sábado, março 30, 2013

Futebol-exportação - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 30/03

O ministro Aldo Rebelo deve contratar a empresa do inglês Peter Kenyon, 58 anos, ex-diretor executivo do Chelsea, para fazer um estudo estratégico sobre o futebol brasileiro.
Os dois vão se encontrar este mês no Brasil.

Petista verde
Carlos Minc assinou a petição de apoio à criação do partido político REDE de Marina Silva, a ex- senadora.
Mas não cogita sair do partido da Dilma e do Lula. Diz que fez isso “por amor à biodiversidade na política”.

Aliás...
Também o senador petista
acriano Jorge Viana já assinou a petição de apoio ao partido de sua conterrânea Marina.

Diário de Justiça
A 24ª Vara Cível do Rio decidiu que Eurico Miranda pague ao Vasco R$1,3 milhão, corrigidos desde 2009.
É para reembolsar o clube que teve que pagar o mesmo valor a pessoas que ganharam ações contra o Vasco por causa de declarações de Eurico.

No mais...
Em ato contra Marco Feliciano, esta semana na ABI, a nossa
querida Preta Gil disparou:
— Sou negra, homossexual e gordinha. A gente não pode se calar neste momento!
Não é fofa?

Mulher empresária
Veja só. Vinte e quatro milhões de brasileiras pretendem abrir um negócio próprio nos próximos três anos, segundo pesquisa do Data Popular, de Renato Meirelles.
As regiões Norte e Nordeste lideram o desejo empreendedor das brasileiras: 58% delas estão no Norte, e 51% no Nordeste. A seguir aparecem Sudeste e Centro-Oeste (35%). E o Sul com 32%.

Giovanni Improtta
O primeiro filme dirigido por José Wilker, “Giovanni Improtta”, inspirado no seu personagem na novela “Senhora do Destino”, de Aguinaldo Silva, vai ser exibido na abertura do Festival de Recife, dia 26 de abril.
O longa, que tem no elenco Jô Soares, entra em cartaz em 17 de maio.

Meninas do Leblon
Wilson Simoninha, depois de quatro anos dedicados a projetos sobre a obra do pai, Simonal, lança em abril novo CD, pela Som Livre.
Ele abre o disco com uma canção/declaração de amor às “Meninas do Leblon”. Um trechinho:
“Andando no verão, no calçadão à beira-mar/Eu vi a coisa mais bonita/ Disputando a atenção com as ondas do mar.”

Bachiana no Alemão
A maravilhosa música de Villa-Lobos vai invadir o Complexo do Alemão. Nos dias 26 e 29, “ O trenzinho do caipira” e outras pérolas do mestre vão ser apresentadas com arranjos jazzísticos no projeto Villa-Lobos Injazz.

Zico é rei
O título do enredo em homenagem a Zico que a Imperatriz leva para a Sapucaí em 2014 trata o ex- craque como rei.
É “Arthur X — o Galinho de Ouro na corte da Imperatriz”. Merece.

Crime no bondinho
A 39ª Vara Criminal do Rio condenou Harrison Pragana da Trindade e Damião Eli da Conceição Gomes a 37 anos e três meses de prisão. A dupla foi acusada de roubar e matar a portuguesa Rosa da Cunha Viana, 79 anos, em 2011.
Após o crime, abandonaram o corpo da idosa nos trilhos do bondinho de Santa Teresa.

Museu do Trem
Fechado ao público desde 2007, o Museu do Trem, no Rio, tombado pelo Iphan, uma das maiores referências ferroviárias do país, será reaberto terça.
Entre as peças do acervo, um vagão usado por Getúlio Vargas e outro em que viajou o Rei Alberto, da Bélgica, em 1922.

Ser diferente
Gilberto Gil, Lenine, Biquini Cavadão, Preta Gil e outros se reuniram para gravar um clipe para a campanha “Ser diferente é normal”, de Adilson Xavier.
A música, que o leitor pode ouvir no blog da coluna, já ganhou versão em inglês. O clipe é dirigido por José Alvarenga Jr.

Emílio Santiago
O Teatro Rival decidiu homenagear terça Emílio Santiago.
A Banda Status Rio vai tocar músicas do cantor falecido semana passada.

Algo de podre não só no reino da Dinamarca - SÉRGIO TELLES

O Estado de S.Paulo - 30/03

Durante uma brincadeira, uma instável menina de 5 anos beija levemente os lábios de seu professor, a quem entrega um bilhete amoroso. Com delicadeza e sensibilidade, ele tenta reendereçar suas declarações de amor a quem julga de direito, ou seja, o pai ou um menino de sua idade. Ressentida por entender essa resposta como rejeição, a menina faz uma indevida acusação contra o professor para a diretora da escola, que a toma como evidência de abuso sexual e aciona a engrenagem social que ciosamente se posiciona para punir o "pedófilo". Embora precipitada e mal conduzida, a atitude da diretora parece justificável. Afinal os pedófilos existem e se concentram exatamente nas atividades que favorecem o contato com as crianças, haja vista o grande escândalo dos padres pedófilos que continua a abalar o Vaticano.

É esse o enredo do excelente A Caça, de Vinterberg, do saudoso grupo dinamarquês Dogma 95. Seu mérito maior é mostrar como é quase impossível lidar de forma objetiva com a pedofilia, tão assustadora ela se nos apresenta. No afã de punir imediatamente o acusado de crime tão abominável, os juízes terminam por praticar crimes tão graves quanto aquele que pretendiam julgar.

O filme mostra a complexidade da situação que se esconde atrás da ensandecida caça às bruxas que nestas ocasiões costuma ser empreendida, como bem ilustra o episódio Escola Base, ocorrida entre nós há cerca de 20 anos.

O ângulo escolhido por Vinterberg para abordar o problema é bem instigante. Em vez de focar a evidente patologia de um pedófilo, com os graves problemas que provoca em suas vítimas e em si mesmo, como fez em seu filme de 1998, Festa de Família, seu olhar incide agora sobre uma região mais nebulosa, na qual a patologia é mais difusa e difícil de diagnosticar, aquela que se esconde numa suposta normalidade que cria um pedófilo imaginário para nele projetar suas próprias fantasias e desejos reprimidos.

Em assim fazendo, Vinterberg mostra como é incerta a linha de demarcação entre normalidade e patologia.

É verdade que a figura do professor tem uma certa ambiguidade. Sua mulher, de quem está separado e que se recusa a lhe dar a guarda compartilhada do filho adolescente, o acusa de não ter um emprego decente, pois, com mais de 40 anos, ainda trabalha numa escola maternal. Ou seja, ele não corresponde bem às expectativas que a sociedade estabelece para as pessoas de seu sexo e de sua idade.

Talvez essa sua condição facilite a escolha de sua pessoa como alvo das fantasias provenientes de várias fontes da comunidade. Fantasias eróticas da menina, que está às voltas com um complexo de Édipo instalado numa família conflituada pelas frequentes brigas dos pais, o que a leva a fugir de casa com frequência. Além disso, é precocemente exposta à crueza do sexo, desde que o irmão adolescente lhe mostra imagens pornográficas. Fantasias homoeróticas e agressivas dos amigos. Fantasias das fanadas professoras incapazes de articular o desejo em relação ao atraente colega, único homem com quem convivem na escola, incapacidade não compartilhada pela humilde atendente que o seduz, uma imigrante de origem árabe perdida no remoto reino da Dinamarca, onde, de longa data, Shakespeare dizia haver algo de podre.

No que diz respeito às crianças, o filme mostra corretamente que elas não devem ser idealizadas, como o narcisismo dos pais costuma fazer. Ao descrever a sexualidade infantil Freud provocou grande espanto, pois até então se confundia sexualidade e genitalidade, o que levava à errônea conclusão de que a sexualidade não existia na infância e só aparecia com o advento da puberdade e adolescência.

Se até Freud todas as manifestações da sexualidade infantil foram sistematicamente negadas, o mesmo aconteceu, e talvez de forma ainda mais intensa, com a agressividade das crianças. Prova disso é o bullying, comportamento desde sempre presente nas salas de aulas e cuja dimensão destrutiva e violenta só muito recentemente foi devidamente reconhecida, possibilitando a criação de medidas adequadas para combatê-lo.

As crianças não são anjos nem demônios, são apenas frágeis seres humanos em formação, com suas pulsões agressivas e sexuais desabrochando e, por isso mesmo, necessitadas de proteção e orientação por parte dos adultos, que supostamente já teriam aprendido a lidar com essas mesmas pulsões, o que, infelizmente, nem sempre é verdade. O fato de nos tornarmos adultos e envelhecermos não nos garante a maturidade emocional e afetiva. Nosso lado infantil continuará sempre conosco e muitas vezes tomará indevidamente o controle de nossa vida mental, provocando transtornos e dificuldades.

Assim como deixa imprecisos os limites entre normalidade e patologia, Vinterberg mostra como é tênue a linha divisória entre a vida adulta e a infância. No momento em que o filho do professor cumpre com os ritos de iniciação da sociedade de caçadores, é cantada uma canção que afirma ser aquele o momento em que o menino vira homem e os homens viram meninos.

A cena é decisiva porque ressalta a incongruência que efetivamente existe entre o tempo cronológico da realidade material externa e a atemporalidade do inconsciente, o que faz com que os homens (os adultos) estejam sempre voltando a ser crianças, ou seja, a manter a irracionalidade regida pela afetividade mais arcaica.

Mais ainda, ela é particularmente marcante na medida em que evidencia a presença da destrutividade, manifestação inequívoca da pulsão de morte. A caça, esporte masculino por excelência, é uma evidência do prazer de matar. A pulsão de morte está presente desde os primórdios da vida, mas naquele momento o desejo de matar obtém uma sanção simbólica ritualizada, fruto de uma sublimação que mal esconde os fundamentos sobre os quais se assenta.

É pleno de significação que o menino (a criança) se transforme em homem (o adulto) quando pode expressar civilizadamente o desejo de matar. Mas, não nos esqueçamos, os homens podem voltar a ser meninos e, regidos pelos mais primitivos impulsos, podem regredir à barbárie e fazer a guerra.

O desejo de matar o próximo se dá não só através de sua eliminação física, mas também indiretamente pela a difamação, a rejeição, a exclusão do convívio social. Vemos no filme que, afastada a racionalização que até certo ponto explicaria o ódio e o desejo de destruir o professor (o suposto abuso sexual), persiste a hostilidade, pois ela se sustenta em outros inconfessados motivos (o amor reprimido, a competição, a rivalidade).

Vinterberg nos mostra como sexualidade e destrutividade, por não se deixarem domar por inteiro, são forças que não cessam de nos desafiar.

Um chocolate para Audrey - ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR

FOLHA DE SP - 30/03

Sair do ônibus sem precisar sonhar, ser levada pelo playboy napolitano em um conversível: como resistir?


Em algum ponto da costa italiana, provavelmente no sul do país, o ônibus municipal tem de parar. Algo bloqueia a praça principal da cidadezinha. Gritos, tumulto, gestos exagerados tão típicos, melancias e abóboras espalhadas pelo chão.

O motorista do ônibus e um carroceiro que interrompeu o caminho jogam a responsabilidade um no outro. Ouve-se uma voz: "A culpa não é minha, é do Gino" (parece que Gino é o nome de um burrico).

Dentro do ônibus, resignação. Naquele lugar onde os penhascos mergulham no Mediterrâneo, e vilarejos despontam em ângulos impossíveis, não existe espaço para a ansiedade. Ninguém se levanta, nenhum passageiro vai brigar com o motorista. Simplesmente esperam a bagunça ser resolvida para seguir viagem.

Audrey está no ônibus. Está mas não está. As vicissitudes da vida provinciana não significam nada para ela. De lencinho preto amarrado no pescoço, Audrey gosta de sonhar. Leva no colo uma bolsa, que ela abre, e vemos lá dentro um tablete de chocolate.

Chocolate! Combustível dos sonhos da doce morena. Ela pisca os olhos, imagina-se em um lugar muito melhor do que dentro de um ônibus em uma vila italiana, quem sabe uma região do planeta onde a vida realmente aconteça.

É como a personagem Holly Golightly, do filme "Bonequinha de Luxo": a provinciana que deixou para trás a família e o tédio do sul dos Estados Unidos, e se mandou para Nova York em busca de glamour.

A Audrey presa no transporte coletivo italiano, frescor e beleza exalando de cada poro, é a atriz Audrey Hepburn (1929-1993). A mesma que interpretou Holly Golightly no cinema.

Voltamos ao ônibus, onde, inspirada pelo chocolate, Audrey sonha com uma vida mais empolgante. Mas espere: e se ela não precisasse da imaginação para sair dali? E se fosse, de verdade, levada a outro lugar?

A cena tem agora trilha musical. Começa "Moon River", o tema de "Bonequinha de Luxo", na voz da própria Audrey. Mas não essa Audrey sonhadora do ônibus. É a Audrey do filme, ou melhor, Holly Golightly, atormentada pelo passado caipira, tentando conquistar uma metrópole que sabe não lhe pertencer.

De volta à pracinha, onde motorista e carroceiro ainda discutem. Um bonitão, pinta de playboy napolitano, guiando um conversível, para ao lado da janela de Audrey.

Os olhares se encontram. Com um movimento discreto do braço, o "bello" a convida para o lugar vago ao lado dele.

Sair daquele ônibus sem precisar sonhar, ser levada dali, sem prazo ou destino. Como resistir?

Audrey joga a cabeça para trás, pede licença ao passageiro do lado. Dá uns poucos passos, desce dois degraus -pronto, está na rua. Tão leve, tão delicada, ela não anda, flutua. Segura as laterais do vestido branco esvoaçante de bolinhas pretas, dá a volta pela frente do ônibus. Sorrindo, em um gesto tão doce quanto furtivo, rouba o boné do condutor.

Perdeu, playboy do conversível. Audrey não vai ficar a seu lado. Ela põe o boné do motorista na cabeça do galã, e senta-se no banco de trás.

Conformado, o moreno namorador engata a primeira e segue pela estrada sinuosa, agora como motorista particular. Audrey abre de novo a bolsa, tira o chocolate, come, enfim, uma fileira.

Milagrosamente, o vento não embaraça seus cabelos negros presos em rabo de cavalo. Porque Audrey, essa Audrey impossivelmente linda, não existe.

É um avatar hiperrealista, criado para um comercial inglês de chocolate. Um prodígio de técnica, ao mesmo tempo assustador e fascinante. Veja: bit.ly/WgmM8g.

O filme publicitário é um tributo à juventude e aos desejos que a simbolizam. Mas é também o relato de uma felicidade inalcançável.

Como se uma paisagem tão deslumbrante, uma jovem tão desesperadamente bela, um encontro tão fortuito, tudo isso só pudesse existir em um roteiro fictício, com a protagonista criada por um programa de animação em 3D.

Ainda restam alguns segundos do comercial. A canção se aproxima de um dos versos mais primorosos da história da música popular ("two drifters off to see the world", nem me atrevo a traduzir).

Audrey, o avatar de Audrey, recosta-se no banco, suspira, fecha os olhos. O destino não importa mais, muito menos o Apolo de província que pilota o carrão.

Ela só queria chocolate.

As águas de março - ZUENIR VENTURA

O GLOBO - 30/03

Pode ser nostalgia das quatro estações, na verdade é, mas acho que o Rio seria melhor se as tivesse de forma nítida, diferenciada, não todas num só dia, como às vezes acontece, e sim cada uma a seu tempo, a exemplo do que ocorre com a vida da gente e na bela música de Vivaldi. Com o atual desequilíbrio climático, não se fazem mais estações como antigamente, quando os poetas e seresteiros escolhiam a preferida para cantar. Carlos Drummond de Andrade exaltou a primavera, a exemplo de Rubem Braga. Já outro cronista, Paulo Mendes Campos, dizia que o Rio era "praticamente o mês de fevereiro" Ele garantia: "Quem vive esses dias viveu tudo (ou quase tudo)." Manuel Bandeira escolheu o verão para uma elegia cheia de evocações: "Dêem-me as cigarras que ouvi menino."

Do nosso cancioneiro popular, um dos mais pungentes hinos do amor perdido se passa nesse período de agora, fim de verão/começo de outono. É "As rosas não falam" do grande Cartola. "Bate outra vez/Com esperança o meu coração/Pois já vai terminando o verão, enfim" (nessa música, há uma divertida autocorreção do poeta, fingindo dar-se conta de que disse uma tolice: "Queixo-me às rosas,/Mas que bobagem,/As rosas não falam"). E ele continua:

"Volto ao jardim/Na certeza que devo chorar/ Pois bem sei que não queres voltar/Para mim." De minha modesta parte, curto o verão e gosto tanto do calor que - meu dermatologista que não ouça - costumo expor a careca ao sol inclemente do meio-dia, sem chapéu, só com um cremezinho que não protege muito. O suor escorrendo, a cabeça cozinhando, a endorfina agindo, é um prazer quase erótico. Mas mesmo assim preferiria que o verão, como o pensamento, não fosse único. Embora admitindo que frio não dá samba nem poesia, o inverno carioca me tenta, porque é quando a cidade é mais amena, a luz mais transparente, o ar mais fresco e o sol menos tórrido, aquecendo, em vez de queimar.

Mas voltando à desordem ecológica. Nada melhor para ilustrar seus trágicos efeitos (e o descaso das autoridades) do que as águas de março. Cantadas como "promessas de vida" por Tom Jobim, elas se tornaram, ao contrário, ameaças de morte nas cidades serranas fluminenses, com enchentes, desabamentos e, em consequência, centenas de vítimas nestes últimos anos. A triste ironia é que a linda música de Tom foi composta em seu sítio Poço Fundo, na região de Petrópolis, quando das chuvas torrenciais resultava poesia, não a morte de mais de 30 pessoas, como agora.


Eles querem mais - PLÁCIDO FERNANDES VIEIRA

CORREIO BRAZILIENSE - 30/03
Tenho certa dificuldade de acreditar em Lula, desde que ele disse em cadeia nacional de televisão que o PT devia desculpas ao país pela lambança do mensalão - e o partido nunca a pediu. Mais tarde, já livre de um possível impeachment, ele mudou de ideia. Negou que houvesse desvio de dinheiro público para distribuir a parlamentares da base aliada e passou a advogar a tese de que tudo não passava de caixa dois. E não foi só.
Lula também mudou de opinião - que não era nada boa - sobre Sarney, Collor, Maluf. E aquela radical transformação ética que prometia para a política, antes de chegar ao Planalto, também foi pro saco. Ou pior: saiu às avessas. Nunca antes na história deste país, um homofóbico comandou a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, e condenados por corrupção deram as cartas na Comissão de Constituição e Justiça. E tudo com a bênção petista.

Esta semana, falando a empresários - que já não o temem, agora o financiam -, o ex-presidente veio com esta: defendeu que o financiamento privado de campanhas eleitorais se torne crime inafiançável. Em seguida: tchan, tchan, tchan, tchan! Ele apontou de onde sairia a bufunfa: dos cofres públicos, claro. Ou seja: em vez de servir para melhorar o ensino e a saúde, por exemplo, o dinheiro dos impostos, que tão sofridamente pagamos, serão usados para financiar o show de cinismo em que se transformaram as campanhas, sobretudo o horário eleitoral. É isto: a gente será compulsoriamente obrigada a pagar para ouvir marionetes de marqueteiros nos fazerem promessas que quase nunca são cumpridas.

Por isso, defendo, o único financiamento permitido seria o de pessoas físicas. E com limite de valor. O voto em parlamentares, claro, seria distrital - no máximo, distrital misto. Nesse caso, eu, você e qualquer outro cidadão só faríamos doação para a campanha de candidatos conhecidos pela comunidade e em que acreditássemos. Imagine quantos desses que estão aí no Congresso fariam você pôr a mão no bolso para ajudar a elegê-los outra vez! Sou intransigentemente contra o financiamento de campanha eleitoral com dinheiro público e também com o de empresas privadas.

Ora, de uma forma ou de outra, a grana acaba mesmo é saindo do nosso bolso, via superfaturamento de obras ou outras maracutaias mil em licitações com o Estado. Por isso, eu iria além na proposta de Lula: que essas duas modalidades de doação a políticos e também o assalto ao erário sejam transformados em crimes inafiançáveis e punidos com rigor. No mais leve dos delitos, o bandido seria condenado a devolver os recursos afanados e a cumprir uma pena de, no mínimo, 10 anos em regime fechado.

Atalhos perigosos - RICARDO BRAND

O GLOBO - 30/03

Especialistas propõem alternativas para estancar o crescimento da esclerosada máquina burocrática (que de tanto apanhar já está emperrada) e, de quebra, arejar o confuso sistema tributário brasileiro. Há quem defenda que, diante da inércia do Legislativo em simplificar a intrincada legislação fiscal, a presidente Dilma deveria impor à administração tributária federal uma filosofia desenvolvimentista, baseada no modelo canadense. Tal medida colocaria limites à máquina burocrática que atualmente entende ser função da empresa gerar receita tributária, e não provocar o desenvolvimento.

Inegável que, além da complexidade das leis, a profusão de regulamentações inferniza a vida de empresários e contribuintes. Isso quando não significa sua própria sentença de morte. Ocorre que o grosso da produção normativa vem justamente da necessidade de se esclarecer como cumprir essas leis. Ora, fosse o sistema tributário mais claro e simples, menor seria a necessidade de explicá-lo.

Ante essa aparente intransponível barreira política, surge a tal proposta: diminuir o rigor da aplicação da legislação fiscal para que a economia deslanche. Seria uma solução criativa que prescindiria da atuação do relutante Legislativo. Ocorre que o Código Tributário Nacional estabelece a atividade de cobrança de tributos é plenamente vinculada. Sugerir que presidentes e governadores usem de sua autoridade para mitigar tal dispositivo legal significa convidá-los a testar os limites do seu poder que emana da Constituição Federal.

Nunca é demais lembrar que às vésperas da quartelada de 1964 não faltava quem defendesse que a solução para a baixa qualidade da classe política seria a hipertrofia do Poder Executivo.

O retorno do Brasil ao Estado de Direito pela Constituição de 1988 resgatou a autonomia dos entes federativos. Essa mudança resultou num aumento na complexidade da legislação tributária, um modelo que começa a dar sinais de esgotamento. O caminho para superar tais dificuldades está na própria Constituição e chama-se Poder Legislativo.

Deixemos os atalhos para driblar as dificuldades do processo legislativo nos livros da história do século passado.

Boas perspectivas para a safra 2013/2014 - GUILHERME NASTARI

O Estado de S.Paulo - 30/03

O clima favorável, a elevada taxa de renovação dos canaviais em 2012 e tratos culturais realizados dentro das melhores práticas do setor são os elementos que justificam as perspectivas positivas para a safra de cana a ser processada em 2013/2014.

A precipitação abundante no segundo trimestre, e dentro de condições normais desde o final de 2012, associada a temperaturas acima da média, impulsionou o desenvolvimento dos canaviais a serem colhidos no início e no meio da próxima temporada, gerando boas perspectivas de aumento do rendimento agrícola e industrial.

Embora as chuvas tenham sido menores do que a média entre outubro e dezembro, as temperaturas se mantiveram em nível elevado, o que favoreceu os canaviais nos estágios iniciais e médios de desenvolvimento, por demandarem menor volume de umidade para atingir o seu máximo potencial de crescimento. Para canas em estágios mais avançados, a chuva observada nesse período não foi suficiente para atingir o pleno potencial de crescimento. Ainda assim, considerando todas as variáveis, a consultoria Datagro classificou o desenvolvimento dos canaviais na Região Centro-Sul como satisfatório, apontando para uma diminuição de falhas de brotação e recuperação das plantas.

Contribuem ainda para o otimismo quanto à próxima safra os melhores índices de expansão e renovação da lavoura, que permitirão nova redução da idade média dos canaviais e menores índices de infestação de ervas daninhas. A taxa de reforma dos canaviais é de cerca de 20,5%, aumento significativo em relação à média de 15% dos últimos 12 anos. Com um canavial mais bem perfilhado e mais produtivo, as usinas devem melhorar a eficiência da colheita mecanizada, permitindo controle dos custos de CTT (corte, transbordo e transporte).

A Datagro estima que o rendimento agrícola dos canaviais será de 6% a 10% maior que os observados na última temporada em São Paulo, variando de acordo com cada microrregião. Quanto ao rendimento industrial, a previsão atual é de variação positiva entre 1% e 2%, se comparado aos resultados do ciclo anterior. É preciso apontar, porém, que variações de precipitação durante a safra em relação aos níveis esperados trarão consequências quase que imediatas à concentração de açúcares totais recuperáveis (ATR) na planta.

As preocupações permanecem, portanto, no volume de chuvas observado a partir de março, que agora precisa parar para que a safra possa seguir; e nos impactos que a elevação do preço do diesel e da implementação da Lei do Descanso do Caminhoneiro (Lei n.º 12.619/12) poderão causar no custo geral das operações agrícolas.

Estimamos que a moagem de cana-de-açúcar na Região Centro-Sul será de 587 milhões de toneladas no ciclo 2013/2014, ante 532,3 milhões de toneladas da safra 2012/2013. Esse incremento assegura o abastecimento de etanol no mercado interno, tanto hidratado quanto anidro, dando plena garantia de que haverá anidro suficiente para o retorno da mistura de 25% na gasolina, a recuperação desejada de demanda do etanol hidratado e o já esperado aumento nas exportações do biocombustível.

Para o mercado de açúcar, o cenário continuará dominado pelo fato de que a atual safra mundial (2012/2013), que termina em 30 de setembro, marca o terceiro ano consecutivo de superávit, e o preço da commodity continuará sensível a notícias sobre o desenvolvimento da safra em países-chave como Índia, Rússia, Tailândia, União Europeia e Brasil.

É preciso considerar, no entanto, que os volumes estimados estão muito próximos da capacidade máxima de moagem das usinas. Portanto, quaisquer dificuldades nas operações de colheita poderão acarretar em cana bisada para a safra seguinte. Em 2012, as usinas de todo o País tinham capacidade efetiva de moer 664 milhões de toneladas. Durante a safra 2013/2014, estima-se que serão utilizados 97,5% da capacidade total. O volume de chuvas, especialmente durante o início (março/abril) e final da safra (novembro/dezembro), poderá ser decisivo nessa questão.

50 Tons de Venda - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 30/03

Impulsionada pelo sucesso do livro "50 Tons de Cinza", a venda de acessórios e produtos voltados para o público adepto do sadomasoquismo cresceu 35% em 2012, no país, na comparação com 2011. O aumento foi detectado pela Associação Brasileira das Empresas do Mercado Erótico e Sensual, em pesquisa com empresários e vendedores do setor.

50 TONS 2
O levantamento também demonstra que os filmes "De Pernas pro Ar" (2010 e 2012) foram avaliados como positivos para o mercado erótico por 95% dos entrevistados. O longa conta as aventuras de uma dona de sex shop, vivida por Ingrid Guimarães.

SEXO VIBRANTE
A procura por vibradores, por exemplo, cresceu 20%. As mulheres são maioria entre os compradores (77%). A pesquisa será divulgada na abertura da Erótika Fair, na próxima quinta.

QUÍMICA
A presidente Dilma Rousseff convidou o colega chinês, Xi Jinping, para assistir à final da Copa do Mundo de 2014, no Rio. O encontro dos dois na cúpula dos Brics na África do Sul durou bem mais que os 20 minutos protocolares. A conversa se estendeu por 50 minutos e explica, em parte, o atraso de duas horas e meia na partida da presidente para o Brasil.

LÁ VEM A NOIVA
Wagner Ribeiro, empresário dos jogadores Neymar e Lucas, vai se casar em 1º de junho e convidou os dois craques para serem padrinhos. Depois de passar por um divórcio litigioso, Ribeiro vai se unir a Carla Santamarina, mãe de seu filho caçula, Luiz Wagner, de dois anos e meio.

A festa será no interior de São Paulo, com direito a show de Alexandre Pires.

NO PICADEIRO
Rafa Cortez, 36, dará um salto em sua carreira na TV na próxima terça-feira. Ex-repórter do "CQC" (Band), ele estreará como apresentador do programa "Got Talent Brasil", da Record. Violonista, humorista e ator de teatro infantil, Cortez admite se identificar com os candidatos da atração, um grande show de calouros. "Às vezes ainda bate o nervosismo de enfrentar uma plateia", afirma.

O apresentador diz que a nova emissora não lhe impôs nenhum tipo de censura. "Ninguém me padronizou ou pediu que eu seja o bom moço. Continuarei do mesmo jeito. Assim, meio bobo", diverte-se.

LIVRO TITÂNICO
O músico Tony Bellotto, dos Titãs, lançou o romance "Machu Picchu", na quarta, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional. O escritor Reinaldo Moraes e a editora de livros Marta Garcia compareceram ao evento. A mulher de Bellotto, a atriz Malu Mader, não pode ir porque estava em um evento da TV Globo.

PROJETOS E MAQUETES
O arquiteto Isay Weinfeld lançou livro que reúne seus projetos comerciais em quase 40 anos de carreira. A cantora Marina Lima e o ator Dan Stulbach estavam na fila de autógrafos da Livraria da Vila do JK Iguatemi.

RESPOSTA
Palco de trote considerado racista, a Faculdade de Direito da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) vai homenagear no próximo dia 11 o ministro Carlos Alberto Reis de Paula, primeiro negro a assumir a presidência do TST (Tribunal Superior do Trabalho).

RESPOSTA 2
O desagravo foi proposto para "reafirmar valores de liberdade e respeito à diversidade". Paula, que foi aluno e professor do curso, virou presidente do TST em março.

DIVA
De volta ao Brasil para um lançamento imobiliário de luxo hoje, em Balneário Camboriú, Sharon Stone terá escolta de seis seguranças, duas delas mulheres brasileiras, treinadas pela Swat, para acompanhá-la ao banheiro, no evento da FG Empreendimentos.

A atriz de Hollywood trouxe os filhos, Laird e Quinn. A casa da mãe de seu namorado, o argentino Martin Mica, virou ponto de romaria. Moradores deixam presentes e flores para a estrela.

SOQUETE
Regina Casé tirou os sapatos de salto e ficou de meia no hall de entrada da festa da nova programação da Globo, enquanto se servia no bufê. Depois, assistentes a ajudaram a vestir os calçados.

CURTO-CIRCUITO
A Associação Brasil Monaco Project promove evento beneficente em Mônaco, em 4 de maio. O jogador Ronaldo é esperado.

A banda Del Rey toca hoje, à 0h, na Galinhada Dalva e Dito, no restaurante de Alex Atala, nos Jardins.

Guilherme Arantes canta no shopping Granja Vianna, às 17h. Grátis. Livre.

O maestro John Neschling rege a Orquestra Sinfônica Municipal e o Coral Lírico amanhã, às 11h, em concerto gratuito no Auditório Ibirapuera.

O restaurante Les Épices, no Guarujá, promove jantar harmonizado, criado pelo chef francês Patrick Ferry.

O filme "Bruna Surfistinha" entrou em cartaz ontem em 12 salas de cinema na Coreia do Sul.

À milanesa - SONIA RACY

O ESTADÃO - 30/03

Paulo Szot, premiado barítono, estreou no mitológico teatro Scala, de Milão, semana passada. Interpreta um personagem quase 30 anos mais velho, na ópera A Dog’s Heart– do russo Alexander Raskatov. O cantor, que faz rasante no Brasil em julho – e vai ganhar homenagem da New York Philharmonic este ano –, falou com a coluna por telefone.

Como está sendo se apresentar no Scala, de Milão, um dos teatros mais importantes do mundo?

Milão tem tanta história. Estou muito feliz. É a primeira vez que me apresento lá. Para qualquer cantor de ópera, é um sonho. É o que sempre imaginei.

Como foi a preparação para essa ópera?

É uma peça muito difícil, contemporânea. O compositor estava nos ensaios. Tive de treinar efeitos vocais que nunca tinha feito. Mas vem sendo muito interessante e inovador. É estimulante para um artista fazer algo novo. Tenho 43 anos e estou interpretando um personagem de quase 70. Um cientista maluco.

Tem planos de vir ao Brasil?

Eu vou cantar com a Orquestra Sinfônica Brasileira, no Rio de Janeiro, em julho. Por enquanto, é isso.

Acha que o público de ópera no Brasil vem aumentando?

Desde que comecei a cantar óperas, percebi um movimento favorável do público em relação a elas. As óperas do Teatro Municipal, por exemplo, sempre estão lotadas. O que acontece, às vezes, são problemas de gestão. É difícil seguir uma linha artística na programação. Tem muita coisa boa acontecendo.

O que achou da escolha de John Neschling para dirigir o Teatro Municipal?

Fiquei contente. Ele sempre vem com resultados positivos. Sabe conduzir reformas, sou grande admirador dele.

O que tem no seu iPod hoje?

Amo música popular. Amo jazz. Mas, pela falta de tempo, por estar estudando sempre, levo no meu iPod a música que estou estudando. A música é meu trabalho. No meu tempo livre, sempre busco um pouco de silêncio. /MARILIA NEUSTEIN

End…
Não se comenta outra coisa no meio jurídico: o impasse em torno do inventário de Orestes Quércia (morto em 2010) pode chegar ao fim em breve.

Sidney e Fernando, seus dois filhos mais velhos, estariam propensos a entrar em acordo com Alaíde Quércia, mulher e mãe de outros quatro filhos do político.

…of story?
Reunião esta semana colocará integrantes dos dois lados da disputa frente a frente. Quércia deixou fortuna de R$ 150 milhões – mas que, estima-se, pode ser até três vezes maior com a atualização do valor dos bens em jogo.

On
Haddad não tira o olho do Twitter. Monitora, diariamente, o perfil que pediu para criar – mostrando ocorrências como pontos de alagamento, queda de árvores, acidentes de trânsito e incêndios.

Off
Enquanto isso, o perfil do próprio prefeito está parado. O último post é de 29 de outubro, quando foi eleito. Haddad explica: tratou-se de uma iniciativa de campanha.

Com grife
Valéria Baraccat reuniu time de arquitetos para dar forma aos ambientes de sua Casa da Mulher – centro de prevenção e apoio a mulheres com câncer de mama. Entre os que assinarão espaços, Marcio Kogan, João Armentano, Marilia Veiga, Roberto Migottoe Daniela Colnaghi.

Inauguração? Maio.

Mais água
E a famosa sopa de barbatana – iguaria do Oriente – vai ficar mais rala por causa do… Brasil. É que o País teve aprovada, semana passada, em conferência em Bangcoc, proposta de maior controle no comércio de três espécies de tubarão ameaçadas de extinção.

Tesouro
Paulo Kuczynski vai levar à SP-Arte série de 16 aquarelas de Mira Schendel, produzidas em 1975.

Intitulado Homenagem a Deus-Pai do Ocidente, o trabalho integrou mostra no MoMA em 1982 e integra retrospectiva que a Tate, de Londres, abre em setembro – dedicada à artista, morta em 1988.

So what?
Entre 54 países pesquisados pela EF English Proficiency Index, o Brasil aparece em 46º. Ou seja, em ano de Copa das Confederações e às vésperas do Mundial, tem muito brasileiro que não sabe uma palavra sequer de inglês.

In vino…
A Fecomercio pediu ao Inmetro e ao Ministério da Agricultura dispensa de certificação para vinhos orgânicos e biodinâmicos importados.

…veritas
Sustenta que os produtos, de fabricação artesanal, têm certificação internacional. E que o custo pode inviabilizar a importação das garrafas – que chegam aqui em pequena quantidade.

Poderosa
A mulherada brasileira está que não se aguenta. O livro Faça Acontecer, de Sheryl Sandberg, CEO do Facebook, chega dia 1º às livrarias – e já tem gente na fila.

Não é para menos. Fenômeno nos EUA, o título está no topo do ranking de mais vendidos do The New York Times: mais de 400 mil exemplares só na primeira semana. Já foram impressas sete edições em sete dias.

Página virada - LEONARDO CAVALCANTI

CORREIO BRAZILIENSE - 30/03

Rita, Lenira, Francisca, Tiana, Lucélia, Delaíde e Durcelene. Todas mulheres, todas empregadas ou ex-trabalhadoras de casas de famílias. Todas personagens da série especial “As domésticas que a abolição esqueceu”, publicada por este Correio em novembro do ano passado.

Há quatro meses, as reportagens de Renata Mariz, da editoria Brasil deste jornal, apresentaram os números de uma realidade trágica para os empregados domésticos, calculados em 6,6 milhões de pessoas, 70% delas sem carteira assinada. Marcas de um passado escravista, iniciado em 1516 com as mucamas trazidas pelos portugueses. Um passado que, até a semana passada, estava entranhado na alma de cada um dos brasileiros. Mas que agora é página virada na história do desrespeito.

Levantamento recente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apontou que 93% dos trabalhadores são mulheres e 61% delas, negras. Na média, elas têm três anos a menos de estudo do que as mulheres ocupadas em outras e funções. No Nordeste, a informalidade aumentou entre 2010 e 2011.

A série de reportagens foi publicada por três dias e era reforçada a cada avanço do projeto aprovado esta semana no Congresso. Nas edições especiais, o jornal apresentou a evolução dos direitos trabalhistas para as empregadas, esquecidas dos artigos da Consolidação das Leis do Trabalho, de 1943. O serviço delas só foi reconhecido em 1978, mesmo de forma precária.

História
Depois da Constituição de 1988 e de uma lei de 2006 que garantiu férias de um mês — antes, tinham 10 dias a menos —, chegou a vez da proposta de emenda (PEC), analisada na tarde da última terça-feira pelo Congresso Nacional. A aprovação do texto, por mais histórico e revolucionário, apenas igualou os direitos das mulheres em atividades domésticas com os dos demais trabalhadores brasileiros.

Tratadas por eufemismos como “secretária” ou “ajudante do lar”, as empregadas sempre foram relegadas a um quarto minúsculo. Coisa de país subdesenvolvido, que, ao longo da história, deixou os próprios filhos e filhas sem horas extras, férias, INSS ou mesmo licença maternidade. Agora, parte dos patrões apenas se preocupa ficar legal diante das novas regras — básicas, diga-se. Tal grupo, se não silenciou, reclamou, e muito, da aprovação do texto pelos parlamentares.

E aqui a grita não foi apenas dos retrógrados — como a turma favorável ao pastor Feliciano e aos discursos antiquados, homofóbicos ou racistas. Mas também dos modernetes, capazes de buscar e defender direitos civis em praça pública e incapazes de olhar para dentro da própria casa — e para a pessoa responsável pela comida, roupa e, em boa parte das vezes, pelo filho pequeno. Um detalhe: mais de 250 mil meninas trabalham em casas de família. Meninas expostas a jornadas longas de trabalho e a abusos de todas as ordens.

Depois da série de reportagens, este jornal cobriu de forma efetiva todos os passos do projeto no Congresso, dando destaque em todas as tramitações do texto. O trabalho chegou ao fim com a manchete da última quarta-feira: “Brasil aprova, enfim, a segunda abolição”. Melhor para Rita, Lenira, Francisca, Tiana, Lucélia, Delaíde e Durcelene. E para a sociedade, mesmo que uma parte das pessoas ainda não tenha se dado conta da revolução do texto aprovado esta semana.

Outra coisa
Análises apressadas relacionando a saída de mulheres do mercado de trabalho doméstico com o desemprego apenas atrapalham a força da nova lei. Nos dois primeiros meses deste ano, 113 mil domésticas deixaram a atividade, segundo dados do IBGE. Para os analistas apressados, contribuíram para os números o peso dos salários das domésticas no orçamento dos patrões e a ampliação dos direitos trabalhistas. Mas, segundo técnicos do próprio IBGE, a história é outra: as mulheres deixaram o trabalho em casas de família por conta do aumento da escolaridade, provocando a fuga para áreas que requerem mais qualificação e melhores salários.


Ueba! Feliciano só come Galak! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 30/03

"Não, obrigado, só como chocolate branco; pastor Feliciano disse que o preto foi amaldiçoado por Noé"


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Sábado de Aleluia! Tamo liberado! Como disse o chapista da padaria: "Ontem não podia dar nem um apertão". Hoje pode! De santa já basta a semana. Menos ovo e mais galinhagem!

Adorei a charge do Duke com a mulher recusando ovo de Páscoa: "Não, obrigado, só como chocolate branco; pastor Feliciano disse que o preto foi amaldiçoado por Noé". Feliciano só come chocolate branco. Galak. Ovo de Galak. Rarará!

E o site "cornetafc" mostra a mãe despertando um menino palmeirense: "Acorda, filho, agora já são sete". "Outro gol do Mirassol?". Trauma! Rarará!

Piada Pronta: "Carro do Rubinho morreu duas vezes na festa da Globo". Justo na apresentação como comentarista da F1? Começou quebrando! E os comentários dele serão assim: "Fórmula 1, SEGUNDO o Rubinho!". Eu amo o Rubinho. Dá sempre tudo errado. O piloto trapalhão. O nosso anti-herói!

E a Páscoa? A comercialização da Páscoa tá tão grande que o menino perguntou pro pai: "Pai, Jesus era um coelho?". Era! E fez o milagre da multiplicação dos ovos no Carrefour!

E como disse o outro: "se ovo de Páscoa simboliza a vida, pelo preço deve ser a vida do Silvio Santos".

E um amigo viu essa placa numa igreja em Londres: "Sendo Páscoa, convidamos a sra. Lewis a subir no altar e botar um ovo".

E o judeu falou pra Deus: "Mandei meu filho pra Israel pra ser rabino e ele virou padre". E Deus: "Foi o que aconteceu comigo também".

E a origem do ovo de Páscoa: o coelho comeu a galinha. Pronto! O coelho encontrou a porta do galinheiro aberta, entrou, deu uma rapidinha e nasceu o ovo de Páscoa!

E sabe como se faz aquele ovo vermelho de botequim? Passa batom no fiofó da galinha. Rarará! E sabe como é ovo de Páscoa de dupla sertaneja? Um faz força e o outro bota o ovo. "Vai, Zezé, força". "Calma, Luciano, ééé o amooor". Rarará!

E sou do tempo em que Cristo só aparecia de costas em filme mexicano em cinema do interior. Hoje é tudo Cristo global! Até Susana Vieira já fez papel de virgem! Rarará!

E um gaúcho disse que, se o coelho aparecer por lá, vira churrasco. Coelho no espeto. Rolete de coelho! Uma amiga botou a placa na porta: "Procuro coelho pra dar uma coelhada rápida". Aliás, o coelho que mais dá rapidinha é o Paulo Coelho! Que diz que uma transa dura 11 minutos! Rarará. Nóis sofre mas nóis goza. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno! Nos ovos!

Uma escola sem receita - ROSISKA DARCY DE OLIVEIRA

O GLOBO - 30/03

O aluno que inseriu na redação do Enem a receita do miojo deixou um recado claro: a receita de escola desandou.

No passado a escola era um espaço físico, dedicado à aquisição de conhecimentos certificáveis, que só os professores detinham. O professor era um profissional supostamente capaz de saber o quê e como ensinar. Os ritmos escolares balizavam o tempo desse aprendizado que se sucedia ao longo de anos. Todas essas premissas estão postas em questão.

Enquanto a escola pública tenta compensar suas imensas deficiências construindo prédios, aumentando matrículas e o número de professores em sala de aula, condição sine qua non de qualquer progresso, o que se passa dentro dos muros da escola entre alunos e professores é desolador. O episódio da receita do miojo, temperada com pitadas de deboche e altas doses de descrença, é testemunha desse descalabro.

Uma mudança de era deu lugar a um abismo geracional que separa professores e alunos, minando as relações de admiração e respeito que, no passado, estimulavam o desejo de aprender. Os professores estão hoje a cavaleiro entre dois tempos; um passado em que conteúdos eram transmitidos de uma forma que hoje chamaríamos tradicional; um presente em que os alunos, digitais nativos habitam, fascinados, o espaço virtual como vida real e são habilíssimos em tecnologias que os professores mal dominam.

Quando todos os alunos freqüentarem as aulas, quando houver professores suficientes, recebendo um salário decente, ainda restará a incômoda questão do que lhes ensinar. Um livro de respeitáveis pesquisadores franceses ostenta o título inquietante: "Ainda é preciso aprender?"

A virtualidade é o meio ambiente de uma juventude portadora dessas próteses cerebrais que são os celulares, prolongamentos de seus corpos, onde trazem armazenada - Google dispensando o trabalho da memória - toda a informação do mundo. Fotografam tudo que se passa como que deixando provas tangíveis do que é vivido em tempo real, marcando o instante, sem apelo à abstração da memória, seus caprichos e brumas. Como tudo é registrado sem esforço, é o próprio esforço que se torna um comportamento raro e desvalorizado, o que representa um perigoso efeito colateral. Entre alunos e professores há distância e estranhamento. Por vezes, agressividade.

A pletora de informações que cada um acessa quando tira o celular do bolso não implica que os jovens tenham a mínima idéia do que fazer com elas ou, pior, que saibam a diferença entre informação e conhecimento. A aquisição de conhecimento depende do desenvolvimento de aptidões mentais e do domínio dos códigos culturais que permitem navegar com alguma coerência em um oceano de informações desgarradas. As informações disponíveis na internet são um tesouro literalmente incomensurável. Problemática é a exígua capacidade de processá-las e lhes dar algum sentido.

Assim como a palavra ganha seu sentido no texto e o texto ganha sentido em um contexto, a informação pede para se inserir em um patrimônio cultural que caberia à escola transmitir. A contextualização é condição da função cognitiva ao mesmo título que a consciência de ter aprendido, tão cara ao grande Jean Piaget.

É a transmissão do patrimônio cultural e de valores que dão à juventude o sentido de pertencimento à aventura humana e estabelecem os vínculos de continuidade entre as gerações que se sucedem. Tarefa essencial em tempos moldados e irrigados pela tecnologia que permite a cada um construir um mundo próprio o que pode ser uma rica experiência se conectada a um pertencimento mais amplo - mas pode ser também o deslizamento para uma forma velada de antissociedade, um aglomerado de indivíduos autorreferentes cuja comunicação não passa por uma experiência ou memória comum e se tece apenas com os laços esgarçáveis da banalidade.

O desafio da educação é a formação de indivíduos aptos a pensar pela própria cabeça, capazes de transformar informações em conhecimentos, abertos à inovação e experimentação, afeitos à argumentação e escolha. O que Edgar Morin chama "uma cabeça bem feita"!

A vida em tempos de internet exige da escola uma metadisciplina, o aprender a aprender. Quem serão os professores dessa escola aberta ao desconhecido, sob forma de pesquisa, e ao inesperado, sob forma de criação?

Não há receita pronta de escola e sim ingredientes a combinar: a aquisição de conteúdos específicos com o aprendizado de competências transversais que permitam aos jovens dar sentido a si mesmos e a um mundo em que terão vida longa e as certezas curta vida.

Reformulação de poderes e funções - WALTER CENEVIVA

FOLHA DE SP - 30/03

A extraordinária alteração da vida reclama a vinda de um novo Montesquieu, que separou os três poderes


Mesmo o leitor mais distante dos livros sabe que o brasileiro é submetido a três instituições ou pessoas que tocam a máquina governamental. São os que mandam, os que não mandam tanto, mas fazem uma parte das leis, e os que não mandam, nem fazem a lei e interferem na discussão dela em casos examinados nos limites da questão discutida.

O quadro geral das matérias enfrentadas pelo Estado se multiplicou. Tornou a multiplicar-se desde a segunda metade do século 20, com tempo curto, muito curto, para absorção de tantas alterações, como nunca houve na história do ser humano sobre a Terra. A sistematização dos poderes partiu, porém, de Charles-Louis de Secondat, barão de La Brède e de Montesquieu, em 1748, com a tripartição dos poderes. Montesquieu defendeu o equilíbrio entre os três ramos da governabilidade, mas, de lá para cá, a tripartição foi substituída. Há um poder (o Executivo generalista) e duas funções setoriais (o Legislativo e o Judiciário).

O equilíbrio interno do Estado foi distorcido em favor do Executivo, graças ao domínio da máquina (e, portanto, do cofre). Pode privilegiar ou sacrificar interesses da cidadania, que a favoreçam ou não. Na atual pré-campanha eleitoral antecipada, o desequilíbrio aparece com clareza. Compreende-se, nos que mandam, a percepção de que podem trocar vantagens ou posições com os outros, acentuando seu predomínio.

É razoável a pergunta: como ficam as relações entre os dois grupos que não mandam e deles com o grupo que manda? Se o cálculo não erra, posto o sistema entre o Sol e a Terra, resultará no eclipse total no direito dos desprovidos de força para intervir na criação das leis e na execução delas. A maior parte da população tem problemas sérios ao negociar seus interesses em face do Poder Executivo e aí estão os desapropriados e os caloteados para espelhar a verdade.

A esperança da solução a ser obtida, no dia a dia da Justiça, não parece auspiciosa. O tempo normal entre o acionamento inicial da máquina judiciária e o pronunciamento final dos processos não é compatível com a prestação da Justiça.

Duas constatações são importantes. A culpa dos atrasos do Judiciário não se concentra apenas em sua conta de débito. A operação da máquina estatal tem encontrado no poder que legisla normas que facilitam o calote, sem limites.

O problema acrescido ganha força, quando chegamos ao ato final de nomeação dos que julgam. É praticado pelos que mandam. Claro que há intervenientes na escolha, pelos órgãos dos dois outros segmentos, mas o último critério é do Poder Executivo. O que lhe abre imensa margem de manobra. Opera na República, nos Estados e, de certo modo, até nos municípios sob os mesmos impulsos e condições.

Montesquieu levou 14 anos aprimorando seu livro "O Espírito das Leis". Não poderia prever mudanças e alterações radicais ocorridas na vida dos países e de todos -nem que tivesse vivido até 1900. A extraordinária alteração da vida, em seus aspectos individuais e coletivos, agravados por complexidade que cresce a cada dia que passa, reclama a vinda de um novo Montesquieu. O motor do carro governamental precisa de outro mecânico, para passar dos poderes formais aos fatos das funções inovadas e operativas.


O euro sobreviveu. Mas onde estão os europeus? - TIMOTHY GARTON ASH

O ESTADO DE S. PAULO - 30/03

Nós fizemos a Itália, agora precisamos fazer os italianos", diz um adágio antigo.Hoje, nós fizemos o euro e a crise do euro está desfazendo os europeus. Pessoas que se sentiam entusiasticamente europeias dez anos atrás estão revertendo para estereótipos nacionais irados.

"Hitler-Merkel!" dizia um cartaz carregado por jovens manifestantes cipriotas no começo da semana. Ao lado dessas palavras estava uma imagem da bandeira europeia, suas estrelas amarelas sobre fundo azul agora iradamente cobertas por uma cruz vermelha. Generalizações negativas radicais são ouvidas sobre europeus do "norte" e do "sul", quase como se fossem duas espécies diferentes.

Entretanto, que historiador poderia sustentar a sério que Milão tem mais em comum com Nicósia do que com Nice ou Gênova? Até pró-europeus muito bem formados dizem coisas em público sobre outras nações que uma década atrás não teriam se quer pensado, que dizer expressado.

À medida que partes da Europa se tornam mais anti-alemãs, partes da Alemanha se tornam mais anti-europeias.

Desponta uma espiral viciosa como um tornado numa estrada rural do Meio-oeste americano.

Deveríamos notar com alívio o que não houve - ou, ao menos, não em grande parte e não ainda. Com exceção de partidos neofascistas como o Aurora Dourada na Grécia, a ira europeia não se voltou contra imigrantes, minorias e quintas-colunas reais ou imaginárias.

Os alemães não atribuem a culpa por suas mazelas a judeus apátridas, muçulmanos e maçons; eles a atribuem aos irresponsáveis gregos. Os gregos não atribuem suas mazelas a judeus apátridas, muçulmanos ou maçons; as atribuem aos insensíveis alemães.

Isso é terrivelmente perigoso, porém. Claro, 2013 não é 1913. A Alemanha pode estar tomando as decisões na zona do euro, mas nunca buscou esse lugar ao sol. Nunca foi perguntado ao povo alemão se ele queria abrir mão do marco - a resposta teria sido "não" - e aproximadamente um em cada três deles agora diz que gostaria de voltar a ele. Ao dizerem isso, desconhecem profundamente seus próprios interesses econômicos nacionais, mas isso é outra história.

A UE como um todo é o império mais relutante da história europeia, e a Alemanha é um império relutante dentro desse império relutante.O risco de uma guerra entre Estados na Europa é mínimo. (A analogia com 1913 é mais aplicável à Ásia atual, com a China assumindo o papel da Alemanha Guilhermina).

Existe um perigo real, contudo, de que os laços de afeto e camaradagem essenciais para qualquer comunidade política estejam sendo dilacerados.

Não custa lembrar que, para países como Chipre, o pior ainda está por vir. Eu hesito até em levantar o espectro - "pintar o diabo na parede", como se diz em alemão -, mas, e se algum grego ou cipriota desempregado e mentalmente perturbado resolver atirar num político alemão? Com sorte, o choque esfriaria a retórica superaquecida e uniria todos os europeus. Mas não devemos esperar até ecoar um tiro.

Por que estamos nessa espiral descendente de mútuo ressentimento? Por causa das falhas de desenho básicas do euro, com certeza. Também pelas políticas econômicas equivocadas em alguns dos chamados países periféricos da zona do euro e - mais recentemente-no centro setentrional. (Como já expliquei em outro artigo, o grande problema da política alemã não é o que pede que os outros façam, mas o que ela mesma não faz. Ela deveria ajudar o ajuste em toda a zona do euro aumentando a própria demanda doméstica).

Enquanto isso, cada solução de curto prazo na zona do euro lança as sementes de uma nova crise na zona do euro. Por exemplo,um corte de 50% para detentores de bônus do governo grego, acertado no outono de 2011, ajudou a empurrar bancos cipriotas para o abismo.

Mas a causa mais profunda é o desencontro entre uma área de moeda única e 17 políticas nacionais. As economias são continentais, as políticas ainda são nacionais.Demais amais, essas política são democráticas. Se não estamos em 1913, tampouco estamos na década de 1930. Em vez da "Europa dos ditadores", temos uma Europa de democracias.

Em vez da "revolução permanente" de Trotsky, temos eleições permanentes. Algum líder em algum lugar da Europa está sempre tendo de reajustar o rumo em razão de uma eleição iminente. Neste ano, isso ocorrerá com Angela Merkel, que enfrentará uma eleição geral em setembro. Cada um dos 27 líderes nacionais da UE e 17 da zona do euro pensa primeiro em suas políticas,mídias e pesquisas de opinião nacionais. Por tentador que seja dizer "Fizemos a Europa, agora precisamos fazer os europeus",a verdade é que, nesse sentido, não fizemos a Europa.

O que fazer,então, sobre essas políticas? Um engenhoso professor italiano, Giorgio Basevi, da Universidade de Bolonha, enviou-me uma proposta para aliviar o problema sincronizando eleições nacionais e europeias. É uma ideia brilhante e, claro, sem a menor chance. Digam isso aos eleitorados da Europa! Outros sugerem que o próximo presidente da Comissão Europeia deve ser eleito diretamente, talvez com candidatos nomeados por cada um dos muitos agrupamentos políticos do Parlamento Europeu. Bem, por que não? Mas quem achar que isso fará gregos desempregados e alemães ressentidos se tornaram subitamente calorosos pró-europeus de novo, precisa examinar a própria cabeça.

Por enquanto, simplesmente não há substituto para políticos nacionais enfrentando opiniões públicas nacionais para explicar, em suas próprias linguagens e idiomas nacionais, que - segundo o lugar e as necessidades - os gregos não são todos perdulários irresponsáveis, os alemães não são todos teutônicos insensíveis, e assim por diante. Serão eles que terão de agarrar cada oportunidade para argumentar por que,apesar de estarmos com frio e molhados no barco europeu, estaríamos com mais frio e encharcados dentro da água, E se isso pedir um novo inimigo? Como bode expiatório étnico aceitável para quase todos os europeus continentais, eu geralmente ficaria feliz de sugerir meus excelentes compatriotas, os ingleses. (Estamos acostumados com isso. Podemos aguentar). Mas, seja lá o que mais se queira descarregar nos ingleses, ninguém poderá culpá-los pelas trapalhadas na zona do euro. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

Desculpa que envelheceu - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 30/03

Atualmente uma grande empresa é responsável pela sua cadeia produtiva. Assim evoluiu o pensamento corporativo e a atitude do consumidor. A pior desculpa que um setor pode dar, diante de flagrantes de crimes de seus fornecedores, é que não tem poder de polícia. Ninguém pede que uma empresa seja polícia, mas que se negue a comprar de criminoso.

Recebi correspondência da Associação Brasileira de Frigoríficos, assinada pelo presidente Péricles Pessoa Salazar, que diz o oposto do que um setor moderno deve dizer: "Os frigoríficos são empresas do setor privado que não têm poder de polícia para realizar o trabalho que deveria ser atribuído ao setor público. Exigir dos produtores pecuaristas o cumprimento de normas emanadas pelos órgãos ambientais, tais como o de não ter desmatado, não ter trabalho escravo ou ter como origem dos animais a terra indígena, não é função e atribuição das empresas, mas sim das instituições que possuem comando legal para monitorar, controlar e punir aqueles que descumprem a lei".

Resposta errada do senhor Salazar. O que toda empresa está obrigada é procurar saber de quem está comprando o seu produto. Essa desculpa já deveria ter sido abandonada.

É fácil saber a procedência do boi. Há pecuaristas que estão na lista do trabalho escravo do Ministério do Trabalho. Eles ficam com seus nomes lá por dois anos; se não houver novos flagrantes, saem dela.

O frigorífico tem que consultar essa lista. Há outras do Ministério Público, do Ibama, que informam que empresas foram denunciadas por prática de crime como produção em área de conservação e terra indígena. Em 2011, o maior frigorífico, JBS, depois de ter assinado um compromisso com o MP, ONGs e supermercados de não comprar de quem desmatava, foi flagrado fazendo o oposto. Comprou de fazendas em terra dos Marãiwatsede. Foram 3.476 cabeças de gado que, pelo Guia de Transporte Animal, tinham vindo de 34 fazendas embargadas pelo Ibama e em uma delas houve trabalho escravo.

À época, o presidente da empresa, Joesley Batista, me disse o seguinte: "Se eu não comprar o bicho, alguém compra". Deve ter evoluído desde então. Bicho criado em terra que foi grilada de unidade de conservação, área indígena ou em que houve trabalho análogo à escravidão não pode ser comprado por um frigorífico decente. O JBS assinou um Termo de Ajustamento de Conduta, que entrou em vigor apenas em setembro do ano passado, em que se comprometia a não comprar mais desses pecuaristas.

Segundo Salazar, os frigoríficos já respondem a "múltiplas exigências" que são feitas pelos órgãos ambientais em decorrência de suas atividades, em termos de "lagoas, poluição do ar, poluição sonora e controle de odores". A Abifrigo queria o quê? Que os frigoríficos não respondessem por seus impactos?

"Cabe ao produtor rural e não aos frigoríficos o ônus do malfeito", diz o texto. Sim, o pecuarista deve pagar pelo seu crime. Mas o frigorífico não ser o receptador.

Hoje existem à disposição das empresas tecnologias de rastreabilidade que mostram todo o histórico e as andanças do boi. Tem desde o mais comum, que é um brinco na orelha com um chip, até novas tecnologias de implante de chips no bezerro que são lidos por computadores. A Embrapa desenvolveu um sistema. Existe o Rfid - Radio Frequency Identification - no qual se consegue saber tudo do boi.

Sinceramente, está na hora de os frigoríficos entenderem que a desculpa de que "não tenho poder de polícia" envelheceu. Hoje, a tecnologia dá as ferramentas para que o frigorífico não seja conivente com crimes.

Guerra negada - CELSO MING

O ESTADO DE S. PAULO - 30/03

Nem o ministro da Fazenda, Guido Mantega, voltou a denunciar os grandes bancos centrais por provocarem guerra cambial com suas fartas emissões de moeda nem a presidente Dilma Rousseff voltou a acusar os mesmos bancos centrais, pelas mesmas razões, por produzirem tsunami monetários que prejudicam os emergentes.

Só para passar um espanador na memória, a partir da eclosão da crise de 2008 os grandes bancos centrais, especialmente o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), o Banco Central Europeu (BCE) e o Banco do Japão (BoJ), injetam colossais volumes de moeda com as quais ou compram moeda estrangeira (caso do BoJ) ou adquirem títulos no mercado.

O resultado é impressionante despejo de dinheiro nos mercados onde vêm zanzando freneticamente. Um dos efeitos dessa enorme operação conjunta é a desvalorização das moedas fortes e o afluxo de capitais estrangeiros aos câmbios dos emergentes. A principal queixa de Mantega e Dilma é que a tendência à valorização relativa das moedas dos emergentes (baixa do dólar) tira competitividade ao produto nacional por encarecê-lo em moeda estrangeira. É o que, de longa data, economistas ingleses chamam de políticas de empobrecimento do vizinho ( beggar-thy-neighbour policies).

Embora nem Mantega nem Dilma tenham insistido na condenação dos grandes bancos centrais, na quarta-feira o assunto voltou a figurar, embora sem a ênfase de antes, no comunicado dos chefes de Estado que encerraram a reunião de cúpula de Durban (África do Sul).

O fato mais relevante é que a recuperação da economia americana e certa estabilização da economia da área do euro esvaziam esse tipo de reclamação. Quase nenhum analista espera hoje que essas denúncias gerem alguma alteração nas regras de comércio exterior ou na estratégia de política monetária dos grandes bancos centrais. E, no entanto, apenas o Fed, desde 2008, injetou quase US$ 2,5 trilhões nos mercados e segue comprando títulos à proporção de US$ 85 bilhões por mês.

Em todo o caso, em conferência realizada em Londres, dia 25, o presidente do Fed, Ben Bernanke, entendeu que devesse rechaçar as teses da redução da vizinhança à mendicância. Argumentou que essas grandes emissões de moeda pelos grandes bancos centrais pretende a recuperação econômica global, e não a desvalorização das moedas fortes com intuito de tirar vantagem comercial de outros países, sobretudo dos emergentes.

A principal consequência dessas políticas de afrouxamento monetário quantitativo - é esse o nome que levam hoje - é altamente benéfica para os demais países - e não o contrário, argumenta Bernanke, porque recoloca em movimento as locomotivas do mundo, a que todos aspiram.

Segue-se, no entendimento dos dirigentes dos países ricos, que trabalhar contra essas políticas, como está no comunicado dos Brics, é trabalhar contra a recuperação da economia mundial.


Tropa de elite - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 30/03

Os Ministérios da Defesa e da Justiça criaram força-tarefa para montar o esquema de segurança da ida do papa Francisco a Aparecida, em São Paulo. A visita ocorrerá durante a Jornada da Juventude, que acontece no Rio, em julho. Como a escala não estava prevista, militares e policiais federais terão pouco tempo para estudar a melhor localização de atiradores de elite e pontos perigosos para a passagem do pontífice. Francisco preocupa por gostar de contato direto com os fiéis.

Como faz? 
Opositores da medida provisória dos portos devem fazer carga para denunciar a incompetência da Antaq para assumir os novos poderes. Lembram da atuação de servidores no Rosegate -escândalo de tráfico de influência em vários órgãos do governo- e que ainda há cargos de comando vagos.

Apagão 1 
Quem acompanha a queda de braço em torno da MP notou a ausência do ministro dos Portos, Leônidas Cristino, dos principais debates sobre o tema.

Apagão 2 
Além de ter sido repreendido algumas vezes por Gleisi Hoffmann (Casa Civil) em reuniões com setores interessados, Cristino tem dificuldade para falar em público, razão pela qual é poupado dos holofotes.

Vejam bem 
Alfredo Nascimento mandou nota para todos os deputados do PR, insatisfeitos com a negociação para nomear o ex-senador Cesar Borges para o Ministério dos Transportes, negando ter levado indicações a Dilma.

Porém 
Na própria nota, o senador diz que qualquer nome escolhido pela presidente terá seu aval. Na bancada da Câmara a indicação de Borges foi mal recebida.

Última... 
O PT deu a largada na coleta de assinaturas para o projeto de lei de iniciativa popular de reforma política que pretende levar ao Congresso. O texto será apresentado por Rui Falcão aos membros do diretório nacional no dia 12, em São Paulo.

... que morre 
Os pilares são conhecidos: financiamento exclusivamente público de campanha, voto em lista e maior cota de mulheres nas eleições. O partido quer 1,5 milhão de adesões até o final do ano. A iniciativa será lançada na Cinelândia (RJ).

Leitura... 
Ministros do STF estimam que chegará a 10 mil páginas o acórdão final do julgamento do mensalão, incluindo os votos dos 11 ministros e as notas orais do plenário durante as longas sessões. Com esse tamanho, acham que serão raros os que vão se aventurar a ler o documento de cabo a rabo.

... dinâmica 
Escritórios de advocacia se armam para montar equipes para destrinchar os votos relativos aos seus clientes, mas se queixam de que não haverá como, no exíguo prazo de cinco dias, contestar todos os pontos dúbios ou contraditórios.

Revisão 
Muitos ministros que, em votações das "fatias" do mensalão, se limitavam a votar com o relator Joaquim Barbosa ou com o revisor Ricardo Lewandowski correm para fundamentar as decisões, para não destoar dos caudalosos votos dos colegas.

Geração saúde 
O prefeito do Recife, Geraldo Júlio, mandou instalar uma esteira em uma área reservada de seu gabinete. Antes de iniciar o expediente ou no intervalo dos compromissos, aproveita para correr sem precisar se ausentar da prefeitura.

Eu não 
O ex-ministro José Dirceu nega que tenha feito avaliação, em recente jantar no Rio, de que o PT deveria ter agido antes para impedir a candidatura de Eduardo Campos à Presidência. Ele afirma que a decisão sobre ser candidato ou não cabe ao governador de Pernambuco.

com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI

tiroteio
"Ser grato e leal não é agir com subserviência. Respeitar o PSB seria uma forma de gratidão pelo apoio que nós damos ao PT desde 1989."
DE BETO ALBUQUERQUE (RS), líder do PSB na Câmara, sobre tática do PT de tachar o governador e presidenciável Eduardo Campos de "ingrato'' e "traidor''.

Contraponto

Voz da experiência
Potenciais candidatos à Presidência da República, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) se encontraram há algumas semanas, em Brasília, durante discussão no Congresso sobre pacto federativo. Enquanto fotógrafos clicavam desenfreadamente a dupla, Campos sugeriu que os dois se encontrassem para discutir política.
- Mas tem de ser uma coisa reservada -disse Aécio.
O senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), que acompanhava a conversa dos dois, interveio:
- Meu pai dizia que, se você quer se encontrar com alguém sem ser visto, o único lugar é um instituto de cegos.

Os palanques de Dilma - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 30/03

Nas eleições regionais do ano que vem, o PT avalia que a presidente Dilma poderá ter dois ou três palanques nos estados. O principal aliado, o PMDB, por isso, quer que a campanha de Dilma passe ao largo dessas refregas. Alegam que, ao contrário, do ex-presidente Lula, nas eleições de 2010, não há mais necessidade de ela entrar em campo para garantir maioria governista no Senado.

Os desafios de Eduardo Campos
Festejada pela oposição e vista com reserva no Planalto, a eventual candidatura do governador Eduardo Campos (PSB-PE) tem muito pela frente. Ele precisa unir seu partido. O governador Cid Gomes (PSB-PE) tem reiterado apoio à reeleição da presidente Dilma. Ele necessita de aliados para ampliar seu tempo de propaganda na TV. Tem que galvanizar o Nordeste em torno de si, coisa que Ciro Gomes (CE), pelo PPS, não alcançou em 2002. Há o desafio do Sudeste, que concentra 43% dos eleitores. Nele, o melhor percentual de Ciro foi em São Paulo (10,57%). Mas Ciro fora ministro da Fazenda de Itamar Franco e, por isso, visto pelo eleitor como um dos gestores do Plano Real.

“O poste está andando. Eles (o governador Sérgio Cabral e o prefeito Eduardo Paes) vão puxar o poste”
Luiz Fernando Pezão
Vice-governador e candidato do PMDB ao governo do Rio


Falam em 500 mil. Será?
Os evangélicos planejam para a segunda semana de abril manifestação, em Brasília, com fiéis de todo país, para defender a permanência do deputado Marco Feliciano (PSC-SP) na presidência da Comissão de Direitos Humanos.

A referência
Eduardo Campos não padece do destempero de Ciro Gomes (foto). Mas isso não reduz seu drama. Em 2002, Ciro só foi primeiro no seu Ceará (44,48%). No Nordeste, só teve maior votação que José Serra (PSDB) no Maranhão(22,10%). Mas esse estado sonhou ver Roseana Sarney no Planalto, que no escândalo Lunus despencou de 38% para 14%.

O homem da reeleição
O ministro Aloizio Mercadante (Educação) é nome forte para coordenar a campanha pela reeleição da presidente Dilma. No “Valor Econômico”, o ex-presidente Lula praticamente descartou sua candidatura ao governo paulista.

Esforço na reta final
A presidente da CNA, senadora Kátia Abreu (PSD-TO), abraçou proposta da Firjan para instituir o porto 24 horas no país. Empresários e entidades querem que os postos da Receita, do Ministério da Agricultura, da Anvisa e das Docas funcionem 24 horas, como nos portos de Roterdã, Shanghai e Cingapura. E querem aprovar emenda do deputado Edinho Bez (PMDB-SC).

Agenda cheia
No Planalto, o que se conta é que o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) recebeu 18 candidatos à vaga de Ayres Britto no STF. O mais notório deles foi o presidente do TJ paulista, Ivan Sartori, nomeado pelo governador Geraldo Alckmin.

Passando o ofertório
O vice-presidente Michel Temer embarca amanhã para Omã, no Golfo Pérsico. Seu séquito inclui comitiva de empresários e investidores brasileiros interessados em fazer negócios com o poderoso e milionário governante, o sultão Said Al Said.


O PSD pode nomear um vice da CEF e assumir o Dnit mineiro. A contrapartida é apoiar o ministro Fernando Pimentel ao governo mineiro.