sábado, maio 05, 2012

Água gelada - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 05/05/12

Lula está sem nenhum movimento na perna esquerda. Vai intensificar a fisioterapia.

Aliás...

No fim da solenidade em que recebeu títulos de doutor honoris causa, no Rio, ontem, o ex-presidente se queixou da garganta.
Levou uma bronca de Dilma por beber água gelada.

Isto é Dilma

Veja um exemplo do jeito Dilma de ser. O powerpoint apresentadopelo ministro Guido Mantega com as novas regras para as cadernetas de poupança tinha como nome... “Versão 26”. Ou seja, a presidente pediu, acredite, mudanças em 25 projetos anteriores.

Delta à venda

O Palácio do Planalto recebeu algumas sondagens sobre como reagiria se a Delta fosse vendida ou passasse adiante os seus contratos para obras federais. O governo adorou a ideia.

Segue...

A Rádio Cimento diz que a Odebrecht é a mais forte candidata a receber o espólio da Delta. A conferir.

Lotação esgotada

Os hotéis do Rio tiveram ocupação de 90% no feriadão do Dia do Trabalho.

Mãe do Brasil
Eduardo Paes vai batizar uma maternidade que inaugura este mês, no Centro do Rio, de Maria Amélia Buarque de Hollanda (1910-2010), a mãe de Chico Buarque, Miúcha e da ministra Ana de Hollanda, entre sete filhos. Merece.

ESTA BELEZA de postal da natureza é obra do correspondente da turma da coluna no mundo dos bichos e das plantas do Rio, Laizer Fishenfeld. Repare que a garça, em seu voo gracioso, carrega no bico o peixe que acabou de pescar nas águas da Lagoa Rodrigo de Freitas. Uma pintura.

Ao natural
Pesquisa do site do canal de saliência Sexy Hot com 400 internautas mostrou que 58% preferem seios... sem silicone.

Modelos na moda

Primeiro foi Madonna que pescou por um tempo um modelo brasileiro, Jesus Luz. Agora, segundo a “Época”, a atriz Sharon Stone namora o modelo Martin Mica. É argentino, mas mora em Florianópolis.

Caso Oscar

Por ordem do TST, a CBF inscreveu ontem o jogador Oscar, pivô de disputa entre São Paulo e Inter, no clube gaúcho. Mas o diretor jurídico da entidade, Carlos Eugênio Lopes, diz que a liminar trará insegurança jurídica: — Os clubes poderão, a qualquer momento, perder um atleta em plena vigência do contrato de trabalho e sem qualquer indenização.

Xô, helicópteros!
Moradores da Zona Sul do Rio, num movimento que reúne 19 associações de bairros, vão promover um ato, amanhã, às 11h, em frente ao heliponto da Lagoa, contra o excesso de helicópteros no céu da cidade. Veja o cartaz do protesto, acima. A queixa é contra o sobrevoo em áreas residenciais e de proteção ambiental.

Corredor do Fórum

Dois adolescentes moradores de um condomínio de luxo na Barra foram condenados pela 5ª Câmara Cível do Rio a indenizar em R$ 20 mil uma vizinha já idosa, que teve o capô do carro pisoteado. Os menores alegaram que subiram para fugir de um cachorro bravo. Mas foram desmentidos por testemunhas. Entre elas, outro jovem envolvido, que fez acordo com a vovó. A relatora foi a desembargadora Zélia Machado.

Polêmica do baralho

São julgadas no Juizado Criminal da Barra, no Rio, nove pessoas presas em 2010 num jogo de pôquer na Associação Quebra- Mar de Texas Hold’em, no bairro. O que se discute é se pôquer é jogo de azar ou uma brincadeira.

Segue...

Os réus apresentaram laudo do perito Ricardo Molina e parecer do advogado Miguel Reale Jr., dizendo que o jogo “é de habilidade, não de sorte”. Há controvérsias.

A arte do porre - MARCELO RUBENS PAIVA


O Estado de S.Paulo - 05/05/12


Sim, álcool faz mal, e existe arte no ato de beber. Cada bebida tem o copo apropriado, a temperatura ideal, o ritual a ser cumprido, assinatura do fabricante e história.

Algumas regras devem ser seguidas, para que uma noite de celebração não estrague os sóbrios dias seguintes. Apesar de tentador, evite falar verdades que estão há tempos entaladas no gogó. Risque do mapa as palavras exorcizar, desabafar. Não é preciso, naquele momento em que o pileque começa a agir, ser verdadeiro e sincero. Beba, fique alto, continue sorrindo, fale o mínimo possível e concorde com tudo. Especialmente se o patrão estiver por perto.

Aos carentes: na segunda dose, dê o celular para um amigo guardar, para não mandar mensagens com resoluções definitivas, provas de amor absoluto, arrependimentos tardios. Nem tente telefonar de madrugada para uma paixão desfeita que, a essa altura, assinou em cartório uma declaração de convívio marital com outra pessoa, faz planos de viagens longas para países exóticos e pesquisa em qual escola próxima matricularão a prole que será responsável pela mudança da categoria do veículo familiar de sedam para minivan.

É na adolescência que o primeiro porre é experimentado. No estágio em que abandonamos o luditismo infantil, em que nos apontam as responsabilidades e decisões que virão, descobrimos que o álcool pode nos deixar soltos, inconsequentes, divertidos, sem o domínio do corpo e da mente. Quando não somos mais crianças, talvez bebamos para voltar a ter a irreverência e espontaneidade de uma.

Há milênios que se descobriu que a fermentação de frutas e cereais dá barato. Cerveja e vinho foram inventados antes das tampinhas, rolhas, rótulos e enólogos chatos, que demoram mais tempo cheirando e olhando a bebida contra a luz do que sorvendo. Muito tempo depois, os árabes inventaram os destilados. Nasceu o porre homérico. Que não se sabe se foi relatado na Ilíada ou Odisseia.

Fazemos bebida de tudo: milho, trigo, cevada, cana, uva, alcachofra, batata, arroz, anis, maçã, combustível de carro, lancha e avião.

O vinho talvez seja a bebida mais cultuada. Bíblica, não se deve tomar um porre dela. Melhor apreciar, degustar. Ou você deseja acordar com a língua colada no céu da boca e uma sede que o Delta do Nilo não mataria? Suas variações, champanhe, vinho branco, prosecco, apesar de populares em casamentos, deveriam vir acompanhadas por dipirona sódica em gotas. Dores de cabeça são comuns aos que as ingerem em excesso.

O remédio que se deve tomar um antes e outro depois ajuda a diminuir os efeitos físicos de uma ressaca. Porém, a ressaca moral e a sensação de que até uma ária de um quarteto de cordas de Bach faria a sua cabeça explodir continuam. Já vi Engov como brinde em banheiro de casamento. Poderiam incluir o hidróxido de alumínio, ácido acetilsalicílico e maleato de mepiramina, princípios ativos do remédio, nos bem-casados que costumamos afanar.

Mas o profissional tem uma técnica infalível para beber, continuar bebendo e não dar trabalho: alterna uma taça com um copo de água. Bebe com a disciplina de um jogador de xadrez. Pensa nos próximos lances com bastante antecedência. E ouve muito mais do que fala.

***

É no Retorno de Saturno, fenômeno astrológico que serve de desculpa para as irresponsabilidades juvenis, que ocorre a cada 28 anos, que se descobre que não bastam, como antes, apenas algumas horas de sono para curar uma ressaca.

Sim, envelhecer é aprimorar o desejo de que a vida imite a arte e, como num filme da Lars Von Trier, um planeta se choque com a Terra, depois de se acordar duma noite daquelas. No segundo Retorno de Saturno, quando a vítima completa 56 anos, só se toma um porre se está em dia com o plano de saúde e próximo a hospitais conveniados.

Cada pessoa tem seu nível de tolerância. Alguns enxugam uma garrafa de uísque e mantêm a irritante lucidez de um comentarista econômico em tempo de crise cambial. Outros tomam dois chopes e se comportam como líderes de uma facção criminosa associada a uma torcida organizada que chefia a bateria de uma escola de samba.

Há mais coisas em comum num pileque do que rege os alertas do Ministério da Saúde. Porre de uísque deixa o bebum inteligente. Acompanhado de muita água, acorda bem se o armazenamento do mesmo durou 12 anos ou mais. A não ser, claro, que tenha sido destilado, engarrafado e envelhecido em toneis paraguaios, produzido pelas águas das nascentes do Chaco.

Não existe melhor porre que o de tequila. É a bebida da alegria. Nos sentimos vibrantes, felizes, como solistas de um grupo mariachi. Sua ressaca, porém, nos remete ao sofrimento dos inimigos dos Maias, cujas cabeças rolavam por suas pirâmides.

O melhor porre não necessariamente implica maior ressaca. Mojito tem a fórmula mágica de juntar as delícias do rum com o frescor tropical da hortelã. Como nossa caipirinha, consegue refrescar e abastecer de vitaminas. O problema é a vontade de dançar salsa sozinho no banheiro.

Caipirinha, símbolo pátrio, é a prova de que nossa miscigenação é ampla: pode ser de saquê do Oriente, vodca eslava ou cachaça nacional; pode ser açucarada, adoçada, light ou diet; qualquer fruta, doce ou amarga, se casa com o sabor do destilado de alto teor alcoólico; e, enfim, vem em cores exuberantes como as do kiwi ou frutas vermelhas, que deixariam um impressionista impressionadíssimo.

Dry Martini é a bebida mais conflituosa, pois não existe uma receita universal. O que mais se escuta em balcões: barman exaltando sua fórmula secreta. A discussão sobre a receita original do Dry Martini é mais polêmica do que a tese de que Lee Harvey Oswald agiu sozinho. Pode vir com a entrada; uma azeitona, ou cebolinha. Seu copo é exclusivo da bebida. É gelado, mas esquenta. Tem um efeito psicotrópico prolongado. Alterna o estado da consciência, sem dar muito trabalho aos amigos.

Em A Cultural History of Alcohol, Iain Gately escreveu que os pileques dos nossos antepassados fariam os de hoje parecerem festinhas em conventos. Desde que se descobriu que o álcool tem ação inibidora sobre neurônios dopaminérgicos do sistema límbico, o porre tem assento cativo na história do mundo ocidental e oriental.

Aliás, foi em 8000 a.C. na China que o primeiro "mé" foi encontrado, um drinque de arroz, mel, uvas e cerejas fermentadas. Os sumérios inventaram a "breja", que a elite bebia com canudinhos de ouro. É sabido que cada peão que erguia as pirâmides do Egito ganhava em média 5 litros de cerveja por dia.

Em qualquer achado arqueológico existem mais garrafas de bebida do que moedas. Tutancâmon, faraó da 18.ª dinastia, foi sepultado com uma bela máscara de ouro e 26 jarras de vinho. Os gregos tinham 60 variedades da bebida. Os romanos passaram a produzir e distribuir em larga escala. Soldados romanos ofereciam vinho "de presente" aos inimigos, para dominá-los na ressaca. Qualquer leitor de Asterix conhece o truque.

Sem fazer proselitismo, sabe-se que o alcoolismo é um grave problema de saúde pública. Mas lembre-se que a bebida já foi considerada remédio, e que a revolução americana foi liderada por um fabricante de uísque, George Washington. Sem contar que a Declaração da Independência foi escrita num boteco da Pensilvânia.

Se você conseguiu chegar até o final deste texto, beba com moderação. E é bom lembrar, se for beber não dirija.

Passaporte para o doping - HÉLIO SCHWARTSMAN


FOLHA DE SP - 05/05/12


SÃO PAULO - O corredor português Hélder Ornelas foi o primeiro representante do atletismo a ser suspenso por doping com base em seu passaporte biológico, o registro eletrônico dos parâmetros biológicos de cada atleta profissional.

Cansadas da corrida armamentista contra sucessivas gerações de substâncias cada vez mais difíceis de detectar, as autoridades esportivas decidiram apelar ao conceito de passaporte biológico. Por ele, o atleta não precisa mais ser pego num teste de drogas. Basta que seja flagrado com um perfil hematológico ou metabólico diferente de seus parâmetros habituais, e já poderá ser condenado.

A noção enseja interessantes discussões jurídicas e estatísticas, mas pretendo abordar uma questão mais básica, que é a da própria legitimidade das ações antidoping.

Em princípio, a ideia de impedir que alguns atletas obtenham vantagem indevida recorrendo a drogas é inatacável. Mas, quando a examinamos mais de perto, vemos que o conceito é precário. Tomemos o caso da eritropoietina, que aumenta a concentração de glóbulos vermelhos no sangue. Ela está proibida, mas é possível obter o mesmo efeito mudando-se para cidades em grandes altitudes, como La Paz. Uma interpretação draconiana da vantagem indevida recomendaria impedir bolivianos e tibetanos de participar de competições -o oposto do ideal olímpico de integração dos povos.

E as autoridades esportivas não se limitam a tentar evitar que alguém obtenha auxílio químico.
Arrogando-se o papel de regulador moral que ninguém lhes atribuiu, elas também vedam o uso de drogas "potencialmente danosas" à saúde do competidor, mas que não têm nenhuma chance de melhorar-lhe o desempenho. É o caso da maconha e de narcóticos em geral. Ora, se um sujeito sob efeito de heroína vence uma maratona, deveria ganhar duas e não uma medalha, pois ele é insofismavelmente muito melhor que os demais.

O cafofo infalível - LEONARDO CAVALCANTI


Correio Braziliense - 05/05/12


Entre os teóricos da violência urbana há uma máxima desgastada e conhecida como a “Teoria das janelas quebradas”. De tão usada no meio acadêmico, virou referência para quase tudo — e passou a ser lembrada para várias situações do cotidiano. Os defensores a aplicam nos discursos para mostrar a necessidade de reparar um dano no início, para que ele não se propague em escalas cada vez maiores.

Na teoria, é mais ou menos o seguinte: quando vândalos quebram uma janela de um edifício ou de um carro, o recomendável é consertá-la o mais rápido possível. Caso contrário, outras janelas serão quebradas e, mais cedo ou mais tarde, se perderá o controle. Os vândalos ganharão espaço.

A teoria, citada pela primeira vez por James Wilson e George Kelling, tem vários críticos na academia, principalmente porque a máxima nunca foi posta à prova para resolver problemas de violência urbana em maiores proporções. Mistura num mesmo pacote desordem e violência. Mas a tese sempre funciona ao ser sacada no meio de uma discussão. Mesmo que seja pela controvérsia da teoria.

A tese das janelas quebradas me veio à cabeça com a decisão da cúpula dos integrantes da Comissão Parlamentar de Inquérito do Cachoeira em guardar num cofre os documentos das operações da Polícia Federal contra o grupo do bicheiro. Parte das informações foi vazada por todas as janelas.

O presidente da comissão, senador Vital do Rêgo, decidiu criar uma “caverna” monitorada para guardar as investigações produzidas até aqui, vazadas ou não. Como bem observou o repórter João Valadares, do Correio, decidiram passar a chave depois que a porta já estava escancarada.

Espertos
Localizada no subsolo da sala reservada à CPI, a “caverna” é repleta de câmeras, e não tem internet. Além disso, é vigiada dia e noite por 12 policiais. Ali, só pessoas autorizadas, como os nobres parlamentares, podem entrar. Mas, para isso, precisam deixar os equipamentos eletrônicos, como celulares, de fora da caverna. A estratégia dos guardiões do cafofo infalível é evitar que um espertinho fotografe os documentos que servirão ao trabalho parlamentar. Todo cuidado é pouco.

O diligente Vital do Rêgo ainda pensou em mandar instalar um detector de metais na porta da caverna ou cafofo, como a sala também passou a ser chamada. Foi demovido da ideia ao ser lembrado por alguma alma mais atenta que os nossos políticos são desobrigados a se submeter a revistas.

Culpados
O que não explicaram direito é a razão de tanta proteção se parte dos documentos já vazou e continuará vazando, mesmo que os parlamentares consigam manter o segredo na caverna. E não há mal nenhum em tal coisa. Demóstenes Torres (ex-DEM-GO), por exemplo, não se tornou mais ou menos culpado porque se descobriu a proximidade dele com Carlinhos Cachoeira antes do fim da CPI.

As reportagens sobre as investigações contra Demóstenes foram importantes para desmistificar um político de discurso moralista, por mais triste que isso possa ser para os eleitores e agora ex-admiradores dele. Sem as publicações, a própria CPI possivelmente não teria nem sido criada, pelo menos agora.

E, de mais a mais, o que está em jogo até aqui é o fôlego dos integrantes da comissão em conseguir avançar nas investigações, apontando os envolvidos em corrupção, sem protegidos. Em relação aos vazamentos, as janelas já foram quebradas. E não por vândalos, mas por jornalistas que apenas fazem o seu trabalho. Mais uma vez a teoria não pode ou, muito menos, deve ser aplicada. Melhor assim.

Dilma surfa - FERNANDO RODRIGUES

FOLHA DE SP - 05/05/12


BRASÍLIA - Três fatores serão determinantes para o sucesso da atual cruzada de Dilma Rousseff contra os bancos privados e a favor de uma queda nas taxas de juros.

Primeiro, a população terá de entender e apoiar a modificação na remuneração da caderneta de poupança. O modelo era simples e ficou menos inteligível para o cidadão médio. Mas, como a alteração foi minimalista, há chance real de o governo ganhar a disputa política. Os partidos anti-Dilma não encontraram um bom discurso até agora. Apenas resmungam que o governo está "tirando dos mais pobres".

O argumento da oposição é precário. A poupança inalterada seria o porto seguro para rentistas ricos num cenário de juros baixos.

A rigor, a oposição só se dará bem se Dilma fracassar na tentativa de forçar uma queda dos juros cobrados aos consumidores. Esse é o segundo fator relevante para a atual estratégia presidencial.

Mas já está claro que alguma queda de juros haverá -embora ninguém se arrisque a cravar qual será o patamar final. Se o efeito for sentido pelos brasileiros que pagam faturas atrasadas de cartão de crédito, estará neutralizado o discurso dos partidos anti-Dilma.

Nessa hipótese plausível de juros em queda, a presidente dirá que a poupança teve uma perda de rendimentos compensada pelos juros mais baixos cobrados pelo comércio e pelos bancos.

Chega-se então ao terceiro componente dessa equação imaginada no Palácio do Planalto: a economia terá de apresentar até dezembro um desempenho melhor na comparação com 2011. Essa é uma previsão sempre arriscada. Já há sinais de um Natal com vendas mais aquecidas, porém é notório como esses vaticínios são frágeis no Brasil.

Feitas as ressalvas de praxe, é visível a existência de uma conjuntura mais pró-Dilma do que contra ela. A presidente surfa uma boa fase
.

PSDB enquadrado - ILIMAR FRANCO


O GLOBO - 05/05/12


Foi assim. O presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE), e o líder na Câmara, Bruno Araújo (PE), pediram ao deputado Carlos Leréia (GO) que se licenciasse do partido devido às suas ligações com o contraventor Carlos Cachoeira. Leréia reagiu: "Peraí. Deixa eu ver. Vocês querem se livrar de mim porque sou amigo do Cachoeira há 30 anos. E o (deputado) Eduardo Azeredo (MG), que é réu na Justiça? E o (senador) Cícero Lucena (PB), que foi preso? E vocês querem expulsar a mim?"

Prefeitos pressionam por royalties
Os prefeitos preparam uma grande marcha a Brasília no dia 15 de maio. Ela vai ocorrer um dia após o deputado Carlos Zarattini (PT-SP) apresentar seu relatório ao projeto de distribuição dos royalties do petróleo. O presidente da Confederação dos Municípios, Paulo Ziulkoski, diz que a proposta de Zarattini retira receita de R$ 6 bilhões ao ano dos municípios não produtores, em relação à proposta em debate no Senado. Os prefeitos também vão protestar contra novos gastos aprovados pelo Congresso, como piso dos professores e Emenda 29, sem fixar fonte de receitas como prevê a Lei de Responsabilidade Fiscal.

"A CPI não vai deixar escapar os culpados e não pode punir inocentes por vingança” — Miro Teixeira, deputado federal (PDT-RJ) e integrante da CPI do Cachoeira 

FORA COLLOR! Os petistas que participam da CPI do Caso Cachoeira pretendiam eleger o senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) para a vice-presidência da comissão. O que une os petistas e Collor é a disposição de usar a CPI para promover um ajuste de contas com setores da mídia. Eles desistiram depois que outros integrantes alertaram que isso provocaria a desqualificação da investigação e a autodissolução da comissão.

Memória
Foi o presidente do PCdoB, Renato Rabelo, quem lembrou, na reunião do Conselho Político, que a mudança da poupança foi uma evolução em relação a 2009. Naquela oportunidade, os maiores poupadores, 10%, seriam atingidos.

Começo do fim
Será na próxima quinta-feira ou no dia 15 o depoimento do senador Demóstenes Torres (GO) no Conselho de Ética do Senado. O colegiado votará terça-feira relatório do senador Humberto Costa (PT-PE), que pede a sua cassação.

Os governadores querem carona
A cruzada da presidente Dilma para reduzir os juros animou os governadores, que consideram que se abriu uma janela para que renegociem a remuneração das dívidas dos estados com a União. Eles vão pedir isonomia e cobrar coerência do governo federal. A proposta que está na mesa muda o atual indexador de IGP (mais 6% a 9% da TR) para Selic. Os governadores querem um índice que não seja gerido pelo credor.

Erosão
As fotos festivas do governador Sérgio Cabral (RJ), no exterior, com o empreiteiro Fernando Cavendish (Delta) e integrantes de seu governo, segundo aliados, repercutem muito mal no Rio e abalam sua imagem na classe média.

O articulador
Membro do Conselho Consultivo do Frigorífico JBS, o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles está à frente das negociações para que a empresa adquira o controle da Delta e assuma as suas obras de infraestrutura.

A DELTA doou oficialmente, na campanha de 2010, somente aos comitês financeiros do PMDB e do PT, que lançaram a chapa Dilma-Temer. Cada partido levou R$ 1.150.000.

O PRESIDENTE do Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada, o ex-ministro Rodolpho Tourinho, defende o diálogo e a negociação transparente com o sindicato dos trabalhadores de Belo Monte.

PALANQUE. A deputada estadual Janira Rocha (PSOL-RJ) se mudou para Itaboraí a fim de apoiar a greve na Comperj. Aos trabalhadores, parados desde 9 de abril, ela ensina que "tem que dar uma radicalizada".

Ueba! O Tufão vira Cornão! - JOSÉ SIMÃO


FOLHA DE SP - 05/05/12

Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta: "Pescador fica à deriva durante temporal em Cabo Frio". Como é o nome do náufrago? Aécio Neves! Rarará!
E a manchete do Sensacionalista: "Brasil vai nacionalizar Sérgio Cabral". A exemplo de Cristina Kirchner, Dilma pretende nacionalizar Sérgio Cabral. E quem descobriu o Brasil? Cabral. E quem descobriu a França? Sérgio Cabral! Rarará!
E uma amiga disse que o ex-marido dela é tão feio, mas tão feio, que ele não paga pensão, paga indenização! E olha esta que corre na internet: "Alugo-me para o inverno 2012! Durmo de conchinha, faço cafuné, beijo na boca e altero status no Facebook". Rarará!
E adoro o Maluf durante o horário político: a Rota na rua. Só fala isto: a Rota na rua. ARROTA NA RUA!
E esta: "Ronaldo diz que se identifica com o Tufão". Não seria com o Fofão? Aliás, o Tufão deveria se chamar Cornão!
E a tal da Nina? Aquela baratinha assustada de uniforme vermelho? Baratinha assustada de vermelho. Dona Baratinha! Parece que ela nasceu dentro de um aparelho de videogame!
E um amigo que está com um problema no pâncreas e fica em casa vendo novela disse : "O Leleco quando dá risada parece um bebê desdentado com 90 anos!". AVENIDA PLASIL! Rarará!
E a CPI do Cachoeira? Devia se chamar CPI do Fim do Mundo: só tem fantasma! É cada susto!
E sabe aquele quadro que foi leiloado, "O Grito"? Adivinha quem tava gritando no quadro? O Demóstenes! Rarará! Aquele que, depois que saiu do DEM, virou apenas Óstenes. E reparou que todo político cassado é sem partido? Rarará! É mole? É mole, mas sobe!
E esta: "Desemprego na Eurozona bate recorde". Os gringos é que vão assaltar os brasileiros na Copa! Arrastão de espanhol em Itaquera! Já imaginou a manchete "Torcida do Barcelona assalta corintianos!"?
Como disse uma amiga: com essa situação na Europa, tá tudo ao contrário. Espanhol assalta corintiano. Tá tudo ao contrário. O poste mijando no cachorro e a goteira vindo do chão. E a torcida do Milan vai assaltar o Morumbi. Não digo o estádio. Quero dizer o bairro inteiro mesmo. Rarará!
Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Na raiz dos juros - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 05/05/12


Querer ter taxa de juros a níveis internacionais é um bom objetivo. Isso remove mais um pouco da herança do período hiperinflacionário. É preciso, no entanto, ter a mesma ousadia na meta de inflação. Há anos o Brasil tem como meta 4,5%, altíssima para os padrões da Europa, Estados Unidos ou Japão, que têm metas - explícitas ou não - em torno de 2%. O Banco Central comemorou quando fechou em 6,5% no ano passado.

A fórmula de remuneração da poupança era um obstáculo para a queda das taxas de juros abaixo de 8,5%. Mas não é o único. O mais importante obstáculo é a inflação. Juros de 5% seriam considerados altos no mundo. No Brasil, é taxa de juros negativa porque a inflação está acima disso.

A presidente Dilma acertou quando mirou os enormes spreads bancários, mas errou quando passou a tratar disso como um discurso político. Na racionalidade, o assunto fica mais bem tratado. Racionalmente é preciso reconhecer que o governo tem razão quando diz que os bancos cobram spreads abusivos. Parte do spread é engordado pelo próprio governo, que cobra imposto alto sobre a intermediação financeira.

Além disso, o mercado de crédito brasileiro tem uma distorção que reduz a potência da política monetária. As grandes empresas têm acesso a juros abaixo da taxa Selic, que, em alguns momentos, chegam até a ser negativos. Quando a inflação sobe, o Banco Central tem que subir as taxas para conter o acesso ao crédito e assim reduzir o ritmo da economia e controlar a alta dos preços. Só que o crédito do BNDES não é afetado por essa ação do BC e, para compensar, os juros tem que subir ainda mais para que se atinja o efeito de aperto monetário.

Ao politizar a questão dos juros, a presidente deixa o Banco Central no córner. E se a inflação subir? O BC poderá contrariar a presidente? Se o BC puder fazer seu trabalho, haverá menos apostas na alta de preços. Se houver a percepção de que ele deixou de ter metas de inflação para ter metas de juros, a previsão dos agentes econômicos será de mais elevação de preços.

No ano passado, o governo anunciou como uma vitória o fato de que a inflação terminou o ano em 6,5%. Era como se essa fosse a meta, e não os 4,5%. Assim também se comporta o Banco Central. É como se a meta tivesse se movido para o teto. Se for leniente com a inflação, o Banco Central terá mais dificuldade de atingir o objetivo de juros baixos por longo tempo no Brasil.

Nos próximos meses a tendência é de queda da inflação em 12 meses, mas no final do ano haverá pressões inflacionárias. Naturalmente, a economia passará por períodos de maior ou menor estresse nos preços, provocados por choques externos ou por fatores internos. Se o Banco Central está impedido de elevar os juros ele não poderá fazer o seu trabalho.

O lado bom desse movimento da presidente é que o mercado bancário foi sacudido. O spread é construído por uma superposição de fatores. Alguns são provocados por políticas governamentais, como os tributos ou o recolhimento compulsório. Mas os bancos colocam no spread seus custos administrativos, uma cobertura para a inadimplência, e uma parte para o retorno do capital. O que significa que eles podem ser ineficientes porque o custo operacional é distribuído aos tomadores dos seus recursos. Isso sem falar nas tarifas. Tem margem gorda para cobrir o risco, mesmo quando a inadimplência é alta. E coroando tudo tem a fatia do seu lucro reservada. Em qualquer setor, o lucro é consequência da eficiência e competência da empresa e não garantia a priori.

A pressão sobre os bancos pode levar a mais competição, mais eficiência, e menor risco de inadimplência porque torna a dívida mais fácil de ser paga. Portanto, é um movimento que aperfeiçoa a economia. O erro está no tom acima que a presidente deu a partir do Primeiro de Maio. Não pode ser uma cruzada santa contra os bancos. Tem que ser um movimento para aumentar a eficiência, a competição e a segurança no mercado de crédito brasileiro.

O governo está ficando aflito com a falta de reação da economia aos estímulos. O economista José Júlio Senna, da MCM consultores, avalia que a economia tem vários sinais antecedentes de que não está retomando o crescimento.

- Os sinais não estão bons, o número da produção industrial de março, que saiu esta semana, fará com que o PIB do primeiro trimestre seja revisto para baixo. Estávamos com 0,6%, na margem. Será o terceiro trimestre seguido de PIB fraco. Os dados antecedentes de abril também estão fracos, houve a quarta queda seguida do indicador PMI, dos gerentes de compras, as vendas de veículos caíram, os estoques estão elevados - disse o economista.

Todos os sinais mostram uma economia fraca. Na avaliação de Senna, grande parte do esfriamento veio de fora. Ontem, o ministro Guido Mantega disse que o crédito não está crescendo a contento. Os bancos estão mais cautelosos porque aumentou a inadimplência e eles estão tendo que fazer provisões contra o risco. A oferta de crédito tem que respeitar a capacidade do tomador de pagar a dívida. Do contrário, alimenta-se a bolha, como o mundo acabou de nos ensinar.

Craques do intelecto - SÉRGIO AUGUSTO


O Estado de S.Paulo - 05/05/12


O intelectual em mais evidência nas duas últimas semanas só publicou, que eu saiba, um livro. Há 11 anos, já esgotado. Não sei se chegou a best-seller; se reeditado agora, provavelmente chegaria, sobretudo se atualizado com o que aconteceu ao autor na última década, culminando com sua consagradora carreira como técnico do time do Barcelona. Por supuesto que falo do catalão Josep Guardiola i Sala, autor de Mi Gente, Mi Fútbol, mundialmente conhecido como Pep Guardiola.

Autobiografia e caderno de impressões sobre o que Guardiola viu e aprendeu jogando como volante e estudando o audacioso e envolvente futebol de dois toques que o holandês Louis van Gaal implantou no Ajax, Mi Gente, Mi Fútbol não encantou apenas os torcedores do Barcelona, mas também escritores ibéricos e latino-americanos aficionados do futebol. Mesmo que não o tivesse escrito, nem publicado aqueles artigos sobre a Copa do Mundo de 2006 no diário El País, Guardiola usufruiria o status de futebolista intelectual.

Muito já se escreveu sobre intelectuais que se amarram em futebol, mas craques que se amarram em livros e ideias continuam à espera de uma recensão.

Jogadores e técnicos inteligentes existem em toda parte, cultos, aparentemente, só na Espanha. Com as exceções de praxe. Tostão é uma delas; idem Beckenbauer, que Armando Nogueira surpreendeu lendo Shakespeare na concentração da seleção alemã, na Copa de 1970 ou na seguinte; o argentino Jorge Valdano, campeão mundial em 1986, leitor de poesia, autor e editor de livros, conhecido como "o filósofo do futebol"; o também argentino César Luis Menotti, técnico campeão do mundo em 1978, que sabe de cor trechos inteiros dos romances de Ernesto Sábato. Albert Camus foi um caso sui generis: um jogador (goleiro) que problemas de saúde desviaram para o jornalismo, a ficção e a filosofia.

Soube da reputação intelectual do ex-técnico do Barcelona (e, oxalá, futuro treinador da seleção brasileira) por intermédio de Enrique Vila-Matas. Também li referências à sua inteligência especial em comentários do escritor mexicano Juan Villoro e do filósofo português Manuel Sérgio. Vila-Matas ficou seu amigo. Guardiola é um dos seus "quatro ases do futebol com tendências intelectuais". Quando se encontraram pela primeira vez, graças a David Trueba (prefaciador de Mi Gente, Mi Fútbol e irmão do cineasta Fernando Trueba), não falaram de futebol, "só de Joyce para cima", segundo Vila-Matas, cujos livros o então jogador do Barcelona confessou haver lido com entusiasmo.

Os três jogadores que fecham o four de ases de Vila-Matas são Zubizarreta (goleiro da seleção espanhola em quatro Copas do Mundo, hoje comentarista de rádio e TV), Pardeza (atacante do Real Madrid e Real Zaragoza, disputou o Mundial de 1990) e Valverde (extrema basco, com passagem por vários clubes espanhóis, inclusive o Barcelona). Todos seus leitores - e também de outros escritores ibéricos e estrangeiros.

Miguel Pardeza estudou direito e filologia na Universidade de Saragoça, na segunda metade dos anos 1990, e escreveu uma tese sobre o jornalista e escritor madrilenho César González Ruano. Ernesto Valverde, artista até sem bola, fazia, mas desconheço se ainda faz, exposições fotográficas. A ligação com Zubi (é assim que Vila-Matas trata o aposentado guarda-meta do Valencia) começou numa feira de livros valenciana, estimulada pela convivência com os outros dois craques e por uma disputa com o romancista basco Bernardo Atxaga, para ver quem tem mais jogadores de futebol em seu círculo de amigos.

(O próprio Vila-Matas admite que Atxaga não tem competidores nessa especialidade, mas não sei se ele já apresentou o rival a Guardiola, como prometeu numa crônica.)

Justamente nessa crônica, intitulada "A arte de conhecer futebolistas", Vila-Matas revelou ter sido iniciado nessa arte pelo pai de um colega de infância, que era massagista e se relacionava com uma legião de jogadores. Com o tempo aprendeu que o segredo é ter paciência e não querer intimidades com muitos jogadores, só alguns e bem escolhidos. Já tinha 18 anos quando apertou a mão do primeiro astro da pelota, Samitier, "El Mago", mítico meio-campo do Barcelona nos anos 1920-30, já então treinador, que o pai lhe apresentou num restaurante. Na mesma época conheceu o húngaro Kubala e o argentino Di Stéfano, ambos encerrando carreira na Espanha.

Um dia, ao descer La Rambla, avistou o lateral Flotats, ídolo do Barcelona na década de 1950, o único que conseguia anular Gento, o velocíssimo ponta-esquerda do Real Madrid. Embascado, tietou sem o menor pudor: deteve o jogador, apertou-lhe a mão e ousou perguntar-lhe para onde ia. "Isso não lhe diz respeito", respondeu Flotats, com um sorriso amável, e seguiu seu caminho.

Foi a partir de um jantar com Pardeza, facilitado por um grupo de amigos de Saragoça, que Vila-Matas decidiu concentrar seu interesse em "futebolistas intelectuais". O encontro foi caloroso, lembra o escritor, mas algo desajustado ("lleno de despropósitos", em espanhol). Pardeza só queria conversar sobre a nova narrativa espanhola e seu fã, a respeito de futebol. A certa altura, como Vila-Matas insistisse em lhe dar conselhos sobre a melhor maneira de furar a defesa do Barcelona, o atacante puxou um metafórico cartão amarelo, e disse: "Desculpe, mas eu não sou Van Basten".

Para você, que eventualmente pode entender mais da nova (e da velha) narrativa espanhola que de futebol, explico: Van Basten era um atacante holandês, que, jogando no Ajax e no Milan, suou muito a camisa para furar a defesa do Barcelona.

Jogada política - MERVAL PEREIRA


O GLOBO - 05/05/12


Não é possível garantir que tenha sido assim, mas há quem aposte que o objetivo principal da campanha de redução dos juros que o Palácio do Planalto desencadeou contra os bancos privados era criar um clima político que favorecesse a mudança das regras das cadernetas de poupança sem desencadear grandes protestos na população, como aconteceu em 2009 quando o presidente Lula, também muito popular, teve que desistir das mudanças.

De resto, brigar pela redução dos lucros dos bancos sempre é uma disputa muito popular.

Teria sido uma notável jogada política da presidente Dilma, que precisaria mudar as regras da poupança para continuar com a redução da taxa Selic.

Tanto é assim que em 2009, quando a Selic estava em 8,75%, portanto já abaixo dos níveis atuais, Lula viu que chegara a hora de mexer na poupança mas, em nenhum momento, nem ele nem o mesmo ministro da Fazenda, Guido Mantega, esboçaram uma campanha contra os spreads bancários, independentemente do fato de serem escorchantes.

Pelas novas regras, o rendimento da poupança será reduzido sempre que os juros básicos da economia atingirem patamar igual ou inferior a 8,5%, remunerando a caderneta em 70% da taxa Selic. A partir dessa regra, o Banco Central ficará liberado para cortar os juros sem transformar a poupança num investimento mais atraente para os grandes investidores, prejudicando os fundos.

O ambiente político está tão mais favorável ao governo hoje que o oposicionista PPS, que fez uma campanha escandalosa na televisão, comparando a mudança na poupança de Lula com o confisco promovido nas finanças populares por Collor, hoje protesta bem mais moderadamente.

Em 2009, um anúncio na televisão dizia que o governo "vai mexer na poupança como Collor", embora apenas os rendimentos fossem afetados pela cobrança de imposto de renda, sem confisco dos depósitos existentes.

Uma diferença fundamental, que fez com que a denúncia do PPS tenha sido tratada pelo próprio presidente Lula como "irresponsável" e "insana".

Mas também o presidente Lula, ao anunciar que o governo mexeria nas regras da poupança, disse que assim agia "para proteger o pequeno poupador", distorcendo a situação e tentando amenizar as críticas dos depositantes das cadernetas de poupança.

Desta vez, o deputado Roberto Freire, presidente do PPS, colocou-se contra a medida, que, para ele, poderá resultar em "graves prejuízos" aos poupadores das classes populares, em benefício do setor financeiro.

Também o senador tucano Álvaro Dias acusou o governo de estar atuando como "um Robin Hood às avessas, retirando de pequenos poupadores para preservar os poderosos. O porto seguro das pequenas economias pagará o pato da guerra santa deflagrada pela presidente Dilma, que, pelo jeito, não mostra coragem para mexer no que realmente interessa: tributos e ganhos de bancos".

O projeto de Guido Mantega era cobrar Imposto de Renda de todos os depósitos em poupança que ultrapassassem os R$ 50 mil, o que, diziam, representava uma parcela ínfima dos poupadores.

Mas a reação foi tamanha que o então presidente Lula teve que recuar. Na versão de Dilma, a caderneta continua sendo uma aplicação livre de impostos, e as mudanças só afetam as novas poupanças e os depósitos feitos a partir do anúncio da medida, evitando-se assim a acusação de quebra de contrato dos poupadores antigos, que continuarão a ser remunerados como sempre foram.

Essa é uma diferença básica, que enfraquece muito as críticas oposicionistas. Em 2009, o então deputado do PPS Raul Jungmann, autor da denúncia de que o governo iria "mexer na poupança", levantava uma questão importante, que ainda é válida hoje: por que o governo não deixa o mercado se ajustar, obrigando os bancos a reduzir as taxas de administração dos fundos de renda fixa, que podem chegar a até 4%, em vez de apenas reduzir os ganhos da poupança?

De qualquer maneira, tenha tido intenção ou não, o certo é que a presidente Dilma conseguiu montar uma estratégia que aparentemente levará a uma mudança na remuneração da caderneta de poupança sem provocar grandes traumas, inclusive porque teve o cuidado de só mexer nas novas cadernetas e nos novos depósitos.

Uma das principais preocupações dos políticos da base aliada, por sinal, foi a maneira de comunicar essa delicada decisão. Houve uma recomendação generalizada de não se falar em "mexer na poupança", para evitar mal-entendidos.

Colocando diante da população a redução dos ganhos da poupança como medida indispensável para que venhamos a ter taxas de juros "de Primeiro Mundo", o governo conseguiu um marketing político vencedor.

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, já tem uma estratégia montada para o caso de a CPI do Cachoeira resolver insistir na sua convocação para depor.

Ele já acertou com os ministros do Supremo Tribunal Federal uma liminar para respaldar sua ausência, mantendo assim a garantia de que poderá ficar distante dos debates da CPI para exercer seu papel constitucional.

Uma outra alternativa que chegou a ser debatida foi a de ele comparecer, mas se manter em silêncio, alegando a impossibilidade de depor.

Mas ponderou-se que, diante do que está sendo considerado uma "afronta" ao Judiciário, o melhor seria não colaborar para esticar demais a corda.

O valor de uma conversa telefônica - ALI MAZLOUM


O Estado de S.Paulo - 05/05/12


Diante dos seletivos vazamentos do produto de interceptações telefônicas ocorridos no curso das investigações criminais, reveladas a partir da Operação Monte Carlo, que apuram as atividades de Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, é de indagar qual seria o valor das conversas captadas com autorização judicial. Em outros termos, tirante o alto teor explosivo do material exposto às luzes midiáticas, os diálogos constituem prova no processo penal?

Impende dizer que uma conversa telefônica regularmente captada não tem a natureza de prova em si mesma, mas constitui um meio de obtenção de prova. Assinale-se a diferença: os meios de prova são os elementos de que o julgador se pode servir para formar sua convicção acerca de um fato, ao passo que meios de obtenção de prova são instrumentos de que se servem as autoridades judiciárias para investigar e recolher meios de provas.

Para o Direito, a espetacularização de uma operação policial não muda conceitos. Nesse sentido, a classificação do crime em material, formal e de mera conduta se revela importante mecanismo de valoração da prova. Assim, por exemplo, uma conversa telefônica envolvendo cocaína não comprova o tráfico de drogas. Falta a materialidade do delito. A partir das conversas cabe à polícia diligenciar com o fito de apreender a droga. O diálogo não é a prova, mas apenas um meio para a sua obtenção.

Se essa conclusão se aplica às conversas captadas entre investigados, o que dizer, então, quando os interlocutores fazem referências a uma terceira pessoa? Tais conversas nem de longe indicam envolvimento do terceiro. Uma conversa sobre terceira pessoa, ilhada, sem amparo em lastros investigativos, continuará sendo apenas uma conversa, nem mais, nem menos. Um plus deveria vir em auxílio ao diálogo. Caso contrário, o terceiro continuará sendo apenas um terceiro alheio ao apuratório e o objeto da conversa, mera bazófia - um indiferente penal.

Calha registrar, pois, que nos crimes materiais, em que se estabelece um resultado naturalístico, a consumação só ocorre com a verificação do evento natural, conforme exemplificado acima com a negociação de drogas. Nos crimes formais prevêem-se ação e resultado, mas a consumação independe do evento natural, como são exemplos a concussão, o tráfico de influência, a exploração de prestígio ou a quadrilha. A constatação de tais delitos se fará mediante incursões das investigações para além das palavras ditas ao telefone.

Por último, nos delitos de mera conduta não se exige nenhum resultado naturalístico, contentando-se o tipo penal com a simples atividade do agente - ação ou omissão (exemplos: violação de domicílio, alguns crimes de palavra, etc.). Nessa hipótese, e apenas nessa hipótese, poderá a própria conversa telefônica configurar eventualmente o crime por consubstanciar o corpus delicti, tal qual a ameaça feita ao telefone (embora saibamos da impossibilidade de se deferirem escutas nos delitos menos graves, como esse).

A interceptação, como meio de obtenção de prova, serve para nortear o trabalho policial, nada mais que isso. Para que tenha efetividade uma investigação não pode ficar limitada à exibição impactante de material sigiloso. Deve sair a campo para demonstrar que no mundo real existem fatos que correspondem ao teor das conversas interceptadas. Caso contrário, ter-se-á mera destruição de reputações sem nenhuma condenação criminal.

O bombardeio diário com diálogos telefônicos picantes exibidos não mais pelos meios convencionais de imprensa apenas, mas por toda a blogosfera, cujo alcance é praticamente ilimitado, pode ser devastador caso o Judiciário tenha a "coragem" de entender inexistentes provas materiais dos propalados malfeitos. A expectativa criada na população é de veredicto condenatório, cadeia!

Terão os juízes independência para decidir tecnicamente na arena forense do clamor público? Haverá magistrados dispostos a verem o seu nome lançado no patíbulo da ignomínia? Espero que sim!

Em Origens do Totalitarismo, Hannah Arendt desvela com muita propriedade regimes que usam o Estado como mera fachada externa para representar o país perante o mundo democrático. Direitos fundamentais, como a presunção de inocência, a ampla defesa, o devido processo legal, são utilizados como estandarte, atrás do qual vigem verdadeiros métodos de incrível perversidade, com tratamentos degradantes e julgamentos sumários. Esse não é o meu país!

Todos querem um Brasil mais justo, mas não à custa de ilegalidades, do degredo de inocentes, do aviltamento de direitos civis. É preciso serenar o clamor das ruas provocado pelas malsinadas conversas ao telefone. Aguardem-se as provas e contraprovas, o direito inalienável de defesa, o curso natural do processo democrático. A democracia vale muito mais que qualquer conversa telefônica!

É deletéria a acentuada preocupação da opinião pública exclusivamente com a figura do agente, materializada em grande medida por meio de suas conversas interceptadas. Com isso vai ganhando terreno o nazi-fascista Direito Penal do Autor, em detrimento do fato, do Direito Penal do Fato.

Repita-se: as escutas telefônicas, utilizadas parcimoniosamente, constituem instrumentos de extrema valia no processo de produção da prova, mas não podem ser transformadas em rótulos de culpa colados na testa dos interlocutores. Queremos para nós mesmos o que estamos servindo aos outros? Então, vamos às provas!

Em tempos de prejulgamentos, em que todos querem ser juízes e carrascos ao mesmo tempo, é preciso não só reservar um dos ouvidos para ouvir o outro lado, como também é indispensável conhecer concretamente as provas dos autos, se é que elas existem!

Britto e a clareza da mensagem - WALTER CENEVIVA


FOLHA DE SP - 05/05/12

Ayres Britto diz que os magistrados não governam, mas existem e atuam para "evitar o desgoverno"


O MINISTRO Ayres Britto, presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), mostrou-se comunicador nato ao tornar clara a mensagem à nação no dia de sua posse. Volto ao assunto porque, se a melhor administração é regida pelos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (Constituição, art. 37), nos Estados e municípios a nota do Poder Executivo não é alta no conceito do povo. Já a presidente da República tem bons motivos para estar feliz.

E a magistratura? Britto anotou que nossa Constituição tem o inexcedível mérito de partir do governo possível para a melhor administração possível. Vê o Poder Judiciário "estrategicamente situado entre os fundamentos da República e os objetivos igualmente fundamentais dessa República". Diz bem que os magistrados não governam, mas existem e atuam para "evitar o desgoverno, o desmando e o descontrole final", quando provocado. Idealmente é assim.

Sem afastar preocupações com a paz interna do STF, Ayres Britto insistiu em situar o Judiciário como o "poder que evita o desgoverno, o desmando e o descontrole eventual dos outros dois". Por isso, acrescentou: "Não pode, ele mesmo, se desgovernar, se desmandar, se descontrolar". Esse é o ponto a discutir.

Como o Brasil vê o Judiciário? No maior tribunal do país, o presidente Ivan Sartori foi apanhado no fogo cruzado entre velhos e novos companheiros da desembargadoria, dos que se beneficiaram de vantagens financeiras, algumas delas já noticiadas, e dos excluídos. Para ver nessas condutas a verdadeira legalidade, elas teriam de ser iguais para todos. Sartori enfrentará a correção do sacrifício da maioria. Tem qualidade para a tarefa.

A queixa de haver jornalistas dos meios eletrônicos ou impressos que não entendem o Judiciário se vincula à dificuldade do povo em compreender o enunciado dos atos processuais e de seus efeitos. Há questões nas quais não há como fugir da tecnicidade. Mas, em outras, o excesso da técnica obscurece a comunicação. Afinal, o todo da população heterogênea é o credor principal da informação clara. Embora fechar o valo que separa os profissionais dos dois lados seja difícil, será dia de festa aquele em que, compreendendo-se reciprocamente, possam unir esforços para o acesso compreensível entre os atores no drama da comunicação geral (emitentes da declaração) e os destinatários dela.

Voltemos a Ayres Britto. Depois de lembrar que o "Poder Legislativo não é obrigado a legislar, mas o Poder Judiciário é obrigado a julgar", apontou requisitos mínimos para um juiz. Referiu "serenidade ou equilíbrio emocional", sem confundir calma com lerdeza. "Juiz e parte são como água e óleo: não se misturam." Tratar "as partes com urbanidade ou consideração implica o descarte da prepotência e da pose", para lembrar que "quem tem o rei na barriga um dia morre de parto". O magistrado deve observar, segundo Britto, o mundo circundante. Ser atento às provas dos autos sem ser refém da opinião pública no apreciar "teses em confronto".

Os sete meses da presidência de Ayres Britto no Supremo Tribunal combinarão a importância dos temas enfrentados com o cuidado na transmissão clara dos fatos ao povo. Os meios de comunicação estarão atentos.

Discordância e cortesia - MIGUEL REALE JÚNIOR


O Estado de S.Paulo - 05/05/12


Ao chegar ao jardim de infância experimenta-se a sensação de sentir simpatia por Juca e repugnância por Zico. Assim será pelo resto da vida: nos bancos escolares, no time de futebol do clube, no diretório do partido, no trabalho, na universidade. Identificação com um, rejeição de outro. Civilizar-se é aprender a conviver com os antipáticos sem publicizar agressões verbais.

Numa Corte como o Supremo Tribunal Federal (STF), que simboliza a Justiça, os ministros saudavelmente divergem, às vezes com veemência, quanto à correta interpretação dos fatos e do Direito. Mas a convivência com colegas por vezes desagradáveis é obrigatória, impondo-se que a cortesia e a urbanidade prevaleçam em público e pela imprensa em favor da preservação da própria da instituição.

O STF foi exemplo, ao longo do tempo, de ministros com temperamento forte e vontade firme de vencer o debate de ideias. Tal não prejudicou seu prestígio como Corte Suprema, muito ao contrário.

Nelson Hungria, nas palavras de outro ministro, Gonçalves de Oliveira, era intransigente na defesa de seus pontos de vista, mormente em matéria penal, mas voltava atrás quando convencido, tal como se deu no julgamento de habeas corpus em favor do jornalista Prudente de Morais Neto, ao reconhecer que não se aplicava aos jornalistas a Lei de Segurança Nacional, mas sim a Lei de Imprensa. Hungria mostrou sua contundência ao julgar, por exemplo, habeas corpus em favor de adolescente que fugira da internação no Serviço de Assistência ao Menor (SAM): "Trata-se de ameaça de internação num estabelecimento de assistência a menores que se transformou, na prática, numa fábrica de criminosos, onde não há ensino secundário senão para a perversão moral. É isto que se quer evitar a esse menor: o constrangimento de internação num reformatório falido, que, ao invés de reabilitá-lo, apenas o aviltará irremediavelmente... Todos os grandes criminosos da antiga Capital da República fizeram o noviciado no SAM, têm a marca do SAM".

Com a morte de Getúlio Vargas, assumiu a Presidência o vice Café Filho, que na eleição presidencial em 1955 apoiara Juarez Távora, derrotado por Kubitschek. A Café Filho, afastado por motivo de doença, sucedeu Carlos Luz, presidente da Câmara dos Deputados, deposto por haver conspirado com militares para impedir a posse do presidente eleito. Assumiu, então, a Presidência da República Nereu Ramos, presidente do Senado. Diante disso, Café Filho impetrou mandado de segurança no STF pretendendo voltar à Presidência, ocupada por Nereu Ramos. Relator do mandado de segurança foi, justamente, Nelson Hungria, cujo modo caloroso de ser não o impediu de ponderar, com grande prudência, em favor da permanência de Nereu Ramos como presidente da República: "Hoje é 14 de dezembro, faltam 48 dias para a posse do Presidente eleito. Se entregarmos o Poder novamente ao senhor Café Filho, serão 48 dias de incerteza. Deixando o senador Nereu Ramos, teremos 48 dias de tranquilidade e a certeza de que o presidente eleito tomará posse no dia marcado".

Outro homem de temperamento forte integrante da Suprema Corte foi Adauto Lúcio Cardoso. Conta-se, aliás, que, jovem advogado, procurado por um cidadão que acabara de cometer homicídio, indagou como era o morto, sendo-lhe dito que não era nem gordo nem magro, nem alto nem baixo, nem claro nem escuro, ao que interrompeu e disse: "Basta, já não mais suporto essa vítima!".

Apesar de nomeado ministro do Supremo pelo regime militar, disse o ex-deputado da UDN Adauto Lúcio Cardoso, em memorável julgamento de medida interposta pelo então MDB acerca da inconstitucionalidade do Decreto-Lei n.º 1.077/70, instaurador da censura prévia à imprensa, em confronto com a maioria de seus pares: "Até hoje não surgiu, e certamente não surgirá, ninguém, a não ser o Partido Político da Oposição, que a duras penas cumpre o seu papel, a não ser ele, que se abalance a arguir a inconstitucionalidade do decreto-lei que estabelece a censura prévia". E disse mais: "Ninguém quererá expor-se às represálias que uma tal demanda suscitará". Inconformado com o resultado, ao sair do plenário lançou a toga sobre a cadeira e no dia seguinte se aposentou. Mas nada de natureza pessoal comentou sobre seus colegas.

Aliomar Baleeiro, outro político da Banda de Música da UDN levado ao Supremo, também era homem de firmes convicções e se antepôs, como chefe do Judiciário, em 1972, ao Ato Institucional n.º 5. Em famoso julgamento de 1966, Baleeiro foi incisivo acerca da apreensão da revista Realidade, determinada por juiz de São Paulo ao considerar a edição contrária à moral e aos bons costumes por conter com matéria sobre o orgulho de ser mãe solteira e entrevista de Melina Mercury à conhecida jornalista italiana Oriana Fallaci, intitulada Esta mulher é livre. E já em 1966 Baleeiro afirmava, com ênfase: "O cidadão pode dizer e publicar o que pensa sobre nudismo, a igualdade dos sexos, a defesa jurídica e social da mãe solteira, a educação sexual, o divórcio, o comunismo e a existência de Deus, a pílula anticoncepcional. Não há ofensa aos padrões atuais do Brasil".

Em outro julgamento, sobre a prisão preventiva de emitente de cheque sem fundos pelo juiz de Carmo de Minas, que reteve em casa os autos por três anos enquanto o réu chafurdava no calabouço, Baleeiro reconheceu a responsabilidade civil do Estado: "Acho que o Estado tem o dever de manter uma justiça que funcione tão bem como o serviço de luz, de polícia, de limpeza ou de qualquer outro".

Magistrados dessa altivez e de tal impetuosidade, grandes polemistas, garantem a paz social com a sua atuação firme. Veemência e coragem dos ministros na defesa de suas convicções geram orgulho e tranquilidade aos jurisdicionados. Farpas de cunho pessoal só trazem descrédito e desconfiança.

Carga ao mar? - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 05/05/12

Dirigentes do PSDB pressionam para que o deputado Carlos Alberto Leréia (GO) se licencie do partido já na terça-feira, até que a CPI mista revele o tamanho do seu envolvimento com o esquema montado pelo empresário de jogos Carlinhos Cachoeira.

O destino de Leréia, entretanto, ainda divide integrantes da sigla. Parte dos tucanos, como os senadores Alvaro Dias (PR) e Aécio Neves (MG), defende o afastamento imediato para não repetir a conduta do PT no mensalão. Outra ala, porém, teme que rifar Leréia agora possa deixar vulnerável o governador Marconi Perillo (GO), a quem o partido se empenha em blindar.

Veja bem Em sua defesa, Leréia tem repetido na bancada que é amigo de Cachoeira há anos, admite ter interferido em favor dele para nomeações de cargos públicos, mas diz que não participava de esquema de contravenção.

iCachoeira Para os colegas de partido, Leréia deu uma explicação singela para ter a senha do cartão de crédito de Cachoeira: disse que pediu para o amigo pagar aplicativos "baratinhos" de jogos para o tablet que comprou para os filhos nos EUA, uma vez que havia estourado o limite de seu próprio cartão.

Buraco do tatu O Senado instalou duas câmeras e impôs regras para os parlamentares visitarem a sala montada no subsolo para guardar documentos da CPI do Cachoeira. Da lista de normas, a que mais irritou os congressistas foi a proibição de entrar com celulares.

Morde... Está em curso uma articulação, com apoio de PT e PMDB, para dar a vice-presidência da CPI ao senador e ex-presidente Fernando Collor (PTB-AL). "É para implodir a investigação'', protesta um membro.

...e assopra Petistas e petebistas afirmam que apoirão a indicação do presidente Vital do Rêgo (PMDB-PB), que ainda não definiu o vice.

Entre tapas... A comitiva da Força Sindical foi barrada pelo assessor especial da Secretaria-Geral da Presidência, José Lopez Feijóo, dirigente da CUT, na reunião de anteontem com Dilma Rousseff no Palácio do Planalto para falar sobre as medidas econômicas. A Força havia levado um integrante a mais, além dos três acordados.

...e beijos Ontem, o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, telefonou para transmitir o agradecimento da presidente ao deputado Paulinho da Força (PDT-SP) por ter sido o único dirigente das centrais sindicais a se manifestar a favor das medidas, que reduzirão a remuneração da poupança.

Timing Já o presidente da CUT, Artur Henrique, tomou uma bronca da presidente nessa mesma reunião por tentar incluir uma pauta das centrais no debate: a isenção de Imposto de Renda sobre parcela da participação dos lucros e resultados. Dilma o cortou, afirmando não ser oportuno tratar de outros assuntos naquele momento.

Eco Na esteira das cobranças de Dilma endereçadas ao setor financeiro, a UGT (União Geral dos Trabalhadores) promove na terça-feira em São Paulo manifestação pela redução dos juros praticados pelas operadoras de cartões de crédito.

Leão Os auditores fiscais da Receita Federal farão na quarta-feira o Dia de Mobilização de Advertência, para reivindicar ao governo reajuste salarial. Vários serviços serão afetados com a paralisação, entre eles a liberação de mercadorias importadas em portos e aeroportos.

com SILVIO NAVARRO e ANDRÉIA SADI

tiroteio

"Cabral pode sair pela cozinha no Rio, mas não evitará perguntas quando entrar pela porta da frente da CPI para explicar suas relações impróprias com o dono da Delta."

DO DEPUTADO CHICO ALENCAR (PSOL-RJ), sobre a saída do governador do Rio de Janeiro pela cozinha do BNDES para escapar de jornalistas que o aguardavam para falar sobre as fotos com Fernando Cavendish em viagens ao exterior.

contraponto

Bin Laden do cerrado


A deputada Íris de Araújo (PMDB-GO) chegava ao Congresso para a estreia da CPI do Cachoeira, na semana passada, quando se encontrou com o colega Espiridião Amin (PP-SC). Impressionado com a rede de influência descoberta do empresário em Goiás, Amin brincou:

-Não sabia que o Cachoeira tinha montado uma verdadeira Al Qaeda em Goiás!

Ao que Íris respondeu:

-O pior é que todos nós imaginávamos que essa rede existia...

Miopias do modelo de desenvolvimento - CARLOS RODOLFO SCHNEIDER


O ESTADO DE S. PAULO - 05/05/12


De janeiro a outubro de 2011, o Brasil teve um superávit de US$ 75,2 bilhões na balança comercial de produtos básicos e de US$22 bilhões com os semimanufaturados. Por outro lado, os manufaturados apresentaram um déficit de US$75,9 bilhões no período, com estimativa da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) de saldo negativo beirando os US$100 bilhõessomenteem2011. Esses números assustam, se comparados a um histórico brasileiro de superávits da indústria de transformação.

São sinais claros da perda de competitividade da indústria brasileira e do franco processo de desindustrialização em andamento no País.

Existem aqueles que procuram suavizar o problema, contrapondo informações sobre investimentos programados por grupos empresariais, mas a verdade é que a indústria de transformação vem perdendo participação no Produto Interno Bruto (PIB), ano após ano.Em2010,representou16,2% e,em 2011, caiu para 14,6%. Pior: mesmo representando hoje apenas 1/7 da produção do País, o setor arca com 1/3 do total dos impostos,uma carga insuportável e injusta.

Para combater o crescente problema da desindustrialização, interferir diretamente no câmbio é paliativo de curto prazo. Câmbio competitivo requer equilíbrio fiscal para evitar desestabilização dos preços. O problema é que, para cobrir os gastos de uma máquina pública inchada e ineficiente, o Estado brasileiro impõe à sociedade uma carga tributária incompatível com o nosso estágio de desenvolvimento.

Não o bastante, ainda tem de neutralizar a pressão do excesso de gastos públicos sobre o índice de preços com uma taxa de juros que atrai demasiados recursos externos especulativos, o que acaba penalizando a produção no País.

Competir num mercado internacional cada vez mais disputado, a partir de uma posição desvantajosa em termos de infraestrutura, taxa de juros, carga tributária e legislação trabalhista defasada, coloca um desafio gigantesco às empresas e ao País. Basicamente, apenas um grupo restrito de produtores nacionais de commodities e semimanufaturados tem conseguido caminhar bem nesse ambiente, em razão de fortes vantagens comparativas internacionais do Brasil.O poder público precisa fazer a sua lição de casa para que as demais cadeias produtivas consigam sobreviver diante de tal cenário.

Felizmente, a natureza nos deu em abundância o que outros países precisam muito, e não há dúvida de que devemos aproveitar este bom momento de um mercado mundial de commodities com alto potencial de compra,puxado pela China.O que não devemos, todavia, é, em razão disso, preterir a indústria de transformação, que integra os setores mais dinâmicos da economia e intensivos em tecnologia - os quais configuram uma base importante que o País levou anos para construir, e que consumiu recursos e muita energia de diferentes governos, empresas e sociedade. Deixamos de dar a necessária atenção aos desafios estruturais do País em razão do aparente sucesso de corrente de fatores conjunturais influenciados pelos altos preços dos produtos agrícolas e minerais exportados. É uma miopia que compromete o nosso crescimento logo em seguida.

Para amenizar a crescente perda de competitividade de cadeias produtivas, o governo vem concedendo benefícios e incentivos a uns poucos setores, medidas que vêm distorcer ainda mais a equação fiscal e a competitividade da economia do País como um todo.

Comprometem-se recursos que terão de ser recuperados junto dos demais agentes econômicos, enquanto não alcançarmos o necessário ajuste das contas públicas.Ajuste que,de forma saudável, dispensará medidas protecionistas, que combatem a febre, mas não atacam suas causas. Planos consistentes requerem vontade pública, do governo e do Congresso.

A cor da elite - CRISTOVAM BUARQUE


O GLOBO - 05/05/12


Anos atrás, visitando o campus da Universidade de Brasília (UnB) com uma professora norte-americana, perguntei qual a diferença da paisagem arquitetônica do nosso campus para um campus nos EUA. Esperei que dissesse: "São parecidos." Mas, depois de olhar ao redor, ela disse: "Não têm negros." Respondi que no Brasil, como também nos EUA, os negros não têm boas escolas na educação de base. Ela perguntou: "Por que não adotam cota para negros, como nos EUA?"

Na próxima semana, o Brasil completará 124 anos da abolição sem ter embaixadores negros. Atualmente há no Congresso Nacional apenas um senador negro e 43 deputados federais que assumiram serem afrodescendentes; temos apenas 2% de médicos, 10% de engenheiros e 1% de professores universitários que podem ser considerados negros. Os Estados Unidos já elegeram um presidente negro, mas o Brasil dificilmente terá um presidente negro nas próximas décadas.

Na semana passada, depois de nove anos de adotadas pela UnB, as cotas raciais foram reconhecidas como legais pelo STF - Supremo Tribunal Federal. Nesse período, três mil alunos foram admitidos pela cota racial na UnB e mil concluíram seus cursos, graças ao ingresso usando as cotas. Todos os estudos mostram que esses alunos tiveram um desempenho, no mínimo, equivalente à média dos demais alunos. Isso se explica porque todos os alunos beneficiados pelas cotas são necessariamente aprovados no vestibular.

Apesar disso, por quase 20 anos, um intenso debate vem sendo feito entre os que são a favor e os que são contrários a esse sistema, porque até hoje não houve entendimento correto do instituto das cotas raciais e seu propósito, nem entre os favoráveis, nem entre os opositores.

Os opositores dizem, com razão, que este é um "jeitinho" equivocado, porque a verdadeira solução para resolver a desigualdade racial na universidade seria uma educação de base de qualidade para todos. Realmente a maneira correta de resolver esse problema é a educação de base com qualidade e igual para todos. Temos bons jogadores de futebol negros porque a bola é redonda para todos, mas nossas escolas são redondas apenas para os poucos que têm renda para cursar uma boa escola no ensino fundamental e no ensino médio. Mas para fazer todas nossas escolas redondas, com qualidade, e dar resultado na mudança da cor da cara da elite serão necessários 20 anos. Isso se nós estivéssemos fazendo hoje o nosso dever de casa para mudar a educação. E não estamos.

Tanto os que são contrários às cotas raciais quanto aqueles favoráveis enfocam o assunto pelo lado individualista de oferecer uma escada social a um jovem negro. Continuam pensando que as cotas visam a beneficiar o aluno que obtém a vaga. Não percebem o papel da cota racial como o caminho para o Brasil apresentar com orgulho uma sociedade com elite tão multirracial quanto seu povo.

A cota social beneficia o aluno, a cota racial beneficia o Brasil, possibilitando o ingresso de jovens negros na carreira profissional de nível superior. Certamente jovens escolhidos entre aqueles de classe média, que concluíram o ensino médio e passaram no vestibular porque foram bem preparados em uma boa escola, portanto provavelmente não pobres. Serão pessoalmente beneficiados, mas prestarão um serviço patriótico ao ajudarem, pelo estudo, a mudar a cor da cara da elite brasileira.

A cota racial para a universidade nada tem a ver com a cota social. Esta atenderia jovens pobres para compensá-los pelo que lhes negamos na infância. É um benefício justo; a cota racial não é um assunto de justiça, é um assunto de dignidade nacional; não é social, é patriótica.

Os que lutam pela cota racial nas universidades não lutam pela erradicação do analfabetismo entre adultos negros, nem para que os negros pobres tenham escolas com a mesma qualidade dos ricos brancos. E aqueles que defendem as cotas sociais no lugar das raciais não defendem cotas sociais no ensino fundamental e médio, nos colégios federais e mesmo nas escolas particulares de qualidade. Esta sim seria cota social. A cota social na educação de base nunca atraiu os defensores da cota racial nem aqueles que se opõem a ela e que usam a ideia de social contra a de racial. Os que defendem cotas sociais para as universidades, em vez das cotas raciais, provavelmente ficarão contra as cotas sociais nas boas escolas da educação de base, obrigando as escolas caras a receberem alunos pobres, sem mensalidade ou com uma bolsa do tipo Prouni.

EU ME ACEITO - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 05/05/12

A atriz Carol Castro, a Jacira da novela "Amor Eterno Amor" (Globo), é capa da "Shape" deste mês. "Estou feliz com o meu corpo porque tenho consciência de que sou normal e tenho imperfeições. Isso não significa chutar o balde, mas se cuidar sem querer ser outra pessoa", diz à revista.

RAMPA CULTURAL
O Instituto Mara Gabrilli fez um levantamento de quais espaços culturais, como bibliotecas e museus, da cidade de São Paulo estão aptos a receber visitantes com deficiência e mobilidade reduzida. Dos 315 locais inspecionados, só 186 foram aprovados.

RAMPA 2
A maioria dos estabelecimentos é pública. Das 13 unidades paulistanas do Sesc, 11 são adequadas a este público, que soma 3 milhões de pessoas na cidade, segundo o instituto. O levantamento aponta também que 35 dos 186 espaços podem receber pessoas com alguma deficiência intelectual.

RAMPA 3
A zona norte abriga somente nove das dezenas de estabelecimentos adaptados ao público que tem alguma deficiência. A pesquisa integra o Guia Online da Acessibilidade Cultural, que será lançado na segunda-feira.

BANCA
O presidente da OAB-SP, Luiz Flavio Borges D'Urso, pré-candidato à Prefeitura de SP pelo PTB, diz que foi procurado por emissários do ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) para negociar uma aliança com Fernando Haddad (PT). A sigla também conversa com outros pré-candidatos, como José Serra (PSDB) e Gabriel Chalita (PMDB), que recebeu o advogado em seu aniversário, anteontem, no Bar Brahma.

CABE MAIS UM
Além do petebista, a festa de Chalita reuniu lideranças de vários partidos: os presidentes estadual e municipal do DEM, Jorge Tadeu Mudalen e Alexandre de Moraes, o presidente do PT paulista, Edinho Silva, e o ex-ministro Orlando Silva, uma das principais vozes do PC do B em São Paulo.

BRIGA DE TORCIDA
E, apesar de o PC do B manter a pré-candidatura de Netinho de Paula e conversar também com Haddad, Orlando Silva criticou em alto e bom som a polarização da eleição entre PT e PSDB.

"Tem que acabar com esse Fla x Flu. Já está ficando chato", disse.

OLHO NOS FLASHES
Depois de ter feito campanha contra decotes e roupas curtas nos casamentos da igreja Nossa Senhora do Brasil, o padre Michelino Roberto mira agora os fotógrafos que trabalham nas cerimônias na paróquia. "Precisamos de tranquilidade para as celebrações, e às vezes eles têm condutas muito invasivas", diz.

FILME QUEIMADO
O padre reclama que os profissionais se aglomeram no altar e ficam entre ele e os noivos ou na frente dos convidados. E pede que, durante alguns ritos, eles deixem de fotografar. Na semana passada, ele foi à Abrafesta, associação de organizadores de eventos comandada por Vera Simão. Ela marcará um encontro do padre com os fotógrafos para "falar sobre respeito à igreja e entender os dois lados".

VEIA ARTÍSTICA
A cantora pernambucana Karina Buhr inaugura no dia 12 a exposição "Vampira del Sol", na Vértices Casa, na Vila Madalena. Ela mostrará ilustrações, pôsteres, camisetas e copos.

ENCONTRO DE LÍDERES
Personalidades como Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central, o rapper Criolo, Viviane Senna, o empresário Marcos Arbaitman e a mulher, Bete, foram à entrega do prêmio Jovens Lideranças, anteontem, no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo.

TELA CHEIA
Os diretores Toni Venturi e Charly Braun e a atriz Isabel Wilker estiveram na entrega do prêmio Fiesp/Sesi-SP do Cinema Paulista, no centro cultural da federação, na capital.

CURTO-CIRCUITO

O Museu Afro Brasil abre hoje a exposição "O Imaginário de Babinski"e recebe os lançamentos do catálogo da mostra "A Transfiguração do Real - Aurelino dos Santos" e do livro "4 Projetos - Fernando Peixoto Arquiteto".

Fabrício Lopez abre a exposição "Traumas, Metáforas e Suspensão" hoje, às 11h, na galeria Transversal.

A grife Neon faz venda especial com 50% de desconto, hoje, das 10h às 20h, na rua Campevas, 599, Perdizes.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

Adeus, simplicidade - CELSO MING


O Estado de S.Paulo - 05/05/12


Acabou a simplicidade das cadernetas de poupança. As que forem abertas a partir de agora terão rendimento de 70% da Selic.

- Selic? O que é essa Selic? - pergunta dona Maria.

- Ora, Selic é o Sistema Especial de Liquidação e de Custódia, que fica lá no Banco Central. É o esquema que controla a emissão, o resgate, o pagamento dos juros e a guarda dos títulos do Tesouro... Passou a ser também o valor dos juros que o Banco Central paga às instituições financeiras nas suas transações diárias de liquidez... E, enfim, Selic é também o tamanho dos juros básicos obtidos pela calibragem do volume de dinheiro na economia, determinada pelo Banco Central...

Vai ser complicado para dona Maria fazer os cálculos com 70% da Selic. Precisa saber em quanto está a Selic e, ainda, como fazer essa conta.

Uma comparação ajuda a entender a complexidade. O consumidor sabe que o poder energético do álcool é de só 70% do da gasolina. Portanto, sempre que o preço do álcool superar os 70% da gasolina, é melhor encher o tanque do carro flex com gasolina, não com álcool. Mesmo assim, no posto de gasolina ninguém consegue calcular de cabeça. Pois 70% da Selic é o que a caderneta vai pagar.

A complexidade não termina aí. O mercado terá agora três cálculos diferentes para determinar o rendimento da caderneta. Como nada muda para as cadernetas antigas, elas continuarão pagando 0,5% ao mês (ou 6,17% ao ano) de juros mais a Taxa Referencial de Juros (TR) - que quase não conta, de tão pequena que é. Com isso, a caderneta antiga segue remunerando por ano algo em torno dos 6,5%. E até aí as coisas ainda ficam relativamente simples para o povão.

O rendimento da nova caderneta, no entanto, terá dois cálculos. O primeiro deles será aplicado se os juros básicos (a tal Selic) ficarem acima de 8,5% ao ano. Nesse caso, prevalecerá o esquema antigo. E outra conta será feita se a Selic baixar a 8,5% ou menos, que é quando se aplicarão os 70% da Selic.

A simplicidade é uma qualidade inestimável que precisou ser sacrificada agora para permitir a derrubada dos juros para níveis internacionais.

Mas, se é assim, talvez fosse melhor, como na Europa e nos países avançados, deixar que os bancos definissem livremente a remuneração da caderneta, em vez de complicar tudo com fórmulas diferentes. Não é o que já acontece quando o investidor quer aplicar seus recursos em Certificados de Depósito Bancário (CDBs)?

Em todo o caso, a opção está feita. O caminho para a derrubada dos juros está aberto, sem risco de forte migração de aplicações em renda fixa para cadernetas. O único obstáculo para a queda dos juros seguirá sendo eventual cavalgada da inflação que, no momento, não dá sinais disso.

Nisso, a presidente Dilma teve mais coragem do que o presidente Lula, que evitou mexer na caderneta por medo de ser equiparado ao ex-presidente Collor, notabilizado pelos estragos a que submeteu a poupança popular.

Os tão temidos problemas políticos em decorrência do que foi feito parecem afastados. A própria presidente Dilma julgou necessário preparar o golpe. Primeiro, passou para a opinião pública a imagem de que está peitando os bancos. Depois, quando ganhou auras de dama de ferro com os cartolas do dinheiro, fez o que tinha de fazer com as cadernetas. As reações políticas são tímidas ou inexistentes.

Pouco tempo, muitas dúvidas e divergências - JOÃO PAULO CAPOBIANCO


FOLHA DE SP - 05/05/12

Faltando pouco mais de um mês para a Rio+20, os esperançosos de que os seus objetivos finalmente fossem definidos com clareza se voltaram para a rodada final de negociações "informais" que terminou ontem, em Nova York.

A julgar pelos resultados parciais anunciados, no entanto, esperar parece não ter valido a pena.

Persistem as dúvidas e divergências sobre praticamente todos os itens da pauta e até sobre o que efetivamente será discutido no evento.

Para piorar o cenário, dificilmente as divergências poderão ser sanadas no pouco tempo que resta, muito menos na própria conferência -os chefes de Estado que vierem certamente não resolverão em três dias aquilo que os diplomatas negociadores não foram capazes de resolver nas fases preparatórias.

Ainda mais porque a negociação ficará espremida em agendas lotadas de compromissos políticos que os líderes consideram mais relevantes, como as eleições em seus países.

A Rio+20 está fora de foco, em um momento em que não restam dúvidas sobre o agravamento dos problemas ambientais.

Na realidade, quando se analisa os tais três pilares do desenvolvimento sustentável, o mais frágil é justamente o do meio ambiente.

O progresso no combate a pobreza, por exemplo, que tirou milhões de pessoas dessa situação em vários países, notadamente no Brasil, não foi acompanhado da melhoria dos indicadores ambientais.

Ao contrário, as convenções sobre mudanças climática, biodiversidade e combate à desertificação que resultaram da Rio-92 não lograram avanços significativos. Suas agendas estão praticamente bloqueadas.

Assim, a questão da governança ambiental mundial se tornou fundamental para a implementação dos acordos internacionais já existentes e para a preparação dos que terão de ser definidos no futuro próximo.

Persiste, no entanto, um impasse que trava qualquer evolução nessa discussão. A proposta de se transformar o frágil e pobre Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) em um órgão com poder de implementação semelhante às agências globais de saúde (OMS), comércio (OMC), alimentação e agricultura (FAO), trabalho (OIT) e educação e cultura (Unesco), apoiada pela União Europeia e africanos, totalizando 140 países, não avança por oposição dos EUA.

Nesse tema estratégico, o país anfitrião, que deveria ser um facilitador de consensos, parece ter tido uma recaída com relação à sua posição assumida em 2007.

Em setembro daquele ano, o governo brasileiro organizou no Rio uma reunião internacional para tratar exatamente desse assunto.

O Brasil propôs aos ministros de Meio Ambiente e chanceleres de 22 países lá presentes a criação de uma nova organização com responsabilidades nas áreas normativa, de cooperação e de financiamento que coordenasse o Pnuma, o Fundo Global para o Meio Ambiente, outros mecanismos financeiros e os secretariados das convenções internacionais na área do meio ambiente.

A ideia defendida na reunião era que essa nova organização fosse capaz de integrar e potencializar as ações dos órgãos das Nações Unidas já existentes, de forma a buscar a efetividade da implementação sem a criação de uma nova megaestrutura burocrática.

Recuperar essa proposta e liderar a busca de um consenso nessa questão pode ser uma forma de evitar que a Rio+20 seja conhecida como a mais antiecológica reunião ambiental da história. Afinal, corremos o risco de emitir milhões de toneladas de gases de efeito estufa para muito pouco resultado.

PROGRAMAÇÃO ESPORTIVA NA TV


8h45 - Arsenal x Norwich, Campeonato Inglês, ESPN

9h - Grand Prix de judô, etapa do Azerbaijão, Esporte Interativo e Sportv 2

10h30 - B. Dortmund x Freiburg, Campeonato Alemão, ESPN Brasil

10h30 - Colônia x B. de Munique, Campeonato Alemão, Bandsports e Esporte Interativo

10h45 - Pré-Olímpico de boxe, finais, ESPN

13h - Canadá x EUA, Mundial de hóquei no gelo, Sportv 2

13h15 - Chelsea x Liverpool, Copa da Inglaterra (final), ESPN Brasil, ESPN HD e Esporte Interativo

15h45 - Roma x Catania, Campeonato Italiano, ESPN Brasil

16h - Orlândia x Corinthians, Liga Futsal, Sportv

16h - Granada x Real Madrid, Campeonato Espanhol, ESPN

16h - Atlético de Madri x Málaga, Campeonato Espanhol, ESPN HD

16h30 - Porto x Sporting, Campeonato Português, Bandsports, Esporte Interativo e Sportv 2

17h - Pré-Olímpico fem. de vôlei, semifinal, ESPN

18h10 - River Plate x Gimnasia y Esgrima, Campeonato Argentino (2ª divisão), ESPN Brasil

18h30 - Bragantino x Mogi Mirim, Troféu do Interior, Sportv

21h - Los Angeles Galaxy x New York Red Bulls, Major League Soccer, ESPN HD

21h - Copa do Mundo de kickboxing, artes marciais, Bandsports

22h30 - Utah Jazz x San Antonio Spurs, NBA, ESPN e ESPN HD

23h - Circuito mundial de vôlei de praia, semifinal masc., Esporte Interativo e Sportv 2

5h40 - Copa do Mundo de remo, etapa da Sérvia, Sportv