras. Nada menos do que 85% se prostituíam para pagar pelas drogas que consumiam.

Voltando aos clientes. Quem são os clientes que sobraram? Quem busca prostitutas hoje? São diferentes grupos. Um deles é composto por homens solitários, muitos dos quais são tímidos, se sentem inadequados com mulheres comuns, mas não com prostitutas. Outro é composto por homens casados ou com parceiras regulares que buscam tipos de sexo que não praticam com suas parceiras, seja porque elas não aceitam, seja porque eles não aceitam praticá-lo com elas (hipocrisia que divide o sexo em dois grupos — o que pode ser feito com a parceira e o que só se pode fazer com prostitutas). Na espreita, esperando oportunidade, os que querem machucar.

Gláucio Ary Dillon Soares -Sociólogo, pesquisador do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj)

ARI CUNHA

Templo reformado


Correio Braziliense - 26/11/2009



Como uma noiva vestida de renda, a Catedral Metropolitana de Brasília sofre outra reforma para fazer bonito nos 50 anos da cidade. Vidros quebrados, infiltrações, pintura são os problemas maiores. Os vitrais de Marianne Peretti terão material novo para diminuir a absorção do calor e aumentar a durabilidade. Não há previsão para a correção da péssima acústica. Em cada solenidade, o técnico de som faz o milagre que pode, para que os fiéis ouçam as mensagens. A entrada e o funcionamento estão limitados. Os batizados marcados continuam a acontecer. Os anjos de Alfredo Ceschiatti vão flutuar com novos cabos de aço. Haverá mais tinta branca nas 16 colunas, para desespero dos apreciadores do concreto aparente, que reinava nos anos de mocidade de Brasília. Monsenhor Marcony Ferreira passa pela experiência da reforma. O melhor dia é o que se inicia. Depois, o que acaba.

A frase que não foi pronunciada


“O pré-sal virou gelol de quem cai nas pesquisas.”
» Político imaginário abrindo a caixa de promessas.


Mercado
Mais postos de gasolina. Desta vez em shoppings e supermercados. A Câmara Legislativa proibiu. Ana Paula Martinez, secretária-adjunta de Direito Econômico do Ministério da Justiça, diz que não vê razão para isso. Pelo contrário, a entrada de concorrentes protegeria o mercado. Resta saber se o lobby é de concorrentes mesmo.

Grave
Paralisação na UnB. A greve vai durar até que os funcionários da universidade tenham certeza que não haverá mais erros nos contracheques. Em outubro, mais de 500 funcionários foram prejudicados com o lançamento menor dos vencimentos. A solução é aguardada até sexta feira.

PAC
Curso da Embrapa integra lavoura, floresta e pecuária. A Embrapa do Amapá termina as aulas com a prática no Campo Experimental do Cerrado aberta a todos os interessados. As aulas contam com pesquisadores que responderão a todas as perguntas de produtores rurais e técnicos. O sistema produtivo de Integração Lavoura, Pecuária e Floresta (ILPF) é mantido com recursos do PAC Embrapa.

Conteúdo
Chega aos lares mais pobres do país a democratização da cultura. O senador Cristovam deu abrangência ao projeto de Luiz Amorim, do Açougue Cultural de Brasília. Entra como autorizativo na agenda do governo o projeto de distribuição de livros para trabalhadores que ganham um salário mínimo. Só depende da sanção do presidente Lula.

Seu voto
Notas frias com endereços falsos. O assunto não trata de empresas que querem passar a perna no fisco. São deputados federais que, comprovadamente, usaram documentos falsos para justificar o recebimento da verba indenizatória. A decisão de Michel Temer, presidente da Casa, junto à Corregedoria pode atrair a atenção da opinião pública. Fala-se em pena alternativa.

Outro lado
Difícil o Ato Médico ter votação que agrade a todos. Certa está a doutora Iolete Ribeiro, do Conselho Federal de Psicologia. A falta sentida pelos pacientes é que os profissionais de todas as categorias médicas fiquem unidos pela melhoria na aplicação de políticas públicas de saúde.

Feliz Ano Novo
Em 2002, a conta de luz paga pelo governo federal era de R$ 430 milhões. Em 2006, chegou a R$ 954 milhões. Em 2009, o governo gasta mais e o contribuinte paga mais do que consome. As concessionárias que cobraram além do que deveriam têm o aval da agência reguladora. Nada de ressarcimento ao consumidor.

Fusca
Com um ano a mais do que a capital do Brasil, o fusca vai ser vedete nas festividades dos 50 anos de Brasília. O objetivo do VWBoxer Clube é promover uma carreata com 50 fuscas e outros veículos antigos no dia 21 de abril, encerrando com uma exposição no Museu da República.

Convidado
Por falar em aniversário de Brasília, o presidente tcheco, Vaclav Klaus, recebeu convite do presidente Lula para participar da grande festa. Juscelino Kubitschek era bisneto de um imigrante tcheco.

História de Brasília


O Gabinete Civil da Presidência da República está exigindo dos jornalistas credenciados no Planalto a inscrição em sindicato de profissionais. É sabido que, no Distrito Federal, não há Sindicato de Jornalistas. Começa aí o erro. (Publicado em 18/2/1961)

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VERA RITA FERREIRA

Palavra do gestor

Valor Econômico - 26/11/2009


O peso das expectativas nas decisões de investimento


Você sabia que o que passa por sua cabeça tem poder de por em movimento ações concretas? Calma! Não vou falar de pensamento positivo, nem de autoajuda. Vou falar um pouquinho sobre a psicologia das expectativas.

Na psicanálise, dizemos que a realidade psíquica - que é a nossa representação subjetiva da realidade externa (essa que todos compartilhamos, até certo ponto, pelo menos) - é tão poderosa para gerar pensamentos, sentimentos e comportamentos quanto os fatos reais.

Por exemplo, você começa a achar que sua mulher arrumou outro e, para revidar, você vai olhando cada vez mais comprido para a vizinha, até que o inevitável acontece. Mas na verdade ela só tem trabalhado demais. Só que aí, do seu lado, já foi... Ou você acredita que aquelas ações que estão caindo vão sofrer uma reviravolta espetacular, embora seu consultor e outros especialistas já lhe tenham apontado que isso é mais improvável do que o mundo efetivamente cortar emissões de carbono depois da próxima reunião em Copenhague. A apesar disso, você se apega a elas e a esta expectativa um tanto irreal a ponto de perder bastante dinheiro logo à frente.

Em outras palavras, expectativas, que tem a ver com (auto)sugestão, podem criar uma outra realidade, funcionar como profecias autorrealizadoras, ter influência direta sobre desempenho e até alterar processos fisiológicos. Não está muito convencido? Quer exemplos?

Aqui vão estudos feitos por psicólogos econômicos e economistas comportamentais. O livro de Dan Ariely ("Previsivelmente Irracional") é recheado deles, mas um favorito é aquele experimento que envolve um certo sadismo: os sujeitos recebem choques elétricos e depois relatam a intensidade da dor sofrida. Em seguida, tomam uma aspirina, esperam, recebem novos choques e, ao final, descrevem novamente o nível de dor.

O objetivo aparente seria avaliar o grau de alívio obtido com o medicamento, mas na verdade foi feito o seguinte: o contexto para um dos grupos de sujeitos foi todo positivo - lugar bacana, médica e demonstradora bem-apessoadas, propagandas elogiosas ao remédio etc. - e o preço da aspirina mais alto do que de costume. No outro grupo, tudo mais modesto e o preço da aspirina agora raspado, como se estivesse em promoção, por uma fração do valor original.

Será que esses detalhes - irrelevantes para reduzir ou aumentar a dor, certo? - mudaram alguma coisa na experiência das pessoas? Sim! Quem tomou aspirina cara achou que a segunda sessão de choques não foi tão ruim, ao passo que os que tomaram a aspirina supostamente em promoção não sentiram grande diferença entre as duas sessões. O ambiente elegante e o remédio caro fizeram o primeiro grupo acreditar mais em seu efeito. Ou seja, foram as expectativas, embora, em nenhum caso, fosse aspirina: era vitamina C!

Mas veja também estes outros estudos americanos, que testaram o quanto vestimos a carapuça de estereótipos que podem estar associados à nossa imagem, isto é, como respondemos ao que acreditamos que se espera de nós (Shi, Pittinsky, & Ambady, Psychological Science, 1999). Universitárias de origem asiática tinham que fazer um teste de matemática. Elas foram divididas em três grupos. Para o primeiro grupo, foi aplicado um questionário neutro. Para o segundo, havia perguntas que lembravam gênero. No terceiro, perguntas que lembravam a origem familiar.

Depois de responder às questões, faziam o teste. O fato de ser mulher afeta a capacidade matemática? Pode ser, uma vez que não se espera facilidade nessa área para mulheres, independentemente de sua real capacidade. No teste, o desempenho do primeiro grupo (neutro) ficou no meio; entre o grupo cujo questionário pensou em gênero, o pior. E o que fora relembrado da condição oriental, tradicionalmente bem-sucedidos em matemática, foi o melhor.

Mas devagar com o andor, rapazes: quando um experimento equivalente foi feito com homens e o teste avaliava desempenho verbal, os resultados se inverteram! Neste caso, são os homens que se sentem inseguros com relação à sua capacidade de expressão verbal e foram pior quando relembrados de sua condição masculina...

Expectativas tem um peso grande sobre o que fazemos. Por isso, se alguém lhe recomendar um investimento incrível, em especial se estiver investido daquela aura de autoridade que costuma inspirar confiança - ou vago temor... -, num local chic, e você ficar logo favoravelmente impressionado, lembre-se de também colher todas as informações consistentes sobre o negócio ou chame seu especialista de confiança para avaliá-lo antes de fechar, ok?

Vera Rita de Mello Ferreira é psicanalista, consultora, professora, representante no Brasil da International Association for Research in Economic Psychology (IAREP) e autora dos livros "Psicologia Econômica" e "Decisões econômicas - você já parou para pensar?"

DIRETO DA FONTE

"Mala educación" na Educação?

SONIA RACY

O ESTADO DE SÃO PAULO - 26/11/09


Chega à Justiça ação do Ministério Público Estadual acusando a ex-secretária de Educação Maria Aparecida Perez de superfaturamento. O contrato de R$ 21,8 milhões, assinado com a FGV para a criação do Portal Educação, segundo o promotor Saad Mazloum, deveria ter custado bem menos.
Ele calcula R$ 4,9 milhões. Uma diferença de 330%.

"Educación" 2
Além disso, a promotoria questiona a contratação, pela FGV, de outra empresa para fazer o serviço.
A fundação foi escolhida sem licitação por ser instituição sem fins lucrativos. E não poderia, segundo o MPE, terceirizar o trabalho.

"Educación" 3
O MPE quer, entre outras, que a FGV devolva R$ 3,9 milhões dos R$ 6,5 milhões já pagos à fundação.
Procuradas, as rés Maria Aparecida Perez, secretária de Educação na gestão Marta, e a FGV, dizem não terem sido notificadas.

Lula, cidadão
Lula já decidiu o que fazer depois das eleições. No primeiro semestre de 2011, viaja pelo mundo catando os 44 títulos de "doutor Honoris causa" que recebeu em seus mandatos.
Depois, segundo fonte próxima ao presidente, quer viajar pelo interior do Brasil. Pobre sucessor...

Sem Papai Noel
Suzane von Richthofen vai ter que passar o Natal atrás das grades.
Depois que a Justiça negou pedido de transferência ao regime semiaberto - para cear em casa -, ela perdeu o direito de pedir indulto.

Trocando idéias
Silvana Tinelli, Fernando Grostein Andrade e Fernando Menocci recebem hoje FHC para um jantar-debate. Em pauta o documentário "Rompendo o Silêncio", que reúne amigos e formadores de opinião.
O roteiro revela a trajetória de FHC em busca de nova política global de drogas, capaz de reduzir o dano causado de uma forma mais humana e eficiente.

Martelo batido
Surpresa total. Está decidido que a prova Indy Brasil vai acontecer nas ruas de São Paulo.

Cacife alto
Com Ciro Gomes bem nas pesquisas, o PSB engrossa a voz. Renato Casagrande discute o caso com diretórios estaduais, hoje no Recife.
O que querem? Que o partido receba do PT a mesma atenção dada ao PMDB.


A noite do debate que não houve
Nascido na ditadura, forjado em lutas pela liberdade, o Cebrap festejou seus 40 anos, anteontem, com um não-debate sobre o País. Muita gente foi ao Sesc Vila Mariana - onde foi lançado o livro-e-DVD Retrato de Grupo - imaginando que veria um bom fogo amigo entre os dois velhos companheiros do centro, FHC e Chico de Oliveira.

Sem chance. Os mais de 500 presentes tiveram de contentar-se com depoimentos isolados, que ignoraram o presente e do futuro do Brasil. Os tucanos brindaram o auditório com o estilo zas-trás. FHC chegou pelos lados, em cima da hora, deu seu depoimento e sumiu. E Serra já foi avisando que não poderia ficar.

Por sorte, os dois não-debatedores estavam em forma. Foram fundo em episódios como a "visita" obrigatória que fizeram - encapuzados - à Oban, o centro de tortura da ditadura. "Dentro do capuz, pensei: que idiota sou. Podia estar dando aulas lá fora", recordou FHC. Chico deixou o rigor analítico em casa e fez todo mundo rir com tiradas do tipo "mais conservador do que Tancredo nem a Nossa Senhora de Guadalupe".

Curiosidades da noite: a questão da luta armada os aproximou e o pacificador Ulysses Guimarães os desuniu. "Eu era mais covarde", arriscou Chico sobre confrontar o regime. "Não, você tinha mais antevisão", ponderou o ex-presidente. E Ulysses, destratado por Chico - "todos dormiam quando ele discursava" - foi resgatado por FHC: "Ele era homem de coragem. Chamou os militares de patetas. Hoje se pode chamar qualquer um de pateta e tudo bem."

GABRIEL MANZANO FILHO

Na Frente

Ana Paula Junqueira recebe convidados hoje em torno de Marina Silva.

Adriane Galisteu comanda, segunda, almoço em prol do Hospital Emílio Ribas. Quem quiser almoçar com a loira pagará R$ 1 mil, no restaurante Bela Cintra.

Eliana Tranchesi ficou feliz, anteontem. Entre caixas de presentes pelo seu aniversário, recebeu um mimo especial: carta de mais de dois metros com mensagens de carinho assinada pelas funcionárias da Daslu.

Antonio Lavareda lança hoje seu livro Emoções Ocultas e Estratégias Eleitorais. Na Cultura do Conjunto Nacional.

O Albert Einstein foi apontado como o melhor da América Latina em pesquisa da America Economia Intelligence.

José Eduardo Agualusa debate o livro Barroco Tropical com participação de Mia Couto. Hoje, no Sesc Vila Mariana.

Coleção com a pedra mais preciosa do mundo, a turmalina-paraíba, será exposta, a partir de hoje, na H. Stern do Shopping Morumbi. Acreditem: a gema chega a ser dez vezes mais escassa que o diamante.

Jorge Ben Jor entrou para golfista. Torna-se, sábado, sócio honorário da Associação Brasileira de Golf Sênior, em festa no Iberostar, na Bahia.

Hoje é dia de Thanksgiving e, portanto, o mercado financeiro americano não funciona. Isso significa feriado no mundo.

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VINÍCIUS TORRES FREIRE

Degenerou


Folha de S. Paulo - 26/11/2009


Política de cortar impostos a fim de mitigar a crise de 2008 agora é apenas política, sem efeito econômico maior



O GOVERNO Lula não dá ponto sem nó nas suas costuras com as empresas. Difícil se lembrar de um governo em que houve tantas parcerias público-privadas, digamos. Cada setor, para não dizer cada grande empresa, teve sua política especial de impostos, subsídios, empréstimos de bancos públicos, apoio de fundos paraestatais e outras tantas políticas públicas e por vezes nada públicas, mas estatais, como no caso do socorro a empresas falidas em aventuras financeiras.
Pelo jeito, faltava amarrar alguns nozinhos. É o que se depreende da prorrogação de descontos de impostos e a instituição de outras isenções. Ontem, soube-se que móveis vão ter IPI zero até 31 de março de 2010 e que a isenção para material de construção continua até junho do próximo ano. Anteontem, o Ministério da Fazenda anunciara medidas parecidas para automóveis ditos "verdes", os flex, e caminhões.
O sentido mais imediato da redução de impostos é auxiliar setores empresariais mais avariados pela crise. Nos últimos 12 meses, contados até setembro, a produção da indústria da madeira caiu 20%, segundo o IBGE (na média, a queda na indústria de transformação foi de 10%). Na indústria de móveis, a queda foi de 11,6% (inferior, porém, à queda dos fabricantes de calçados, de 14,6%). Houve casos piores. A de "material eletrônico, aparelhos e equipamentos de comunicações" caiu 31%, a de veículos, a de máquinas e equipamentos e a de metalurgia básica todas caíram na casa de 21%. As metalúrgicas não tiveram apoio direto, assim como a de eletrônicos, a maioria delas múltis que montam aparelhos na Zona Franca de Manaus, muitos para exportação, prejudicadas pelo colapso do comércio mundial. Mas está em estudo a redução de impostos sobre os computadores.
No caso de madeira e móveis, a situação ficou apenas pior na crise. Em setembro de 2008, a produção da indústria de madeira em 12 meses já havia caído 7,7%, um dos raros setores industriais que estavam então encolhendo (além de fumo, perfumaria e limpeza, e calçados). Madeiras, móveis e calçados são as indústrias que mais têm encolhido no país, em parte por causa do real forte, parte devido a dumping chinês, parte devido a atraso tecnológico e parte devido à falta de escala.
Apesar dos evidentes estragos nas indústrias de madeiras, móveis e calçados, da importância da indústria de carros e do incentivo à construção de casas, as isenções de impostos e outros auxílios recentes parecem cada vez mais arbitrários. Incentivos oficiais sempre o são.
Nas emergências das crises, tais arbítrios podem ser mais aceitáveis. Agora, quando a economia já voltou a crescer e as presentes isenções têm efeitos marginais no consumo global, as medidas começam a parecer mais arbitragem de favores. Ou de nós em pontos políticos ainda desatados na comunidade empresarial.
O sentido menos imediato dessas medidas todas é político. Dizer que são "eleitoreiras" já é um tanto exagerado. O eleitor não vai reparar em tais detalhes; de resto, há eleições no Brasil a cada dois anos. Metade dos anos, são, pois, "eleitorais". Porém, o governo torra mais um pouco do dinheiro -que já não tem- a fim de reforçar a grande coalizão luliana.

KENNETH MAXWELL

Um Estado falido?


Folha de S. Paulo - 26/11/2009

CASO A CALIFÓRNIA fosse independente, e não parte dos Estados Unidos, seria a décima maior economia do mundo. Mas a situação fiscal do Estado é caótica. O governador Arnold Schwarzenegger recentemente anunciou um deficit de arrecadação de US$ 26 bilhões. O sistema político é patentemente incapaz de enfrentar a crise.
Alguns comentaristas argumentam que o problema da Califórnia é o excesso de democracia. Certas medidas tributárias precisam de maioria de dois terços para aprovação no Legislativo estadual, e isso se provou virtualmente impossível de obter. A Constituição do Estado inclui uma cláusula de referendo compulsório que oferece aos cidadãos a oportunidade de votar sobre questões que requeiram mudanças na Constituição. A Califórnia é um dos apenas três Estados norte-americanos que operam com esse requerimento. Na prática, os referendos compulsórios reforçaram o poder de minorias altamente motivadas e organizadas. Seu impacto mais significativo é sobre as decisões de política tributária, e eles se tornaram sério obstáculo à formulação de uma política tributária racional.
A Califórnia sofreu mais que outros Estados com a crise econômica. O desemprego é superior à média nacional. As hipotecas executadas por falta de pagamento continuam a ser problema. Mas uma das maiores consequências é o impacto sobre um dos maiores sistemas universitários públicos do país, que há muito constitui uma das joias do ensino superior norte-americano em termos de preços acessíveis e qualidade. A Universidade da Califórnia conta com 55 ganhadores do Prêmio Nobel em seu corpo docente. Mas, agora, o sistema está absorvendo sua maior queda em verbas estaduais desde a Grande Depressão e perdeu quase 20% de seu orçamento.
Cada professor, funcionário administrativo e auxiliar do sistema está sujeito a licenças não remuneradas. Em Berkeley, a principal universidade californiana, o deficit anual atingiu os US$ 145 milhões, e o recrutamento de novos professores caiu de 100 para 10 ao ano. Nos dez campi do sistema em todo o Estado, a perda de verbas estaduais chegou a US$ 813 milhões.
Nesta semana, o conselho universitário se reuniu no campus da Universidade da Califórnia em Los Angeles e votou aumentar em 32% as mensalidades dos alunos, o que as levará a mais de US$ 10 mil anuais, três vezes o custo do estudo uma década atrás. Os estudantes organizaram ruidosos protestos. A resposta do reitor da universidade, Mark Yudolf, não foi animadora: "Detesto dizê-lo, mas, quando não há escolha, não há escolha".

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CELSO MING

Presentão para as montadoras


O Estado de S. Paulo - 26/11/2009

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, às vezes se notabiliza pela produção de justificativas esfarrapadas para algumas decisões que toma. Terça-feira, ele se superou ao defender o presentão de R$ 1,3 bilhão em renúncias tributárias para a indústria automobilística.

Não pode mais explicar a redução de IPI na venda de veículos flex (os que operam com qualquer mistura de combustível, seja álcool ou gasolina) como necessidade de tomar medidas anticíclicas porque reconhecidamente a crise acabou, como vêm afirmando o presidente Lula, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, e o próprio ministro Mantega. Também não pode justificá-la como defesa do emprego, como fizera em dezembro do ano passado, quando o benefício foi instituído pela primeira vez, porque a indústria automobilística está batendo recordes de vendas (num ano de crise) e já anunciou mais contratações de pessoal para garantir a produção destinada a dar conta da demanda.

Agora a justificativa é a de que é preciso incentivar o mercado de veículos para proporcionar respostas mais adequadas à preservação da qualidade ambiental. É um argumento incompreensível na medida em que 89% dos carros vendidos no mercado interno são justamente os dotados de motores flex. Essa proporção só não é maior porque não há mais opções à disposição do consumidor.

E, se fosse mesmo para incentivar o consumo de veículos ambientalmente corretos, está claro que a redução do IPI não poderia parar em março de 2010, como ficou anunciado.

Mantega avisa que a perda de arrecadação não terá impacto relevante para os cofres públicos: "As vendas serão tão altas que vão diluir essa renúncia tributária", disse ele. Se é assim e se a redução de impostos é tão boa para a dinâmica do setor produtivo, para o emprego e até para a arrecadação, por que, então, o governo não derruba definitivamente os impostos e não apenas para o setor de veículos? Não estaria nessas declarações do ministro o reconhecimento cabal de que a injustificada carga tributária é um dos principais fatores que aumentam o custo Brasil e impedem o crescimento do emprego?

O ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, que, na condição de ex-vice-presidente da Autolatina e ex-diretor da Volkswagen, conhece como ninguém o setor de veículos no Brasil, há tempo vinha afirmando que não encontrava razões técnicas para defender a prorrogação da redução do IPI na venda de veículos.

Por que, então, esse favor especial, justamente quando esse setor opera a plena capacidade e ainda tem de recorrer às importações de autopeças e de produtos acabados para dar conta da demanda?

Desta vez, os laços da república sindicalista do ABC com as montadoras não são suficientes para remendar o discurso inexplicável do ministro Mantega, num momento em que um grande número de setores - como o de móveis, ontem também contemplado - precisa mais da força do governo do que precisam as montadoras.

A decisão do governo Lula é tão esquisita que reforça as hipóteses de que essa nova dose de generosidade só encontra explicação se estiver casada com contrapartidas de financiamento de campanha eleitoral.

Confira

E a especulação? Há pouco mais de um mês, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, julgou ser necessário denunciar a existência de especulação no mercado financeiro interno. Não deu pormenores, mas insistiu na advertência. De lá para cá, não voltou ao assunto. E a gente não sabe se acabou a especulação ou se ela deixou de ter importância.

Estranha essa revelação feita pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, de que o Citibank foi oferecido para o governo brasileiro. Tanto o ministro Guido Mantega como Henrique Meirelles, as duas mais altas autoridades da área, afirmam que desconhecem o fato.

TODA MÍDIA

De maneira adequada

NELSON DE SÁ

FOLHA DE SÃO PAULO - 26/11/09


Ainda ecoava, ontem no site do "New York Times", a revelação pelo assessor Marco Aurélio Garcia de uma carta de Obama a Lula. E apareceu então, por G1, Terra, Agência Brasil, o chanceler Celso Amorim, em chamadas entre aspas, "Não há nenhuma tensão na relação com os EUA". Em suma, diz ele:
"Não sei como a carta chegou ao conhecimento da imprensa, mas já que há esse conhecimento eu acho que o presidente vai responder a carta de maneira educada, adequada, mostrando seus pontos de vista."

CLINTON NO PODER
A colunista Maureen Dowd relatou no "NYT" o elogio de Obama a Hillary Clinton, na segunda, e o ostracismo de Greg Craig, assessor de Obama que a atacou na eleição. Também de Susan Rice, escanteada na chancelaria. E de Caroline Kennedy, apoio de primeira hora a Obama que se viu "arrastada na lama" ao tentar a vaga de senadora por Nova York, "por um vingativo Bill Clinton".

"EL HOMBRE"
O indicado de Hillary para a região, Arturo Valenzuela, já passou no Senado. E Peter Hakim, do Inter-American Dialogue, instituição que tem FHC entre seus diretores, o apresenta como "El Hombre de Obama" na nova edição da "América Economía".

ATÉ SARAH PALIN
Sérgio Dávila relata no blog que, na Fox News, Sarah Palin mostrou que "não vai com a cara" de Lula e cobrou: "Eu gostaria que o presidente do Brasil tivesse melhor relação com os EUA e começasse a pensar em nos acompanhar nas sanções ao Irã".

O MILAGRE
A alemã "Der Spiegel" deu a interminável reportagem "Pai dos pobres realizou milagre econômico", com a foto, que o UOL já traduziu. Segue Lula pelos "sertões"

OUTRO LADO
O "Le Monde" publicou uma "crônica" de Jean-Pierre Langellier, que segue personagens cariocas no cotidiano de trabalho pelas praias, para arrematar que para eles, "como para tantos outros, o Rio não tem muito a ver com a cidade maravilhosa que cantam os slogans".

FELIZ NATAL
Na manchete do UOL, "Governo isenta móveis de IPI até março", anúncio da Fazenda. Imediatamente abaixo, "Natal deve ter menor taxa de juro desde 94", anúncio do Banco Central de Henrique Meirelles.
Na disputa, Guido Mantega fechou em vantagem com "Brasil eleva aporte ao FMI e ganha poder de veto", que ecoou até no site do "Wall Street Journal".

ROUBINI E O CONTROLE
Ontem no "WSJ", "Rússia eleva intervenção no rublo" e "Vietnã desvaloriza moeda", em posts que remetiam ao controle de capital iniciado no Brasil.
Da Argentina, Nouriel Roubini saiu em apoio ao Brasil num despacho da Reuters, "Controle de capital é chave para frear moedas na América Latina, diz Roubini".

CAIU O PRIMEIRO
Manchete no "Financial Times" (acima) e no "WSJ", o fundo soberano de Dubai "anunciou "paralisação" de seis meses em sua dívida". Evita-se a expressão, mas é moratória. Em outros enunciados do "FT", "choca os investidores", "mercados cabaleiam" etc.

CORTE
O "Washington Post", que perdeu US$ 167 milhões nos três primeiros trimestres do ano, decidiu fechar as suas últimas sucursais nos EUA, em Nova York, Los Angeles e Chicago. Em suma, justifica o editor-chefe do jornal, "nós não somos uma organização de notícias nacionais".

RETORNO
De volta à direção do PT, José Dirceu relançou ontem seu site, com comunidade e dez colunistas, entre os quais Paulo Rabello de Castro e Rose Nogueira. No blog que também foi repaginado e que fornece manchetes ao site, destaque para entrevista que concedeu ao "El País".

CASAMENTO

ROLF KUNTZ

Lula e o modelo da vaca por repolhos

FOLHA DE SÃO PAULO - 26/11/09


As três maiores invenções desde o começo da civilização foram o fogo, a roda e o banco central, segundo o humorista americano Will Rogers (1879-1935). Paul Samuelson usou essa frase, ou uma versão dela, como epígrafe de um capítulo de seu manual de introdução à análise econômica. A referência ao banco central foi uma evidente gozação, mas a moeda caberia numa lista das grandes criações. Muito antes de haver uma autoridade monetária, os homens foram capazes de reduzir, por meio de uma convenção, as complicações do escambo. Muito dura devia ser a vida de quem tinha vacas e precisava de trigo, mas não encontrava quem tivesse trigo e desejasse vacas. O problema seria resolvido se o plantador de trigo procurasse repolhos e o plantador de repolhos quisesse vacas. Faltaria resolver um detalhe: que fazer, se uma vaca valesse duas centenas de repolhos e o vaqueiro só precisasse de cem?

A vida ficou muito mais fácil para esses produtores quando se escolheu algum objeto conveniente para funcionar como unidade de conta e meio de troca. Esse mesmo objeto poderia servir como reserva de valor. Seria possível acumular numa caixa meios de compra correspondentes a muitas vacas ou carroças de trigo. Esse papel foi atribuído a vários objetos, por diferentes civilizações, ao longo de milênios, até se chegar à moeda abstrata. Desde a Antiguidade, no entanto, alguns tipos de moeda, especialmente o ouro e a prata, serviram para trocas não só no interior de um grupo, mas também entre produtores e comerciantes de nações diferentes. Modernamente, essa função mais ampla foi conferida a certas moedas nacionais de grande aceitação internacional. O dólar é hoje o exemplo mais notável.

Substituir o dólar por moedas nacionais de curso restrito, como o real e o peso argentino, é recuar na história e reaproximar o comércio internacional do escambo. Ninguém comercia com a maior parte do mundo usando dinheiro do Brasil, da Argentina, do Paraguai ou da Bolívia. A maior parte das moedas nacionais pode servir - e, mesmo assim, muito limitadamente - para o comércio bilateral. Pagamentos em reais e em pesos foram permitidos a empresas brasileiras e argentinas, mas os negócios com essas moedas mal se aproximam de 2% das trocas entre os dois países. Nada mais natural: indústrias brasileiras e argentinas precisam de divisas para transações com muitos outros países. Sem o dólar, estariam em situação pior que a dos primitivos produtores, embaraçados na hora de comerciar vacas, trigo e repolhos por meio do escambo.

Mas o governo brasileiro continua empenhado, como se isso fosse muito importante, em promover na América do Sul um comércio baseado em moedas nacionais. O objetivo principal, dizem os defensores da mudança, é facilitar o comércio para as empresas pequenas, livrando-as da complicação e dos custos das operações cambiais. Mas essas operações serão necessárias, de toda forma, se essas empresas precisarem comprar de terceiros países.

Além do mais, o custo e as complicações da burocracia cambial não são os obstáculos mais importantes à participação no comércio internacional. Se isso fosse verdade, um número muito maior de indústrias brasileiras já estaria envolvido na exportação e na importação. Se isso não ocorre, é porque os problemas são muito mais complicados: a logística é deficiente, o custo do capital é absurdo, o investimento é onerado por impostos, falta apoio financeiro a novos empreendimentos e a maior parte dos empresários carece de informações e de meios para formular e implementar estratégias de produção para o comércio exterior.

Resolver essas questões é bem mais difícil do que anunciar medidas cosméticas. Além disso, a diplomacia pouco tem defendido a indústria brasileira, grande, média ou pequena, quando negocia com os sul-americanos. Os acordos são muito mais favoráveis aos parceiros quando se trata, por exemplo, de cronogramas de redução de tarifas. Depois, a tolerância é grande quando se impõem barreiras a produtos brasileiros.

Mas a conversa a respeito de trocas em moedas nacionais tem também a ressonância de um grito de independência em relação ao dólar. Até ao governo chinês o presidente Lula já propôs a mudança da moeda no comércio bilateral. Mas os chineses não misturam comércio com romantismo e não parecem movidos pela nostalgia da vida primitiva - aquela nostalgia de quem tenta repetir o discurso dos anos 50, ressuscitar em 2009 a política de substituição de importações e implantar o atraso no lugar do agronegócio. Pelo menos, há certa coerência nessa pregação do retrocesso.

DORA KRAMER

Em total sintonia

O ESTADO DE SÃO PAULO - 26/11/09


O resultado da eleição da direção nacional do PT era o ponto final que faltava no desmentido de uma tese tão difundida quanto inconsistente: o distanciamento crescente entre o presidente Luiz Inácio da Silva e seu partido.

No auge do sucesso de tal crença chegou-se a especular a respeito da saída de Lula do PT, algo totalmente sem sentido em se tratando de organismos interdependentes.

Lula é a alavanca do PT, mas o PT é o instrumento de Lula para fazer política, pelo menos enquanto a atividade for exercida por meio de partidos.

Estão juntos até quando parecem estar separados.

O PT só pode se dar a luxo de seguir a vida depois do escandaloso abalo de 2005 sem passar por um processo qualquer, mesmo leve, de troca de pessoas e procedimentos porque é o partido do presidente da República que a ele conferiu sustentação moral e política pela força do cargo e da popularidade.

Em contrapartida, prestou-lhe e continua prestando total obediência. Do ponto de vista exclusivamente pragmático, sem entrar em considerações de natureza ética, um "case" de excepcional competência em matéria de disciplina e resultados.

Não há nada igual entre os partidos brasileiros. O PT é a única agremiação a promover eleições diretas para a direção nacional e as seções regionais; é o partido com maior identificação popular, desde antes de chegar ao poder; exibe vida partidária rica, menos do que quando era oposição, mas muito mais que qualquer um dos outros; convive com divergências internas sem implodir seus projetos nacionais e, ainda assim, tem comando e objetivos nítidos.

Já foi mudar o Brasil e hoje é continuar mandando no Brasil. Goste-se ou não, trata-se de um partido com nitidez e transparência de propósitos, não obstante a obscuridade dos métodos. Reprovados por uns, aceitos pela maioria, nem por isso aceitáveis por unanimidade.

A eleição em primeiro turno do ex-senador e ex-presidente da Petrobrás José Eduardo Dutra para a presidência do partido mostra quem manda, como de resto já ficara sobejamente demonstrado na unção de Dilma Rousseff na condição de testa de ferro do chefe na primeira eleição sem o nome de Lula na cédula ou na tela da urna eletrônica.

A volta risonha e franca dos mensaleiros, a retomada de José Dirceu na linha de frente, tudo isso só acontece porque é Lula o fiador. Um avalista que, quando quer e lhe é conveniente, sabe reconhecer os seus limites.

Por exemplo, deixando prosperar em estratos médios do partido a tese do terceiro mandato até o momento de se render às evidências e ordenar o recolhimento geral das bandeiras e sua substituição pela causa oposta.

A proposta chegou ao Congresso por intermédio de um deputado da base aliada e foi morta na Comissão de Constituição e Justiça por um relatório de afirmação democrática da autoria do petista José Genoino.

Outro exemplo: a candidatura de Antonio Palocci ao governo de São Paulo. Lula queria, mas as pesquisas qualitativas mostravam que não passaria pelo controle de qualidade do paulista. Mudou os planos radicalmente e foi buscar Ciro Gomes no Ceará. O partido abomina a ideia, mas aceitará se assim tiver de ser feito para a felicidade da nação petista, cuja fonte de energia é Lula quem alimenta.

Mesmo quando ameaça enquadrar o partido nos Estados e pedir que seus correligionários abram mão de seus palanques, Lula faz que vai, mas não vai.

Prova é que agora mesmo o presidente anunciou que prefere a negociação à imposição. O PMDB percebeu há tempos que aquela promessa de fazer o PT desistir de concorrer onde fosse importante o palanque exclusivo para o aliado era só uma componente no jogo da sedução.

O presidente jamais investiria no esvaziamento de seu partido, se esse fosse o preço da aliança. Por isso o PMDB se apressou e apresentou em outubro a outra fatura para assegurar a vaga de vice na chapa presidencial, entendendo que em primeiro lugar estará sempre o PT.

Esquisito é o governo patrocinar a tese oposta.

Francamente

O governador Aécio Neves escreve para explicar sua posição diante de pesquisas que medem a aceitação de chapa presidencial em composição com o governador José Serra.

"Minha sincera irritação com a pesquisa atribuída ao PSDB se deu unicamente pela divulgação parcial da mesma. A pesquisa de ontem (segunda-feira), ao contrário, considerou diversos cenários, todos eles tornados públicos. A meu ver, a visão do conjunto nos fornece informações importantes para a compreensão do atual quadro político."

Mineiramente, Aécio fala em pesquisa "atribuída" ao PSDB, evita adiantar se esse tipo de consulta tem ou terá influência sobre sua posição e não detalha os citados "diversos cenários", mas certamente se refere aos 31% de aceitação a uma chapa Aécio-Serra. A formação Serra-Aécio recebeu quase o mesmo, 35%.

GOSTOSAS

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PAINEL DA FOLHA

Aliança no pré-sal

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 26/11/09

No meio da reunião PT-PMDB para mapear a perspectiva de aliança nos Estados, o deputado peemedebista Eduardo Cunha (RJ) lançou um alerta sobre o potencial efeito negativo da partilha dos royalties do pré-sal, tal como desenhada pelo Planalto e endossada pelos petistas na Câmara, sobre as chances de reeleição do governador do Rio, Sérgio Cabral.

O líder da bancada, Henrique Alves (RN), cortou o discurso na hora. Disse que o assunto ali era outro. Mas, na disputa pelo dinheiro do pré-sal, deputados fluminenses fazem questão de lembrar diariamente aos líderes governistas que o Rio é o Estado com mais peso (10% dos votos) na convenção que formalizará ou não o apoio do partido a Dilma Rousseff.

Corda esticada - Durante a reunião, Ricardo Berzoini pediu “paciência” nos Estados onde a aliança não fecha, dada a existência de candidatos do PT e do PMDB. Henrique Alves devolveu: “Temos que resolver sem paciência mesmo, senão quem vai perder a paciência é o eleitor”.


Calendário - Caberá ao deputado Geraldo Magela (DF) apresentar a proposta de antecipar a posse da nova direção do PT, que se daria em fevereiro, como forma de acelerar as articulações da candidatura de Dilma. A ideia tem a simpatia do presidente eleito, José Eduardo Dutra, e antipatia do atual, Berzoini.

De uma vez - Diferentemente do ministro Patrus Ananias, que se manifesta favorável às prévias, o outro pré-candidato do PT ao governo de Minas, Fernando Pimentel, defende que a questão seja resolvida agora, no segundo turno da eleição do diretório estadual. “Um dos candidatos me apoia, o outro apoia o Patrus. O resultado vai sinalizar o caminho do partido”, diz o ex-prefeito de BH.


Time - O PT escalou Ary Vannazi, administrador de São Leopoldo (RS) e próximo de Dilma, para fazer a ponte entre prefeitos e a campanha.


Como você - Em encontro nesta semana, José Serra (PSDB) pediu a Jarbas Vasconcelos (PMDB) que dispute o governo de Pernambuco. Ele respondeu que fará como o tucano: decidirá em março.


Bordão - O novo alvo do PT na Assembleia paulista é a autorização obtida pelo governo para vender a Cosesp (Companhia de Seguros do Estado de São Paulo). “Só falta vender uma parte da Cesp, que ninguém quer”, diz o deputado petista Roberto Felício.

Agenda livre 1 - O avião da FAB que levou Lulinha e 15 acompanhantes de São Paulo a Brasília aterrissou na madrugada de 10 de outubro, um sábado com feriado na segunda. O último item na agenda de Lula para o dia 9, sexta, foi às 15h30. Depois, ele passou três dias “sem compromissos oficiais”. Segundo o Planalto, o grupo era formado por “convidados do presidente”.


Agenda livre 2 - Na sexta, Lula iria a uma feira na Marina da Glória, mas cancelou devido ao mau tempo no Rio.


Pilão - E segue o entusiasmo de Lula com o programa de aceleração de seu regime. Em reunião com ministros, o presidente exibiu orgulhoso a folga na cintura da calça do terno usado na posse, em 2003.

A postos


A história foi contada pelo sociólogo Francisco de Oliveira no evento comemorativo dos 40 anos do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento).

Durante o regime militar, Ulysses Guimarães foi a Sergipe para um encontro do então MDB. Em sua palestra, comparou a trajetória da oposição brasileira à ‘Odisseia’, poema clássico de Homero sobre o retorno do herói Ulisses à terra natal. Na plateia, formada majoritariamente por funcionários da Prefeitura de Aracaju, muitos caíram no sono. Até que o palestrante elevou a voz:

- Agamenon! - gritou, referindo-se ao rei de Micenas.

Acordado de súbito, um dos presentes se ergueu:

- Pronto, doutor!

FHC em DC - Em palestra no dia 12 no instituto de Diálogo Interamericano, em Washington, o ex-presidente tucano falará da evolução das relações EUA-América Latina e da crescente influência do Brasil no hemisfério.

Tiroteio

O encontro pró-candidatura própria do PMDB é o maior Cavalo de Troia da política brasileira. Dentro só tem inimigo.

Do deputado ANDRÉ VARGAS (PT-PR), sobre reunião promovida no sábado passado em Curitiba pelo governador do Paraná, Roberto Requião, para se contrapor à tese de adesão imediata do partido à candidatura de Dilma Rousseff.

DEMÉTRIO MAGNOLI

Assimetria

O ESTADO DE SÃO PAULO - 26/11/09


Pascal Lamy, diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), diagnosticou no seu relatório anual que, de modo geral, "a economia global está quase tão aberta ao comércio hoje quanto antes do início da crise" e conclamou as nações a "anunciar estratégias de saída para remover as restrições ao comércio e os subsídios à produção que introduziram temporariamente a fim de neutralizar os efeitos da crise". Lamy finge desconhecer que o câmbio funciona como o principal preço na economia mundial. Por isso seu diagnóstico é ilusório e sua conclamação, uma perigosa utopia.

O ciclo de crescimento global anterior à crise assentou-se sobre o eixo de desequilíbrio EUA-China. A poupança forçada do oceano de camponeses pobres chineses financiou o consumo exuberante da classe média americana. A assimetria refletiu-se sob as formas complementares dos crescentes saldos em conta corrente da China e dos monumentais déficits americanos. O motor das altas finanças simulou um equilíbrio virtual, apoiado na rotação acelerada dos capitais especulativos, que perdurou até o colapso do Lehman Brothers. Hoje, ao fim de um ano de crise, a política cambial chinesa restaura o desequilíbrio prévio, mas sem as molas de amortecimento que conferiram longevidade à expansão econômica.

Sete meses atrás, num comunicado retumbante, o banco central chinês apresentou o programa de uma reforma do sistema monetário internacional baseada na substituição do dólar por "uma moeda de reserva internacional de valor estável" emitida pelo FMI. A leitura otimista do comunicado sugeria que os chineses estavam prontos a trocar sua política cambial mercantilista pela participação num condomínio de gestão do sistema monetário internacional. Hoje, só Lamy simula não entender que aquilo não passava de chantagem. A China colou sua moeda ao dólar, operando de fato uma desvalorização do yuan em relação ao euro e às divisas dos países emergentes.

No dia seguinte ao comunicado célebre, o presidente do Banco da China pronunciou um outro discurso, pouco comentado, mas revelador. Zhou Xiaochuan falou por hipérboles, mas efetivamente atribuiu os elevados níveis de poupança chineses aos valores "antiextravagância" do confucionismo e alertou que "não é a hora certa" para a ampliação da poupança nos EUA. Aquelas palavras eram a senha para decifrar a política chinesa de reiteração do jogo da assimetria ao longo da crise, exportando os custos da recuperação econômica global.

A política cambial chinesa descreve oscilações cíclicas, mas obedece a uma lógica de longo prazo destinada a conservar a suposta virtude confucionista da poupança forçada. A depreciação do yuan, que atingiu o máximo em 1994, foi o pano de fundo da crise asiática de 1997 e a plataforma para a etapa atual de ascensão chinesa no comércio mundial. A última oscilação para cima do yuan iniciou-se em 2006, mas foi interrompida após o colapso financeiro nos EUA, frustrando as expectativas americanas de uma expansão sustentada do consumo chinês. Na sua visita a Pequim, Barack Obama ouviu de Hu Jintao um sonoro não à sua demanda de valorização da moeda chinesa.

O totalitarismo chinês já exibe fendas e rachaduras, mas conserva sua natureza fundamental. É o sistema político da China, não um projeto abstrato de desenvolvimento nacional, que dita a continuidade de sua estratégia mercantilista. Numa ponta, o crescimento significativo do consumo interno tem como requisitos a criação de direitos trabalhistas, a implantação de mecanismos de seguridade social e a expansão do crédito, que, por sua vez, exige a consolidação dos direitos de propriedade, até mesmo sobre a terra agrícola. Na outra ponta, o crescimento da renda média implica aumento das desigualdades sociais e das pressões reivindicatórias. Nada disso é compatível com o monopólio do poder político pelo partido-Estado.

O dogma do yuan fraco está no cerne do capitalismo de Estado chinês. No passado recente, quando a China ainda era um ator periférico, a sua estratégia mercantilista podia ser absorvida pela economia mundial. O cenário mudou desde o início do século, mas a incompatibilidade foi reciclada temporariamente pelas engrenagens combinadas da especulação financeira e da política fiscal expansionista dos EUA. Há um ano tais engrenagens emperraram e agora, independentemente da vontade de Zhou Xiaochuan, o mercado americano não pode drenar o excesso de poupança da China. O dumping cambial chinês converteu-se numa substância tóxica de efeitos globais.

A recuperação americana patina, pois a inevitável contração das importações não foi acompanhada por uma expansão das exportações. A apreciação generalizada das moedas dos países emergentes em relação ao dólar (e, portanto, ao yuan) provocou retração das exportações e perda de mercados de bens industriais para os chineses, ameaçando o equilíbrio das contas externas. Nos grandes produtores de commodities, como o Brasil, as exportações para a China ainda disfarçam os efeitos da assimetria global. Entretanto, o custo desse disfarce é pago pelo setor industrial, que tende a encolher sob o impacto da concorrência chinesa.

Quando disparou a sirene da crise mundial, o Ministério do Comércio da China declarou que seu país "é contra qualquer forma de protecionismo" e está comprometido com os princípios sagrados de livre-comércio. A gestão cambial praticada pelos chineses, contudo, representa uma forma radical de subsídio, disponível apenas para uma ditadura totalitária capaz de negar os direitos básicos de cidadania numa nação de renda média. Não é casual que pela primeira vez se discuta a hipótese de adoção de uma tarifa comum internacional para contrabalançar o dumping cambial da China.

Isso não consta do relatório de Lamy nem de nenhum manual de livre-comércio. Mas, agora, o nome do jogo é assimetria sem amortecedores.

Demétrio Magnoli é sociólogo e doutor em Geografia
Humana pela USP. E-mail: demetrio.magnoli@terra.com.br

PEIDO

ELIANE CANTANHÊDE

Vai mal a coisa

FOLHA DE SÃO PAULO - 26/11/09


BRASÍLIA - As relações do Brasil com o Irã vão de vento em popa, mas não se pode dizer o mesmo das relações do Brasil com os EUA.
Depois de o chanceler Amorim dizer à Folha que há "uma frustração" com os EUA e cobrar "maior franqueza" do governo Barack Obama, agora é o assessor internacional de Lula, Marco Aurélio Garcia, quem manifesta "decepção".
No meio disso, a carta de Obama para Lula soa como inventário dos pontos de discórdia. Alguns são antigos, como o fracasso da Rodada de Doha, a derradeira sacada brasileira na área de comércio, depois do enterro da Alca e do aborto de acordos bilaterais com os EUA.
Outros são bem mais recentes, como a saída para a crise de Honduras. O Brasil lidera o movimento para rejeitar o presidente eleito no próximo domingo, sem que Manuel Zelaya seja reconduzido antes. Já os EUA têm apoio de velhos aliados incondicionais, como a Colômbia, para acatar o resultado das urnas e ponto final.
Vai mal a coisa, e cedo. Obama acaba de ser empossado, tem enormes dificuldades internas, nem sequer obteve a aprovação de todos os assessores no Congresso (nem o embaixador no Brasil, aliás) e não consegue avançar no Oriente Médio, no Afeganistão, na aproximação com a América Latina. E o mais curioso é o desequilíbrio do comércio bilateral: superavit de US$ 4 bi para os EUA, um aumento de 284%. Perguntar não ofende: então o Brasil é comprador, em vez de vendedor para o maior e mais disputado mercado do planeta?
Segundo o embaixador Mauro Vieira (que assume em janeiro a embaixada em Washington), isso é sinal da importância que produtores e exportadores norte-americanos dão ao Brasil mesmo na crise. Ok, mas não seria melhor que os produtores e exportadores brasileiros é que se dessem bem? O próximo round será em Copenhague, com EUA e China de um lado, França e Brasil do outro.