terça-feira, agosto 03, 2010

ARNALDO JABOR

 felicidade é uma obrigação de mercado
ARNALDO JABOR

O ESTADO DE SÃO PAULO - 03/08/10

Desculpem a autorreferên-cia, que é vitupério - mas estou terminando meu filme, "A Suprema Felicidade", que me tomou três anos, entre roteiro, preparação e filmagem. Agora, sairá a primeira cópia.
Amigos me perguntam: "Que é essa tal de ‘A Suprema Felicidade’? Onde está a felicidade?".
Eu penso: que felicidade? A de ontem ou a de hoje?
Antigamente, a felicidade era uma missão a ser cumprida, a conquista de algo maior que nos coroasse de louros. A felicidade demandava "sacrifício". Olhando os retratos antigos, vemos que a felicidade masculina estava ligada à ideia de "dignidade", vitória de um projeto de poder. Vemos os barbudos do século XIX de nariz empinado, perfis de medalha, tirânicos sobre a mulher e os filhos, ocupados em realizar a "felicidade" da família. Mas, quando eu era criança, via em meus parentes, em minha casa, que a tal felicidade era cortada por uma certa tristeza, quase desejada. Já tinha começado o desgaste das famílias nucleares pelo ritmo da modernidade.
Hoje, a felicidade é uma obrigação de mercado. Ser deprimido não é mais "comercial". A infelicidade de hoje é dissimulada pela alegria obrigatória. É impossível ser feliz como nos anúncios de margarina, é impossível ser sexy como nos comerciais de cerveja. Essa "felicidade" infantil da mídia se dá num mundo cheio de tragédias sem solução, como uma "Disneylândia" cercada de homens-bomba. A felicidade hoje é "não" ver.
Felicidade é uma lista de negações. Não ter câncer, não ler jornal, não sofrer pelas desgraças, não olhar os menininhos-malabaristas no sinal, não ter coração. O mundo está tão sujo e terrível que a proposta que se esconde sob a ideia de felicidade é ser um clone de si mesmo, um androide sem sentimentos.
O mercado demanda uma felicidade dinâmica e incessante, cada vez mais confundida com consumo, como uma "fast food" da alma. O mundo veloz da internet, do celular, do mercado financeiro nos obriga a uma gincana contra a morte ou a velhice, melhor dizendo, contra a obsolescência do produto ou a corrosão dos materiais.
A felicidade é ter bom funcionamento.
Há décadas, o precursor McLuhan falou que os meios de comunicação são extensões de nossos braços, olhos e ouvidos. Hoje, nós é que somos extensões das coisas. Fulano é a extensão de um banco. Sicrano comporta-se como um celular, beltrana rebola feito um liquidificador.
Assim como a mulher deseja ser um objeto de consumo, como um "avião", uma máquina peituda, bunduda, o homem também quer ser uma metralhadora, uma Ferrari, um torpedo inteligente e, mais que tudo, um grande pênis voador.
A ideia de felicidade é ser desejado. Felicidade é ser consumido, é entrar num circuito comercial de sorrisos e festas e virar um objeto de consumo.
Não consigo me enquadrar nos rituais de prazer que vejo nas revistas. Posso ter uma crise de depressão em meio a uma orgia, não tenho o dom da gargalhada infinita, posso broxar no auge de uma bacanal. Fui educado por jesuítas, para quem o sorriso era quase um pecado; a gargalhada, um insulto.
Bem - dirão vocês -, resta-nos o amor... Mas onde anda hoje em dia essa pulsão chamada "amor"?
O amor não tem mais porto, não tem onde ancorar, não tem mais a família nuclear para se abrigar.

O amor ficou pelas ruas, em busca de objeto, esfarrapado, sem rumo. Não temos mais músicas românticas, nem o lento perder-se dentro de "olhos de ressaca", nem o formicida com guaraná.
Mas, mesmo assim, continuamos ansiando por uma felicidade impalpável.
Uma das marcas do século XXI é o fim da crença na plenitude, seja no sexo, no amor e na política.
Se isso é um bem ou um mal, não sei. Mas é inevitável. Temos de parar de sofrer romanticamente porque definhou o antigo amor... No entanto, continuamos - amantes ou filósofos - a sonhar como uma volta ao passado que julgávamos que seria harmônico. Temos a nostalgia lírica por alguma coisa que pode voltar atrás. Não volta. Nada volta atrás.
Sem a promessa de eternidade, tudo vira uma aventura.
Em vez da felicidade, temos o gozo rápido do sexo ou o longo sofrimento gozoso do amor. Só restaram as fortes emoções, a deliciosa dor, as lágrimas, motéis, perdas, retornos, desertos, luzes brilhantes ou mortiças, a chuva, o sol, o nada.
O amor hoje é o cultivo da "intensidade" contra a "eternidade". O amor, para ser eterno hoje em dia, paga o preço de ficar irrealizado. A droga não pode parar de fazer efeito e, para isso, a "prise" não pode passar.
Aí, a dor vem como prazer, a saudade, como excitação, a parte, como o todo, o instante, como eterno. E, atenção, não falo de "masoquismo"; falo do espírito do tempo.
Há que perder esperanças antigas e talvez celebrar um sonho mais efêmero.
É o fim do "happy end", pois, na verdade, tudo acaba mal na vida. Estamos diante do fim da insuportável felicidade obrigatória. Em tudo.
Não adianta lamentar a impossibilidade do amor.
Cada vez mais o parcial, o fortuito é gozoso. Só o parcial nos excita. Temos de parar de sofrer por uma plenitude que nunca alcançamos.
Hoje, há que assumir a incompletude como única possibilidade humana. E achar isso bom. E gozar com isso.
Não há mais "todo"; só partes. O verdadeiro amor total está ficando impossível, como as narrativas romanescas. Não se chega a lugar nenhum porque não há aonde chegar.
A felicidade não é sair do mundo, como privilegiados seres, como estrelas de cinema, mas é entrar em contato com a trágica substância de tudo, com o não-sentido, das galáxias até o orgasmo.
Usamos uma máscara sorridente, um disfarce para nos proteger desse abismo.
Mas, esse abismo é também nossa salvação. A aceitação do incompleto é um chamado à vida.
Temos de ser felizes sem esperança.
E este artigo não é pessimista...

GOSTOSA

MERVAL PEREIRA

Eleitorado oscila
Merval Pereira
O GLOBO - 03/08/10 

A diferença entre as mais recentes pesquisas do Datafolha e do Ibope não pode ser atribuída à metodologia utilizada por cada instituto, e nem mesmo é possível dizer que um deles esteja errado. Até o momento, os especialistas estão convencidos de que está havendo uma oscilação do eleitorado, que ainda não se fixou em um candidato e se deixa levar por eventuais movimentos mais agressivos dos meios de comunicação.

O resultado do Datafolha dando um empate técnico entre Serra e Dilma veio logo depois de uma pesquisa do Vox Populi que dava Dilma na frente com oito pontos de vantagem.

O empate teria sido resultado dos efeitos da ampla exposição do candidato nos horários de propaganda partidária do PSDB e de seus três aliados na TV — o DEM, o PPS e o PTB.

O programa nacional do PSDB na televisão, que parecia não ter surtido efeito, acabou sendo compensado pelas inserções publicitárias, gerando pontos favoráveis para Serra.

Esse mais recente Ibope retoma a situação anterior, mostrando que a tendência da corrida presidencial é favorável a Dilma, mas que o eleitor ainda não está com o voto consolidado, sendo sensível à propaganda, o que só aumenta a importância do período de propaganda na televisão e rádio que começa dia 17 e a importância da aparição de Lula nos programas eleitorais do PT.

Os debates, que começam dia 5 pela TV Bandeirantes, também terão importância fundamental este ano, especialmente pelo desconhecimento do eleitorado em relação ao comportamento da candidata oficial.

Mesmo que o Datafolha utilize os chamados “pontos de fluxo” para fazer suas pesquisas, ao contrário dos outros institutos, que vão às casas dos entrevistados, a diferença de metodologias não explicaria a diferença de resultados, e muito menos desqualifica as pesquisas do Datafolha como querem alguns militantes petistas mais exaltados.

Além da base de pesquisa do Datafolha ser muito maior que a dos outros institutos (ouviu na última pesquisa mais de 10 mil eleitores, contra cerca de 2 mil do Ibope), o sistema de checagem do Datafolha é muito seguro, segundo a opinião generalizada entre os técnicos.

O instituto costuma colocar nos pontos de fluxo onde são feitas as pesquisas um checador para cada três pesquisadores, o que enfraquece o argumento de seus críticos.

Na verdade, a checagem que os institutos fazem tem o objetivo de conferir se seus entrevistadores realmente fizeram as entrevistas que entregam, e por isso os checadores voltam a 20% dos domicílios para conferir os dados.

O Datafolha faz a checagem por telefone, mas não apenas através desse método, e utiliza checadores no local da pesquisa.

Os institutos, sem exceção, utilizam-se de técnicas semelhantes para ganhar velocidade na apuração. Se fossem seguir as regras para obter a “aleatoriedade” técnica desejável, levariam um mês para obter os resultados que apresentam em dois ou três dias.

A começar pela base de dados do IBGE, que a cada ano fica mais precária, já que tem como origem o censo que é realizado de dez em dez anos.

Os dados são ajustados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) e ponderados, o que tem funcionado “relativamente bem” nos últimos anos.

Mas é evidente que essas pesquisas estão sujeitas a chuvas e trovoadas, a começar pela “margem de erro”, que tecnicamente é calculada para os casos em que elas seguem rigorosamente os métodos tradicionais, o que não acontece com essas pesquisas, especialmente em época de eleição.

Há, por exemplo, entre as pesquisas do Datafolha e do Ibope, divergências importantes.

Embora os números das regiões Sul e Norte/CentroOeste coincidam, no Sudeste e no Nordeste eles são completamente disparatados.

No Nordeste, onde está a maior força do lulismo, a liderança de Dilma é inconteste, mas é maior no Ibope do que no Datafolha.

Neste último, a candidata oficial vence de 41% a 29%, mas no Ibope a vantagem dobra: 49% a 25%. Já no Sudeste, Serra lidera, segundo o Datafolha, por sete pontos: 40% a 33%, mas empata com a petista em 37% a 35% no Ibope.

Embora essas diferenças sejam fundamentais, o que fica claro é que Serra precisa reduzir a força de Dilma no Nordeste, onde há analistas que acreditam que nessa batida ela possa chegar a ter 70% dos votos, e melhorar sua atuação no Sudeste, especialmente em São Paulo e em Minas Gerais.

Esses dois estados, os maiores colégios eleitorais do país, que têm somados 43. 213. 998 milhões de eleitores, mais de 30% de um total de 130.469.549 de brasileiros aptos a votar, são dominados pelo PSDB, e no entanto José Serra não está recebendo a votação que os tucanos esperavam.

Em São Paulo, que o partido de Serra governa há 16 anos, a diferença de votação está em torno de 3 milhões de votos, a menor das últimas eleições.

Mesmo sendo derrotado em 2006, Alckmin venceu Lula com quase 4 milhões de votos, e Fernando Henrique em 1994 chegou a colocar 5 milhões de votos de dianteira no estado.

Cálculos otimistas dos tucanos indicavam que Serra poderia vencer lá talvez por 6 milhões de votos de diferença, o que compensaria a força do lulismo no Norte e Nordeste.

Também em Minas os tucanos esperavam sorte melhor, pois Lula venceu as duas últimas eleições por cerca de 1 milhão de votos.

O ex-governador Aécio Neves terá que se empenhar mais para virar o jogo a favor de seu candidato Antonio Anastasia, e é possível que com isso melhore a situação de Serra.

O fato é que hoje o que está valendo em Minas não é o voto Dilmasia (Dilma e Anastasia), mas Dilma e Hélio Costa, do PMDB.

Serra, que tem cerca de 33% dos votos mineiros, está em melhor situação que Anastasia, que ainda não chega a 20%.

A força de Lula é inquestionável nesta eleição, mas para tentar superá-la os tucanos precisam antes se unir onde são fortes.

EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO

China compra terras no Brasil
EDITORIAL
O ESTADO DE SÃO PAULO - 03/08/10
O ex-ministro Antônio Delfim Netto tem razão quando recomenda cuidado com as vendas de terras a empresas da China, controladas pelo Estado ou com participação estatal. Investimentos estrangeiros são de modo geral bem-vindos e podem trazer contribuições importantes ao crescimento do País. Grupos estrangeiros podem fazer bons negócios e ao mesmo tempo fortalecer a economia brasileira com recursos adicionais e, ocasionalmente, com aporte de tecnologia. Mas os "negócios" mudam de sentido quando o investimento é subordinado a razões estratégicas de um Estado estrangeiro. No caso de recursos naturais, e de terras para a agropecuária, avaliar corretamente essa estratégia é uma questão de segurança. 
"Os chineses compraram a África e estão tentando comprar o Brasil", disse o professor Delfim Netto em entrevista ao Estado de domingo. Pode haver algum exagero de linguagem, mas a preocupação é justificável. O diretor-geral da FAO, a agência das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, alertou os governos africanos para o risco de um "neocolonialismo", desta vez baseado no controle de áreas férteis. Companhias de vários países participaram nos últimos anos de uma corrida para comprar terras na África. As chinesas estiveram entre as mais ativas. 
A maior estatal chinesa do setor, a China National Agricultural Development Group Corporation, opera em 40 países e 10 mil de seus 80 mil funcionários trabalham no exterior. A empresa detém 6 mil hectares na Tanzânia e criou negócios no setor de alimentos também na Guiné, no Benin e em Zâmbia e já entrou na Argentina e no Peru. Outras companhias chinesas também têm comprado terras em vários países, com o mesmo objetivo: garantir à China produtos indispensáveis ao seu crescimento econômico e à urbanização de centenas de milhões de pessoas.
Desde a última década o governo chinês vem aumentando os investimentos em recursos naturais de outros países. Até agora, seu avanço mais impressionante ocorreu na África, onde os investimentos em mineração e depois na compra de terras foram acompanhados de projetos de cooperação com os países hospedeiros, quase sempre pobres e com baixo grau de desenvolvimento.
O passo seguinte na estratégia foi a negociação de projetos com vários governos latino-americanos. Desde o começo deste ano, foram anunciados planos de investimentos de pouco mais de US$ 11 bilhões no Brasil. Se todos forem concretizados, o estoque de capital chinês no Brasil poderá ocupar a 9.ª posição em ordem de grandeza. Por enquanto, está em 42.º lugar.
Companhias chinesas têm mostrado disposição de investir em vários setores, como produção de aço, exploração de petróleo, distribuição de eletricidade, exploração de minérios e construção do trem-bala entre Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro. Parte desses investimentos atende ao objetivo de garantir matérias-primas para uso industrial e para geração de energia.
Ao mesmo tempo, empresas têm procurado oportunidades de investimento no agronegócio. Em abril, a China National Agricultural Development Group Corporation revelou a intenção de comprar terras para produzir soja e milho. Nos primeiros contatos, negociadores da empresa indicaram interesse em terras do Centro-Oeste, especialmente de Goiás.
Na mesma época, representantes do Chongqing Grain Group anunciaram a disposição de aplicar US$ 300 milhões na compra de 100 mil hectares no oeste da Bahia, para produzir soja para os mercados brasileiro e chinês. Funcionários da empresa participaram da comitiva do presidente Hu Jintao.

Um mês depois, o Grupo Pallas International, formado por investidores privados, mas também com participação estatal, divulgou planos de comprar entre 200 mil e 250 mil hectares no oeste da Bahia e possivelmente no conjunto de áreas de cerrado do Maranhão, do Piauí e do Tocantins, conhecido por Mapito.

Negócios desse tipo envolvem o controle de grandes áreas por grupos subordinados à estratégia de uma potência estrangeira. Poderão agir segundo interesses comerciais, como outros investidores, mas poderão seguir uma lógica de Estado - e esse Estado não será o brasileiro. 

GOSTOSA

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Multiplicação dos pães 
Sonia Racy 

O Estado de S.Paulo - 03/08/2010

O mercado financeiro está curioso para descobrir a fórmula de crescimento do BVA: um ex-pequeno banco carioca, criado em 94, que nos últimos dois anos aumentou geometricamente seu capital.
Como inveja mata, o mercado espalhou pelo mundo subterrâneo das finanças veneno ligando o banco a ex-ministros e a partido político de tonalidade vermelha.
Maldade daquelas.


Tijolos em jogo
As construtoras menores - as mesmas que acabaram viabilizando o projeto de Belo Monte com menor preço como queria o governo - estão chiando. Boa parte da construção da usina deve ficar com a Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e Odebrecht.
Elas se perguntam: como esse trio, que orçou o empreendimento em quase R$ 30 bilhões, agora acha que dá para fazer a usina por R$ 19 bilhões?

Percalço
O TRE já admite: não conseguirá julgar os mais de 3 mil pedidos de registro de candidaturas até 5ª, como manda o calendário eleitoral. Mesmo com a convocação extra de servidores no fim de semana. Entre os problemas, o do sistema Candex, que ora deturpa a informação, ora não a lê.
O tribunal avisa, no entanto, que o atraso será pequeno.

Saudade
Ayrton Senna, que completaria 50 anos em novembro, será homenageado com exposição interativa. Parceria do instituto que leva seu nome e Ydreams.

Boa ação
Depoimentos, entrevistas e documentos de Zilda Arns estão sendo organizados para se transformar em livro.
O projeto, de Marilda de Souza Ferri, está em fase de captação de recursos.

Contra o relógio
Obra no aeroporto de Guarulhos tem causado atrasos de até 30 minutos na saída de aviões nos horários de pico. Trata-se da construção de uma taxi-way (pista de acesso de aeronaves). Por causa dela, o avião tem que entrar na pista de pouso e decolagem para fazer manobra.
A Infraero confirma as obras mas não comenta os atrasos.

Contra o relógio 2
Uma explicação dada ontem para os atrasos da Gol chama a atenção. Os passageiros que esperavam para embarcar do Rio para SP recebiam da Infraero a informação: o atraso foi provocado por greve branca dos funcionários da companhia.

Balanço no ninho
Sergio Guerra se reuniu domingo à noite com Andrea Matarazzo, José Henrique Reis Lobo, Marcio Fortes, Eduardo Jorge e Cícero Lucena para avaliar o resultado das pesquisas eleitorais. Não chegaram a uma conclusão sobre o que pode ter mudado em dez dias, entre a primeira e a segunda pesquisa do Ibope, impactando Serra negativamente.
A decisão foi focar no segundo turno que se mostra sempre uma nova eleição.

Balanço 2
Falaram também sobre arrecadação de recursos. Acreditam que vai melhorar a partir da segunda quinzena de agosto.

Sobraaaaaaando!
Brasileiros em Saint-Tropez - e eram muuuitos- estavam loucos para saber o nome do pernambucano que disputou com um saudita, no night-clube Les Caves du Roy: quem conseguiria gastar mais abrindo champanhes em noite da semana passada.
Consta que o brazilian-made venceu - largou na mesa ? 400 mil.

Espelho
Alckmin descobriu que tem mais semelhanças com Serra do que imaginava, domingo, em Itaquera. Foi confundido com o candidato a presidente pela população que gritava: "Serra, vou votar em você!"

Na frente

A CPI da Bancoop receberá para depor, hoje, a ex-diretora financeira da cooperativa, Ana Maria Érnica. Pessoa de confiança de João Vaccari Neto, tesoureiro do PT.

Luiz Hermano abre a exposição Rede Concreta/Trama Orgânica. Dia 12, na Galeria Arte em Dobro, no Rio.

Juan Manuel Santos, presidente eleito da Colômbia, disse sim a João Dória. Participa do almoço do Lide em Cartagena. No dia 11 de outubro.

Ale Youssef, o festeiro-candidato, se lança hoje em seu Studio SP. Ao som de DJs como Tata Aeroplano, Plínio Profeta e de Polainas.

Frei Betto faz palestra off-Flip. Na Casa de Cultura, Quinta-feira.

Com produtores de 13 países, a Decanter Wine Show começa hoje no Hyatt.
Anna Maria Maiolino, artista plástica, lança seu livro Order and Subjectivity, na Galeria Millan. Quinta.

A exposição Marepe começa hoje na Luisa Strina.

Novidade em Nova York: máquinas vendem flores para maridos e namorados distraídos ou muito ocupados. O buquê sai por US$ 10.

LUIZ GARCIA

Quadro eleitoral
LUIZ GARCIA
O GLOBO - 03/08/10

As eleições deste ano podem ser as mais limpas da história recente da República. Pelo menos, se valer o exemplo de São Paulo. Lá, ainda faltando a análise de cerca de 700 candidatos a candidaturas, a Procuradoria Eleitoral do estado já impugnou 45 candidatos, e ainda falta analisar a situação de cerca de 700.

É uma situação inédita. Ainda bem que não se deve a um surto de desonestidade na classe política do estado: trata-se de bendita consequência da Lei da Ficha Limpa, que está estreando nas eleições nacionais.

Sem surpresa para a plateia, Paulo Maluf está na lista. Foi condenado, já em segunda instância, por superfaturamento numa compra de mais de uma tonelada de frangos quando era prefeito de São Paulo, ao preço de R$ 1,39 milhão. E também responde a processo criminal em Nova York por crime financeiro. São Paulo — a propósito, por coincidência ou por ter o maior colégio eleitoral do país — é campeão em impugnações: são 45 candidatos sob risco de serem mandados para o chuveiro antes de o jogo começar.

Igualmente deixando os espectadores bocejando de tédio, o Maranhão é vicecampeão de impugnações, com um total de 42 casos. Mas a Justiça Eleitoral do estado, ignorando o que decidira o Tribunal Superior Eleitoral, preferiu ignorar os casos de candidatos condenados antes de 4 de junho deste ano. Aqui no Rio, o TRE julgou, entre 32 outros casos, a candidatura de Anthony Garotinho, e lhe deu ganho de causa, pelo menos até o julgamento definitivo pelo TSE.

Como se vê, a nova lei pode fazer muito para limpar o quadro eleitoral. Mas os partidos ainda podem fazer bastante para sujálo. E até de maneira surpreendente. Não há outro adjetivo para a história, ainda mal contada, de uma carta anônima supostamente produzida por petistas para sujar a ficha do ministro da Fazenda — e, se alguém esqueceu, também petista — Guido Mantega. No documento, uma filha do ministro é acusada do feio pecado de tentar tráfico de influência no Banco do Brasil.

Curiosamente, ninguém no PT optou pela saída de acusar a oposição pela autoria da tal carta. O presidente do partido, José Eduardo Dutra, preferiu alegar que a carta anônima não é um dossiê e não se sustenta. Tem até razão. Não deve ter sido por acaso que a oposição deu sinais claros de que não pretendia acumular capital eleitoral com o episódio. O senador Sergio Guerra, presidente do PSDB, deu o tom: “Eles são viciados em dossiês... são cheios de hábitos estranhos.” Foi apenas uma alfinetada — mas mais ferina que uma cacetada.

BANDALHEIRA

ANDRÉ RAMOS TAVARES

Nepotismo versus súmula
ANDRÉ RAMOS TAVARES 
FOLHA DE SÃO PAULO - 03/08/10

A fragilidade ou debilidade prática de algumas súmulas indica que só deveriam surgir em entendimentos realmente consolidados do Supremo 



Após editar a súmula vinculante (SV) nº 13, amplamente aplaudida pela sociedade, vedando a prática do nepotismo, o 
Supremo Tribunal Federal (STF) assiste à retomada do tema. No novo cenário, permanece a corte como protagonista principal, embora desta feita na posição paradoxal de detratora da súmula.
Em interpretação possível, porém gramaticalmente superficial, a SV 13 estaria a proibir toda e qualquer contratação de parentes até o terceiro grau para cargos em comissão ou de confiança, o que teria sido desprezado pela contratação de casal para cargos de confiança na presidência do STF.
O que o caso exibe ao público é, em realidade, a persistência do período de experimentação e ajustamento que um novo e tão diferenciado instituto vivencia. Não há culpados a serem apontados nem violação a ser alardeada.
A súmula vinculante resulta de construção brasileira (2004), inovadora, que permite ao STF editar enunciados com o objetivo de padronizar (vincular) as decisões, judiciais e administrativas, posteriores sobre o tema, em todo o país e para todos os cidadãos. É um imponente instrumento contra a fragmentação do direito.
Seria ingenuidade acreditar que um instituto desse calibre, inusitado na história brasileira, pudesse ser realizado integralmente sem percalços ou necessidade posterior de reestruturação.
O problema, agora, não está apenas no significado do nepotismo, mas, sobretudo, na consolidação do instituto da súmula vinculante; mazelas práticas da formatação atual foram reveladas e não sendo, como efetivamente não é, o caso de eliminação do instituto, um aprimoramento se impõe.
A fraqueza ou debilidade prática de algumas súmulas (poderíamos citar também o caso da súmula do uso das algemas) indica que só deveriam surgir nos entendimentos amplamente amadurecidos e realmente consolidados do STF.
Seria justo aguardar deste, doravante, que assumisse o caminho da edição de súmula em termos muito precisos e específicos, com referência a hipóteses mais nítidas e ampla fundamentação, diferenciando-a de normas extremamente abstratas, como são as leis.
Não se deve pensar na súmula como "carte blanche" para o STF expedir normas, nem deve o tribunal prestar-se ao papel de legislador, com todas as dificuldades que essa tormentosa atividade envolve.
Uma proposta viável é que seja usada mais intensamente para a defesa dos direitos humanos, cumprindo papel pedagógico na construção de rotinas e práticas administrativas sensíveis à cidadania.
Esta é, porém, opção política do STF. Portanto, a súmula a ser editada não pode ser ponto de partida de uma longa cadeia de discussões.
Isso vai de encontro à Constituição, deturpando o mecanismo. A súmula há de ser ponto de chegada, de uma longa jornada pelo aperfeiçoamento e unidade do direito, quando questões já amplamente debatidas e discutidas no seio do 
Judiciário encontram na súmula seu repositório natural.
Desde que determinada súmula seja o ponto inicial de sérias divergências, estará comprovada a precariedade de sua edição

ANDRÉ RAMOS TAVARES, livre-docente em direito constitucional pela USP, é professor de direito constitucional da PUC-SP, diretor do Instituto Brasileiro de Estudos Constitucionais e autor da "Nova Lei da Súmula Vinculante" (3ª ed., GEN Editora).

DORA KRAMER

Olha a veia que salta 
Dora Kramer 

O Estado de S.Paulo - 03/08/2010

O episódio aconteceu há quase três anos, mas o presidente Luiz Inácio da Silva ainda não superou a derrota que lhe impôs o Senado ao extinguir a CPMF, em dezembro de 2007.


Naquela dimensão foi o único malogro de Lula no Congresso, inédito para quem praticamente só colecionou êxitos (em ótica sem juízo ético) em oito anos de mandato.

Compreende-se, portanto, que seja inesquecível. Ainda mais porque depois daquilo se extinguiram de vez quaisquer esperanças de que uma emenda constitucional ou mesmo um plebiscito sobre a instituição de um terceiro mandato pudesse ter a mais ínfima chance de ser aprovado no Senado.

Por algumas outras mais, mas principalmente por essa, Lula firmou a convicção de que antes de tudo o mais importante é o governante ter um Senado fiel e submisso.

Mais importante que o PT eleger muitos governadores, repete aos correligionários desde o ano passado, é o PT eleger e o governo controlar uma bancada grande de senadores. Isso, claro, no pressuposto de que a Câmara esteja perfeitamente dominada.

O presidente expôs em público esse anseio no último sábado em Curitiba, onde participou de comício da candidatura presidencial, ao fazer votos de que Dilma Rousseff, se eleita, "tenha um Senado de mais qualidade".

Até aí, não haveria do que nem como discordar do presidente Lula. Raro deve ser o cidadão que não deseje um Senado sem atos secretos, sem postergação proposital de investigações, sem contratações abusivas, sem desperdícios, sem compadrio, com responsabilidade, honestidade, transparência, impessoalidade, civilidade, respeito absoluto pelo público.

E, sobretudo, um Senado reverente à instituição que não seja presidida por alguém com tanto a esconder que prefira silenciar a contribuir para melhorias, que necessite recorrer à censura para proteger os seus.

Só que não é bem isso que Lula entende por "um Senado de mais qualidade". Segundo ele, a qualidade se expressa em um "Senado mais respeitador, um Senado que não ofenda o governo, como eu fui ofendido. Um Senado que por mesquinharia derrubou R$ 40 bilhões, que todo ano a gente ia por na saúde".

No preâmbulo, desejou: "Só peço a Deus que essa companheira não tenha o Senado que eu tive."

Se o presidente não prestou atenção ao que disse é grave, mas se prestou só não é gravíssimo porque seu poder de vocalizar equívocos com garantia de ampla divulgação termina em breve.

Ah, sim, porque se o leitor ainda não realizou, realize: a partir de janeiro de 2011, assuma Dilma ou José Serra a Presidência da República, o estilo muda. Governar não será mais discursar.

O País não girará em torno de uma pessoa cuja primeira tarefa será a de se acostumar com a volta à planície.

É possível que para Luiz Inácio da Silva venha a ser impactante a descoberta de que o Senado nunca foi nem é dele, e sim da República. Logo, a frase "o Senado que eu tive" não retrata a realidade. Antes traduz uma fantasia de absolutismo.

"Um Senado mais respeitador, que não ofenda o governo como eu fui ofendido." Ou seja, o exercício da prerrogativa constitucional de aprovar ou rejeitar emendas e projetos de lei quando contrariam a vontade deste que agora está às vésperas de deixar a Presidência é desrespeito e ofensa pessoal. Ainda que, como a CPMF, seja a vontade majoritária da sociedade.

Em oito anos Lula não incorporou a concepção de Estado. Quando assumiu quase expulsa um correspondente estrangeiro porque considerou ofensivo à Nação um artigo do rapaz falando sobre seu (dele) consumo de bebidas alcoólicas.

Tomou-se pelo País. E agora depois de todo esse tempo continua ativista da autorreferência, tratando o Senado como um apêndice de sua (dele) majestade.

Nesse mesmo discurso em Curitiba, o presidente avisou mais uma vez que vai se empenhar pela reforma política e se dedicar a ensinar a "um ex-presidente" a ser "ex-presidente da República e não dar palpite em quem está governando".

Se for Serra, será esquisito Lula abrir mão da política como oposicionista; se for Dilma, será um favor que faz a ela, ao PT e ao PMDB. No que tange aos partidos, aliás, não veem a hora.

GOSTOSA

PAINEL DA FOLHA

Ordem dos fatores
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SÃO PAULO - 03/08/10

Mais de uma semana antes de Lula classificar como “avacalhação” uma eventual interferência para evitar a morte por apedrejamento de Sakineh Ashtiani, o chanceler Celso Amorim, sob orientação do presidente, telefonou a seu colega iraniano, Manouchehr Mottaki, para fazer um apelo humanitário e dizer que a execução mexeria com a “sensibilidade brasileira”. 

Alertado por assessores de que sua declaração havia acirrado os ânimos em relação ao episódio, com possíveis reflexos na campanha eleitoral, Lula optou pelo apelo público ao governo iraniano, feito no sábado em evento com Dilma Rousseff em Curitiba. 
A propósito - A plateia do comício na capital paranaense era majoritariamente feminina. Até ontem à tarde, o Irã não havia respondido ao pedido de Lula. 
Gravando! - Anfitrião do almoço de senadores com ministros do governo Lula, Gim Argello (PTB-DF) contratou equipe de TV para colher depoimentos do primeiro escalão em apoio aos candidatos presentes. A fórmula se repetirá em outro local amanhã, quando os ministros estarão à mesa com deputados. 
Wally 1 - De todos os sumiços anotados pela cúpula da campanha de José Serra, nenhum causa mais espécie que o de Arthur Virgílio (PSDB-AM). O senador, que na tentativa de viabilizar sua reeleição aliou-se ao lulista Alfredo Nascimento (PR), rifou a campanha presidencial tucana no Amazonas. 
Wally 2 - Outra praça a preocupar o comando serrista é o Rio Grande do Norte. Ali a oposição tem a líder nas pesquisas, Rosalba Ciarlini (DEM), mas a campanha esconde o candidato presidencial. Trata-se de conselho da marquetagem para não contrariar o eleitorado lulista. 
Off-line - Protesto de Serra diante da dificuldade de tuitar nas primeiras horas de domingo: “E o Twitter, que fez manutenção bem na hora dos indormíveis?”. 
Mão do gato - As equipes de Serra e de Marina Silva (PV) não acreditam que o PSTU tenha agido sozinho na tentativa de impor, via medida cautelar apresentada ao TSE, a participação de seu candidato no debate da Band. Se acolhida pelo tribunal, a reivindicação inviabilizaria, na prática, o evento desta quinta-feira. 
Fora do ar - Embora a retransmissora do SBT no Ceará tenha anunciado que Ciro Gomes (PSB) estrearia como comentarista na semana passada, o deputado e ex-ministro ainda não apareceu na tela. Até agora, ninguém sabe como será sua participação. 
Madrinha - A proposta de que os Correios comprem aviões para fazer o transporte de correspondências, apresentada ontem em entrevista pelo novo presidente da empresa, David José de Matos, tem como principal defensora, dentro do governo, a ministra Erenice Guerra (Casa Civil). Esse serviço é feito hoje por terceirizadas. 
Trincheira - Ex-ministro das Comunicações e candidato lulista ao governo de Minas, Hélio Costa (PMDB) teve de engolir a queda de seus indicados da direção dos Correios, mas mantém gente nos conselhos administrativo e fiscal. E já protesta diante dos rumores de que também esses irão rodar. 
Tiroteio
O recado não foi para mim. Acho que foi para o Serra. Ele, e não eu, é quem deve ter prometido dar estrutura ao Gabeira.
DO PRESIDENTE DO DEM, RODRIGO MAIA, comentando declaração do candidato do PV ao governo do Rio. Gabeira disse que, se eleito, estará livre para “dar uma banana” aos aliados, pois estes não lhe dariam o devido apoio. 
Contraponto
Voto em trânsito 
Durante a campanha para prefeito de Pindamonhangaba, em 1976, Geraldo Alckmin abordou uma moradora na porta de casa. Depois de meia hora de prosa com o candidato, ela sentenciou: 
- Tudo bem, doutor! Vamos todos votar no senhor! 
Satisfeito, Alckmin se despediu e já ia seguindo para a casa vizinha, quando a mulher alertou: 
- Só falta o senhor deixar o dinheiro do ônibus... 
Ele fez cara de espanto, e ela explicou: 
- É que aqui a família toda vota em Itajubá...

MÍRIAM LEITÃO

Guerra do México 
Miriam Leitão 

O Globo - 03/08/2010

No meio do deserto, ao norte do México, numa cidade onde 70% das ruas são de terra batida, seis mil pessoas já morreram assassinadas desde que começou o governo Felipe Calderón e há dez mil órfãos. Esse é o pior lado do México: Ciudad Juárez. Quem atravessa uma das três pontes chega à segunda cidade mais segura dos Estados Unidos: El Paso, Texas.

Judith Torrea é uma jornalista free lancer, nascida em Pamplona, na Espanha, mas que diz ter seu coração nesta cidade mexicana, no meio do nada. A cidade cresceu nos anos 1960 com a ida para lá das maquilladoras de automóveis. Para espanto da plateia do congresso da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), no último fim de semana, descreveu o cotidiano intratável do lugar que ela define como o mais violento do mundo. Ontem, conversamos longamente: — Em Ciudad Juárez o perigo é estar vivo. Só este ano já morreram assassinadas tantas pessoas quanto em todo 2008. É uma cidade pequena de 1,3 milhão de habitantes.

Os dados oficiais mostram que 116 mil casas foram abandonadas e 10 mil negócios foram fechados.

Esse ambiente de fim de mundo estourou após o início da guerra decretada pelo presidente Calderón contra o tráfico de drogas. Mas o combate se concentra contra apenas um dos cinco cartéis do narcotráfico do país: o cartel Juárez. Outros têm se fortalecido, principalmente o de Sinaloa, controlado por Chapo Guzmán. No primeiro ano do governo de Vicente Fox, do mesmo PAN de Calderón, Guzmán conseguiu escapar de um presídio de segurança máxima escondido num carrinho de lavanderia.

Judith suspeita de tudo.

Acha que Calderón iniciou a guerra acreditando que assim legitimaria seu poder, após eleições controversas e que dividiram o México entre ele e o candidato López Obrador, do PRD. Acha estranho que outros cartéis sejam poupados e suspeita do Exército.

— Nós ficamos sabendo dos crimes pelo mesmo sistema de comunicação que as Forças Federais usam. Apesar de sabermos dos crimes no mesmo momento que as Forças Federais, chegamos às vezes até uma hora antes ao local. Eles chegam, não ouvem as testemunhas e declaram que todos são traficantes, mesmo quando são pobres coitados que não têm nem dinheiro para o funeral.

Na semana passada, entrevistei o cientista político mexicano Jorge Castañeda, na Globonews. Ele também falou da guerra travada em Ciudad Juárez: — Creio que foi um erro do presidente Felipe Calderón ter declarado essa guerra em 2006, sem ter capacidade policial, militar, econômica e de inteligência para ganhar essa guerra. Nunca houve uma definição da vitória. Quando se vai à guerra é preciso saber em que consiste o triunfo. O México não tem uma definição de vitória, não tem estratégia de saída e não tem força suficiente. Foi um erro.

Castañeda disse que o principal país consumidor da droga vendida pelos cartéis da Colômbia e pelos cartéis do México são os Estados Unidos e que 14 estados americanos já liberalizaram o uso terapêutico da maconha. Ele defende a liberalização como forma de destruir o negócio do tráfico de drogas: — O México e a América Latina devem legalizar a maconha e ver o que acontece.

Não podemos mantêla na ilegalidade, quando ela está sendo legalizada nos Estados Unidos. Na Califórnia, o estado mais rico, vai haver um referendo em novembro e é muito provável que ganhe o sim.

Judith acha que se for liberalizada a maconha, os cartéis vão apenas trocar de mercadoria.

— O narcotráfico é um grande negócio para as autoridades e o poder econômico.

Ele corrompe e faz fortunas. Por que não se combate a lavagem de dinheiro? E a corrupção? Está tudo ligado. Eu só acredito em políticas globais contra o narcotráfico — disse.

A jornalista usa uma imagem forte para mostrar a maior contradição: — Do lado de cá da fronteira morrem tantos. Mas essa droga, pela qual se mata, atravessa as pontes tranquilamente, chega aos Estados Unidos e se transforma num fantasma viajante, porque ninguém a intercepta até chegar nos mercados e poder ser consumida em paz em Nova York e em outras cidades americanas.

Durante algum tempo, Judith trabalhou numa revista de celebridades em Nova York: — Lá, vi festas em que se consumia cocaína livremente.

E onde tantos viam prazer, eu, que nunca consumi droga, via apenas o sangue e os mortos dessa guerra.

O problema de Ciudad Juárez ameaça se espalhar.

Hoje é uma terra sem lei, onde os jornalistas se autocensuram para continuar vivendo. O medo de que a violência se espalhe é tanto que hoje mesmo quem detesta o PRI, partido que governou o país por 70 anos, já quer que ele volte nas próximas eleições, o que será, segundo Judith, outra tragédia.

Na visão da jornalista espanhola, o que o México vive ameaça sua própria democracia: — Hoje, o México é o país onde mais morrem jornalistas, que democracia é esta? Judith diz que fala porque não quer que desapareça a cidade que ama. Ontem, ela entrou no Facebook e encontrou uma mensagem de uma menina de 21 anos que estava apagando seus amigos mortos da rede de relacionamentos. Já são 15 os seus mortos.

FORMAÇÃO DE QUADRILHA

EDITORIAL - FOLHA DE SÃO PAULO

Arrecadação espúria
EDITORIAL
FOLHA DE SÃO PAULO - 03/08/10


A ampliação do funcionalismo público do país é com frequência realizada por meios e motivos tortos, gera gastos de má qualidade e desperdício de dinheiro público.
Como se tais distorções não bastassem, agora se descobre que o processo de contratação de novos funcionários pelo Estado tem servido como mecanismo espúrio de arrecadação de recursos.
As taxas de inscrição para concursos públicos têm superado -com folga- os valores necessários para cobrir os gastos com as provas de seleção. Para prejuízo financeiro dos candidatos, o montante excedente de dinheiro já rendeu ao Tesouro Nacional mais de R$ 75 milhões, apenas entre janeiro e maio deste ano.
Em 2009, aproximadamente 10 milhões de pessoas competiram por vagas na administração pública. Nem todo o dinheiro arrecadado com esse exército de candidatos chegou aos cofres públicos. Empresas contratadas para realizar os processos seletivos ficam com parcela dos recursos.
Mas, a depender do contrato firmado entre entidades estatais e prestadoras do serviço, parte das taxas de inscrição é encaminhada à instituição pública que promove o concurso. A Polícia Rodoviária Federal, por exemplo, admite ter usado verbas assim arrecadadas na manutenção de suas academias de formação profissional.
Os recursos excedentes comprovam que as taxas de inscrição são abusivas. Ainda que mecanismos de isenção possam ser aplicados em alguns casos, valores elevados representam um entrave à participação de muitos candidatos. Cria-se um mecanismo discriminatório inaceitável em um processo de seleção governamental.
Utilizar taxas de concursos para o financiamento de órgãos públicos também dificulta o controle sobre os recursos arrecadados e dá margem a desvios. Ao mesmo tempo em que se injeta, de forma ilegítima, mais dinheiro nas instituições, torna-se mais difícil impedir seu rápido desaparecimento pelos canais da corrupção.

ANCELMO GÓIS

Esta galinha 
Ancelmo Góis 

O Globo - 03/08/2010

Esta galinha é uma sobrevivente. Conseguiu, acredite, fugir de um despacho, conta Paulo Maia, presidente da SOS Aves e Cia., ONG que tem monitorado a penosa. A sortuda tem driblado o trânsito intenso no canteiro central da Rua Mário Ribeiro, na Gávea. Enquanto isso, a turma da ONG tenta ganhar sua confiança com porções diárias de comida. É que, arisca, a cocó pode ser atropelada por um carro caso alguém tente pegá-la à força. A intenção de Paulo Maia é levá-la para o abrigo da SOS Aves e Cia., que já tem 100 galinhas salvas de despachos.
Lá, elas põem seus ovos, que são distribuídos a comunidades carentes
Eu apoio, eu apoio
Martinho da Vila, 72 anos, vai ganhar uma estátua em tamanho natural (1,65m) num mirante em Duas Barras, a cidade fluminense onde nasceu o grande sambista.
O cartunista Ique é quem vai assinar a obra.
Dica de Washington
O movimento internacional baseado em Londres que luta pela libertação da iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani, acusada de adultério, pediu ajuda a Lula, aconselhado também pela Casa Branca.
Os americanos sugeriram procurar o Brasil por causa da boa relação de Lula com Ahmadinejad.
Pelo visto, funcionou.
Tanto que, ontem, o Irã prometeu uma solução. Melhor assim.
Ronaldinho CentRonaldinho Gaúcho não foi à Copa, mas ainda é o cara.
Um vídeo em que o jogador do Milan dança no palco com o rapper americano 50 Cent num show na Marina da Glória, no Rio, dia 18 último, já passou de 1,5 milhão de exibições na internet. Confira só em youtube.com/watch?v=JHvMWm03UWI&feature= youtube_gdata.
No mundo da bolaO secretário-geral da Fifa, Jerome Valcke, acabou de comprar uma Ferrari.
O mimo custou bem mais de R$ 1 milhão.
No mundo do livro
A Flip agora tem até cerveja oficial.
A festa literária, que começa amanhã em Paraty, fechou patrocínio com a Bohemia.
Arcoiacute;ris dividido
Racha no Grupo Arcoiacute;ris, a ONG gay. Dissidentes convocaram uma assembleia para sábado, dia 7, com o objetivo de tentar destituir a atual diretoria.
O motivo da divergência está ligado à realização da Parada Gay do Rio, dia 10 outubro.
De pernas para o arUma pesquisa de mercado fez mudar de “Sex Delícia” para “De pernas para o ar” o nome da comédia de Roberto Santucci, que estreia em janeiro com Ingrid Guimarães e Maria Paula.
O título do longa passava a imagem de um filme pornô, e não é o caso.
A história...A comédia conta a história de uma mulher que trabalha demais e não tem tempo para nada — inclusive, sexo.
Tudo muda quando ela perde o emprego e só lhe resta trabalhar num... sex shop.
De pai para filhoCom a morte do advogado e escritor Octávio Junqueira Mello Alvarenga, quem vai assumir a presidência da Sociedade Nacional de Agricultura é seu filho Antonio Alvarenga.
Antonio foi sócio e diretor do Ibmec por mais de 20 anos.
Tesouro leiloadoUma parte valiosa da biblioteca e da pinacoteca de Antonio Olinto, o escritor e acadêmico falecido em 2009, vai a leilão.
O acervo está na Livraria Letra Viva, no Rio. Muitos livros e quadros são autografados por autores como Manuel Bandeira, Drummond, Guimarães Rosa, Jorge Amado, Clarice Lispector e pintores como Djanira, Carybé, Scliar e Iberê Camargo.
Candeia eterno
Sábado, a Portela vai prestar uma homenagem a Candeia, o grande compositor e líder da escola de Madureira, que completaria 75 anos.
Será uma feijoada com samba comandado por Teresa Cristina, Tantinho da Mangueira e Wilson Moreira.
Buraco na redeA Secretaria municipal de Obras do Rio põe no ar hoje o twitter.com/smo_rj.
Nele, a população poderá pedir até consertos de buracos.
Sala de aula
Das 110 escolas em áreas de risco no Rio, 67 conseguiram melhorar suas notas no Ideb. Destas, 48 bateram a meta do MEC.
A conta é da vereadora Andrea Gouvêa Vieira.
Estatuto no Maraca
No primeiro clássico após as alterações do Estatuto do Torcedor, o Juizado Especial Criminal do Maracanã registrou 30 ocorrências.
Duas tiveram relação com o Estatuto: um cambista foi denunciado e um torcedor pego com explosivo terá de ficar um ano sem ir ao Maracanã.

NOSSO LENINE, o cantor e compositor pernambucano, faz, digamos, um intercâmbio cultural com a bela Lura, cantora de Cabo verde, no Luanda Jazz Festival, em Angola

DÉBORA BLOCH, a atriz que vai apresentar o Prêmio da Música Brasileira, dia 11, posa com Zé Maurício Machline, num ensaio para a cerimônia
PONTO FINAL
Mano Menezes, o novo técnico da seleção, parece clone do coleguinha Tiago Leifert, que fez grande sucesso como apresentador da “Central da Copa”, da TV Globo. Repara só.

GOSTOSA

ELIANE CANTANHÊDE

Bateu asas e voou
ELIANE CANTANHÊDE 
FOLHA DE SÃO PAULO - 03/08/10

BRASÍLIA - E os novos caças da FAB, hein? Estão voando por aí, ninguém sabe, ninguém viu.
Lula anunciou a escolha do Rafale francês em 7 de Setembro de 2009, antes do relatório oficial da Aeronáutica sobre preços, logística, qualidades técnicas, transferência de tecnologia e coisas assim. Dado o vexame, voltou atrás.
Quando o relatório ficou pronto, foi aprovado pelo Alto Comando da FAB no dia 18 de dezembro e enviado por ofício a Nelson Jobim em 5 de janeiro. Criou-se o impasse: o Rafale ficou em último lugar, atrás do Gripen NG sueco (em primeiro) e do F-18 americano (em segundo). E Jobim passou a fazer um relatório paralelo, resumindo as mais de 2.000 páginas em meia centena, para mostrar, por "a" mais "b", que o Rafale era melhor.
Em todo esse tempo, há inúmeras declarações do ministro e de outras autoridades brasileiras anunciando a escolha oficial do vencedor para daí a algumas semanas, ou dias. Até agora, nada.
Jobim perdeu um momento espetacular para divulgar o resultado: a combinação de Copa do Mundo com recesso parlamentar, quando só se criticava o Dunga e a vuvuzela. Quem iria gritar contra se fosse o Rafale, o Gripen, ou o F-18? Agora, no meio da eleição, fica tudo muito mais complicado. Qualquer anúncio que Lula faça, ganhe quem ganhar, irá fatalmente dar munição para a oposição.
É provável que o presidente tenha considerado os riscos de optar pelo francês entre a Copa e a eleição e/ou tenha se aborrecido com o aliado Nicolas Sarkozy, que lhe puxou o tapete na negociação do acordo nuclear com o Irã.
O fato é que o projeto FX-2 (dos caças) bateu asas e voou. Possivelmente, até passar a eleição.

Depois da República do Pão de Queijo e da República das Privatizações, chegamos à República dos Dossiês. Nem o ministro da Fazenda escapa. Imagina o resto! 

CLÁUDIO HUMBERTO

“Nunca ouvi alguém chamar de dossiê uma carta anônima”
DILMA ROUSSEFF DESQUALIFICANDO ACUSAÇÕES DO PRÓPRIO PT CONTRA GUIDO MANTEGA

PSDB TENTA FORÇAR DILMA A DISCUTIR SUA SAÚDE
Além da guinada conservadora, antecipada neste coluna, que levou o candidato a vice Índio da Costa a lembrar as ligações do PT com os narcoterroristas das Farc, a campanha tucana estuda cobrar de Dilma Rousseff (PT) o debate público do seu estado de saúde. “O eleitor tem o direito de saber se o voto é para Dilma ou Michel Temer”, afirma sem meias-palavras um senador, integrante do comando da campanha. 

ASSUNTO-TABU
O câncer linfático de Dilma, que segundo ela foi debelado, é tabu no PT. Para o comando da campanha, a única ameaça à vitória dela.

VULNERABILIDADE
O PSDB quer provocar o debate do estado de saúde de Dilma, mas ainda não sabe como fazê-lo sem parecer cruel. Não há como.

CUTUCADA CRUEL
Na RecordNews, ao ser indagado sobre se o seu vice estaria apto a assumir o cargo, José Serra descartou, irônico: “Eu tenho boa saúde...”

PERGUNTA REGIMENTAL
O PT faz todos esses dossiês, contra adversários e até contra eles próprios, durante ou após o expediente?

BOATOS CERCAM MORTE DE HUBLET DAS BENGALADAS
Uma onda de boatos cerca “a morte misteriosa” do escritor curitibano Yves Hublet, 72, que ficou famoso ao atacar a bengaladas o então deputado José Dirceu, no auge do “mensalão”, em 2005. Com dupla cidadania, ele teria morrido na cadeia, voltando da Bélgica. Mas Hublet foi preso pela PF ao tentar embarcar para lá, em Brasília, dia 27 de maio, com dois revólveres ilegais. Liberado, morreu em 26 de julho.

RUMO IGNORADO
Segundo a PF, Yves Hublet foi solto após cinco dias preso. Ele tinha um pequeno imóvel em Charleroi, Bélgica, onde o corpo foi cremado. 

QUIXOTESCO
A Justiça considerou duas vezes improcedente o processo movido pelo ex-ministro José Dirceu, aconselhado por Hublet a ler “Dom Quixote”. 

INVESTIGAÇÃO
Airo Zamoner editor e amigo de Yves Hublet, pediu ao senador Álvaro Dias (PSDB-PR) que investigue o caso. Mas ele morreu de câncer. 

LAMÚRIAS DE EX
O ex-governador do DF José Roberto Arruda se queixa da vida dura, e até oferece a visitantes os seus carros à venda. Um amigo de Arruda, empresário, diz colaborar com R$ 40 mil mensais na sua manutenção.

CONTRIÇÃO
O deputado petista e ex-ministro da Previdência Ricardo Berzoini, que pôs velhinhos de 90 anos na fila do recadastramento, informou ontem no Twitter a data do pagamento do INSS “reajustado”. 

NOVO CAPÍTULO 
A CPI da Bancoop na Assembleia paulista espera ouvir hoje o doleiro Lúcio Bolonha Funaro, um sócio dele, dois fundadores da cooperativa e uma diretora financeira. Se eles aparecerem, nem precisa dizer. 

TENTE OUTRA VEZ 
Lula estaria de olho na secretaria geral da ONU ao oferecer asilo à mulher ameaçada de morte por apedrejamento, diz o britânico The Guardian. O filho de Sakineh Ashtiani acha que o Irã vai ouvir o apelo. 

O QUE É, O QUE É...
...faz comício como presidente, viaja com o avião, helicóptero, seguranças e assessores de presidente, usa hotel de primeira classe como presidente, mas não é presidente? É o presidente de “8 às 18 horas”. 

PROJETO DE CPI 
O mercado de comunicação está de olho em uma milionária licitação da Embratur para a escolha de quatro empresas de relações públicas. Três delas vão atuar no exterior. Petistas ligados a escândalos recentes, de olho na verba de R$ 20 milhões, exigem ganhar as contas. 

CHICLETE 
Chamou a atenção, no comício de Curitiba, a pose de candidato do ministro Alexandre Padilha (articulação): colou em Dilma no palanque e não abriu espaço para ninguém, dando adeusinho a todo momento. 

PATROCÍNIO
A ex-deputada Eurides Brito, cassada na Câmara Legislativa do DF, diz que o maestro da orquestra do Teatro Nacional, Ira Levin, seu genro, era pago pelo patrocinador BRB, e não por emendas parlamentares.

PENSANDO BEM...
...a nova dieta petista é abolir Mantega do cardápio. 

PODER SEM PUDOR 
GRATIDÃO PRESCRITA
Otávio Mangabeira chegou à casa do senador João Cândido Ferraz e encontrou na sala um grande retrato do brigadeiro Eduardo Gomes:
– Você ainda conserva este santo na redoma?
– Claro, doutor Otávio. É uma homenagem a um grande brasileiro e um gesto de gratidão pessoal.
– Ora, Zé Cândido, a homenagem eu compreendo. Mas gratidão política a gente guarda seis meses. E faz mais de quatro anos que ele perdeu pela segunda vez. Essa sua gratidão já está prescrita...