quinta-feira, outubro 15, 2009

PARA....HIHIHIHI

OPÇÃO

A professora estava perguntando na turma o que cada uma das crianças mais gostavam.
- Ritinha, do que e que você mais gosta?
- Das flores, professora.
- Que gracinha! E você, Mariazinha?
- Do céu, professora.
- Que lindo... E você, Soninha?
- Das borboletas, professora.
- Que maravilha... E você, Joãozinho?
- Ah, professora, eu gosto é de buceta!
- O QUEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE?????????????????????
- É professora; eu gosto mesmo é de buceta!
- Seu sem-vergonha! Vem cá!

A professora pegou o Joãozinho pela orelha e foi arrastando o moleque até a sala da diretora:
- Imagine só: eu estava fazendo uma brincadeira com as crianças na sala perguntando do que elas mais gostavam e esse menino vem e me diz que gosta de buceta!
- Como é que é, Joãozinho?
- É diretora; eu gosto é de buceta!
- SEU MAL-EDUCADO!!!!!! Vou já chamar o seu pai!

E chamou o pai do Joãozinho na escola. O homem chegou lá apavorado, querendo saber o que tinha acontecido...

E a diretora:
- Imagine o senhor que a professora estava fazendo uma brincadeira com as crianças, perguntando do que elas mais gostavam e o seu filho me responde que gosta de buceta!
- Ah, é isso? Liga não, diretora... Garoto novo... Nunca comeu um CÚ...

GOSTOSA


MARTIN WOLF

Boatos sobre a morte do dólar

Folha de S. Paulo - 15/10/2009


ESTAMOS NA temporada do pânico quanto ao dólar. E os responsáveis pela propagação do pânico são muitos: os investidores em ouro, os proponentes da linha dura fiscal e muitos outros observadores que parecem concordar em que o dólar está em seu leito de morte. Um colapso hiperinflacionário está à espera. Será que isso faz sentido? Não. Mesmo assim, o sistema monetário mundial baseado no dólar apresenta defeitos. Seria bom começar a construir arranjos alternativos. Deveríamos começar pelo que não está acontecendo. No pânico recente, as crianças correram na direção da mãe, ainda que os erros desta tenham boa parte da responsabilidade pela crise. O dólar subiu 20% entre julho de 2008 e março deste ano. Desde então, perdeu boa parte de seus ganhos.

Assim, a queda do dólar é um indicador de sucesso, e não de fracasso. Será que podemos encontrar sinais mais profundos de que o mundo está abandonando a moeda norte-americana? Um indicador muito apreciado é o preço do ouro, que registra alta de 400% desde o começo de 2000. Mas esse preço é um indicador dúbio quanto aos riscos inflacionários: seu pico anterior foi atingido em janeiro de 1980, pouco antes de a inflação ser derrotada. O preço mais alto do ouro reflete medo, e não fatos. E esse medo não é generalizado. O governo dos EUA tem a capacidade de tomar empréstimos com prazo de 30 anos a juros de 4,2% ao ano, e com prazo de 10 anos a 3,4%. Durante a crise, as expectativas inflacionárias indicadas pela disparidade entre os rendimentos de títulos convencionais e títulos com correção monetária desabaram.

Desde então, recuperaram parte do terreno perdido, o que representa mais um sinal de sucesso para a política econômica. Mas ainda assim continuam abaixo do nível anterior à crise. O perigo imediato, dada a capacidade de produção excedente existente no mundo e nos EUA, é de deflação, não de inflação. A correção do dólar é não só natural como benéfica. Reduzirá o risco de deflação nos EUA e facilitará a correção dos "desequilíbrios" mundiais que ajudaram a causar a crise. O que poderia substituir o dólar? A menos que, e até que, a China revogue seus controles cambiais e desenvolva mercados financeiros profundos e de grande liquidez, o que provavelmente demorará uma geração, o euro é o único concorrente sério para o dólar. No momento, 65% das reservas cambiais mundiais estão em dólares e 25% em euros. Sim, é possível que haja algum avanço da moeda europeia. Mas é provável que seja lento.

A zona do euro também sofre de altos deficit fiscais e dívidas públicas. O dólar, com certeza, continuará a existir dentro de 30 anos; o destino do euro é menos seguro. É nesse ponto que convergem as preocupações quanto à estabilidade monetária dos EUA e o papel externo do dólar. Uma recomendação comum, quanto ao primeiro fator, é tanto preservar a independência do Fed quanto garantir a solvência fiscal em longo prazo. Se crescer o medo de que qualquer uma dessas coisas, ou, pior, ambas, estejam em perigo, a preocupação pode bastar para causar uma crise.

O dólar poderia despencar, e as taxas de juros de longo prazo disparariam. Em uma crise como essa, seria perfeitamente possível temer um Fed menos independente se vendo forçado a adquirir títulos de dívida pública. E isso aceleraria a fuga ao dólar. O papel mundial do dólar não serve aos melhores interesses dos EUA. Os argumentos em favor de um sistema diferente são muito fortes. Isso não acontece porque o papel do dólar esteja em risco, hoje, mas sim porque ele prejudica a estabilidade interna e mundial. A hora de buscar alternativas é agora.


Tradução de PAULO MIGLIACCI . Este texto foi produzido originalmente para o "Financial Times".

VINÍCIUS TORRES FREIRE

Quanto vale o ataque à Vale?

FOLHA DE SÃO PAULO - 15/10/09


INTEGRANTES DO primeiro escalão de Lula e que vieram do setor privado dizem que "não compreendem bem" o conflito entre o governo e a direção da Vale, mas dizem identificar num "grupo de articuladores" da candidatura de Dilma Rousseff o "núcleo dos insatisfeitos" com a empresa. Esses tais articuladores seriam também do primeiro escalão do governo e de fora dele, do PT. São pessoas para quem a Vale é uma "empresa estratégica" que não funciona como tal, por não adequar seus objetivos ao "incremento da indústria nacional". Lula, grosso modo, quer que a Vale faça aço. Hoje, fazer aço é menos rentável do que vender minérios, para a Vale. Logo, investidores privados não gostam da ideia da Vale siderúrgica. Esses dois informantes dizem não compreender bem o conflito, "que tem muito de plantação de notícias também", porque: 1) se a insatisfação é com Roger Agnelli, haveria maneiras mais sutis e práticas de tentar afastar o executivo; 2) o governo sempre esteve bem informado sobre as mudanças nos investimentos da Vale, embora tenha sido de fato surpreendido pelas demissões na empresa; 3) o "barulho" para afastar Agnelli tornaria a operação mais difícil, pois coloca um grande banco nacional, o Bradesco, e um grande sócio estrangeiro, a Mitsui, em posição "constrangedora". Logo, na avaliação desses informantes do governo, o projeto, ainda que "atrapalhado" e "sem muito futuro", seria o de alterar o controle da Vale. Por que "sem muito futuro"? Porque não é de um dia para o outro que algum empresário levantaria capital para comprar uma fatia relevante da Vale, porque os fundos de pensão não poderiam aumentar sua fatia do controle da empresa e porque Bradesco e Mitsui não vão se desfazer de uma hora para outra de um investimento gordo num setor quente. Para que alguma empresa entre no grupo de controle da Vale, seria necessária a aprovação dos demais controladores. Pela avaliação desses informantes, portanto, não haveria nem plano organizado nem por ora muito factível de alterar o controle da Vale, a não ser por meio de operações financeiras exóticas e de um conflito grave e desgastante com os sócios de fato privados. Consideram que o presidente do fundo de pensão do Banco do Brasil, a Previ, não dá mostras de querer entrar num conflito aberto com seus sócios.

O presidente da Previ, Sérgio Rosa, em público até agora criticou apenas a recente campanha publicitária da Vale, na qual a empresa se defende da crítica de Lula à redução de investimentos, campanha que teria irritado o presidente. Lembram que outro fundo de pensão de estatal, a Funcef (da Caixa), faz menos de uma semana dizia em público que poderia vender sua participação na Vale (na verdade, na Litel Participações, que tem parte da Valepar, que controla a Vale). A Funcef se queixa de "ter pouca influência" na Vale. Mas os informantes observam que a Vale é um ativo importante para a Funcef. Nem seria fácil vender participação como a da Funcef, grande mas insuficiente para morder o controle da empresa. Seria preciso que a Previ entrasse no negócio, vendendo também. Ou comprando. Falta combinar com os sócios privados. Ou confrontá-los violentamente.

COMENDO NA RUA

DEMÉTRIO MAGNOLI

O consenso clientelista

O Globo - 15/10/2009


O povo não quer migalha, nem cesta básica, nem esmola." Foi assim que, em 1999, Lula denunciou o Bolsa Escola de FHC. Uma conversão completa demandou apenas três anos: na campanha que o conduziu à presidência, Lula anunciou o Fome Zero, do qual surgiria o Bolsa Família. O PSDB, por sua vez, exibiu-se aos eleitores de 2006 como um partido sem rumo que oscilava entre a proposta paternalista de condicionar efetivamente a concessão do benefício à frequência escolar das crianças pobres e a proposição suicida de criar "portas de saída" para os beneficiários do programa.


Há pouco, posicionando-se para a campanha de 2010, os tucanos fizeram a sua própria conversão: enterraram as críticas, diagnosticaram o Bolsa Família como uma continuidade da política social de FHC e prometeram ampliálo ainda mais. Todos, agora, estão ansiosos por emitir cheques visados para potenciais eleitores.

O Fome Zero nasceu como um programa de distribuição de cupons alimentares, não de dinheiro. O Lula triunfante de 2003 proclamou que 44 milhões de famélicos aguardavam, em silencioso desespero, um gesto salvador de seu governo. Seu ministro do Combate à Fome, o agora esquecido José Graziano da Silva, exibiu a nova política como o marco zero de uma revolução que uniria a reforma agrária, o florescimento da agricultura familiar e a garantia da segurança alimentar. Num país encantado pela ascensão do retirante nordestino ao palácio dos palácios, poucos ousaram apontar a nat No Brasil a fome aberta é um fenômeno marginal, escrevi em outubro de 2002, acrescentando que a pobreza manifestavase essencialmente como carência de renda. O artigo concluía que o programa de Lula "fornece um poderoso instrumento de manipulação política para as elites e oligarquias regionais".

A alternativa proposta era algo como o Renda da Cidadania, defendido pelo senador Eduardo Suplicy. Previsivelmente, os áulicos acadêmicos do lulismo acusaram-me de sabotar o programa da redenção dos miseráveis. Entretanto, as pesquisas do IBGE logo evidenciaram que a subnutrição confinava-se a uma franja diminuta da população - e o governo inventou o conceito, tão patético quanto efêmero, de "fome gorda".

Graziano da Silva durou apenas um ano. Seu ministério foi englobado pela pasta do Desenvolvimento Social, e o programa de distribuição de cupons alimentares deu lugar ao Bolsa Família, que distribui dinheiro vivo. A nova política nasceu pela unificação e expansão de programas sociais de FHC - e, naturalmente, os porta-vozes do oficialismo nas universidades fingiram sem corar que não ocorrera nenhuma ruptura entre o projeto da salvação pela cesta básica e o programa da redenção pelo cheque.

O dinheiro distribuído pelo Bolsa Família é utilizado, prioritariamente, para cobrir custos de transportes e na aquisição de materiais de construção e eletrodomésticos.

Nada há de surpreendente - nem de errado - nisso. Em sucessivos atos falhos, Lula renegou sua acusação original, de que os cheques do governo constituem esmolas, e crismou os críticos como defensores da transferência "para os ricos" do dinheiro "que a gente está dando para os pobres". As palavras do presidente escancaram tudo que existe de desprezível no modelo atual do Bolsa Família.

É um equívoco teórico e uma narrativa política retrógrada explicar a reeleição de Lula como um fruto do Bolsa Família. A vitória do presidente refletiu o ciclo de expansão da economia mundial, o crescimento econômico brasileiro, os aumentos do salário mínimo e da renda dos trabalhadores - e a incompetência do candidato oposicionista. O cheque do governo produziu votos, mas representou um fator subsidiário no resultado final.

Contudo, numa democracia séria, mesmo isso seria intolerável.

A reviravolta pré-eleitoral do PSDB atesta a natureza deletéria do Bolsa Família. Os tucanos descobriram que, no caminho rumo ao poder, não é eleitoralmente eficaz formular ideias passíveis de interpretação como uma intenção de retroagir em benefícios monetários.

Também descobriram as vantagens que poderão usufruir, no futuro próximo, das prerrogativas de reajustar valores de cheques e expandir o universo de beneficiários. A conversão oportunista sinaliza a assinatura de um contrato entre os grandes partidos.

Eles decidiram conceder, uns aos outros, o direito de intercambiar cheques tacitamente, impuseram à nação a renúncia a uma política republicana de combate à pobreza por meio da transferência de renda.

O projeto de Renda da Cidadania sustenta-se sobre dois pilares. O primeiro é a proposição de que uma renda básica constitui direito universal, de brasileiros pobres e não pobres, a ser consagrado na lei e realizado em prazos compatíveis com as disponibilidades orçamentárias. O segundo é a ideia de criação de uma agência pública independente de gestão do programa, com a missão de universalizar os benefícios e a prerrogativa de definir valores e destinatários dos cheques segundo critérios apartidários. A Renda da Cidadania continuaria a incentivar o consumo dos pobres, mas as transferências de dinheiro perderiam o estatuto de dádiva para adquirirem o de direito. Nessa mudança de princípio encontra-se tanto a sua força conceitual quanto, desgraçadamente, a sua fraqueza política.

São remotas as chances de o projeto de Renda da Cidadania prosperar. O povo "não quer esmola", como disse Lula quando ainda não se apresentava como o sucessor de Getúlio Vargas, mas as elites políticas confluem em torno da proteção de seu privilégio de dar esmola.

Menos de uma década atrás, havia ainda uma barragem de crítica ao clientelismo, oriunda dos intelectuais e da universidade. Isso hoje se perdeu, no labirinto da adesão ao lulismo. Os coronéis intercambiavam votos por dentaduras.

Nós vivemos no tempo das dentaduras pós-modernas


DEMÉTRIO MAGNOLI é sociólogo e doutor em geografia humana pela USP.

CELSO MING

Alegria, alegria

O ESTADO DE SÃO PAULO - 15/10/09



Se há exagero em afirmar que a euforia está de volta, certamente não há se ficar dito que estamos bem perto disso.

Ontem o Índice Dow Jones, que mede o comportamento das ações negociadas na Bolsa de Nova York, fechou acima dos 10 mil pontos, depois de ter despencado de lá em outubro de 2008.

A Bolsa de São Paulo não deixou por menos. O Índice Bovespa passou dos 66 mil pontos e está a apenas 9% do seu pico de alta, obtido em maio do ano passado, antes da eclosão da crise. Somente em 2009 (e estamos apenas em meados de outubro), a Bolsa brasileira avançou 76%.

Ontem todas as bolsas europeias se esqueceram dos problemas e atropelaram. Frankfurt subiu 2,45%; Londres, 1,98%; Paris, 2,14%. E, em Nova York, o petróleo voltou à casa dos US$ 75 por barril de 159 litros, sinal de que aumenta a confiança no crescimento do consumo.

Enquanto isso, o dólar continua sua trajetória morro abaixo. No mercado internacional, atingiu seu menor nível em 14 meses quando comparado ao valor das moedas que compõem uma cesta de seis moedas internacionais. E, aqui no Brasil, fechou a R$ 1,703, a uns passos da casa do R$ 1,60.

Quem já tinha saído da toca parece exultante. Quem está saindo só agora pode achar que está chegando atrasado.

Há dias, o mercado internacional vinha ensaiando a revoada. O pretexto se apresentou ontem quando um dos bancos mais importantes dos Estados Unidos, o JPMorgan, mostrou um resultado substancialmente superior ao esperado, e as vendas no varejo no mercado americano tiveram queda, em setembro, de apenas 1,5%, e não superior a 2,0%, como os analistas projetavam.

A percepção geral é a de que as profecias de que viria uma quebra da recuperação da economia em W ou em WWW (ou seja, com recaídas bruscas), e não em V, parecem ter sido abandonadas, ao menos enquanto não aparecer notícia particularmente ruim.

Esse comportamento do mercado não reflete propriamente a velocidade da recuperação do sistema produtivo depois da crise braba. Reflete a existência de volumes nunca vistos de recursos zanzando pelos mercados, os mesmos que foram despejados pelos Tesouros e grandes bancos centrais com o objetivo de contra-atacar a crise.

Nessa paisagem, o Brasil é a bola da vez. Todos os dias, os analistas falam maravilhas do B dos Brics. Não há quem não queira agora ativos, vejam só, em reais.

O Banco Santander elegeu a Bolsa brasileira como o cenário mais promissor para uma subscrição de US$ 8,1 bilhões em ações. E verificou que um fundo soberano, o de Abu Dabi, ficou com a fatia de US$ 328 milhões.

Terça-feira, o Banco do Brasil se apresentava no mercado internacional de bônus disposto a convencer tomadores para US$ 500 milhões em bônus perpétuos. Obteve interessados para US$ 13 bilhões, mas fechou pouco mais de 10% disso.

A abundância de recursos atiça os assopradores de bolhas. Mais cedo ou mais tarde, os bancos centrais terão de enxugar a dinheirama. Mas, por enquanto, não ousam passar para essa fase porque temem a reversão da retomada, como ainda ontem o Fed (banco central americano) deixou claro na sua Ata.

E isso vai sendo entendido como senha para a alegria geral

Confira

Tudo errado - Ontem o governador de São Paulo, José Serra, fez a seguinte afirmação: "Os juros siderais e o câmbio mega-hipervalorizado são muito piores para o desenvolvimento do que qualquer medida de defesa do meio ambiente."

O governador não disse como teriam de ser nem a política monetária (política de juros) nem a política de câmbio para não sabotarem o desenvolvimento.

Nada aconteceu depois de publicadas essas declarações. Mas, se José Serra dissesse o que disse em junho de 2010, na condição de líder das intenções de voto, qual seria a reação do mercado financeiro?

FACHADA

ROLF KUNTZ

Presidente de tudo

O Estado de S. Paulo - 15/10/2009


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva continua manobrando para mandar na Vale. Se tiver sucesso, tentará mandar noutras empresas privadas, de acordo com seus interesses políticos. Grandes companhias privatizadas serão provavelmente alvos preferenciais. Mas a lista poderá incluir quitandas e carrinhos de pipoca, se isso for importante para os objetivos definidos no Palácio do Planalto. Por enquanto, a meta principal é interferir nas decisões da Vale. Conseguirá isso mais facilmente se houver mudança na diretoria da empresa, a começar pela demissão do presidente, Roger Agnelli.

Todo esse jogo deixou de ser segredo há meses. É cada vez mais aberto e só há um obstáculo importante. Os fundos de pensão estatais, obedientes ao governo central, não detêm o controle acionário da empresa. Mas o objetivo ficará mais próximo se o empresário Eike Batista conseguir comprar um número suficiente de ações. O resultado da manobra depende agora da resistência do Bradesco, detentor dos papéis necessários a uma alteração de controle.

Não se trata de um jogo ideológico de reestatização. Com a crise internacional, ganhou destaque o debate sobre as funções do mercado e do poder público na organização da economia capitalista. De modo geral, houve mais barulho do que ideias novas nessa discussão. Economistas ilustres perderam o senso do ridículo e falaram sobre as políticas de estímulo à demanda como se fossem grandes e revolucionárias novidades. Não são, e nenhum governante precisou fazer contorcionismo ideológico para recorrer a incentivos fiscais. No meio do falatório, alguns políticos chegaram a um passo de uma deslavada defesa do voluntarismo. "É hora da política", disse várias vezes o presidente Lula, sem jamais explicar o alcance de sua noção de "política".

Discurso estatizante? Certamente não no caso do presidente Lula. Se ele tivesse um efetivo interesse em fortalecer os mecanismos do Estado teria apoiado a consolidação das agências reguladoras. Mas todo o esforço de seu governo foi no sentido contrário. As agências foram enfraquecidas e aparelhadas e a ideia de autonomia operacional foi sempre rejeitada pela maioria de seus ministros. O objetivo dominante sempre foi submeter os órgãos de regulação ao controle do Executivo e, portanto, a interesses partidários e eleitorais de ministros, do presidente e de grupos governistas.

Toda a estratégia do presidente Lula foi sempre voltada não para o fortalecimento do Estado, como instituição, mas para a partidarização da máquina estatal e para a centralização das decisões mais importantes.

A impessoalidade é uma das características mais notáveis da organização estatal moderna. Órgãos de Estado têm normalmente padrões próprios de funcionamento, objetivos permanentes - ou mutáveis apenas a longo prazo ou em circunstâncias muito especiais - e considerável independência operacional. Nos países bem ordenados e politicamente mais desenvolvidos, essas características definem também as companhias estatais, tanto quanto a maior parte da burocracia.

O presidente Lula nunca entendeu a ordem estatal dessa maneira - ou, pelo menos, nunca agiu como se tivesse uma clara percepção da diferença entre Estado e partido ou mesmo entre Estado e grupo hegemônico. Sua relação com a Petrobrás é um reflexo dessa concepção peculiar de Estado.

O presidente Lula parece nunca haver entendido ou assimilado a história de sucesso da Petrobrás: um longo processo de acumulação de conhecimento técnico e de experiência empresarial, com erros graves e grandes acertos. A descoberta do pré-sal não resultou da iluminação repentina de um presidente da República, embora a propaganda oficial tenda a impingir essa mistificação às pessoas pouco informadas.

O desprezo do presidente Lula pelos critérios de administração e pelos objetivos empresariais da Petrobrás é indisfarçável. A maior estatal brasileira é tratada por ele como instrumento de um projeto de poder, assim como a Agência Nacional do Petróleo e a futura empresa coordenadora da exploração do pré-sal. Isso não é estatização, porque a Petrobrás nunca deixou de ser estatal, assim como as jazidas de petróleo e de outros minerais nunca deixaram de pertencer à União. O jogo é outro. Tem a ver não com a opção mais Estado ou mais mercado, mas com a escolha, muito mais grave, entre democracia e autoritarismo. É este o sentido real das tentativas de Lula de mandar na Vale e na Embraer. A questão é política, muito mais do que econômica.

ROBERTO MACEDO

Restituição Godot, a que não chega


O Estado de S. Paulo - 15/10/2009
O adiamento de restituições do Imposto de Renda (IR) lembra a peça Esperando Godot, de Samuel Beckett, premiado com o Nobel de Literatura em 1969. Recorde-se que os personagens principais dessa obra clássica passam o tempo todo a esperar Godot, que nunca chega. Embora a peça tenha seu nome, é um personagem abstrato, ficando para a imaginação do leitor do texto ou de quem assiste à peça. Por essa e outras razões, ela integra o chamado "teatro do absurdo".

Tal como nessa peça, hoje há contribuintes que esperam uma restituição que não chega e argumentos do governo federal em defesa da retenção têm um quê de absurdo, juntamente com outros aspectos que cercam o assunto. Antes de continuar, registro que aprendi muito ao ver o tema discutido em reunião do Conselho de Altos Estudos de Finanças e Tributação (Caeft) da Associação Comercial de São Paulo, coordenado pelo professor Luís Eduardo Schoueri, da Faculdade de Direito da USP.

Segundo este jornal (10/10), o montante retido é próximo de R$ 1,5 bilhão, que não é grande para as contas do governo, mas pode ser individualmente muito necessário para quem tem restituições a receber.

Começando pelo teatro dos absurdos, vale lembrar que não existe no Brasil o que chamaria de "reciprocidade de obrigações". Quando o contribuinte se atrasa a pagar impostos dentro do prazo legal, tem de recolher multa, mora e corre também o risco de perdas patrimoniais. Mas se o governo, nos seus vários níveis, se atrasa na sua obrigação de restituir impostos, não sei de prazos e punições igualmente correspondentes, ainda que nesse caso do IR das pessoas físicas haja o pagamento de juros, ao qual voltarei no parágrafo seguinte.

Prosseguindo com os absurdos, se o governo federal respeitosamente pensasse nos contribuintes, não ousaria reter as restituições sob o argumento, do ministro Mantega, de que eles não terão prejuízos, pois o valor retido cresce mensalmente pela taxa básica de juros, ou Selic, atualmente em 8,75% ao ano. Se tanto, essa observação seria válida para quem fosse aplicar o dinheiro em poupança ou em fundos de renda fixa, que rendem bem menos que a Selic. Na realidade, quem sabe mesmo se vai ter prejuízo ou não são os frustrados contribuintes que não receberam sua restituição. Entre eles, há os que já estão no "preju", pois fizeram dívidas em bancos na expectativa de pagá-las ao receberem o que o governo federal lhes deve. Em particular, houve oferta de linhas de crédito ligadas às restituições, mas mesmo assim a taxas bem superiores à Selic. E há também os que esperavam esse dinheiro para comprar isto ou aquilo, mas recorreram ao caro endividamento para satisfazer suas necessidades.

Absurdo também, porque só se conta um lado da história, é o argumento de que a retenção decorreu de necessidade governamental causada pela queda da sua arrecadação tributária. Porém faltou falar da gastança em que o governo federal está engajado, num processo em que, com o adiamento das restituições, confirma seu desprezo pelos contribuintes. Assim, entre outros dispêndios, prefere dar aumentos a seus funcionários hoje e no futuro, reduzir impostos para compradores de automóveis, fogões e geladeiras - o que é também uma forma de gastar, com a tal "renúncia fiscal" -, tocar seus projetos eleitoreiros, e por aí afora.

No noticiário não vi referência ao fato de que a retenção das restituições também ajuda o governo federal a socorrer Estados e municípios, e a se vangloriar disso, pois estes têm sua participação na arrecadação do IR paga depois de excluídos os valores das restituições. Ou seja, quanto maior a retenção destas, mais eles recebem. Como desse R$ 1,5 bilhão retido quase a metade é desses outros níveis de governo, isso gera menos reclamações pelo que recebem mensalmente da esfera federal.

Se, num lapso de clarividência, o presidente Lula se "vangloriasse" de que "nem hoje nem nunca antes neste país" os contribuintes tiveram prejuízos com o adiamento das restituições, seria o caso de lembrar que isso já foi proposto em 2001 e no seu próprio governo, em 2003, ainda que então sem comprometer o lote final de restituições, em dezembro. Caberia lembrar também que toda a discussão em andamento se restringe às restituições relativas às declarações que não caíram na chamada "malha fina". Para as pescadas nessa trança o prazo e a própria restituição são incógnitas muito maiores.

A propósito, o governo federal pode promover adiamentos alterando os critérios que adota para definir o que cai nessa malha, tal como o governo Lula fez em 2003, entre outros casos, com a "malha saúde", a qual retém as restituições dos que a critério governamental estariam deduzindo gastos dessa natureza "aparentemente exagerados". Como esses gastos tendem a aumentar muito nas idades mais avançadas, tal malha deve estar retendo uma considerável proporção de restituições devidas a velhinhos adoentados.

Em retrospecto, há outra peça nesse adiamento, aquela que o governo prega em contribuintes indefesos dada a ausência de regras efetivas e transparentes que lhes assegurassem, em prazos bem definidos, o direito de receber restituições de impostos que lhes são devidas, alcançando também outros tributos, como IPI, Cofins e ICMS.

Assim, mesmo se o governo federal desovar nos últimos lotes do ano as restituições de IR que até aqui adiou, há muito que reescrever nessa versão nacional do texto de Beckett. Nela seus autores sofrem merecidas críticas pelos absurdos que cometem e propalam, enquanto personagens contribuintes caem em malhas mal tecidas, como essa "da saúde", e outros se frustram com restituições Godot que não aparecem, sejam do IR ou de outros impostos.

GOSTOSA


BRASÍLIA - DF

O imobilismo de Serra


Correio Braziliense - 15/10/2009



Cresce na cúpula do PSDB a preocupação com o fato de o partido não ter um eixo de intervenção na cena política, como se a volta da legenda ao poder fosse ocorrer por gravidade. No DEM e no PPS, a preocupação é a mesma, haja vista a falta de convergência programática e um discurso unificado da oposição ao governo Lula. Embora com pose de futuros ministros de Estado, parlamentares tucanos também não escondem a apreensão com o imobilismo do governador de São Paulo, José Serra. Favorito nas pesquisas para a sucessão de 2010, o governador paulista se finge de morto para não despertar a ira dos petistas, como se a atual vantagem na opinião pública fosse o sinal inequívoco de que a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva está no papo.

No xadrez político, Serra se movimenta com extrema cautela e não dá sinais de que busca uma grande composição política com o governador de Minas, Aécio Neves. Este, por sua vez, insiste nas prévias para escolha do candidato a presidente da República do PSDB. Rechaça a possibilidade de abrir mão da cabeça de chapa para ser vice. Prefere concorrer ao Senado se não for o candidato do PSDB. Serra também não dá segurança aos aliados do PMDB, como o senador Jarbas Vasconcelos (PE) e o prefeito de Porto Alegre, José Fogaça (RS), fortes concorrentes aos governos de Pernambuco e Rio Grande Sul, respectivamente. Enquanto isso, o presidente Lula catapulta a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), que pôs o pé na estrada. Ciro Gomes (PSB) e Marina Silva (PV) também já foram à luta.


Motosserra// O PV engrossa o coro contra a meta de reduzir em 80% o desmatamento da Amazônia, até 2020. Para os verdes, o governo deveria levar à Conferência do Clima, em Copenhague, a proposta de desmatamento zero. “A meta do governo, na verdade, abre brecha para que se devaste 20% da Amazônia”, critica o líder do PV na Câmara, Edson Duarte (BA).

Tudo dominado



O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli (foto), nadou de braçada nas comissões especiais que discutem o novo marco regulatório do petróleo. O setor privado não conseguiu se organizar a tempo para defender seus interesses e a oposição se fragmentou nos debates. A previsão é de que os relatores das quatro comissões vão respeitar os projetos originais, inclusive os mais polêmicos: a criação de “áreas estratégicas” a serem definidas pelo Executivo no regime de partilha; a destinação de uma parte dos royalties para o Fundo Soberano; e a capitalização da Petrobras sem lançamento de debêntures. A manutenção do regime de concessões na exploração da camada pré-sal já era.

Matriarcado


Companheiro da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, em seus tempos de PDT, o ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho (PR) não economizou a rasgação de seda durante o jantar do PR com a pré-candidata de Lula à Presidência da República. “Lá em casa, quem manda é a minha mulher (Rosinha Matheus). E ela está com a senhora”, afagou.

Desconfiado



O comportamento da bancada tucana na Assembleia Legislativa de Pernambuco, onde volta e meia garante a sustentação do governador Eduardo Campos (PSB), tem deixado o senador Jarbas Vasconcelos (foto) com a pulga atrás de orelha. O candidato do PMDB depende muito do apoio do tucano Sérgio Guerra, seu colega de Senado, para viabilizar a própria campanha.

Boné


Conhecido como o “homem das emendas”, o subchefe de Assuntos Parlamentares da Presidência, Marcos Lima, entregou ontem o cargo à secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra. Foi convencido a tirar 30 dias de férias para se recuperar de um problema de saúde, mas a tendência é sair do posto quando voltar.

Alegria


A Mesa Diretora do Senado votará, nos próximos dias, projeto de resolução que cria 102 novos cargos comissionados nos gabinetes de senadores e de lideranças partidárias. Pagarão salário de R$ 9.979,24. A proposta abre brecha para que os atuais chefes de gabinete, obrigatoriamente de carreira, sejam substituídos por indicações políticas.

Vale


A Vale fará investimentos de R$ 9,5 bilhões na implantação e expansão de mina e usinas de beneficiamento de minério em Minas Gerais, abrangendo os municípios de Itabira, Itabirito, Barão de Cocais, Caeté, Raposos, Rio Acima e Santa Bárbara. Serão gerados
9.930 empregos

Infidelidade/ Por ter trocado o PMN pelo PTB, o deputado Sílvio Costa (PE) perdeu a presidência da comissão especial da PEC 42/95. Por coincidência, a proposta trata justamente da perda de mandatos em casos de infidelidade partidária.

Castigo/ A deputada Nilmar Ruiz (PR-TO) foi apeada da Procuradoria Parlamentar da Mulher, cargo criado este ano pelo presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP). O cargo foi devolvido ao DEM, partido deixado pela neorrepublicana. A deputada Solange Amaral (DEM-RJ) é a nova procuradora.

Grafite/ Durante a reunião da Comissão do Meio Ambiente e Defesa do Consumidor (CMA), foi aprovado o relatório do senador Gim Argello (PTB-DF) que proíbe a venda de tintas em embalagens do tipo aerosol para menores de 18 anos, exigindo a apresentação de documento de identificação do comprador no momento da aquisição do produto, bem como identificação na nota fiscal.

Debate/ Os deputados Geraldo Magela (DF), Iriny Lopes (ES) e José Eduardo Cardoso (SP), o ex-senador José Eduardo Dutra (SE) e os dirigentes petistas Markus Sokol (SP) e Serge Goulart (SC) se encontrarão no hotel San Marco, em Brasília, para debater suas propostas. São candidatos a presidente do PT pelo voto direto.

Azebundsman/ Pirapora fica em Minas.

KENNETH MAXWELL

Dirty Dave

FOLHA DE SÃO PAULO - 15/10/09


FOI UMA SEMANA daquelas nos EUA. O Prêmio Nobel da Paz para Barack Obama. Um escândalo de sexo e chantagem envolvendo David Letterman, o popular apresentador de um programa noturno de entrevistas. E o desentendimento entre a Casa Branca e a rede de televisão Fox News.
Seria desnecessário dizer que existem temas de maior importância.
O debate sobre a reforma da saúde no Congresso, por exemplo. Ou a difícil guerra no Afeganistão, os desafios à estabilidade no Paquistão, a inquietação continuada no Iraque. São apenas alguns exemplos. Mas os sites de redes sociais, os usuários do Twitter e os blogs preferiram dedicar suas atenções a outros temas.
Thorbjorn Jagland, o presidente do comitê de seleção, deixou a audiência presente na Noruega literalmente de queixo caído quando anunciou o Nobel da Paz de 2009 para o presidente dos EUA, "mais por aspiração que por realizações", como apontou um comentarista.
Barack Obama está no cargo só há 37 semanas. Sua indicação para o prêmio deve ter sido apresentada apenas 15 dias depois de sua posse.
Não foi apenas Rush Limbaugh, o comentarista político de direita, que ficou momentaneamente sem fala diante do anúncio, ou a página de editoriais do "Wall Street Journal". Lech Walesa, ex-presidente da Polônia, que recebeu o Nobel da Paz de 1983, declarou que era "cedo demais". Muita gente considera que Obama teria sido mais sensato caso recusasse educadamente o prêmio.
O escândalo de Letterman pelo menos ofereceu "um escape muito necessário ao sufocante monturo em que a política nacional se transformou no momento", como afirmou S. E. Cupp no "New York Daily News".
Letterman revelou em seu programa que fora vítima de uma tentativa de chantagem. Joe Halderman, produtor da divisão de notícias da rede de TV CBS, foi detido por tentar extorquir US$ 2 milhões de Letterman em troca de suprimir as notícias sobre os múltiplos casos amorosos de Letterman com funcionárias muito mais jovens de sua equipe. Surgiu a informação de que uma participante importante da confusão foi Stephanie Birkitt, funcionária da equipe de Letterman que teve caso com o apresentador e com Halderman. O jornal "New York Post" definiu o episódio como "o harém de Dirty Dave".
Enquanto isso, os ataques da Casa Branca contra o Fox News Channel, rede de notícias a cabo de grande audiência controlada pela News Corporation, de Rupert Murdoch, continuam. Já que os dois lados parecem estar ganhando alguma coisa com a disputa (Obama acredita que a Fox seja muito "ideológica", e a Fox vem ampliando a sua audiência), é improvável que o conflito se encerre em breve.

GOSTOSA DO TEMPO ANTIGO

TODA MÍDIA

Vaivém golpista

NELSON DE SÁ

FOLHA DE SÃO PAULO - 15/10/09

Não se confia no que vem de Honduras e os títulos dos sites e telejornais brasileiros foram cautelosos. "Representante de Zelaya diz que acordo foi fechado", postou a Folha Online às 18h. "Governo interino nega acordo", postou a mesma Folha Online, também em manchete, duas horas depois.
O espanhol "El País" passou de "Primeiro acordo para a restituição de Zelaya" para "Micheletti nega acordo para restituir Zelaya".
Até sites de jornais hondurenhos que apoiaram o golpe deram manchetes como "Alcançado consenso sobre retorno de Zelaya" ("El Heraldo" ) e "Consenso sobre restituição" ("La Tribuna") para depois entrar com "Micheletti diz que a restituição será tratada" hoje, em novas reuniões.


RALI OLÍMPICO
Em meio às manchetes sobre a alta na Bolsa de Nova York, o "Wall Street Journal" descreveu o "rali olímpico do Brasil" no mercado de ações.
"Não foram apenas os cidadãos do Rio que festejaram a escolha para os Jogos. Desde então, a Bovespa subiu 7% para um novo recorde em 2009. É um desempenho digno de medalha se comparado aos mercados dos perdedores" espanhóis, japoneses e americanos.


5%, 6%, 7%
Valor Online e outros sites entrevistaram Jim O'Neill, "que criou o termo Bric" e arrisca que o Brasil pode ter crescimento de mais de 5% nos próximos anos, mas não vai a dois dígitos:
"Devemos ficar contentes com 5%, diante dos últimos 30 anos. Após um tempo nos 5%, podemos pensar nos 7%. Mas 10%? O Brasil não tem nem gente para isso.". Ontem na Folha, ecoando on-line, Delfim Netto apostou que o país está "virando a página" para "recuperar" os 6% ou 7% de crescimento.

A CRISE ACELEROU
Já Antoine van Agtmael, que "cunhou a expressão mercados emergentes", diz no "Financial Times" que "os investidores foram rápidos demais com o cenário de um Apocalipse global". A crise "não descarrilhou a ascensão dos emergentes, só acelerou". A retomada nos emergentes "já está em V".
Avisa que o "entusiasmo corrente dos investidores" deve baixar um pouco, "mas não seria inteligente ignorar a ascensão liderada pelos quatro Brics e seu potencial de longo prazo".


10.000, MAS AINDA ATRÁS

nytimes.com

Wall Street em "V" no "NYT"

Nas manchetes do "New York Times" aos sites de finanças e aos agregadores como Huffington Post, Wall Street passou dos 10.000 pela primeira vez em um ano o que o "WSJ" credita ao maior "apetite de risco".
Num texto de análise, porém, o mesmo "WSJ" avisa que, sobre os 20% de alta registrados pela Bolsa de Nova York no ano: "Contenha sua festa. As ações subiram 63% em Xangai. Na Índia, 92%. Rússia, 128%, e Brasil, impressionantes 138%. Até na velha Europa subiram mais."


REPAGINADO

slate.msn.com

Wall Street sobe, mas o dólar, noticia o "FT", "perde mais terreno". A Slate, enquanto isso, destaca um esforço iniciado por blog para relançar o dólar com novo desenho. Entre as efígies, referências culturais americanas como Mark Twain e até Jack Nicholson


DO SÉCULO 21

lemonde.fr

Para o jornal, o futuro está no ABC

Ecoou pelos sites e portais brasileiros, em relato da BBC Brasil. O francês "Le Monde", ontem, deu página inteira para longa reportagem sobre a federal do ABC, dizendo que a instituição exemplifica como "Lula inventa a universidade brasileira do século 21" a partir da "região operária onde ele começou sua carreira":
"Na universidade não há departamentos de disciplinas, mas centros de pesquisas multidisciplinares para facilitar a cooperação... O governo não economizou. Meio bilhão de euros foi injetado, 280 professores foram contratados, todos titulares de um doutorado."


MAIS UM PASSO

No alto da busca de notícias, da agência espanhola Efe, "Brasil tem quase assegurada sua entrada no Conselho de Segurança da ONU". É só a eleição, hoje, do representante da América Latina, na vaga "não permanente" de 2010/11. De qualquer maneira, "a eleição é vista como mais um passo na consolidação do gigante sul-americano como um dos grandes do cenário internacional" etc.

JANIO DE FREITAS

Segredos de graça

FOLHA DE SÃO PAULO - 15/10/09



A cada vez que a compra multibilionária dos 36 caças é abordada, menos confiança esse negócio mostra merecer



COM UMA PEQUENA frase a meio de sua exposição para parlamentares sobre a "concorrência" para compra dos aviões de caça, o representante do F-A18E, que a Boeing oferece em vão ao Brasil, suscita dois questionamentos importantes à conduta do governo brasileiro. Disse ele que no F-18 há componentes cuja tecnologia "nem a Boeing conhece".
Mesmo que seja só para despachar outros concorrentes que não o Rafale francês, desejado por Lula e por Nelson Jobim, a exigência de cessão integral da tecnologia aplicada no avião, para aceitar comprá-lo, excede em desconsideração, ou em desconhecimento, realidades essenciais.
Assim como, em exemplo mais simples, as chamadas fábricas de automóveis usam muitas partes compradas a fabricantes diversos, a indústria aeronáutica usa múltiplos pesquisadores, projetistas e fabricantes. A Espanha, para citar um caso, é fornecedora de asas para muitas indústrias, inclusive a bem-sucedida Embraer, cujos aviões mais qualificados têm cerca de 80% do seu custo e tecnologia provenientes do exterior.
Em uma de suas formulações simplistas, Nelson Jobim diz que qualquer ressalva à cessão da tecnologia exclui a priori o concorrente. Logo, ou o concorrente precisa fabricar tudo em todo o avião, dos pneus às sofisticações mais inacreditáveis -e nos caças modernos são muitas -, ou todos os inúmeros fabricantes de componentes têm, também, que ceder os direitos, conhecimentos ainda que secretos, processos e ferramentas das tecnologias que desenvolveram. Nos dois casos, a exigência brasileira não está longe do desatino.
Se oficializada a oferta do presidente Sarkozy a Lula, de ceder toda a tecnologia do Rafale, duas hipóteses merecem consideração. Ou a promessa não será cumprida de fato, como os mais variados pretextos já amputaram cessões adquiridas; ou o modelo ofertado de Rafale está desprovido das melhores modernidades, sempre resguardadas como segredos militares de altos investimentos e conhecimentos. Neste capítulo, convém lembrar que o custo de criação do Rafale foi tão alto, que as indústrias Dassault só puderam arcar com 25% dele, precisando o governo francês entrar com os restantes 75%. E agora, segundo o tal "preço especial" citado por Lula, transfeririam ao Brasil o resultado de todos aqueles investimentos e conhecimentos pelo preço de custo direto do produto. Pois sim.
A cada vez que a compra multibilionária dos 36 caças é abordada, menos confiança esse negócio mostra merecer.

GOSTOSA

ARI CUNHA

Exportações brasileiras

CORREIO BRAZILIENSE - 15/10/09


Leio em Profissionais do texto que a Argentina foi o país que mais investigou as exportações brasileiras neste segundo semestre. O desejo do nosso vizinho é constituir defesa comercial contra produtos vendidos pelo Brasil. A informação é do ministro Welber Barral, que discorreu sobre mecanismo de defesa comercial em palestra no Instituto Brasileiro de Direito Público. O ministro se orgulha de ter acabado com 20 mil normas que dificultavam as exportações brasileiras. Barral afirmou que a China usa a prática do dumping e tem sofrido restrições. Nós podemos acrescentar a compra pelo Brasil do alho chinês. Barral destacou o governo brasileiro por manter negociações multilaterais para resolver questões comerciais.


A frase que não foi pronunciada

“A experiência é o aprendizado das exceções.

» Oposição, pensando nas estratégias para 2010.


DNPM

» Está nos planos da ministra Dilma Rousseff transformar o Departamento Nacional de Produção Mineral numa agência para controle do setor mineral. Com 1,2 mil funcionários efetivos, o DNPM elabora relatório para subsidiar a transformação. Dilma conhece a estrutura funcional do órgão, visto ter sido ministra de Minas e Energia.

Queda na arrecadação

» Quando se esperava que o governo reduzisse despesas, quem sofreu foi o povo. Empréstimo bancário para substituir a baixa arrecadação foi instituído pelo presidente Lula e os contribuintes passaram a pagar juros altos em vez de receber lucros nos investimentos.

Denúncia

» Muito interessante o trabalho terceirizado da Secretaria de Saúde para buscar pacientes hemofílicos em casa, para tratamento. Mas chega à coluna notícia de que a Toesa Service, que contrata motoristas, pagou funcionários com cheques que o Bradesco do Núcleo Bandeirante se recusou a descontar. Tentamos ouvir a empresa, mas os números do Rio, São Paulo e Brasília estavam com problemas.

Círio de Nazaré

» A festa religiosa do Pará, Círio de Nazaré, media a devoção do povo pelo catolicismo com o ato de “tocar na corda”. Este ano, na Festa da Chiquita, houve excessos. Gays, lésbicas, bissexuais, transessuais fizeram farra em frente ao Teatro da Paz. Pela primeira vez, a tradição religiosa foi rompida e a cidade sofreu com a perda da tradição.

Coleta de águas

» Muitos anos antes de Cristo, a comunidade de Massada, Israel, construía canais para aparar a água da chuva. Na fortaleza havia uma grande cisterna que servia para os banhos e para o uso doméstico. A citação vem a propósito das lagoas que se formam ao lado de quase todas as pistas renovadas de Brasília. Com as águas, começam a encher.

Em Brasília

» O projeto de aproveitamento da água do Paranoá é voltado para a parte norte da cidade. Terra tirada para a construção do shopping do Lago Norte foi depositada na entrada do Paranoá. Quando chove forte, o asfalto fica marrom e a água leva a terra para o lago. Também na Braguetto e nas pontes da EPPN o assoreamento do lago por falta de planejamento é assustador.

Contrapartida

» Por falar em assoreamento, muitas nascentes que brotavam na área norte da cidade foram bloqueadas por invasões, sem que o GDF tomasse providência para impedir. Estudos da UnB podem auxiliar o governo em uma projeção futura do que acontecerá em razão da extinção das fontes de água do lago. Como dizia o filósofo de Mondubim, “a natureza não perdoa desaforo”.

Macabro

» São muitas as reclamações em torno do preço para se manter um túmulo no Cemitério de Brasília. Na capital do país, custa R$ 372 por ano. Isso, sem qualquer garantia de segurança ou responsabilidade quanto a prejuízos causados por vândalos. Só por curiosidade: em Juiz de Fora, o preço anual é de R$ 90.

Justiça

» É justo dar ao contribuinte a permissão para que use a restituição do Imposto de Renda para quitar débitos com qualquer tributo administrado pela Receita. Bem que o senador Cesar Borges poderia acrescentar em seu projeto uma emenda. Seria igualmente justo para o governo quitar débitos de precatórios com o mesmo modelo.


História de Brasília

É uma justiça que se faz ao Ceará, estado que tanto contribuiu para a construção da nova capital. A nomeação de Perilo Teixeira para a Novacap é nome de valor indiscutível. (Publicado em 11/2/1961)

MÍRIAM LEITÃO

Luta pela Vale

O GLOBO - 15/10/09


É difícil saber o que é mais atrasado no capitalismo brasileiro. Se é o presidente da República interferir diretamente numa empresa privada com objetivos políticos; se o empresário Eike Batista adular o governo para ver se consegue apoderar-se da Vale; se o atual presidente da empresa, Roger Agnelli, voar para Brasília para pedir apoio por sua permanência no cargo.

A Vale foi privatizada e os números do seu sucesso como empresa privada são incontestáveis.

Isso não significa que sua gestão não tenha pontos controversos.

Mas é indiscutível a profissionalização da Vale, após o comando de Agnelli.

Este é um caso em que todos os personagens se comportam de forma deplorável.

Eike Batista, que tem uma ambição tão grande quanto sua cegueira para a nova economia de baixo carbono, acredita que assediando poderosos políticos terá vantagens econômicas.

Não há nada de novo em Eike Batista. Ele pensa velho.

Ele aposta em mineração, petróleo, siderurgia, carvão, energia com fontes fósseis. Numa conversa com ele, não se notam vestígios da preocupação que mobiliza hoje os empresários modernos, que percebem as transformações indispensáveis na forma de produção.

Não, Eike não é deste mundo.

Tem os pés bem fincados no mundo fóssil.

Certa vez, ele propôs a Aneel produzir energia no Amapá, vender a preço alto para o governo e recomprar a preço baixo. Quando perguntei a ele sobre isso, ao fim de uma entrevista, ele me disse: “Se todos fazem, por que eu não posso fazer?” Repetiu assim a velha máxima que atrasa o Brasil.

Esse tipo de relação promíscua com empresas e Estado é que fez o governador do Rio e o prefeito da cidade pedirem a Eike Batista seu jatinho emprestado para que eles e suas mulheres fossem a Copenhague. Ora, avião não se empresta. Ele tem um custo e seu uso só exibe esse jogo de favores entre certos empresários e certos políticos que sempre minou a vida brasileira. Evidentemente, Eike emprestou, como também nunca perdeu qualquer oportunidade de se aproximar do presidente Lula.

Seu objetivo atual, ele não faz segredo para ninguém: quer controlar a Vale.

Seria absolutamente justa essa ambição se ele mobilizasse capital suficiente para comprar o controle da companhia, mas ele quer que isso seja feito através da pressão do governo e com a mobilização do capital dos fundos de pensão de estatais. Para conseguir isso, ele promete a presidência da empresa a Sérgio Rosa, da Previ.

O Brasil já errou muito nos fundos de pensão e duas lições ficaram: eles não podem ser braços do governo; nem podem ser massa de manobra de empresários que querem exercer o poder dando aos fundos apenas o direito de pagar a conta. Os fundos pertencem aos seus trabalhadores e têm compromissos de longo prazo com as aposentadorias deles. Seus investimentos têm que ter essa visão e esse cuidado. Não são recursos governamentais.

É um dinheiro constituído pelos funcionários e pela empresa, em nome dos trabalhadores. Os bons administradores devem fugir de manobras políticas, porque os governos passam, seus compromissos atuariais ficam.

A gestão de Roger Agnelli na Vale tem inúmeros avanços.

A melhor delas foi a recente liderança de um movimento para que as empresas explicitem suas emissões de gases de efeito estufa, tenham metas de redução dessa emissão e cobrem do governo metas ambiciosas em Copenhague em relação aos terríveis perigos da mudança climática.

Seu maior erro foi, no atual governo, pensar que se blindava se ficasse amigo do rei.

Essa relação excessivamente próxima de uma empresa privada a um presidente intervencionista como Lula é uma faca de dois gumes.

Agnelli agora está sendo espetado pelo segundo. E o que faz? Em vez de se preocupar em prestar contas de todo esse imbróglio aos seus milhares de acionistas nacionais e estrangeiros, na Bolsa de Nova Iorque ou na Bovespa, aos trabalhadores que usaram seus recursos de FGTS para apostar na companhia, Roger Agnelli pega um avião e voa para Brasília para pedir uma audiência — que lhe foi negada — com o presidente da República. Ou vai ao presidente da Câmara, Michel Temer, do notório PMDB, para explicar não se sabe o quê. Roger Agnelli deve explicações e informações aos acionistas minoritários, tanto sobre suas decisões como administrador, quanto sobre as pressões que vem sofrendo do governo Federal. Se acha que o acerto será feito com conversas de bastidores no Palácio do Planalto, que seu cargo será confirmado por favor presidencial, então ele entrou num jogo que vai derrotar a empresa.

Do tempo da privatização, ficou uma contradição: uma parte do capital da Vale pertence ao BNDES. Mas grande parte das maiores empresas no Brasil já se acostumou a depender do BNDES para empréstimos subsidiados e para entrar com parte do capital. O banco é acionista minoritário, que não participa da gestão de inúmeras empresas brasileiras.

Por que na Vale seria diferente? Se essa conspiração governoEike-fundos-BNDES atingir seu objetivo, o país terá dado um gigantesco passo para trás.

FORMAÇÃO DE QUADRILHA

CLÓVIS ROSSI

Ciro é o plano C. De Ciro

FOLHA DE SÃO PAULO - 15/10/09


SÃO PAULO - Engana-se cruelmente quem acredita que Lula, ao levar Ciro Gomes a tiracolo para visitar as obras de transposição do São Francisco, esteja emitindo um sinal de que o político ex-paulista, ex-cearense, de novo paulista, pode vir a ser o plano B do presidente para a eleição de 2010.
Lula leva Ciro porque o deputado é o mais insolente e agressivo dos defensores da transposição, bem o oposto do "Lulinha, paz e amor", que acabou dando tão certo.
No mais, é zero vezes zero a hipótese de Ciro Gomes ser o continuador do lulo-petismo -aliás, cada vez mais "lulo" e menos petismo.
Uma vez eleito, Ciro daria início ao "cirismo", jamais ao continuísmo. O que é o "cirismo" não faço ideia nem creio que o eleitor descobrirá, a não ser depois de uma eventual vitória dele. Só não será "lulismo" com outra face. Petismo, nem pensar.
Apesar de Lula e de Ciro terem histórias de vida bem diferentes, apesar de terem base social igualmente diferente (a de Ciro, de resto, é inexistente, ao menos por enquanto), os dois têm em comum uma característica: são personalistas ao extremo. E, por isso mesmo, são leais apenas a si próprios.
Dias atrás, Fernando de Barros e Silva listou aqui mesmo todos os amigos/aliados que Lula descartou.
Ciro faria o mesmo. Está no DNA de ambos. A diferença é que Lula ainda afaga os que afasta; Ciro não raro esbofeteia.
Para derrubar de vez qualquer hipótese de continuísmo, basta que o leitor imagine o seguinte.
Estamos em 2014, ano da reeleição de Ciro (claro que se tiver sido eleito em 2010). Lula pede uma audiência no Palácio do Planalto e diz: "Companheiro Ciro, eu te ajudei a eleger-se. Agora, você fica aí sentado quietinho que eu vou ser o candidato, tá bom?".
Preciso ajudar o leitor a deduzir a resposta que o presidente Ciro Gomes daria ao antecessor?