sexta-feira, setembro 24, 2010

LUIZ GARCIA

Porões e salões
LUIZ GARCIA

O GLOBO - 24/09/10

O presidente Lula, seu partido e sua candidata consideram-se em guerra aberta com a imprensa brasileira.

Há uma nota falsa nessa postura. A mídia, como é mais elegante dizer hoje em dia, não é uma corporação sob um só comando e uma única liderança; nem mesmo um colegiado cujos membros decidem posições e comportamentos por maioria de votos. Também não tem a natureza - nem os apetites - da turma no poder. Em suma, não declara coletivamente guerra a ninguém.

Na realidade, o que existe no lado de cá dessa suposta briga é um conjunto de empresas particulares altamente competitivas entre si. São bem-sucedidas na medida em que conquistam e mantêm mercado publicitário e leitores ou espectadores. Seu êxito depende de decisão do respeitável público. Ou seja, se ele considera, ou não, que lhe está sendo oferecido produto de boa qualidade.

Além de respeitável, o público não tem nada de tolo. Não troca o seu dinheiro por informação falsa ou tendenciosa. Em outros tempos, talvez fosse mais difícil detectar alguma manipulação dos fatos pela mídia; hoje, em boa parte graças à internet, a notícia fajuta não engana ninguém.

Se as empresas de comunicação têm interesses comuns, nenhum deles é mais forte do que o desejo de serem preferidas - o que vem de serem respeitadas - por leitores e anunciantes. Estes não são bobos: pesquisas já mostraram que o cidadão leva mais a sério a publicidade que encontra nos veículos cujas notícias ele considera confiáveis.

Por tudo isso, quando os principais veículos de comunicação do país contam a mesma história, pode-se apostar: é porque essa história existe. Há, com certeza, um esforço de cada jornal, revista ou emissora para contá-la inteira e, se der, melhor que os concorrentes. Em suma, imaginar conluio e denunciar má-fé costuma ser - ou deve ser - apenas ridículo. Inclusive por um dado: se hoje a mídia brasileira estivesse empenhada numa feia cruzada para derrotar a candidata oficial, estaria também interessada em levantar a bola para o seu principal rival. Não é isso que se vê nem se lê.

Nos últimos oito anos, o partido do governo executou com grande eficácia um projeto de ocupação da máquina do Estado pelos seus quadros. Isso foi noticiado pela mídia com a possível eficiência e, pelo visto, com escasso impacto sobre a atitude do eleitorado. Desmentido a sério, nunca foi. Mas, pelo visto e ouvido, irritou o pessoal.

O que se há de fazer, em face dos rosnados palacianos? Não é fácil, mas é simples: continuar apurando e contando o que acontece de bom e de ruim, nos salões e nos porões. Não é uma guerra contra os ocupantes do poder, e sim a rotina de prestar serviços ao cidadão aqui fora.

EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO

Um passo além do peleguismo
EDITORIAL
O Estado de S. Paulo - 24/09/2010

Estejam todos avisados: o governo tem pressa, decidiu instalar até novembro o Conselho de Relações do Trabalho (CRT) e não vai admitir atrasos. A advertência é do ministro Carlos Lupi. Se até o começo de novembro alguma confederação patronal ou central sindical não tiver indicado os nomes de sua representação, ele cuidará do assunto, consultando, segundo seu critério, "entidades sindicais de grande projeção e representatividade". O alerta está no parágrafo primeiro do artigo 11 da Portaria n.º 2.092, assinada pelo ministro do Trabalho em 2 de setembro. 
Dificilmente alguma central ou confederação deixará de indicar os nomes no prazo fixado - até o começo de outubro - para a instalação do conselho no mês seguinte. Seus dirigentes podem até achar boa a ideia da criação de mais esse órgão, mas a advertência, ou ameaça, não deixa margem para dúvida. Sugerida ou não por entidades sindicais, derivada ou não do Fórum Nacional do Trabalho instalado em 2003, a criação do CRT é agora uma decisão de governo e constitui, claramente, parte de um projeto de poder. 
O Fórum foi constituído em 2003, no início da primeira gestão do presidente Lula, para esboçar um projeto de reforma sindical e trabalhista. Representantes de empregados e empregadores foram chamados para discutir o assunto com dirigentes e burocratas do Ministério do Trabalho. Desse esforço resultou a Proposta de Emenda à Constituição n.º 369, de 2005, concebida, segundo seus autores, para modernizar a atividade sindical e o tratamento das questões trabalhistas. A proposta chegou à Câmara dos Deputados em março de 2005 e a tramitação foi interrompida em março de 2008. O assunto foi abandonado há dois anos e meio. O governo, seu partido e seus aliados parecem haver perdido o interesse em qualquer aspecto modernizador daquele projeto. 
Mas houve mudanças na relação entre governo e sindicatos nos anos seguintes. A administração petista conseguiu estender às centrais sindicais as benesses do imposto sindical. A partir daí, as centrais passaram a lutar pelo domínio do maior número possível de sindicatos, no esforço para conseguir parcelas maiores do imposto. 
Sindicatos chegaram a mudar de central mais de uma vez, nos últimos tempos, leiloando sua adesão em troca de vantagens. Nunca antes na história deste país o peleguismo foi tão descaradamente guiado pelo fisiologismo. 
Que as centrais sindicais defendam a criação do CRT é compreensível. Algumas dessas organizações não são, hoje, mais que extensões do governo, tal como concebido e moldado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os principais colaboradores de seu projeto de poder.
Mas as confederações patronais, ao que se informa, também apoiam o projeto e estão dispostas a participar do empreendimento. O CRT deverá, segundo a portaria, apresentar estudos e subsídios para a formulação de anteprojetos de lei, de outros atos normativos e de programas e ações governamentais. Na prática, não podem rejeitar o chamado, porque o governo já decidiu constituir o conselho e, como esclareceu o ministro no texto da portaria, tomará providências para nomear representantes de cada lado, se as confederações e centrais não o fizerem.
A própria ideia de um organismo tripartite já desperta justificadas apreensões. Em princípio, empregadores e empregados deveriam ser capazes de cuidar de seus interesses, dentro dos limites da lei e com recurso à Justiça ou a outro canal de mediação, quando o acordo é difícil. 
Quando se fala de um conselho "tripartite", o dado importante não é a referência a trabalhadores e empregadores, porque são os participantes originais do jogo. O dado politicamente importante é a inclusão oficial do governo - a terceira parte - na mesa das conversações. A portaria também se refere a câmaras bipartites, mas um dos participantes dessas câmaras será sempre o governo, por meio do Ministério do Trabalho. 

A preocupação do governo obviamente não é com a modernização das relações do trabalho, mas com a consolidação de sua presença e de sua dominação nesse jogo.

GOSTOSA

DORA KRAMER

Lógica de palanque 
Dora Kramer 

O Estado de S.Paulo - 24/09/2010

Sempre foi muito difícil conversar com Luiz Inácio da Silva e, pelo visto na entrevista ao Portal Terra, nada mudou.

Os oito anos na Presidência não serviram para que Lula aprendesse a atuar numa lógica diferente da que considera a disputa permanente o motor da vida. O mundo, as coisas para ele têm essa dimensão: há o nós, há o eles, há o objetivo e um só valor, o resultado.

O resto - os meios, os preços, a coerência, a decência, as circunstâncias, as consequências - não interessa. A dinâmica mental do presidente - isso fica nítido na esclarecedora entrevista - é apenas partidária.

Tanto que se define em um momento como "dirigente partidário", no outro diz que não exerce a Presidência com viés partidário e, no seguinte, defende seu direito de assumir "um lado" quando em época de eleições.

Lula acha que pode adaptar as regras da República à própria conveniência - uma delas a suspensão das obrigações presidenciais em períodos de campanha, sem sequer aludir à hipótese de pedir uma licença do cargo - e mede as pessoas por sua régua.

Acredita que todos competem o tempo todo. Exibe absoluta convicção de que os meios de comunicação disputam e que a informação é só um negócio de fachada.

Lula tem até razão quando defende que os veículos assumam suas posições político-eleitorais com clareza. Isso muitos fazem no mundo desenvolvido e aqui um ou outro até ensaia fazer.

Lula erra, contudo, quando generaliza e acha que toda crítica tem sentido partidário, que toda informação quando prejudica ou favorece alguém esconde uma motivação eleitoral.

Não percebe, por exemplo, que o que chama de "neutralidade disfarçada" muitas vezes ocorre exatamente por receio da patrulha e para não dar margem a desqualificações.

É manifestação da mesma visão atrasada que o faz desafiar jornais, revistas, rádios e televisões a entrarem na briga dos partidos. Se de um lado os veículos não assumem posições, de outro se o fizessem seriam alvos de acusações porque os políticos em geral - e os cidadãos também - não sabem separar o direito de opinar do dever de informar.

Ademais, há muitos, senão a maioria, que simplesmente não têm posição contra ou a favor de alguém. As pessoas podem adotar critérios que não os partidários. Por exemplo, a diferenciação entre certo e errado, legalidade e ilegalidade.

Quanto à defesa que Lula faz do próprio direito de assumir "um lado" na eleição, ninguém diz que ele não pode apoiar uma candidatura nem dar palpites.

Não pode é desrespeitar as leis, passar por cima do princípio da impessoalidade previsto na Constituição e ainda escarnecer do antecessor a quem hoje chama de "perdedor", mas a quem agradeceu a "imparcialidade" no processo, assim que foi eleito em outubro de 2002.

Contra-ataque. A nova publicidade tucana que circula exclusivamente na internet é agressiva? Bastante. Agora, o conteúdo dos filmetes é indubitavelmente oposicionista, em tom muito diferente daquele adotado habitualmente pelo PSDB e que tem sido alvo de críticas por excessivamente ameno.


A propaganda lança mão de alegorias de tintas bem carregadas e, neste aspecto, luta com as armas adotadas desde sempre pelo PT e particularmente escolhidas para uso nesta eleição pelo presidente Lula.

Bonito de ver não é, mas em matéria de agressividade e ausência de civilidade no trato o PT e Lula são os últimos a poder reclamar.

Inclusive porque quando o trato é cortês confundem cortesia com covardia.


Dois pra lá, dois pra cá. A rigor, a nova pesquisa Datafolha não registra "queda" nos índices de intenção de voto em Dilma Rousseff nem inversão de tendência.


Houve, para usar o jargão dos analistas, uma "oscilação para menos". O movimento parece mais uma acomodação normal à multiplicidade de posições existente no eleitorado.

EDITORIAL - O GLOBO

Anatomia de um aparelho lulopetista
EDITORIAL

O Globo - 24/09/2010

Acena do vídeo em que Maurício Marinho embolsa, sem cerimônia, um maço de cédulas foi o estopim da crise do mensalão. Chefe do Departamento de Compras e Contratações dos Correios, plantado na estatal pelo PTB de Roberto Jefferson, Marinho era a prova viva da montagem de um esquema de corrupção dentro da empresa pública, com fins político-eleitorais. Jefferson considerou aquilo uma manobra palaciana contra ele, um fiel aliado, e, então, decidiu denunciar o esquema montado por José Dirceu e outros - segundo autos do processo a ser julgado no STF - com a finalidade de bombear dinheiro sujo para um esquema de compra de apoio parlamentar ao governo.

A grande repercussão do caso deixou os Correios em segundo plano. Mas agora, na descoberta do bunker lobista montado na Casa Civil, em que atuavam um filho da ministra Erenice Guerra e pelo menos mais dois funcionários de livre passagem pela portaria do Planalto, a estatal retorna ao noticiário, e, na essência, pelo mesmo motivo que em 2005: traficância de interesses, facilitada porque a empresa continuou a ser moeda de troca no jogo de baixa política que o Planalto aceitou executar na montagem de uma ampla e eclética aliança partidária.

Se aparelhos foram montados na Era Lula por motivação ideológica, como nas capitanias doadas a movimentos ditos sociais (MST e satélites) no Incra, Ministério do Desenvolvimento Agrária e outros recantos da máquina sustentada pelo contribuinte, os Correios (ECT) ficaram reservados para nomeações políticas companheiras e de aliados, com prioridade para o PMDB - partido também agraciado com o setor elétrico, assim como corporações sindicais lotearam o Ministério do Trabalho e se apossaram da Petrobras. O caso de Erenice e sua grande família, se não destampou por inteiro a caixa-preta dos Correios, ao menos permitiu se ter alguma ideia dos estragos feitos pelo aparelhismo numa empresa que já foi sinônimo de eficiência entre as estatais, durante muitos anos bem situada nos rankings de confiabilidade feitos com base em pesquisas de opinião. Noticia-se que Erenice Guerra, sucessora de Dilma Rousseff, de quem era principal assessora na Casa Civil, tomara os Correios para si. Por este motivo, deduz-se, o filho lobista Israel Guerra foi pilhado mercadejando facilidades para uma empresa de cargas aéreas junto à ECT. Soube-se depois que os Correios também serviram para a prática do nepotismo cruzado: o presidente da estatal, David José de Matos, do PMDB de Brasília - outro território de fácil trânsito da ministra recém-defenestrada - teve a filha, Paula Damas de Mattos, contratada como assessora da Casa Civil. Em troca, azeitou a contratação de um dos irmãos de Erenice, José Euricélio, na Novacap, de Brasília, empresa sob influência de David José, e da qual foi secretário-geral. O conjunto da obra de demolição da ECT pela politicagem, compadrio, corrupção e outras mazelas fatais reforça a necessidade de um projeto de privatização inteligente dos serviços de correios. Como o executado nas telecomunicações, com empresas privadas competindo entre si. Na telefonia, um dos resultados é que hoje existe quase um aparelho celular por habitante, e ainda há sobra de linhas fixas, um sonho delirante há 20 anos.

Mas a oposição será grande, por motivos evidentes. Mesmo que se esteja às portas de um apagão postal, pelas mesmas razões.

O CHEFE DA QUADRILHA

MÔNICA BERGAMO

UMA FOTO NO CAMINHO
MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SÃO PAULO - 24/09/10 

O STF (Supremo Tribunal Federal) pode receber ainda nesta semana uma ação propondo que a lei que exige dois documentos para que o eleitor vote no dia 3 de outubro (o título de eleitor e um documento com foto) seja declarada inconstitucional. A iniciativa está sendo discutida entre partidos que se consideram prejudicados pela regra, que pode aumentar a abstenção no eleitorado. 

MAIS É MENOS 
As estatísticas de eleições anteriores mostram que a abstenção é maior no eleitorado de baixa renda e nas regiões Norte e Nordeste. Entre outros fatores que levaram a eleição de 2006 para o segundo turno, de acordo com especialistas, está a alta abstenção em regiões em que Lula abria dianteira sobre Geraldo Alckmin (PSDB), e onde Dilma Rousseff (PT) repete o fenômeno. No Norte, a abstenção foi de 19%. No Nordeste, de 18%. No Sul, de 15% e no Sudeste, de 16%. 

TURMA 
O prefeito Gilberto Kassab (DEM-SP) já disse a interlocutores que, caso se mude para o PMDB depois das eleições -ele e o peemedebista Michel Temer, vice na chapa de Dilma, são amigos e mantêm diálogo aberto-, poderá levar mais de uma dezena de deputados. Além do grupo que ajudará a eleger em SP (entre oito e dez parlamentares, de acordo com projeções até de adversários), ele tem apoiado candidatos de vários outros Estados. 

NADA DISSO 
Kassab, por sinal, telefonou recentemente para Geraldo Alckmin (PSDB-SP), candidato ao governo de SP, para dizer que não trocará de legenda. 

MARATONA PAULISTA 
Aloysio Nunes Ferreira será o nome mais forte para disputar a Prefeitura de São Paulo pelo PSDB em 2012, caso vença agora a eleição para o Senado. 

MARATONA PAULISTA 2 
José Serra (PSDB-SP), cotado também para disputar o cargo caso não se eleja presidente, tem desempenho abaixo do esperado pelo PSDB na capital paulista. De acordo com o último Datafolha, divulgado nesta semana, ele perde de 31% a 45% para Dilma. Marina Silva vem subindo e tem 14%. 

HORIZONTE ESTÁVEL
A promessa de maior empenho de Aécio Neves (PSDB) pela candidatura de Serra não moveu, até agora, os ponteiros em Belo Horizonte. Serra tinha 25% no Datafolha da semana passada -e continuou com o mesmo percentual. Dilma (43%) caiu um ponto -e Marina subiu três. Tinha 19% e agora tem 22%, na cola do tucano. 

CAVALO DE CORRIDA 
Será no Jockey Club de SP o show do cantor Eminem, no dia 5 de novembro, no festival F-1 Rocks. O evento vai ocupar o Peão do Prado, espaço de 50.000 m2 dentro do hipódromo. Os ingressos, de R$ 150 (arquibancada) a R$ 500 (pista VIP), começam a ser vendidos na segunda. 

PISANDO EM NUVENS 
As calçadas da rua Dr. Renato Paes de Barros, no Itaim Bibi, no trecho entre a rua Tabapuã e a avenida Nove de Julho, serão realinhadas e ganharão piso impermeável, rampa de acesso e piso tátil nas esquinas. A reforma, projeto da Secretaria de Coordenação das Subprefeituras, custará R$ 230 mil. 

SOBRE RODINHAS 
O skatista americano Mark Gonzales chega a SP para inaugurar exposição com obras suas na galeria Cartel 011, na terça. Os trabalhos, feitos com spray e canetinha, serão criados por ele na cidade, na véspera da abertura.

FESTA EXTREMA 
A empresária Cristiana Arcangeli abriu sua casa, no Jardim Europa, para lançar seu programa de TV "Extreme Makeover Social", que estreia na madrugada de sábado para domingo, na Record. Entre os convidados, o artista plástico Gustavo Rosa, a apresentadora Ticiane Pinheiro e o arquiteto Roberto Migotto.

CURTO-CIRCUITO
O cônsul britânico John Doddrell realiza hoje a Noite de Jazz, em prol da Associação de Apoio à Criança em Risco. 
O 1º Festival de Música Klezmer no Brasil acontece até segunda em SP. O evento marca o lançamento do Instituto de Música Judaica Brasil. 
A Baró Galeria realiza hoje, às 13h, um brunch para membros da Tate Modern. Helena Mottin e Eder Veneziani se casam hoje, às 20h, no Leopolldo Plaza. 
Helena Mottin e Eder Veneziani se casam hoje, às 20h, no Leopolldo Plaza.
A festa Mafuá das Bonitas acontece hoje, à meia-noite, no clube Glória. 18 anos.
Livio Giosa faz palestra sobre sustentabilidade e materiais recicláveis, hoje, no Mackenzie, com apoio do Sindicato de Asseio e Conservação de São Paulo. 

com DIÓGENES CAMPANHA, LEANDRO NOMURA e LÍGIA MESQUITA

LUIZ AUBERT NETO

E o câmbio continua matando!
Luiz Aubert Neto
O Estado de S. Paulo - 24/09/2010

Temos chamado a atenção, insistentemente, para o processo de desindustrialização e desnacionalização que vem ocorrendo no Brasil. Nos últimos 20 anos passamos de 5.º maior produtor mundial de máquinas e equipamentos a um modesto 14.º lugar.
A verdade, comprovada em números, é que a indústria do Brasil está sem condições de competir em igualdade. O mais duro é que a perda de competitividade não ocorre do portão para dentro das empresas. Há décadas a indústria vem dando demonstração de força, com melhoria da produtividade, desenvolvimento e inovação tecnológica, numa luta pela sobrevivência, compreendida somente por quem realmente está envolvido com o processo produtivo.

Os desafios são enormes: custo Brasil, que torna as máquinas brasileiras cerca de 43% mais caras; as mais altas taxas de juros do mundo; carga tributária, que representa cerca de 35% dos custos; taxa de câmbio, que faz com que a indústria fique menos competitiva nas exportações e, por outro lado, abre o mercado brasileiro para os produtos importados.
Apesar das oportunidades existentes, a indústria vive um momento de incertezas, diante de um paradoxo que merece explicação do governo. Se, por um lado, a indústria de máquinas busca a sua sobrevivência, convivendo com a perda de competitividade sistêmica, por outro lado, o setor financeiro vem sistematicamente batendo recordes de lucratividade. No último trimestre o setor foi o mais lucrativo de todos, com lucro líquido de R$ 10,1 bilhões. Será que o sistema financeiro é altamente competente e nós, um bando de incompetentes? Será que não há nada de errado na política econômica?
A resposta é simples: falta uma política industrial que privilegie o investimento produtivo em vez do não produtivo, da mesma forma que fizeram os países hoje desenvolvidos, que compreenderam que a industrialização é o caminho para o desenvolvimento. É sempre bom lembrar que, para tornar as suas indústrias fortes, esses países adotaram a seguinte política: desoneração total dos investimentos, câmbio e financiamentos competitivos, incentivo às exportações de bens de alto valor agregado, desenvolvimento e inovação tecnológica.
Mas, enquanto não houver política industrial e competitividade sistêmica, o fato é que não podemos continuar reféns de um câmbio que, de forma acelerada, vem sendo o grande vilão do processo de desindustrialização e desnacionalização. Para ter uma ideia, no caso do setor de máquinas e equipamentos, o déficit acumulado da balança, de 2004 a 2010, já é superior a US$ 43 bilhões. As exportações vêm caindo de forma vertiginosa, enquanto as importações crescem assustadoramente. Somente as importações vindas da China aumentaram cerca de 57% no primeiro semestre de 2010, comparado ao mesmo período de 2009.

Diante desse cenário, não nos restou outra alternativa senão pedir, em caráter emergencial, o aumento da alíquota do Imposto de Importação. Após estudos, chegamos à conclusão de que essa é a única medida capaz, neste momento, de minimizar a perda de competitividade da indústria de máquinas ante os concorrentes internacionais.

Alguns vão dizer que tal medida se configura como "protecionismo" ou "reserva de mercado". Em nossa opinião, esse argumento não se sustenta, pois só se poderia falar em proteção se a indústria nacional estivesse concorrendo em condições isonômicas.

Também vale ressaltar que outros setores da economia contam com uma alíquota de 35%, a nosso ver uma proteção justa, porque sem ela esses setores já estariam extintos.

O momento é de atenção e o aumento da alíquota se faz necessário para dar sobrevida às nossas indústrias, pelo menos enquanto tivermos de conviver com um câmbio que inviabiliza o processo produtivo. O governo precisa ter a sensibilidade de que esse aumento da alíquota é o remédio imediato ou continuaremos a assistir ao câmbio matar as nossas indústrias.

GOSTOSA

JOSÉ SIMÃO

Ueba! A Dilma tá um PACderme!

JOSÉ SIMÃO 
FOLHA DE SÃO PAULO - 24/09/10
E a Hebe perguntando pra Nair Bello no Twitter: "Nair, você também vai votar no Tancredo?" Rarará!

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O Esculhambador-Geral da República! Ereções 2010! Gostosas abalam o pleito! Striptease no Ceará! Em Fortaleza tem uma candidata stripper e atriz de sexo explícito: Adriely Fatal! Projeto: uma casa de striptease em cada cidade do Ceará. Ela quer acabar com a SECA no Ceará! Rarará!
E adoro os locais de campanha: praia e portão de estádio de futebol! E como só se fala em saneamento, Minas tem um candidato incrível: Tomaz do Rola Bosta. Mas acho que não rolou nada porque é a terceira vez que ele é candidato! Rarará! Ele é dono da desentupidora Rola Bosta! Saneamento para Todos!
E a Erenice tá com um corpinho de máquina de lavar desligada. E a Hebe perguntando pra Nair Bello no Twitter: "Nair, você também vai votar no Tancredo?" Rarará!
E as promessas? Adoro as promessas! A Dilma tá engordando tanto que vai criar um novo PAC: o PACderme! E o Serra tá prometendo até ingresso pro show da Madonna em Londres. E o Plínio Geriátrico da Breca tá prometendo Simca Chambord com isenção de IPI. FORD BIGODE PARA TODOS! E a Marina? A Marina promete abraçar uma árvore. Rarará.
Eu acho que os quatro deviam assumir. Se juntassem todas as promessas íamos viver num paraíso! E em Minas tá assim: "Você vota no Serra?" "Não, eu voto ali em Ponte Nova mesmo." Rarará! E a Dilma vai lançar o projeto Minha Casa! Minha Casa Civil! E a Miriam Leitão com aquela juba e urrando tá parecendo o leão da Metro! E eu não estou torcendo nem pra Dilma nem pro Serra nem pra Marina, eu tô torcendo pro gerente do banco estar de bom humor! Rarará!
Balanço geral! E a Dilma entrou pra turma do Eu Não Sabia! E se o Serra cumprir tudo o que ele tá prometendo, ele quebra o país. E com a Marina tudo termina em plebiscito. ""O que você acha do casamento gay?" "Tem que ter plebiscito!" "E o aborto?" "Tem que ter plebiscito." "E as drogas?" "Plebiscito!" Então plebiscito pra saber como tá a maquiagem dela. Pior que tá não fica! Então quem deve ir pro segundo turno é o Plínio! Mas não esquece o agasalho! Rarará!
E para terminar: os "fichas-limpas" de hoje serão os "fichas-sujas" de amanhã. É inexorável? Rarará! A situação tá ficando psicodélica. Ainda bem que nóis sofre, mas nóis goza. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Fórum Clinton 
Sonia Racy 

O Estado de S.Paulo - 24/09/2010

O encontro da ONU esta semana em Nova York coincidiu com o fórum promovido por Bill Clinton, o Clinton Global Initiative, permitindo o ir e vir de presidentes, autoridades internacionais e integrantes do governo Obama. Como o quase ex-secretário do Tesouro americano, Larry Summers, que fugiu de perguntas e declarações um dia depois de ter anunciado sua saída.

Na plateia do evento, o homem mais rico do mundo, Carlos Slim, e Bill Gates, segundo no ranking. Além do bilionário indiano Ratan Tata que declarou à coluna ter, sim, planos de investir no Brasil. "No tempo certo", ponderou enigmático. E por que não atrizes como Demi Moore e Barbara Streisand? Dando sopa, sozinho, o reverendo Jesse Moon foi pouco assediado.

Fórum 2
Donna Karan, por sua vez, se encantou ao saber que a colunista era do Brasil. Afirmou que o País está no seu mapa e que tem mandado muitos amigos para ver "John of God". John of God? "Sim, aquele que com as mãos, cura", explicou.
Tradução: trata-se do médium João de Deus.

Fórum 3
Pelo jeito, para os organizadores do evento que terminou ontem com discurso de Obama e sua Michelle, uma Shakira equivale a uma Bush. A ausência da cantora colombiana - criadora da fundação Pies Descalzos -, no painel sobre o potencial humano do seminário, foi preenchida com a convocação da filha de outra debatedora, a ex-primeira-dama Laura Bush.

Barbara Bush trabalha em ONG comunitária.

Fórum 4
A CGI de Clinton concentra seus trabalhos da Ásia e África. São poucos os projetos pela América Latina até agora. Portanto, o Brasil acabou não sendo lembrado nas discussões. À exceção de Michael Bloomberg, prefeito de Nova York: ele contou ali ter fechado acordo para ajudar na melhora do sistema de transporte de algumas cidades brasileiras. Por meio da sua própria ONG, a Bloomberg Family Foundation.

Brasileiros no evento? Profissionais do Grupo ABC, liderados por Nizan Guanaes.

Fórum 5
Juan Manuel Santos, presidente da Colômbia, sinalizou precisar de sapatos. Com seus seguranças, foi à Tod"s e praticamente fechou a loja. Mas olhou, olhou e saiu sem nada.

Desafinado
Quem acompanhou, anteontem, a carreata da chapa majoritária do DEM da Bahia, em Salvador, com ACM Neto, Paulo Souto e Aleluia, reparou. Nenhuma menção a Serra foi feita no carro de som e o nome do candidato à Presidência não foi visto nos adesivos e panfletos.
Questionado, ACM Neto não escondeu sua irritação com o comando nacional dos tucanos. Reclama de desorganização e afirma que até hoje não recebeu material do comitê central do PSDB.

Tietagem
Chico Buarque, depois de ler um trecho de Saramago em evento literário anteontem, foi jantar no Fasano. Junto com Pilar Del Río, viúva do escritor português, e a trupe da Cia. da Letras.

Tietagem 2
Um grupo de "chicólatras" sem convite organizou um "acampamento", com direito a lista de espera, na bilheteria do Sesc, duas horas antes do evento. Todos que entraram passaram pela sabatina das moças: "Tem ingresso sobrando?"

Equilibrista
Juvenal Juvêncio garante: "Dorival Jr. não vem para o Tricolor. A nossa aposta continua sendo o Sérgio Baresi", afirmou o presidente à coluna. "Em 2011, ele será o comandante do time que formaremos na maioria com garotos da base."

Na frente
Michael Madsen, ator americano, desembarca hoje no Festival do Rio para divulgar o filme Federal, de Erik de Castro. O ator fez questão de passar seu aniversário, que é amanhã, na Cidade Maravilhosa junto com a mulher, Deanna.

Os irmãos Rogério e Ricardo Blat retomam parceria com o espetáculo O Amor É Lindo. Dia 8, no Teatro Cultura Artística Itaim.

Andrea Matarazzo comanda amanhã o Sábado Cultural no Jardim Botânico.

A mostra León Ferrari, um Artista de seu Tempo abre, amanhã, na Arte Aplicada.

Dilsa e John Doddrell, cônsul inglês em São Paulo, abrem sua casa para uma Noite de Jazz em prol da Associação de Apoio à Criança em Risco. Hoje.

É hoje o Spring Off da Dior no Hotel Regent Park.

Djavan faz show de seu novo CD Ária. Hoje e amanhã, no Credicard Hall.

SENADOR JOSÉ AGRIPINO

CELSO MING

Inconsistências no câmbio 
Celso Ming 
O Estado de S.Paulo - 24/09/2010

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, dedicou um bom pedaço do seu tempo nesta semana para esclarecer pontos nebulosos sobre a futura atuação do Fundo Soberano do Brasil (FSB) no mercado de câmbio.
Respondeu a boa parte das dúvidas levantadas aqui na coluna de terça-feira (E no câmbio, quem manda?), mas deixou no ar alguns buracos negros e umas tantas contradições.
Em síntese, Mantega avisou que o FSB não atuará por conta própria, mas delegará as compras de moeda estrangeira ao Banco Central (BC) "para evitar conflitos". Nem o BC nem o FSB terão limites para adquirir dólares. Dessa maneira, dobra a capacidade de compra de moeda estrangeira pelo governo brasileiro. O Ministério da Fazenda não tem piso para a cotação do câmbio. "Não é gogó; eu falo e faço; basta lembrar o IOF", disse Mantega. E arrematou: "Agimos para coibir a excessiva valorização do real."

Esse punhado de palavras envolve umas tantas contradições. Se for evitado o conflito com o BC, então o FSB não poderá atuar para coibir a valorização do real. O BC compra dólares apenas para evitar a volatilidade e desmente veementemente que pretenda definir o que seja excesso de valorização do real.

O ministro está dizendo que não tem piso para o câmbio, mas, ao mesmo tempo, avisa que o FSB atuará para reverter a forte valorização da moeda brasileira. Ou haverá, sim, uma cotação abaixo da qual fique caracterizada a valorização excessiva a ser revertida ou a palavra do ministro fica incompreensível.

Afora isso, quando o FSB passar a comprar dólares no mercado, interferirá também na eventual volatilidade do câmbio. Ora, sem volatilidade a evitar, o BC não se sentirá na necessidade de atuar. Assim, operará em nome do FSB e poderá deixar de fazer leilões para cumprir a finalidade de sua política.

Além disso, é perfeitamente compreensível que o BC mantenha sua política, continue comprando dólares e, em seguida, entregue esses dólares para o FSB em vez de estocá-los nas reservas internacionais, como vem fazendo. Por outro lado, se, na condição de operador, cumprisse outros objetivos do FSB, o BC estaria mudando sua política.

Também não faz sentido afirmar que nem o BC nem o FSB terão limites para adquirir dólares e que, por isso, dobra a capacidade de compra do governo. O BC tem, sim, um teto determinado pela existência ou não da tal volatilidade. E, se o BC já atua sem limites na compra de dólares, não seria necessário mais um ilimitado agente, o FSB, para dar conta da tarefa de empurrar a cotação do dólar para onde o governo deseja. E, afinal, se o critério para a atuação do BC permanecer o mesmo, tanto faz o tamanho das disponibilidades de munição para suas operações.

Finalmente, se o ministro da Fazenda vai além do seu gogó, como garante, então a política de câmbio terá de passar a ser determinada por ele (ou também por ele) e não apenas pelo BC, como está definido.

O FSB está sendo engolfado por conflitos de interesses. Seus criadores não sabem se o usam como uma ferramenta anticíclica, se o transformam em instrumento de apoio para a empresa brasileira no exterior ou se o acionam para segurar a cotação do dólar. São finalidades só em parte compatíveis entre si. E só em parte compatíveis com a política de câmbio do Brasil comandada pelo BC. (Veja ainda o Confira.)

CONFIRA
Fator surpresa
Alguns técnicos do Ministério da Fazenda se queixam de que o Banco Central (BC) executa uma política de compra de moeda estrangeira tão previsível que acaba fazendo o jogo dos vendedores de dólares. Por isso, pedem mais fator surpresa.

Faz sentido?
Mas só faz sentido operar de maneira imprevisível se o objetivo for defender determinado piso para a cotação do real. Enquanto a política for apenas evitar o excesso de volatilidade, a previsibilidade é desejável.

Exemplo do Japão
A questão de fundo é se a atual política está ou não correta e se não será preciso trabalhar para reverter o excesso de valorização do real. Se a resposta for sim, então será preciso reformular a política e montar mecanismos adequados para executá-la, como acaba de fazer o governo do Japão, que passou a atuar com forte dose de imprevisibilidade. Não se sabe nem quando o governo de Tóquio passará a comprar dólares nem qual a cotação desejada.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Uma campanha que ensurdece 
Maria Cristina Frias 


Folha de S.Paulo - 24/09/2010


Nos comícios que tem animado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva custa a falar. Ao ser anunciado, é precedido pela plateia que grita seu nome e canta o "Lula-lá" da campanha de 1989. Quando começa a falar, Lula ainda divide espaço com o barulho da multidão, que silencia aos poucos até ser novamente inflamada.

Num desses comícios, Lula disse que os donos de jornal e revistas não devem ler suas publicações senão se envergonhariam do produto que estão entregando a seus leitores. O argumento pode não estar completamente desprovido de razão, mas a voz rouca dos comícios que frequenta o está ensurdecendo. O presidente também não deve estar assistindo às reprises de seus comícios. Veria que não há do que se orgulhar.

Política é comunicação, teorizou seu antecessor, que ganhou duas eleições sem o dom de se dirigir às massas. Inspirado pela convicção de que não tem rival em palanque, Lula tem sido abandonado por sua proverbial inteligência ao reagir à onda de denúncias em que se afunila a campanha.

É um despautério que o presidente da República suba num palanque e diga que os donos da voz lhe têm ódio. A animosidade é transmitida à sua candidata, que exibiu descontrole e a veia saltada na lateral da testa ao brandir papeis no ar em contestação a uma reportagem. Não é improvável que o rancor já tenha ensurdecido todo seu entorno.

Parece inacreditável que, depois do histórico de batalhas de fatos e versões que o PT já enfrentou em cinco eleições presidenciais, não apareça ninguém para dizer a essa gente que serenidade é um atributo de vencedores. É a uma situação de desvantagem que o eleitor associa o destempero. Ao se colocar na sintonia do descontrole, parece que é a campanha petista e não a oposição que está desesperada. Não deve ser outro o motivo por que Marina e sua inabalável compleição apareçam como a herdeira dos eleitores afugentados do embate tucano-petista.

A campanha de 2006 é pródiga em indícios de que foi a reação de Lula, e não as denúncias em si, que levaram a disputa ao segundo turno. Na comparação das pesquisas o impacto do noticiário negativo hoje parece mais concentrado na classe média escolarizada do que em 2006.

No sempre arriscado prognóstico de planilha, a queda, para ser representativa, precisará atingir a base da pirâmide eleitoral. Há que se considerar, ainda, que Dilma hoje tem uma vantagem muito mais homogênea no eleitorado do que Lula na sua reeleição.

Gente de pesquisa costuma usar a imagem da boca do jacaré para descrever as curvas de intenção de voto de dois candidatos que, ao longo da campanha invertem suas posições. Nesta campanha a boca do jacaré começou a se escancarar entre julho e agosto. O Datafolha foi o último instituto a registrar que a boca se abria e o primeiro a detectar que está se fechando.

A reação destemperada do PT indica que, na sua avaliação, a curva decorre de noticiário que se arvora no papel de polícia, promotor e juiz. Se esse diagnóstico, por mais preciso que seja, insistir em municiar a virulência da reação petista, virá o bote do jacaré.

Não deve ser fácil para Lula, às vésperas de deixar o governo no panteão dos presidentes mais bem avaliados da história, assistir à valoração de teses que põem em dúvida o Estado de Direito, e de analogias estapafúrdias com Hitler, Mussolini e Putin.

Sua liderança nasceu com a redemocratização e cresceu com a liberdade de imprensa. Como presidente, resistiu a conquistar mais um mandato e, com isso, deu uma demonstração mais radical de respeito pelas instituições do que o governo que o precedeu.

Se Lula avalia que o governo e a campanha de sua candidata são injustiçados pela imprensa não é seu papel como presidente da República comprar essa briga em palanque. A militância petista deslocou-se da porta de fábrica para a blogosfera com agressividade suficiente para enfrentar movimentos que reúnem desde os 60 manifestantes do Largo São Francisco até a caserna de pijama.

O destempero com que os petistas se conduzem nessa reta final de campanha é filho do mesmo emocionalismo despolitizante com que a inauguraram. No principal jingle da campanha Lula diz a Dilma que entregará em suas mãos o seu povo. Inconformados pela estabilidade das pesquisas e movidos por paixão parelha, editoriais chegaram a questionar se o povo de Lula é feito de consumidores ou de cidadãos.

O público leitor de jornal equivale a pouco mais de 1% do colégio eleitoral do país. É preferível que a indignação se explique por esse descompasso do que pelo preconceito em relação às convicções democráticas de quem acabou de entrar no mercado de consumo.

O voto sela o contrato entre o eleitor e o eleito. Será tão mais importante para a cidadania quanto melhor se conhecerem as propostas de governo que, a dez dias da eleição, continuam recônditas - por desinteresse dos candidatos e obra e graça do denuncismo.

Num país de plenas liberdades políticas como o Brasil, o eleitor não passa de uma mão para outra nem é joguete de mistificações. Merece uma campanha melhor.

SERRA PRESIDENTE

MERVAL PEREIRA

Razões 
Merval Pereira 

O Globo - 24/09/2010

Está acontecendo um fenômeno interessante em relação à última pesquisa do Datafolha, que registrou uma redução da diferença entre a candidata que lidera, Dilma Rousseff, e seus oponentes, notadamente o tucano José Serra e a verde Marina. Nenhum deles liga essa queda diretamente ao escândalo envolvendo a ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra, por motivos distintos.

A campanha de Dilma, como é natural, minimiza os novos dados, ressaltando que eles estão dentro da margem de erro. É verdade, embora nesses casos uma soma de pequenas subidas e descidas acabe levando o resultado para além da margem de erro.

É o caso atual, em que Dilma caiu dois pontos, Serra subiu um e Marina Silva, a maior beneficiária das mudanças, subiu dois, e a diferença entre quem lidera e os demais caiu para 7 pontos percentuais.

Na verdade, essa diferença é de cerca de 4 pontos, pois o que sair de Dilma vai ou para Serra ou para Marina.

Já a campanha de José Serra também minimiza a influência dos escândalos na mudança de resultado. O marqueteiro Luiz Gonzalez, cada vez mais certo de sua estratégia, diz que a evolução lenta da candidatura Serra deve-se à formação da imagem através da acumulação de informações sobre o candidato.

Na teoria de Gonzalez, nem mesmo o escândalo dos “aloprados” de 2006 teve a ver com o crescimento da candidatura de Geraldo Alckmin nos últimos dias, chegando a surpreendentes 42% de votos no primeiro turno.

Tanto seria verdade que a campanha para o governo paulista não teria sido afetada pelo escândalo local, com o agravante que o alvo principal do dossiê era mesmo Serra, e o coordenador da campanha de Mercadante estava envolvido na operação.

Os filmetes mais agressivos que estão aparecendo na internet foram vetados por Gonzalez para o programa de propaganda eleitoral pela televisão justamente sob a alegação de que eles não correspondem à estratégia traçada por ele desde o início da campanha.

A ida para o segundo turno, se acontecer, seria, portanto, uma consequência da campanha como um todo, apesar das críticas que ela vem recebendo de vários setores do PSDB.

O crescimento de Serra no Nordeste, por exemplo, seria c onsequência das promessas de aumento do salário mínimo para R$ 600 e 13opara a Bolsa Família, promessas demagógicas que teriam efeitos eleitorais nas camadas mais pobres da população.

O senador Efraim Morais (DEM) foi o primeiro a entrar nessa festival de demagogia apresentando o projeto do 13odo Bolsa Família.

Aprovado no Senado, desde novembro de 2006 encontrase na Câmara dos Deputados para votação. Serra, para não ficar claro que cai em contradição quando apresenta propostas eleitoreiras como essa quando se diz um gestor competente e critica o aumento de gastos do governo federal, alega que sabe onde cortar os desperdícios para viabilizar seus projetos.

Para efeito de provocar impacto no eleitorado, deve dar como exemplo de desperdício do dinheiro público os diversos cargos ocupados por parentes e amigos da família de Erenice Guerra.

“Quantas outras famílias petistas não existem espalhadas pela máquina pública”, pergunta Serra.

Para poder viabilizar um segundo turno, Serra precisa crescer sobre o eleitorado mais pobre, onde a candidata oficial Dilma Rousseff lidera com grande margem.

Mas quem está mais bem posicionada para pegar uma eventual “onda” de descontentes no eleitorado é a candidata do Partido Verde, Marina Silva, que cresceu em quase todos os segmentos do eleitorado.

Marina saiu de 11% na semana passada para 13%, dentro da margem de erro, mas cresceu mais em alguns setores, como os 8 pontos percentuais entre os que ganham de cinco a dez salários mínimos, que representam cerca de 10% dos eleitores.

Serra subiu outros 6 pontos, e Dilma, por sua vez, caiu dez pontos, o que indica que os dois candidatos da oposição tiraram votos de Dilma e dos indecisos.

No Rio de Janeiro, Marina, pelo Datafolha, subiu cinco pontos e empatou tecnicamente com Serra. Em uma pesquisa do Instituto GPP feita para o PV do Rio, Marina já aparece à frente de Serra no estado.

Os dirigentes do Partido Verde acreditam que essa tendência deverá se repetir em muitas cidades grandes, especialmente em Minas Gerais.

No Distrito Federal, quem se beneficiou com a queda de Dilma foi também Marina, que passou Serra. Os efeitos da crise na Casa Civil foram, para o Datafolha, os responsáveis pela mudança da tendência de parte do eleitorado, mas Marina prefere atribuí-la à sua disposição de discutir programa de governo, sem imiscuir-se na briga de foice entre os dois principais candidatos.

A afirmação de Marina de que a “onda verde” ainda a levará mais longe nesta eleição é baseada em pesquisas qualitativas que mostram uma grande aceitação de sua figura política.

Os verdes acreditam que dois fatores ainda alterarão os resultados das pesquisas até o final da campanha: o voto oculto, e o voto útil.

O voto oculto estaria concentrado nos setores mais pobres da população que, temendo perder os programas assistenciais, anunciam que votarão em Dilma, mas, na verdade escolherão Marina na cabine.

Haveria também o voto dos evangélicos, que estão sendo orientados em diversos pontos do país a não votar em Dilma por que o PT seria favorável ao aborto.

Já o voto útil viria do eleitorado mais esclarecido que chegaria à conclusão de que Marina tem mais condições políticas de derrotar Dilma num segundo turno do que Serra. A conjunção desses fatores levaria a candidata do Partido Verde a um segundo turno.

No lado do PSDB, a torcida é que Marina cresça mesmo, mas não acreditam que ela tenha fôlego para ultrapassar Serra na reta final.

O problema para Serra é que se ele chegar ao segundo turno à custa da subida de Marina, terá que tentar manter o eleitorado da candidata do Partido Verde.

ANCELMO GÓIS

Ai, meus joelhos 
Ancelmo Góis 

O Globo - 24/09/2010

As empresas aéreas têm só uma semana para informar à Anac a distância entre as poltronas dos aviões de sua frota.

A agência, como se sabe, vai criar um selo de conforto.

A ideia é que o passageiro, antes de comprar a passagem, seja informado do espaço entre os assentos.

Singapore Airlines

A Gol já enviou suas medidas.

Os Boeings 737-800 e 737700 da empresa, por exemplo, têm 76,2cm entre as poltronas.

No mundo, segundo a Gol , esta distância se enquadra na média de outras empresas.

Perde para poucas voadoras, como a Singapore Airlines, que tem 10cms a mais.

Às compras

A BRMalls comprou o Center Shopping Uberlândia.

É o 37oshopping da empresa.

Sem exigência

O PT estuda entrar com uma ação no STF para acabar com a exigência de dois documentos (o título de eleitor e uma identidade com foto) para votar.

A nova exigência estaria causando dúvidas na população.

Festa nos pregões

Não é só na Bovespa que haverá hoje festa pelo lançamento da superoferta de ações da Petrobras, com a presença de José Sergio Gabrielli e de Lula.

Em Nova York, Almir Barbassa, diretor financeiro da estatal, vai tocar o sino em Wall Street.

No mais

Calma, gente!

Dunga no Fla

Até quarta-feira, antes do empate com o Grêmio, dois diretores do Flamengo defendiam a contratação de Dunga para o lugar de Silas, como técnico do clube.

É como se diz em Frei Paulo: tem gosto para tudo.

VEJA O EFEITO das ondas sobre a calçada no finzinho da Praia de São Conrado, em frente ao Hotel Nacional. O deque, construído em 2005 como solução urbanística para embelezar a estação de tratamento de esgoto do bairro, foi destruído pela última grande ressaca, em julho, e desde então...

está assim. A Amasco, associação de moradores do bairro, pede reparos ao distrito de conservação da VI Região Administrativa, que, naquele jogo de “deixa que eu deixo”, responde que a responsabilidade pelo local é da Rio Águas. Enquanto isso, fica o cenário de destruição arranhando o cartão-postal

O tombo de Simone

A cantora Simone levou um baita tombo no fim de seu show, anteontem, no teatro José de Alencar, em Fortaleza.

Ela pisou em falso, machucou o tornozelo e teve de sair carregada do palco. Mas passa bem

Centros eleitorais

Veja só. Mais da metade dos 33 casos de uso eleitoral de centros sociais apurados pelo MPE do Rio na campanha, virou denúncia contra o investigado, em geral por abuso de poder.

Entre os acusados, estão candidatos como Jorge Picciani e Domingos Brazão entre outro

Pirata punido

A Sony, através do escritório Raul Gravatá, conseguiu que a Justiça da Paraíba proibisse Lindolfo Pires, candidato a deputado estadual, de usar o jingle, com a melodia de “Beat it”, de Michael Jackson, sucesso no YouTube, sob pena de multa diária de R$ 2 mil.

A terra treme

Há pessoas da alta sociedade que frequentam Búzios preocupadas com o desenrolar das investigações da Operação Consórcio, realizada quarta passada, na qual jovens de classe média foram presos por tráfico de drogas.

Por falar em Búzios...

A Desiderata, uma editora focada em livros de humor, como “Antologia do Pasquim”, vai publicar uma seleção de capas do “Peru Morado”, o jornal travesso de Búzios que está completando 30 anos.

Lá vem a noiva

A empresária Gisele MacLaren, dona de estaleiro, casouse semana passada com o secretário de administração penitenciária do Rio, Cesar Rubens Monteiro.

A cerimônia foi para poucos amigos, no Itanhangá.

Jogos eletrônicos

O Rio vai ganhar, em outubro, uma escola que ensinará a desenvolver jogos para internet, celulares, smartphones e iPad, além da plataforma XNA para Xbox 2 e 3D.

A Seven Game funcionará na Rua do Rosário.

Damas do lixo

Começou esta semana a seleção de candidatos para as 880 vagas na nova Central de Tratamento de Resíduos (CTR), que a Ciclus está construindo em Seropédica, para substituir o lixão de Gramacho.

A surpresa é que 60% das fichas foram preenchidas por mulheres, num mercado antes dominado por homens.

A FORMOSURA mulata aí ao lado é Raquel Villar, que viverá Esmeralda em “Araguaia”, a próxima novela das seis da TV Globo, que estreia segunda agora. Beleza brasileira na telinha!

MARIA PAULA, com o filho caçula, Felipe, cumprimenta Reinaldo, seu companheiro no “Casseta & Planeta”, no lançamento do livro dele, “Noite de autógrafos”, na Travessa de Ipanema

PONTO FINAL

O Rio está mesmo com a bola cheia. O estilista americano Marc Jacobs, um dos mais famosos do mundo, criou esta camiseta para a terra carioca, que traz a bandeira brasileira e o nome da cidade.

A peça será vendida na NK Store, loja da empresária paulistana Natalie Klein, em Ipanema.

GOSTOSA

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA

Simbiose total 
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SÃO PAULO - 24/09/10

Os novos números do Datafolha, que mostram recuperação mais significativa de José Serra em São Paulo e perspectiva de vitória de Geraldo Alckmin no primeiro turno, intensificarão no PSDB o movimento para colar os dois candidatos do partido no maior colégio eleitoral do país. A agenda conjunta será turbinada, com farta distribuição de impressos na semana final da campanha para fixar o número 45. 
A redução da dianteira de Dilma Rousseff (PT) no Estado, de oito para cinco pontos, alimenta entre os tucanos a ideia de que o eleitorado paulista poderá decidir se a história terminará ou não no dia 3. 
Trincheira - O PSDB-SP avançará sobre prefeitos e deputados. Quer impedir deserções para o bloco dilmista. O sinal de alerta foi acionado com a debandada no PMDB, que deve ser materializada hoje em manifesto assinado pelas bancadas da Câmara e da Assembleia. 
Corner - Os tucanos acreditam ter conseguido colocar Dilma na defensiva em dois temas, além do “Erenicegate”: liberdade de imprensa e o pacote de bondades prometido por Serra no salário mínimo e no Bolsa Família. 
Cronograma - A redução da vantagem de Dilma sobre a soma dos adversários não fez a cúpula petista alterar os planos para a reta final: além do comício de hoje em Porto Alegre, a candidata fará só mais um, na segunda, em São Paulo. Já Lula subirá em outros palanques: estrelará comício em Aracaju (SE) e, talvez, em mais um Estado. 
Carbonizada - Em sintonia com Lula, segundo quem Erenice Guerra “jogou fora uma chance extraordinária de ser uma grande funcionária pública”, o comando da campanha avalia ela terá de passar longe do eventual governo Dilma. Isso não impede que lhe arranjem um emprego na iniciativa privada. 
Companhias - O PT não quer ouvir falar na possibilidade de Eduardo Cunha, aliado próximo de Michel Temer, assumir a liderança do PMDB na Câmara em 2011. 
A conferir - Petistas avaliam que, no Senado, o PMDB sairá das urnas menos controlado por Renan Calheiros (AL) e José Sarney (AP), dada a provável mudança no perfil da bancada. 
Solo - Vice na chapa de Aloizio Mercadante (PT) ao governo paulista, Coca Ferraz (PDT) está em pé de guerra com o correligionário Paulinho da Força. Candidato à reeleição, o deputado omite o petista na “colinha” que distribuirá ao eleitor. 
Surdo... - Um dia depois de revelado que Stevam Knezevic, afastado da Casa Civil por denúncias de tráfico de influência, não retornara ao trabalho na Anac, seu órgão de origem, o funcionário encaminhou ontem à agência um atestado médico com validade de duas semanas. Assinado por um otorrino, o papel diz que ele atravessa “estado pós-operatório”. 
...e mudo - De um governista enfronhado no “Erenicegate”: “Vai ver o Stevam não quer ouvir nem falar”. 
Loteria - Paulo Skaf (PSB), 4% no Datafolha para o governo de SP, adotou uma zebra na propaganda, by Duda Mendonça. Do marqueteiro, no Twitter: “É duro ter um grande candidato, mas com apenas um minuto de TV. A gente faz o que pode!”. 
Tiroteio
É a confissão antecipada da derrota do candidato do PSDB no Paraná. Só censura pesquisa quem teme os seus números. 
DO DEPUTADO FEDERAL DR. ROSINHA (PT-PR), sobre o recurso de Beto Richa à Justiça para impedir a divulgação de levantamentos de intenção de voto. 
Contraponto
Melhor do que tá não fica 
Durante almoço com empresários na segunda-feira passada, Gilberto Kassab (DEM) conseguiu arrancar gargalhadas da plateia ao se dirigir inesperadamente a seu ex-secretário de Esportes, Walter Feldman (PSDB), em campanha para se reeleger deputado federal: 
- Tenho certeza de que você já está eleito, mas ainda não sabia que será o mais votado de São Paulo... 
Diante da surpresa geral, o prefeito completou de maneira bem humorada, mas pouco convincente: 
- Vai ter mais votos que o Tiririca!