domingo, agosto 01, 2010

DANUZA LEÃO

E pode, ligeiramente grávida?
DANUZA LEÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 01/08/10
A censura está voltando e é como gravidez: nenhuma mulher pode estar mais ou menos grávida

QUER DIZER QUE não se pode mais brincar com a figura dos candidatos? Não entendi bem: os programas humorísticos de rádio e televisão não podem, mas a imprensa escrita pode, ou também não pode?
Mesmo aos que escrevem coisas sempre sérias acontece, um dia, de soltar sua veia humorística; a franga, como se diz. Uma frase, uma palavra, qualquer coisa que tenha ocorrido e que dê vontade de fazer uma brincadeira, mesmo sem dizer os nomes.
  Mas gostaria de saber, por exemplo: se eu disser que uma determinada candidata faz parte da tribo dos bichos-grilo, posso ir presa? E se escrever que um dos candidatos tem as olheiras mais sexy do país, irei para o tribunal, algemada? E se disser que uma outra candidata parece um sargentão autoritário, daqueles que dão medo, será que tenho que pedir asilo em alguma embaixada?
A censura está voltando, gente, e censura é como gravidez: nenhuma mulher pode estar mais ou menos grávida. Ou está, ou não está. Com a censura, é igual: ela existe, ou não. Que saudades dos tempos em que o Brasil era uma democracia.
  Daqui a pouco vão dizer o que devemos e podemos comer, para ter uma vida saudável, e nunca terá havido, no mundo, um país com hábitos alimentares tão perfeitos. Lula tem certeza de ser Deus, e acha que, olhando nos olhos, pode mudar o universo. Se ele não fingisse que ignora os escândalos que acontecem em seu governo, já estaria mais do que bom, mas vamos nos preparando para dar ótimas risadas depois das eleições, com o "Casseta & Planeta", "Pânico na TV" e "CQC"; eles não vão deixar barato, a não ser que o humor seja definitivamente proibido no país - o que não é impossível, dependendo do resultado da eleição. Lula não sabe perder, e foi um papelão não ter ido ao encerramento da Copa. Se o Brasil tivesse ganho, seria ele o grande vencedor, e não quero nem pensar no que íamos ter que aturar.
Por falar em futebol, é claro que deve haver ordem dentro de um estádio, mas não adianta fazer leis para regulamentar as torcidas, se não houver quem as faça serem cumpridas. Vai ser assim: se houver um tumulto a menos de 5 km do estádio, é crime, mas um tumulto a 8 km, tudo bem.
Estão se metendo demais em nossas vidas; devagarzinho, de mansinho, vamos acabar monitorados, dentro de nossas próprias casas. Nem uma palmadinha se pode dar -sob as penas da lei. E fala sério: entre uma palmadinha no bum-bum, um lugar onde praticamente não se sente dor, e uma palavra raivosa ou um tapa, na hora da raiva, há uma enorme diferença.
O Brasil corre o risco de se transformar em um imenso Big Brother, com câmeras de TV em cada cômodo de cada casa, espionando a relação entre pais e filhos -e eu acho que já ouvi falar disso. Não teria sido no livro "1984"?
Se ainda estivesse na moda, seria o caso de fazer uma sonoterapia até o dia da eleição, para ignorar os desrespeitos que estão sendo feitos à legislação eleitoral, sem que nada aconteça. Os exemplos de falta de ética que estão sendo dados ao país vão durar por muitos e muitos anos, pois se o presidente faz, por que razão um garoto não vai poder fazer igual?
Esse é o pior legado que um governo pode deixar; e é o que a era Lula vai deixar.
Oito anos é muito tempo.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Cara ou coroa?
Fernando Henrique Cardoso 
O ESTADO DE SÃO PAULO - 01/08/10

Em pouco mais de dois meses escolheremos o próximo presidente. Tempo mais do que suficiente para um balanço da situação e, sobretudo, para assumirmos a responsabilidade pela escolha que faremos. É inegável que a popularidade de Lula e a sensação de "dinheiro no bolso", materializada no aumento do consumo, podem dar aos eleitores a sensação de que é melhor ficar com o conhecido do que mudar para o incerto.


Mas o que realmente se conhece? Que nos últimos 20 anos melhorou a vida das pessoas no Brasil, com a abertura da economia, com a estabilidade da moeda trazida pelo Plano Real, com o fim dos monopólios estatais e com as políticas de distribuição de renda simbolizadas pelas bolsas. Foi nessa moldura que Lula pregou sua imagem.
Arengador de méritos, independentemente do que diga (quase nada diz, mas toca em almas ansiosas por atenção), vem conseguindo confundir a opinião, como se antes dele nada houvesse e depois dele, se não houver a continuidade presumida com a eleição de sua candidata, haverá retrocesso.
Terá êxito a estratégia? Por enquanto o que chama a atenção é a disposição de bem menos da metade do eleitorado de votar no governo, enquanto a votação oposicionista se mantém consistente próxima da metade. Essa obstinação, a despeito da pressão governamental, impressiona mais do que o fato de Lula ter transferido para sua candidata 35% a 40% dos votos. Assim como impressiona que o apoio aos candidatos não esteja dividido por classes de renda, mas por regiões: pobres do Sul e do Sudeste tendem a votar mais em Serra, assim como ricos do Norte e do Nordeste, em Dilma. O empate, depois de praticamente dois anos de campanha oficial em favor da candidata governista, tem sabor de vitória para a oposição. É como se a lábia presidencial tivesse alcançado um teto. De agora para a frente, a voz deverá ser a de quem o País nunca ouviu, a da candidata. Pode surpreender? Sempre é possível. Mas pelos balbucios escutados falta muito para convencer: falta história nacional, falta clareza nas posições; dá a impressão de que a palavra saiu de um manequim que não tem opiniões fortes sobre os temas e diz, meio desajeitadamente, o que os auditórios querem ouvir.
Não terá sido essa também a técnica de Lula? Até certo ponto, pois este, quando esbraveja ou quando se aferra pouco à verdade, o faz "autenticamente": sente-se que pode assumir qualquer posição porque em princípio nunca teve posição alguma. Dito em suas próprias palavras: "Sou uma metamorfose ambulante." Ora, o caso da candidata do PT é o oposto (essa é, aliás, sua virtude). Tem opiniões firmes, com as quais podemos ou não concordar, mas ela luta pelo que crê. Este é também seu dilema: ou diz o que crê e possivelmente perde eleitores por seu compromisso com uma visão centralizadora e burocrática da economia e da sociedade ou se metamorfoseia e vira personagem de marqueteiro, pouco convincente.
Não obstante, muitos comentaristas, como recentemente um punhado de brasilianistas, quando perguntados sobre as diferenças entre as duas candidaturas, pensam que há mais convergências do que discrepâncias entre os candidatos. Será? As comparações feitas, fundadas ou não, apontam mais para o lado psicológico. O que está em jogo, entretanto, é muito mais do que a diferença ou semelhança de personalidades. O quadro fica confundido com a discussão deslocada do plano político para o pessoal e, pior, quando se aceita a confusão a que me referi inicialmente entre a situação de desafogo e bem-estar que o País vive e Lula, que dela se apossou como se fosse obra exclusiva sua. Se tudo converge nos objetivos e se estamos vivendo um bom momento na economia, podem pensar alguns, melhor não trocar o certo pelo duvidoso. Só que o certo foi uma situação herdada, que, embora aperfeiçoada, tem a marca original do fabricante, e o duvidoso é a disposição da herdeira eleitoral de continuar a se inspirar na matriz originária. O candidato da oposição, esse, sim, traz consigo a marca de origem: ajudou a construir a estabilidade, a melhorar as políticas sociais e a promover o progresso econômico.
Não nos iludamos. O voto decidirá entre dois modelos de sociedade. Um mais centralizador e burocrático, outro mais competitivo e meritocrático. No geral, ambos os oponentes levarão adiante o capitalismo. Estamos longe dos dias em que o PT e sua candidata sonhavam com o que Lula nunca sonhou: o controle social dos meios de produção e uma sociedade socialista. Mas estamos mais perto do que parece de concretizar o que vem sendo esboçado neste segundo mandato petista: mais controle do Estado pelo partido, mais burocratização e corporativismo na economia, mais apostas em controles não democráticos, além de maior aproximação com governos autoritários, revestidos de retórica popular.
A escolha a ser feita é, portanto, decisiva. Como tudo indica, o teatro eleitoral está-se organizando para esconder o que verdadeiramente está em discussão. Há muita gente nas elites (vilipendiadas pelo lulismo nos comícios, mas amada pelos governantes e beneficiada por suas decisões econômico-financeiras) aceitando confortavelmente a tese de que tanto dá como tanto deu. Dê cara ou dê coroa, sempre haverá "um cara" para desapertar os sapatos. Ledo engano. Há diferenças essenciais entre as duas candidaturas polares. Feitas as apostas e jogado o jogo, será tarde para choramingar: "Ah, eu nunca imaginei isso." Melhor que cada um trate de aprofundar as razões e consequências de seu voto e escolha um ou outro lado.
Há argumentos para defender qualquer dos dois. Mas que não são a mesma coisa, não são. E não porque num governo haverá fartura e noutro, escassez, para pobres ou ricos. E sim porque num haverá mais transparência e liberdade que no outro. Menos controle policialesco, menos ingerência de forças partidário-sindicais. E menos corrupção, que mais do que um propósito é uma consequência.
SOCIÓLOGO, FOI PRESIDENTE DA REPÚBLICA

RECALL

ANCELMO GÓIS

Baka na Copa
ANCELMO GOIS
O GLOBO - 01/08/10
 
Quem terá papel importante na Copa de 14 é Baka, apelido de Ricardo Trade, ex-goleiro da seleção de handebol.
Baka, que cuidou do transportes, da hospedagem e da alimentação no Pan no Rio, é diretor de Operações do Comitê de 14.

Passeata do humor 
A turma do humor, amordaçada pela lei eleitoral que a impede de falar dos candidatos, vai fazer uma passeata de protesto, dia 22, na Praia de Copacabana.
É liderada pela trupe da “Comédia em pé”, que está convocando os colegas de programas como “Casseta & Planeta”, “CQC”, “Zorra total” etc.

Ajuda para Dilma 
Outro dia, Gilberto Carvalho, o chefe de gabinete de Lula, despediu-se do presidente com um desabafo: “Pelo menos só faltam cinco meses (de governo).
Daí vamos para casa.” — Cinco meses para mim.
Você vai ficar aqui, ajudando a Dilma — avisou Lula, meio à brinca, meio sério.

Poxa, doutor 
A 17ª Câmara Cível do Rio negou o pleito de um médico que exigia da TAM pagamento por ter socorrido um passageiro num voo Rio-Nova York.
A desembargadora Márcia Alvarenga ainda o condenou a pagar os advogados da voadora Vai morrer em R$ 1.000.

Poder jovem 
Daniel Cohn-Bendit, 65 anos, vem ao Brasil dia 24, numa visita de apoio aos candidatos Marina Silva e Fernando Gabeira.
Ele não é muito conhecido em Morro Agudo, convenhamos.
Mas foi personagem importante ao liderar os jovens rebeldes em maio de 1968, em Paris.

Pagode em MIlão 
Ronaldinho Gaúcho, que parece gostar mais de pagode que de futebol, organiza um show de Andrezinho, filho do lendário Mestre André, em Milão.

Gordinho sinistro 
Claudio Cezar Henriques, professor da faculdade de letras da Uerj, no Rio, concluiu uma curiosa pesquisa, transformada em livro, ainda sem editora. Tratase de um dicionário de apelidos de escritores brasileiros.
Drummond, por exemplo, era chamado de... Urso Polar. Mário de Andrade, de... Boneca de Piche.
Augusto Frederico Schmidt era o... Gordinho Sinistro.

Segue...
Há apelidos também de escritores vivos, como o do acadêmico Lêdo Ivo: Chulé de Apolo.
Foi dado, diz o professor, por Mário de Andrade numa discussão em que Ivo chamou o autor de “Macunaíma” de... Calcanhar de Aquiles do Modernismo. Aí os dois apelidos pegaram.

Por fim...
Há apelidos consagrados, como Bruxo (Machado de Assis) ou Anjo Pornográfico (Nelson Rodrigues).
Mas a maioria surpreende, como o do nosso querido poeta Ferreira Gullar: Periquito.

ZONA FRANCA

O presidente da Sociedade Brasileira de Metrologia, João Lerch, participa da abertura do VIII Seminário Rio Metrologia, terça, no INT, no Centro.
Nuno Neto, o cantor que brilha na Lapa, finalizou seu primeiro CD, produzido e dirigido por João Pimentel.
Foi remarcado para terça o ato público do XIII Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais, que vai até dia 5, em Brasília.
A Casa do Saber abre amanhã seu segundo semestre letivo com 78 cursos e grandes nomes.
Hoje tem roda de samba no Bip Bip, o boteco do boa-praça Alfredinho Melo, em Copacabana.

A flor de Ziraldo 
Ziraldo, o coleguinha, escritor e artista do traço, iniciou uma campanha para convencer a prefeitura do Rio a reflorestar o Morro dos Cabritos e todos os outros não ocupados da cidade com buganvílias (foto): — Em menos de três anos, estarão todos multicoloridos por uma bela e esplendorosa planta originária do Brasil.

Segue...
Mestre Ziraldo lembra que a buganvília, classificada no Brasil pelo botânico francês Louis Antoine de Bouganville entre 1766 e 1769, espalhou-se pelo mundo: — Foi nossa primeira grande exportação!

Brasileiro Rafael 
Nem tudo está perdido. A jovem Maria, filha de Maitê Proença, esqueceu num táxi no Centro do Rio seu laptop com todo o material de dois anos de faculdade de direito, na PUC. Ficou bem triste, a mãe, sem esperança, tentou consolá-la, mas...
Acredite. O taxista ligou o laptop atrás de pistas para encontrála, conseguiu o número de seu celular e, viva!, devolveu.

No que...
Ao chegar à casa de Maitê, no dia seguinte, a atriz lhe deu um vale-compras de uma loja, mas Rafael, o taxista, não quis. Maitê insistiu: “Ah, compra uma camisa bonita e sai contando que Maria e Maitê Proença te deram.” — Rafael foi embora todo contente. E nós mais ainda.

A redenção de Freyre

Com uma conferência de FH, a Flip 2010 começa quarta, dia 4, por uma homenagem a Gilberto Freyre, autor de “Casa grande e senzala”, o mais importante e convincente estudo de exaltação ao Brasil de todas as raças.

Antes desse clássico da sociologia brasileira, era razoavelmente forte, também nos meios literários, a circulação de ideias racistas. Pretos e mestiços eram apontados por alguns como “causas dos problemas do Brasil” — e havia até torcida, meu Deus, pelo gradual embranquecimento dos brasileiros.

Aliás, como lembrou estudo dos professores Ricardo Ventura Santos e Marcos Chor Maio, uma famosa pintura de 1895, “A Redenção de Can” (veja a reprodução), do espanhol radicado no Brasil Modesto Brocos y Gómez, é, usualmente, interpretada como expressando o ideal do “branqueamento”: “A velha negra agradece por sua filha, mulata clara (portanto, já parcialmente ‘branqueada’), ter se casado com um migrante branco e gerado uma criança branca.” O livro “Guia politicamente incorreto da História”, de Leandro Narloch, desde dezembro de 2009 na lista dos mais vendidos, insinua que o próprio Gilberto Freyre namorou com a tese do “branqueamento” antes de 1933, quando lançou “Casa grande e senzala”, o “mais brasileiro dos livros já escritos”, segundo Darcy Ribeiro.

Um trecho do livro glicerina de Narloch: “Freyre afirmou, por exemplo, que o Brasil deveria seguir a Argentina e clarear a população.

‘Temos muito que aprender com os vizinhos do Sul’, escreveu, ao resenhar o livro ‘Na Argentina’, de Oliveira Viana, um dos grandes defensores da eugenia no Brasil. ‘Parece que, neste ponto, a República do Prata leva decidida vantagem sobre os demais países americanos. Em futuro não remoto, sua população será praticamente branca.’ Depois, Freyre reviu suas ideias. Melhor assim.

RUTH DE AQUINO

A mulher, o amor e a fidelidade
RUTH DE AQUINO
REVISTA ÉPOCA
Época
RUTH DE AQUINO
é diretora da sucursal de ÉPOCA no Rio de Janeiro
raquino@edglobo.com.br
Mulheres traem pelo mesmo motivo que homens: por desejo, por vontade. A diferença é que elas costumam culpar o marido ou o namorado. “Ele não me dava mais atenção”, dizem. “Não era mais romântico, não me elogiava, nem sexo queria.” O livro mais recente da antropóloga Mirian Goldenberg desfaz o mito de que o homem trai por sexo e a mulher trai por amor ou desamor. Se assim fosse, o homem seria sempre culpado: quando trai e quando é traído. Não é justo com eles.
Homens e mulheres gostam de acreditar que o marido é safado por natureza, e a mulher casada é santa por dedicação. Esses rótulos podem parecer convenientes, mas contaminam as relações amorosas. Trabalhando há 22 anos com dilemas de casais, Mirian diz, em seu livro Por que homens e mulheres traem?, que a maior diferença entre eles e elas não é o comportamento, mas o discurso.
“Em vez de assumirem o desejo, as mulheres preferem se fazer de vítimas. Sentimentalizam o caso extraconjugal e botam a culpa no marido. Os homens assumem ter sido infiéis porque quiseram. Raramente culpam a própria mulher.” Cada vez mais, porém, a infidelidade feminina segue os mesmos padrões da infidelidade masculina. No livro da antropóloga, “Mônica” é uma mulher dos novos tempos. “Ela está muito bem em seu casamento e ama o marido. Mas surge um desejo sexual louco e novo em sua vida e ela se joga nele. Rompe a calmaria porque decide viver seu próprio prazer.”
O desejo de se sentir desejada conduz a pequenas e grandes infidelidades femininas. As mulheres escutaram, quando crianças, que seu maior objetivo na vida seria casar e ter filhos. No futuro, elas teriam um único homem para chamar de seu. E seriam únicas para um homem só. A idealização da monogamia romântica não mudou muito, mas a realidade a longo prazo é bem outra.
Mulheres são um pouco Leila Diniz no exercício da sedução, mas não necessariamente na transgressão. As obrigações sociais jogam sua libido num lugar invisível e inatingível. Várias sublimam o prazer ao assumir o papel de mãe. Isso não significa que abram mão de suas fantasias. Conheci mulheres absolutamente certinhas, monogâmicas, que casaram virgens e têm sonhos delirantemente libertários.
O homem seria sempre culpado? Quando ele 
trai, é safado. Quando é traído, é relapso
Algumas não se contentam em fantasiar. Catherine Deneuve, em A bela da tarde, de Buñuel, é uma das personagens mais enigmáticas do cinema. Bem casada, rica, belíssima, ela se entrega a desconhecidos após o almoço como prostituta de luxo. É um exemplo extremo de desvio. Mas, se a infidelidade feminina fosse apenas um fetiche, Nélson Rodrigues não teria tocado com tanta propriedade a alma da classe média brasileira. Novelas como a atual Passione soariam falsas. Ali, as protagonistas traem compulsivamente, das cinquentonas às ninfetas. Traem por desejo, por sexo, por diversão.
O psicanalista Contardo Calligaris acha que as mulheres são tão infiéis quanto os homens. Não vê nisso um problema. “As mulheres só são campeãs na fidelidade companheira e solidária. Em hospitais ou presídios, os visitantes são mulheres. Mas, sexualmente, não vejo diferença. Caso contrário, existiria um problema lógico. Se os homens heterossexuais são infiéis, quem são suas amantes – todas solteiras e livres ou também casadas e namorando outros?”
Contardo acha a palavra infidelidade muito pesada para a traição puramente sexual: “Jamais deixaria minha mulher se ela me contasse algo parecido. Mas sou fiel. Acho um saco trair. Ter outra relação dá um trabalho horroroso”.
Nos tribunais do Rio de Janeiro, recentemente, o juiz Paulo Mello Feijó ignorou o pedido de indenização por danos morais de um marido traído. Para o juiz, marido traído é marido relapso. “Homens de meia-idade, já não tão viris, descarregam suas frustrações nas mulheres, chamando-as de gordas e deixando-lhes toda a culpa por seu pobre desempenho. E elas buscam o prazer em outros olhos, outros braços, outros beijos (...) e traem de coração.”
A ideia de que a mulher só trai por razões sublimes, “de coração”, não corresponde à realidade. Se ela for infiel, será por desejo e por vontade própria.

GOSTOSA

IVAN ÂNGELO


Preciosidades perdidas

Ivan Angelo

REVISTA VEJA - SP

“Já é hora de dormir / Não espere mamãe mandar / Um bom sono pra você / E um alegre despertar.”
(Recomendação cantada na televisão todos os dias às 21 horas, patrocinada por um fabricante de cobertores, e cujo objetivo era ajudar os pais a botar as crianças na cama, evitando que assistissem a programas impróprios transmitidos a partir daquele horário. Na imagem aparecia uma simpática corujinha.)
[Os motoristas] “usarão o sinal de alarme uma só vez. Se porém o sinal for insuficiente para remover o perigo, deverão parar sem que lhes seja lícito substituir a parada pela repetição dos sinais ruidosos”.
(Lei do Sossego, de abril de 1915, aprovada para coibir o abuso de buzinas pelos motoristas da cidade de São Paulo; projeto apresentado pelo vereador José de Alcântara Machado.)
“Art. 60 — Mendigar, por ociosidade ou cupidez: Pena — prisão simples, de 15 (quinze) dias a 3 (três) meses. Parágrafo único — Aumenta-se a pena de um sexto a um terço, se a contravenção é praticada: a) de modo vexatório, ameaçador ou fraudulento; b) mediante simulação de moléstia ou deformidade; c) em companhia de alienado ou de menor de 18 (dezoito) anos.”
(Lei das Contravenções Penais, de 6 de outubro de 1941. Artigo questionado por alguns, sob o argumento de que penaliza quem já sofre a pena da miséria; o artigo, porém, só cita quem mendigar “por ociosidade ou cupidez”, agravada pela prática de simulação.)
“Antigamente a escola era risonha e franca.”
(Primeiro verso de ‘O Estudante Alsaciano’, de Acácio Antunes, poema muito popular nas escolas públicas na primeira metade do século passado.)
“Os passeios deverão ser mantidos (pelo proprietário do terreno) em perfeito estado de conservação, para que os pedestres neles transitem com segurança, resguardados também seus aspectos estéticos e harmônicos.”
(Lei municipal nº 10508/88, artigo 18, que regula a conservação das calçadas paulistanas.)
“Sujismundo é um desses sujeitos que não se preocupam com a limpeza. [Na imagem do desenho animado, ele aparece jogando lixo nas ruas despreocupadamente.] E não respeita o trabalho dos outros. O gari já o conhece e sabe que, por causa dele, vai trabalhar muito mais. Sujismundo não respeita o bem comum.”
(Parte do texto da campanha educativa veiculada na televisão e nos cinemas, em 1972, na qual o personagem do desenho animado ‘Sujismundo’ aparecia jogando lixo por onde passava, ora na rua, ora na escola, na praia e no trabalho, sempre se dando mal no fim, quando entrava o slogan “Povo desenvolvido é povo limpo”.)
“É proibido perturbar o sossego e o bem-estar públicos e da vizinhança com sons de qualquer natureza que ultrapassem os níveis previstos para as diferentes zonas de uso e horários na presente Lei e seus regulamentos.”
(Lei nº 8106, 30 de agosto de 1974, art. 1º)
“Fica proibido o trânsito de veículos, no Município de São Paulo, que não possuam o dispositivo silencioso de escapamento conforme o fornecido pelos respectivos fabricantes.”
(Lei nº 8106, 30 de agosto de 1974, art. 11º)
“O Rio Tietê, de água limpa cheia de peixe, servia de clube ou praia para os paulistanos. Havia pesca, passeio, remo, natação, ginástica e saltos. [...] Quando a competição da Travessia se firmou e ganhou estrutura e formato mais constantes, ficou acertado um trajeto de cinco quilômetros e meio, com a saída lá perto da ponte de Vila Maria e a chegada em frente ao Espéria. O leito do rio seguia um curso sinuoso, margeado por vilas de pescadores e vegetação ribeirinha. [...] A Travessia chegou a ter perto de dois mil participantes, dos quais uns cento e cinquenta eram mulheres.”
(Trecho de 'Travessia de São Paulo a Nado', de Pedro Junqueira, para o site Best Swiming, sobre a prova anual de natação que tinha esse nome, realizada de 1924 a 1944. Depois, a cidade estragou seu belo rio.)
Algumas dessas preciosidades foram perdidas porque caducaram; outras, porque fomos deixando de dar importância ao que elas significaram: civilização.

CLÓVIS ROSSI

Sobre avacalhações
CLÓVIS ROSSI
FOLHA DE SÃO PAULO - 01/08/10


SÃO PAULO - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva acha que acaba virando uma esculhambação se algum país desobedecer suas leis para atender pedidos de presidentes.
E daí, presidente? Se as leis são primitivas, medievais, como a que prevê a lapidação de adúlteros e adúlteras no Irã, viva a avacalhação. Ditadura é mesmo para ser avacalhada.
O presidente sabe disso. Tanto sabe que, em seus tempos de sindicalista, deu valiosa contribuição para avacalhar a ditadura militar, ao desafiar suas leis e, mais ainda, o arbítrio não previsto nem mesmo nas leis de exceção.
Além disso, não achava avacalhação pedir a solidariedade de sindicatos e autoridades estrangeiras.
Inúmeros companheiros seus, na época, também recorreram a governantes estrangeiros para tentar pressionar a ditadura. Ou avacalhá-la, se o que vale é a nova e atual versão de Lula.
Conheço pelo menos um caso de ex-preso político, torturado, que agradece até hoje a ação do então presidente norte-americano Jimmy Carter para afrouxar as regras da ditadura (ou avacalhá-las, diria o Lula-2010) e preservar a sua vida.
Os militares rangeram os dentes, reclamaram, espumaram, mas a vida seguiu, as relações diplomáticas, econômicas e comerciais só fizeram melhorar com o passar dos anos, até porque, como diz o chanceler Celso Amorim, "negócios são negócios". Princípios, bom, aí é outra história.
Ditaduras são, se o leitor me perdoa a incorreção política, como se dizia ser a mulher do malandro: a gente pode até não saber porque está batendo, mas elas sempre sabem porque estão apanhando.
Logo, Lula não precisa ter medo de perder negócios se fizer com a ditadura iraniana, como presidente, o que fazia com a brasileira, como opositor. Ajudaria a não avacalhar a sua própria biografia.

TAMANHO

ELIO GASPARI

O livro eletrônico precisa custar menos
ELIO GASPARI
FOLHA DE SÃO PAULO - 01/08/10


Com a economia que faz ao comprar um e-book, o cidadão tem de comprar 241 obras para quitar a tabuleta



PRIMEIRO A BOA NOTÍCIA: chega nas próximas semanas ao mercado brasileiro a tabuleta leitora de livros Alfa, do Grupo Positivo. Ela se junta ao Cool-er, da editora Gato Sabido.
Na Amazon americana os e-books já superaram as vendas de volumes de capa dura, e a rede inglesa Waterstone está perto da casa dos 100 mil livros eletrônicos vendidos mensalmente. No Brasil, como a oferta de tabuletas é incipiente, as vendas não chegam a mil por mês. Mesmo assim, deram-se os primeiros e importantes passos para absorver essa nova modalidade de acesso à cultura.
Agora a má notícia, quase péssima. Os preços estão salgados. O Alpha custará em torno de R$ 750,00 (US$ 416), o preço do Cool-er. Um ano depois da disseminação das tabuletas americanas, a comparação é humilhante. O Kindle, da Amazon, baixou para US$ 139, e os demais ficam um pouco acima disso. O iPad da Apple, que lê livros, funciona como um laptop e só falta fazer café, custa a partir de US$ 499. O futuro desse mercado está nas mãos dos editores e livreiros, na diferença entre o preço da edição eletrônica e o da prateleira. O "Joaquim Nabuco Essencial", por exemplo, custa R$ 25,60 no papel e R$ 22,50 em bites.
Com os parcos R$ 3,10 economizados no Nabuco eletrônico, o cidadão terá que comprar 241 livros para quitar sua tabuleta. Admitindo-se que compre dois títulos por mês, serão dez anos.
Nos Estados Unidos, um cidadão compra uma tabuleta por cerca de US$ 150 e paga US$ 9,99 por um livro que custa US$ 15,37 no papel. Economiza US$ 5,38. Quita sua tabuleta na compra do 28º livro.
Nos dois casos deve-se levar em conta que as tabuletas dão acesso a milhares de obras gratuitas. Em inglês, passam do milhão; em português talvez não tenham chegado ao milhar. Como diria Olavo Bilac, esse é um problema da "última flor do Lácio (...) a um tempo, esplendor e sepultura".
No século 19 Pindorama foi o último país a acabar com a escravidão. No 20, um dos últimos a dar bônus de milhagem aos passageiros das companhias aéreas. No 21, poderia ser dos primeiros a disseminar o acesso a livros eletrônicos baratos. Até porque os donos de escravaria e as empresas que não bonificaram a patuleia foram à garra.

EREMILDO, O IDIOTA
Eremildo é um idiota e desde o primeiro momento defendeu a invasão do Iraque. Fez discursos, escreveu artigos e chegou a trabalhar na lanchonete da empreiteira Blackwater na Zona Verde de Bagdá. Moveu-se pela paixão e pela própria cretinice.
O paspalho deprimiu-se ao saber que o general americano James Mattis, o conquistador de Faluja, escolhido pelo companheiro Obama para o Comando Central das tropas americanas no mundo, disse que invadir o Iraque "foi a coisa mais idiota que nós fizemos".
(Sua, frase, no contexto, foi a seguinte: "Americanos patriotas, sinceros, intelectualmente vigorosos e honestos acham que irmos para o Iraque foi a coisa mais idiota que nós fizemos. Eu concordo inteiramente. Contudo, os militares americanos devem obediência ao seu comandante-em-chefe".)
Eremildo conforta-se lembrando que não deve obediência ao presidente dos Estados Unidos. É apenas um idiota.

BICO RACHADO
É dura a vida do tucanato. Em Minas Gerais há o voto Dilmasia. Em São Paulo, o Dilmin, publicamente apoiado por 42 prefeitos do PSDB, do DEM e do PPS. No Tocantins, um pedaço da base do tucano Siqueira Campos trabalha pela candidata do PT. Em Pernambuco, 17 dos 20 prefeitos tucanos abandonaram a campanha de Jarbas Vasconcelos, preferindo a reeleição de Eduardo Campos que, por sua vez, trabalha por Dilma Rousseff.

SUMIÇO
O chanceler Celso Amorim sumiu. O desembaraço de Nosso Guia (expressão criada por ele) calou-o.

SAIU "FORDLÂNDIA", UM GRANDE LIVRO

Está nas livrarias "Fordlândia - Ascensão e queda da cidade esquecida de Henry Ford na selva". É uma grande obra. Conta a fantástica história da construção e ruína de um centro agroindustrial na Amazônia. Além disso, ensina como Ford, o maior empresário de seu tempo, meteu-se numa aventura que iludiu não só a ele, mas também o governo brasileiro e a opinião pública mundial. Greg Grandin, professor de história da Universidade de Nova York, ralou na pesquisa cruzando a Amazônia e os arquivos da Ford. Recontou o passado sem recorrer a muletas teorizantes.
Em 1927, Ford planejou plantar 2 milhões de seringueiras numa área de 10 mil km2 (um Líbano), com a mão de obra de 5.000 trabalhadores. Patrocinou uma das maiores queimadas de todos os tempos, ergueu um hospital-modelo e escolas. Seria um paraíso, livre das coisas que detestava: Wall Street, sindicatos, judeus e leite de vaca. Com a borracha do Pará ele controlaria o mercado mundial de pneus. O perfil que Grandin traça desse "Jesus Cristo da indústria" (palavras de Monteiro Lobato) é um primor. Se disso resulta que o Messias tinha muito de doido, o problema não é do professor. Ele mostra Fordlândia como uma pororoca da presunção dos bem-sucedidos no encontro com um mundo que não entendiam nem respeitavam.
Buscando uma terra sem leis ou bolcheviques, Ford foi encantado pela floresta. "Fordlândia" tem de tudo: campo de golfe, piscinas, quadras de tênis, governador paraense doando sesmarias e plutocrata paulista vendendo terras da Viúva.
O investimento de dezenas de milhões de dólares seria custeado pela borracha, pela madeira e pelos minerais extraídos da concessão. Deu tudo errado. As árvores foram devastadas por pragas, a serraria deu prejuízo, e os trabalhadores se rebelaram. Seriam os bolcheviques. A polícia dispersou milhares de caboclos, espalhando miséria, fome e doenças.
A Depressão e um derrame cerebral abateram o magnata e em 1945 a experiência acabou. Os americanos foram embora, vendendo o negócio ao governo por 1% do seu valor, para pagar dívidas trabalhistas cobradas por Getúlio Vargas.
O que torna estimulante a obra de Grandin é a sua capacidade de permitir que se reconheçam no passado nuvens que estão sob o céu da floresta até hoje. Afinal, Ford não era idiota nem essencialmente mau. Basta ouvi-lo: "O que o povo do interior do Brasil precisa é de estabilidade na sua vida econômica, com o seu trabalho remunerado de maneira justa, em dinheiro". Em alguns lugares da Amazônia, muita gente já morreu por menos.
(Desde o ano passado pode-se comprar a edição eletrônica de "Fordlândia", em inglês, por US$ 9,99. A edição brasileira, só em papel, custa R$ 56.)

DORA KRAMER

Ronda ostensiva
DORA KRAMER

O ESTADO DE SÃO PAULO - 01/08/10

Não adianta a candidata Dilma Rousseff fazer profissão de fé pública em prol da liberdade de imprensa nem será convincente o ato do PT de retirar do programa para o próximo governo a instituição de controles sobre os meios de comunicação, se o presidente do partido gesticula no sentido oposto.
Imagina-se que falando em nome do PT e da campanha da qual é um dos principais coordenadores - integrante do grupo chamado “G-7” para designar os mandachuvas -, José Eduardo Dutra anuncia que está vigilante em relação ao que é publicado ou veiculado em jornais, revistas, emissoras de rádio e televisão.
Tudo aquilo, avisa, que “extrapolar a liberdade de expressão” será questionado pelo partido na Justiça.
Todos os dias há gente esquadrinhando tudo o que é dito e escrito. Já como fruto do pente-fino, há dois pedidos de direito de resposta à revista Veja e uma solicitação - frustrada - de censura a um vídeo (o que mostra o vice de José Serra dizendo que o PT tem parte com terroristas colombianos) do portal Folha com.
Causa espécie não o recurso à Justiça. Este está aí à disposição de quem quiser exatamente para que os ofendidos acorram a ele e a Justiça arbitre quem tem razão.
O que chama atenção é a concepção petista de liberdade de expressão. Pelo que se depreende desta e de outras manifestações de José Eduardo Dutra a respeito do tema, tudo o que fugir do estritamente informativo, tudo o que recender a opinião, interpretação, exercício de discernimento e lógica pode ser enquadrado à categoria do que “extrapola a liberdade de expressão”. 
De onde é possível observar também a concepção petista sobre liberdade. É tudo aquilo que não condiz com o interesse do partido. O que sai fora desse limite, extrapola.
O mesmo José Eduardo Dutra, ao defender o ponto de vista da necessidade de se instituir controles sobre os meios de comunicação, disse há 15 dias que as cadeias de rádio e televisão são “pouco afeitas” ao pluralismo. Citou como exemplo a revista Veja, que na visão dele não tem sido “plural”. 
Quer dizer, tem externado pontos de vista que desagradam ao PT. Na ocasião, Dutra acrescentou: “Isso é uma constatação. O que vamos fazer, vamos censurar? Claro que não, mas tenho também a liberdade de poder expressar minha opinião. O fato é que a liberdade de imprensa é irrevogável, ponto.”
Sim, é irrevogável não porque o senhor Dutra tenha determinado, mas porque assim garante a Constituição.
Constituição esta vilipendiada quando o presidente da República, filiado ao PT, extrapola e usa o cargo para fazer política partidária.
Pois esse partido que mal consegue se manter na legalidade é que se arvora em patrulheiro dos limites da liberdade de expressão. Diz Dutra sobre sua contrariedade com os que não assentem ao seu partido: “Vamos censurar? Claro que não.”
Se tivessem nas mãos o tal conselho para fiscalizar a imprensa que tentaram instituir no início do primeiro mandato de Luiz Inácio da Silva, claro que sim, certamente iriam restringir a publicação daquilo que, no entendimento do conselho, extrapolasse. Não alguma lei, note-se, mas o conceito petista de liberdade de expressão.
E isso não é uma ilação, é - para usar palavras de José Eduardo Dutra - uma constatação. 
Se não, para que a insistência nos controles? Por que ao falar sobre eles o presidente do PT invoca justamente o espírito crítico da imprensa? 
Poderia falar a respeito de coisas que deseducam a população, sobre agressões ao idioma, linguagem chula. Ainda que equivocado, mas bem-intencionado, poderia abordar a distorção dos melhores princípios, os excessos do consumismo, o desrespeito ao próximo, mas não. 
Ataca apenas um ponto: o senso crítico exercido de maneira contrária ao que seria de interesse do PT.
Não é por acaso. Inclusive porque durante toda a trajetória de Lula e do PT, em especial na campanha presidencial de 2002 e logo após a posse antes dos primeiros escândalos, enquanto a impressa fez vista grossa às peripécias petistas e ajudou a construir e exaltar o mito Lula - depois exportado mundo afora -, o partido nunca reclamou.