sexta-feira, agosto 19, 2011

JOSÉ SERRA - O tripé do equilíbrio instável


O tripé do equilíbrio instável
JOSÉ SERRA
BLOG DO SERRA

No transcurso desde ano, até 16 de agosto, entraram no Brasil US$ 63,2 bilhões. Assim, apesar do saldo em conta corrente do Balanço de Pagamentos ser crescentemente negativo, o país continua a acumular reservas. Entra dinheiro de sobra, ampliando nosso passivo externo.

É ingênua a ideia de que o caudaloso movimento de dólares é causado por uma solidez da economia brasileira. A razão é outra: a taxa de juros do Brasil é a mais alta do planeta. Nenhum país tem uma taxa nem sequer próxima à nossa; em termos reais, é cinco ou seis vezes maior do que a taxa média dos países emergentes. Assim, as aplicações financeiras vêm para cá faturar a diferença entre os juros brasileiros e os que prevalecem na economia internacional.

Trata-se de um negócio do outro mundo, que dá prejuízo ao Brasil. As reservas brasileiras, aplicadas no exterior, rendem juros baixíssimos: entre 1% e 2% ao ano, ou até menos, nas atuais circunstâncias. Mas, para comprá-las, o governo capta dinheiro em reais a 12,5% ao ano. Além disso, com a apreciação da moeda nacional, as reservas perdem valor em reais.

Assim, no primeiro trimestre de 2011, o custo fiscal de carregamento das reservas foi de R$ 19 bilhões. Para que se tenha uma idéia, os gastos federais em Saúde nesse período ficaram próximos a R$ 13 bilhões. Em Educação, R$ 8,2 bilhões. No ano passado, aquele custo chegou perto dos R$ 50 bilhões.

Outro prejuízo provém da sobrevalorização do real em relação às moedas de outros países, começando pelo dólar. Repete-se à saciedade que esse é um fenômeno mundial, não apenas brasileiro, pois o dólar está se enfraquecendo. Mas o fenômeno brasileiro é maior, pois somos os primeiros do mundo em matéria de apreciação cambial, precisamente por causa dos juros.

A sobrevalorização cambial encarece as nossas exportações de produtos manufaturados, que perdem competitividade. E barateia as importações desses produtos, que destroem capacidade produtiva doméstica. Em ambos os casos, a desindustrialização provoca a perda de bons empregos. Do ponto de vista da balança comercial, a tragédia só não é maior devido ao forte aumento dos preços das exportações brasileiras de matérias-primas e alimentos.

Não apenas por causa da perda de competitividade em relação ao exterior, mas também por causa dela, a economia brasileira vem perdendo dinamismo. O indicador de atividade econômica calculado pelo Banco Central mostrou retração em junho. O consumo industrial de energia elétrica em São Paulo cresceu somente 3% no primeiro semestre em relação a igual período do ano passado.

O governo não foi além de algumas medidas pontuais para tentar arrefecer a enxurrada de dólares. Como se previa, independentemente do seu mérito, não funcionaram. O erro vem de longe.

Em 2002, as taxas de juros brasileiras eram muito altas devido, principalmente, à restrição cambial e à maior inflação — em razão da instabilidade provocada pela campanha eleitoral. Mas, acompanhando o novo governo (Lula), a instabilidade passou, e a restrição cambial foi sendo eliminada, até virar bonança pelo simples fato de que os preços das exportações brasileiras de commodities — alimentos e matérias primas -— aumentaram espetacularmente. Um presente dos céus que, no entanto, foi desperdiçado, pois acabou não tendo uma contrapartida proporcional no aumento do investimento público ou industrial; o que cresceu mesmo foi o consumo, especialmente importado.

Montou-se, assim, a armadilha do tripé: “juros elevados com câmbio supervalorizado, alta carga fiscal e baixos investimentos públicos federais”. É a armadilha que prende os passos do atual governo, que ainda está longe de encarar o assunto, pois nem sequer o diagnóstico foi por ele assimilado. Em economia, como na saúde, a eficácia depende da prevenção. Mas se a crise internacional vem ao Brasil pela enxurrada de dólares (é o começo), em vez de diques preventivos para atenuar seus impactos, foram feitos declives acentuados para facilitar seus efeitos.

LUIZ GARCIA - Para valer?


Para valer?
LUIZ GARCIA
O GLOBO - 19/08/11

A presidente Dilma anunciou o início de uma faxina ética nos altos escalões do poder público -- e também, deve-se deduzir, nos baixos e médios, já que a estrutura administrativa tem a triste característica de ser vulnerável dos pés à cabeça. No Brasil e no resto do mundo.

No Congresso, a iniciativa provocou reações curiosas. A primeira consequência da decisão de Dilma foi o lançamento de uma frente multipartidária contra a corrupção e a impunidade. É curioso: para observadores inocentes, a novidade pode parecer uma confissão de que, até agora, deputados e senadores eram indiferentes à possibilidade de homens públicos cederem à tentação de, numa expressão cunhada há muito tempo, mamarem nas tetas do Estado.

O dado mais curioso do episódio foi o fato de que aliados e adversários da presidente não gostaram da tal frente. Os primeiros, dizendo que ela era desnecessária: "Todos no Senado são contra a corrupção", disse o líder do governo, Romero Jucá, numa generalização, pode-se dizer, extremamente audaciosa.

Já o líder do PSDB, Álvaro Dias, definiu a decisão da presidente como um retórico jogo de cena: para ele, se Dilma fosse sincera, a faxina teria começado com o recente escândalo do Dnit.

A reação mais curiosa foi a do senador petista José Pimentel. Ao sustentar, numa generalização audaciosa, que "a História se repete como farsa", ele afirmou que na década de 50, diante de uma enxurrada de denúncias, "Getúlio Vargas teve que dar um tiro no peito". É, certamente, uma curiosa - e, até certo ponto, desrespeitosa - definição do gesto final do presidente.

Com todo o respeito pelo fim trágico daquele episódio histórico, ele com certeza não é argumento contra a investigação de casos de corrupção - que não eram poucos nem desimportantes no último governo de Vargas. O qual, é sempre bom lembrar, não se suicidou devido a denúncias de escândalos no Palácio do Catete, e sim porque elas eram esmagadoramente verdadeiras.

Dilma, em face de sérias denúncias, preferiu anunciar uma faxina. É certamente uma reação inteligente: evita que a iniciativa parta da oposição. Se será uma limpeza para valer, em pouco tempo se saberá.

GOSTOSA


ANCELMO GÓIS - Ministro Danoninho


Ministro Danoninho
ANCELMO GOIS  
O Globo - 19/08/2011

O deputado Mendes Ribeiro, novo ministro da Agricultura, é amigo antigo de Dilma. A relação se estreitou nos anos 1980, quando ele e Carlos Araújo, então marido de Dilma, trabalharam na elaboração da atual Constituição gaúcha.

Segue... 
Mendes, não raro, ia para a casa de Carlos, e os dois ficavam trabalhando até tarde. Certa vez, pela manhã, quando Dilma foi pegar na geladeira o Danoninho da filha, Paula, descobriu que o produto tinha sido consumido pelo atual ministro.

Amor, cotas... 
Martinho da Vila vai lançar seu próximo livro, “Fantasias, crenças e crendices”, na Bienal do Rio, no próximo dia 6. É o seu 11o-, e fala de filosofia de sambista, opiniões sobre a vida etc. — religião, amor, cotas...

Comédia em pé
Danilo Gentili, que surgiu no "CQC", da Band, foi contratado pela Universal Music. Vai fazer um DVD de humor, o primeiro da gravadora. Os espetáculos do gaiato, no estilo comédia em pé, já foram assistidos por mais de 300 mil pessoas.

No mais 
No artigo em que defendeu mais impostos para os ricos nos EUA, o megainvestidor Warren Buffett disse que pagou de IR 17,4% de seus vencimentos. Já para 20 funcionários seus, o valor oscilou de 33% a 41%. Aqui, quem aplica em ações e ganha fortunas com isso paga só 15% sobre seus ganhos. Enquanto isso, assalariados pagam até 27,5% de Imposto de Renda.

País do futebol 
Veja como não dominar o idioma do país dos outros é perigoso. A TV alemã Deustche Welle exibiu um programa sobre o Brasil e a Copa de 14. A imagem final, com áudio aberto, é, acredite, da torcida do Inter cantando num Grenal: “Atirei o pau no Grêmio/E mandei tomar no...” (você sabe). Confira só em http://bit.ly/npHaoO.

Gol no Oriente 
A Gol está de olho nas rotas do Oriente Médio. Fechou acordo com a Qatar Airways para facilitar a conexão de passageiros lá. Pela parceria, a voadora estrangeira passará a vender assentos nos voos da Gol em 46 cidades do Brasil.

Ele não para 
Veja como o nosso Gilberto Gil tem prestígio. Foi convidado para participar de um seminário sobre sustentabilidade em Berlim, em janeiro, ao lado de FH e Vargas Llosa.

Ladrões no hospital 
Na madrugada de quinta, um paciente de 80 anos, militar reformado, teve os pertences roubados enquanto dormia em pleno quarto dos oficiais no Hospital Marcílio Dias, no Rio. De manhã, teve a conta bancária raspada e várias compras feitas em seu cartão de crédito. O caso foi registrado na 26a- DP, no Méier.

Balé grátis 
O Ballet Kirov, um dos maiores da dança no mundo, vai se apresentar dia 7 de setembro na Quinta da Boavista, no Rio. O acordo foi fechado ontem pelo secretário municipal de turismo, Antonio Pedro.

Ela voltou 
Luciana Gimenez, há anos afastada da Sapucaí, voltará em 2012 pela Grande Rio.

É muito míope 
Foi uma dura derrota para o projeto de revitalização do Porto a transferência da Rio+20 — conferência de meio ambiente da ONU planejada para receber 190 chefes de Estado — para o Riocentro. Acredite. Pesou uma razão financeira. O consórcio do Porto cobrou cinco vezes mais do que o centro de convenções de Jacarepaguá.

Retratos da vida 
Sábado passado, num enterro no cemitério de Inhaúma, região que ainda não foi pacificada, uma parceira da coluna ouviu de um passante: — Acabei de fazer essa “bicicleta” (roubar uma moto). Vou esconder no cemitério e à noite busco...

ILIMAR FRANCO - PT x PMDB


PT x PMDB
ILIMAR FRANCO  
O Globo - 19/08/2011

A vaga de líder do governo no Congresso está sendo disputada pelos dois partidos. Anteontem, o líder do PMDB na Câmara, Henrique Alves (RN), levou ao vice Michel Temer o nome do deputado Marcelo de Castro (PI). Ontem, foi a vez de o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), ligar para a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) reivindicando o cargo para o senador José Pimentel (PT-CE). A presidente Dilma recebeu as demandas, mas não pretende decidir agora.

Foi assim que aconteceu
O ex-ministro da Agricultura Wagner Rossi chegou, com a demissão, na sala do vice Michel Temer, às 17h de anteontem. Temer tentou demovê-lo e depois pediu para falar com a presidente. Dilma estava na Marcha das Margaridas. Eram 18h50m quando Rossi entregou a carta para a presidente, explicou sua decisão e saiu. Temer ficou. Dilma pediu-lhe um deputado para ocupar o ministério. Temer sugeriu Mendes Ribeiro (RS). Tudo combinado, Temer saiu para informar o partido. O PMDB fez uma reunião teatral. Eram 23h40m quando Temer, depois de ir a dois eventos, chega ao Palácio da Alvorada e diz à presidente: "Está feito!".

"Não me arrependo de, por cinco vezes, ter votado no PT à Presidência. Agora, devo cobrar, duvidar, criticar, desconfiar e, com frequência, votar contra" - Roberto Requião, senador (PMDB-PR)

Flagrante
Enquanto o ministro Paulo Sérgio Passos (Transportes) prestava esclarecimentos na Câmara, anteontem, sobre as denúncias de irregularidades na pasta, os deputados Washington Reis (PMDB-RJ) e Francisco Escórcio (PMDB-MA), na foto, sentados na primeira fila da audiência pública, assistiam, no computador, a um jogo de futebol. A brincadeira durou cerca de 40 minutos.

Mobilizado
O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, na festa do prêmio Engenho de Comunicação, em Brasília, fez discurso em que defendeu: "Devemos todos apoiar a presidente da República em sua cruzada contra a corrupção".

Reunindo a tropa
A ministra Izabella Teixeira (Meio Ambiente) busca apoio para a votação do Código Florestal no Senado. Ontem, ela reuniu os ex-ministros Marina Silva, Paulo Nogueira Neto, José Goldemberg, José Cavalcante e Henrique Brandão.

O inacreditável aconteceu na Câmara
O PSDB, o DEM e o PPS da Câmara votaram contra, na noite de anteontem, a proposta que reestrutura os Correios, cujo autor original foi o ex-ministro Sérgio Motta (Comunicações na gestão FH). O relator, Arnaldo Jardim (PPS-SP), está pasmo: "O texto é coerente com a visão de Estado praticada na época do FH". Uma das mudanças aprovadas: todos os cargos gerenciais dos Correios serão ocupados por funcionários de carreira.

Boquiaberto
Na votação, o deputado (e ex-ministro da gestão Lula) Miro Teixeira (PDT-RJ) ficou surpreso: "Votaram contra um texto que é igual à proposta que o FH tinha mandado para cá e o Lula retirou da pauta, quando assumiu em 2003".

Vale tudo
Causou surpresa nos petistas e descontentamento nos tucanos o discurso do líder do DEM, deputado ACM Neto (BA), contra as privatizações, na votação da Medida Provisória que reestrutura os Correios, na noite de anteontem.

ESTREIA. O PR estreou sua "independência" na votação da MP 532. Dos 32 deputados, 30 votaram contra o governo. Já o PV, que está aderindo, votou majoritariamente com o Palácio do Planalto.

OS TUCANOS Marcus Pestana (MG) e Eduardo Azeredo (MG) se retiraram do plenário, na votação da reestruturação dos Correios, por discordarem da decisão do partido de votar contra.

O EX-PRESIDENTE Lula ligou ontem para o vice Michel Temer e para o ex-ministro Wagner Rossi. Ele lamentou a saída do ex-ministro da Agricultura.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


Fornecedores para saneamento registram venda menor
MARIA CRISTINA FRIAS
FOLHA DE SP - 19/08/11

A participação do saneamento no faturamento de empresas de material para obras do setor deve cair neste ano.
O faturamento dos fabricantes de materiais e equipamentos para água e esgotos teve queda superior a 20% em junho deste ano, ante o mesmo mês do ano passado, segundo a Asfamas (associação de fabricantes).
A queda se deve à grande dependência das empresas desse segmento em relação ao setor público, segundo Carlos Rosito, vice-presidente da entidade.
"O recuo de vendas tem contexto. Há um pico de demanda em anos de eleições e um vale nos anos seguintes. As trocas de guardas, mesmo que não haja troca de partido, atrasam o andamento."
O aquecimento deve voltar a ocorrer naturalmente, segundo Rosito. Junho já apresentou leve alta ante maio. Os investimentos, porém, continuam abaixo do estimado.
"Em 2011, o setor deve ter investimento 10% inferior ao ano passado. Eu acreditava que este ano a queda poderia ser menor, pois houve melhoria dos marcos regulatórios. Mas permanecem os problemas de gestão pública."
Na Mexichem Brasil, dona da marca de tubos e conexões Amanco, a demanda para infraestrutura representou 18% do faturamento da empresa no ano passado. Neste ano, a participação do segmento no faturamento total deve ficar em 10%, segundo a empresa.
A queda deve ser substituída por vendas no mercado de construção predial, que mantém alta em 2011.

MÃO NA RODA
A Atlas Transportes e Logística vai investir R$ 18,5 milhões até o final deste ano em renovação da frota, ampliação de centros de distribuição e em tecnologia para rastreamento via satélite.
Cerca de 80% dos recursos serão destinados à aquisição de 30 veículos, o que elevará a frota própria para 340 carros até dezembro.
Com sede em São Paulo e 54 filiais no país, a transportadora vai abrir centros de distribuição em Pouso Alegre (MG) e Ji-Paraná (RO).
Estão previstas ampliações dos centros de Recife, João Pessoa, Fortaleza, Teresina e Rio de Janeiro.
"A demanda no Nordeste tem crescido muito, em um ritmo maior que o da média nacional", diz o presidente da companhia, Lauro Megale Neto, da terceira geração dos fundadores.
Produtos eletroeletrônicos, farmacêuticos e autopeças estão entre os que tiveram os maiores crescimentos da demanda na região, de acordo com Neto.
A companhia prevê aumento de 20% no faturamento deste ano, que deve atingir R$ 575 milhões.

IMÓVEL DIGITAL
Na tentativa de agilizar a concessão de crédito para fins imobiliários, empresas investem na digitalização dos documentos de seus clientes.
A Credipronto, joint venture do Itaú com a Lopes, diminuiu em cerca de duas semanas o tempo para concessão de crédito. "Há casos em que a aprovação saiu em três dias", diz o gerente da companhia, Jonas Jeremias.
O Bradesco, por sua vez, começou o processo em janeiro passado e já realiza 50% das operações de pessoas físicas de forma digitalizada.

NOVELA DE MEDICAMENTO
O Superior Tribunal de Justiça suspendeu ontem liminar concedida ao laboratório farmacêutico Lundbeck, dona do antidepressivo Lexapro, que impedia a Anvisa de liberar registros para fabricantes de genéricos, segundo a Anvisa. Cabe recurso.
Caiu a determinação de que a Anvisa não conceda registro a outras empresas com base em resultados de testes e dados do dossiê elaborado pela Lundbeck.
"É um sinal para que essa tese, que ameaça o futuro dos genéricos, não vá adiante", diz Odnir Finotti, presidente da Pró Genéricos.
Para João Rocha, presidente da Lundbeck Brasil, "é alarde dizer que os genéricos vão terminar por causa disso. Temos estudos que provam. Uma empresa leva até 15 anos para desenvolver um medicamento, investe, em média, US$ 800 milhões, e 60% vão para ensaios clínicos, com testes em pacientes".
A Anvisa informa que não usa dados do dossiê de registro do medicamento de referência na análise sobre registro de medicamentos genéricos e que a lei estabelece requisitos de eficácia dos genéricos, "incluindo o desempenho comparativo com os medicamentos de referência, disponíveis no comércio, de equivalência farmacêutica e de biodisponibilidade. Não há necessidade de conhecimento do conteúdo do dossiê de registro do medicamento."

TEMPLO JAPONÊS
A fabricante japonesa de produtos esportivos Asics abrirá sua primeira loja no Brasil no final deste mês.
A empresa pretende investir R$ 50 milhões no país e inaugurar outras 19 lojas nos próximos seis anos.
"Queremos ser a terceira marca do segmento no país", diz o vice-presidente da subsidiária da Asics no Brasil, Giovani Decker.
Hoje, a empresa atua no país apenas com fabricação e distribuição de produtos.
A abertura das unidades faz parte de um movimento internacional da marca. "Lojas também serão abertas em outros países", afirma o presidente da subsidiária, Osamu Sasada.
A primeira loja brasileira, será na Oscar Freire, em SP. Os atendentes serão formados em educação física.

com JOANA CUNHA, VITOR SION, LUCIANA DYNIEWICZ e ALESSANDRA KIANEK 

BARBARA GANCIA - Desigualdade, tendência do verão

Desigualdade, tendência do verão
BARBARA GANCIA
FOLHA DE SP - 19/08/11 

Há quantas décadas São Paulo brilha em vários dos quesitos que ora fazem Londres arder?


"VOCÊ TEM CASACO de couro da Forum?" A pergunta teria sido encarada de forma natural tivesse ela sido feita nas dependências de um shopping center. Mas soou para mim algo inusitada ao ser formulada no curso de um sequestro-relâmpago sofrido há 11 anos, no bairro do Sumaré.
Eu sempre havia me perguntado como responderia em uma situação dessas (temia reagir à italiana, com passionalidade extremada, e acabar com uma azeitona cravada na testa). Acho que me saí melhor do que a encomenda. Selei o episódio escrevendo junto com a jornalista que estava comigo um artigo para a revista "Marie Claire" intitulado: "Fomos assaltadas e fizemos amizade com os bandidos".
Não me sentia à vontade para falar sobre o caso na época -tanto é que apenas a sombra do nosso perfil aparece na foto que ilustra a reportagem-, nem para colocar o pé para fora de casa por um bom tempo depois do ocorrido. Mas uma década já se passou e o assunto volta à tona por motivos outros que não a violência paulistana.
Fomos interceptadas no semáforo da rua Heitor Penteado por um garoto a quem os institutos de pesquisa bem poderiam classificar de "classe média". Ele tinha aparelho nos dentes, alguma escolaridade e vocabulário de bandido, ou seja, uma figura comum nos dias de hoje. Nos abordou de arma em punho e veio acompanhado de duas amigas, uma loira com considerável e visível investimento monetário na juba e a outra, negra, gorducha, simpática, que lembraria a Jennifer Hudson.
Ninguém no grupo tinha mais de 21 anos. Desandei a falar assim que entraram no carro e lá fomos nós de caixa eletrônico em caixa eletrônico. Quatro horas mais tarde, vários quilômetros rodados e uma parada no posto para reabastecer, nossos novos amigos, sempre de arma apontada para nós, se convenceram de que não tínhamos dinheiro e resolveram ir saquear minha casa. Enquanto vasculhava a gaveta atrás de roupas de grife, Miss Simpatia contou-me do filho e eu lhe dei um bicho de pelúcia. "Toma, este é seu, não faz parte do assalto", disse-lhe. Acho que eu tinha tomado umas a mais naquela noite.
De volta ao carro, e sempre sob ameaça, resolvi despejar um balde de perguntas sobre o rapaz: "Por que um cara como você se dedica a este tipo de atividade?", queria saber. "Na verdade", disse-me, "Isso é um bico".
Contou-me que acabara de deixar a noiva em casa. Sua mãe desconfiava de que os tênis, os eletrônicos e as noitadas não vinham do trampo de carteira assinada, mas preferia não entrar em detalhes.
"Não é um tanto arriscado levar a vida assim?", insisti. Ele fez que sim com a cabeça. "De alguma coisa a gente tem que morrer, né?"
Nisso, a fofucha que estava comigo no banco de trás, a loira, grudou o cano da arma na minha têmpora e disse: "Se você não calar a boca, eu te mato". Não me impressionou. "Sabe quantas vezes ao dia eu ouço essa frase?", devolvi. O carro inteiro caiu na gargalhada.
Podia ter sido fatal, mas bicho ruim não morre, especialmente em se tratando de jornalista. Vivi para constatar que, por uma vez, os londrinos não estão ditando moda. Que a desigualdade, a ilusão do multiculturalismo e a sedução do consumismo que faz a roda girar e que ora incendeiam o verão londrino já chegaram por estas bandas faz muitas estações. É São Paulo dando uma de "trendsetter" mundial, olha só que luxo.

MÔNICA BERGAMO - PRESSA DE CHEGAR

PRESSA DE CHEGAR
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 19/08/11

Marcelo Malvio Alvez de Lima, motorista do Porsche que atropelou a advogada Carolina Cintra Santos, possui 24 pontos por cinco infrações registradas em sua carteira - quatro delas por excesso de velocidade. Com o veículo do acidente, ele teve duas multas em maio, no Guarujá e em São Bernardo. Na época em que o empresário prestou depoimento à polícia, apenas a primeira anotação veio a público.

CENTENA
Em 2010, com outro carro, Alvez foi flagrado duas vezes em menos de dois minutos, infringindo a velocidade na avenida Nove de Julho. Em uma delas, levou sete pontos por estar mais de 50% acima do limite, na época de 70 km/h. Estava, portanto, a mais de 100 km/h. Em agosto, já depois do acidente, recebeu cinco pontos, atribuídos a uma terceira placa, por "não registrar veículo no prazo de 30 dias".

SEM REGISTRO
Celso Vilardi, advogado de Marcelo, disse não ter conhecimento das multas.

LIMITE DE VELOCIDADE
Já no processo em que teve bens bloqueados, Alvez tentava derrubar a medida no Tribunal de Justiça. A Corte determinou que o recurso só seja apreciado após manifestação da família de Carolina.

NA REDE
O Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) entregará petição com 16 mil assinaturas na Câmara, contra a aprovação "prematura e equivocada" do projeto de Lei nº 84/99. Ele define condutas que devem ser consideradas criminosas na internet. Prevê monitoramento na rede e prisão, por exemplo, para acesso não autorizado de dados e informações.

NA REDE 2
O Idec teme que o projeto ameace "a privacidade do consumidor, criminalizando, além da invasão de sistemas e disseminação de vírus, também ações cotidianas dos consumidores na internet, como compartilhamento de conteúdos e transferência de músicas".

SEM FRONTEIRAS
Geraldo Alckmin e Dilma Rousseff oficializam mais uma parceria nos próximos dias. O governador de SP assinará o projeto do Rodoanel Norte, que terá um terço bancado pelo governo federal e dois terços, pelo estadual. A obra, que liga Cumbica a Santos, é de R$ 6,1 bilhões.

POLIGLOTA
E Alckmin anuncia hoje investimento de R$ 13 milhões para o CEL (Centro de Estudos de Línguas), que vai passar de 106 para 248 unidades no Estado de SP.

SURDINA
A executiva do PSDB paulista aprovou recomendação para que os diretórios municipais realizem prévias na escolha de candidatos às prefeituras.

ESCULTURAS À MOSTRA
A escultora Mary Carmen Matias inaugurou anteontem sua exposição "A Poética dos Volumes", no Espaço Cultural Citi, na avenida Paulista. Passaram pelo vernissage o marido de Mary, Antonio Jacinto Matias, Marlene e Roberto Setubal, do Itaú, o banqueiro Cândido Bracher e Gustavo Marin, presidente do Citibank no Brasil.

O MUNDO DE LINO
O estilista Lino Villaventura apresentou sua nova coleção de verão, nos Jardins, anteontem. Assistiram ao desfile a atriz Gabriela Alves e o fotógrafo Luiz Tripolli. O DJ Márcio Vermelho fez a trilha.

A NOVA VILA
O Santos pretende assinar até o final do ano o contrato para a construção do novo estádio do clube. A arena, feita com investimentos privados, ficará dentro de um empreendimento imobiliário que será erguido no terreno de uma rede de supermercados na Baixada Santista. A nova casa, de 40 mil lugares, receberá os jogos mais importantes do Peixe. A Vila Belmiro será usada para partidas de menor público.

ÓCIO PRODUTIVO
Um sócio do Paulistano anda distribuindo cartões "Tempo Livre - serviços personalizados" pelo clube. Marcello Nogueira Neto cobra R$ 70 a hora para fazer qualquer coisa. Ele se dispõe a acompanhar grupos de adolescentes em shows como o do U2, jogar boliche com a criançada e levar o carro para revisão.

CURTO-CIRCUITO

O desembargador Fausto Martin De Sanctis coordena, do próximo dia 26 até 23 de setembro, o seminário "Poder Judiciário e Imprensa - Um Diálogo Aberto", no auditório do Tribunal Regional Federal da Terceira Região.

A festa pernambucana Sem Loção comemora um ano em São Paulo com uma edição especial amanhã, a partir de 23h, na rua 13 de maio, 409. 18 anos.

Blubell faz show no domingo, às 21h, na Casa de Francisca. Livre.

Lia Jordão e Ana Cristina Ferreira inauguram nesta semana ateliê de doces no bairro de Pinheiros.

Acontece hoje a festa Ponte Aérea no clube Tonk, a partir das 23h30. Classificação: 18 anos.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

PAULO SANT’ANA - O coelho

O coelho
 PAULO SANT’ANA
ZERO HORA - 19/08/11

A Sociedade Interamericana de Polícia (SIP) promoveu um concurso entre o FBI, a Swat e o Bope (RJ).

Foram levados os três batalhões, cada um com 300 homens, via aérea, para a Nova Zelândia.

Lá chegados, foi solto um coelho na selva e destacado o batalhão do FBI para procurá-lo.

Passados 15 minutos, voltou o batalhão, trazendo o coelho capturado.

Foi solto outro coelho e chegou a vez de o batalhão da Swat ir procurar o animal na selva.

Passados 30 minutos, lá estava o coelho capturado pela Swat.

Até que o Bope se preparou para procurar o terceiro coelho.

Solto o bicho na selva, o batalhão brasileiro penetrou na floresta para procurá-lo.

Passaram-se várias horas e nada de o Bope voltar. Depois de dois dias, finalmente voltou o Bope, trazendo à sua frente um nativo neozelandês algemado e sangrando muito por todo o corpo.

O presidente do concurso, nada entendendo, perguntou ao coronel comandante do Bope: “Mas, afinal, o que aconteceu?”.

E o coronel: “Ele confessou”.

E o nativo gritava algemado: “Eu sou o coelho! Eu sou o coelho!”.

Essa história é meio que injusta para a polícia carioca. Não que ela não torture.

Mas é que eu li um trabalho jornalístico, esses dias, em que ficou comprovado que a polícia norte-americana tortura.

A gente vê nos filmes americanos a polícia procedendo corretamente, dando voz de prisão e declarando que o preso tem o direito de ficar calado e o que falar pode ser usado contra si, etc.

É uma solenidade que dá a impressão a todos nós que assistimos aos filmes de que se trata de uma polícia respeitadora dos direitos humanos.

Mas essa reportagem que li, feita nos EUA, comprova que a polícia norte-americana é assídua em torturar presos. E em alguns setores da polícia estadunidense há até agentes especializados em tortura.

Aquele tratamento digno que se dá aos presos nos filmes não é bem assim, frequentemente os presos são maltratados e torturados.

Não é para menos, o governo Bush, depois do 11 de Setembro, instalou no Iraque, com o apoio do Congresso, várias prisões em que os detentos eram torturados e submetidos aos mais sórdidos vexames. E, esses dias, para minha desolação, o governo Obama convalidou a tortura aos prisioneiros de guerra junto ao Congresso.

É o fim...

PLÁCIDO FERNANDES VIEIRA - Um Quixote no deserto


Um Quixote no deserto
PLÁCIDO FERNANDES VIEIRA
CORREIO BRAZILIENSE - 19/08/11

Sim. Há um fio de esperança. Uma chance mínima de o Brasil dar um basta à bandalheira que sangra os cofres públicos. Mas, sem apoio popular, o movimento suprapartidário que o senador Pedro Simon luta para levar adiante corre o sério risco de não chegar a lugar nenhum. Como se temia, os políticos dispostos a acompanhá-lo nessa batalha são mesmo minoria. Em maioria no Congresso, as viúvas de Lula estão inconsoláveis. Quando os escândalos de corrupção estouram, a culpa já não é mais da "imprensa golpista", o suspeito de sempre nos oito anos do antecessor. No governo Dilma, pelo menos até agora, a coisa mudou.
Em menos de quatro meses, a presidente mandou embora três ministros atolados em denúncias. E, daqui a pouco, o país vai perder a conta de quantas ratazanas de escalões inferiores " uma herança lulista " levaram um pé no traseiro. Enquanto o país aplaude a faxina, petistas, peemedebistas e outros aliados que veem seus esquemas serem desmontados ameaçam a presidente com retaliações no Congresso. Nos bastidores, vetustas figuras do petismo falam até em impeachment (quem diria!), caso a presidente insista na faxina. Foi em apoio às medidas de Dilma que Simon iniciou a cruzada contra a corrupção e a impunidade.
"Dilma está fazendo o que seus antecessores não fizeram. Estamos fazendo o movimento para que ela não seja isolada", disse o senador em entrevista ao jornal O Globo. Ele lembrou que quando a campanha Diretas Já foi lançada, em 1983, muita gente torceu o nariz e até fez piada. "Eu fui o presidente da comissão do movimento", contou. "Os generais ditadores se irritaram de um lado, o empresariado do outro, toda a imprensa, ninguém levou a sério. Mas o povo começou a sair às ruas, o movimento começou a crescer e deu no que deu. A ditadura acabou."
Desde que Lula saiu em defesa dos envolvidos no mensalão e tornou-se amigão do peito de antigos desafetos políticos, como Collor, Sarney, Renan & Cia., o Brasil parece ter perdido a capacidade de expressar indignação diante da corrupção e da impunidade que grassam no país. Tanto que essa turma já se movimenta para trazê-lo de volta ao Planalto. Não pelo que de bom Lula fez pelo país, mas porque nunca hesitou em defendê-los e sempre os deixou muito à vontade no governo. Na terça-feira, a campanha que Simon encabeça se reúne em Brasília. O senador acha que a presidente e o Brasil merecem sorte melhor. Resta saber o que acham os brasileiros.

GOSTOSA


ADRIANA VASCONCELOS e MARIA LIMA - O silêncio constrangido do PT


O silêncio constrangido do PT
ADRIANA VASCONCELOS e MARIA LIMA
O GLOBO - 19/08/11

Petistas não defendem faxina publicamente e se irritam com termo "herança maldita de Lula"


O constrangimento do PT lulista com as ações da presidente Dilma Rousseff, que têm resultado no desmonte de esquemas de corrupção nos ministérios partidários, vem sendo explicitado pela ausência de manifestações públicas de apoio à faxina. Nenhum petista se coloca publicamente contra a limpeza ética no Ministério, mas nos bastidores muitos deles se dizem incomodados principalmente com o fato de ela ter atingido até agora três ex-integrantes do governo Lula. Além deles, o outro que caiu até agora, Nelson Jobim, também foi herdado de Lula.
Internamente, petistas avaliam que a onda de denúncias e demissões alimenta o discurso da oposição de que Lula deixou uma "herança maldita" para Dilma, o que eles repudiam. Além disso, há preocupação de que Dilma fique refém da fórmula adotada de apurar toda denúncia de corrupção, o que poderá impedir que o governo encerre a atual crise, além de a onda poder atingir todas as siglas, inclusive o PT.
- Não concordamos com a tentativa de ataque à herança do presidente Lula. Lula é o nosso comandante. Dilma está constrangendo o PT ao desmontar a imagem de um governo que deu certo - afirmou um experiente petista, de forma reservada.
Um dos mais fiéis aliados de Lula, o deputado Devanir Ribeiro (PT-SP) reclama que a oposição, em parceria com a imprensa, está criando essa versão de que Lula deixou uma "herança maldita" para Dilma, "do mesmo jeito que inventou o mensalão".
- Quem inventou a tal da faxina? Vocês criaram essa imagem. Mas a presidente não é faxineira! O Lula não está incomodado nada com isso. Fundamos nosso instituto, não tem nada que nos abala - disse Devanir.

"Não existe herança maldita"
No depoimento do ministro Pedro Novais (Turismo), na Câmara, quarta-feira, o líder do PT, deputado Paulo Teixeira (SP), fez discurso semelhante:
- A oposição está usando isso (as denúncias e demissões) como um palco para aparecer. Não existe herança maldita. No governo Lula, as instituições funcionaram com independência total e muitos servidores foram demitidos. Nós do PT estamos dando todo o apoio à presidente Dilma, que está colocando em prática políticas permanentes. O presidente Lula também atuou com rigor contra a corrupção, não teve leniência com a corrupção.
Os mais preocupados no PT com a faxina de Dilma falam, nas reuniões fechadas, em descontrole e até em um golpe que impediria a conclusão do mandato da presidente. A reação petista se acirrou a partir da Operação Voucher no Turismo, que atingiu um ex-assessor da senadora Marta Suplicy (PT-SP) e pode atrapalhar os planos do PT na eleição para prefeito da capital paulista - Marta é a preferida do PT para a disputa, embora Lula esteja trabalhando para fazer do ministro Fernando Haddad (Educação) o candidato.
Há também os que comparam a ação da oposição ao udenismo de Carlos Lacerda, que levou ao suicídio de Getúlio. Foi o que fez o senador José Pimentel (PT-CE) no plenário no dia do lançamento da frente suprapartidária.
O senador Pedro Taques (PDT-MT), um dos nove senadores que integram a frente suprapartidária, retruca:
- Dizem que estamos tendo uma atitude de udenistas, que só falar contra a corrupção é muito estreito. Para mim, o que é muito estreito é roubar, deixar roubar, aparelhar o Estado.
O senador Jorge Viana (PT-AP) é um dos raros que defendem abertamente a ação da presidente Dilma:
- Meu sentimento é que a maioria está apoiando as ações da presidente em defesa da ética na administração pública. Por mais que exista sentimento de posse de algumas pessoas quanto aos cargos, algumas mudanças são necessárias, por mais que isso não seja o ideal num começo de governo.

ANTONIO ANASTASIA - Travessia


Travessia
ANTONIO ANASTASIA 
O Globo - 19/08/2011

Desde a "Odisseia" de Homero, com Ulisses, a palavra travessia tornou-se expressão de luta e de superação. Em Minas Gerais, travessia aparece como lição de sabedoria no cenário do "Grande Sertão: Veredas". Com Riobaldo, ela representa o aprendizado maior da vida: "O real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe pra gente é no meio da travessia."

O Banco Travessia, que o governo de Minas lançou esta semana, visa exatamente a promover a travessia da pobreza para a inclusão social. Seus "correntistas" são famílias que vivem hoje marginalizadas e que devem alcançar a outra margem por via da educação, da formação profissional e do acesso ao emprego.

Nesta concepção, inclusão não significa apenas estar inserido em projetos e programas sociais, mas uma conquista que permita à família, a partir de sólidas políticas públicas, ir em busca de sua autonomia e mobilidade social.

Em Minas Gerais, a superação real da pobreza ganhou impulso com a implantação, em 2007, do programa Poupança Jovem. Mais de 70 mil jovens do ensino médio já foram por ele atendidos até agora. Para exemplificar sua operação, cada estudante nele inscrito ganha R$1 mil por ano de estudos concluídos. Ao fim do ensino médio, o jovem pode sacar, portanto, R$3 mil e usá-los livremente.

Com esse incentivo, e levando-se em conta que os jovens só podem sacar sua poupança com o diploma de ensino médio na mão, houve um aumento de 40% na formação completa nesse grau de ensino. Na realidade, são feitas, no caso, duas poupanças: a financeira e a que proporciona a formação do jovem para a vida.

O êxito do Poupança Jovem nos levou a avançar em novas propostas de superação da pobreza de forma sustentável. Daí nasceu a ideia fundadora do Banco Travessia, com o objetivo final de promover a mobilidade social dos seus participantes e agregar ativos culturais e educacionais à vida das pessoas. Seu propósito é o de que os membros de famílias pobres terminem o ensino fundamental, alcancem o ensino médio, cheguem à faculdade e tenham um bom emprego.

Com foco no futuro, o Travessia proporciona à família que nele se inscreve fazer uma poupança de até R$5 mil em até três anos. Sua moeda também se chama "travessia". Se um pai, por exemplo, volta a estudar no ensino fundamental, são creditadas na conta da família 150 travessias. Se um filho terminar o curso fundamental, são creditadas outras 250 travessias. Se o aluno passou direto no ano escolar, ganha 75 travessias e, se a mãe ingressar num programa de alfabetização, a família tem um crédito de 150 travessias. A cada novo compromisso que a família assumir para aumentar a sua escolaridade ou fazer cursos de capacitação, os créditos se ampliam na sua conta do Banco Travessia. Ao final, esses créditos são convertidos em reais e liberados à família.

Esta é uma mais uma estratégia de Minas Gerais para garantir educação, renda, mobilidade social e superação de fato da pobreza. Como ensina, outra vez, Riobaldo: "Existe é o homem humano. Travessia."

ANCELMO GÓIS - MINISTRO DANONINHO


MINISTRO DANONINHO 
ANCELMO GOIS
O GLOBO - 19/08/11

O deputado Mendes Ribeiro, novo ministro da Agricultura, é amigo antigo de Dilma.
A relação se estreitou nos anos 1980, quando ele e Carlos Araújo, então marido de Dilma, trabalharam na elaboração da atual Constituição gaúcha.

SEGUE... 
Mendes, não raro, ia para a casa de Carlos, e os dois ficavam trabalhando até tarde.
Certa vez, pela manhã, quando Dilma foi pegar na geladeira o Danoninho da filha, Paula, descobriu que o produto tinha sido consumido pelo atual ministro.

AMOR, COTAS... 
Martinho da Vila vai lançar seu próximo livro, “Fantasias, crenças e crendices”, na Bienal do Rio, no próximo dia 6.
É o seu 11, e fala de filosofia de sambista, opiniões sobre a vida etc. — religião, amor, cotas...

COMÉDIA EM PÉ 
Danilo Gentili, que surgiu no CQC, da Band, foi contratado pela Universal Music.
Vai fazer um DVD de humor, o primeiro da gravadora. Os espetáculos do gaiato, no estilo comédia em pé, já foram assistidos por mais de 300 mil pessoas.

NO MAIS 
No artigo em que defendeu mais impostos para os ricos nos EUA, o megainvestidor Warren Buffett disse que pagou de IR 17,4% de seus vencimentos. Já para 20 funcionários seus, o valor oscilou de 33% a 41%.
Aqui, quem aplica em ações e ganha fortunas com isso paga só 15% sobre seus ganhos. Enquanto isso, assalariados pagam até 27,5% de Imposto de Renda.

MINISTRO NEYMAR 
Frase ouvida numa roda na qual se falava de futebol, em Brasília, onde estava o deputado Chico Alencar:
— O problema do Neymar é que ele cai mais do que ministro da Dilma...
Faz sentido.

PAÍS DO FUTEBOL 
Veja como não dominar o idioma do país dos outros é perigoso. A TV alemã Deustche Welle exibiu um programa sobre o Brasil e a Copa de 14.
A imagem final, com áudio aberto, é, acredite, da torcida do Inter cantando num Grenal: “Atirei o pau no Grêmio/E mandei tomar no...” (você sabe). Confira só em http://bit.ly/npHaoO.

GOL NO ORIENTE 
A Gol está de olho nas rotas do Oriente Médio. Fechou acordo com a Qatar Airways para facilitar a conexão de passageiros lá. Pela parceria, a voadora estrangeira passará a vender assentos nos voos da Gol em 46 cidades do Brasil.

ELE NÃO PARA 
Veja como o nosso Gilberto Gil tem prestígio.
Foi convidado para participar de um seminário sobre sustentabilidade em Berlim ao lado de FH e Vargas Llosa.

LADRÕES NO HOSPITAL 
Na madrugada de quinta, um paciente de 80 anos, militar reformado, teve os pertences roubados enquanto dormia em pleno quarto dos oficiais no Hospital Marcílio Dias, no Rio. De manhã, teve a conta bancária raspada e várias compras feitas em seu cartão de crédito. O caso foi registrado na 26 DP, no Méier.

MÍRIAM LEITÃO - Modo crise


Modo crise
MÍRIAM LEITÃO
O GLOBO - 19/08/11

As notícias chegaram todas numa única quinta-feira: números ruins da indústria e do desemprego nos Estados Unidos; suspeita das autoridades regulatórias americanas sobre os bancos europeus; relatórios de bancos revendo para baixo o crescimento na Europa e nos Estados Unidos. Quando o mercado opera em "modo crise", ele só soma as más notícias.

Não houve um fato separado. Todos juntos confirmam que o mundo crescerá menos este ano e algumas economias líderes estão em recessão; a crise do euro vai além das inquietações com uma ou outra economia, ela é muito maior e mais complexa; a recuperação americana não consegue se sustentar.

Já se sabia que os grandes bancos soltariam relatórios revendo todas as previsões e análises. Mas quando eles saem, como agora, realimentam o pessimismo. Para piorar, circula a notícia de que as autoridades fiscalizadoras americanas estão olhando com cuidado os bancos europeus, para ver se eles estão saudáveis.

Aí ocorre o que os economistas chamam de movimento de aversão ao risco: os fundos deslocam seus investimentos para ativos que consideram mais seguros. E ontem aconteceu o mesmo movimento contraditório: os capitais se abrigam nos títulos do Tesouro americano; vão financiar a juros negativos a dívida do país que originou a atual crise.

Segundo um relatório do Boston Consulting Group, as análises do Congresso americano mostram que nos próximos dez anos a dívida americana - que hoje está em US$ 14 trilhões - vai aumentar outros US$ 8,5 trilhões. E isso é muito para uma economia que mal está crescendo. Se a economia cresce, a dívida como porcentagem do PIB sobe menos, mas com o país estagnado a conta é explosiva. Mesmo assim, é para esse guarda-chuva que os capitais correm.

Um dos maiores temores do mundo é o de que os Estados Unidos virem um grande Japão. O país asiático parou de crescer numa crise bancária seguida de crise fiscal e nunca mais retomou o ritmo anterior.

É por isso que cada novo relatório como o de ontem do Morgan Stanley, que reviu de 2,6% para 1,8% o crescimento americano este ano, ainda que não diga nenhuma novidade causa tanto pessimismo. E foi por isso também que um relatório do Fed da Filadélfia sobre a estagnação com desemprego na região centro-atlântica americana foi olhado com tanta atenção.

Os emergentes foram a solução em 2008/2009, mas agora se teme que não possam ser. A China não poderá fazer um novo mega-pacote de investimentos como o que fez naquela época porque não tem mais espaço para isso, entre outras razões, pela inflação alta.

O Brasil também está com inflação alta e depende que a China permaneça crescendo muito para continuar comprando nossas commodities. É por isso que a Bolsa brasileira cai tanto. O temor é que os preços das commodities despenquem. O Morgan Stanley, no relatório em que derrubou as previsões de crescimento mundial, reviu de 4,6% para 3,5% a alta do PIB brasileiro este ano.

O pouco dinamismo americano não será revertido pelas diárias declarações do presidente Barack Obama na linha motivacional; mas os Estados Unidos são capazes de encontrar forças na sua impressionante capacidade de inovação. O mundo se encontra cercado de marcas, aparelhos, soluções de comunicação, tudo desenvolvido na economia americana.

Mais complexo é o problema europeu. O paralelo feito pelo editor sênior do Wall Street Journal , David Wessel, republicado no jornal Valor Econômico de ontem, é bom, mas se a ideia for aplicada à Europa talvez signifique um passo grande demais.

Wessel usou dois exemplos históricos de solução para dívidas de entes federados: a solução dada por Alexander Hamilton, em 1790, e por Fernando Henrique Cardoso, 200 anos depois. Hamilton, que na época era secretário do Tesouro americano, federalizou as dívidas dos Estados que haviam sido contraídas na época da Guerra da Independência.

No Brasil, o governo Fernando Henrique conduziu uma longa e penosa negociação com Estados e os principais municípios. Nos dois casos, a União refinanciou dívidas em troca de parâmetros fiscais que tinham que ser obedecidos. No Brasil, tudo isso foi fechado na Lei de Responsabilidade Fiscal.

São bons exemplos de solução do problema fiscal, mas a grande questão é saber o que é a Europa. Os Estados Unidos e o Brasil são países. Os Estados têm suas identidades, mas sabem que pertencem a um mesmo país. O experimento europeu é novo: são países independentes, que se juntaram numa união monetária, mas que querem manter a soberania nacional.

Querem o lado bom da união monetária, mas não previram o que fazer quando tudo começasse a dar errado como agora. A solução que alguns analistas têm proposto, como fez Wessel nesse artigo, e eu já ouvi o mesmo de alguns especialistas brasileiros, é que a Europa aprofunde a federação. O problema é que todos os países acreditam agora que perderam com a união monetária.

Os alemães acham que têm de financiar os países fracos; os países fracos reclamam de não terem mais o instrumento de desvalorização da moeda, que sempre é usado para tirar países de crises assim.

O pecado original da Europa foi ter traído os princípios do Tratado de Maastricht, que estabelecia um limite para o déficit fiscal.

Os problemas que o mundo enfrenta nessa segunda volta da crise não são nada triviais. Enquanto não se encontram as soluções, as bolsas vão continuar operando no modo crise. A qualquer susto novo, uma queda.

MERVAL PEREIRA - Apoios à faxina

Apoios à faxina
MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 19/08/11
Não é nem preciso ser bom entendedor para compreender a razão da presença do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na solenidade de lançamento da campanha Brasil Sem Miséria ontem, no Palácio Bandeirantes, em reunião da presidente Dilma com os governadores do Sudeste.

E também basta não ser ingênuo para entender o sentido do apoio que senadores independentes de diversos partidos deram à sua ação saneadora na semana passada.

A "faxina ética" tomou uma dinâmica própria que não é possível controlar, e ficou maior do que sua própria impulsionadora.

À medida que vai tentando domar as forças fisiológicas incrustadas nos ministérios, a presidente Dilma trata de fazer manobras táticas para não perder o controle da situação.

Foi por isso que havia decidido, seguindo conselhos do ex-presidente Lula, não demitir o ministro da Agricultura Wagner Rossi, o que serviria de tranquilizante para os caciques do PMDB, especialmente o protetor de Rossi, o vice-presidente Michel Temer.

Tal atitude poderia provocar estranheza, ou decepção, nos que, fora dos bastidores políticos, querem acreditar que a presidente Dilma está à frente de um processo de limpeza que não terá limites.

Mas daria à presidente o tempo necessário para reagrupar sua base eleitoral, impedindo que setores do PMDB e do PT se sentissem descompromissados com seu governo.

Uma espécie de recuo tático, não se sabe se para retomar a iniciativa mais adiante ou se para interromper o avanço contra a corrupção.

Mas a presidente Dilma teve a ajuda do destino com o pedido de demissão de Wagner Rossi, temeroso de que sua permanência no cargo gerasse novas ondas de denúncias.

Ele mesmo admite em sua carta de demissão que membros de sua família estavam sendo alvos de investigações, o que é quase uma confissão de que novos problemas poderiam surgir.

Ou pelo menos que algum familiar poderia ter que explicar alguma coisa e, como se sabe, quando alguém tem que explicar muito, não é bom sinal.

Tendo avançado, mesmo à sua própria revelia, na faxina ética, a presidente Dilma tem gastado a lábia de neo-política para tentar convencer seus aliados de que não parte dela a iniciativa de caçar corruptos nos ministérios e repartições públicas.

São os órgãos controladores que estão agindo, como o TCU, a Controladoria Geral da União, a Polícia Federal e, sobretudo, a imprensa, disse a presidente a um grupo de políticos com quem conversou para acalmar os nervos.

Não seria possível, nem mesmo legal, a presidente tentar impedir que algum desses órgãos parasse de investigar atos de autoridades.

Quanto à imprensa, aí nem se discute. O Palácio do Planalto não tem condições de interferir, e nem quer fazê-lo, e já deixou de lado a tentativa anterior de controle dos órgãos de comunicação.

Essa explicação não convence boa parcela de aliados, tendentes a acreditar em teorias de conspiração que indicam que partem do próprio Planalto, ou de seu entorno, as informações que jornais e revistas divulgam, colocando em risco o emprego de figurões de Brasília.

Seria uma estratégia que a presidente Dilma estaria usando para se livrar de ministros que lhe foram impostos na formação inicial do governo pelo ex-presidente Lula.

Certamente não é apenas coincidência o fato de todos os quatro ministros defenestrados serem ligados ao esquema anterior.

Dos que deixaram o governo sob acusações de corrupção, Antonio Palocci, Alfredo Nascimento e Wagner Rossi são heranças do governo Lula, e o ex-ministro da Defesa Nelson Jobim, que saiu por divergências políticas explícitas, tinha com Lula uma posição política que lhe permitia palpitar em vários assuntos além da questão militar da pasta que ocupava.

Essa liberdade de atuação, Jobim não encontrou no governo Dilma, e acabou explicitando seu descontentamento de ter que conviver com "idiotas que perderam a cerimônia".

Assim como o ex-presidente Lula vai trabalhando nos bastidores para consolidar a possibilidade de voltar à Presidência em 2014, e para efeito oficial nega essa possibilidade, também a presidente Dilma vai desmontando o Ministério herdado por Lula, e para todos os efeitos essa sucessão de demissões é pura coincidência.

Pressionada por sua própria base política, Dilma vem tentando desconstruir a ação de limpeza ética, afirmando que ela só existe na cabeça dos jornalistas.

Ontem, na mesma solenidade em que recebeu a solidariedade implícita do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ela tentou desvincular a faxina ética de suas prioridades, dizendo que a verdadeira faxina que pretende fazer é a da miséria no país.

Também o novo ministro da Agricultura, deputado federal Mendes Ribeiro, disse que questões de faxina são com a Polícia Federal, e que cabe a ele tocar bem seu ministério.

O senador Pedro Simon tem razão quando diz que a sociedade brasileira tem que tomar a frente da ação saneadora, e tenho a impressão de que isso já está ocorrendo, não em manifestações públicas, como se fazia nas antigas passeatas reivindicatórias, mas nos Facebooks da vida, onde a cidadania se expressa com mais propriedade nos dias de hoje.

Creio que, a esta altura, já não importa se a presidente Dilma sabia onde ia dar essa cruzada, que pode ter começado como uma simples jogada de marketing para sustentar sua popularidade.

O processo está em pleno desenrolar, e dificilmente os novos integrantes do governo, em qualquer escalão, encontrarão as facilidades de que desfrutavam anteriormente.

Viajar em jatinho de empresários, por exemplo, que já foi prática comum na promiscuidade entre agentes públicos e privados, proibida nos manuais de ética pública, só agora, da noite para o dia, transformou-se em pecado capital.

ESCONDIDINHO


MARIA CRISTINA FERNANDES - A canoa de Dilma


A canoa de Dilma
MARIA CRISTINA FERNANDES
VALOR ECONÔMICO - 19/08/11
Foi a solidez da aliança da presidente Dilma Rousseff com o PMDB que derrubou Wagner Rossi da Agricultura e não o inverso. A carta do ex-ministro é cristalina. Vai no sentido oposto ao discurso com que o ex-ministro Alfredo Nascimento reassumiu sua cadeira no Senado. Enquanto o senador pelo PR acusou a presidente de abandoná-lo, Rossi isenta Dilma, a quem chama de "querida presidente", de qualquer responsabilidade sobre sua saída, e faz votos por seu sucesso.

Ao atribuir o desgaste aos interesses prejudicados pelas perspectivas eleitorais do PMDB em São Paulo o ex-ministro dá a exata medida da importância que o partido confere à aliança federal. A onda de denúncias contra si teria partido de quem não mais poderá "colocar o PMDB a reboque de seus desígnios" nas eleições paulistas. Mais do que as digitais insinuadas por Rossi, o que importa em sua declaração é a disposição do PMDB em manter uma aliança a salvo do assédio oposicionista.

Desde que Orestes Quércia (1938-2010) candidatou-se pela última vez ao governo paulista em 1998, o PMDB tem sido sigla auxiliar dos tucanos no Estado como seu principal fornecedor de vices em eleições majoritárias.

Com a morte de Quércia e a assunção de Temer ao comando do PMDB local, o partido resolveu ensaiar carreira solo com a candidatura do deputado federal Gabriel Chalita à Prefeitura de São Paulo.

Leiloada por petistas, Dilma é paparicada no Bandeirantes

Como se trata de uma candidatura pemedebista, não poderia deixar de ter duas âncoras - o PT, com quem o partido já fez acordo de apoio mútuo no segundo turno, e a banda Geraldo Alckmin do PSDB, a quem Chalita deve sua ascensão na política paulista e com quem mantém relações estreitas.

Se Chalita enfrentar o ex-governador José Serra em 2012 na capital paulistana levará Alckmin a ter um amigo e um correligionário em campos opostos - situação ainda mais confortável do que a de Serra em 2008 quando, na condição de governador, assistiu Gilberto Kassab e Alckmin se confrontarem pela prefeitura paulistana.

A desenvoltura do PMDB no Estado não está restrita à capital. Em entrevista a Vandson Lima, do Valor, o presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, Barros Munhoz (PSDB), apostou que o PMDB é a legenda que mais vai crescer no Estado em 2012.

No partido que rebocou o PMDB paulista até aqui quem menos tem a ganhar com a desenvoltura dos aliados de Temer é Serra - o que não é suficiente para assegurar veracidade às insinuações feitas por Rossi. Ao sugerir que Serra é o pauteiro de sua demissão, o ex-ministro, além de ignorar seus próprios malfeitos, talvez tenha superdimensionado a capacidade de o ex-governador encontrar ressonância depois de uma campanha em que destroçou seu capital político.

Tão ou mais eloquente que a sinuca eleitoral montada pelo PMDB paulista para os não alckmistas do PSDB é o feitio que vem adquirindo a gestão do governador em São Paulo.

Poucos aliados da presidente no PT têm aderido de maneira tão incondicional aos programas federais quanto Alckmin.

A acolhida que deu ontem a Dilma, com direito a abraço do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso à entrada do Palácio dos Bandeirantes, foi apenas a parte mais visível dessa aproximação.

Já no primeiro mês de governo Alckmin anunciou sua adesão às metas para acabar com a miséria. Depois promoveu a unificação dos programas sociais do Estado, tal como ocorreu no governo petista. Os programas de transferência de renda que haviam sido desidratados na gestão José Serra ganharam nova musculatura.

Na educação, além de voltar atrás na política de bonificação dos professores por meta de desempenho, severamente criticada pelos petistas do setor, Alckmin também criou um programa de bolsa para universitários inspirado no Prouni. De uma só tacada aproximou-se de Dilma e afastou-se de Serra. A contrapartida da bolsa é a participação do estudante em atividades de fim de semana nas escolas públicas. O programa que as mantinha abertas sete dias por semana havia sido descontinuado por seu antecessor.

Na habitação, Alckmin também enviou um projeto à Assembleia Legislativa que concede benefícios fiscais às construtoras contratadas pela estatal paulista do setor, a CDHU, a exemplo do que já faz o Minha Casa Minha Vida.

No plano plurianual que acaba de apresentar, Alckmin resolveu incorporar o Índice de Responsabilidade Social. Criado pela Assembleia há 11 anos para mensurar os avanços alcançados pelo poder público na promoção do bem estar social, o índice atravessou dois governos de Alckmin sem que a gestão estadual lhe prestasse atenção. Foi a rota de aproximação com Dilma que levou o governador a resgatá-lo.

O PPA também mantém a agressiva política de investimentos anunciada por Alckmin no início de seu governo. Justiça lhe seja feita, foi Serra quem ousou na expansão dos investimentos com o acordo, selado com Lula, que permitiu ampliar a margem de endividamento do Estado. Alckmin vai se beneficiar do acordo feito por seu antecessor para continuar a expandir o transporte metropolitano, marca do governo Serra, e aderir a bandeiras dilmistas, como o investimento no estádio do Corinthians e o trem bala.

A acolhida calorosa que Dilma teve no Bandeirantes somada ao enfático apoio do PSD de Kassab contrasta com as manifestações petistas da semana. O ministro Paulo Bernardo, que tem 100% de seu orçamento familiar na folha de pagamentos do primeiro escalão federal, disse ao repórter Fernando Rodrigues ("Folha de São Paulo") que a presidente, "se estiver bem", é candidata natural à reeleição, mas terá que discutir com Lula a sucessão de 2014. Como os petistas não contestaram o juízo do ministro sobre as circunstâncias em que a sucessão da presidente deve se dar, autorizam a versão de que devem concordar com ele.

No leilão que o PT tão precocemente faz de Dilma tampouco passou desapercebido o lançamento do Instituto Lula. Custa a crer que acabar com a fome na Somália tenha sido a motivação dos sete ex-ministros - de Walfrido dos Mares Guia a Miguel Jorge - lá reunidos.

Está claro que Temer, Alckmin e Kassab têm planos para 2014 que não necessariamente passam por Dilma. Ao contrário dos petistas, no entanto, não demonstram que pretendem prescindir dela. E ainda lhe oferecem uma canoa para atravessar as marolas que o PT vem armando em seu caminho.

ROGÉRIO L. FURQUIM WERNECK - A fantasia de ver a crise como solução


A fantasia de ver a crise como solução
ROGÉRIO L. FURQUIM WERNECK
O ESTADÃO - 19/08/11
Para nova crise, discurso novo. Alguma coisa o governo aprendeu com 2009. Já não fala em marolinha. A presidente Dilma Rousseff tem externado com franqueza sua apreensão com a deterioração do quadro externo. E o ministro Guido Mantega tem dito que o País deve estar preparado para uma crise longa. Dão mostras de estar convencidos de que, nas atuais circunstâncias, não faz sentido tentar tapar o sol com peneira e iludir a opinião pública com um discurso róseo, descolado da realidade. O que preocupa é que uma análise mais cuidadosa sugere que, em meio a esse discurso inegavelmente mais realista, subsiste no governo uma visão um tanto fantasiosa de que a crise pode vir a ser a solução que faltava para corrigir anomalias básicas da economia brasileira.

O agravamento da crise fiscal na Europa, em conjunção com os desdobramentos da perda de racionalidade da ação coletiva nos Estados Unidos, imposta pela escalada de radicalização política, vem dando alento a cenários cada vez mais pessimistas sobre a evolução do ambiente externo. E se, de fato, a economia mundial entrar em nova e prolongada desaceleração, como se teme, isso deverá estreitar em muito as possibilidades da economia brasileira. Quanto a isso, é bom não ter ilusões. No entanto, têm surgido na mídia, nas últimas semanas, análises supostamente baseadas em fontes oficiais, dando conta de que o governo alimenta a esperança de que, com a nova crise, o País possa, afinal, conseguir o realinhamento de juros e câmbio que há muito se faz necessário. Passada a borrasca, a taxa de juros terá sido substancialmente reduzida e o real estará bem menos apreciado.

Há, aqui, uma distinção importante a ter em conta. É perfeitamente possível que o governo, afinal, se disponha a mudar o atual regime fiscal para abrir espaço para uma redução estrutural na taxa de juros e uma taxa de câmbio menos apreciada. Mas é pouco provável que a crise facilite as mudanças que se fazem necessárias. A menos que o simples acompanhamento, a distância, dos dramáticos desdobramentos da crise fiscal europeia seja capaz de disseminar entre nós - no governo e na sociedade - visão mais lúcida do que precisa mudar por aqui. É até possível. Mas, por enquanto, pouco provável.

Bem distinta é a esperança do governo de que a crise abra a oportunidade para um realinhamento duradouro de juros e câmbio, sem mudança no regime fiscal. O governo promete apenas "manter a conduta fiscal", pressupondo, claro, que ela já seja adequada. Não vê problema em continuar mantendo um gigantesco orçamento fiscal paralelo no BNDES. Na nova Lei de Diretrizes Orçamentárias, a presidente vetou a exigência, introduzida no Senado, de que as transferências diretas de recursos que o Tesouro vem fazendo ao BNDES passem a ter de ser autorizadas pelo Congresso. E a ministra do Planejamento já advertiu que o governo não pretende ampliar o aperto fiscal. O que se dispõe a fazer é evitar que o quadro fiscal se deteriore, na esteira de aprovação de projetos irresponsáveis de expansão de gastos no Congresso ou da concessão de reajustes salariais despropositados no setor público federal.

Nada disso configura mudança de regime fiscal. A arrecadação federal continua crescendo vertiginosamente. Nada menos que 12,7%, em termos reais, no primeiro semestre. Algo equivalente ao triplo da taxa de crescimento do PIB. E é bem sabido que a rápida expansão de gastos públicos continua ocupando lugar central no projeto político do governo. Nesse quadro, é pouco provável que a sobrecarga que hoje recai sobre a política monetária possa ser repassada à política fiscal. E, sem isso, é difícil vislumbrar espaço para queda duradoura da taxa de juros.

O que sobra é um estranho e fantasioso contorcionismo mental, em que o governo de um país exportador de commodities sonha com uma queda acentuada de preços de commodities que, com toda a depreciação cambial que possa causar, ainda deixe espaço, no combate à inflação, para uma redução considerável da taxa de juros.

ECONOMISTA, DOUTOR PELA UNIVERSIDADE HARVARD, É PROFESSOR TITULAR DO DEPARTAMENTO DE ECONOMIA DA PUC-RIO

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA


Troco mais adiante 
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SP - 19/08/11

Não bastasse o medo de ver algum de seus ministros entrar na linha de tiro, o PT teme um outro efeito da degola serial de integrantes do primeiro escalão de Dilma Rousseff: que as siglas aliadas respondam a esse fenômeno isolando o partido na formação de palanques para as eleições municipais do próximo ano.
Segundo auxiliares, o recente "mergulho" da presidente em encontros com políticos tem, entre outros objetivos, o de afastar essa ameaça. Em reunião com petistas e peemedebistas nesta semana, Dilma disse pela primeira vez que a composição da base governista deve ser o parâmetro para as alianças de 2012.


Hortifrúti
 De um cacique do PMDB, sobre a troca na Agricultura: "O Mendes é mesmo a escolha natural, embora não saiba diferenciar melancia de cenoura...".

Olha lá... Ciente das restrições do Planalto ao filotucano Eliseu Padilha (PMDB-RS), que ganhará vaga na Câmara com a ida de Mendes Ribeiro para a Esplanada, Michel Temer conversou com seu amigo do peito, que se comprometeu a "seguir as orientações da liderança".

Pólvora 1 A cúpula do PMDB tenta conter rebelião de ala da bancada insatisfeita com o líder Henrique Alves (RN). Os amotinados querem: a) obstrução se não for votada a Emenda 29; b) liberdade para assinar a CPI da Corrupção; c) barrar a escolha de Eduardo Cunha (RJ) para a relatoria da reforma do Código de Processo Civil.

Pólvora 2 Temer chamou a ala gaúcha, cheia de descontentes, para jantar na segunda. E Alves busca garantir a nomeação de um aliado de José Priante (PA), outro amotinado, à direção do Incra em Santarém.

Pólvora 3 O líder, porém, diz que não recua da indicação de Eduardo Cunha para relatar a reforma do código. Em tempo: também o Planalto reprova a escolha.

Cardápio América Latina e EUA dominaram a conversa na mesa em que almoçaram Dilma, FHC, Geraldo Alckmin e demais governadores presentes no Palácio dos Bandeirantes, após o lançamento do Brasil sem Miséria versão Sudeste. Os destaques foram o excelente desempenho de Cristina Kirchner nas prévias da Argentina, a pujança econômica da Colômbia e as agruras de Obama para se reeleger.

Ocioso De um cardeal petista que assistiu à solenidade de ontem, diante dos elogios de Alckmin a Dilma: "Com tantos afagos tucanos a ela, nós, do PT, ficamos praticamente sem função".

Vida real Para além da gentileza, Alckmin sabe que obras importantes de sua administração, como Rodoanel, Ferroanel, Monotrilho do ABC e modernização de portos, dependem de recursos do governo federal. Estado e União partilham também o interesse em desarmar "bombas fiscais" como a PEC 300, que estabelece piso nacional para policiais. A exemplo da equipe econômica de Dilma, o governador já se manifestou contrário à emenda, que a Câmara está louca para votar.

Secessão A dada altura de seu discurso no evento, a ministra Tereza Campello (Desenvolvimento Social) se confundiu e falou "Brasil sem Sudeste".

Na luta Marta Suplicy (PT-SP) teve com Dilma, na noite de anteontem, uma conversa de "grande sintonia feminina", nas palavras da senadora, sobre a eleição paulistana. Na segunda, o encontro será com Lula.


com LETÍCIA SANDER e FÁBIO ZAMBELI

tiroteio

"Apesar das suspeitas que envolvem a Agência Nacional de Petróleo, a faxina da corrupção não chega ao Ministério de Minas e Energia, porque ali dá choque."
DO DEPUTADO DOMINGOS DUTRA (PT-MA), referindo-se à pasta comandada pelo peemedebista Edison Lobão, aliado histórico da família Sarney.

contraponto

É dando que se recebe

Em seu derradeiro compromisso como ministro da Agricultura, Wagner Rossi recebeu, na tarde de anteontem, um grupo de agricultores do Vale do Ribeira. Eles protestavam contra a crescente entrada no país de bananas provenientes do Equador, reivindicando apoio federal aos produtores paulistas.
Ao sair da reunião, a prefeita de Registro, Sandra Kennedy (PT), que liderava a caravana, comentou:
-Ele deu o maior apoio às bananas do Brasil!
Um produtor que a acompanhava completou:
-Pois é, agora só falta darem uma banana pra ele...

GOSTOSA


TUTTY VASQUES - O vírus do mau futebol


O vírus do mau futebol
TUTTY VASQUES
O ESTADÃO - 19/08/11

Tem muito flamenguista por aí achando, sinceramente, que Mano Menezes convocou Ronaldinho Gaúcho só para beneficiar o Corinthians na briga pela liderança do Campeonato Brasileiro.
Nas entrelinhas do completo absurdo, isso quer dizer o seguinte: o torcedor já não se comove nem um pouco com nome do craque de seu time na lista de selecionados da CBF.

O anticlímax na Raça Rubro-Negra com a convocação do bom e velho camisa 10 do time carioca evidencia a suspeita de que a "amarelinha" está perdendo importância no espaço generoso que o futebol ocupa no coração do brasileiro. Nada, todavia, que justifique a revolta de uns e outros pelo Twitter: "Por que o Mano não convocou a mãe?" - foi daí pra baixo!

Gente que há pouco mais de 1 ano crucificou o Dunga por frustrar o clamor popular pela convocação de Ronaldinho Gaúcho prega agora na mesma cruz quem atende a seus anseios de torcedor.

Rivalidades clubísticas à parte, descontado ainda o desprestígio do time do Ricardo Teixeira, corre nas arquibancadas de todo o País a superstição de que o péssimo futebol da seleção é contagioso. O Ganso, por exemplo, teria pego o vírus na Copa América. R10 seria a próxima vítima! Cada uma, né não? Vou te contar, viu!

2 polegadas a mais
ACM Neto circula pelos corredores do Congresso com button de lapela e salto carrapeta anticorrupção. Do alto de suas convicções, ficou quase do tamanho do senador Álvaro Dias.

Pós-Janete Clair
Miriam Leitão é uma ova! O penteado da personagem de Regina Duarte em O Astro está ficando parecido com o da Amy Winehouse.

Medida extrema

Se, como programaram os preparadores físicos do Corinthians, Adriano não conseguir emagrecer 3 quilos em 21 dias para enfrentar o Flamengo, francamente, só cortando a cervejinha na dieta do Imperador!

A fila andou

Já tem servidor concursado assoviando "tá chegando a hora" nos corredores do Ministério do Turismo. Pela lógica da faxina, o ministro Pedro Novais é o próximo a ir pro ralo!

Alta rotatividade

Ministro de Estado, tanto quanto técnico de futebol, é profissão de alto risco no Brasil.

Ponto de vista

O prefeito do Rio, Eduardo Paes, deu R$ 200 mil para a organização da Parada Gay de Madureira. Se fosse em SP, o vereador Carlos Apolinário estaria dizendo as últimas do Kassab.

Ó paí, ó!

Entreouvido num boteco de Salvador: "Nessas horas é que a gente vê como é bom não ter mansão, lanchas, jet ski e barras de ouro numa ilha paradisíaca. Um belo dia vem a Polícia Federal e toma tudinho do cabra!" Não deixa de ser um consolo, né?

Pau a pau

Justiça seja feita a Mano Menezes, o retrospecto dos últimos seis jogos do Muricy Ramalho no Santos não é melhor que o dele na seleção.

DORA KRAMER - Um toque de pudor


Um toque de pudor
DORA KRAMER
O Estado de S.Paulo - 19/08/11

As lideranças do PT e do PMDB costuraram ontem uma saia justíssima na Câmara ao indicarem João Paulo Cunha, réu do mensalão, e o notório Eduardo Cunha, respectivamente para presidente e relator da proposta do novo Código de Processo Civil já aprovada pelo Senado e que começa a ser examinada em comissão especial na próxima quarta-feira.

Quase metade da bancada de 79 deputados do PMDB já se posicionou contrária à indicação de Eduardo Cunha, sustentada pelo líder Henrique Eduardo Alves, mas a reação envolve outros partidos preocupados com a repercussão negativa do fato de, mais uma vez, pessoas de condutas questionáveis serem levadas a postos e funções relevantes no Parlamento.

No caso do Código de Processo Civil soa até como ironia e evidentemente fragiliza a comissão antes mesmo de iniciados os trabalhos.

A notícia da indicação dos dois chegou durante o ato de recebimento da proposta pelo presidente da Câmara, Marco Maia. Na condição de "decano entre os deputados presentes", o deputado Miro Teixeira pediu a palavra para, na frente do ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz Fux e do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, cobrar "agilidade" no julgamento de acusados a fim de evitar o constrangimento do colegiado no convívio com colegas alvos de processos e investigações.

"Falei no sentido de que a Justiça olhe para si e que o Parlamento também se respeite", explicou Miro.

Inevitável: correu a piada de que o mais adequado seria indicar João Paulo e Eduardo Cunha para cuidar de assuntos relativos ao Código Penal.

Descontadas as brincadeiras, o embaraço é geral. Alcança até mesmo o presidente da Câmara, que não veria com bons olhos as indicações. Marco Maia receia que a instituição seja objeto de duras críticas.

Na terça-feira 35 deputados do PMDB haviam se reunido para marcar posição contra a "dobradinha" Henrique Alves e Eduardo Cunha na exclusividade da interlocução com o governo, a fim de fazer ver ao governo que os dois não têm essa delegação. Naquela altura, já se sabia que Alves tinha a intenção de dar a Cunha a relatoria do Código, mas os deputados ainda achavam que ele pudesse recuar.

Ontem, o líder resolveu bancar a indicação e acabou alimentando o sentimento de revolta. Com isso, daqui até quarta-feira haverá uma tentativa de articular com outros partidos a apresentação de novos nomes que não os escolhidos.

Segundo Miro Teixeira, é um movimento sem dono, uma benfazeja "combustão espontânea".

Sejamos claros. Wagner Rossi não saiu do Ministério da Agricultura por ser vítima inocente de uma conspiração nem para livrar a família de ataques insidiosos. Saiu para se proteger.

Para não enfrentar a condenação da Comissão de Ética Pública por ter infringido a norma que veda o recebimento de presentes e favores, ao viajar no jatinho da empresa Ourofino Agronegócio.

Saiu porque a Polícia Federal abriu inquérito para investigar as denúncias feitas pelo ex-presidente da comissão de licitação do ministério sobre o envolvimento dele com fraudes em licitações e distribuição de propinas.

Saiu para preservar o vice-presidente Michel Temer, seu amigo e padrinho, dos malefícios do desgaste.

A serem verdadeiras as alegações (corroboradas pelo PMDB) do ex-ministro, caberia a Wagner Rossi anunciar abertura de processo por calúnia e difamação contra os que lhe fizeram ou veicularam acusações infundadas.

Disse na carta de demissão que seu ímpeto seria "confrontá-los". Aludiu à defesa da própria honra, mas preferiu não fazê-lo mediante os instrumentos judiciais à disposição de todo cidadão.

Rossi repete, assim, Luiz Antonio Pagot e Antonio Palocci, que também alegaram ter sido difamados, mas não foram buscar reparação na Justiça.

Causa própria. Lula diz que é "imbecilidade" e "tiro no pé" falar em eleição de 2014 agora. Por esse raciocínio, fazer campanha desde já enquanto os outros se calam e ficam parados deve ser argúcia estratégica.

CELSO MING - Treme-treme


Treme-treme
CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 19/08/11

Ontem, o primeiro presidente da Comissão Europeia, Jacques Delors (foto), fez duas afirmações demolidoras sobre a crise da Europa: (1) as decisões anunciadas terça-feira pela chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e pelo presidente da França, Nicolas Sarkozy, "não valem nada"; e (2) "a Europa e o euro estão à beira do precipício".

Delors não é um nativo gaulês qualquer. É um dos personagens-símbolo da integração europeia. E fala pouco. Quando o faz, produz conteúdo e consequência. E o principal resultado de sua fala, repercutida ontem, foi o treme-treme dos índices das bolsas em todo o mundo e a derrubada das cotações dos bancos europeus.

Esses efeitos aconteceram apenas secundariamente por essas declarações. As causas principais são conhecidas: a percepção geral de que a estagnação das economias dos países ricos se aprofunda; um aumento desanimador do desemprego nos Estados Unidos e na Europa; e a visível deterioração dos ativos dos principais bancos americanos e europeus, à medida que as dívidas dos grandes clientes vão sendo rebaixadas.

Sobre a estatura dos atuais chefes de Estado, também dessa vez Delors deu a entender coisa com coisa. A impressão geral é de que os dirigentes europeus são pequenos demais diante do tamanho da tarefa a cumprir. Seu campo de visão não ultrapassa o calendário das campanhas eleitorais regionais seguintes.

Terça-feira, Merkel e Sarkozy ainda foram na direção correta, a criação de mecanismos que garantam um mínimo de governança comum da área do euro e do aumento de receitas do bloco. Mas apontaram para um cronograma muito esticado ante a urgência de uma solução. Delors resumiu tudo com uma frase contundente: "São decisões que não valem nada".

É por isso que a pretendida criação de um eurobônus, rechaçada por Merkel e Sarkozy, forçaria um desfecho. Em princípio, não seria preciso esperar até que todos os parlamentos nacionais da zona do euro sacramentassem a novidade - o que já não seria fácil. Se Alemanha, França e mais dois ou três sócios aderirem à criação de uma dívida comum, seria altamente provável que os outros corressem para tomar o mesmo trem.

Uma dívida comum exigiria administração orçamentária integrada e, além disso, coordenação política muito mais estreita. Em compensação, os juros dessa dívida poderiam cair para menos de 2% ao ano, muito abaixo dos mais de 6% ao ano que vêm sendo cobrados das dívidas da Espanha e da Itália, por exemplo.

Paradoxalmente, um precipício a dois passos pode ajudar. A Europa quase sempre avançou quando movida a catástrofes. Foi a ameaça dos horrores de novas guerras, de novas ditaduras avassaladoras e de novos processos de hiperinflação que levaram ao atual estágio de integração que começou em 1951, com a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço.

É por isso que a visão do abismo apontado por Jacques Delors pode ser a ameaça capaz de, finalmente, empurrar os 17 países do arquipélago do euro para uma integração de soberanias: "Ou os Estados-membros aceitam a cooperação econômica reforçada, que sempre reclamei, ou se transferem poderes suplementares à União", disse ele.

Enquanto essa integração não chega, o euro e o resto do mundo viverão aos solavancos, de turbulência em turbulência, até o desfecho final.

CONFIRA

Mais devagar

Tampouco significa que o bom desempenho seguirá nos próximos meses. As receitas atípicas da Cofins e da CSLL não deverão se repetir. E, se a desaceleração do consumo e da produção se confirmar, a arrecadação também crescerá menos.