domingo, janeiro 03, 2010

SUELY CALDAS

'FT': mérito de Lula é continuar FHC

O ESTADO DE SÃO PAULO - 03/01/10


A cotação do presidente Lula está em alta na Europa. Escolhido o "Homem do Ano" pelos jornais Le Monde (francês) e El País (espanhol), o inglês Financial Times (FT) listou-o entre as 50 personalidades que moldaram a primeira década do século 21. Ao justificar a sua escolha, o jornal britânico tratou de dividir o sucesso de Lula com seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso. Sobre sua popularidade, destaca: "O que faz os brasileiros amarem Lula é a baixa inflação" - herança do Plano Real da era FHC. E lembra que, quando oposição, Lula criticou duramente as ações da política econômica do antecessor, "mas foi esperto o suficiente para mantê-las".

Faltou ao FT dizer que no Congresso, nos comícios, nas campanhas eleitorais, nos sindicatos e nas ruas Lula e o Partido dos Trabalhadores (PT) trabalhavam para derrubar, uma a uma, as ações de política econômica que eles trataram de preservar quando chegaram ao governo. Quem viu Lula e o PT em campanha contra as privatizações, com xingamentos agressivos, não o imaginava dois anos depois desautorizando o ex-presidente do BNDES, Carlos Lessa, a tentar reestatizar a Vale. "Não quero que meu governo passe a imagem de que somos contra e vamos desfazer as privatizações", advertiu Lula em 2003.

Mas o FT está certo em cutucar Lula naquilo que ele jamais admitiu e, pior, nega quando fala a respeito. Por mais oposição que tenha praticado antes, nenhum líder político começa a governar seu país com atitudes de ruptura com o que encontrou. "Vamos mudar tudo que está aí", prometiam Lula e companheiros. A expressão não diz nada, é oca, vazia, não especifica o que vai mudar, mas é boa de marketing popular e péssima como mensagem de governo. Deu no que deu em 2002, com o dólar beirando R$ 4 e o risco País chegando a 3 mil pontos.

"Nunca antes na história deste país", continuou Lula depois que virou presidente. Arrogante, esquece que apenas deu continuidade àquilo que herdou. Ele costuma glorificar os avanços de seu governo na área social. Realmente o Bolsa-Família é um programa social bem-sucedido, elogiado por outros governantes, pelo Banco Mundial e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Mas Lula omite que o programa foi criado no governo anterior e que a sua mais genial inventividade - a estrutura de um cadastro das famílias de alcance nacional e o cartão bancário que eliminou a secular e corrupta intermediação dos políticos - foi concebida por uma equipe de economistas, entre eles Ricardo Paes de Barros, que os petistas rotulavam de tucanos neoliberais. Na época, o Instituto da Cidadania, ligado ao PT, apresentava ao País um es-drúxulo plano para eliminar a fome, com um fundo alimentado por uma taxa cobrada em gorjetas de restaurantes. Lula podia criticar a quantia de apenas R$ 15 que FHC dispensava às famílias por filho na escola e lembrar, com justiça, que sua gestão elevou o valor e ampliou o cadastro de famílias, mas não é ético tomar a si a autoria do programa, que não lhe pertence.

Ainda na série "nunca antes na história deste país", sua única concessão foi dirigida ao ditador João Baptista Figueiredo, ao afirmar que só o general construiu mais casas do que ele, mas omite e não reconhece um fato bem mais recente vivido na democracia: é o sistema de câmbio flutuante e metas de inflação, criado na gestão Armínio Fraga no Banco Central, e com sabedoria mantido por ele e Henrique Meirelles, que mantém a inflação baixinha e garante sua popularidade.

É justo constatar que o País progrediu no governo Lula. Ele e sua equipe de petistas demoraram a aprender, tropeçaram nas Parcerias Público-Privadas, tomaram decisões erradas quando tentavam inventar - caso do programa Meu Primeiro Emprego. E levaram o País ao retrocesso político ao tolerarem, não punirem e até incentivarem a corrupção, ao lotearem cargos técnicos com apadrinhados despreparados e mal-intencionados, ao interferirem politicamente em funções do Estado que existem para servir ao cidadão, e não aos interesses do governo. Não fizeram as reformas, na política diplomática não chegaram a contar vitórias e continuam errando no plano político-institucional.

Mas é legítimo reconhecer os méritos: a economia cresceu e milhares de empregos foram criados, a área social ganhou impulso, surpreendentemente o País saiu da crise antes do esperado e a última pesquisa do IBGE sobre o Produto Interno Bruto (PIB) trouxe a boa notícia: o investimento produtivo voltou e tudo indica que de forma sustentada. O futuro, portanto, é promissor e Lula ajudou a construí-lo. Mas não só ele. Ninguém é onipotente, muito menos quem tem responsabilidade de governar e preservar o que foi feito antes. O Brasil perdeu a década de 1980 inteira, sofrendo com uma inflação absurda que emperrava o progresso, impedia investimentos, concentrava a renda. Derrubar a inflação foi o primeiro passo para reverter esse quadro e começar a construir um novo País. E isso ocorreu com o Plano Real, em 1994, em pleno ano eleitoral e apesar da oposição de Lula e do PT, que decretavam vida curta a "este plano eleitoreiro".

Argentina - Ao contrário do Brasil, superar a crise não está fácil para a Argentina. É certo que foi afastado o fantasma da moratória (e todas as suas mazelas), que rondou o governo de Cristina Kirchner até meados de 2009, mas o acesso ao crédito internacional continua fechado e ajudando a alongar os efeitos da crise. Com a economia em recessão e a receita tributária em queda, o governo ampliou sua intervenção em negócios privados para buscar dinheiro e atenuar seu déficit fiscal, mas criou ambiente de insegurança e risco jurídico que causa fuga dos investimentos e impede a economia de decolar.

Sob intervenção há três anos, ninguém acredita nos indicadores econômicos do Instituto Nacional de Estatísticas e Censo (Indec). A previsão do governo de inflação entre 6% e 7% em 2010 é ignorada pelo mercado, que espera repetir os 15% de 2009. Fazer recuar a inflação a menos de dois dígitos, conseguir abrir as portas do crédito internacional e atrair investimentos são desafios que Cristina Kirchner vai enfrentar com dificuldades em 2010.

GOSTOSA

ANCELMO GÓIS

Para poucos

O GLOBO - 03/01/10


Esse relatório do BC, que celebrou os juros cobrados às pessoas físicas em novembro como os mais baixos em 15 anos, tem um dado revelador.
Acredite: 87% do chamado empréstimo consignado, aqueles descontado em folha com taxas de juros mais módicas, foram destinados apenas aos servidores e aos aposentados.

Ou seja...
Isso é sinal de uma certa aversão ao risco dos bancos brasileiros, inclusive os públicos.
O assalariado de empresa privada oferece bela garantia (o salário descontado na fonte), mas a banca prefere o risco zero de emprestar aos barnabés que têm estabilidade ou ao aposentado (cujo dinheiro pinga sempre).

Fator Sarney
No projeto de reforma administrativa do Senado a FGV sugeriu reduzir de 602 para 436 as funções comissionadas.
Mas no fim o número de funções acabou mesmo foi subindo para 690. Tudo pago com dinheiro meu, seu, nosso.

Programa de índio
Não foi só Lula que, digamos, esnobou a reunião de Davos, este ano.
Chamado para falar de "Valores espirituais no mundo pós-crise", Frei Betto enviou um texto, porque vai ao Equador, "a convite do movimento indígena".

Custo de vida
Roger Abdelmassih, o médico que é acusado de ter abusado sexualmente de 56 pacientes, chegou a gastar, acredite, R$ 2 milhões num mês com seu cartão American Express.

Lembrai-vos de JK
Do historiador Marco Antonio Villa sobre a pergunta de "1 milhão de dólares" da coluna ( Em 2010, Lula vai transferir sua popularidade para Dilma Rousseff?): - Durante o quinquênio juscelinista o Brasil cresceu mais que nos sete anos de Lula.
Mesmo assim, JK não fez o sucessor.
É. Pode ser.

Diário de Justiça
A 4ª Turma do STJ vai julgar na volta do recesso do Judiciário, agora no início do ano, um recurso do Ministério Público do Rio Grande do Sul contra a decisão que permitiu a um casal gay adotar uma criança.

Há vagas
Lula deve escolher, nos primeiros dias de 2010, um dos novos ministros do STJ, para a vaga destinada a desembargador.
Há um cearense, um mineiro e um paranaense no páreo.

ZONA FRANCA
Você já votou no concurso da Mulata do Gois (oglobo.com.br/ mulatadogois2010)? l A União da Ilha faz ensaio na quadra, hoje à noite.
Clarice Magalhães lançou o seu primeiro CD, produzido por Tuninho Galante.
A Escola SESC de Ensino Médio no Rio recebe, a partir da próxima semana, 1.500 professores de todo o Brasil, para o Programa de Capacitação Ensino Médio Inovador.
Denis Borges Barbosa ganhou o Prêmio Análise Advocacia na categoria de Propriedade Intelectual.
Duda Porto assina o espaço da Vogue no Fashion Rio.
Você já votou no Mulato do Gois (oglobo.com.br/mulatodogois2010)?

Cerveja salgada
O Choque de Ordem (eu apoio) às vezes derrapa no exagero.
A proibição dos ambulantes de vender cer veja no isopor, no réveillon em Copacabana, fez explodir o preço da bebida. Os quiosques da orla cobravam, acredite, R$ 10 a latinha.

O problema...
A medida tirou uma fonte de renda extra para quem necessita e levou mais dinheiro aos donos dos quiosques.

Não teve sorte
O cineasta alemão Ansgar Ahlers veio passar o réveillon em Copacabana, mas, prevenido, deixou todos os pertences na casa onde estava hospedado, em Santa Teresa. Foi só com dinheiro e um documento.
Não adiantou. Enquanto ele estava na praia, ladrões invadiram o lugar e levaram a câmera, o iphone e todos os presentes que o turista comprou por aqui.

Racha entre bacanas
O pessoal que faz oposição à atual diretoria do Iate Clube do Rio de Janeiro diz que não consegue ter acesso à lista atualizada dos sócios.

Cena carioca
Uma turma gaiata que frequenta o Chico & Alaíde, botecocabeça no Leblon, faz um coro baixinho para o mulherio que entra numa loja de depilação bem ao lado: - Vai depilar. Vai depilar.

DANUZA LEÃO

A primeira manhã do ano

FOLHA DE SÃO PAULO - 03/01/10


Quando acordou de ressaca, olhou para o lado e viu um homem dormindo na sua própria cama, quis morrer

ESTAVA MEIO deprimida, e a receita nesses casos é só uma: ir para casa, tomar um tranquilizante, se enfiar na cama, ligar a televisão e esperar passar. Mas fez tudo ao contrário, como quase sempre: saiu, bebeu -mal- e aprontou. Quando acordou de ressaca, olhou para o lado e viu um homem dormindo na sua própria cama, quis morrer. Como nem em coma alcoólica se faz o que não se quer -você algum dia convidou o mendigo da esquina para um último drinque em sua casa?-, sabe que ninguém a obrigou a nada.
Bebendo, fazemos apenas o que não temos coragem de fazer em sã consciência, e só. E agora? Vai ter a obrigação de dizer bom dia, oferecer um suco, talvez até um café, e ele ainda pode querer tomar uma chuveirada? O ideal seria se ele dissesse que precisava ir embora voando, o que nesse caso valeria como uma rejeição, outra tragédia.
Mas digamos que ele seja gentil, se instale na sala e, depois de elogiar a vista e a decoração, puxe um assunto. Nem pensar. Afinal, o fato de duas pessoas dormirem juntas não tem nada a ver com intimidade. Que ele fique dez minutos ou 40, em alguma hora vai ter que ir embora. Você vai levá-lo até a porta e podem acontecer duas coisas: ele dizer um vago "a gente se vê", o que seria péssimo, ou querer marcar um jantar para aquela noite, o que também seria péssimo.
Mesmo que esteja arrependida da loucura que fez, nenhuma mulher merece tanta indiferença, como no primeiro caso; vai ficar arrasada, e o analista está de férias, claro. Por outro lado, sair para jantar nem morta, vai entender a cabeça das mulheres. É, ainda não aprendeu a ter juízo, e sente a maior falta de um cigarro; naquele momento daria a vida por um, mas largou o vício, e se pergunta a troco de quê.
Se pensar bem, vai perceber que sempre que está mal e resolve sair para "espairecer" acaba fazendo alguma coisa que não deve, seja o que for. Mas será que alguém é perfeito e nunca faz nada de que se arrependa?
Se conseguir esfriar a cabeça e lembrar do que já ouviu das amigas, vai ver que não é a única a às vezes fazer bobagens, mesmo sem ter bebido uma gota de álcool. Ou porque está triste, ou porque está carente, ou porque a vida é assim mesmo, com altos e baixos, e pronto. E tem mais: os homens também fazem muita bobagem, só que ficou combinado que eles podem tudo, e por mais que as mulheres tenham conseguido, etc. e tal, nesse quesito ficaram praticamente na mesma. Você algum dia ouviu alguém chamar um homem de "vadio"? E uma mulher "vadia", já ouviu falar? Pois é.
Mas fique tranquila: a culpa é dessa terrível semana de festas, que felizmente já passou. Para hoje, suas únicas preocupações devem ser dispensar o professor de ginástica, dizer que só recomeça quando os termômetros estiverem marcando 25 graus, e, quando for pagar o sushi que vai pedir por telefone, não errar no cheque: agora é 2010. Praticamente mesmo, foi só o que mudou.

FREUD EXPLICA

MÍRIAM LEITÃO

Os dez chineses

O GLOBO - 03/01/10


A China estará no centro dos acontecimentos dos próximos dez anos. Isso é certo. Mas o que isso significa? Que a economia que mais cresce no mundo passará o Japão, mas não passará os Estados Unidos. Algumas das suas contradições ficarão mais agudas. Na cena política global, a China será a força que vai se contrapor aos Estados Unidos, numa nova bipolaridade.

Em 26 anos, entre 1978 e 2004, a China multiplicou por dez seu tamanho. O Império Britânico levou 70 anos — de 1830 a 1900 — para multiplicar o seu PIB por quatro. Quem registra a comparação é o historiador Niall Ferguson em artigo no “Financial Times”. No começo da década passada a economia americana era oito vezes maior do que a chinesa e no fim da década é de apenas quatro vezes. Jim O’Neill do Goldman Sachs, que criou a ideia dos BRICs, acha que em 2027 a China passa os Estados Unidos.

Entretanto, o mistério chinês não é apenas uma questão de projeção estatística.

O país tem dilemas agudos a enfrentar na década de 10.

Será possível continuar crescendo sem mudar o sistema político ditatorial? Se for, o mundo será mais imprevisível e perigoso.

O economista Marcelo Nonnenberg, do Ipea, acha que nesta década a China vai intensificar a mudança geopolítica global. Desde o fim da Segunda Grande Guerra, os países que mais ganharam importância geopolítica estavam ligados aos Estados Unidos: o Japão e a Alemanha, não por coincidência, os derrotados da guerra.

— A ascensão da China é um caso inédito. É um país com interesses próprios na Ásia e conflitos com seus vizinhos. O crescimento da China vai incomodar cada vez mais os Estados Unidos, mas isso não significa que ela vai substituir os Estados Unidos.

Falaram isso do Japão há 20 anos e a economia japonesa vem patinando — pondera Nonnenberg.

O especialista em comércio exterior Joseph Tutundjian acha que nos anos 10 a China vai superar o Japão, depois de ter superado a Alemanha em 2007 tornandose a terceira maior economia do mundo.

— O Japão é um país sem horizontes porque é uma população com idade avançada, muita poupança e que conquistou o que queria da vida. Os chineses, por outro lado, são os capitalistas mais vorazes da atualidade.

São jovens e querem ficar ricos o mais rapidamente possível — diz.

Esse enriquecimento tem sido concentrador de renda e baseado na espantosa falta de garantias trabalhistas mínimas. Tutundjian lembra que a primeira legislação trabalhista em três décadas, implantada em 2008, transformou acordos verbais entre empregadores e empregados em contratos formais e aumentou a proteção aos trabalhadores.

Resultado: em menos de um ano 67 mil pequenos negócios desapareceram.

Parte da competitividade dos produtos chineses vem da falta de garantias individuais dos trabalhadores.

Parte vem da manipulação cambial de um sistema de paridade informal entre o yuan e o dólar. Como o dólar se desvalorizou frente a todas as outras moedas no último ano, o yuan acompanhou os passos.

Essa política cambial é um fato perturbador no comércio internacional. O assunto tem incomodado cada vez mais os países e os especialistas, o que faz com que economistas como Paul Krugman, conhecido por defender o livre comércio, defendam barreiras contra produtos chineses.

Rodrigo Maciel, secretário executivo do Conselho Empresarial Brasil-China, diz que reformas trabalhistas e tributárias iniciadas a partir de 2000 vão se aprofundar nos próximos anos encarecendo a mão-de-obra chinesa e mudando a forma de produzir, com mais tecnologia e valor agregado.

No meio de tudo isso, lembra Maciel, o país passará por uma sucessão presidencial em 2013 quando termina o mandato de Hu Jintao. O sucessor seria Xi Jinping, atual vice-presidente que seria, segundo Maciel, menos conservador e que deve incentivar maior cuidado com questões ambientais.

Há certas leis das quais mesmo uma ditadura não consegue fugir. Uma população que se torna mais rica quer maior poder político.

O crescimento econômico acelerado traz danos ambientais que se tornarão limites ao crescimento. A tecnologia torna mais difícil controlar o fluxo de informações.

É neste ambiente de maiores tensões que a China vai realizar sua ascensão para segunda potência mundial nos anos 10.

Uma das consultorias mais respeitadas quando o assunto é China é a Dragonomics.

Ela aposta num cenário em que a China cresce a 8% ao ano na década de 10. Menos do que o crescimento recente. Nonnenberg acha que o país terá que se voltar mais para o mercado interno. Tutundjian acha que o mundo não verá um Nobel de literatura ou uma tecnologia de ponta vindos da China na próxima década porque falta a ela uma educação de qualidade.

Há uma dificuldade adicional em relação à China, lembrou, em artigo, Nouriel Roubini: suas estatísticas.

De repente eles fazem uma revisão do PIB de anos anteriores totalmente inesperada que altera todas as contas. Em artigo recente, o professor Victor Shih, professor da Northwestern, diz que os empréstimos não recuperáveis podem ter chegado a 31% do PIB no ano passado, com os estímulos para sair da crise.

Opaco, autoritário, quantitativo: esse é o poder que avançará ainda mais nos anos 10. Niall Ferguson diz que pode estar acontecendo o começo do fim da ascendência ocidental, iniciada há 500 anos com o renascimento, a reforma protestante e depois o iluminismo. Pode ser, mas para isso a China precisará mais do que um multiplicador de PIB. Iluminismos nascem das luzes do pensamento livre.

JANIO DE FREITAS

O passado pela frente

FOLHA DE SÃO PAULO - 03/01/10



Estamos postos diante do risco de voltar à instabilidade das instituições democráticas e a um passado sem anistia

DEMITIRAM-SE, ou ameaçaram demitir-se, ou ameaçam ainda -depende do informante da notícia, ou ondeiro-, não faz diferença para as interrogações que os comandantes da Aeronáutica, do Exército e da Marinha, com a companhia do ministro Nelson Jobim, da Defesa, lançam sobre o regime democrático e o conceito otimista obtido pelo Brasil nas relações internacionais.
Duas possibilidades estão postas à nossa frente, com a recusa das chefias militares a admitir a vigência, no Plano Nacional de Direitos Humanos assinado por Lula, dos itens que podem questionar a impunidade dos crimes hediondos da repressão na ditadura. Uma delas é de que Lula recue do seu decreto e dele retire a pretendida Comissão da Verdade, além de outros itens; ou adote uma fórmula que evite a retirada explícita, mas resulte na mesma invalidade. O que restar da imagem de Lula no exterior e do conceito do Brasil será millagre, só por restar.
A outra possibilidade é de que, sem recuo ou fórmula ilusória de Lula que satisfaça os comandantes militares, os três e seu ministro demitam-se em represália. Os substitutos escolhidos para os três não aceitem, nem os novos escolhidos, por esperável solidariedade corporativa, decorrente de que a impunidade dos autores de crimes hediondos da ditadura tornou-se um princípio militar brasileiro. É o impasse. E então, o que virá, o que farão os chefes militares e seu estimulante advogado Nelson Jobim?
O impasse será a crise da democracia brasileira. Forças Armadas sem convivência com o governo e o governo sem poder de impor-se. A "solução", em qualquer de suas variadas formas, é nossa velha conhecida. Mas as Forças Armadas não aderiram às convicções democráticas? Bem, tempo para isso não faltou, no quarto de século desde que constataram a impossibilidade de dominar pela força o seu próprio país.
É verdade que a Anistia, como dizem os militares, foi entendida e aceita em sua promulgação como plena e igual para os "dois lados". Foi uma concessão dos militares e da direita civil em proveito seu, por temor aos tribunais, e aceita pela esquerda e pela demais oposição para aplacar a sua ansiedade, bem brasileira, de ver os exilados e os presos de volta ao ninho. O PMDB, Ulysses Guimarães à frente, cuidou do entendimento para aprovação da Lei da Anistia. Os militares tiveram mais dificuldade de concordância entre si do que as oposições, porque a ideia de esquerdistas em liberdade excitava o ódio de um sem-número deles. Por isso toda a protelação veio dos militares, não de maior reflexão ou condições dos oposicionistas.
Mas, como diz o lugar comum do direito, sobrevieram fatos novos. A reinstalação do regime civil aumentou o desejo e as condições de conhecer o que foi, por dentro, o exercício da repressão pelos militares. Horrores jorraram de narrativas e descobertas por anos e anos, e não cessaram ainda. E esta foi a constatação primordial: ao passo que, por ocasião da Anistia, tudo era sabido das ações contra o poder militar, aos militares foi anistiado sobretudo o que deles não era sabido.
Concluir esse conhecimento é indispensável para encerrar a herança da ditadura, embora não seja a única necessidade. No entanto estamos postos diante, não desse conhecimento terminal, mas do risco de voltar à instabilidade das instituições democráticas e, daí, a um passado sem anistia possível. Com o Brasil de volta a republiqueta.

JESUS SALVA

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

O Menino e a Mãe

O ESTADO DE SÃO PAULO - 03/01/10


Maria, mãe de Jesus, terá uma representante inusitada na encenação da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém. O papel da Virgem vai para... Susana Vieira.
E como não ocorreu a ninguém convidar Jesus Pinto da Luz para ser seu Filho, o Cristo será vivido pelo barbudo Eriberto Leão.

Piratômetro

Nem Harry Potter, nem Wolverine. Com 10,9 milhões de cópias baixadas ilegalmente da internet, Star Trek foi o filme mais pirateado do ano em 2009, batendo por pouco as 10,6 milhões de Transformers.
E a lista dos 10 mais, segundo o siteTorrentfreak, traz outra surpresa: o 3.º é Rockrolla, de Guy Ritchie.

Cosmopaulitismo

A multidão de estrangeiros que vieram construir São Paulo e dela fazer um dos lugares mais cosmopolitas da Terra: foi esse o tema escolhido pela Prefeitura para mostrar a cidade na Expo Xangai 2010, em abril.
O estande será dividido em múltiplas áreas inspiradas nas linhas curvas do Copan.

Adeus, Férias

Carlos Ayres Britto, relator do caso dos precatórios no STF, parece disposto a estragar as férias dos Tribunais de Justiça estaduais.
Quer de todos eles uma lista dos valores pagos nesses processos nos últimos dez anos no País. E outra mostrando a quanto chega essa conta, projetada daqui para a frente.

Joias do planeta

Emplacar Paraty como Patrimônio da Humanidade é a grande meta do Iphan nos próximos dois anos. Em seguida, tentam o mesmo com o Caminho do Ouro, que ligava a cidade a Minas.
Enquanto os projetos "esquentam", a Unesco faz em Brasília, em 2010, o encontro mundial do Patrimônio.

Responsabilidade Social

O Programa Amigo de Valor, do Grupo Santander Brasil, comemora. Arrecadou, em 2009, R$ 6,8 milhões aos Fundos Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente.
A campanha Playlist Solidária, do Terra Sonora, em parceria com Ivete Sangalo, Skank, Victor & Leo, Pitty, Cine e Exaltasamba, atingiu a marca de 1,2 milhão de votos. O artista que tiver a playlist mais votada receberá R$ 75 mil, a serem destinados a uma instituição de sua escolha.

A Copagaz deu continuidade ao seu Programa de Incentivo à Leitura durante o mês de dezembro. Foram inauguradas mais duas bibliotecas, de uma série de 15, em cidades onde a empresa atua.
O Instituto C&A e a Secretaria Municipal de Educação anunciaram os vencedores do concurso Escola de Leitores. Foram selecionados projetos de leitura de cinco escolas públicas, que receberão recursos financeiros e técnicos.
O GRAACC busca, com urgência, doadores de sangue, especialmente tipo O-. Pessoas com idade entre 18 e 65 anos e com peso acima de 50 kg estão aptas a ajudar.
A Allianz Seguros reuniu representantes para apresentar a segunda turma de formados no Programa de Capacitação de Adolescentes da Associação Beneficente dos Funcionários do Grupo Allianz-ABA.
Em clima pós-réveillón, André Zanonato e Corrado Tini, da Pousada Etnia & Boutique, promovem hoje, em parceria com Susana Araújo Eventos, a festa beneficente Etnia Disco Party. Em Trancoso.
Flávia Alessandra foi escolhida madrinha do projeto Sertanejo do Bem. A campanha arrecadou recursos para a Instituição SOS Vida, de São José dos Campos.

CLÓVIS ROSSI

30 anos

FOLHA DE SÃO PAULO - 03/01/10



SÃO PAULO - Inicio meu 30º ano como repórter desta Folha. Como testemunha ocular da história de meu tempo, posso festejar o trânsito do Brasil, nesse período, para país quase normal, quase.
Comecei no tempo em que terroristas atacavam bancas de jornais e outros alvos, como a OAB, identificados como de oposição à ditadura. Escrevi um texto dizendo que, se se quisesse chegar aos autores, bastaria bater às portas dos DOI-Codi, os braços operacionais do mecanismo repressivo (o que se comprovaria no atentado do Riocentro, no ano seguinte).
À noite, recebo em casa telefonema do então "publisher" da Folha, Octavio Frias de Oliveira. Comenta a repercussão da nota e oferece refúgio, por alguns dias, em sua granja de São José dos Campos.
Trinta anos depois, jornalistas da Folha enfrentam riscos, mas judiciais, casos de Elvira Lobato e Frederico Vasconcelos, para ficar só nos desta casa. Mas o jornal lhes oferece advogados, em vez de refúgio. É bem melhor assim.
Faz uns 15 anos, durante um dos encontros anuais do Fórum de Davos, almocei com um jornalista português que queria saber da transição brasileira. Contei como a ditadura havia sido derrubada, digamos assim, por um Colégio Eleitoral montado por ela própria, com maioria governista, mas que elegeu um oposicionista, que se gabava de jamais ter tido nem mesmo um resfriado, mas caiu no hospital na véspera da posse e só saiu dele para outro hospital e dali para o cemitério, substituído pelo vice, que não era da oposição, mas fora presidente do partido de sustentação da ditadura, mas, não obstante, fez a transição e ainda por cima um plano econômico que lhe valeu recorde de popularidade...
Parei aí. Nem eu acreditava que tudo aquilo acontecera. Trinta anos depois, o Brasil chega ser aborrecidamente normal nesse capítulo.
Felizmente.

GOSTOSA

PAINEL DA FOLHA

Fatura nas alturas

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 03/01/10

Depois de recuar significativamente em 2008, na esteira do escândalo que derrubou a ministra Matilde Ribeiro (Igualdade Racial) e constrangeu vários de seus colegas de Esplanada, os gastos com cartões corporativos do governo voltaram a crescer em 2009. Até meados de dezembro, somaram R$ 64,5 milhões -contra R$ 55,2 milhões no período anterior. O valor total ainda deve sofrer acréscimo quando forem computadas as despesas de final de ano.
A principal responsável pelo aumento é a Presidência, cujos gastos, que passaram a ser secretos, saltaram de R$ 4,9 milhões para R$ 6,8 milhões. Nessa rubrica entram tanto despesas administrativas quanto com a segurança de Lula e de sua família.


Memória. O escândalo dos cartões acabou gerando uma CPI no Congresso. O auge ocorreu quando a secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra, mandou confeccionar um dossiê revelando gastos da gestão FHC.

Empurra. Depois de deixar de lado as acusações contra Dilma no caso do dossiê, a Comissão de Ética Pública decidiu no final do ano arquivar o caso do currículo da ministra, postado na página da Casa Civil com informações erradas.

Hangar. Quem conhece Marina Silva (PV) de longa data prevê uma dificuldade prática quando a campanha esquentar de vez: a senadora detesta voar em jatinhos.

Na real. Embora um ou outro tucano alimente a especulação em torno da chapa Serra-Marina, o sonho de consumo de nove entre dez integrantes do partido continua a ser um só: que lá na frente Aécio Neves aceite ser vice.

Vai entender. Entre aecistas ocorre um fenômeno curioso: dizem e repetem que o caminho do governador de Minas é o Senado, mas não acham graça quando a hipótese Marina é colocada na roda.

Mãozinha. Na expectativa do PPS, a aliança na chapa proporcional com o PSDB em São Paulo deverá viabilizar a difícil eleição à Câmara do presidente do partido, Roberto Freire, que recentemente transferiu o domicílio eleitoral de Pernambuco.

Tabela. O Planalto chamará governadores e prefeitos das 12 cidades sedes da Copa-2014 para assinar um termo de conduta no dia 13. No documento, estarão definidas as responsabilidades de cada um sobre mobilidade urbana e obras nos estádios.

Viés de alta. Orlando Silva ainda não bateu o martelo com Lula, mas, no PC do B, firma-se a convicção de que o ministro do Esporte aceitará o cargo de direção da Autoridade Pública Olímpica, a ser criado para gerenciar a organização dos Jogos de 2016.

Dupla. Nesse cenário, Orlando abdicaria da candidatura a deputado federal, e restariam ao PC do B de São Paulo duas prioridades na eleição para a Câmara: renovar o mandato de Aldo Rebelo e garantir um para o delegado Protógenes Queiroz.

Arranjos. DEM e PSDB têm um novo foco de divergências estaduais: em Mato Grosso, o senador "demo" Jayme Campos e o prefeito de Cuiabá, o tucano Wilson Santos, não abrem mão de disputar o governo contra o candidato de Blairo Maggi (PR).

Tartaruga. O Parlamento do Mercosul seguirá a passos lentos neste ano. A expectativa é que o único avanço concreto seja a assinatura durante encontro de presidentes do bloco, marcado para abril, do acordo sobre o tamanho das bancadas de cada país. Pelo texto, o Brasil teria 37 representantes a partir de 2012, e 75 a partir de 2015.

Em casa. O DEM rachou na disputa pela liderança da bancada neste ano: Paulo Bornhausen (SC) irá disputar contra Abelardo Lupion (PR).
com SILVIO NAVARRO e LETÍCIA SANDER

Tiroteio

"A oposição que nos desculpe, mas, no momento em que a política gera grande desconfiança, Lula aparece como a pessoa mais confiável, e a Dilma certamente irá se beneficiar muito com isso."
Do ministro PAULO BERNARDO (Planejamento), sobre a pesquisa Datafolha que aponta o presidente no topo do ranking das personalidades mais confiáveis para o brasileiro.

Contraponto

Via expressa


Na eleição de 1998, quando enfrentava o governador Mário Covas (1995-2001) na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes, Paulo Maluf (PP) chegou bastante atrasado a um evento em Barretos. Ao notar que a plateia estava irritada com a demora, tomou o microfone para se desculpar, aproveitando para sacar do bolso notas fiscais de sucessivos pedágios. E cutucou:
-O pior foi ver que, enquanto eu me atrasava mais e mais parando para pagar pedágios, o carro do governador passava direto!
Covas acabou por derrotá-lo no segundo turno.

EMÍLIO ODEBRECHT

A cultura da confiança

O ESTADO DE SÃO PAULO - 03/01/10

HÁ ALGUM tempo tratei aqui dos males causados por aquilo que denominei cultura da desconfiança. Quero hoje voltar ao tema, mas sob outro viés: o da necessidade da disseminação entre nós da cultura da confiança, pelos benefícios que isso trará ao País.

Quando abandonarmos a visão de que as pessoas, por princípio, não merecem crédito, estimulando o surgimento entre nós de uma cultura da confiança, esta será uma base sólida para a formação das novas gerações.

A confiança estimula a responsabilidade e cria condições favoráveis ao desenvolvimento. A desconfiança é o fermento do descompromisso. A confiança é fértil, e a desconfiança, estéril.

A confiança nas empresas estimula a prática da descentralização e da delegação, as quais são os fundamentos de parcerias entre pessoas e da partilha das riquezas que geram.

A confiança é, fundamentalmente, uma crença moral: parte do princípio de que todos são honrados até prova em contrário. Por isso, sustenta padrões ideais de convivência: relações de trabalho produtivas entre líderes e liderados; menor necessidade de burocracia; diálogos saudáveis entre fornecedores e consumidores, entre governos e cidadãos, entre países; maior sensação de segurança por parte da sociedade e instituições públicas sólidas.

A melhor maneira de garantir o bom uso dos recursos do Estado é oferecer o voto de confiança ao gestor público e aos que lhe prestam serviços. Para os que não corresponderem, há a justiça a ser aplicada com rigor.

O que não é razoável é a construção de um país ter como premissa a suspeita prévia e o olhar de cada um ao próximo, sempre contaminado pela dúvida. Quando confiamos no outro, a resposta ao que dele esperamos é muito melhor.

Para facilitar esta mudança de cultura, de atitudes e comportamentos, precisamos rever nossas leis, normas, portarias e regras de modo que se tornem claras, transparentes, simples e objetivas, condições indispensáveis para desestimular os mais ‘sabidos’ a usar as ambiguidades para ganhos fáceis e acelerados. Quanto mais leis existirem e quanto mais complexas forem, mais servirão de camuflagem aos mal intencionados.

Precisamos nivelar nosso País por cima, positivamente, e não por baixo, negativamente. Isso significa interromper a tendência de concebermos o Brasil sempre em função daqueles que carregam deformações de caráter – quando nada porque são a minoria da minoria. Pensemos o País a partir dos homens e mulheres de bem que o habitam, pois estes sim são a verdadeira expressão daquilo que somos.

GOSTOSA

ARI CUNHA

Chuva e seca no Amazonas

CORREIO BRAZILIENSE - 03/01/10


Da maneira com que o clima está cada dia mais diferente, não se pode culpar a natureza. La Niña vem do Pacífico e chega sempre com novidades. Faz aquecer a água do oceano. A vida fica alterada. Daí nascem as correntes marinhas e os ventos que demandam a área do Atlântico. Nesse caminho ela executa um balé sem beleza, mas de significado valioso. Obedece à coordenação dos movimentos do mar em consonância com a terra. Quem ensina isso aos leigos como nós são os cientistas, que não largam o olho das observações. Há momentos em que a Amazônia vive cheias destruidoras. No momento o Amazonas sofre seca horrível. Os barcos param no fundo seco e são puxados por cavalos até as residências. Faz pena ver desastres como esse.


A frase que não foi pronunciada

“Palavras não me atingem.Só a força de um dicionário.”

Presidente Lula sobre o aumento de contratações do governo.



Cinto apertado
Faz tempo que a Receita Federal controla empresas e particulares fraudando o Imposto de Renda. A lista é longa e a comprovação está sendo feita a cada dia. Na arrecadação do próximo ano, muita gente vai pisar fino. Não podem ser citados os infratores obedecendo ao sigilo obrigatório.

Jaqueiras
Na Avenida das Jaqueiras, que separa o Cruzeiro do Sudoeste, as jaqueiras crescem e muito produzem. Pena que sejam frutos pequenos. A grama sufoca os vegetais, e rebentos nascem por todo o caule. As residências ficam longe, mas, se houvesse pessoa dedicada e com tempo e escolhesse uma planta para cuidar, a produção seria diferente.

Álcool
Com produção variável, o álcool não tem sustentação. Já se disse que, se os preços fossem de acordo com a Bovespa, o estoque seria garantido no preço e na qualidade. Tudo depende da safra. Os motoristas de carros a álcool são muitos e precisam dessa proteção.

Eleição
Candidato ficha suja está livre nas eleições de 2010. No próximo pleito, ficarão à vontade para enfrentar a cobrança dos eleitores. Depois é que surgirá a marca dos impuros em chamas. É como marcar um animal pelo resto da vida.

Ilal
Faculdades que aceitaram diploma do Ilal não fizeram a renovação de matrícula dos mesmos alunos. O número de estudantes no Ceteb correndo do prejuízo é enorme.

Congresso
Vê-se que os congressistas estão cativados pela força do bem pelo bloco aquinhoado com propinas do governo federal. A exceção existe em torno do Senado, onde os representantes do povo mantêm o esforço democrático.

Oração à propina
O número de igrejas se mistura com feudos financeiros que usam a ingenuidade humana para conseguir dinheiro do público. Há casos em que os “milagres” são creditados ao altar de seitas, que é generoso conforme a dádiva. As orações são exemplos de falsidade. Na câmara distrital de Brasília, representantes do “povo” fizeram orações em pleno folguedo de agradecer pelo “benefício” recebido dos dinheiros provindos da baderna da corrupção.

Tragédia
Algumas obras continuam obedecendo ao critério das construções. Não é novidade a má aplicação dos dinheiros provindo dos subornos. Governador José Roberto Arruda deixou o partido e se desligou dele sem que nenhum papel fosse assinado. Tribunal de Contas da União acompanha o desenrolar da tragédia e juntará argumentos quando o assunto chegar à Justiça.

Panetone
Quem abasteceu seu estabelecimento de panetones à larga experimenta o encalhe de todos os tradicionais farináceos doces e enfeitados. Há supermercados com falta de compradores. Logo mais serão devolvidos às fábricas para nova aplicação. Se houver liquidação, vão ser entregues a qualquer preço, nem que precisem mudar o nome.


História de Brasília

Ladeado pelo grego Metaxas, que o acompanhou até a porta do avião, levando sua valise, viajou às pressas para Belo Horizonte o sr. Anfrido Ziller no avião das 10h de ontem, da Real. A passagem foi retirada no aeroporto, e o passageiro não tinha reserva de lugar.(Publicado em 22/2/1961)

JOÃO UBALDO RIBEIRO

Recordando e vivendo num boteco do Leblon


O GLOBO - 03/01/10

– Esse clima de festa de fim de ano não te deixa meio deprê, não? Acho que mais triste que eu só o peru do Natal.

– Ah, nem me fale, cara, cada ano fica pior. Eu hoje quase nem venho aqui, só vim mesmo porque a Leninha faz questão que eu passe a tarde de sábado no boteco.

– É, você já me contou. Pelo menos isso, companheiro, poucos podem se orgulhar de que a mulher é que insiste que ele vá para o boteco. E depois tu diz que a Leninha não te compreende.

– Continuo dizendo. Ela me bota pra fora para eu não atrapalhar o carteado dela, pergunte a ela. Mas hoje quase que eu fico em casa mesmo assim. Eu me trancava no quarto, botava uma ampola de uísque e um balde de gelo perto da cabeceira da cama, ligava a televisão num canal com filme de bicho e ia esquecer tudo, inclusive o carteado, por mim ela podia perder até a casa de Búzios, não estou ligando pra mais nada, essa é que é a verdade.

– Pera aí, também não é assim. Está certo que no fim do ano se cria essa atmosfera meio melancólica, mas tem o outro lado. Mais um Natal na companhia da família, mais um ano se iniciando...

– Menos um ano, você quer dizer.

– Como assim? Não entendi.

– Tu ainda conta um ano a mais no réveillon? Mas é claro que não é um ano a mais, é um a menos, pode ir tirando no calendário da tua vida: menos um, cada dia está mais perto a passagem pela catraca. Você só tem menos dois anos que eu, também pegou latim no ginásio. Eu fui aluno do velho Messias, que era um terror, mas sabia ensinar e até hoje eu sei uns troços em latim. Tu sabe aqueles relojões antigos, de corda e pêndulo? Eles costumavam ter no mostrador uma frase em latim que o velho Messias repetia e a gente não ligava, mas hoje eu ligo muito, todo dia eu me lembro dessa frase.

– Tempus fugit, eu me lembro.

– Não, essa aí é mole, isso qualquer um diz. A que o velho Messias ensinou não se refere ao tempo, se refere às horas, a cada hora. Diz assim: Omnes feriunt, ultima necat. Sacou? Claro que não sacou, tu não foi aluno do velho Messias. Quer dizer: “Todas ferem, a última mata.” Tu conhece coisa mais terrível? Todas as horas ferem e a última mata, é isso mesmo. Cada horinha que passa é menos uma hora. Menos uma hora, menos uma hora...

– Isola, cara, e tu ainda fica olhando o relógio enquanto fala?

– É, a gente pode se enganar como quiser, mas da verdade ninguém escapa. E nem que eu quisesse escapar, não podia, tudo conspira em contrário, inclusive esse final de ano.

– É, mas por causa da tua interpretação, com essa ideia do menos um.

– Não tem nada de interpretação, é a realidade sem filtro. Esse ano eu fui pela primeira vez à reunião que minha turma de faculdade faz de cinco em cinco anos. Era de dez em dez, mas me disse o Gominhos, que é quem organiza tudo, que de dez em dez dava tempo demais para morrer uma porção, menos griloso é de cinco em cinco. Bem, eu nunca fui a nenhuma, mas este ano, 45 anos de formado, a Leninha também quis ir e aí eu fui. Triste decisão, devia ter continuado sem ir.

– Eu sei como são essas coisas, a gente chega lá e não se lembra nem do nome da maioria.

– Não, comigo não teve esse problema, eu não esqueço o nome de ninguém, lembrei todos, falei com todos. E o problema não era o nome, isso não seria problema, mesmo se eu esquecesse. Mas tu te lembra da Marcinha?

– Eu me lembro, o pessoal dizia que ela não tinha calcinha, tinha porta-joias. Ipanema inteira vivia aos pés dela, claro que eu me lembro. Deve estar meio velhusca, ainda é bonita?

– Um pouco menos que a Brigitte Bardot depois de velha, tu já viu a Brigitte depois de velha? Pois a Marcinha conseguiu embuxar mais que a Brigitte, a cara dela parece um pergaminho de banheiro do Tutancamon. Uma coisa tristíssima, tudo despencado, eu quase não conseguia olhar.

– É, tem gente que cai muito com a idade.

– Tem gente, não, todo mundo. Daquelas gatas de nosso tempo, não tem uma que não perca para uma ameixa seca em matéria de aparência, parece praga.

– É, mas elas devem estar dizendo o mesmo de você. Eu também conheci você na juventude com o apelido de Meio Quilo e hoje você tem meio quilo por centímetro cúbico de barriga.

– Olha quem fala! Quem tem mais pelanca no pescoço de toda a turma de nossa faixa aqui é você, parece até aquelas golas roulées de antigamente. E tua barriga já está dando a segunda volta por cima do umbigo, não vem botar banca em cima de mim, não.

– Tudo bem, mas isso só confirma que a gente nota a decadência dos outros e não vê a nossa, a gente tem de se enxergar.

– E por que é que você pensa que eu quase não desci hoje? Eu fiquei me olhando nos espelhos. Na suíte lá de casa, os armários embutidos têm espelho nas portas, a porta do banheiro tem espelho, só não tem espelho no teto. Aí eu estava de cueca, me olhando assim e a Leninha sentada na cama e aí eu me avaliei, aquelas pernas finas e sem cabelo, aquela careca, aquela bunda chocha... aí eu falei: “Leninha, vocês mulheres comem qualquer coisa.”

– Graças a Deus, bebamos a isso. Como é mesmo a frase latina?

GOSTOSA DO TEMPO ANTIGO

ELIANE CANTANHÊDE

No ano que vem tem mais

FOLHA DE SÃO PAULO - 03/01/10



BRASÍLIA - Ok, o Brasil não tem tsunami, terremoto, furacão ou nevasca. Mas tem o flagelo da seca e a tragédia das chuvas que devastam e matam. A diferença é que a seca mata de geração em geração, lentamente, dia após dia, longe das redes de TV e da grande imprensa, enquanto as chuvas matam de repente, sorrateiramente, diante das câmeras, das fotos e dos repórteres. A seca do Nordeste empurra os filhos do Brasil para o Sul maravilha. E as chuvas no Sul maravilha fazem o Brasil inteiro chorar.
A virada de 2009 para 2010 no Brasil inunda as redes mundiais de notícias e confronta as realidades dos dois Brasis: o do esplendoroso espetáculo dos fogos do Réveillon em Copacabana e o que sucumbe à lama, à falta de planejamento e à ocupação irregular de encostas.
O contraste vai para as telas e para as páginas, alternando ora pessoas de todas as idades, felizes e em festa, ora as que choram a perda de filhos, mulheres, maridos, pais, mães, amores, não raro famílias inteiras. Ou que, simplesmente, perderam suas casas e todos os seus pertences sob a força da água.
Sem emprego e sem os dentes da frente, um homem ainda jovem olha para a câmera e declara, em choque: "Perdi tudo, até o que nem acabei de pagar". Ele teve sorte.
Há meia centena de mortos só no Rio, seja em bairros pobres, seja na paradisíaca Angra dos Reis, deixando como mártir da virada do ano a menininha Mariana, de três anos, que passou horas soterrada, foi retirada sob o uivo doído e comovente de um bombeiro e acabou morrendo no hospital.
Tragédias assim têm causas naturais, sim, mas têm também a enorme responsabilidade do poder público e o empurrão da imprevidência, da ganância ou da simples ignorância. E deixam um grito e um eco: prevenir, prevenir, prevenir. Porque, no que vem, tem mais.
PS - Onde estava Sérgio Cabral?
O candidato de fato à reeleição é o vice, Luiz Fernando Pezão?

ELIO GASPARI

Não foi o PT nem o PSDB, foram os dois

FOLHA DE SÃO PAULO - 03/01/10



Desde 1996 a linha da melhoria da vida do andar de baixo é contínua, sem inflexões


O PROFESSOR Claudio Salm investigou os números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios de 1996 e 2002 (anos tucanos) e daí a de 2008 (anos petistas). Ele verificou que a ideia segundo a qual Nosso Guia mudou radicalmente a vida do andar de baixo nacional é propaganda desonesta. Estimando-se que no andar de baixo estejam cerca de 50 milhões de pessoas (25% da população), o que se vê nas três Pnads estudadas por Salm é uma linha de progresso contínuo, sem inflexão petista.
Em 1996, quando Fernando Henrique Cardoso tinha um ano de governo, 48,5% dos domicílios pobres tinham água encanada. Em 2002, ao fim do mandato tucano, a percentagem subiu para 59,6%. Uma diferença de 11,1 pontos percentuais. Em 2008, no mandato petista, chegou-se a 68,3% dos domicílios, com uma alta de 8,7 pontos.
Coisa parecida sucedeu com o avanço no saneamento. Durante o tucanato, os domicílios pobres com acesso à rede de esgoto chegaram a 41,4%, com uma expansão de 9,1 pontos percentuais. Nosso Guia melhorou a marca, levando-a para 52,4%, avançando 11,3 pontos.
O acesso à luz elétrica passou de 79,9% em 1996 para 90,8% em 2002. Em 2008, havia luz em 96,2% dos domicílios pobres.
Esses três indicadores refletem políticas públicas. Indo-se para itens que resultam do aumento da renda e do acesso ao crédito, o resultado é o mesmo.
Durante o tucanato, os telefones em domicílios do andar de baixo pularam de 5,1% para 28,6%. Na gestão petista, chegaram a 64,8% das casas. Geladeira? 46,9% em 1996, 66,1% em 2002 e 80,1% em 2008.
O indicador da coleta de lixo desestimula exaltações partidárias. A percentagem de domicílios pobres servidos pela coleta pulou de 36,9% em 1996 para 64,4% em 2008. Glória tucana ou petista? Nem uma nem outra. O lixo é um serviço municipal.
Nunca antes na história deste país um governante se apropriou das boas realizações alheias e nunca antes na história deste país um partido político envergonhou-se de seus êxitos junto ao andar de baixo com a soberba do tucanato.

NÃO DEU OUTRA, A BANCA TENTOU DE NOVO
O Judiciário entrou em recesso, o presidente do Supremo, Gilmar Mendes, assumiu o expediente do tribunal e renasceu a fúria litigante da banca.
No segunda-feira, dia 28, o Banco Central entrou com um pedido de juntada de documentos ao processo em que se busca o congelamento das demandas da patuleia tungada no século passado pelos planos Bresser e Verão. Esse litígio tem 22 anos, e a banca pode ter toda a razão do mundo, mas sua persistente preferência pelo escurinho das férias do Supremo deslustra sua argumentação.
Em dezembro do ano passado (durante as férias), os banqueiros entraram com um pedido de liminar para se livrar das queixas dos depositantes, que teriam perdido pelo menos R$ 29 bilhões com a tungas federais. (Quem tinha mil cruzados novos na poupança em 1989 poderá receber, na média, R$ 610.)
Gilmar Mendes não viu urgência no pleito e deixou o caso para o tribunal pleno. Em março, o ministro Ricardo Lewandowski negou a liminar.
Vieram as férias de julho e, num novo surto de pressa, a banca pediu a Gilmar Mendes o reexame da decisão de Lewandowski. O ministro indeferiu o pleito.
Novas férias, novo lance. O Banco Central encaminhou uma petição, juntando novos documentos ao processo. Isso era tudo o que informava, no último dia do ano, o portal do STF. As novidades encaminhadas pelo BC podem (ou não) tentar convencer o ministro Gilmar Mendes de que o caso requer um cuidado urgente. Ele já disse duas vezes que os banqueiros podem aguardar o fim das férias.

DEMISSÃO E PICOLÉ
O doutor Nelson Jobim, o general Enzo Peri, o almirante Moura Neto e o brigadeiro Juniti Saito esqueceram-se de duas coisas: 1) Seus cargos sempre estão à disposição do presidente da República. 2) Demissão não se pede, se dá. O que se pede é picolé.
Os comandantes militares aborrecem-se sempre que se ilumina o porão das torturas e assassinatos mantido por seus antecessores nos anos 60 e 70. Pena, porque esse risco era inerente aos crimes que se praticavam. A pergunta estava no ar no próprio porão: "Avançando a "abertura" poderá alguém deter a marcha da Justiça reclamada?" (...) "Não viria a provar ao menos o patrocínio efetivo das Forças Armadas à (sic) ações que qualquer Justiça do mundo qualificaria de crime?" Esse texto é de um escriba do Centro de Informações do Exército, num documento intitulado "Estudo e Apreciação sobre a Revolução de 64", de 16 de junho de 1975, Informe nº 209/ S-102-A3-CIE. Se o general Enzo Peri não puder achar o cartapácio no arquivo do seu comando, talvez consiga na Abin a cópia guardada pelo falecido SNI.

CHEGOU A CONTA
A esquerda sexagenária começou a sentir o tamanho do buraco que os espertalhões do Bolsa Ditadura abriram no casco de sua respeitabilidade.

BWANA BROWN
O primeiro-ministro Gordon Brown ficou "perplexo e decepcionado" porque o governo chinês julgou, condenou e executou um cidadão inglês que fora preso com quatro quilos de heroína numa mala. Há dias Cressida Dick, a policial que em 2005 comandou a operação que assassinou o brasileiro Jean Charles, foi condecorada pela rainha. Brown não ficou perplexo, muito menos decepcionado.

EXPRESSO CNJ

O Conselho Nacional de Justiça pode ter descoberto o elixir da velocidade judiciária. Em novembro ele anunciou que contrataria cinco pesquisas, ao custo de R$ 2 milhões. Os interessados deveriam remeter seus materiais até o dia 17 de dezembro e os vencedores do certame seriam conhecidos até dia 28. O julgamento foi concluído no dia 22, três dias úteis depois do fim das inscrições e cinco dias antes do encerramento do prazo para a seleção. (As propostas foram apreciadas por uma comissão julgadora do CNJ, baseada em "avaliação prévia" de um conselho composto por nove pessoas.)
O CNJ deveria patrocinar outra pesquisa, para disseminar tamanha velocidade em outra áreas do Judiciário.
Se algum interessado tivesse colocado sua proposta no Correio no dia 17 de dezembro (como permitem os editais do gênero), ela chegaria ao CNJ depois do encerramento do certame. Por Sedex, ela chegaria no dia 18, uma sexta-feira, seria analisada e comparada com as demais em apenas dois dias úteis. (As propostas foram 26.)

A ÁGUIA TUCANA
Nem tudo está perdido para a nobiliarquia tucana, Fernando Henrique Cardoso foi incluído na lista de "Cem Pensadores Globais" da revista "Foreign Policy". Seria melhor dizer que essa é a lista de cem pessoas admiradas pela elite cosmopolita, liberal e financeira de Nova York. O companheiro Obama ficou em segundo lugar, atrás de Ben Bernanke, o presidente do Fed e arcanjo da banca. FFHH, em 11º lugar, ficou na frente de Bill Gates (12º) e do papa (17º). Ele contou à revista que gostaria de visitar o Irã. Deve ter feito isso para azucrinar José Serra.

O ABILOLADO

LUIS FERNANDO VERISSIMO

Revolucionários

O GLOBO - 03/01/10

Quando Miles Davis chegou a Nova York a revolução do be-bop já estava amainando. Os grandes trompetistas da era tinham sido Dizzy Gillespie e Fats Navarro. Miles ainda pegou o finzinho do movimento. Gravou com Charlie Parker e outros grandes do bop, mas nunca foi identificado com o estilo como foram Gillespie e Navarro. Mas a revolução seguinte foi ele que liderou. Reuniu um noneto para tocar arranjos de Gil Evans, Gerry Mulligan, John Cariis e outros que exploravam sonoridades novas num estilo mais frio do que o be-bop, com ênfase mais no conjunto do que no solista. O disco produzido pelo noneto foi chamado, apropriadamente, de Birth of the Cool, porque inaugurou o que depois viria a ser chamado de “cool jazz” e foi modelo para o jazz da Califórnia, que se distinguiu do jazz de Nova York, entre outras coisas, por ser, além de mais frio do que quente, mais branco do que negro. Mas o próprio Miles liderou a contra-revolução. Não seguiu a sua invenção, o “cool jazz”, para a Costa Oeste, ficou em Nova York e foi um dos lançadores do “hard bop”, uma volta ao quente, centrado nos solistas. O que não o impediu de gravar alguns discos históricos como Miles Ahead, Sketches of Spain e Porgy and Bess em que os arranjos do Gil Evans eram tão importantes quanto os seus solos. Depois foi histórico de novo com seu famoso disco Kind of Blue lançando o chamado jazz “modal”, que dava uma liberdade maior aos solistas. E no fim ainda fez outra revolução, vestindo túnicas coloridas e aderindo à fusão do jazz
com o rock.
Há uma personalidade na música brasileira comparável ao Miles na capacidade de inaugurar épocas, mesmo que em escala menor. Elizete Cardoso era a grande dama da canção nacional, nossa melhor sambista, mas não exatamente a escolha natural para gravar um LP como Canção do Amor Demais, com músicas do Tom Jobim e do Vinicius, com a batida do violão do João Gilberto inventando a bossa nova atrás dela. Mas o disco é memorável, entre todas as outras razões históricas, pela interpretação, que nenhuma cantora mais moderna igualaria, da Elizete. Depois de ajudar a lançar a bossa-nova, ela lançou Elizete Sobe o Morro, o disco que resgatou gente como Cartola, Zé Keti e Nelson Cavaquinho e começou uma época de revalorização do samba tradicional. E até hoje não se sabe – ou eu, pelo menos, não sei – se a Elizete subiu o morro no mesmo espírito com que o Miles voltou ao “hard bop” depois de inaugurar o “cool”. Enfim, coisas de revolucionários.

CLÁUDIO HUMBERTO

“A minha vontade é de não concorrer”
CARLOS LUPI, MINISTRO DO TRABALHO, DIZ QUE NÃO PRETENDE CONCORRER ÀS PRÓXIMAS ELEIÇÕES.

GOVERNO DO DF: 250 PCS PARA 128 SERVIDORES
A Companhia de Desenvolvimento Habitacional do DF (Codhab) alugou 250 microcomputadores da empresa Onmi, de Brasília, mas só tem 128 funcionários. Cerca de 120 PCs estão embalados à espera de uso e com o aluguel sempre em dia. A assessoria justifica que “serão usados em postos de atendimento nas regiões administrativas do DF”. Mas falta instalar...
XÔ, SATANÁS
São comuns as sessões de exorcismo na Codhab. Uma diretora ocupa o banheiro feminino para “espantar os demônios e afastar mau olhado”.
APERTADAS
Tem o apoio de uma pastora evangélica. As funcionárias mais “necessitadas” não podem usar o banheiro na hora do aperto.
EM GOIÂNIA
A irmã da diretora foi nomeada Chefe de Gabinete de um deputado distrital, ganhando R$ 10,9 mil, mas mora em Goiânia.
NADA A DECLARAR
A assessoria disse que o órgão desconhece as sessões de exorcismo, “mas ficará atenta”. Quanto à indicação da servidora, “nada a declarar”.
POLÊMICA NOS CARTÓRIOS CATARINENSES
Os cartórios de Santa Catarina estão em pé de guerra. Este mês, começam a assumir os novos donos, aprovados num polêmico concurso que se arrasta desde 2007. O Supremo já foi notificado de irregularidades e apadrinhamentos em algumas freguesias – como Florianópolis e Joinville –, cujo faturamento, principalmente na área de registro de imóveis, é polpudo.
FORA, NEPOTISMO
O assunto promete render porque envolve, inclusive, denúncia de nepotismo – palavra que o Judiciário quer erradicar do seu vocabulário.
A FILA NÃO ANDA
Falta fiscalização no Detran-DF: as filas para vistoria – em média 1,5 mil por dia – começam de madrugada. Bancas na rua oferecem lacre.
ANO DE SEIS MESES
A partir de junho, quando a campanha eleitoral começa, o Congresso encolhe: vai ser difícil encontrar parlamentar na capital.
ANTROPOLOGIA NA ANTÁRTICA
O pesquisador da UnB (Universidade de Brasília) Luís Guilherme Rezende será o primeiro latino-americano a desenvolver estudos de Antropologia na Antártica, como parte de uma tese de doutorado.
OLHAR CIENTÍFICO
Rezende chegará no dia 5 deste mês e fica até o março. Ele quer descobrir a imagem que os cientistas têm da Antártica em três ambientes: no acampamento, no navio e na base militar do programa.
ENSINO DE CIÊNCIAS
Pouco mais de R$ 15 por aluno é quanto o governo do DF pagará mensalmente por um projeto para melhorar o ensino de Ciências para 311 mil alunos do ensino fundamental.
CINE SÃO LUIZ
Um das últimas salas de projeção de rua remanescentes no Brasil, o Cinema São Luiz foi reaberto no dia 28 passado, em Recife (PE). O prédio data de 1952 e é tombado. Mas faltou luz na hora da estreia.
DE VOLTA
O São Luiz ficou fechado por três anos. Com foco na produção local e nacional, exibirá sessões comerciais a partir do próximo dia 12 de janeiro com ingressos a R$ 2 e R$ 4.
COMER ROMÃ
No Dia de Reis (6), vai ter muito político procurando comer romã no lugar de panetone. Pelo menos os de Brasília. Como a Polícia Federal apertou o cerco aos corruptos, eles vão ter que apelar para “atrair” prosperidade.
PENSANDO BEM...
... Faria o maior sucesso uma ala Panetonegate na Beija-Flor. Será difícil: a escola já ganhou R$ 1,5 milhão, dos R$ 3 milhões do governo Arruda.

PODER SEM PUDOR
PRESIDENTE MÃO-DE-VACA
Patrus Ananias (PT) era prefeito de Belo Horizonte e acompanhou uma audiência do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso a um grupo de crianças mineiras de 6 a 12 anos, que foi ao Planalto pedir apoio do aos menores abandonados. FHC disse que também precisava do apoio das crianças, porque aquela era uma tarefa de todos. Ananias não se conteve:
– Esse presidente é mesmo sovina. Nem criança ele perdoa. Elas vem aqui para pedir apoio e, no fim, é ele quem acaba pedindo apoio a elas!

DOMINGO NOS JORNAIS

- O Globo: Tragédia no réveillon - Mortos já chegam a 35 em Angra; no estado somam 56

- Folha: Empresários vão priorizar doações ocultas na eleição

- O Estadão: Mortos pelas chuvas chegam a 71 e buscas prosseguem

- JB: O que podemos esperar de 2010