sexta-feira, março 11, 2011

ANCELMO GÓIS

Paul no Rio
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 11/03/11

Ainda não foi batido o martelo. Mas as conversas caminham para que Paul McCartney faça dois show no Engenhão, no Rio, em maio. Provavelmente, dias 24 e 25, entre o fim do Campeonato Carioca e o início do Brasileiro. 

Segue...

Quem está à frente da empreitada é o empresário Luiz Oscar Niemeyer, o mesmo que trouxe o grande astro pop a São Paulo, em novembro. 

Tropa de Miami 
Na seção de iPods da lojona Best Buy, em Miami, a música que toca no novo modelo Nano, da Apple, disponível para testes da clientela, é “Rap das armas”, do filme “Tropa de elite”, com a imagem de MC Doca na telinha. O vendedor diz que a música “faz o maior sucesso”.

País da caipivodca
O Brasil é o país da cachaça. Mas seu prestígio, notadamente nas classes A e B, é pequeno. Dezoito mil pessoas foram aos seis bailes de carnaval Devassa, no Píer Mauá, no Rio. Foram consumidas 14.400 doses de vodca, 7.200 de uísque e apenas 2.100 de cachaça. 

País da feijoada...

Por falar em carnaval no Píer Mauá, Ricardo Amaral renovou por cinco anos o contrato com Alexandre Accioly e Luiz Calainho para fazer sua feijoada ali. 

Cadê o segurança?
Dois quiosques do shopping Rio Sul foram assaltados na madrugada da Quarta de Cinzas.

A família David
A Delírio da Zona Oeste, escola miudinha do Acesso D no Rio, desfilou em 2011 com o enredo “Viajando na cidade de Nilópolis, delirando com a Beija-Flor. Um tributo à família David”. Ficou em décimo e... caiu para o Acesso E, a última divisão.

Micróbio do samba
Adriana Calcanhotto pôs em seu site (adrianacalcanhotto. com.br) uma palhinha de seu novo CD, “Micróbio do samba”. Os internautas podem ouvir de graça “Tá na minha hora”, em que Adriana fala de sua paixão pela Mangueira. 

Segue... 
O nome do CD é inspirado em Lupicínio Rodrigues, compositor gaúcho, como Adriana. É que Lupicínio disse, certa vez, que foi expulso da escola porque passava o dia batucando: “Desde pequeno, eu trazia no sangue o micróbio do samba, que cresceu comigo e não quer me abandonar. Quanto mais velho fico, mais se apega a mim.” 

Cegonha
O ator Marcello Antony será pai biológico pela primeira vez. Sua namorada, Carolina Hollinger Villar, está grávida. Ele foi casado 11 anos com a atriz Mônica Torres, com quem adotou os filhos Stephanie e Francisco.

Doação de acervo
Os filhos de Dorival Caymmi doaram o acervo do pai para o Museu da Imagem e do Som. Há, entre as preciosidades, partituras, letras, cartas, textos diversos e até um violão.

Aliás...
Hermínio Bello de Carvalho, o compositor e estudioso da MPB, decidiu também doar todo o seu acervo, em vida, para o MIS.
Além de 4 mil discos, há raridades como uma gravação inédita de Elizeth Cardoso.

Filme desconhecido
Quarta , na sessão de 19h10m do desenho animado “Rango”, no Lagoon, no Estádio de Remo da Lagoa, no Rio, começou a passar na tela... “O desconhecido”, filme adulto, com Lian Neeson. Foi preciso os pais reclamarem para a sessão ser interrompida,
até começar o filme certo. 

O soldo da tropa
No QG da PM do Rio, um cartaz anuncia um curso de gestão financeira para policiais. Até aí morreu Neves. Interessante é o texto do anúncio: “Como administrar seus parcos recursos”, numa alusão ao salário baixo da tropa. 

Parem as máquinas!

Incrível, fantástico, extraordinário! Ontem, no primeiro dia útil depois do carnaval, houve... sessão na Assembleia do Rio! Mais: com 44 deputados presentes, um quórum de mais de 50%! Segundo a Mesa Diretora, não havia sessão na Casa no pós-carnaval há pelo menos dez anos.

ZONA FRANCA
 O bloco Galinha do Meio-dia, da Confraria do Garoto, sai domingo, às 16h, do Posto 11, no Leblon.
 Hermann Baeta foi homenageado por amigos de Alagoas, pelo lançamento do livro “Os fantasmas da cidade”.
 A Beija-Flor anima feijoada no Hotel Caesar Park Ipanema, sábado.
 Edson Scorcelli e Cristina Vaz de Carvalho colhem depoimentos de publicitários para um livro sobre a profissão antes e depois do computador.
 O artista plástico Sérgio Cezar dá palestras na Escola de Design da UVA dias 16, na Barra, e 22, na Tijuca.
 O Azurra acaba de adotar o sistema de vendas pela internet do portal www.comernaweb.com.br
 O advogado Cacau de Brito foi nomeado coordenador do Procon-RJ.

IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO

Scliar se foi numa madrugada 
IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO
O ESTADO DE SÃO PAULO - 11/03/11

Eles partem. Vão embora confirmando a sensação de que a vida é uma coleção de perdas. Está certo que permanecem, pois deixam seus livros, portanto estaremos com eles até o dia em que também iremos. Mas gostamos deles nesta vida. Dos encontros, conversas, telefonemas, e-mails, viagens, jantares, visitas, feiras de livros, com suas graças e manias, ambições e sonhos, sucessos e fracassos, amores e desilusões, brigas e dissensões.
Escritores de minha geração, ou mais velhos, ou mais novos, todos próximos, a quem nos ligamos pela amizade e pelos livros. Partem. Um dia chega a notícia do carro de Osvaldo França Júnior despencando num despenhadeiro nas estradas de Minas. Outro foi João Antonio, tendo seu corpo descoberto em decomposição, morto há muitos dias em total isolamento. Vivia sozinho, nunca vi solidão maior. Hilda Hilst morreu aos poucos em sua chácara de Campinas, onde seguia ansiosa o relógio esperando chegar a hora em que o médico a tinha autorizado a beber um copo e sonhando com seus livros sendo vendidos, bem vendidos. Roberto Drummond estava tão apavorado com o coração que se recusava a ir ao cardiologista. Morreu na véspera do jogo do Brasil com a Inglaterra. Juarez Barroso, cearense, que esteve ao meu lado na famosa noite de 1975 no Teatro Casa Grande, Rio de Janeiro, quando se enfrentou a censura militar, partiu muito novo, devido a um aneurisma. Wander Pirolli, um dos mais modernos autores infantis, revolucionário com seu O Menino e o Pinto do Menino, teve um ataque cardíaco. Dorian Jorge Freire, rio-grandense do norte, de poucos livros e muitas crônicas, sujeito importante em minha vida, ao me orientar no jornalismo, nos últimos momentos, lá em Mossoró, escreveu seus textos com um único dedo, o indicador, o resto paralisado. O mato-grossense Ricardo Guilherme Dicke, fantástico, isolado em Corumbá, nunca teve a glória alta que merecia, melhor, muito melhor que dezenas de autores midiáticos. Também se foram Josué Guimarães, Ganymedes José, Torquato Neto, Maura Lopes Cançado, Osman Lins, Mora Fuentes, Julieta Godoy Ladeira, Marcos Rey, Fausto Wolf, Carlinhos de Oliveira, Elias José, Caio Fernando Abreu, Roberto Piva, Massao Ono. Sem esquecer Ricardo Ramos, dos melhores companheiro de viagens, cheio de humor, um aglutinador cuja obra precisa ser recuperada, contista que honrava o pai, Graciliano. E Ray-Gude Mertin, tradutora e agente, doce figura, brava mulher.
Saíram, muitos nem tiveram tempo de dizer adeus, até já, até breve. Então, chegou a vez de Moacyr Scliar, o gaúcho. Poucas vezes vi a morte de um escritor repercutir tanto, tão intensamente. Já se passaram duas semanas e continuo a ler na imprensa de todo o Brasil artigos dizendo adeus. Raras vezes vi um carinho e uma tristeza tão grandes em relação a um autor, num meio em que há (veladamente) exclusões, ciúme, alguma inveja, fofocas. Parece loucura, mas nunca vi ninguém alfinetar Moacyr. E olhem que foi autor sempre elogiado pela crítica, membro da ABL, para a qual foi eleito por unanimidade, viajando mundo, traduzido, vendido, dominando auditórios, um médico culto e informado. Meu Deus, que prato!
Moacyr não bebia; um espanto. Nada, de nada. Por não gostar conseguia escrever, limpo, clean, como se diz nos filmes americanos. Não que nós todos somos borrachos, longe disso! Moacyr escreveu, porque tinha o que escrever, sempre foi cheio de histórias, trouxe para a sua literatura os temas e o humor judaicos, recolhia o País em torno dele, em alguns momentos aproximou-se de Jorge Luis Borges. Foi cronista de jornal, da revista Seleções, redigia ensaios, escrevia livros, viajava. Há quem diga que ele não dormia. Judith, sua mulher de toda uma vida, ri, nega, conta que ele escrevia o tempo inteiro, até no avião. Homem disciplinado, controlava o tempo. Foi o que Judith revelou a Guiomar de Grammont, organizadora do Fórum das Letras de Ouro Preto, que escreveu neste jornal, domingo passado, belíssima crônica, dizendo o que todos gostaríamos de ter dito. Emocionante memorabilia. Ali está o jeito simples de Scliar, sua não afetação, o homem tranquilo, preocupado com os outros, sua maneira gaúcha de falar, o tu sempre presente, seus encontros com leitores, estudantes e iniciantes.
O homem que nunca contava sobre o que estava escrevendo. A não ser talvez para os íntimos. Não me lembro de ter lido notícias sobre no que estava trabalhando. Quando a notícia chegava, ele já tinha terminado. Era dos poucos escritores brasileiros que lia livros de outros companheiros, sabia o que estava se passando, citava nomes em entrevistas (coisa rara). Participei dos entrevistadores do Roda Viva da TV Cultura, ano passado, quando ele estava no centro da conversa. Depois nos encontramos no Palácio do Governo, quando recebemos a Comenda da Ordem do Ipiranga. Não podia saber que estávamos nos despedindo. No coquetel, quando levantei a taça de Prosecco e ele ergueu o copo de suco, brindamos pela última vez na vida.
Quando fui a Porto Alegre no dia 20 de janeiro, ele já estava na UTI e tinha sofrido uma cirurgia seguida de um AVC. Estava sedado, assim permaneceu. Num sábado, final do dia, falei com Judith e ela se abriu, dolorida: "Moacyr deve partir entre agora e amanhã". Na madrugada, Scliar se foi. Fará falta!

NELSON MOTTA

Carnaval bem-comportado 
NELSON MOTTA
O ESTADO DE SÃO PAULO - 11/03/11

Pode ser um sinal dos tempos, ou uma tendência conservadora de comportamento, mas no desfile das escolas de samba, um ambiente de pouca roupa e muita sensualidade, contavam-se nos dedos as mulheres com os seios nus. Saudosistas lembravam de Luma de Oliveira e sua comissão de frente sambando diante da bateria como cena de velhos carnavais.
É verdade que a preferencia nacional, ao contrário da americana, nunca foi por seios. E tanto as feministas americanas como as brasileiras odeiam esse assunto. Mas o interesse é antropológico: este ano nem as madrinhas de bateria mostraram seus troféus de silicone. Além de Waleska Popozuda, só algumas raras figurantes se exibiam de peito aberto. E a devassa dos camarotes era a Sandy.
Parece mentira, mas há 20 anos, nos áureos tempos de Joãosinho Trinta, as escolas estavam saindo tão peladas que provocaram a célebre polêmica sobre "genitálias desnudadas" na transmissão do desfile pela televisão. O que mostrar ? De que ângulo ?
Há 15 anos fez grande sucesso - como um quadro do familiar Fantástico - uma série de programas de 10 minutos com histórias baseadas em A vida como ela é, de Nelson Rodrigues. Escrita por Euclydes Marinho e dirigida por Daniel Filho, a série desnudou quase todas as jovens estrelas da Globo na época.
Hoje é algo inconcebível na TV aberta, em qualquer seriado ou novela. Como a abertura de Tieta, de 1989, protagonizada por uma morenaça nua em pelo dançando sob o coqueiral. Nudez agora só por assinatura.
Em compensação, nas últimas novelas, notei que alguns personagens, quando furiosos, já são autorizados a dizer "merda", e já se ouve "babaca" com alguma frequência. Há 20 anos, novela não tinha palavrão, seria um escândalo, um desacato às famílias que assistiam pela televisão ao desfile de seios e genitálias desnudadas.
A TV aberta é o melhor termômetro popular, é um raro espaço em que o povo está de fato no poder: as emissoras fazem todas as suas vontades para garantir a audiência e a publicidade. Entre velhos palavrões e novos pudores, a moral familiar nacional revela os seus valores na Era Lula/Dilma.

LUIZ GARCIA

Pagando o quê?
LUIZ GARCIA
O GLOBO - 11/03/11

Um velho ditado ensina: quem sai aos seus não degenera. Na política nacional, uma variante desse provérbio genético talvez tivesse mais pertinência e oportunidade: quem sai aos seus não se regenera.

Poderia ser esse o caso da deputada Jaqueline Roriz, filha do famoso - o adjetivo mais apropriado talvez seja "notório", muito usado no noticiário policial - Joaquim Roriz, ex-governador de Brasília. Ela tem sobre o pai a visível vantagem de ser muito loura e muito bonita. No mais, parece autêntica portadora dos genes paternos. Outro dia, caiu numa variação do já notório conto do pacote de dinheiro. As vítimas dessa peculiar armadilha são políticos que recebem doações ilícitas - sempre em erva viva - sem desconfiarem que estão sendo filmados. No caso de Jaqueline, um vídeo registra a entrega de um pacote com R$50 mil.

Para o seu partido, o PMN, ela é quase inocente - como se existisse alguma forma de honestidade parcial - e se deixou envolver "ingênua e desnecessariamente" numa "prática nefasta". A escolha dos advérbios é curiosa: parece difícil entender que um político que se preza possa ser ingênuo a ponto de aceitar doações supostamente anônimas em dinheiro vivo. Não é um tipo de presente que costume aparecer na declaração de renda de ninguém: dinheiro em pacote é, quase por definição, dinheiro sujo. É impossível conceber circunstâncias em que seria "necessário" para a deputada botar a bolada na bolsa.

A sua reação à divulgação do vídeo em que aparece recebendo o presente foi desligar-se da Comissão de Reforma Política da Câmara, com o argumento de que "os interesses da sociedade, de um grupo político, devem prevalecer acima de qualquer interesse individual". Devem mesmo, mas certamente não era isso que estava em questão - e sim o fato óbvio de que dinheiro vivo em pacote é, invariavelmente, dinheiro sem explicação de origem ou destino, e costuma atender a interesses difíceis de explicar.

Pois é precisamente isso que precisa ser explicado. Jaqueline pode até renunciar ao seu mandato - espontaneamente, como deveria ser, ou por exigência de seu partido - mas nem isso vai poupá-la da obrigação de revelar a origem do presente e o que ela teria de fazer, ou já teria feito, para merecê-lo.

Por enquanto, o PMN teve reação tímida. Anunciou, em nota, que vai esperar "o desenrolar dos acontecimentos" - que realmente estão bastante enrolados - e afirmou que a deputada foi "envolvida". Ou seja, apressou-se a declará-la vítima ingênua. É aceitável acreditar que quem lhe deu o presente estava investindo, por assim dizer, na sua desmoralização. E isso realmente deve ser investigado.

Ainda que Jaqueline tenha sido vítima de um golpe sujo, ela continua devendo resposta a uma pergunta óbvia e indispensável: o que é mesmo que os R$50 mil estavam pagando?

GOSTOSA

FERNANDO DE BARROS E SILVA

Segurança em xeque
FERNANDO DE BARROS E SILVA
FOLHA DE SÃO PAULO - 11/03/11

SÃO PAULO - A quem interessaria espionar (e desestabilizar) o secretário da Segurança Pública do Estado de São Paulo? A pergunta é a primeira que se impõe diante da divulgação, na internet, de um vídeo mostrando o encontro entre Antônio Ferreira Pinto e um repórter da Folha, no Pátio Higienópolis.
As imagens foram gravadas pelo circuito interno do shopping. Apareceram, misteriosamente, no site de um radialista de São José dos Campos, e logo se disseminaram por vários blogs, um deles ligado a policiais civis. Qual seria o grande interesse dessas gravações?
O próprio site e alguns blogs tratam de especular que o encontro do secretário com o jornalista Mario Cesar Carvalho estaria relacionado à reportagem que este fez sobre a venda de dados sigilosos da Segurança por um funcionário da pasta, que acabou sendo demitido.
O caso, neste aspecto, lembra o escândalo do caseiro. Os que violaram o sigilo de Francenildo acreditavam que ele, vítima de uma delinquência patrocinada por agentes graduados do Estado, sairia do episódio como algoz. O problema, aqui, não está no encontro do secretário, mas na obtenção e no vazamento ilegal das imagens, muito provavelmente obra de policiais.
Geraldo Alckmin parece ter percebido exatamente o que está em jogo. Ontem, numa coletiva em que estava, por coincidência, ao lado do secretário e amigo Saulo de Castro Abreu (Transportes), defendeu o trabalho de Ferreira Pinto e declarou em público: "O shopping precisa explicar melhor isso porque ninguém do governo solicitou nada".
Na gestão de Ferreira, cerca de 900 delegados, num total de 3.300, foram ou estão sendo investigados pela corregedoria. Isso é inédito na corporação. Cardeais da Polícia Civil afastados por suspeita de corrupção fazem lobby pela queda do secretário desde o ano passado. Há muitos processos não concluídos e a banda podre da polícia tem esperança de retomar o espaço perdido.
Isso ilumina a pergunta inicial?

RUY CASTRO

Banalidade e sensibilidade
RUY CASTRO
FOLHA DE SÃO PAULO - 11/03/11

RIO DE JANEIRO - A 30 de junho de 1960, a comerciária Neyde, 23 anos, pegou na escola Taninha, 4, filha de seu amante, o motorista Antonio, que se negava a abandonar a família por ela. Levou Taninha para os fundos do matadouro da Penha, deu-lhe um tiro na nuca, jogou álcool na menina e incendiou-a.
Neyde foi presa e, nas primeiras 12 horas, negou com firmeza a acusação. Mas, por algum motivo, contou tudo a um radialista presente no interrogatório. Pela frieza com que falou, foi chamada de "Mulher-monstro", "A Besta Humana" e, por fim, "A Fera da Penha". Condenada a 33 anos, cumpriu 15 e saiu por bom comportamento. Hoje, aos 72 anos, vive reclusa na pacata Cascadura. Os vizinhos conhecem sua história e seu apodo -quem não?
A 28 de fevereiro último, em Duque de Caxias, outra menina, Lavínia, 6, foi sequestrada e morta pela amante de seu pai -num quarto de hotel, estrangulada com o cadarço do próprio tênis. Luciene, a amante, confessou. Não tão friamente quanto Neyde, mas, como esta, ao sair da delegacia também ouviu gritos de "Lincha!" e "Assassina!".
A associação entre os dois casos é óbvia e tem sido feita. Mas apenas porque, em 1960, a história da "Fera da Penha", com seu tom da grega "Medeia", era mesmo impressionante, e talvez nos chocássemos mais. Os jornais levaram um ano escrevendo todo dia sobre ela, a ponto que, cinquenta anos depois, continua atual. Mesmo hoje, ao chamar Luciene de "Fera de Caxias", é da "Fera da Penha" que se está falando.
Doze dias depois do fato, a "Fera de Caxias" ainda está nos jornais e TVs. Mas seu espaço no noticiário já diminuiu. Mais um pouco desaparecerá e, em breve, terá sido esquecida. É nossa sensibilidade que está encolhendo a olho nu. Temo que, no futuro, ninguém mais se impressione e, por banais, deixemos de tomar conhecimento de notícias outrora chocantes como esta.

GOSTOSA

BARBARA GANCIA

Os intocáveis
BARBARA GANCIA 
FOLHA DE SÃO PAULO - 11/03/11

Bicicleta como meio de transporte não é reivindicação da população de baixa renda


A CENA DO MALUCO de Porto Alegre passando por cima dos ciclistas como se fossem caixas vazias de papelão é tão inusitada que a gente se pergunta: será que enxerguei direito? Dá um "replay", sr. YouTube! Como é que um cara desses anda de carro?
Está certo que não anda fácil: é o estresse de para-choque contra para-choque, são as quase duas horas para se chegar a qualquer canto, são os ânimos acirrados entre motoristas e motoboys... Há muito o que se enfrentar nestes tempos de economia bombando e carros financiados em décadas.
Pois parece que tudo o que não precisamos no momento é trazer para nossos indomados centros urbanos os problemas que ainda não são nossos. Ou melhor, que por ora pertencem apenas a um grupo de garotos mimados e com mais disciplina para exercitar músculos do que para enxergar o próximo.
Não me venha dizer que estar "engajado na defesa da bicicleta como meio de transporte" é uma reivindicação que faz sentido para a população de baixa renda. Não sei muita coisa, aliás, dou-me conta de que se aproxima o dia em que passarei a me comunicar aos rinchos, mas algo me diz que se alguém chegar para a população da Vila Ré ou de Sapopemba e disser que, em vez de transporte público rápido e eficiente, nós vamos agora optar por lindas e espaçosas ciclovias, esse alguém será corrido a pontapés.
Quando ouço os ciclistas que chamam motoristas de "elite", de "covardes" e de "monstroristas" falando em nome da natureza montados no selim de bikes importadas que chegam a custar dezenas de salários mínimos, eu só posso rir.
É uma farsa o que eles estão tentando promover, muitas vezes sem se dar conta da falta de proteína de seu discurso ou do fato de que estão sendo manipulados por oportunistas de todos os tipos, a começar pelos políticos que só precisam pintar uma faixa no chão para ganhar uns votos a mais.
Como já vimos em São Paulo, apenas a ciclovia demarcada no asfalto, sem uma estrutura para apoiá-la, é uma coisinha triste. Só não vemos mais acidentes porque elas são usadas exclusivamente por quem anda de bike como hobby.
O "ciclismo como meio de transporte" (o termo faz mais sentido em Amsterdã, Paris ou para quem pedala aos domingos na av. República do Líbano) quer passar por movimento popular, mas não consegue esconder sua fuça elitista e seu flagrante desrespeito às leis de trânsito toda vez que ele sai em grupo alegremente pela noite, iluminadinho e barulhento, gritando palavras de ordem, brincando de maio de 68 de roupa spandex, se achando moralmente superior e atravancando os semáforos.
Trata-se de um grupo dos mais reacionários, na medida em que se traveste de bom samaritano, mas não admite dissidências nem ter seu "lifestyle" ou "bikewear" ou "mountain goat bike sytle" questionado.
Sei em que formigueiro estou metendo meu dedo. Meses atrás, esta ciclista que vos fala (sim, adoro bicicleta e pedalo regularmente) ousou fazer graça deles e acabou sofrendo uma onda de trollagem (bullying via Twitter) de deixar o Taliban morrendo de inveja.
Sair em passeata para promover a boa convivência entre ciclistas, motoristas, motoboys e pedestres, nem pensar. Bacana mesmo é salvar o mundo e estar sempre certo.

FERNANDO DE MAGALHÃES FURLAN

Um bom ano para a defesa da concorrência 
FERNANDO DE MAGALHÃES FURLAN
FOLHA DE SÃO PAULO - 11/03/11

Recentes decisões do Cade são exemplos que chamaram a atenção de observadores internacionais, como a que condenou o cartel dos gases 


O ano de 2010 foi um dos mais importantes para a defesa da concorrência no Brasil, pois os avanços alcançados pelo país ao longo de muitos anos se cristalizaram em reconhecimentos internacionais importantes, por entidades consideradas referências mundiais. O Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) foi eleito "Agência do Ano nas Américas em 2010" pelo corpo editorial e pelos assinantes da publicação inglesa "Global Competition Review", que é considerada a mais respeitada no tema no mundo.
Nessa eleição, o Cade superou a poderosa divisão antitruste do Departamento de Justiça dos EUA e o Bureau da Concorrência do Canadá, também finalistas na categoria.
Alem disso, a decisão do Cade que condenou o chamado "Cartel dos Gases" foi uma das três finalistas na categoria "Melhor Caso de Aplicação da Lei" de todo o mundo.
Esses primeiros reconhecimentos internacionais do Cade devem ser tributados ao trabalho, ao esforço e à importância do tribunal e dos demais órgãos de defesa da concorrência para o país. Eles distinguem o Brasil pela maturidade institucional que foi capaz de desenvolver na defesa da livre concorrência e da livre iniciativa.
O anfitrião da cerimônia de premiação, no mês de fevereiro, em Miami, resumiu o entusiasmo com a conquista brasileira com as seguintes palavras: "Quem imaginaria, há dez anos, que o Brasil estaria entre os finalistas do prêmio!".
Em 2012, o Cade celebra 50 anos de história, e o prestígio internacional alcançado é um incentivo e um desafio que deve ser encarado com a serenidade e a independência que marcam a sua trajetória.
Com uma equipe enxuta, mas competente e motivada, o Cade tem se destacado não só por suas decisões em questões jurídico-econômicas mas também por inovações administrativas.
A política de negociação de acordos, por exemplo, tem sido muito bem-sucedida e também é reconhecida dentro do Brasil, inclusive por significar um esforço no desafogamento do Judiciário.
Por meio de acordos para pôr fim à persecução do Estado, o Cade já recebeu voluntariamente de empresas envolvidas em casos de conduta supostamente ilícita, como compensação à sociedade, cerca de R$ 200 milhões.
Essa quantia é enviada a um fundo público para financiar projetos que beneficiam o consumidor, o meio ambiente, o patrimônio histórico, dentre outros.
Outras recentes decisões do Cade são exemplos de posições que chamaram a atenção de observadores internacionais, como a que condenou o cartel dos gases, que prejudicava todos os usuários da saúde pública no Brasil (em razão do oxigênio hospitalar), e que incentivou que vítimas daquele acordo ilegal e altamente prejudicial entrassem na Justiça para reaver seus direitos; ou a que condenou a líder em cervejas por ter abusado de sua posição dominante ao excluir concorrentes e limitar a escolha do consumidor.
As boas notícias, aliadas à aprovação, pelo Senado, no início de dezembro, do projeto de lei que reestrutura o Cade e transforma o sistema de análise das operações empresariais de posterior à sua realização para prévio (antes da conclusão das operações) complementam os avanços da última década.
Todas essas notícias são fruto de trabalho dedicado de inúmeros servidores, que atuam e atuaram na defesa da concorrência no Brasil na última década, especialmente.
Tais reconhecimentos refletem os avanços ocorridos na defesa da concorrência no Brasil nos últimos anos e são um tributo ao esforço conjunto de órgãos de defesa da concorrência, de profissionais que atuam na área, das empresas e da sociedade em geral para o avanço do país nessa seara.

FERNANDO DE MAGALHÃES FURLAN, doutor pela Universidade de Paris 1, é conselheiro e presidente interino do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), órgão em que também atuou como procurador-geral.

GOSTOSA

ELIANE CANTANHÊDE

Emergentes, uni-vos!
ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SÃO PAULO - 11/03/11

Devagar e sem pirotecnias, o Brasil atuou decisivamente para uma posição consensual dos países emergentes diante da crise -ou guerra civil, como admite o Itamaraty- em que mergulhou a Líbia.

Enquanto EUA e Reino Unido, por exemplo, ameaçavam com "ações militares", os países do Bric e do Ibas bateram pé para evitar um novo Iraque: qualquer reação armada e até uma zona de proibição de voos na Líbia têm de passar pelo Conselho de Segurança da ONU.

O mundo é outro. Os EUA entraram no Iraque sem saber como sair, e o rastro é desolador.

Depois, contaminaram todos os continentes com a sua crise financeira. Barack Obama tem de ter um olho na opinião pública interna, que não quer nem ouvir falar em guerra e em crise, e outro no cenário internacional, que está mais equilibrado.

Olhar o mundo, hoje, significa olhar e ouvir também os emergentes. A China, sobretudo, mas também Brasil, Índia, Rússia e África do Sul têm peso crescente não só na economia, mas também na política. As decisões, antes exclusivas de Washington, passeiam pela Europa e por todos esses países antes de se transformarem em ações.

Para a diplomacia brasileira, é hora de administrar ganhos, recuperar perdas e agir em bloco, não de buscar protagonismo. Discreto e demasiadamente formal em suas entrevistas, o chanceler Antonio Patriota aparece pouco, mas não está calado nem parado.

Ele se reuniu com chineses e indianos e depois passou a terça-feira de Carnaval com ministros da Índia e da África do Sul (grupo Ibas). Resultado: uma nota que, nos itens 23 e 24, apoia exclusivamente posições consensuais na ONU.

Com dificuldades internas, diante de novas eleições e sob os traumas do Iraque e da crise de 2009, é improvável que Obama queira desdenhar dos emergentes. Logo, os países árabes estão exibindo de fato um novo mundo -interna e internacionalmente.

ILIMAR FRANCO

Foco
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 11/03/11

O plano de ação do PSDB para as eleições municipais do ano que vem é tentar se reestruturar em Porto Alegre, Rio e Manaus, e no Nordeste como um todo, especialmente em Salvador. Nesses locais, o partido está completamente desarticulado. O partido aposta em São Paulo, Curitiba e Belo Horizonte, onde tem chance de vitória. Nas duas últimas, a tendência é reeditar a aliança com o PSB.

Desafios do PSDB
No plano nacional, o PSDB também tenta se reestruturar depois da derrota de José Serra nas últimas eleições. O presidente do partido, deputado Sérgio Guerra (PE), diz que a sigla pretende atualizar suas propostas; desenvolver outra política de comunicação,
para que seja reconhecido em qualquer lugar como o mesmo partido; e fazer uma oposição ativa no Congresso, que compense a falta de número para ganhar votações. Nas entrelinhas, os tucanos estão em busca de um discurso, de unidade interna, e de uma imagem menos paulista. No Congresso começaram mal, divididos na votação do salário mínimo.

ALIANÇA VELADA.
 Lideranças do PT mineiro já admitem apoiar a reeleição do prefeito de BH, Marcio Lacerda (PSB), na foto, desde que o PSDB não apareça na campanha, como ocorreu em 2008. Os tucanos dariam apoio branco ao socialista e continuariam participando da administração municipal em caso de vitória. A Lacerda caberia reafirmar seu compromisso com o projeto Dilma 2014. Pesa na conta dos petistas duas avaliações: um candidato à reeleição é sempre favorito e falta um nome forte e de consenso no partido para concorrer.

“Nossa maior preocupação é a inflação. A tendência é votarmos a favor da correção da tabela (do IR) em 4,5%” — Giovanni Queiroz, deputado federal (PA) e líder do PDT, que foi contrário à proposta do governo de reajustar o salário mínimo para R$ 545

Esqueça 
A presidente Dilma Rousseff já avisou que não vai fazer qualquer alteração nas regras do fator previdenciário neste ano. Essa é uma das reivindicações das centrais sindicais dos trabalhadores, que têm audiência com ela hoje.

Prioridades
O ministro Antonio Palocci ligou para o líder do PMDB, Henrique Alves, semana passada, perguntando quais as prioridades do partido para o segundo escalão. Resposta: Geddel Vieira Lima e José Maranhão para a Caixa.

Fora Kassab
A expectativa da direção do DEM é que o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, não apareça na convenção nacional do partido, na próxima terça-feira. O grupo do presidente Rodrigo Maia diz que há o risco de ele ser hostilizado. Depois que a saída de Kassab tornou-se irreversível, a Juventude do DEM lançou o “Fora Kassab”. O prefeito deve divulgar o manifesto do seu novo partido, o PDB, até o final de mês.

Gritaria
Após o reajuste anunciado pela Anvisa no preço de 20 mil medicamentos, prestadores de serviços do SUS pressionam o Ministério da Saúde a aumentar o repasse de recursos. Os hospitais filantrópicos, que respondem por quatro em cada dez atendimentos,
reclamam que, ao mesmo tempo em que o governo nega mais verbas para manutenção do setor, autoriza o aumento de custos. “No Nordeste, 50% dos hospitais filantrópicos fecham até o fim do ano", diz José Spigolon, da Confederação dos Hospitais Filantrópicos.

 POLÊMICA 1. Depois de reduzir as Áreas de Proteção Permanente nas margens de rio de 30 para 15 metros, o relator das mudanças no Código Florestal, deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), está disposto a diminuir essa faixa em mais 50%.
 POLÊMICA 2. Rebelo recebeu um pedido da Contag e de federações de trabalhadores da agricultura familiar. “Eu acho que eles têm razão”, disse Rebelo, argumentando que a APP maior inviabilizaria a produção dos pequenos agricultores.
 FOLGÃO. Os ministros do TCU enforcaram a semana do Carnaval e terão um feriadão de nove dias. 

FERNANDA KRAKOVICS (interina) com Fábio Fabrini

O ESGOTO DO BRASIL

JOÃO MELLÃO NETO

Quem está certo?
JOÃO MELLÃO NETO
O Estado de S.Paulo - 11/03/11

A principal foto de propaganda do governo de Juscelino Kubitschek (JK) era uma em que ele, o presidente, aparecia, impávido, sobre diversas toras cerradas. O local, se não me engano, era o canteiro de obras da Rodovia Belém-Brasília. Simbolizava o triunfo do homem sobre a natureza. Um novo país que nascia, desbravando as matas, lutando contra a inércia e o fatalismo, dois estigmas desde sempre presentes em nossa cultura ibérica. Não existem determinismos, JK parecia dizer. Não desanimem! Tudo é possível aos homens que creem...

Bem, essa foto nunca mais foi vista. Não pegaria bem, atualmente, em tempos de ecologia e preservação do meio ambiente. O tempora, o mores!, já resmungava Cícero, alguns anos antes do nascimento de Cristo. Oh tempos, oh costumes! Traduzindo para o português. Não adianta reclamar. A cada época, a cada lugar, correspondem valores e costumes próprios. A verdade absoluta não é alcançável. Ao menos não pela razão. Então, o que é mais correto? Lutar para construir um novo mundo ou tratar de cuidar deste que já temos?

É curioso observar que, no Brasil, hoje em dia, as duas ideias se confundem. Os preservacionistas do meio ambiente mais exaltados são os mesmos que, exacerbados, pretendem construir um novo mundo para a humanidade. São defensores radicais do conservadorismo e do progressismo, ao mesmo tempo. Para eles a natureza física não pode ser mexida. Já a natureza humana, pode.

José de Alencar - mais conhecido entre nós como escritor - era também um político influente nos tempos do Segundo Império. De acordo com ele - que era conservador - ambas as forças têm de existir na política: a conservadora, que busca preservar os costumes e as instituições, e a progressista, que entende ser possível aperfeiçoá-los. Sem a segunda, os governos seriam "autômatos". Sem a primeira, a Nação caminharia para o precipício.

Ele estava certo. Há que se aceitar - e defender - que existam as duas. São esses os "freios e contrapesos" que nos garantem a prevalência da democracia. Sempre que se tentou eliminar uma delas, o resultado foi o despotismo. Às vezes ambas se manifestam na mesma pessoa, como é o caso acima mencionado... O problema é que ambas - a força conservadora e a força "progressista" - têm fortes argumentos para se justificar.

Comecemos pela segunda:

Quem acredita no "progresso" e no aperfeiçoamento da natureza humana afirma que os avanços de alguns séculos para cá são evidentes. Foi a partir do "Iluminismo" - quando os homens resolveram pensar de forma independente, deixando os mandamentos da Igreja de lado - que se tornou possível o florescimento da ciência e, por meio dela, o raciocínio dito científico. Racional, por assim dizer. O "século das luzes" foi o 18 da era cristã.

Teria sido graças a essa nova forma de pensar o mundo que se tornou possível a revolução industrial e, por meio dela, todos os confortos da vida contemporânea. Aliás, a palavra "revolução", no sentido de revolver a ordem existente, entrou de vez no vocabulário político a partir daí. Se a razão humana foi capaz de criar maravilhas no campo científico e tecnológico, por que o mesmo não seria possível no que tange às relações humanas e à vida em sociedade?

Se nós, homens, não acreditássemos na possibilidade de nos aperfeiçoarmos, ninguém jamais ousaria nada. E estaríamos até hoje caçando ursos e morando em cavernas. Esse, em suma, é o pensamento dos progressistas.

Já para o pensamento conservador esse "culto ao progresso" tem limites. Para os modernos ambientalistas, esses limites são dados pela própria natureza. Para os conservadores políticos, os limites são dados pelos usos e costumes da sociedade.

Argumentam estes últimos que as leis, a moral e os valores sociais atualmente existentes são o resultado de milênios e milênios de tentativas e erros. Seria muita pretensão acreditar que nós, hoje, somos mais inteligentes do que todos os nossos ancestrais juntos.

Não haveria nada de novo sob o sol, dizem eles. Tudo já foi pensado e experimentado através dos tempos. E não existe filtro que depure com mais eficiência do que a História. Nada de modismos. Se a sociedade é assim, é porque não haveria outra maneira melhor de ser.

Como se percebe, os argumentos de ambas as partes são convincentes.

Em razão dos avanços tecnológicos, nós todos estamos acostumados a viver num ambiente de mudanças constantes. E também a nutrir a crença de que o "novo" é sempre melhor do que o "velho". Mas será que isso vale também para a sociedade? Os progressistas acham que sim, os conservadores dizem que não.

Entenda-se por progressistas todos aqueles que acreditam ser possível uma reengenharia do homem e da sociedade. O predomínio da razão sobre a natureza humana. São eles os marxistas, os positivistas e os revolucionários de todas as bandeiras. Todos eles tentaram transplantar o raciocínio científico para o âmbito das relações humanas. Alguns com sucesso. Outros não.

Com quem estaria a verdade? Será que existe, em termos políticos, alguma verdade?

Posicionar-se de um lado ou de outro, assim, se torna uma questão de escolha. Cada um de nós se guia de acordo com as próprias convicções.

Aliás, quem primeiro se sabe que idealizou uma sociedade perfeita foi o grego Platão. Apesar de ter vivido em Atenas, em seu apogeu, ele - como todos os revolucionários - não tinha lá muito amor pela democracia. Quem disse que o melhor para governar seria aquele que sabe amealhar mais votos?

Conta a História que o rei Dionísio, de Siracusa, impressionado com as suas ideias, o teria convidado para implantá-las no seu reino. Platão, entusiasmado, mudou-se para lá. Não deu certo. Tanto que, poucos anos depois, só restou ao rei mandar prendê-lo.

JORNALISTA, DEPUTADO ESTADUAL, FOI DEPUTADO FEDERAL, SECRETÁRIO E MINISTRO DE ESTADO

GOSTOSA

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Caso a caso 
SONIA RACY

O Estado de S.Paulo - 11/03/2011

O governo Dilma suspendeu concursos e novas contratações como parte dos cortes de R$ 50,1 bilhões previstos no Orçamento. Entretanto, os concursos que já estão em andamento não precisarão ser interrompidos, incluindo aí novas provas, segundo informa Valter Correia Silva, do Ministério do Planejamento. As contratações deverão ser empurradas para 2012 ou mais, mas a lista de aprovados estará pronta.

Nada, então, em 2011? Não é bem assim. Segundo Silva, é possível alguma contratação depois de avaliação rigorosa caso a caso.

Dominó
A crise entre as famílias Odebrecht e Gradin na Braskem respingou na Associação Brasileira da Indústria Química: Eduardo Bernini deixa a presidência da instituição.

E justifica: "Entrei há seis meses com a missão específica de defender uma política industrial para o setor. Como essa era uma bandeira principalmente do Bernardo Gradin, minha permanência por lá não tem mais sentido".

Bê-á-bá
Está em curso a montagem de um Dicionário Jurídico Brasil-Portugal.

José Eduardo Cardozo e Alberto Martins, seu colega de Justiça português, bateram o martelo na constituição de uma comissão binacional para escrever o livro. "Hoje em dia, há termos jurídicos diferentes, mas a ideia é termos uma referência para os dois países", explica Cardozo.

Saia-justa
Por essa Kassab não esperava: enfrentou manifestação contra o aumento da passagem de ônibus em... Paris. Um grupo de 20 estudantes brasileiros plantou-se, terça-feira, na entrada de uma conferência onde o prefeito reunia-se com autoridades do governo francês. Nos cartazes, lia-se: "Kassab nós também estamos aqui".

Coração "amolecido", o prefeito escolheu um integrante da sua comitiva para conversar com a turma.

Direto ao Marrocos
A Royal Air Maroc está em conversas com a TAP e procura a TAM para iniciar operações no Brasil.

Foi o que Abderrafia Zouiten, CEO da empresa, comunicou a Pedro Novais, do Turismo, durante a ITB Berlim. Ao lado de Yassir Zenagui, ministro do Turismo do Marrocos.

Samboleiro
A PM faz apelo a quem for assistir o desfile das campeãs de SP - que reunirá Mancha Verde (do Palmeiras), Dragões da Real (São Paulo) e Gaviões da Fiel (Corinthians): não usar camisetas dos seus times.

Para tentar evitar briga entre as torcidas, a Polícia Militar patrulhará terminais de metrô, ônibus e vias de acesso ao Sambódromo.

Rio-São Paulo
João Carlos Martins, enredo da campeã paulista Vai-Vai, não pretende sossegar hoje, depois do desfile das campeãs.

Está se organizando para sair amanhã... na beija-flor.

Reinado
Dody Sirena, empresário de Roberto Carlos, garante: o Rei estará no desfile das campeãs do Rio.

Depois, tira uma semana para recompor energias e se preparar para shows em abril.

Cortininha
A Rosa Chá fechou suas lojas de Lisboa e NY e, sopram os ventos, deve fechar a de Istambul, ou seja, não sobrará nenhuma no exterior.

Foca em distribuir seus produtos em multimarcas americanas, como a Saks.

Ler para não sofrer
Mesmo com o Oriente Médio pegando fogo, a Abu Dhabi International Book Fair continua de pé.

Marcado para dia 15, evento é o maior negócio do mercado editorial da região: reúne algo como 500 mil títulos literários.

Do baú
Imagens inéditas do governo Getúlio Vargas virão a público. Um conjunto de registros do Estado Novo será transformado em documentário de Eduardo Escorel.

Na frente
José Eduardo Cardozo está lendo Patas Arriba. La Escuela Del Mundo Al Reves, de Eduardo Galeano. Comprado em Buenos Aires este mês.

Edwin Luisi mostrará seu lado transexual em São Paulo. Com o espetáculo Tango, Bolero e Cha Cha Cha, que estreia em abril. No Teatro Shopping Frei Caneca.

O CCBB recebe a partir de hoje a Mostra do Filme Livre.

A Federação Paulista de Hipismo entrega o seu Troféu Eficiência Edição 2010. Amanhã, na Sociedade Hípica Paulista.

Izzy Gordon se apresenta amanhã no The Orleans.

Começa hoje a venda de ingressos para o Chemical Music Festival. Na Arena Maeda.

A mostra O Desenho Deste Lado abre terça. Na galeria Gravura Brasileira.

Marco Pallanti, enólogo, comanda degustação do Chianti Classico no Pomodori. Na segunda-feira.

Chico Moura autografa seu novo livro, Acalanto, no restaurante Soteropolitano. No dia 13 de abril.

Cinco deputados estaduais separam Alckmin do inferno. É o número de parlamentares que o PT teria que conquistar na Assembleia para instaurar, quando quiser, qualquer CPI.

WASHINGTON NOVAES

Desmontar carros e reciclar tudo
WASHINGTON NOVAES
O Estado de S.Paulo - 11/03/11

O governo de São Paulo pretende, em dois anos, implantar as primeiras "desmontadoras de veículos" - informou este jornal (21/2) -, na tentativa de enfrentar o problema da "mobilidade zero" na capital, diagnosticado pelo secretário de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia, Guilherme Afif Domingos. E começará pelos carros e motos reprovados na inspeção veicular e que tenham dívidas fiscais - cerca de 30% a 35% da frota total. Só nos pátios estão mais de 100 mil veículos apreendidos por irregularidades e dívidas.

Os números já não chegam a espantar. Na capital, são 7 milhões de veículos registrados. No País, 35,3 milhões, aos quais em cinco anos se deverão acrescentar 25 milhões. Em 2010 foram 3,5 milhões de carros novos vendidos (inclusive com isenção de impostos), compondo o quarto maior mercado mundial. Só a Polícia Militar aplicou, em 2010, quase 750 mil multas de trânsito na capital (ao todo foram mais de 6 milhões de infrações). Espera-se que este ano sejam 20% mais (Estado, 21/2) e que a receita com elas chegue a R$ 638,9 milhões. No ano passado, de mais de R$ 500 milhões de receita com multas, R$ 170 milhões foram concedidos em subsídios a empresas de ônibus, para "renovação da frota e compensações tarifárias".

Num panorama como este, com 45% das pessoas na capital se deslocando em automóveis (Estado, 10/9/2010), só se poderia mesmo chegar à saturação - e, afinal, à proposta de "desmontar veículos". Mas ela terá de ir além dos pátios repletos de veículos irregulares. E um bom exemplo pode ser encontrado pelas autoridades na Suécia, onde o ônus do "desmonte" e da reciclagem cabe aos proprietários dos veículos, e não ao Estado (e à sociedade toda). Nesse país, ao comprar um carro novo, o proprietário já paga por um certificado de reciclagem, que passará de mão em mão se o veículo for vendido. O proprietário que entender haver chegado a hora da reciclagem, leva o carro a uma empresa autorizada e recebe o valor desse certificado. A empresa começa por retirar todos os fluidos e óleos para reciclagens especiais; depois, tudo o que ainda pode ser utilizado (pneus, vidros, peças etc.) é vendido a terceiros, com garantia de prazo; em seguida, a carcaça é amassada e enviada a outra empresa, que a pica e destina os resíduos a fornos de siderúrgicas, base para asfalto de rodovias e outras aplicações. O país já faz isso com mais de 90% dos veículos que chegam ao fim da vida útil, e espera chegar em breve a 100%.

É um bom exemplo, que deveria ser levado, aqui, também a outras áreas de resíduos. Porque, apesar de acertos da nova Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), os avanços serão difíceis se não se implantar o princípio de que o ônus da solução deve caber a quem gera os resíduos - domiciliares, comerciais, industriais, da construção etc. E isso não está na lei. Ela dá prazo para que Estados e municípios façam seus planos diretores para a área e definam programas de coleta seletiva. Mas como se fará isso, se quase 60% dos municípios brasileiros (3.369, segundo o IBGE) nem sequer têm aterros e depositam resíduos em lixões, alegando falta de recursos? No Estado do Rio são 72 dos 92 municípios. Em São Paulo, 156 dos 645 municípios - e isso em dois dos Estados com mais recursos.

Há algum tempo calculou-se que implantar um aterro para 2 mil toneladas diárias custa R$ 350 milhões. Como o Brasil produz mais de 200 mil toneladas diárias de resíduos domiciliares e comerciais, isso significaria, a grosso modo, que precisamos de áreas equivalentes a mais de 100 desses aterros. Que custariam mais de R$ 35 bilhões. Como o PAC deste ano prevê um total de R$ 1,5 bilhão para a área de resíduos (se não houver contingenciamento), seriam mais de 20 anos só para implantar aterros. Sem falar nos investimentos necessários para a reciclagem em todos os municípios (prevista na PNRS para dentro de quatro anos). E para a implantação de logística reversa nos vários setores (pilhas e baterias; lixo eletroeletrônico; pneus; agrotóxicos; lâmpadas fluorescentes; vidros etc.).

É preciso repetir e insistir: só haverá solução se o gerador de resíduos pagar pela coleta e destinação - como se faz nos países que mais avançaram nessa área, principalmente na Europa. São Paulo chegou a criar uma taxa para os resíduos domiciliares e comerciais na administração Marta Suplicy, mas recuou (e a ex-prefeita chegou a dizer aos jornais que a criação da taxa foi seu "maior erro político").

Da mesma forma, a acertada decisão de dar preferência na política nacional a cooperativas de catadores (eles já seriam 1 milhão hoje) corre riscos, se não se avançar para a implantação de sistemas financiados em que elas disponham de equipamentos para a coleta (caminhões com espaços separados para lixo seco e lixo orgânico) e recebam das prefeituras por tonelagem coletada os mesmos valores hoje atribuídos a empresas que fazem esse trabalho.

É preciso, também, financiar para as cooperativas usinas onde o lixo orgânico seja compostado e transformado em fertilizante (utilizável em jardins, contenção de encostas etc.). O lixo seco, depois de separado na usina, pode ser transformado em telhas (a partir de massa de papel e papelão decompostos, revestida de betume); o PVC, em mangueiras pretas; o vidro pode ser moído e vendido a recicladoras, assim como o alumínio de latas.

Onde se fez isso, gerou-se muito trabalho e renda para uma corporação a quem o País já deve muito, pois, trabalhando de sol a sol, sem nenhuma proteção, ela encaminha a empresas quase tudo o que se recicla de papel, papelão, vidro, pet, alumínio e outros materiais. Em alguns lugares onde isso foi feito, o lixo encaminhado, no final, a aterros, foi reduzido a 20% do total - o que é enorme economia de recursos e de dinheiro para o poder público (e para a sociedade, que paga os impostos).

Se não for assim, corre-se o risco de o novo plano não avançar.

BRAZIU: O PUTEIRO

MERVAL PEREIRA

Passado condena
MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 11/03/11
"Estelionato eleitoral" é uma figura de linguagem que se tornou muito popular na política brasileira e tem utilidade apartidária. Lula, em 1994, acusou o Plano Real de ser um "estelionato eleitoral" que não resistiria a longo prazo, e o candidato tucano José Serra encerrou sua primeira campanha presidencial, em 2002, acusando Lula, que venceria a eleição, de ter que praticar um "estelionato eleitoral" para governar, pois suas promessas não poderiam ser cumpridas.

São dois casos em que a expressão foi utilizada na disputa política, e, se as acusações estavam certas ou não, depende da posição ideológica de cada um.

Mas há em curso hoje um "estelionato eleitoral" que independe da ideologia para ser identificado e punido.

Trata-se do caso da deputada federal eleita em 2010 Jaqueline Roriz, do PMN do Distrito Federal, contra quem o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, pediu ao Supremo Tribunal Federal abertura de inquérito.

A deputada aparece - no que parece ser uma nova fornada de vídeos que faz parte do escândalo que derrubou o governo de José Roberto Arruda - recebendo um pacote de dinheiro das mãos do ex-delegado de polícia Durval Barbosa, que entre 2000 e 2006 dirigiu a Companhia de Planejamento do Distrito Federal, passando como herança do governo Roriz para o de Arruda na qualidade de secretário de Relações Institucionais.

As práticas também prosseguiram, e Barbosa, quando achou que Arruda estava lhe preparando algum golpe, decidiu fazer um acordo de delação premiada e denunciou o esquema de corrupção do qual era um dos atores principais.

Ator nesse caso pode ser usado também no sentido literal, pois Barbosa montou um aparato em seu gabinete que filmava todos os que nele entravam para arrecadar sua parte no esquema, proporcionando cenas memoráveis de degradação explícita.

As cenas são da campanha eleitoral de 2006, e justificaram a Operação Caixa de Pandora, que colocou de cabeça para baixo a política brasiliense.

É aí que fica explicitado o "estelionato eleitoral" de Jaqueline Roriz. À época do escândalo, um dos grandes espantos nacionais era como não havia gravação envolvendo o ex-governador Joaquim Roriz, em cuja administração teve início tal prática de distribuição de dinheiro público.

Sua filha, a mesma Jaqueline, então deputada distrital, teve a petulância de aparecer em um comercial de seu partido na televisão dando supostas lições de moral, defendendo a transparência na atividade política.

Referiu-se à "sucessão de fatos que está envergonhando o Distrito Federal" como se nada tivesse a ver com aqueles escândalos, e criticou a possibilidade de haver uma intervenção federal na política da capital do país.

Se o filme agora divulgado tivesse aparecido naquela leva de 2009, Jaqueline Roriz estaria hoje cassada, não tendo concorrido na eleição de 2010, quando se elegeu deputada federal.

Como esse filme, e muitos outros, estão com Durval Barbosa - que escolhe a melhor ocasião para divulgá-los de acordo com seus interesses políticos -, ele só veio a público agora.

Jaqueline poderia se livrar de qualquer punição dentro do Congresso por uma armação montada pelo PT durante a crise do mensalão, iniciada em 2005.

No Conselho de Ética da Câmara, que analisava em 2007 os pedidos de cassação dos envolvidos no mensalão, surgiu uma proposta, de autoria do atual ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, então deputado federal pelo PT, de que só pudesse haver processos referentes a atos cometidos depois da posse do acusado.

Como o governo tinha a maioria na Comissão de Ética, essa aberração ética foi aprovada e serviria, hoje, para livrar Jaqueline Roriz de uma cassação de mandato.

A tendência era essa, até a sociedade se mobilizar para lembrar aos deputados que há limites para a falta de decoro coletiva.

O primeiro passo foi a renúncia da deputada da comissão de reforma política, evitando assim que a desmoralização fosse completa - embora nela permaneçam vários deputados envolvidos em processos justamente por acusações de ilegalidades em campanhas eleitorais, um dos temas centrais do debate da reforma.

O passo mais importante foi levar o presidente da Câmara, Marco Maia, a enxergar a possibilidade de uma punição onde inicialmente ele não via nenhum indício de crime.

Mesmo diante do ato de corrupção ativa filmado, e da voz da deputada gravada pedindo um aumento da parte que lhe cabia naquele escândalo, Maia não se comoveu, querendo mais evidências.

Pegou tão mal seu autismo político, que ele agora já está disposto a instalar o Conselho de Ética, o que só não aconteceu porque o corregedor da Câmara, o deputado Eduardo Fonte - mais conhecido como Dudu, um pupilo do famigerado Severino Cavalcanti, que renunciou à presidência da Câmara por envolvimento em um episódio de corrupção -, estava viajando.

Deve-se também à ação do PSOL essa mudança de atitude. O senador Randolfe Rodrigues, do Amapá, e o presidente do PSOL no Distrito Federal, Toninho de Andrade, entregaram requerimento à Corregedoria da Câmara pedindo a abertura do processo, que, na semana que vem, quando o Conselho de Ética for instalado, será analisado.

A possibilidade de punição tem precedentes, inclusive familiares: Joaquim Roriz, pai de Jaqueline, denunciado por uma negociação suspeita ocorrida antes do início de seu mandato, renunciou ao Senado em 2007 para não ser cassado.

Mas o presidente da Câmara é que trouxe ao debate a questão do "estelionato eleitoral" de Jaqueline. Como ela se apresentou como candidata a deputada federal, sem que os eleitores soubessem que cometera o crime agora revelado, os teria induzido a erro.

Se a moda pega...

JANIO DE FREITAS

Um passo em boa hora
JANIO DE FREITAS
FOLHA DE SÃO PAULO - 11/03/11
A ocasião para tentar algumas mudanças é propícia como não se via há bastante tempo no Congresso

É IMPROVÁVEL QUE alguém negue a desordem do sistema político, incluídos os despropósitos vigentes nas duas casas do Congresso, como responsável pela maior parte dos desregramentos e ineficiência que retêm o Brasil com tantos atrasos. Nessas circunstâncias, são quase inacreditáveis duas surpresas proporcionadas pela atividade política e institucional neste começo de ano.
No país em que os anos só começam depois do Carnaval, quando não depois da Semana Santa, Câmara e Senado entregaram-se a uma atividade que resultou na aprovação de cerca de uma dúzia e meia de projetos. Entre eles, o do salário mínimo, em que muitos jornalistas e os sindicalistas viam uma crise a ameaçar Dilma Rousseff, e não passou de disputa típica das democracias, entre Executivo e Legislativo.
A outra surpresa é maior e melhor: no Senado são fortes os indícios de disposição, e mesmo de certa ansiedade, por iniciar-se, afinal, um processo de reformas, com a chamada reforma política como ponto de partida por iniciativa parlamentar.
O reverso da surpresa senatorial é a banalidade, e, nesse caso, por motivo não menos banal. Está na Câmara. As lideranças partidárias dos deputados invocam a iniciativa isolada do Senado para justificar a reação da Casa: "Se o Senado pensa que vai decidir sobre coisas relacionadas aos deputados, está muito enganado". É claro que um projeto de reforma política envolverá, já por tratar de partidos e métodos eleitorais, interesses dos deputados, como também dos senadores.
O problema não está na iniciativa isolada do Senado com a providência, tomada pelo senador José Sarney, de criar uma comissão para debater e compor um anteprojeto de reforma política. A iniciativa devia ser essa mesma, ainda que Sarney, como presidente também do Congresso, pudesse propor uma comissão mista de senadores e deputados. Mas as previsíveis dificuldades de entendimento, para tal arranjo, retardariam ou emperrariam o propósito básico.
Dúvidas a respeito não resistem à mera observação dos nomes indicados, pelos líderes de bancadas, para compor a comissão da Câmara a título de fazer, também, um anteprojeto de reforma política. É difícil não admitir que líderes concordaram, entre si, na indicação de nomes associados, por fatos e na opinião pública, não a reformas, mas ao que precisa ser reformado.
Uma das indicações, a deputada Jaqueline Roriz, já se foi, com seu pacote de dinheiro escuso, antes mesmo da primeira reunião. Lá continuam, suficientes para manter o tipo de representatividade da comissão, Valdemar Costa, que renunciou ao mandato anterior enrolado em R$ 4 milhões do mensalão; Almeida Lima, o Almeidinha, extensão de Renan Calheiros nas situações embaraçosas; José Guimarães, tornado notório no episódio dos dólares na cueca; e Paulo Maluf, mais imortal do que os integrantes da Academia Brasileira de Letras.
A contraposição Senado-Câmara só pode ser solucionada fora do Congresso. Por eventual ação de duas frentes. Uma, do empenho do governo, caso aprove alguma proposta, para mobilizar apoios em sua base, repleta de recalcitrantes e adversários da reforma. Outra, da importância atribuída à reforma, e depois a um anteprojeto, pelos meios de comunicação, como expressões da opinião pública. Já vimos decisões de Câmara e Senado com essa procedência.
A ocasião para tentar algumas mudanças é propícia, com o ambiente reinante, apesar dos economistas de praxe, como não se via há bastante tempo. Além do mais, por ser início de governo e pela distância das eleições de deputados e senadores, sempre um motivo de defesa dos velhos meios e métodos.
Um passo foi dado.

GOSTOSA

MÔNICA BERGAMO

SAMBA.COM
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SÃO PAULO - 11/03/11

Adriana Calcanhotto lança o CD "O Micróbio do Samba", no dia 21. A cantora disponibilizou em seu site a música "Tá na Minha Hora", em que homenageia sua escola favorita, a Mangueira.

CUNHA OLÍMPICO
O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) foi escalado pelo governo para negociar na Câmara regras para licitações especiais da Olimpíada de 2016. Um cardápio de obras poderá ser realizado com normas mais flexíveis de concorrência, para acelerar os prazos. A Prefeitura do Rio quer indicar quais serão elas. Há gente no governo contra. Quer que a lista seja feita exclusivamente pela APO (Autoridade Pública Olímpica).

CUNHA 2

"Fui escolhido pela liderança do governo por ter articulação dos dois lados [Prefeitura do Rio e governo federal]", diz Cunha. Ele defende que, quando os recursos vierem da Prefeitura do Rio, ela faça a lista das obras para submeter à APO, e não o contrário. Uma reunião com técnicos do governo e deputados da oposição, na segunda-feira, discutirá eventual acordo sobre o tema.

MÃE É MÃE
Roberto Carlos dedica o título da Beija-Flor a sua mãe, Lady Laura, "que me ensinou os primeiros acordes". Ele queria fazer a declaração a jornalistas na quadra da escola, anteontem, ao comemorar o campeonato -mas ninguém se lembrou de falar com ele sobre o assunto.

NA MÃO DE DEUS

Além de Roberto Carlos, a Sony lança neste ano disco inédito de outro campeão de vendas: padre Marcelo Rossi.

A MÃO DO TREINADOR

O promotor Paulo Castilho, do Juizado Especial Criminal, deve instaurar inquérito sobre a conduta do técnico Luiz Felipe Scolari, do Palmeiras, no clássico contra o São Paulo, no dia 27. Ao se dirigir para o vestiário antes do jogo, Felipão teria feito um gesto obsceno em direção à torcida rival. O promotor quer as imagens de TV para ver se houve excesso e incitação à violência. A assessoria do treinador nega que ele tenha feito qualquer gesto.

DASLU NO VERDÃO
E o presidente do Palmeiras, Arnaldo Tirone, convidou Eliana Tranchesi, da Daslu, para escolher os tons de verde das camisas do clube. Ele não gostou da cor prevista para o modelo de 2012, que lembrará os 70 anos da mudança do nome Palestra Itália para o atual. Achou o verde "muito militar". Também quer que a palmeirense Eliana indique estilistas para criarem uniformes do time.

O CARRO NA FRENTE
O clube também planeja, para 2013, uma camisa comemorativa da inauguração de seu estádio, cujas obras mal começaram. Será verde e prata. O croqui foi exibido a Arnaldo Tirone pela Adidas.

CLONE
Será lançada no fim do mês, no Brasil, uma reprodução idêntica ao original do livro "Mensagem", do poeta português Fernando Pessoa. A obra, que será publicada pela editora Babel, terá até emendas feitas pelo escritor.

CANTANDO DE GALO
Pegou mal no Galo da Madrugada a brincadeira do prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), dizendo que o Cordão da Bola Preta, recordista de público no Carnaval, "deu uma chinelada" no bloco pernambucano, "que está cocoricando mal cocoricado até agora". "Quando o prefeito trouxer o Guinness para oficializar o recorde do Bola, pode anotar também os recordes de maior favela do mundo, de criminalidade e de tráfico", diz o presidente do Galo, Rômulo Menezes.

OVOS DE OURO
E o Galo da Madrugada cogita cobrar de Daniela Mercury, que cancelou sua participação no bloco na madrugada do desfile, uma multa pelo "bolo". O acordo previa a punição em caso de quebra de contrato. A cantora anunciou que devolverá o cachê e assumirá todos os custos do cancelamento, incluindo o jatinho e o hotel reservados.

MUDANÇA
Arianna Huffington, cofundadora e editora do "The Huffington Post", deixou ontem a Califórnia para viver em Nova York. A mudança faz parte do acordo de venda do site americano para a AOL, por US$ 315 milhões.

BEIJO DE CINEMA
Para quem achava que o Carnaval tinha acabado, a Quarta-Feira de Cinzas no Rio foi agitada. O bloco Me Beija Que Sou Cineasta rodou a Gávea. Entre os foliões, as atrizes Maria Paula e Isadora Ribeiro, o músico Otto, o ator Matheus Nachtergaele e a produtora Vânia Catani.

CURTO-CIRCUITO

O bailarino Tadashi Endo apresenta, de hoje a domingo, o espetáculo "Ikiru", homenagem a Pina Bausch, no Teatro de Dança. 12 anos.

O advogado Paulo Iasz de Morais falará sobre os benefícios e desafios do monitoramento eletrônico de detentos em seminário no dia 2 de abril, às 9h30, no salão nobre da OAB de São Paulo.
A peça "A Alma Imoral" reestreia hoje, às 21h30, no teatro Cultura Artística Itaim. Classificação: 18 anos.

A Soul Boogie Orchestra se apresenta hoje, às 22h e à meia-noite, no The Orleans. Classificação: 18 anos.

A peça "O Grande Grito" estreia hoje, às 21h, na sala Jardel Filho do Centro Cultural São Paulo. 14 anos.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY