quinta-feira, junho 11, 2009

ADRIANA VANDONI

O “driblador” de caráter

site prosa & política

Em reunião com prefeitos, Lula disse que obras suspeitas de irregularidades, não devem ser paralisadas. Claro, pelo bem da campanha eleitoral de 2010. Que se dane se o dinheiro público estiver sendo roubado.

Ele está errado? Depende. Mas depende de que? Depende da ótica. Para meus conceitos de ética ele está dando carta branca aos ladrões. Para os conceitos de ética dele...mas quais conceitos e qual ética Lula tem?

Quanto mais passa o tempo cada vez mais me convenço que este Luiz Inácio é um salafrário, ou pelo menos age como se fosse. Há tempos citei em um artigo a infame teoria que rege a vida de Lula, segundo suas próprias palavras, de que achado não é roubado. Em maio deste ano li uma matéria da revista IstoÉ com Denise Paraná, uma escritora que nada sei a seu respeito além de que é amiga de Lula e o admira, o que pra mim já basta para ter as piores impressões e acreditar que ela vê luzes quando Lula fala. A matéria é sobre o livro escrito pela Denise sobre a vida de Lula e como ele, segundo ela, “driblou o destino”.

Ôpa! Qual foi o drible? E o destino, qual é? Uma das tristes lembranças de Lula, diz a escritora, foi que ele e sua família nunca comiam carne. "A carne que a gente comia era a mortadela que meu irmão roubava na padaria em que ele trabalhava", relatou Lula no livro.

Não é lindo? Quando o irmão roubava. Veja a singeleza do ato! Isto é de um drible fenomenal. Drible no caráter, na ética, na honestidade e na polícia. O irmão roubava do patrão, mas sempre se safou e nunca foi preso.

Que drible, pqp!

Esse mesmo irmão, um sortudo!!!, foi responsável pela mudança na vida da família. Sortudo, achou um pacote de dinheiro (cerca de 34 salários mínimos) embrulhado num jornal, embaixo de um carrinho. Como ninguém reclamou ele roubou o dinheiro. Mas ai a escritora amiga de Lula arremata, “usou-o para quitar o aluguel atrasado em cinco meses e financiar a mudança da família para a Vila Carioca, em São Bernardo do Campo”. Como se fizesse diferença usar para pagar aluguel ou para beber com prostituta. Roubo é roubo, não interessa a causa nem a quantia. Ladrão é ladrão.

Ou seja, Lula foi criado em um ambiente delinqüente onde o roubo e o desvio de conduta eram encarados como sorte, como drible. Não tem em sua programação princípios fundamentais como o respeito ao próximo.

Lula não driblou seu destino, como afirma a escritora. Ele forjou uma vida se apossando do que não é dele. Foi programado para isso. Para não ter caráter.

Lula é uma massa amorfa moldada pelo que há de pior no ser humano.

MERVAL PEREIRA

Tiro curto

O GLOBO - 11/06/09

Embora ainda seja muito cedo para uma definição de posições eleitorais, mais de um ano antes da eleição presidencial de outubro de 2010, as pesquisas que vêm sendo divulgadas permitem uma análise das tendências que parecem confirmar a previsão do presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, de que a eleição deve ser decidida já no primeiro turno, entre o candidato do governo, hoje a ministra Dilma Rousseff, e o provável candidato da oposição, o governador de São Paulo, José Serra, pelo PSDB. Uma corrida curta, não uma maratona.

Alcançando a casa dos 20% do eleitorado, Dilma mostrase uma candidata competitiva ou, pelo contrário, difícil de ser carregada pelo presidente Lula e pelo PT? A tese de Montenegro é que a capacidade de transferência de votos de Lula para qualquer candidato petista é limitada.

Para conferir sua suspeita, ele incluiu na recente pesquisa que fez para a CNI um quesito que não foi divulgado: a avaliação do ministro da Justiça, Tarso Genro, como “candidato do presidente Lula”. Tarso saiu de um nível de 2% a 3% para 12% da preferência quando avaliado na condição de candidato oficial.

Para Montenegro, fenômeno semelhante acontece com Dilma, que há dois anos está sendo apresentada pelo presidente Lula como a “mãe do PAC” e sua candidata oficial.

Chegando a um índice que vai de 18% a 20% das intenções de voto, Dilma teria atingido o teto da transferência de votos de Lula, que seria, na avaliação de Montenegro, de cerca de 15%.

Na análise de Fabiano Santos, cientista político do Iuperj, o PT tem uma oscilação no apoio do eleitorado, mas continua sendo o partido mais citado como o preferido pelos eleitores. Dependendo do instituto e da metodologia, tem por volta de 20%.

Já não é mais possível misturar o índice petista com o índice de Lula, que historicamente tinha 30% dos votos, por conta do eleitorado de esquerda, e não apenas do PT.

O que demonstraria que, no momento, a candidata petista não conseguiu nem mesmo chegar ao nível de votação que a esquerda tradicionalmente tem.

Fabiano Santos lembra que, no momento em que Lula tinha um veto no eleitorado por conta de seu perfil extremamente popular, se dizia que ele tinha esse teto de 30%. Agora, esse perfil popular acabou sendo a marca dele para justamente superar esse limite da votação de esquerda.

Montenegro acha que as pesquisas vêm indicando que a “era PT” teve fim com o episódio do mensalão, e que a partir daí começou a era Lula, que se descolou do PT para ganhar sua própria dinâmica.

Fabiano Santos concorda que existe uma clara diferença entre Lula e o PT hoje, o que dá para ver por vários indicadores, entre eles a votação que Lula tem tido e a do PT nas eleições locais, como também a taxa de apoio ao PT e a de aprovação da pessoa de Lula, que são muito discrepantes.

Nessa rodada da pesquisa do Ibope, 76% disseram confiar em Lula, e a sua aprovação subiu para 80%. Nada que se compare ao índice do PT como partido político.

O presidente do Ibope considera que, a partir de agora, a candidata do PT terá que ganhar força eleitoral a partir de sua própria história política, o que, na sua avaliação, a fará perder na comparação com o provável candidato tucano, José Serra.

Nas pesquisas, a experiência anterior é bastante valorizada pelo eleitor, e a história de Serra como secretário estadual, deputado federal, senador, ministro, prefeito e governador de São Paulo, além de candidato à Presidência em 2002, forma um conjunto muito sólido na opinião de Montenegro, ao contrário de Dilma, cuja primeira experiência política é como administradora, seja como secretária estadual ou ministra, sem ter disputado uma eleição.

O fato de a ministra não ter podido ir ontem ao lançamento do PAC da Drenagem porque, segundo o presidente Lula, ficou em casa “para descansar” chamou a atenção dos políticos da base do governo, que temem que os problemas de saúde a impeçam de prosseguir na campanha.

O cientista político Fabiano Santos acha que um dos segredos da candidatura petista será conseguir atrair a base aliada e lutar pela marca do governo, para que o fluxo de informações sobre as atividades do governo chegue aos diversos cantos do país. “Se descolar do PT e ao mesmo tempo manter o PT”, esta seria a tarefa de Dilma Rousseff para ampliar sua votação.

Ele fez “um exercício de observação” sobre a eleição de 1994, nessa mesma época do ano anterior, pois considera que era uma situação mais ou menos análoga à de hoje: um candidato que tem um recall grande — Serra hoje, Lula naquela ocasião —, e ao mesmo tempo um governo que era bem avaliado, tinha o Plano Real.

Tanto Fernando Henrique, na ocasião, como Dilma, hoje, eram ministros que não tinham grande história política.

Fernando Henrique estava até mesmo pensando em se candidatar a deputado federal, porque não tinha chance de se reeleger senador.

Em 1993, Lula tinha 30% de apoio e Fernando Henrique, 10%. “É muito cedo, portanto, para dizer que o candidato governamental está indo bem ou mal com 17%, um pouco mais, um pouco menos”, comenta Santos, mesmo admitindo que o candidato da oposição naquela ocasião, Lula, não tinha tanto apoio quanto tem hoje Serra, que se mantém estável nessa faixa de 40%, “muito sólido”.

Uma diferença importante é que, naquela ocasião, o ministro da Fazenda, Fernando Henrique, era mais identificado como autor do Plano Real do que o próprio presidente Itamar Franco, enquanto hoje a tentativa é convencer o eleitorado de que Dilma “é Lula outra vez”.

Montenegro acha que não é possível essa transferência, “Lula tem nome e sobrenome na política”. Fabiano Santos acha que há uma discussão sobre o índice de Serra: esse é o tamanho da oposição ao PT hoje? Quem vai dar o tom da campanha?

GOSTOSA


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BRASÍLIA - DF

Com medo do Ministro Barbosa

Luiz Carlos Azedo

CORREIO BRAZILIENSE - 11/06/09

Líderes governistas e de oposição firmaram um estranho pacto para aprovar a toque de caixa a nova legislação eleitoral, cujo projeto está sendo elaborado pelo deputado Flávio Dino (PCdoB-MA). Participaram do entendimento os deputados Cândido Vaccarezza(PT-SP), Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), José Aníbal (PSDB-SP), ACM Neto (DEM-BA) e Fernando Coruja (PPS-SC), que não se entendiam em relação à reforma política. A razão da surpreendente coalizão tem um nome: Joaquim Barbosa (foto), o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), próximo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que comandará o processo eleitoral de 2010.

Temem que Barbosa resolva regulamentar temas como o uso da internet, a captação de recursos de campanha e as atividades pré-eleitorais dos possíveis candidatos à revelia do Congresso, na linha de recentes decisões dos ministros do TSE na seara política-eleitoral. Por trás da articulação estão o Palácio do Planalto e o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), ambos preocupados com as regras do jogo para a campanha eleitoral de 2010, face os recentes processos de cassação de governadores por causa da campanha de 2006.

A convergência entre governo e oposição, porém, tem pontos de fricção. Há acordo, por exemplo, quanto à regulamentação do uso da internet, mas Flávio Dino foi com tanta sede ao pote na regulamentação da captação de recursos na pré-campanha eleitoral que a oposição já se assustou.

Alta

A equipe médica que cuida da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, comemora o sucesso do tratamento ao qual a petista está sendo submetida. A candidata do PT à sucessão do presidente Lula sentiu o tranco das sessões de quimioterapia, mas os medicamentos estão surtindo efeito além das expectativas. Tanto que Dilma fará no fim deste mês o último procedimento do gênero, reduzindo de seis para quatro as etapas do tratamento.

Afogados

Arrasado pelas chuvas desde o fim de março, o Piauí somente agora disporá dos recursos emergenciais para socorrer os desabrigados e reparar os danos causados pelas inundações. O Ministério da Integração Nacional, ontem, autorizou a transferência de R$ 124 milhões ao governo estadual para reconstrução de moradias e de rodovias destruídas pelas cheias. Os recursos devem ser repassados em até 180 dias. No Planalto, ainda não caiu a ficha de que as mudanças climáticas exigem um plano de contingência só para as enchentes.

Checagem

DEM, PSDB e PPS têm encontro marcado na próxima terça-feira para definir o cronograma das próximas caravanas de fiscalização das obras do PAC. Depois de percorrer estados de média ou pouca expressão eleitoral — Pernambuco, Paraíba, Piauí e Santa Catarina —, a oposição quer jogar os holofotes sobre gargalos do programa onde há grande concentração de votos. Isto é, no PAC das favelas e periferias de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Recife e Manaus.

No cafezinho...

Estaleiro

Primeiro-secretário do Senado, Heráclito Fortes (foto), do DEM-PI, será operado amanhã, no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Depois de muito relutar, aceitou as pressões da família e fará uma cirurgia bariátrica para redução do estômago. A silhueta do presidente da CPI das Ongs fazia alegria dos fotógrafos que cobrem o Senado.

Liberou

A direção nacional do PDT abandonou a regra que impõe aos diretórios estaduais repetir a coligação adotada na disputa federal, responsabilizada por derrotas cruciais em 2006. Capitão da pressão contra a “verticalização”, o senador Osmar Dias (PR) é o principal beneficiado. Apesar de governista, negocia o apoio do DEM para concorrer ao governo do Paraná.

Calote

Além de dois meses de salários atrasados de 1,4 mil funcionários terceirizados na Câmara dos Deputados, a Capital Serviços Gerais, desde segunda-feira, deve o pagamento do tíquete-alimentação dos empregados. A direção da Câmara arcou com os salários atrasados; agora, terá que garantir a boia dos terceirizados.

Servidão

O presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer (PMDB-SP), incluiu ontem a PEC do Trabalho Escravo na pauta de votações da próxima semana. A bancada ruralista é radicalmente contra a aprovação do texto que arrocha a fiscalização e aumenta a punição aos exploradores de mão de obra.

Mosca

Em roda de parlamentares na segunda-feira, na casa do presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reiterou seu apoio à candidatura do ex-ministro Agnelo Queiroz (PT) ao Governo do Distrito Federal. E defendeu uma candidatura ao Senado do PSB com a mão no ombro do deputado federal Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), que captou a mensagem, mas desconversa.

JOSÉ ARTHUR GIANNOTTI

USP: Faz de conta e violência

FOLHA DE S. PAULO - 11/06/09

Nos últimos anos, cresceu a violência nas universidades, assim como o descrédito das lideranças. O que fazer para evitar o desastre?

MESMO QUANDO um professor chama a polícia para combater alunos desordeiros, ele simplesmente abdica de sua tarefa de professor; trata-os como se fossem transgressores, esquecendo que precisam ser educados.

Porém, tendo os estudantes se associado a grupos baderneiros, não cabia à reitora chamar a polícia para garantir o patrimônio público?

Se, entretanto, a reitora pode ter razão nesse ponto, cabe examinar como se chegou a essa crise em que ela deixa de ser professora para vestir o uniforme da repressão.

Na tarde de terça-feira, estudantes, funcionários e professores se manifestavam contra a presença da polícia no campus. Alguns extravasaram os limites do bom senso, acuando a polícia, que, reforçada, reagiu com violência. Felizmente só houve feridos.

Fora os esquentados de sempre, sobretudo o pessoal da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Sociais) e da ECA (Escola de Comunicações e Artes), o resto da universidade funcionava normalmente, mantendo o curso das atividades costumeiras. Total esquizofrenia. Como todos não se mobilizaram para impedir a barbaridade do conflito?

É evidente que as lideranças atuais perderam qualquer legitimidade. Reiteradamente no mês de maio começam as negociações para reposição salarial e outras reivindicações.

O orçamento das três universidades paulistas está bloqueado, sobretudo porque, durante a negociação da autonomia universitária, não se criou um fundo de pensão responsável pelo pagamento dos aposentados. Hoje, eles representam por volta de 30% do orçamento da USP, que, segundo última informação, teria chegado a gastar 85% com pessoal. Obviamente o restante não basta para tocar uma universidade. A USP estaria falida se não fosse a Fapesp.

A falta de recursos disponíveis leva ao impasse. O sindicato de funcionários decreta a greve, algumas unidades diminuem suas atividades, a biblioteca, o "bandejão", a creche e os ônibus circulares param (a greve parece ser contra os estudantes pobres).

A maioria, no entanto, continua trabalhando como se nada estivesse acontecendo.Em geral, as lideranças dos professores e dos alunos acabam aderindo.

Na base de reivindicações abstratas, a greve se resume a uma triste encenação. Depois de algumas escaramuças, as partes cedem, obviamente sem ônus para os grevistas. Terminada a greve, eles fazem de conta que repõem as atividades retidas.

A repetição desse ritual não causaria grandes danos se não abrisse cunhas para a violência.

Durante a greve, prédios são ocupados, o patrimônio passa a ser depredado e grupos entram em choque. Até onde vai esse apodrecimento?

A indiferença da maioria dos atores termina criando espaço para os ditos "radicais". São aqueles que acreditam piamente que, dado o caráter repressor do aparelho do Estado, devem mudar, mediante violência, a universidade e o país.

Em vez de explorarem as ambiguidades da legislação vigente para mobilizar a sociedade civil visando forçar mudanças nas leis pelas leis, simplesmente se tomam como agentes sem compromissos com a legalidade. Consideram legítima sua violência e espúria qualquer reação.

Já que a maioria dos universitários não embarca nesses enganos -eles não se confundem com a sociedade nem acreditam que, no mundo de hoje, uma crise no Estado de Direito pode aprofundar a democracia-, os ditos radicais se isolam de seus representados, transformando uma possível violência política numa simples ação criminosa.

Nos últimos anos, cresceu a violência nas três universidades públicas paulistas, assim como aumentou o descrédito das lideranças. O que fazer para evitar o desastre?

Não sejamos ingênuos: passada a agitação presente, tudo voltará ao "normal" antigo. A não ser que professores, estudantes e funcionários se mobilizem e assumam a dualidade de suas funções sociais.

Se, de um lado, devem ser bons profissionais, de outro, não podem ignorar suas responsabilidades políticas, inclusive bloquear a burocracia para que possam agir por inteiro.

Repensar as pautas fantasiosas que têm marcado as últimas reivindicações é a tarefa mais elementar. No final das contas, que universidade queremos?

UMA RUMA DE GOSTOSA


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MÍRIAM LEITÃO

Crônicas dos juros anunciados

O GLOBO - 11/06/09

Comemorar juros tão altos assim é esquisito. Qualquer país acharia isso. Mas nós não somos qualquer país e só nós sabemos de quantas esquisitices nos livramos e ainda temos de nos livrar. Ontem foi mais um daqueles dias de atravessar fronteiras e dar mais um passo para ser um país normal. Os juros, em um dígito, ainda são um dos mais altos do mundo, mas, felizmente, eles caem.

Juros, juros, juros. Essa é uma conversa sem fim no Brasil. Juros podem ser os da Selic, que é a conta paga pelo governo nos seus papéis. Podem ser os juros das empresas, dos descontos de duplicatas; podem ser os das pessoas físicas, do crédito direto ao consumidor. Podem ser até os do crédito rotativo dos cartões e os do cheque especial, os spreads bancários. Taxas diferentes e todas absurdamente altas.

Que governo, com superávit primário, respeito aos contratos, redução de dívida pública, está pagando 9,25% ao ano para rolar seus papéis, em títulos com liquidez diária? Só mesmo o Brasil. E essa taxa parece diminuta perto dos juros pagos pelas pessoas físicas e empresas nos seus empréstimos junto ao mercado bancário.

Ainda há uma longa caminhada antes do dia em que poderemos dizer que nossos juros são normais, como nossa inflação passou a ser. Mesmo assim, ontem foi um dia histórico. A menor taxa da era do Real. Economistas que ouvimos na coluna só se lembram de taxas assim nos anos 70.

Esta semana, ouvi o presidente Lula defendendo o câmbio flutuante e contando o que diz para quem vai lá em seu gabinete reclamar do câmbio baixo ou alto:

- Pergunto se eles querem me propor a centralização do câmbio. Ninguém quer. É isso gente, câmbio flutuante, flutua.

Me lembrei da época em que no programa do PT havia a defesa explícita de controle cambial, centralização cambial. Medidas até mais exóticas.

Ouvi também o ministro Mantega falar com orgulho do real, como moeda que hoje é uma das mais negociadas no mundo. Lembrei do tempo em que integrantes do atual governo acusaram o real de ser "eleitoreiro".

Nas duas cenas tive a mesma sensação: a de amadurecimento do país.

O debate continua. Hoje é pela qualidade dos gastos, a melhor forma de reagir à crise, a falta de uma reforma tributária - adiada por todos os governos - o alto custo trabalhista que vem do Varguismo. Parece um país engasgado com obstáculos que não consegue remover. E pur si muove.

O melhor do dia de ontem é que a queda dos juros para menos de 10% não foi apenas uma encomenda de ocasião, provocada pela crise internacional. É um momento de uma longa caminhada até uma economia estabilizada. Não quero tirar o mérito de ninguém, mas sei que nenhum governo sozinho pode se atribuir todos os avanços. Os governos se complementaram apesar de adversários na arena política. Arena? Eu disse Arena? Melhor esquecer essa palavra que lembra uma esquisitice política, e aqui, neste espaço, quero ficar apenas nas econômicas.

Há uma grande chance - e essa é a melhor notícia - de que os juros fiquem em um dígito por um bom tempo. O Brasil foi fincando estacas no caminho que leva a esta conquista. Tem ainda muitos entulhos: muito crédito direcionado, muitos juros subsidiados, muitos preços para o dinheiro; atalhos criados para fugir das taxas cronicamente altas e que acabaram ajudando a mantê-las altas. As grandes empresas, no BNDES, pagam juros de um dígito há muito tempo. Uma coisa estranha assim: uma grande empresa brasileira pega empréstimo a 6% ao ano e empresta ao governo, até ontem, a 10,25%. O melhor negócio é ser grande, pegar dinheiro no BNDES e emprestar para o Tesouro. A TJLP é uma forma de reduzir o custo de capital para o investimento, mas é um contorcionismo. Esquisitice.

Depois quando voltar a crescer, o Brasil terá que subir novamente os juros para acima de 10%? Há boas chances de que não. Há espaço para crescimento não inflacionário. O país passou por uma alta recente do dólar sem o repasse para a inflação. Nunca antes.

Há mais dúvidas. Os poupadores continuarão poupando com juros que na mentalidade brasileira não são compensadores? Deixaremos o dinheiro aplicado em fundos de renda fixa com as taxas baixas para os nossos padrões? Os fundos de pensão já foram autorizados a correr mais riscos, os investidores estão ficando inquietos. O dinheiro "não está rendendo", como se diz no Brasil.

Para crescer, o país precisa investir, e para isso precisa aumentar sua taxa de poupança, cronicamente baixa. Mas para isso precisa mudar seus conceitos do que seja rentabilidade do dinheiro. Os bancos precisam parar de torturar os números para que eles confessem algo inaceitável: que os altíssimos spreads brasileiros fazem algum sentido. Não fazem não. São parte do entulho inflacionário que o Brasil vai deixando para trás lentamente. Esquisitice.

Os juros? Eles continuam altos em qualquer medida, mas ontem a taxa básica que remunera os títulos públicos, a notória Selic, atravessou uma linha imaginária que já pareceu ao Brasil um muro intransponível.

INFORME JB

Governo só quer a CPI das ONGs

Leandro Mazzini

JORNAL DO BRASIL - 11/06/09

Depois da manobra que esvaziou o plenário ontem, evitando a instalação da CPI da Petrobras, os senadores da base governista engendram a última cartada para a mesa na tentativa, a partir de hoje, de enterrar de vez a comissão que investigará a estatal petroleira. A base quer convencer DEM e PSDB de que as investigações sobre a petroleira podem ser concentradas na CPI das ONGs. Ela estava apagada e pode ressuscitar. Para tanto, deixam o tucano Arthur Virgílio, líder do PSDB, na relatoria desta comissão. Haverá, no entanto, resistências. A contar do próprio Virgílio, procurado pela coluna: "Não vejo nenhuma razão para não abrir a CPI. Você fala em fretamento de navios, e eles tremem", desabafou o senador, que reunirá a bancada na terça em almoço.

Pajelança Ele é Dilma

Arthur Virgílio reúne terça-feira, em Brasília, os senadores do PSDB, e os líderes na Câmara, Otávio Leite (Minoria) e José Aníbal (da bancada). "Quero discutir as hipóteses", diz Virgílio.

Conforme a coluna adiantou, Anthony Garotinho, pré-candidato pelo PR ao governo do Rio, oficializou ontem apoio à futura candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff. Foi pelas mãos de Dilma, indiretamente, que ele foi para o PR.

Rasante

O diretor da Anac Ronaldo Seroa continua no cargo em meio a um imbróglio de prazos – que podem lhe tirar mando. Para a Anac, ele só sai em agosto.

Predador

O ex-ator Arnold Schwarzeneger, governador da Califórnia, nos EUA, já tem novo apelido por causa da quebra do estado: "O Predador". Dito por um senador de sutil humor da base de Lula.

É a crise

Apesar da pequena recessão por aqui, aliados de Lula emplacam um discurso comparativo para blindar o Planalto: dizem que na Califórnia já existem três "cidades de lonas". São desempregados e sem-teto, frutos da crise lá.

Recado

De Sérgio Cabral: "Sei bem de quem partem as histórias de que sou governador da Capital".

Brasillll

A Procuradoria Federal Especializada do Incra e a Procuradoria da República no Pará ajuizaram 61 ações de reintegração de posse para recuperar 155 lotes que foram comercializados ilegalmente ou abandonados por ex-sem-terra.

Um Rio de verba

O carioca Marcio Fortes, ministro das Cidades, garantiu R$ 322 milhões para a recuperação ambiental da Bacia de Jacarepaguá na capital, com obras tocadas pela prefeitura. As baixadas fluminense e campista vão levar R$ 170 milhões, com obras pelo estado.

Tudo azul

Elma Fortes, mulher do ministro, tem sido vista caminhando no calçadão do Leblon com camisa e boné da Caixa – a principal parceira do ministério no PAC.

Reza forte

Osmar Santos, da Fundação Cacique Cobra Coral, com médiuns que ajudam nas alterações do tempo, é um dos poucos que escaparam do voo 447. Trocou a viagem para outro dia.

Audiovisual

Uma gripe de dois dias deixou no estaleiro o ministro da Cultura, Juca Ferreira. Mas ele prometeu voltar ao Rio, dia 19, para a posse dos novos diretores da Ancine, Paulo Alcoforado, Glauber Piva e Mário Diamante,

Recondução

O presidente da Ancine, Manoel Rangel, será reconduzido.

O IDIOTA


COISAS DA POLÍTICA

Amazônia: uma questão militar

Mauro Santayana

JORNAL DO BRASIL - 11/06/09

O projeto, elaborado pelo ministro Mangabeira Unger, e alterado nas discussões interministeriais, de regularização da posse das terras amazônicas, já não era o melhor, e se complicou com as emendas acrescentadas pelos parlamentares. A questão prioritária da Amazônia é a da soberania, e nisso podemos duvidar do Congresso, que não parece submetido plenamente à vontade do povo. A ação parlamentar dos últimos anos não nos conforta: ela se faz mais pro domo sua, do que no interesse geral do país. No caso em pauta, Câmara e Senado, em sua maioria – embora, no Senado, fosse de apenas dois votos – agiram para atender aos interesses dos empresários do agronegócio e outros.

Os estudos recomendavam que se regularizassem apenas as posses cadastradas até 400 hectares de área, o que corresponderia a 81% dos ocupantes e a 7,8 milhões de hectares. Ainda no âmbito do Poder Executivo, decidiu-se ampliar a área a ser concedida a 1.500 hectares, o que eleva a 67 milhões de hectares o total das glebas. De acordo com omissão do projeto aprovado, estrangeiros, tanto como pessoas físicas quanto jurídicas, poderão ser beneficiados, o que favorecerá a desnacionalização do território. Além disso, os latifundiários que vivem fora – e mantêm laranjas ou prepostos nas glebas – poderão regularizá-las, e revendê-las três anos depois, o que retira do projeto o seu interesse social, em benefício dos ricos.

O presidente Lula declarou, ontem, que irá vetar os acréscimos à medida provisória. É provável que, ao reexaminar a questão, ele venha a proibir claramente a legalização de terras ocupadas por estrangeiros, qualquer que seja sua extensão. Talvez fosse melhor que a vetasse por inteiro, e mandasse ouvir a sociedade, antes de enviar ao Congresso não medida provisória mas projeto de lei, bem estruturado. Não está em jogo uma situação conjuntural mas a integridade do território brasileiro. A Amazônia já é ocupada pelas ONGs, missões religiosas, madeireiras indonésias, antropólogos neolíticos, caçadores de bichos e plantas medicinais, traficantes de drogas e minerais.

A questão, mais do que fundiária, é bélica. Não temamos usar o adjetivo que expressa a ultima ratio das nações. Seria importante que as Forças Armadas fossem reforçadas com homens e equipamentos, uma vez que não se trata só de preservar a Amazônia mas, sim, de reconquistá-la, reincorporá-la, em todas as suas dimensões, ao território e à alma nacional. Desde o projeto malsinado da internacionalização da Hileia, durante o governo Dutra, damos ao mundo a impressão de que nos sentimos constrangidos em possuir tal patrimônio. É como se, por incompetência, estivéssemos dispostos a compartilhar sua soberania com os outros. A realidade, no entanto, demonstra que só nós mesmos, os brasileiros, e ninguém mais, dispomos da experiência, da vontade e do conhecimento para usufruir racionalmente do território e assegurar seu futuro. Isso significa dispensar a ajuda de organizações estrangeiras, restringir e fiscalizar a ação de "pesquisadores", bem como as missões religiosas – e garantir aos órgãos civis do governo a execução de política fundiária adequada. Ao mesmo tempo, é necessária vigilância da cidadania sobre o Congresso. Se houvesse pressão legítima dos cidadãos, o Parlamento não teria amolgado a medida provisória, contra o interesse da nação como um todo.

Alguns antropólogos e ongueiros combatem a presença militar ali pelos motivos que os historiadores conhecem. Os ingleses, a pretexto de observações botânicas, enviaram, em meados do século 19, ao Norte do Brasil – com autorização do nosso governo imperial – o explorador alemão Robert Schomburgk. O "pesquisador" se assenhoreou da região do Pirara e, a pretexto de proteger tribos indígenas (as mesmas que foram protegidas agora pelo STF, na amputação de Roraima), colocou os marcos de soberania inglesa em nosso território. Em 1904, perdemos grande parcela daquelas terras para os ingleses, com o laudo de arbitragem de Vittorio Emanuele II, da Itália, que se baseou, entre outras "provas", no depoimento de índios macuxis, que brandem agora bandeiras da "nação indígena" em Roraima.

Quem entende da Amazônia são os seus caboclos e indígenas não "catequizados" pelos estrangeiros. Quem entende dos caboclos e dos indígenas, com a experiência do convívio solidário, desde a heroica saga de Rondon, são os militares.

PAINEL DA FOLHA

Depois do São João

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 11/06/09

O impasse na instalação da CPI da Petrobras deve se estender para além deste feriado. Governo e oposição já estimam que uma saída para a (conveniente) dificuldade só virá depois dos festejos do São João, no próximo dia 24. Entre os poucos oposicionistas que ainda levam a sério a apuração de denúncias sobre a estatal, o desânimo é tanto que já se prevê tudo continuar na mesma até o recesso de julho.
A decisão de não entregar a recém-conquistada relatoria da CPI das ONGs custará ao PSDB e ao DEM ficar sem nenhuma das duas comissões, pois o governo negará o quórum e, na prática, impedirá também a outra investigação de caminhar.

Olha a cobra! - Para relaxar a tensão, oposicionistas e governistas vão confraternizar amanhã na festa junina promovida pelo presidente do PSDB, Sérgio Guerra, em sua fazenda em Limoeiro (PE).

Jus esperniandi - Mas a oposição, que precisa manter publicamente a disposição de ver funcionando a CPI da Petrobras, deve recorrer ao STF para garantir a instalação.

Novilíngua - Título de notícia sobre os atos administrativos secretos, na página do Senado na internet: ‘Sarney diz que boletins são publicados com transparência’.

Oh, vida... - A denúncia dos atos secretos, com benesses para familiares e amigos de senadores, levou Efraim Morais (DEM-PB) a se queixar de que sua gestão na primeira-secretaria não sai do noticiário, embora suspeitas recaiam também sobre o período imediatamente anterior, de Romeu Tuma (PTB-SP).

Opções - De Lula, respondendo em tom bem-humorado a ministros que faziam graça a respeito de seu longo encontro a sós com o governador paulista: ‘A Dilma sabe que o Serra é o meu Plano B’.

Momento verde - Antes da reunião com Lula, o palmeirense Serra encontrou o ex-jogador Mazzola, que atuou na equipe do Parque Antarctica e na seleção de 1958. Também ele foi recebido pelo presidente ontem.

Cada um na sua - Procurado por Gilberto Carvalho e Marcelo Déda para discutir a candidatura de José Eduardo Dutra à presidência do PT, o ministro Tarso Genro (Justiça) topou a conversa, mas deixou claro que seu grupo, a Mensagem, tem José Eduardo Cardozo na disputa.

Na trave 1 - Os tucanos tiveram de correr para evitar que, graças a uma tabelinha entre o líder do PT, Cândido Vaccarezza, e o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), fosse criada uma comissão para apurar o confronto entre a PM paulista e estudantes e grevistas da USP.

Na trave 2 - A pedido do petista, Temer pôs em votação requerimento do líder do PSOL, Ivan Valente (SP). O líder do PSDB, José Aníbal (SP), não estava presente. Tucanos tiveram de se descabelar para derrubar a proposta.

Spam - Os correios eletrônicos e telefones da Presidência estão entupidos de protestos articulados de militantes ambientalistas exigindo o veto de todas as modificações feitas pelo Congresso na medida provisória 458, de regularização fundiária na Amazônia.

Custo Brasil - Lula elogiou a decisão de Michel Temer de reduzir a possibilidade de ‘contrabandos’ nas MPs. Em reunião com o ministro José Múcio (Relações Institucionais) e líderes do governo no Congresso, disse que o custo financeiro desses enxertos é, no geral, elevadíssimo.

Tiroteio

Em matéria de 300, eu tenho mais orgulho dos 300 guerreiros de Esparta.

Do líder do PSDB, ARTHUR VIRGÍLIO (AM), sobre cerca de 300 atos administrativos secretos do Senado garantindo benesses a familiares e amigos de congressistas.

Não vale - No mesmo dia da crítica de Lula às ‘caronas’, o Executivo enviou ao Congresso nova medida provisória, a 464, que trata de dois assuntos absolutamente diferentes.

Contraponto

Siga o chefe

Ministros que tinham reunião com Lula na tarde ontem aguardaram pacientemente o final do encontro de mais de uma hora entre o presidente e José Serra. Ao sair, o governador paulista conversou com cada um deles.
-Puxa, não vejo você há muito tempo!- disse o tucano a Geddel Vieira Lima, da Integração Nacional.
Bem nessa hora, Lula saiu do gabinete e brincou:
-Ô, Geddel, você está se acertando com o Serra debaixo das minhas barbas? Assim já é demais!
O peemedebista não perdeu o rebolado:
-Presidente, o senhor ficou quase duas horas trancado sozinho com ele. Eu achei que o caminho era esse...

GOSTOSA


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CLÓVIS ROSSI

Espanto espantoso

FOLHA DE SÃO PAULO - 11/06/09

SÃO PAULO - É espantoso o espanto da oposição com o fato de Luiz Inácio Lula da Silva ter recuperado, nas mais recentes pesquisas, os (poucos) pontos de popularidade perdidos no levantamento imediatamente anterior.
Espantoso porque só um tarado seria capaz de atribuir ao presidente culpa pela crise. Com muita má vontade, o máximo que se poderia dizer é que ele foi, digamos, desatento, ao vir com a bobagem da "marolinha", coisa que o PSDB recupera na propaganda que tem ido ao ar esta semana, apesar de a frase infeliz estar com o prazo de validade vencido.
Digamos, só para raciocinar, que tenha havido menosprezo à crise. E daí? Daí nada. Mesmo que Lula passasse 24 horas por dia diante de uma telinha de computador, acompanhando a evolução da crise no resto do mundo, e mesmo que, a cada notícia nova, emitisse ordens para a adoção de medidas preventivas (ou corretivas), ainda assim a crise teria chegado basicamente do tamanho que chegou.
Portanto, se a oposição quer ganhar a eleição do ano que vem, ou esquece a crise ou diz o que faria -que Lula não fez-- para atenuar seus efeitos e/ou dela sair em melhores condições.
Outra coisa que a oposição poderia fazer é um pouco de aritmética: o governador José Serra, seu candidato por enquanto mais forte, tem mais intenções de voto do que todos os seus perseguidores somados -condição que lhe asseguraria a vitória no primeiro turno se a eleição fosse agora, mesmo no auge da popularidade de Lula.
Eu acho que é mais "recall" do que verdadeira intenção de voto, mas o que eu acho é irrelevante.
Relevante, do ponto de vista dos candidatos presumíveis, é saber como manter esse índice (ou melhorá-lo), no lado da oposição, e como aproximar bem mais o prestígio de Lula da intenção de voto em Dilma Rousseff.

LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO

Revisionismos

O GLOBO - 11/06/09

O passado não é um lugar seguro. Volta e meia aparecem revisionistas querendo mudar tudo, abalando antigas certezas e dizendo que o acontecido não aconteceu, ou não aconteceu bem assim. História, já se disse muito, é versão, mas gostamos de pensar que alguns fatos do passado são fatos mesmo e não interpretações convenientes. Os revisionistas não permitem. A função deles é não deixar o passado em paz. E sugerir que há sempre a possibilidade de uma versão nova para um fato velho.
As repetidas comparações do Obama com o Roosevelt provocaram uma reação nos Estados Unidos, segundo a qual não apenas o Baraca tem pouco a ver com o Roosevelt histórico como o próprio Roosevelt tem pouco a ver com o mito que se formou em torno do seu governo. Segundo a história – ou o mito, para os revisionistas – Roosevelt pegou um país arruinado pelos desmandos de um capitalismo fora de controle durante o governo Hoover, enfrentou os cachorros grandes das finanças e do conservadorismo e, com programas sociais acusados de bolchevistas, subsídios para a produção acusados de anti-americanos e uma mobilização popular acusada de populista e coisa pior – embora fosse um aristocrata – salvou os americanos. Os revisionistas dizem que muitas das medidas contra a crise dos anos 30 já tinham sido tomadas por Hoover, que até agora era o grande vilão da história, que Roosevelt aliou-se aos cachorros grandes, convencendo-os a aceitar seu pseudosocialismo com o argumento que, além de salvar os Estados Unidos, estava salvando o capitalismo, e que no fim sua política intervencionista não estava dando muito resultado. Um adendo inescapável à versão revisionista, nem sempre, compreensivelmente, citada, é que não foi a mobilização do New Deal de Roosevelt que tirou o país da crise, foi a mobilização para a Segunda Guerra Mundial.
O tempo é aliado do revisionismo. Com o tempo os fatos ficam maleáveis, como que mergulhados em solvente. Além de facilmente moldados, adquirem uma neutralidade que os absolve. Faz muita diferença, hoje, saber como o Simonal se comportou durante a ditadura? Se o revisionismo concluir que a única posteridade que ele merece é o de um bom cantor, está sendo justo.
Enquanto isto, como a própria ditadura se comportou naqueles anos está posto a salvo de qualquer discussão, revisionista ou não.

USANDO MEIAS


ANCELMO GÓIS

INVESTINDO NA LAPA

O GLOBO - 11/06/09

João Cox, presidente da Claro, esteve ontem com o prefeito Eduardo Paes.
A empresa de telefonia vai investir uns R$ 10 milhões na Lapa. Os Arcos, por exemplo, vão ganhar iluminação cênica. A Claro vai bancar uma calçada da fama no bairro.
POR FALAR EM FAMA...
Foi na Lapa, onde morou dos 6 aos 16 anos, na Rua Joaquim Silva, que Carmen Miranda despertou para o canto.
Na Travessa Dídimo, Heitor Villa-Lobos ficava até alta madrugada ao lado do grande pianista Arthur Rubinstein, cantando e tocando, sob os protestos de vizinhos que reclamavam do barulho.
IED NO PÍER MAUÁ...
Aliás, Eduardo Paes pretende convencer o pessoal do Instituto Europeu de Design a trocar a Urca pela área do Porto do Rio.
A 19ª Câmara Cível do TJ-RJ, como se sabe, proibiu o início das atividades do IED no antigo Cassino da Urca.
SEGUE...
Embora a Justiça possa ainda rever essa decisão, Paes aposta que, com a revitalização da Zona Portuária, o lugar será o mais adequado para receber com pompa o IED.
POR FALAR EM PORTO...
Ocorreu semana passada um fato emblemático. O governo federal transferiu, de papel passado, a área do Píer da Praça Mauá para a prefeitura do Rio.
Ou seja, o velho projeto de revitalização da Zona Portuária carioca saiu do papel.
CENA FASHION
Um gaiato que circulava ontem pelo Fashion Rio abordou o paulista Paulo Borges, organizador da festa carioca da moda, e fez este comentário:
– Este é o melhor São Paulo Fashion Rio.
Há testemunhas.
PEDRA NO CAMINHO
Com o anúncio das cidades que vão receber jogos da Copa de 2014, começou a correria para acelerar os projetos de infraestrutura que os governantes se comprometeram a entregar à Fifa.
Mas é neste momento que as promessas são confrontadas com a vida real.
VEJO SÓ...
Em Brasília, por exemplo, a licença para a construção de um Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) esbarrou ontem numa ação do Ministério Público contra o parecer do Iphan – que, para procuradores, teria sido feito em cima da perna.
A conferir.
FRUSTRAÇÃO...
É por essas e outras que Lula lamentou, ontem, o fato de que chegará ao fim do governo sem ter criado uma lei para desburocratizar a execução de obras de infraestrutura.
TRIBUTO A BARBATO
Fernando Bicudo e a Associação Brasileira de Artistas Líricos farão, em agosto, um tributo ao maestro Sílvio Barbato, vítima da tragédia da Air France. Vários cantores líricos que trabalharam com Barbato se apresentarão, inclusive a soprano americana Aprile Millo.
É HOMEM
O secretário de Segurança do Rio, José Beltrame, ao contrário do que pretendia inicialmente, não nomeará uma mulher para comandar as favelas do Leme. Já nomeou o capitão Felipe Lopes.

LUIZ FERNANDO VIANNA

O homem errado

FOLHA DE SÃO PAULO - 11/06/09

RIO DE JANEIRO - Os últimos dias mostraram que há no governo federal um problema de "miscasting", como se chama em inglês a escolha errada de um ator para determinado papel. O lugar certo para o ministro da Defesa, Nelson Jobim, é a presidência da Petrobras.
Após ser criticado em jornais brasileiros por tecer comentários de veracidade e gosto discutíveis sobre o resgate de destroços e corpos, Jobim abriu sua boca de jacaré para dizer que possui "costas de crocodilo", usou frase inquestionável ("Eu optei pela angústia das famílias") para explicar a pressa que teve em falar e menosprezou a imprensa do país que defende: "Só leio o "Le Monde" e o "El País'".
Já o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, não só lê os jornais brasileiros como quer furá-los, ou seja, antecipar a veiculação das notícias. O blog "Fatos e Dados", da empresa, se propôs a divulgar as perguntas enviadas por jornalistas à sua assessoria e as respectivas respostas antes da publicação das reportagens. A ideia intimidatória quebra uma regra elementar de confidencialidade, pois um veículo saberia das pautas (não mais) exclusivas dos outros.
Ontem, a Petrobras recuou um passo e disse que só porá as informações no blog à 0h do dia da publicação. A questão é que não cabe à empresa dizer quando uma reportagem será publicada. Este atributo é dos veículos de comunicação.
Gabrielli, que no programa "Roda Viva" disse pretender "revolucionar o jornalismo", está se candidatando a editor de jornal. É bom saber que o salário não é tão bom e que algum jornalista não petista pode pedir reciprocidade.
Mas Jobim é um postulante melhor ao cargo. Se lê apenas dois jornais estrangeiros, não vai se preocupar com o que publiquem aqui sobre a empresa. Talvez assim, enfim, a Petrobras se torne "nossa".

GOSTOSA DO TEMPO ANTIGO


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CLÁUDIO HUMBERTO

“[O 3º mandato] é a candidatura da companheira Dilma”
DEPUTADO JOSÉ GENOINO (PT-SP), RELATOR DA PEC DO TERCEIRO MANDATO NA CÂMARA

LOBBY TENTA MANTER A FARRA DOS CARTÓRIOS
Apesar da determinação do Conselho Nacional de Justiça, de afastar imediatamente cerca de 5 mil tabeliães e oficiais registradores de cartórios civis que exercem o cargo sem concurso público, o poderoso lobby do setor tenta a última cartada para manter o privilégio: a Proposta de Emenda Constitucional 471, que efetiva como titulares os parentes de donos de cartório que estariam na função há mais de cinco anos.
CADÊ ELA?
Lula almoça segunda-feira com o colega francês Nicholas Sarkozy, em Genebra. E não para de perguntar ao cerimonial se Carla Bruni vai.
SEM COMPARAÇÕES
D. Marisa ainda não confirmou se acompanhará o presidente Lula na viagem a Genebra. Hesita em aparecer ao lado de Carla Bruni, a bela.
ENTRE AMIGOS
A convite do governador petista Marcelo Deda, Lula vai amanhã ao Sergipe, de Jackson Barreto, autor da emenda do terceiro
mandato.
OUTRA FREGUESIA
Presidente do PPS, ex-Partido Comunista, o ex-senador Roberto Freire (PE) se prepara para sair candidato a deputado federal em São Paulo.
CARTEL DA EDUCAÇÃO DENUNCIADO AO MP-SP
O vice-reitor da Universidade São Marcos, Ernani de Paula, denunciou ao Ministério Público de São Paulo um cartel, no sistema educacional do Estado, em que instituições de ensino se aproveitam do descontrole na liberação de verbas públicas para se apropriarem de milhões do governo estadual. Faculdade privada recebe do governo R$ 500 por cada bolsista carente, quando na verdade só cobra R$ 162 de alunos não-carentes.
UMA BAGUNÇA
Segundo a denúncia, a bagunça é tão grande que a Secretaria Estadual de Educação paulista não sabe exatamente quantos bolsistas paga.
FALTA DE CONTROLE
O Ministério Público paulista obteve relatórios com números divergentes de bolsistas da Secretaria de Educação, em dez/2008: 131 contra 2.627.
ACUSAÇÃO
O Ministério Público do DF investiga algo insólito: a Secretaria de Gestão Administrativa do governo local teria nomeado reprovados em concurso.
OUTRO DOENTE, NÃO
Na conversa com o presidente Lula, ontem, o governador José Serra se queixou que a imprensa quer arranjar doença para ele. Lula pilheriou: “Você doente, Dilma doente? Então o jeito é terceiro mandato!” Os dois caíram na gargalhada. Mas, no fundo, Lula parecia pensar isso mesmo.
VANGUARDA DO ATRASO
Na abertura da conferência da Organização Internacional do Trabalho, dia 15 em Genebra, o presidente Lula vai atacar a flexibilização da lei trabalhista, que ele prometeu, e defender o empreguismo estatal.
MEIA-VERDADE
A OAB nacional criticou o blog de notícias da Petrobras por publicar uma “meia-verdade”, afirmando que a entidade apoia aquela iniciativa da estatal. O blog não cita as críticas do presidente da OAB, Cezar Britto, à quebra de sigilo de matérias que serão publicadas pelos jornais.
A CARNE É FRACA
É grave a crise que ronda os frigoríficos do Mato Grosso. Dos 36 em funcionamento no Estado, 17 estão em recuperação judicial. Isto é, em espécie de processo de “concordata”, beirando a falência.
ALTA PERICULOSIDADE
Fazer parte da Guarda Presidencial parece que dá nos nervos. Antes do assassinato de um cabo por um soldado, ontem, na residência oficial da Granja do Torto, houve dois suicídios nos últimos tempos, na corporação.
ESQUISITICE
Um carro VW Gol, cor verde-musgo, placa JVZ-1370, de Castanhal (PA), está abandonado há mais de um ano no estacionamento pago do aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro. Muito estranho...
ELA MERECE
Senador mais idoso, Paulo Duque (PMDB-RJ) às vezes não se lembra de datas importantes. Ontem, informado de Corpus Christi e do Dia dos Namorados, sexta, ele perguntou aos jornalistas: “Então eu tenho que comprar um buquê de flores para minha senhora?” Tem, sim, senador.
‘SEGURANÇA’ É SÓ POSE
Em Brasília, um carro estacionado a cem metros de um Posto de Polícia Comunitária (PCS), na 312 Norte, foi arrombado e roubado. O povão chama os PCS da Polícia Militar de “Posto para Conversa de Soldados”.
PERGUNTAR NÃO DÁ CHABU
Após o crime brutal na residência presidencial da Granja do Torto, será mantida a festa junina, com direito a roupas risíveis e olhos injetados?

PODER SEM PUDOR
PROMOÇÃO NO AR
Jânio Quadros viajou certa vez, entre São Paulo e Rio de Janeiro, com um dos motores do Viscount presidencial enguiçado. Apesar da tensão, o voo foi tranquilo. Ao desembarcar no aeroporto Santos Dumont, o presidente estava encantado com a competência do piloto, o tenente-coronel Agenor de Figueiredo. Fez questão de cumprimentá-lo com uma boa notícia:
– Muito bem! E muito obrigado, brigadeiro.