sexta-feira, agosto 31, 2012

Hora do aperto - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 31/08

A Petrobras pretende cortar custos em até R$ 3 bilhões.
Para isto, contratou o Boston Consulting Group (BCG).

Corte no ar...
A Vale, outra mamute empresarial, também está empenhada na redução de custos.
Já começou com cortes de viagens.

Zé do Pipo
Zé Dirceu, sua namorada,
Evanise, e o cineasta Cláudio Kahns jantaram na casa do coleguinha e escritor Fernando Morais, quarta.
Comeram bacalhau e beberam Pêra-Manca, vinho português de prestígio.

Aliás...

Neste momento difícil da vida, por causa do julgamento do mensalão, talvez os dois amigos mais solidários a Dirceu não sejam os do PT, mas Fernando Morais, que foi deputado do PMDB, e Luiz Carlos Barreto, do "PCB" (Partido do Cinema Brasileiro).

Bola da fortuna
Segundo o mais recente estudo de controle de concorrência do mercado publicitário, Neymar é a celebridade brasileira que mais apareceu em comerciais de TV aberta nos primeiros sete meses de 2012.
Desbancou Luciano Huck, o apresentador, líder nos últimos dois anos, quando o levantamento começou a ser feito.

Segue...

Acredite. O menino-craque do Santos e da seleção apareceu 3.837 vezes nos intervalos comerciais — 1.053 só no mês de julho.
A serviço de dez marcas: AmBev, Baruel, Claro, Johnson, Lupo, Nike, Panasonic, Santander, Unilever e Volkswagen.

TEMPORADA DE IPÊS OFF RIO’Não é de hoje que a coluna é acusada de privilegiar os ipês do Rio. Antes que alguém pense em criar uma CPI da Imprensa para apurar casos de favorecimento botânico, o colunista se rende e expõe, nesta vitrine principal, quatro exemplares, digamos, “off Rio”. A formosura mais à esquerda, do tipo amarelo, ornamenta o Pampulha Iate Clube, em Belo Horizonte. O branco resplandece em frente ao Colégio Madre Clélia, em Adamantina, SP. Também vem de Minas (Itamonte, na Serra da Mantiqueira) a belezura amarela que se mistura com buganvílias de diferentes tons de vermelho. O outro amarelo chega de Rio Branco, Acre. Aliás, “off Rio” é o cacete •

Crianças negrasO relatório Todas as Crianças na Escola em 2015, que o Unicef divulga hoje, revela como é grave a diferença educacional entre as raças.
Enquanto 8,99% das crianças brancas brasileiras têm idade superior à recomendada nos anos iniciais do ensino fundamental, esta taxa é duas vezes maior entre as negras: 16,46%.

O autor da músicaDaniel Filho, o diretor e produtor, está sendo processado pelo padre compositor José Henrique Weber.
O religioso diz que é dele, e não de Egberto Gismonti, uma música do filme "Chico Xavier”

Defesa do verdeEduardo Eugênio Gouvêa Vieira, presidente da Firjan, encaminhou às ministras Miriam Belchior e Izabella Teixeira ofício de apoio a Liszt Vieira, presidente demissionário do Jardim Botânico do Rio.
A Firjan também defende "a reintegração ao parque da área ocupada atualmente por particulares”

Joyce no Municipal
Amantes da ópera estão alvoroçados com um concerto, hoje, no Municipal do Rio, de uma cantora ainda não muito conhecida no Brasil.
É Joyce Didonato, meio-soprano americana que ganhou o Grammy.

Outra bandeira
Os premiados Rogério Dornelles e Lucinha Nobre não são mais o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da Portela.

Deficientes físicos
A14^ Vara Federal do Rio indeferiu pedido de liminar do MP federal para impedir o prosseguimento das obras do Maracanã por descumprir o número de lugares destinados a deficientes físicos.
O MP se baseou em informações da Procuradoria-Geral do estado.

No mais
Punição como a do deputado João Paulo Cunha pode ter efeito pedagógico contra a corrupção. Veja o caso do Rural.
A CPI do Collor, em 1992, revelou contas laranjas no banco mineiro.
Talvez uma atitude mais dura da Justiça, na época, evitasse que o Rural estivesse de volta, 20 anos depois, ao escândalo do mensalão. Com todo o respeito.

Mal comparando - TUTTY VASQUES


Quebra de paradigma

31 de agosto de 2012 | 3h 05

Notícia


A+ A-
Assine a Newsletter

O Estado de S.Paulo - 31/08


A torcida do Palmeiras está exagerando! A situação do Verdão na tabela do Brasileirão não é pior que a de João Paulo Cunha no julgamento do mensalão.

Galo paulistano

Celso Russomanno virou uma espécie de Atlético Mineiro das eleições em São Paulo. Ninguém entende muito bem como aconteceu, mas o fato é que ele disparou na frente!

Tá eleito!

Candidato a vereador no Rio, o tucano Miguel Fernández y Fernández gravou sua participação no horário eleitoral em mesa de bar pregando o "direito de fumar". Há na campanha dele quem o critique por não priorizar a promessa de tolerância com o xixi na rua durante o carnaval!

Basta!

Há três dias ouvindo a música nova do cantor will.i.am, do Black Eyed Peas, amplificada no Planeta Vermelho pelo sistema de som do veículo-robô Curiosity, os marcianos fizeram, enfim, contato com a Nasa, através da mensagem "vira o disco"!

Pleno vigor

O STF precisa se modernizar: não faz sentido, com todas as conquistas da medicina moderna, aposentar o Peluso aos 70 anos.

Calma!

Agosto está por um fio!

Amor próprio

Diz a propaganda política dos tucanos em São Paulo que José Serra "não tem medo de cara feia". Pelo contrário, o candidato do PSDB não pode ver um espelho sem dar uma azaradinha!

Quebra de paradigma 

Com a famigerada taxa Selic reduzida a inacreditáveis 7,5% ao ano, já se pode dizer com alguma margem de segurança que todo aquele papo de culpar mais a exorbitância dos juros que a saúva pelos males do Brasil não passava de conversa pra boi dormir.

Paladino da causa, o ex-vice-presidente José Alencar não viveu o suficiente para ter o desgosto de perceber que a taxa básica definida pelo tal de Copom - tanto faz se em 8 ou em 80 - não faz a menor diferença no bolso do brasileiro.

Responda rápido:

Mudou muita coisa no déficit financeiro de sua família a partir de setembro de 2011, quando o índice de 12,5% caiu meia merrequinha pela primeira vez no governo Dilma?

De lá pra cá, de boa notícia em boa notícia, o viés de queda virou rotina nas decisões da autoridade monetária sem efeito colateral evidente nas contas do consumidor.

De grão em grão, alguém deve estar decerto enchendo o papo com isso, mas não dá mais para vender ao trabalhador a ideia de que o Brasil vai ficar uma beleza quando baixarem os juros.

O canto da sereia dos economistas (nada a ver com a Miriam Leitão) está virando conto do vigário no noticiário da crise.

Mania brasileira

De um torcedor bem educado tentando convencer vizinhos de arquibancada sobre o desconforto de assistir ao jogo de pé: "Como diz o presidente do STF, ministro Ayres Britto (foto), 'sentemo-nos'!" Ninguém lhe deu ouvidos!

Bases & bilhetes - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 31/08


Dilma é bem capaz de ter deixado o bilhete à mostra de forma proposital e, assim, armar o cenário para vetos ao Código Florestal aprovado por deputados e senadores. Ela, aliás, tem se mostrado melhor nessas artimanhas da política do que possam supor os mais espertos nessa seara

Há meses, um comportamento da presidente Dilma Rousseff intriga os políticos dos mais diversos partidos: por que o governo fecha acordos com o Congresso e ela termina não sancionando o que saiu aprovado do parlamento com a anuência de todos? Os vetos se sucedem em várias medidas provisórias e projetos votados em acordo pelo Congresso. A Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), por exemplo, com seus 25 vetos, foi um dos exemplos mais emblemáticos. Agora, a medida provisória que trata do Código Florestal, se brincar, vai pelo mesmo caminho.
Os parlamentares têm medo de tratar do tema olho no olho com a presidente da República. Mas, em conversas reservadas, perguntam-se por que Dilma não lhes pede que retire determinados artigos de certos projetos? Desconfiam que a presidente, diferentemente dos antecessores, não faz apelos diretos porque não quer ficar em dívida com os parlamentares. Ou seja, quando o projeto não vem do jeito que ela pediu, ela veta, edita uma nova MP e ponto. Quem não estiver satisfeito que trate de derrubar a nova MP ou o veto, o que é mais difícil.
Ontem, ao ver o bilhete fotografado durante a reunião do Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), líderes ficaram ainda mais desconfiados. No manuscrito que deixou à mostra, Dilma pergunta às ministras do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, e de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, por que os jornais falavam sobre o acordo no Código Florestal se ela, a chefe, não tinha sido informada a respeito.
Foi o suficiente para deixar o meio político pra lá de desconfiado. Ali, eles tiveram a certeza de que Dilma lê os jornais e as declarações — muitas vezes indelicadas — que os aliados fazem a nós, jornalistas. Por isso, alguns consideram que é hora de ter mais cuidado com o que se diz.
Declarações à parte, muitos ficaram com a pulga atrás da orelha. O principal motivo é que, na visão dos parlamentares, seria inconcebível as ministras fecharem um acordo com senadores e deputados sem o aval da presidente — ainda mais em se tratando de alguém com estilo centralizador. Dito isso, das duas uma: ou os ministros nem sempre informam a chefe sobre o que ocorre no Congresso, conclusão mais óbvia; ou Dilma deixou o bilhete à vista para justificar futuros vetos à MP do Código aprovada na quarta-feira pela comissão que analisou a proposta do governo.
Deputados e senadores acreditam mais na segunda hipótese. Afinal, Dilma de boba não tem nada e alguns episódios são considerados marcantes. Um deles foi o caso da Empresa de Planejamento e Logística (EPL). Em reunião, Dilma descartou a criação da empresa. Em seguida, chamou Bernardo Figueiredo e disse que a empresa seria criada, mas pediu segredo. Desde que esse detalhe veio a público, há quem considere que ela é inteligente bastante para deixar o bilhete à mostra de forma a armar o cenário para vetos ao Código Florestal. Assim, ela faz o que quer, não briga com a base aliada e deixa tudo na conta das ministras. Para muitos parlamentares, ela tem se mostrado melhor nessas artimanhas da política do que possam supor os mais espertos nessa seara.

Por falar em cenário...
PSDB e PT ficaram preocupados com o resultado das últimas pesquisas em São Paulo. Os tucanos só enxergam uma forma de José Serra estancar a sangria: convencer os paulistanos de que realmente desistiu do projeto presidencial ou mesmo do governo do estado. Até agora, há quem diga que ele ainda não fez isso com todas as letras e, se não o fizer, o segundo turno é pra lá de incerto. Afinal, esta eleição é a mais difícil para Serra e a única que ele não pode perder se quiser continuar no protagonismo da política.
No caso dos petistas, o que mais incomodou foi o índice de rejeição a Fernando Haddad, que subiu seis pontos no Datafolha. Sinal de que a vinculação do nome do ex-ministro da Educação com o partido, ao mesmo tempo em que agrega mais eleitores, afasta outros em proporções que merecem uma análise cuidadosa. Até porque, São Paulo foi o que sobrou para os petistas em termos de possibilidade expressiva de vitória. Mas essa é outra história.

Os rumos do STF - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 31/08


Com o término do julgamento pelo Supremo Tribunal Federal da primeira das oito etapas do processo do mensalão, já é possível tirarem-se algumas conclusões. Parece certo, por exemplo, que os políticos que sacaram na boca do caixa do Banco Rural ou receberam dinheiro, seja a que título for, das empresas de Marcos Valério serão condenados por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, ressalvada alguma especificidade da acusação.

Onúcleo financeiro, que começou a ser julgado ontem nas figuras dos diretores do Banco Rural, pela lógica majoritária no julgamento, também não escapará de condenação por lavagem de dinheiro, já que foi aceita pela maioria dos ministros a tese da acusação, assumida pelo relator Joaquim Barbosa, de que o dinheiro depositado no Rural e distribuído por Marcos Valério era produto de desvios de dinheiro público. O banco também teria colaborado com o esquema do publicitário, pois aceitou pôr em seus registros oficiais que o dinheiro fora sacado pela agência SMP&B para pagamento de fornecedores e, paralelamente, pagava a pessoas autorizadas por Valério, registrando em contabilidade extraoficial, que só foi descoberta anos depois devido à quebra de sigilo bancário, os nomes dos sacadores, com suas assinaturas. Eram registros para prestação de contas a Marcos Valério, e não ao Banco Central ou ao Coaf.

Será interessante acompanhar os votos a respeito da "formação de quadrilha", um dos crimes pelos quais os dirigentes do Rural estão sendo acusados. José Roberto Salgado e Kátia Rabello respondem também por lavagem de dinheiro, evasão de divisas e gestão fraudulenta de instituição financeira. Vinicius Samarane e Ayanna Tenório respondem pelos mesmos crimes, menos evasão de divisas.

O relator montou sua peça baseado na conexão entre os diversos itens, e a "formação de quadrilha" é uma acusação que une o núcleo financeiro ao núcleo operacional e ao núcleo político, formado pelo ex-ministro José Dirceu, por José Genoino e Delúbio Soares. Seu voto será no sentido de que os empréstimos dados pelo Rural às agências de Valério e ao PT foram fraudulentos, isto é, serviram para encobrir a distribuição pelo valerioduto de dinheiro desviado dos cofres públicos.

A maioria dos ministros parece ter comprado a tese de que houve "um rematado esquema de desvio de dinheiro público", nas palavras do presidente do STF, Ayres Britto, e o crime de "formação de quadrilha" começará a ser delineado no julgamento do núcleo financeiro do esquema.

Esse mesmo raciocínio será carregado para o julgamento dos demais segmentos da proposta do relator. Dirceu, acusado pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, e pelo relator de ser o chefe da quadrilha, passou de um réu sem "atos de ofício" nos autos que o condenassem, como defendiam seus advogados, a incluso entre os que são passíveis de punição pelo conjunto de provas testemunhais e indiciais que estão nos autos.

Ontem, Ayres Britto pôs mais um tijolo na peça acusatória que está sendo erigida pela maioria do STF. Disse que, embora não se possa admitir condenação criminal "apoiada tão somente em depoimento de corréu, até porque sabemos que o corréu não pode ser testemunha, pois não tem o dever de dizer a verdade", adiantou que "nada impede que o julgador lance mão dos depoimentos colhidos para subsidiariamente sustentar condenação penal". Se formos para o caso de Dirceu, a acusação do corréu Roberto Jefferson era descartada por sua defesa como sendo uma peça sem força, justamente pela condição do acusador.

Já se sabe que, ao contrário, seu depoimento será juntado a outros indícios e testemunhas para a avaliação final dos juízes. A diretora do Rural Kátia Rabello, por exemplo, teve encontros com José Dirceu, e há relatos, inclusive de Valério, de que o então ministro sabia do esquema de empréstimos ao PT e era consultado por Genoino e Delúbio antes de tomarem uma decisão. Também o fato de a ex-mulher de Dirceu, Ângela Saragoça, ter conseguido empréstimo no Rural de R$ 200 mil para comprar um apartamento, a pedido de Valério, deve entrar na consideração dos ministros. Para aumentar as coincidências nesse caso, o apartamento antigo de Ângela foi comprado por amigo de Valério.

O outro lado da moeda - MÍRIAM LEITÃO

O GLOBO - 31/08


O IBGE divulga hoje que o PIB do segundo trimestre cresceu pouco. E isso apesar dos estímulos fiscais e monetários e até cambiais. O governo acreditava que se o dólar subisse as empresas ganhariam. O dólar foi a R$ 2 e as companhias tiveram aumento de custos e perdas financeiras. Os preços agrícolas subiram e o repasse à inflação foi maior porque o real se desvalorizou.

Não existem panaceias. O novo patamar trouxe ganhos para alguns setores, outros foram prejudicados pela alta da moeda americana. O setor de aviação civil foi duplamente atingido com a virada no câmbio: tem custos de combustíveis e contratos de leasing das aeronaves em dólares. Mas a receita é em reais. Gol e TAM sofreram perdas de R$ 1,6 bilhão no segundo trimestre e as ações da Gol caíram 33% desde março.

A Petrobras teve prejuízo de R$ 1,3 bilhão no segundo trimestre, com despesas financeiras de R$ 6,4 bi. A estatal tem 70% de endividamento em dólar e os investimentos ficam mais difíceis porque as sondas e plataformas importadas ficam mais caras.

O minério de ferro acumula queda de 35% este ano em dólares, mas os custos das siderúrgicas caíram menos porque o real se desvalorizou. Houve o mesmo com os frigoríficos. A ração do frango é influenciada pelo preço internacional do milho. A indústria de papel e celulose tem insumos químicos que variam de preço de acordo com a cotação da moeda americana. O setor farmacêutico utiliza reagentes importados.

Cerca de 70% do trigo consumido pela indústria brasileira vêm de fora. Em apenas três meses, os empresários do setor viram o dólar se valorizar 18%. O diretor do Moinho Santa Clara, Christian Saigh, explica que a virada no câmbio não veio em boa hora porque os principais produtores mundiais de trigo - Estados Unidos, Argentina, Austrália - estão reportando quebras de safras.

- Nos últimos meses tivemos um aumento de custos na veia, na casa de 40%, combinando a alta do dólar com o aumento da cotação internacional do trigo. Esse custo deve ser repassado ao longo do ano, influenciando o preço de pães, biscoitos e massas - explicou.

Para piorar, a produção brasileira de trigo este ano ficou abaixo da esperada. Nossas importações serão as maiores dos últimos seis anos. A previsão da Conab é de que 6,7 milhões de toneladas serão importadas.

A economista Karina Freitas, da Concórdia Corretora, analisou o balanço das empresas no segundo trimestre e fez um diagnóstico negativo sobre o impacto do câmbio. A crise internacional diminuiu a demanda e até os exportadores não conseguiram tirar proveito da desvalorização:

- No segundo trimestre o câmbio foi ruim para o balanço das empresas. Ele aumentou o nível de endividamento e elevou custos de vários setores.

Maurício Pedrosa, economista da Queluz Investimentos, considera que houve erro de diagnóstico por parte do governo de achar que o câmbio era o principal problema da economia:

- As cadeias de produção hoje são integradas, as empresas tiveram aumento de custos e perderam uma janela de oportunidade de fazer investimentos via importação mais barata.

O dólar rompeu a barreira de R$ 2 no dia 18 de maio. Não voltou mais ao preço de R$ 1,70 do início do ano. Para a política monetária o dólar mais forte está sendo um desafio porque os preços agrícolas no atacado estão subindo muito. O IPCA pode sofrer pressão via pães, massas e biscoitos.

Estava errado o governo quando achava que tudo se resolveria quando o dólar subisse. Ao subir, ele criou outros problemas com os quais as empresas e o próprio governo têm que lidar.

Privatizações do PT - ROBERTO FREIRE

Brasil Econômico - 31/08


Após passar anos e anos demonizando as privatizações, o PT rende-se à realidade de que o governo não possui capacidade de investimento para dotar o país da infraestrutura necessária para manter o crescimento econômico e, portanto, precisa dos investimentos da iniciativa privada. Diagnóstico tardio que nos custou 10 anos de investimentos não realizados que dificultam nosso desenvolvimento. Envergonhados do tamanho do erro histórico que cometeram, os petistas ainda relutam em admitir óbvio: transferências de prestação de serviços públicos para a iniciativa privada são privatizações. Concessão é apenas o nome técnico-administrativo.

A presidente Dilma anunciou, num grande evento publicitário, um pacote de concessões de rodovias e ferrovias que totalizarão R$ 133 bilhões em investimentos nos próximos 25 anos. Segundo cálculos do economista Cláudio Frischtak, da Inter.B Consultoria, isso representa apenas 6% do que o país precisa para se modernizar, que seria aumentar o nível de investimento no setor dos atuais 2% para 4% do PIB. Além de insuficiente, o anúncio do pacote foi muito parecido com os anúncios grandiloquentes do PAC-1 e do PAC-2. Os investimentos anunciados não foram realizados e as obras não foram concluídas, vide a situação da transposição do rio São Francisco e da ferrovia Norte/ Sul que eram prioridades, por exemplo.

O governo Lula já havia privatizado algumas rodovias. A experiência foi um fracasso. Após quatro anos, as concessionárias só investiram 10% do previsto, apesar de já cobrarem pedágios desde a concessão. A duplicação da BR-101, entre Niterói e a divisa com o Espírito Santo, trecho 176,6 km, não foi concluída. A duplicação da rodovia Régis Bittencourt, no trecho da Serra do Cafezal em São Paulo, famosa pelos acidentes e mortes, também não foi concluída. Ao anunciar que manterá esse mesmo modelo de concessão, não há razão para acreditar que o resultado será diferente da mera promessa.

Foi anunciada também a criação de mais uma estatal, a Empresa de Planejamento e Logística (EPL), para gerenciar o programa de concessões. Como não consegue retomar o controle do Ministério dos Transportes e do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) do loteamento político realizado no governo Lula, que resultou em escândalos de corrupção, o governo cria um novo órgão com mais orçamento e vários cargos para serem posteriormente loteados. O resultado é uma sobreposição de órgãos (oito ao total) e competências que torna a gestão estatal ainda mais disfuncional. Para completar, ainda criou uma empresa estatal de seguros para fornecer as garantias para as obras de infraestrutura.

O modelo das recentes privatizações dos aeroportos, cujas obras não começaram, já está sendo revisto. O governo agora quer a Infraero como sócia majoritária, o que demonstra, além da visão estatista ultrapassada, uma imensa falta de compreensão sobre a necessária estabilidade da regulação para atrair capitais privados.

O PT faz privatizações, mas não consegue fazer direito. Pior é que não há nenhum indício de que agora será diferente, para infelicidade do país.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


FOLHA DE SP 31/08

Com o pré-sal, seguros para navio crescem no país
A evolução do segmento de seguros para cobertura de risco de embarcações especializadas em pré-sal vai atrair empresas e práticas da Noruega, segundo a FenSeg (federação de seguros).

"O país é especializado na área. Algumas frotas brasileiras já têm embarcações na condição norueguesa de seguros, em que as coberturas são mais amplas", diz Carlos Polízio, executivo da FenSeg.

A Liberty Seguros, que acaba de entrar no mercado de seguros de navios no Brasil, fechou acordo com a norueguesa Norwegian Hull Club.

A Liberty informa que já emitiu apólice que cobre US$ 200 milhões em riscos para três navios que operam na Bacia de Campos.

"O padrão norueguês tem contrato sucinto e serviços como treinamento de tripulação e executivos. Permite que o próprio segurado realize a apuração do dano em caso de acidente. Este tipo de flexibilidade dará maior velocidade aos processos", diz Pablo Barahona, presidente da Liberty Seguros.

"Com o pré-sal, as frotas vão crescer, com embarcações para fazer a logística. Nosso objetivo é conquistar 700 apólices nos próximos três anos", afirma o executivo Maurício Giuntini.

O volume de prêmios emitidos no segmento cresceu de R$ 15,9 milhões no primeiro semestre de 2011 para quase R$ 17 milhões no período neste ano, segundo Polízio.

No grupo segurador Banco do Brasil Mapfre, a área de cobertura de cascos cresceu 475% de janeiro de 2011 a julho deste ano, segundo Wady Cury, diretor-geral de grandes riscos do grupo.

R$ 16,7 milhões foi o prêmio arrecadado de janeiro a junho de 2012

R$ 15,9 milhões foi o valor de janeiro a junho de 2011

REMÉDIOS EM CASA
A proposta da ANS de que as operadoras de planos de saúde venham a oferecer medicação domiciliar a beneficiários portadores de doenças crônicas não foi bem vista pelo setor.

Para José Cechin, presidente da Fenasaúde (que representa as operadoras), não há evidências de que a oferta de remédios surta efeito.

Uma pesquisa dos EUA, divulgada pelo Iess (Instituto de Estudos de Saúde Complementar), aponta avanço apenas de preços dos prêmios e do uso de medicamentos.

"Não se verifica relação entre a oferta de medicamentos na rede privada e a diminuição de internações ou melhora de saúde do paciente", diz Luiz Augusto Carneiro, superintendente do Iess.

José Cláudio Ribeiro Oliveira, da Unimed do Brasil, afirma que a ANS quer transferir para as operadoras responsabilidades do SUS.

Paulo Arthur Góes, do Procon de SP, afirma que "é também responsabilidade do setor privado, cujo objetivo é a qualidade de vida, o que inclui acesso a remédios".

EXPANSÃO DO CELULAR
As teles expandem a operação de telefonia de terceira geração em São Paulo.

A TIM aumentará sua cobertura 3G para 18 novas cidades no Estado. Com a iniciativa, a operadora atingirá 192 dos 645 municípios do Estado.

No Brasil, a empresa chegará a 554 municípios, que abrigam 59,3% da população. O país possui 5.565 cidades.

Desde o começo do ano, a Oi havia ampliado o atendimento para 16 novas cidades paulistas. Mas vai acelerar as inclusões a partir de agora e, até o fim do ano, passará a operar em 51 novos municípios.

A empresa terminará 2012 atendendo a 75% da população urbana brasileira, afirma.

Presente em 2.854 municípios do país, a Vivo informa que estará presente em mais de 3 mil ainda neste ano.

A companhia alega ser questão estratégica revelar quantas serão em São Paulo.

No primeiro semestre deste ano, as teles investiram R$ 10 bilhões.

MARCA BRASILEIRA
O governo brasileiro aportará R$ 2 milhões em um fundo gerido pela Ompi (Organização Mundial de Propriedade Intelectual) para ajudar países emergentes a melhorar regras de proteção ao direito autoral.

O auxílio técnico focará os países de que o Brasil tem se aproximado no âmbito da política externa, segundo Jorge Ávila, presidente do Inpi (Instituto Nacional de Propriedade Intelectual).

"Não é de interesse das empresas que exportam produtos para a África serem copiadas no dia seguinte", afirma.

Vitrine... Em setembro, no evento no Rio em que fará o acordo com a Ompi, o Inpi lançará um curso para ensinar às empresas a explorar suas marcas em eventos esportivos.

...em jogo A ideia é evitar no Brasil as propagandas indiretas que contrariavam acordos com patrocinadores vistas em Copas e Olimpíada realizadas no exterior.

GOSTOSA



Sucesso de bilheteria - VERA MAGALHÃES - PAINEL


FOLHA DE SP - 31/08


O Bilhete Único Mensal virou hit na propaganda de Fernando Haddad após explodir como tema mais comentado nas pesquisas qualitativas do PT. Depois de um programa inteiro sobre a proposta, o site trará textos didáticos martelando que o novo bilhete não será compulsório: adere quem quiser. O valor, estimado em R$ 140 mensais, só será divulgado após estudos. Com ele serão mostradas tabelas para que o usuário calcule se compensa usar a nova modalidade de transporte.

Catraca 
Explorada por Haddad sobretudo por alcançar 5,5 milhões de passageiros diários, a adoção de medida de choque no transporte coletivo já foi determinante na eleição de 2008. Naquele ano, Gilberto Kassab prometera congelamento da tarifa de ônibus. Foi rapidamente seguido por Marta Suplicy.

Quartel 
Correligionários de José Serra identificam a reprovação ao trabalho dos subprefeitos como um dos principais entraves no corpo a corpo. Os cargos são ocupados por coronéis da PM, sem identidade com os bairros.

Motivacional 
Na tentativa de aplacar a tensão criada pela queda das intenções de voto, o QG de Serra usa dois números apurados em pesquisas internas: o tucano ainda lidera quando os eleitores se posicionam sobre a expectativa de vitória e o preparo para o cargo de prefeito.

Foco 
Geraldo Alckmin retomou maratona de gravações no estúdio do PSDB-SP. Fez vídeos para 40 candidatos e tirou fotos com 80. Aliados do governador ponderaram que a eleição em cidades médias ganha importância na mesma proporção em que aumentam os obstáculos para tucanos na capital.

Slow motion 
Alckmin reunirá hoje secretários da área econômica e das pastas que tocam obras. O tucano demonstra preocupação com o ritmo de investimentos e a execução orçamentária.

Quem te viu 
Flagrado em vídeo sugerindo troca de apoio por dinheiro, Edgar Nóbrega (PT), que renunciou ontem à candidatura em São Caetano do Sul, integra a corrente Mensagem ao Partido. Quando eclodiu o escândalo dos aloprados, rompeu com o grupo de Hamilton Lacerda, seu concunhado.

Última palavra 
Ministros do STF reagiram à hipótese de a Câmara decidir pela perda de mandato de João Paulo Cunha. Fazem coro a Cezar Peluso e afirmam que é o STF o guardião e intérprete da Constituição -portanto, a cassação, se indicada pela maioria, seria imediata.

Pregão 
A tese de Carlos Ayres Britto de que o dinheiro público "nunca se despubliciza", proferida em seu voto, foi ironizada por advogados dos réus do mensalão. "Então quando Britto vai à feira ele precisa fazer uma licitação para gastar seu salário?", questiona um deles.

Paredão 
Servidores do STF estranharam a repetição diária do placar de votos do julgamento, não-usual. Brincam que Britto adotou o estilo semelhante ao do apresentador do reality-show "Big Brother", Pedro Bial.

O céu... 
Colegas do Supremo apostam que pelo menos o relator Joaquim Barbosa e a ministra Cármen Lúcia vão fixar penas mais duras que as estabelecidas por Peluso.

... é o limite 
O ex-deputado Natan Donadon foi condenado a 11 anos de reclusão por peculato em 2010. Relatora, Cármen Lúcia o condenou a 13 anos e 9 meses, e foi seguida por Barbosa.

Visita à Folha Priscila Pereira Pinto, diretora executiva do Instituto Millenium, visitou ontem a Folha. Estava acompanhada de Rosa Vanzella, assessora de imprensa.

com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI

tiroteio
"O feitiço virou contra o feiticeiro: a rejeição recorde de José Serra reflete, no fundo, os métodos adotados por sua campanha."

DO DEPUTADO FEDERAL PAULO TEIXEIRA (PT-SP), associando o índice do tucano ao uso da expressão "bilhete mensaleiro" em seu programa rádio.

contraponto

Hoje só amanhã
Logo após condenar João Paulo Cunha, anteontem, Cezar Peluso anunciou no plenário do STF que era o seu último voto após integrar a corte por nove anos. O presidente Carlos Ayres Britto suspendeu o julgamento para homenageá-lo. Peluso comentou, reservadamente:

-Não entendi. Não estou me despedindo hoje. Minha família vem amanhã de São Paulo para a última sessão.

Informado do desconforto, Britto ponderou:

-Fiz o que era praxe, mas não tem problema. Amanhã faremos outra homenagem.

Ontem Britto fez novos elogios e Peluso se despediu.

Duas faces, a mesma moeda - ELIANE CANTANHÊDE

FOLHA DE SP - 31/08


BRASÍLIA - Enquanto o STF condena os réus do mensalão com "gosto de jiló, de mandioca roxa, de berinjela crua", segundo o presidente Ayres Britto, a CPI do Cachoeira dá o que falar -ou o que escrever.

Há dois tipos de depoentes: o que não abre a boca e o que fala, mas não convence. Os dois mais promissores não ficaram calados, mas não disseram tudo. Apenas usaram o palco da CPI e os seus dez minutos de fama para mandar recados aos "patrões".

Num dia, o ex-diretor do Dnit Luiz Antonio Pagot contou, com a cara limpa, como se fosse a coisa mais normal do mundo, que usou o cargo para passar o chapéu para a campanha de Dilma Rousseff à Presidência entre empreiteiras que tinham contrato com o órgão.

Em português bem claro, Pagot acumulava duas funções: dirigia o órgão que acertava contratos milionários com construtoras ao mesmo tempo em que arrecadava dinheiro de campanha entre elas. Como frisou, não é ilegal, mas foi uma "bobagem" e era "antiético".

Foi muito autocondescendente, mas acendeu um sinal amarelo no Planalto e na cúpula do PT, já acossada pela condenação do ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha por 9 a 2 no Supremo.
No dia seguinte, foi a vez de o ex-diretor de engenharia da estatal paulista Dersa, Paulo Vieira de Souza -o Paulo Preto-, mandar seus recados nada truncados, mas para um outro destinatário: o PSDB.

Como Pagot, ele também dirigia uma estatal e era arrecadador de campanhas. Acusado por tucanos de desviar R$ 4 milhões doados por empreiteiras para a campanha de José Serra à Presidência em 2010, reagiu na CPI: "São uns ingratos".

Pagot e Paulo Preto têm mais um detalhe em comum: ambos foram demitidos de seus cargos. Um é uma ameaça ambulante para Dilma e o PT; o outro, para Serra e o PSDB. Por ora, só ameaçam. Alguma coisa eles negociam para não ir às vias de fato.

Sem emoções - SONIA RACY


O ESTADÃO - 31/08

Pesquisas, sejamfavoráveisou negativas, não impressionam Luiz Gonzalez, marqueteiro de Serra. “Fazemos tracking todos os dias e o que eles divulgam, eu já sei antes. Pode vir Ibope, Datafolha, o que for”.
Pelos números de Gonzalez, a situação, inclusive, já teria se alterado nos últimos quatro dias, com Serra subindo, Russomanno caindo e Haddad crescendo. No frigir dos ovos, entretanto –da partida, há um mês, até agora –, pouco teria mudado, segundo o marqueteiro. “O pessoal não gosta de preliminares, quer ir logo para os finalmentes”, ironiza.

Emoções 2

Se Gonzalez vai mudar algo na campanha? “Nem uma linha. Estamos trabalhando com o diferencial que o Serra tem: mostrar o que ele já fez pela cidade.” Personagens novos? “Não, só se entrar no contexto da realização.”
E esclarecer que Serra ficará até o fim do mandato, caso seja eleito? “Serrafica, mas não é hora de tocar neste assunto.”

Emoções 3

Procurado, João Santana não foi encontrado. Pelo que se apurou, entretanto, o resultado do Datafolha não foi surpresa nenhuma, também, para a campanha de Haddad. É que seus trackings, de dois dias atrás, são mais parecidos com os números do instituto.

Temperamental

Erundina não pretende estrelar o programa na TV de Hadad. Quer ajudar somente fazendo plenária em bairros.

Mãozinha

Após reunião com Luiz Marinho anteontem, no Instituto Cidadania, Lula resolveu gravarpara acampanhade Carlos Grana, em Santo André, e Donizete Braga, em Mauá.

Proibido fumar?

AJustiça do Trabalho vai decidir se a Souza Cruz pode ter... provadores de fumo. O TST julga se a empresa tem o direito de manter empregados no chamado “painel de avaliação sensorial” de cigarros. Quem reclama? O Ministério Público do Trabalho.

A Souza Cruz defende que a técnica é essencial para garantira uniformidade do produto.

Pela paz

Mário Gobbi está correndo para renovar os contratos de Danilo e do técnico Tite – que só expiram após o torneio, em dezembro.

Quer evitar ruídos às vésperas do Mundial da Fifa.

Voando baixo

A queda do IPI dos automóveis faz escola. A aviação agrícola e as empresas de táxi aéreo pretendem pedir a Guido Mantega redução de carga tributária – matéria que já tramita pelo Senado.

Querem que o imposto caia dos atuais 25% para algo como 8%.

Lenço branco

“Depois de ouvir osvotos de Luiz Fux, Cármen Lúcia e Rosa Weber, e então ouvir o voto de Cezar Peluso, tive a certeza de que vamos sentir saudade dele”, pon-derou,ontem,AlbertoToron,ad-vogado de João Paulo Cunha.
E seu cliente? “Tentei ligar para ele, mas, por motivo óbvio, o celular estava desligado”. Quem pagará os honorários? “Advoguei praticamente pro bono”.

Passagem de volta

Recém-nomeado regente convidado da Sinfônica Heliópolis, com as bênçãos de Zubin Mehta, o lituano Julian Rachlin está confirmado para dois concertos com a orquestra em 2013, em SP.

Rachlin, embaixador do Unicef, quer trazer Roger Moore e John Malkovich para conhecer o trabalho do Instituto Baccarelli.

Oi, oi, oi

A novela Avenida Brasil chegou... aos para-choques dos caminhões. Ontem, em plena Av. Sumaré, um deles tinha marcado “Tufão e Carminha” no lugar do clássico “Só Jesus salva”.

Diga: "Eu mostro RG no caixa"! - BARBARA GANCIA

FOLHA DE SP - 31/08


É simples assim: hoje não se vende mais álcool para menores nos su­permercados de São Paulo


HOJE NÃO vou dar bronca nem me indispor com quem quer que seja. NOT.

Impossível passar batido por aquela velhinha boboca da propa­ganda do TSE que exulta as maravi­lhas da Lei da Ficha Limpa. Ora, mi­nha senhora, vá catar coquinho de andador na ladeira Porto Geral. A senhora já não foi dispensada de votar, não? Está ai proclamando as glórias de uma aberração jurídica a troco? Em que país de democracia sólida a senhora vê um arremedo como esse? Como podemos nos or­gulhar de um sistema político tão falido que parte do pressuposto que todos são culpados até que se prove ao contrário?

Vai exigir o que de país que trata como herói juiz que age como a Dercy Gonçalves? Tudo bem, vá. A velhinha do anúncio é personagem de agência de publicidade e eu me dispus a não encasquetar com nin­guém hoje.

Mas o leitor deste ma­tutino que faz história deve ter lido recentemente em Tendências/De­bates o artigo do jornalista e autor Luís Colombini. Muito bem-humo­rado, o sr. Colombini se diz cansado da falta de bom-senso e protesta contra a iniciativa conjunta do go­verno do Estado, da indústria e dos supermercados de pedir docu­mento de identificação a quem aparenta ter menos de 30 anos e es­teja comprando bebida alcoólica em lojas de autosserviço.

Diz o sr. Colombini que, como o governo não fiscaliza, está empur­rando a conta ao varejo.

Digo eu: como assim? Que conta é essa? O varejo deseja continuar vendendo bebidas para menores?

Pela primeira vez a indústria, que nunca tinha movido uma palha, percebe que talvez não seja uma boa ideia matar todos os seus futu­ros consumidores e o sr. Colombini reclama de ter de sacar seu docu­mento do bolso?

É simples assim: hoje não se vende mais álcool para menores nos su­permercados de São Paulo. Está bom para o senhor, sr. Colombini? É a primeira grande vitória desde que a OMS traçou um plano de ação para conter os malefícios da bebida. O senhor Colom­bini deveria estar celebrando com champanhe comprado no supermercado mais próximo, que tal?

Talvez ele desconheça o fato de que menores de idade travestidas de periguetes (antigamente era de Xuxa) costumam seduzir o primei­ro tiozão na porta do super para que ele lhes compre um goró. Por isso hoje o incomodam e pedem documento a senhores de "47 anos" e com as "dezenas de rugas e milhares de cabelos brancos" que ele diz ter.

A coisa saiu de controle, sr. Co­lombini. A sociedade começou a cobrar, a indústria sacou o tama­nho da encrenca e o governo se an­tecipou ao tsunami.

Ninguém é o Dalai Lama, nem mesmo o Dalai Lama. Mas da mes­ma forma que a questão do tabaco foi endereçada, este problemaço de saúde pública também está sendo. Impossível que o senhor não per­ceba.

Não tem mais esse negócio de fes­tinha de 15 anos com álcool. Se nenhum amiguinho comparecer à comemoração da sua filha porque não tinha bebida, que pena. É preciso uma mudança rigo­rosa de atitude.

Os caixas dos supermercados de SP estão treinados a não vender ca­so desconfiem de que se trate de me­nor. É claro que a molecada vai con­tinuar a falsificar RG e é óbvio que, querendo mesmo, eles vão com­prar. Mas a mudança de hábito já começou. Nas escolas, no comér­cio, nas empresas, nas ONGs, nas comunidades. Só o senhor ainda não enxergou.

PS: Só para constar, que seja público e notório, eu presto serviços à Ambev dando palestras sobre alcoolismo.

Reincidência - DORA KRAMER

O Estado de S.Paulo - 31/08


Foi preciso o Supremo Tribunal Federal pregar à testa de João Paulo Cunha o carimbo de corrupto para o PT se dar conta da inadequação de ter como candidato a prefeito um réu em processo criminal.

Foram necessários nove contundentes votos de condenação por corrupção passiva e peculato para que o deputado pensasse em desistir de buscar absolvição "de fato" junto ao eleitorado de Osasco.

Antes disso estava tudo normal. Três ministros gravaram manifestações de apoio para o horário eleitoral. Míriam Belchior, do Planejamento, lugar tenente da presidente da República, emprestou seu aval considerando "muito importante eleger João Paulo" para dar continuidade ao "modo petista de governar".

Pepe Vargas, do Desenvolvimento Agrário, ligou o futuro da cidade à eleição do réu: "Com o governo Lula e agora com a presidente Dilma estamos transformando o Brasil. Com uma prefeitura aliada ao governo federal podemos fazer ainda mais. Por isso, em Osasco, vote em João Paulo Cunha".

Aldo Rebelo, do Esporte, externou seu apoio ao "companheiro e amigo" com "muita honra e orgulho" pela trajetória de "serviços prestados aos interesses de Osasco e do Brasil como vereador, deputado estadual, deputado federal e presidente da Câmara".

Pois foi preciso o Supremo demonstrar com todos os efes e erres que antes dos interesses nacionais e regionais João Paulo defendia a causa própria para que o PT passasse a considerá-lo um peso em cima do palanque.

Agora aparecem os engenheiros de obra pronta dizendo o quanto haviam alertado para a impropriedade da candidatura, atribuindo o gesto temerário à vontade de João Paulo que tinha a "máquina" na mão.

Ora, sobre vontades no PT dão notícias mais precisas as candidaturas de Dilma e Fernando Haddad. Quem tem "querer" ali é Lula, que, se alguma preocupação com as aparências tivesse, teria feito João Paulo se recolher.

Mas, não viu nada demais em seu partido concorrer com um réu munido de desculpas esfarrapadas e da certeza na impunidade. Diga-se em sua defesa, porém, que o ex-presidente não chegou a essa conclusão sozinho, baseado em coisa alguma.

A sustentar-lhe a impressão de que votos podem perfeitamente transitar numa esfera à parte do mérito, inclusive no tocante aos bons costumes, há o pouco caso do eleitorado quanto à ficha dos candidatos.

Lula mesmo foi reeleito no calor do escândalo do mensalão e do caso dos "aloprados", pegos em flagrante de compra de dossiê contra seu principal adversário.

Severino Cavalcanti elegeu-se prefeito no interior de Pernambuco depois de sair da presidência da Câmara por corrupção (como sucessor de João Paulo), José Roberto Arruda recebeu mandatos de deputado e governador carregando pesadas acusações às costas e vários mensaleiros denunciados em 2005 voltaram à atividade pelo voto em 2006.

Em suma: o alto lá que o STF vai assentando pode muito no balizamento do futuro, mas não pode tudo. E não terá o esperado efeito saneador se o eleitor continuar a reincidir na concessão de seu voto a gente a respeito de quem se pode dizer qualquer coisa, menos que esteja acima de qualquer suspeita.

Autoengano. Não é de hoje que o PSDB atribui seus revezes aos programas do horário eleitoral. A justificativa não obstante confortável, ignora fatores realmente decisivos.

Partido unido, sintonizado com o eleitorado, atento às demandas da sociedade, presente nos debates fundamentais e na posse de posição clara sobre temas de interesse nacional pode até perder eleição, mas não será por obra de erros do marqueteiro.

Já partido desunido, dissociado do eleitorado, desatento às demandas da sociedade, ausente nos debates fundamentais e sem posição clara sobre temas de interesse nacional dificilmente ganha eleição por mais genial que seja o departamento de propaganda.

Leila - FERNANDA TORRES

FOLHA DE SP - 31/08


A distância criada entre a arte e o varejo simplificou o dilema do ser ou não ser Leila Diniz


Quando comecei, uma das motivações que levavam uma atriz a posar nua, além do cachê, era dar provas de ser uma mulher desejada, com coragem o suficiente para estar à frente de seu tempo. Heranças de Leila Diniz.

Os nus de hoje chocariam o mais avançado apreciador de então. Há 20 anos, close de rego e lábios, só nas impressões "hard-core". Leila não faria.

A mudança reduziu a presença das divas da ribalta nas páginas das revistas masculinas. Mais pudicas do que as profissionais do ramo, com raras e louváveis exceções, costumam produzir ensaios mornos, café com leite.

Com a explosão da indústria do sexo explícito, algo parecido ocorreu nas telas. A abertura de mercado para o novo gênero livrou o cinema da obrigação de causar ereções. A distância criada entre a arte e o varejo simplificou o dilema do ser ou não ser Leila Diniz.

Sempre achei que havia uma linha definida entre a mecânica pura do nheco-nheco e a riqueza pseudointelectual do "soft" pornô

"made in Brazil". Mas, em um fim de domingo besta, zapeando na TV, encontrei, é claro, no Canal Brasil, um tesouro da arqueologia. O elo perdido entre a pornografia e a pornochanchada.

Mulheres desnudas riam endiabradas entre a folhagem de um jardim tropical; algumas bem à vontade, outras nem tanto. Lascivas, abandonavam a mata e atacavam um homem de cabelos fartos e barriga descomunal, também pelado, sentado à beira de uma fonte. Em uma bacanal angustiante, as possessas empurravam o mastodonte para a água, afogando-o entre guinchos e gargalhadas. Era um pesadelo de Carlos Imperial.

Ele, o gigante da fonte, viúvo devasso deflorador de virgens, se arrastava entre a perdição do sexo e a culpa pela esposa defunta. As diabas do além, enviadas pela morta, vinham arrastá-lo para o lado de lá.

Em meio à desesperada tormenta, o herói seguia seu destino de pecador, dissuadindo a velha tia a permanecer no andar de baixo, enquanto subia ao quarto para se deleitar com a sobrinha virgem.

Defendido pela pança bíblica, Imperial metia as fuças em uma xoxota peluda, comum na década de 70, mas pré-histórica para os padrões atuais. A cabeleira púbica, único obstáculo a proteger a mucosa íntima da indiscreta panorâmica, se confundia com as madeixas de Imperial. Sentada sobre a fronte do colega, a suposta donzela fingia gostar, mal escondendo a vontade de se ver livre da cena o mais depressa possível.

Foi chocante. O Imperial era um personagem da minha infância, eu não sabia que ele havia chegado a tanto. Na cavalgada final, a mal dublada falecida gritava sobre a montanha de banha: "Vem, Augusto, goza comigo!". Augusto obedecia e morria de amor.

Como peguei no meio, não entendi se o final era feliz ou triste. Se a fantasma arrastava o canalha para as chamas do inferno, ou se o filme era um elogio culpado ao amor conjugal. Não importa: o que impressionava era o arrojo sexual. A obra do Imperial é a fronteira final, o estertor da mistura da Boca do Lixo com o cinema cabeça. A quase pornografia.

Leila não faria.

Ganhei um livro do Roland Barthes chamado "Mitologias". Barthes abre os trabalhos com um capítulo sobre o tele-catch, que ele não chama de luta, mas de pantomima sobre a moral e a justiça. O filme do Imperial não deixa de ter a mesma ambição.

A barriga mole, a raiva leonina, a cafajestice brutal, o exagero: Carlos Imperial teria uma carreira brilhante como bufão dos ringues. A encarnação de escrotidão humana. Grande, assustador e despido sobre o colchão, debaixo da luz chapada, o tarado personifica a vitória da vilania da carne sobre o espírito.

Dali para a frente, só a fornicação assumida.

O julgamento do mensalão é um divisor de águas semelhante.

Diante das acusações de venda de voto, o caixa dois se apresenta como prova de idoneidade e inocência. O custoso marketing eleitoral empurrou a política para tamanha encruzilhada.

O Supremo enfrenta a mesma questão da comediante, a de conseguir separar o que é arte do que é exploração; no caso, o que é política do que é falta de decoro, ou crime. É preciso estar atento para o que Leila não faria.

Tortuosos caminhos da política fiscal do PT - MAILSON DA NÓBREGA e FELIPE SALTO

FOLHA DE SP - 31/08


O PT desconstrói as conquistas nas finanças do Brasil, encontra meios de não incluir gastos com subsídios no Orçamento. O risco é acabarem endividando o país


Matéria do jornal "O Globo" ("FGTS sob ameaça", de 19 de agosto de 2012) e editorial do jornal "O Estado de S. Paulo" ("Uso indevido do FGTS", de 25 de agosto de 2012) suscitaram importante reflexão a respeito da contabilidade pública e dos riscos fiscais que se avizinham.

Segundo a reportagem do jornal carioca, o programa Minha Casa, Minha Vida -programa de habitação popular criado ao final do governo Lula- tem sido subsidiado com recursos do FGTS, em valores que já ultrapassam a diferença entre receitas e despesas do fundo.

Além de prejudicar a transparência das finanças públicas federais e das ações do governo nesta política legítima de habitação, a estratégia de imputar ao FGTS o ônus da concessão de subsídios crescentes não se compatibiliza com as melhores práticas fiscais.

Configura, na verdade, uma ação temerária em relação a um fundo que nas suas origens foi uma compensação para enfrentar resistências à extinção da garantia no emprego para os que trabalhassem mais de dez anos na mesma empresa. Os recursos se destinam, pois, a constituir uma reserva para a hipótese de demissão ou para saque no momento da aposentadoria.

Em 2009 e 2010, o governo passou a flexibilizar a austeridade fiscal, uma das pernas do tripé macroeconômico -isto é, do modelo de gestão macroeconômica consagrado na maioria dos países e construído em sua inteireza no governo FHC.

A prioridade migrou para ações ditas anticíclicas, que na verdade resultaram em ampliação generalizada da despesa, a ponto de abalar o cumprimento da meta fiscal.

Essa flexibilização compreendeu a utilização de receitas extraordinárias, abatimentos contábeis de gastos com investimentos (hoje, gastos do PAC, antigo Projeto Piloto de Investimentos), revisões de metas e outras medidas que desrespeitaram o sistema de controle da trajetória da relação endividamento/PIB.

Em 2011, o governo de Dilma Rousseff retomou a ideia de privilegiar maior austeridade fiscal. A meta de superávit primário de 3,1% do PIB foi cumprida, ao que parece menos por convicção e mais pelo objetivo de criar uma âncora para a estratégia de afrouxamento monetário empreendida pelo Banco Central.

Agora, com o agravamento da crise europeia e seus efeitos negativos sobre o crescimento brasileiro (nossa previsão é de 1,6% para este ano), corre-se o risco de uma retomada da flexibilização da austeridade fiscal. Para 2013, já prevemos um primário abaixo da meta, 2,6% do PIB.

Preocupa, assim, a revelação do uso de recursos do FGTS para prover subsídios. Como se sabe, o governo tem utilizado, nos últimos quatro anos, uma estratégia de suprimento de recursos do Tesouro para o BNDES, de modo a permitir a expansão de suas operações. Isso tem acarretado emissão de dívida pública de custo mais elevado do que o dos empréstimos do banco, o que constitui subsídio concedido sem legitimidade e sem transparência.

Em um sistema civilizado de finanças públicas, como se pretende para o Brasil, tais subsídios deveriam constar do Orçamento da União, mesmo que não se discuta sua oportunidade e conveniência. Tal política segue firme e forte.

O uso do FGTS para subsidiar o acesso à casa popular é mais um capítulo dessa desconstrução institucional das finanças públicas, paciente e trabalhosamente empreendida desde as reformas de 1986-1987, que permitiram a extinção da "conta de movimento" do Banco do Brasil, a extinção das funções de fomento do Banco Central e a unificação orçamentária, tudo coroado com a criação da Secretaria do Tesouro Nacional. A tudo isso se somou a aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal (2000).

Tal qual no caso do BNDES, o correto é incluir no Orçamento da União os recursos para os subsídios previstos no programa Minha Casa Minha Vida. Do contrário, estaremos deixando ao Executivo e à sua burocracia o poder de definir gastos públicos e, pior, à custa dos trabalhadores. Isso conspira não apenas contra a transparência que se exige da ação do governo, mas também contra a cidadania, a eficiência econômica e o potencial de crescimento.

A cautela da presidente - ILIMAR FRANCO


O GLOBO - 31/08

A presidente Dilma não quer saber de bola dividida. Nas eleições municipais, ela não pretende participar da campanha onde não for claro o embate Governo x Oposição. Dilma não quer entrar na eventual disputa de Fernando Haddad com Celso Russomanno em São Paulo. A presidente deve abrir uma exceção, Belo Horizonte, porque participou da montagem da chapa de Patrus Ananias.

Ministro: "A chefa está aborrecida"
Estão no sal com o governo o líder Eduardo Braga (PMDB-AM); o vice-líder Gim Argelo (PTB-DF); o deputado Edinho Araújo (PMDB-SP), da bancada do vice-presidente Michel Temer; e o deputado Sarney Filho (PV-MA). O Planalto considera inexplicável a omissão deles na votação da MP do Código Florestal na Comissão Mista do Congresso. A presidente Dilma deixou claro ontem, por gestos e palavras, que não gostou do acordo, vendido a ela como "o possível". Sua avaliação é que a base do governo virou água e que os ruralistas venceram. Elogios só para os senadores Luiz Henrique (PMDB-SC), Jorge Viana (PT-AC) e Rodrigo Rollemberg (PSB-DF).

“Foi o menos ruim, o menos traumático. No plenário ainda podemos arrumar o texto. E o governo pode fazer mais uma cirurgia: o veto” Eduardo Braga Líder do governo no Senado (PMDB-AM) sobre a aprovação da MP do Código Florestal

A ordem é endurecer
O governo negocia com os senadores da Comissão do Código Penal medidas para ampliar rigor na aplicação da Lei Seca, uso de pulseiras eletrônicas por prisioneiros do regime semiaberto e legislação mais forte de combate ao terrorismo.

Constatação
Os ministros nomeados pelo ex-presidente Lula para o STF tiveram o mesmo comportamento que os nomeados pela presidente Dilma no julgamento do mensalão. Lula nomeou seis ministros. Entre os seus, deu 4 a 2 pela condenação do petista João Paulo Cunha. Entre os de Dilma, deu 2 a 0. O ex-presidente está surpreso.

Doce vida
Os agentes da PF em greve estão providenciando um piano para colocar no estacionamento do Ministério da Justiça. O ministro José Eduardo Cardozo reclamou do barulho das vuvuzelas. Na segunda-feira, aguarda repertório selecionado.

Patrus 2x0 Patrus
O PT perdeu. A Justiça eleitoral mineira decidiu que o prefeito Marcio Lacerda (PSB) poderá usar a melodia de seu jingle de campanha, por não ser um símbolo de Belo Horizonte e ter adquirido os direitos para usá-la. O socialista também poderá usar o discurso da presidente Dilma dizendo que "Lacerda é o melhor prefeito do Brasil e que fazer parcerias com ele é garantia de entrega".

A vez de Adams está chegando?
O que se diz nos bastidores do STF é que o ministro Celso de Mello, nomeado pelo ex-presidente José Sarney, aposenta-se no final deste ano. Há forte articulação no governo em favor do advogado-geral da União, Luís Adams.

Deixa a vida me levar...
Aposentado do STF, Cezar Peluso vai morar em Brasília. Ele avalia propostas de trabalho de vários escritórios de advocacia. Aos amigos, disse que vai se dedicar às suas paixões: cozinhar e ouvir samba. É fã de Zeca Pagodinho e Arlindo Cruz.

A PRESIDENTE DILMA só pretende definir o nome do sucessor do ministro Cezar Peluso, no STF, após a conclusão do julgamento do mensalão.

Sensações de isolamento - MARCELO COELHO

FOLHA DE SP - 31/08


O relato de Barbosa sobre o Banco Rural é de deixar os cabelos em pé, com laudos e laudos sobre irregularidades


DEPOIS DO voto relampejante de Cezar Peluso, na sessão de anteontem, as coisas ficaram um tanto mornas no julgamento do mensalão. Ainda na quarta-feira, Gilmar Mendes, Marco Aurélio Mello e Celso de Mello jogaram a pá de cal nas expectativas de João Paulo Cunha.

Apesar das muitas queixas contra o "juridiquês" no tribunal, o fato é que, de todos os ministros, apenas Gilmar Mendes teve um pronunciamento de difícil compreensão para o público leigo.

Com sua habitual voz queixosa, enfileirou uma série de referências a decisões anteriores do tribunal, para reafirmar afinal de contas o que já não precisava muito ser discutido: a culpa de João Paulo Cunha nos crimes de corrupção passiva e peculato.

Como o aspecto fatual do caso já tinha sido exaustivamente exposto por todos os ministros, e brilhantemente resumido por Cezar Peluso, a argumentação de Gilmar Mendes incidiu sobre pontos esparsos.

O que havia a ser registrado, sobretudo, é a consolidação de um "bloco condenatório" nesse julgamento. Havia dúvidas quanto à tendência geral de Gilmar Mendes, Celso de Mello e Marco Aurélio.

Mas o dominó condenatório não foi interrompido. Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli ficaram isolados neste primeiro item do julgamento.

A sensação chegou perto do desconforto quando Ayres Britto, no começo da sessão de ontem, resolveu fazer uma "proclamação provisória" dos resultados. Provisória porque a acusação de lavagem de dinheiro ainda não foi confirmada por Rosa Weber; deixa o assunto para momento posterior.

O ministro Ayres Britto não se estendeu sobre o tema, o único em que houve divergência mais importante no interior do "bloco condenatório". De todo modo, acompanhou a acusação, formando já a maioria do corte também nesse artigo do Código Penal.

Seja pelos réus, seja pela tecnicalidade do assunto, o item seguinte do processo é menos palpitante. Joaquim Barbosa começou a ler seu voto sobre as acusações de gestão fraudulenta contra os dirigentes do Banco Rural.

Ainda assim, o que ele relata é de deixar os cabelos em pé. Empréstimos foram concedidos às empresas de Marcos Valério sem que constassem, nos cadastros do Banco Rural, dados básicos sobre sua saúde financeira.

Laudos e mais laudos periciais apontaram problemas e irregularidades desse tipo. O próprio Marcos Valério superestimou seus rendimentos anuais, em contradição com sua própria declaração de renda, para dar aparência de solidez aos seus pedidos de empréstimo.

É o que diz Joaquim Barbosa, com longas citações de resoluções do Banco Central, de laudos, portarias, circulares e o que mais se desejar. A esta altura, enevoa-se a memória do que disseram em contrário os advogados de defesa. Talvez Lewandowski e Toffoli refresquem os argumentos quanto a isso.

A menos que, depois destes dias de isolamento, reservem para réus mais importantes a força de suas convicções.

Ganhar a guerra - LUIZ GARCIA


O GLOBO - 31/08



O combate para valer contra os traficantes que têm seus quartéis-generais na cidade começou há dois anos no chamado Complexo do Alemão.

Quem chegou agora, fique informado que "complexo" é o nome que se dá às maiores comunidades faveladas da cidade; ou seja, extensas áreas ocupadas por favelas contíguas, repartidas e dominadas por diversas quadrilhas de traficantes. Obviamente, são áreas onde a repressão ao crime organizado é extremamente difícil. E a situação, claro, é complexa.

Há dois anos, numa operação memorável que o resto da cidade acompanhou pela televisão, o Alemão foi ocupado pela polícia, com ajuda das Forças Armadas. Pouco depois, operação semelhante foi realizada com igual êxito na Rocinha. Hoje, há 27 Unidades de Polícia Pacificadora (UPPS), instaladas em 150 favelas. O nome é curioso: o que pode ser uma polícia, a não ser dedicar-se a estabelecer e manter a paz na cidade? Mas aceitemos que o adjetivo é tranquilizador - pelo menos, bem melhor do que "beligerante" ou coisa parecida.

O comando das UPPs anuncia agora uma nova arma contra o crime organizado - que, obviamente, ainda existe mesmo nas áreas pacificadas: em todas elas, os moradores poderão fazer denúncias ou queixas pelo telefone: é o Disque UPP (2334-7599). Moradores das favelas acharão isso mais seguro do que correrem o risco de serem vistos entrando numa delegacia. Outra boa notícia é a atitude realista do governador Sérgio Cabral. Ao comentar a provável reação dos traficantes, ele reconheceu a existência de policiais - uma minoria, disse - que mais servem aos bandidos do que à população. O estímulo à colaboração dos cidadãos honestos depende da rapidez e da eficiência da resposta da polícia às denúncias. Há um mês, O GLOBO mostrou que na Lapa o tráfico de drogas acontece abertamente nas ruas. Esta semana, o secretário de Segurança, José Maria Beltrame, disse o óbvio: que a PM e a Polícia Civil deveriam impedir a venda e o consumo de drogas a céu aberto. Até agora isso não aconteceu.

Será importante, para autoridades e cidadãos, acompanhar os esperados bons resultados do Disque-UPP. Ele pode representar uma saudável aliança entre cidadãos e autoridades. Que cada um faça sua parte - e, quem sabe, poderemos até ganhar essa guerra.

O Copom se transformou em instrumento do governo - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 31/08


As decisões do Comitê de Política Monetária (Copom) não se vinculam mais ao seu objetivo natural, mas à política econômica ou, mais exatamente, anticíclica, em estreita colaboração com o governo. Não é mais a tendência da inflação que as dita, mas a necessidade de cumprir uma meta de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).

Assim, é inútil procurar adivinhar se o Copom acha que haverá um aumento dos preços. A decisão de ontem, nessa perspectiva, era esperada e foi sem surpresa que o mercado recebeu a notícia da fixação da Selic em 7,5%. A novidade foi o comunicado da reunião dizer que, "considerando os efeitos cumulativos e defasados das ações da política implementada até o momento, que em parte se refletem na recuperação em curso da atividade econômica, o Copom entende que, se o cenário prospectivo vier a comportar um ajuste adicional nas condições monetárias, esse movimento deverá ser conduzido com máxima parcimônia".

Dado o resultado restrito dessa nova política econômica, interpretou-se que o Copom encerrará o ciclo de redução da Selic com mais uma queda de 0,25 ponto de porcentagem apenas. O Copom parece estar consciente de que foi além do razoável, no papel de aprendiz de feiticeiro.

Apesar de falar da "recuperação em curso", parece que o Copom não obteve resultados à altura dos meios utilizados, embora empregando artilharia pesada. Em todos os tipos de crédito tivemos, em sete meses, um crescimento de 7,8% - e o crédito direcionado, controlado pelo governo, cresceu 8,8%. O crédito para as pessoas físicas acusou, no período, aumento de 18,7%, ante 16,7% para as pessoas jurídicas. O estoque de crédito está em 23% do PIB, nas instituições públicas, e em apenas 19,1%, nas instituições privadas nacionais. As concessões acumuladas do crédito livre, em sete meses, diminuíram de 7,2% no caso das empresas e aumentaram 3,1% para as famílias, enquanto as taxas de juros apresentaram queda de 7,8% para empresas e 9,5% para famílias.

Realmente, a atuação do Banco Central favoreceu essencialmente as pessoas físicas, e não tanto as empresas. Até agora é difícil falar, como faz o Banco Central, em recuperação econômica, mas no máximo de uma política que visou a amortecer os efeitos de uma crise mundial. Foi um período em que a taxa Selic estava alta demais e qualquer elevação dela seria excessiva. Hoje, a manipulação da taxa básica de juros é mais fácil, porém deveria continuar sendo instrumento de contenção da inflação.

O início do fim dos meios sujos - NELSON MOTTA


O Estado de S.Paulo - 31/08


Os doadores estão cabreiros e tirando o deles da reta, os tesoureiros das campanhas, à beira de um ataque de nervos: as caixas 1 e 2 estão à míngua. O primeiro mensaleiro não só foi condenado como recebeu histórica descompostura dos ministros Cezar Peluso e Celso de Mello, como um delinquente com a marca da indignidade e o estigma da desonestidade.

Independentemente de condenações ou absolvições individuais, é um grande avanço para a democracia o Supremo Tribunal Federal firmar jurisprudência sobre a criminalização do uso político do caixa 2 - sejam quais forem os meios e os fins - e começar a acabar com um dos mais nefastos e antidemocráticos vícios da política brasileira, lastreado no cinismo do "todos fazem" e na promiscuidade com os doadores.

O ladrão em causa própria, seja de galinhas ou de verbas públicas, dá prejuízos pontuais a pessoas físicas ou jurídicas, ou ao Estado, que podem ser ressarcidos se o criminoso for condenado. Usar dinheiro sujo para fraudar o processo eleitoral, manipular a vontade popular, corromper políticos, comprar vantagens para seu partido para impor a sua crença, provoca irreparáveis danos para toda a sociedade. Porque desmoraliza a democracia, institucionaliza a impunidade e interfere de forma decisiva e abusiva nos direitos dos cidadãos. O ladrão ideológico é mais nocivo que o profissional.

É por isso que em países civilizados, com maior tradição jurídica que o Brasil, como a Itália, a Alemanha e a Inglaterra, a motivação política é considerada como fator agravante de um crime. Porque o produto do delito servirá para manipular processos eleitorais e atentar contra as instituições democráticas, roubando direitos de toda a sociedade.

Lá, o caixa 2 já derrubou primeiros-ministros, governadores e prefeitos. Aqui, ainda é usado como atenuante, como uma bizarra sequela da ditadura, quando a luta pela liberdade justificava tudo.

A atitude de tolerância zero que a maioria dos ministros do STF está tomando com o caixa 2 vai melhorar muito o comportamento dos políticos, não por ética ou espírito público, mas por medo da Justiça e da cadeia.

Há senso de direção na economia - CLAUDIA SAFATLE


Valor Econômico - 31/08


Consagrado o mais ousado e oportuno ciclo de redução da taxa de juros no país, já é possível extrair dos fatos e dos sinais emitidos as mudanças estruturais produzidas na economia brasileira nos 20 meses do governo Dilma Rousseff.

A queda de 5 pontos percentuais na taxa Selic - que em 12 meses saiu de 12,5% para 7,5% ao ano -, foi precedida de uma garantia de solidez fiscal que, a despeito de heterodoxias praticadas no meio do caminho, reduziu a relação dívida/Produto Interno Bruto (PIB), removendo do horizonte o receio de insolvência.

O governo cumpriu o compromisso assumido no ano passado, de dar sustentação ao Comitê de Política Monetária (Copom) para que ele pudesse, aproveitando a oportunidade aberta pela crise externa, reduzir a taxa básica. Na quarta-feira, ao decidir por um corte de 0,5 ponto percentual, o Copom avisou que essa tarefa está praticamente concluída e que, a partir de agora, qualquer nova redução obedecerá ao critério de "máxima parcimônia".

As mudanças estruturais do governo Dilma

Hoje dois dos mais importantes preços da economia estão, se não no lugar certo, melhor situados: juros reais em torno de 2% e a taxa de câmbio mais desvalorizada. Na avaliação do governo, o corte da Selic não foi um movimento transitório nem um ato de "voluntarismo", como disse a presidente em discurso ontem. Ao contrário, o que se quer é que o novo patamar de juros seja uma conquista permanente do país, embora isso não signifique que a Selic terá comportamento linear.

A área técnica do governo trabalha, agora, na elaboração de propostas para o novo momento do mercado de capitais. Serão criados incentivos para o alongamento das aplicações financeiras e punições para os investimentos com liquidez diária, além de uma série de iniciativas de lançamento de novos produtos para o desenvolvimento do mercado de dívida privada.

Recentemente, a presidente Dilma enfrentou um forte movimento grevista no funcionalismo público por aumentos salariais. Endureceu, ofereceu para todos um reajuste de 15,8% a ser pago em três anos - já aceito por 90% das categorias - e estabeleceu novos padrões para a evolução da folha de pagamentos que é, após a Previdência Social, a segunda maior despesa da União: haverá previsibilidade de três anos para a despesa com salários do servidor e os reajustes serão pautados pela inflação esperada (no caso, a meta de 4,5%) mais um ganho real.

Com juros mais baixos e folha de salários do funcionalismo em queda como proporção do PIB, o governo conseguiu obter, mais cedo do que imaginava, uma margem de liberdade orçamentária que poderá resultar numa política fiscal mais flexível, conforme chamou a atenção neste mesmo espaço, ontem, o jornalista Ribamar Oliveira.

Ao divulgar o projeto de lei orçamentária para 2013, ontem, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, sempre afirmativo no propósito de cumprir a meta fiscal, relativizou o superávit cheio de 3,1% do PIB de agora em diante. "Vamos procurar cumprir", disse, anunciando que sua atenção se voltará para o déficit nominal. Não será surpresa se, além da antecipação dos juros reais em torno de 2% que Dilma aspirava só para o fim do seu mandato, ela venha a encerrar sua gestão, em 2014, com um déficit nominal de praticamente zero.

Nesses 20 meses o governo criou o fundo de previdência complementar do funcionalismo público, acabando com o privilégio da aposentadoria integral bancada pelo Tesouro Nacional; mudou a regra de correção da caderneta de poupança - para permitir a redução dos juros básicos; e retomou as concessões de serviços públicos para o setor privado, rompendo com o tabu das privatizações, para viabilizar novos investimentos, dentre outras medidas.

Na próxima semana deverá anunciar a redução do custo da energia para os consumidores industriais e residenciais de cerca de 10% e 20%, respectivamente. Isso vai diminuir o custo de produção da indústria e dar uma contribuição importante para o controle da inflação de 2013.

Na área tributária também deverá haver mudanças expressivas, além da ampliação das desonerações da folha de salário das empresas. O Ministério da Fazenda está concluindo tanto a reforma do ICMS quanto a do PIS/Cofins. Soma-se a isso o que pode ser visto como os últimos suspiros finais da guerra fiscal entre os Estados, na medida que o Supremo Tribunal Federal (STF) ameaça derrubar os incentivos concedidos sem prévia aprovação do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz).

Tão ou mais importante do que esse arco de ações é a mudança do discurso e do foco da política econômica, do estímulo à demanda para o incentivo ao investimento e à competitividade. Não haverá crescimento se não houver investimentos públicos e privados. "Neste momento, uma das nossas maiores preocupações é ampliar o nível de investimento do nosso país, principalmente em logística e energia, ou seja, infraestrutura", disse Dilma.

Para depois das eleições municipais, o Palácio do Planalto estabeleceu uma agenda que deve contemplar duas reformas, a da Previdência - em substituição ao fim do fator previdenciário - e a do mercado de trabalho.

A proposta da Previdência é a da fórmula 85/95, que obedecerá a uma progressividade: os trabalhadores hoje na ativa terão o direito de se aposentar quando a soma do tempo de contribuição e da idade atingir 85 anos para as mulheres e 95 anos para os homens.

Do lado do mercado de trabalho, pretende-se introduzir o Acordo Coletivo de Trabalho com Propósito Específico (ACE), que dará segurança jurídica às negociações sindicais com a direção das empresas.

Ontem, no mesmo discurso, a presidente Dilma disse que há coerência e lógica nas ações do seu governo e que elas formam "um conjunto de políticas para elevar a competitividade da economia brasileira e o padrão de vida da população".

Não está no horizonte do governo assumir o desafio de reduzir a meta e a inflação efetiva. Essa é uma tarefa que muito provavelmente ficará para o sucessor.

Está longe de ser um trabalho completo e de agradar a todos. Mas não se pode dizer que não há um senso de direção.

Resistência à mudança - ROGÉRIO FURQUIM WERNECK


O Globo - 31/08


Há pouco mais de duas semanas, o governo anunciou que havia decidido repassar ao setor privado grande parte dos projetos de expansão de infraestrutura que não vinha conseguindo levar adiante. A notícia teve boa repercussão. Afinal, velhos preconceitos nutridos no Planalto pareciam estar dando lugar a uma visão mais pragmática do papel do investimento privado. Em meio às louvações, houve até quem chegasse a ver no anúncio das concessões uma guinada tão pronunciada quanto a que representou a Carta ao Povo Brasileiro, anunciada por Lula, ainda como candidato a presidente, em meados de 2002.

Exageros à parte, o fato é que uma análise objetiva do que foi anunciado há 15 dias sugeria uma mudança inegavelmente promissora no equacionamento das graves carências da infraestrutura de transportes no país. É bem verdade que um exame realista do complexo cronograma do programa de concessões indicava que as primeiras obras só poderiam ter início no fim de 2013. Ou, mais provavelmente, no início de 2014. E que, dificilmente, o esforço de investimento começaria a trazer melhoras palpáveis à infraestrutura antes de 2015, já no próximo mandato presidencial.

Mas, por outro lado, percebia-se que, além dos óbvios benefícios de prazo mais longo, as medidas anunciadas poderiam ter efeitos importantes, de prazo bem mais curto, na recuperação do investimento privado no país. A esperança era a de que a simples reorientação da política econômica que o programa de concessões sinalizava, com o claro abandono de preconceitos ideológicos arraigados, pudesse ter efeito decisivo sobre o investimento privado, ao contribuir para uma mudança de clima que ajudasse a liberar os "espíritos animais" do empresariado.

É essa possibilidade que o governo parece estar agora botando a perder. Menos de dez dias após o anúncio das concessões, surgiram notícias de que, nas discussões internas sobre a segunda fase do programa, que envolveria aeroportos, o governo havia se dividido em acirrada disputa entre "privatistas" e "estatistas". Embate que deixou exposto à luz do dia um retrato altamente desalentador da real extensão da convicção que estaria lastreando a suposta guinada na política econômica do governo.

A disputa envolve não só preconceitos ideológicos, mas também complexa mescla de interesses econômicos e corporativistas encastelados na Infraero. Companhias aéreas que preferem manter aeroportos sob o comando estatal, por temer elevações de tarifas aeroportuárias que poderiam ser impostas por gestores privados. Funcionários da Infraero e políticos com influência na empresa que jamais esconderam sua resistência a "qualquer forma de privatização" de aeroportos. Autoridades sensibilizadas com a falta de recursos que terá de ser enfrentada pela Infraero, se vier a perder a exploração dos aeroportos do Galeão e de Confins, e dispostas a preservar, a todo custo, o sistema pouco transparente de subsídios cruzados entre aeroportos que vem sendo operado com grande ineficiência pela estatal.

Na cúpula do governo, não falta quem defenda que, na modernização do Galeão e de Confins, a Infraero "seja parte da solução". E que se busquem gestores estrangeiros de aeroportos de grande porte dispostos a aceitar a Infraero como sócia majoritária. Para investigar a factibilidade de uma solução desse tipo, foi enviada à Europa esta semana uma comitiva formada pela ministra-chefe da Casa Civil, pelo ministro da Secretaria de Aviação Civil, pelo presidente do BNDES e várias outras autoridades envolvidas no embate sobre a questão. Só faltou o secretário do Tesouro Nacional, que de acordo com o que vem sendo reportado na mídia, seria o "cérebro" da ala "estatista" nesse embate.

É preciso refrear as ilusões. O Planalto continua alimentado por vasto manancial de ideias tortas. Sobram razões para temer que a suposta guinada na política econômica do governo, sugerida pelo anúncio das concessões, acabe sendo muito menos pronunciada do que se imaginava.