sexta-feira, março 26, 2010

NELSON MOTTA


Sonho de uns, pesadelo de outros
O Globo - 26/03/2010
Obama acorda invocado, pega o telefone e diz para Hillary que está na hora de resolver a situação de Cuba. A política do isolamento caducou, a opinião pública é favorável ao reatamento, a indústria americana está precisando ganhar dinheiro, os anticastristas xiitas de Miami estão velhos ou morreram.

Não é difícil convencer parlamentares republicanos e democratas a votar o fim do embargo, ninguém aguenta mais esse assunto chato. E o Congresso libera geral, viagens, remessas, empresas, comércio, comunicações, como qualquer país.

Nos dias seguintes, Havana será invadida. Não pelos marines, mas por voos charter e navios abarrotados de turistas americanos, ávidos pelo sol e o mar do Caribe, pelas promessas de calor humano, música e sensualidade, e pela oportunidade de visitar uma Disneylandia socialista e comprar souvenirs do Che e de Fidel. Os hotéis não vão dar vazão para tanta gente, as grandes cadeias hoteleiras americanas, assim como já fazem as europeias, se associarão ao Estado cubano, construirão hotéis e terão altos lucros e impostos baixos, garantia de remessas dos lucros, e todas as liberdades que os cubanos não têm.

O turismo médico levará milhares de gringos a Cuba, os preços locais serão uma merreca diante dos cobrados nos Estados Unidos. Os cubanos de Miami, como cidadãos americanos, vão ser os maiores investidores, e empregarão seus parentes da ilha em seus negócios.

Com as ondas turísticas, entrarão torrentes de dólares, e uma boa parte será desviada para o câmbio negro, abastecendo o mercado paralelo de bens e serviços. Com celulares, parabólicas e internet ao alcance da população, os cubanos poderão escolher em quais noticias acreditar, ficarão loucos pelas novidades tecnológicas em dez vezes no cartão, e, assim como o pessoal do Fórum Social Mundial, acreditarão que um outro mundo é possível.

Se isso acontecer, é provável que o regime não dure muito. Mas, claro, só depois da morte de Fidel, que poderá morrer de desgosto se algum dia o Império levantar o embargo inútil e lhe tirar o seu grande álibi para a tirania, a intolerância e a incompetência.

BARBARA GANCIA

O mundo maravilhoso da "Wallpaper"
FOLHA DE SÃO PAULO - 26/03/10


O editor da revista diz que "todos os setores da sociedade" circulampelo shopping Iguatemi




DEVERIA conhecer a "Wallpaper", que é descrita como "uma revista internacional de design e lifestyle para quem gosta de conhecer tendências modernas e globais". Mas é mais forte do que eu. Toda vez em que tentei folhear um exemplar, minha cabeça foi inclinando, meus olhos foram fechando e, depois de cinco minutos, eu já estava roncando alto e babando.
Longe de mim criticar a "Wallpaper", a jeca-tatu sou eu. Livros e revistas de arte, de moda e de viagem têm para mim o mesmo significado do que a vitória do time local em jogo no estádio de Ulan Bator, na Mongólia. Ou seja, nenhum.
Talvez, por isso, não sou a pessoa mais indicada para comentar a entrevista concedida à coluna Mônica Bergamo pelo editor da "Wallpaper", Tony Chambers, que está em São Paulo preparando uma edição especial dedicada ao Brasil. Acontece que detectei pelas afirmações do sr. Chambers que, por ora, ele anda mais perdido do que pum em bombachas. E não posso, patriota que sou, deixá-lo ir embora com uma visão equivocada do país.
A gente sabe como funciona essa coisa de síndrome de vira-lata. Bastou um estrangeiro baixar entre nós, que logo o levamos para passar o fim de semana na praia, oferecemos jantar e apresentamos nossa irmã para ele.
No caso do sr. Chambers não é diferente. Com o agravante de que ele está sendo ciceroneado em São Paulo por uma gente que só não tatua a palavra "lifestyle" na testa por medo de trocar o "y" pelo "i".
E que o deixou empolgado a ponto de ele afirmar na entrevista que "todos os setores da sociedade" estão representados no público do shopping Iguatemi.
Também procuro não ter muita intimidade com pobre, esse negócio de andar de ônibus e fazer fila pega feito praga. Entendo que o sr. Chambers ache que a gente sem estilo que ele viu circulando pelo Iguatemi pareça pobre. Mas alguém deveria informá-lo de que aquele desgosto ambulante chama-se paulistano de classe média alta. É mesmo uma turma que não transpira "lifestyle", mas convém que o sr. Chambers saiba que os impostos dos "pobres" que ele viu sustentam meio Brasil.
O editor da "Wallpaper" se diz maravilhado pela água de coco. "Todo mundo está falando sobre ela". É mesmo? Todo mundo? Bem, então é bom que digam que o coco do qual ela é extraída é importado, na maior parte, do Sri Lanka. Só me falta sair na revista "Wallpaper" que os cocos vêm da Bahia e são tirados do pé por figuras saídas de retratos do Carybé.
A mais brasuca das partes pudendas terá grande destaque na edição especial da "Wallpaper" que circula em junho: "Vamos mostrar bundas bonitas e quão importantes elas são para o mundo", diz Chambers.
Como a fase anal vai dos zero aos três anos, começo a entender melhor porque nunca gastei R$ 74,80 para comprar um exemplar da "Wallpaper".
Para falar a verdade, até gastaria. Só para ver o que sobra de informação, emoção e substância numa revista cuja "filosofia" o sr. Chambers define assim: "Se deixamos coisas de fora, é porque não gostamos delas". Mais ou menos o mesmo motivo pelo qual mendigos não frequentam o shopping Iguatemi.

JANIO DE FREITAS

As casas do silêncio
FOLHA DE SÃO PAULO - 26/03/10


O jornalismo precisa de críticas, inclusive das de Lula, e não de cobranças de louvação quando o mais generoso é o silêncio




AINDA QUE Lula diga de sua acusação à "má-fé da imprensa" que apenas "mostra o que [nela] está errado", como "um alertador" -contra algo que não quis ou não pode dizer-, o fato é que faz do seu direito de crítica uma evidência do erro de sua autoavaliação. Disso é exemplo perfeito a frase que lhe pareceu retratar a "má-fé": "Acabei de inaugurar 2.000 casas, não sai uma nota. Caiu um barraco, tem manchete. É uma predileção pela desgraça." Deveria, ao menos poderia, sentir-se envergonhado com a constatação de que suas 2.000 casas não valem, no jornalismo, um barraco soterrado.
O que são 2.000 casas? Os números oficiais do governo Lula reconhecem o deficit habitacional de 6 milhões de casas. Seriam 6 milhões de famílias -crianças, mães e pais, talvez avós- desprovidos do que possa ser chamado de casa, com exagero embora. O que são, diante desses milhões, 2.000 casinhas? Ainda mais para "ter manchete".
Mas o deficit habitacional no governo Lula não é de 6 milhões de casas. É maior, não se sabe quanto maior, não se sabe qual é. Desde que os núcleos de pobreza multiplicaram ao incontável as suas células, umas apoiadas nas outras, sobre as outras, debaixo das outras, e em cada um desses núcleos se instalaram núcleos de criminalidade armada, desde então a liberdade ou mesmo a possibilidade física de qualquer contagem se tornou inviável. E assim é pelo país todo.
O que são, diante disso, 2.000 casas? Ainda mais para merecer manchete. São um fato humilhante. Para honrar um governo e mostrar um presidente estadista, deveriam ser 2.000 por dia. Indústrias trabalhando para isso, milhões de empregos, crianças, mães, pais e talvez avós ganhando o chão sólido e o teto firme, o saneamento e a água corrente que até hoje não sabem se um dia alcançarão.
O olhar do jornalismo para um barraco arruinado não é predileção, não é atração. É repulsa, é pasmo, é emoção. Não do jornalismo: dos seres humanos. Dos que são leitores, espectadores, ouvintes -e, valei-os Senhor, jornalistas. É o valor da vida, não é o barraco. É o peso da tragédia, da avalanche e da enchente fatais, do desastre aéreo, do assassinato horrorizante.
A parte negativa que cabe ao jornalismo, neste capítulo, pode ser a da má medida, alguns vícios da facilidade e, até como especialidade de conhecido ramo, a exploração do sensacionalismo. Bom ou mau, o jornalismo supõe oferecer o que o público deseja ou, no mínimo, aceita. Nada de inocentar a imprensa.
Estamos fazendo no Brasil um jornalismo descuidado, cheio de fantasias ilusionistas, de enchimento de espaço a granel. Um jornalismo que precisa de muitas críticas. Inclusive das de Lula, mas que sejam críticas de fato, e não cobranças de louvação quando o mais generoso é o silêncio, porque o devido é a crítica.

MÍRIAM LEITÃO

Ata dos derrotados 

O Globo - 26/03/2010

Os juros vão subir na próxima reunião do Banco Central. A ata divulgada ontem diz que houve consenso sobre a necessidade de aumento. O texto não deixa claro por que eles não subiram, nesta que pode ter sido a última reunião comandada por Henrique Meirelles. A dúvida agora é sobre o ritmo do aperto. Ele poderia ser menor se o governo ajudasse cortando gastos.

A avaliação dos economistas que leram o documento foi a de que ele foi escrito pelos três “derrotados” na última reunião, porque, em vez de explicar a razão de não subir os juros, o texto diz o tempo todo que houve concordância sobre a necessidade de alta. Isso contradiz o resultado final da reunião: 5 a 3 a favor da manutenção.

“Houve consenso entre os membros do Comitê quanto à necessidade de se implementar um ajuste na taxa básica de juros, de forma a conter o descompasso entre o ritmo de expansão da demanda doméstica e a capacidade produtiva da economia, bem como para reforçar a ancoragem das expectativas de inflação”, diz o parágrafo 26.

Para Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do Banco Central, atualmente na Confederação Nacional do Comércio (CNC), o texto é paradoxal e não justifica de forma convincente a manutenção dos juros em 8,75%: — O texto diz que houve consenso para a elevação, mas também afirma que é preciso esperar mais um tempo. Mas um período de 45 dias (até a próxima reunião) não é praticamente nada diante de uma guinada na política monetária.

Depois de ler ata, o economistachefe da Ativa Corretora, Arthur Carvalho, acha que a decisão não foi técnica.

— Claramente a decisão não foi técnica porque o texto contradiz o resultado da reunião. O Copom diz que o cenário de inflação em 2010 e 2011 está sensivelmente acima da meta.

Isso significa que o patamar atual de juros é incompatível com esse cenário. Tecnicamente, não há lógica para esperar pela alta da Selic — afirmou.

A economista Monica de Bolle, da Galanto Consultoria, diz que a única explicação para se adiar o aumento dos juros seria uma possível saída de Henrique Meirelles da presidência do Banco Central: — O Banco Central fala de consenso em subir juros, mas ao mesmo tempo diz que prefere esperar mais um pouco para ver os efeitos do aumento dos compulsórios.

Isso não é suficiente. A única explicação que vejo é uma possível saída do Meirelles e uma vontade de iniciar o ciclo com o novo diretor, legitimando seu compromisso em combater a inflação — disse Mônica.

Esta também é a avaliação do professor Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio: — Foi uma ata estranha. E sabendo-se que na próxima reunião é possível que ocorram mudanças na diretoria do Banco Central, isso traz uma certa preocupação.

Para José Júlio Senna, da MCM Consultores, a ata reforça a ideia de que o Banco Central só muda a política monetária depois de duas sinalizações explícitas ao mercado. Foi assim em 2007, quando parou de reduzir os juros; em 2008, quando elevou as taxas; e em 2009, quando voltou a cortar. Mesmo ficando dentro do padrão, ele faz reparos à forma do texto.

— A ideia de sinalizar ao mercado o passo da política monetária tem o objetivo de dar mais transparência. Nesse sentido, o texto não é bem escrito porque não é compatível com essa intenção.

Ele conclui que é necessário subir juros, mas diz que é melhor esperar. Isso não faz sentido — explicou.

No texto, o Banco Central diz que a economia brasileira deixou de estar em recuperação para entrar em processo de expansão. Dessa forma, a ocupação da capacidade ociosa já estaria no fim, e isso reforça as preocupações com a inflação.

O texto de ontem trouxe mais dúvidas sobre o ritmo de aperto da Selic, que hoje está em 8,75%. No mercado de juros futuros, a leitura era de que havia 50% de chances de um aperto de meio ponto na próxima reunião, e 50% de uma alta maior, de 0,75%.

— A alta em abril está dada, o ritmo ainda está em aberto — disse Luis Otávio Leal, do Banco ABC Brasil.

O BC também admite que está preocupado com a política fiscal e com a expansão da carteira de crédito dos bancos públicos. Duas influências que podem fazer com que os juros fiquem mais altos.

— Há um claro descompasso entre as políticas fiscal e monetária. Além disso, a carteira de crédito dos bancos públicos responde menos à elevação da Selic porque há muito crédito subsidiado.

Tudo isso pode fazer com que o Banco Central seja obrigado a fazer um ajuste ainda maior nos juros, para compensar. Mais uma vez, a tarefa de combater a inflação recai exclusivamente sobre o Banco Central — disse Monica de Bolle.

Na próxima semana, Henrique Meirelles terá que decidir se fica no Banco Central até o fim do mandato, ou se retoma sua carreira política.

Se ele sair, a pressão para o BC não aumentar os juros vai ficar mais forte dentro do governo. Quem assumir agora tem pouca margem de recuo depois desta ata. É subir ou ser acusado de tomar decisão por razões políticas.

Talvez esse curto-circuito é que tenha produzido uma ata assim meio estranha: que justifica a alta dos juros, mas a adia.

ARI CUNHA

Distritais reformam tudo

CORREIO BRAZILIENSE - 26/03/10


Trocando os pés pelas mãos, os deputados distritais desejam retocar a imagem da Casa e obter uma visão melhor do povo de Brasília. Tomam providências, convocam deputado culpado para suplente, prometem mundos e fundos por parte do Legislativo candango. Somam-se pendengas na Justiça para líderes e representantes de comissões importantes. O projeto é adotar medidas, retirando das votações os que são impuros, depois do escândalo que apavora o povo. Decisões da Presidência, embora procure ser independente, não coincidem com o que determina a Constituição. Será conveniente ouvir o Superior Tribunal de Justiça, ao qual parece não desejarem creditar o valor de suas decisões sobre o Distrito Federal. Resolver tudo de uma vez parece afogamento, que não leva a cidade para a frente. Os passos atrapalhados dos distritais vão chegar à intervenção federal. Daí o futuro chegará ao que era a Câmara no passado. Nada.


A frase que não foi pronunciada
“Entender o princípio das coisas é fundamental para não se assustar com o fim.”
Dica na cartilha do eleitor 2010


Eletricidade

» Ao escândalo do grande apagão registrado em Nova York anos atrás, uma senhora pensou no Brasil. Disse que aqui, quando vai faltar luz, o governo diz onde e quando acontecerá. Ledo engano. Está faltando todos os dias em várias cidades e ninguém sabe por que, já que o próprio governo não padroniza as respostas.
Galinha de ouro

» Está em negociação o ovo de ouro, como estão vendo o pré-sal. É o mesmo que matar a galinha ou retirar sorvete da boca de crianças. Pré-sal é sonho. Autoridades fazem propaganda, prometendo tudo. Há gente sendo Tiradentes com o pescoço dos outros. O ovo está vendido, mas não saiu.
Mui amigo

» Hugo Chávez, ditador da Venezuela, mandou prender Osvaldo Paz, porque falou contra o governo. A informação transmitida dava conta de que Chávez mantém relações com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e faz parceria com o grupo separatista basco ETA.
Dívida

» PT deve R$ 35 milhões. O Brasil compra armas no exterior. Diz que é para proteger a Amazônia.
Eleições

» Como esteio da campanha eleitoral, Dilma Rousseff usará jatinho alugado pelo partido. Não vai viajar em voos comerciais, para evitar constrangimento. O avião já está alugado para todas as viagens da candidata à Presidência da República.
Carochinha

» Gente para falar mal do presidente Lula da Silva vai aonde não pode. Espalha notícias de que em Cuba não há violação dos direitos humanos.
Michel Temer

» O presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer, quer que o projeto ficha limpa seja votado depois de 7 de abril. Importante é colocar a votação depois da Páscoa. Enquanto a honestidade não vira lei...
Maluf em apuros

» Revoltado com decisão do promotor de Nova York, o deputado paulista Paulo Maluf diz que não cometeu crime. E não possui dinheiro no exterior. Foi condenado à prisão juntamente com o filho, agora impedido. No Brasil, a Interpol funciona. Nada mais claro do que procurar a repartição para se informar sobre o que há contra os dois.
Traficante

» Roupinol, vendedor de tóxico, morreu em luta contra a polícia. Apavorou a cidade do Rio. A população, com medo do tiroteio, se escondeu; o comércio fechou. O enterro do meliante foi acompanhado pela polícia, num verdadeiro espetáculo de força. Prender os que usam grandes fortunas no contrabando de tóxico não é fácil.
Tribunal de Contas

» Ubiratan Aguiar, jurista, poeta e ex-presidente do Tribunal de Contas da União, receberá homenagem no Ceará. Vai ser condecorado com a Comenda da Abolição, por iniciativa do governador Cid Gomes.
Haiti

» Passado o desastre, o Haiti está precisando de
US$ 350 milhões para tapar o buraco das necessidades do país e dos habitantes famintos.

História de Brasília

A Assembleia alagoana determinou dois turnos para os funcionários, mas não foi imitando o sr. Jânio Quadros, não. É que o governo nomeou tanta gente, que dá, agora, para o serviço público funcionar, ininterruptamente, durante 18 horas por dia. (Publicado em 28/2/1961)

RUY CASTRO

Rio estilo Projac

FOLHA DE SÃO PAULO - 26/03/10

RIO DE JANEIRO - Em "Casablanca", filme de 1942, em plena Segunda Guerra e com a Alemanha ainda dando de goleada, há um diálogo entre Rick, o americano pragmático e frio vivido por Humphrey Bogart, e o major Strasser, oficial nazista interpretado pelo ator alemão Conrad Veidt, aliás ardente antinazista na vida real.
Strasser sugere para Rick que os alemães não descartam uma invasão a Nova York. Rick ri e adverte: "Há certas zonas de Nova York que eu não os aconselharia a invadir...". Não diz quais são, nem precisa. Queria dizer que nem as divisões Panzer de Hitler teriam vez em algumas quebradas do Bronx contra as gangues locais.
Bem, esta é uma realidade mais ou menos corrente nas grandes cidades. Em qualquer uma haverá regiões em que pessoas de fora não deveriam se aventurar. E não precisam ser "ruas perversas", como as do Jardim Ângela, em São Paulo, ou as da periferia de Recife, Vitória ou Curitiba. Na Nova York de hoje, experimente, por exemplo, entrar no Central Park à noite e sobreviver até de manhã.
Donde o presidente Lula foi apenas rebarbativo ao dizer aos congressistas do Fórum Urbano Mundial, ora sendo realizado na zona portuária, que eles poderiam passear pelo Rio à vontade, desde que não "se embrenhassem por qualquer lugar". O que ele quis dizer era que deveriam abster-se de subir à Maré ou ao Alemão fora de horas, exceto se acompanhados por Adriano ou Vagner Love.
Na verdade, Lula não conhece o Rio, exceto como sindicalista ou político. Em tempos idos, nunca tomou café em pé na rua da Quitanda, nunca foi à praia em Copacabana, nunca viu o Flamengo no Maracanã. Hoje voa de helicóptero pela cidade, sobe e desce favelas e, cercado por aspones, se mistura ao "povo". Mas é como se fosse um Rio cenográfico, armado pelo Projac.

PAINEL DA FOLHA


Pós-poste
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SÃO PAULO - 26/03/10

Às vésperas de deixar o governo de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB) comemora pesquisa que mostra seu candidato, Antonio Anastasia, rompendo a barreira dos 20% de intenção de voto. O resultado é considerado pela campanha um "piso razoável". Estreante em eleições, o vice estava na casa de um dígito em dezembro passado. Também seu percentual de conhecimento está no patamar de 20%, enquanto o do líder da disputa, Hélio Costa (PMDB), já atingiu 80%.
No levantamento, feito pelo Vox Populi para a Fiemg, os entrevistados foram informados de que Anastasia é vice de Aécio. Diante disso, além dos 23% que declaram voto, 37% dizem que poder votar nele.


Protocolo. Ainda que tudo caminhe para Lula impor Hélio Costa como candidato único da base ao governo de Minas Gerais, o PT insistirá em apresentar um nome -Fernando Pimentel ou Patrus Ananias- após análise de pesquisas. Mesmo que apenas para retirá-lo em seguida.
Salomônica. Já escolhida pelo PT-MG, a comissão tem três aliados do ex-prefeito de BH e três do ministro do Desenvolvimento Social.
Doméstico. O governo desistiu de fazer a despedida de Dilma Rousseff com passagens por BH e Porto Alegre.
Ombudsman. O comentário de Lula ontem em Osasco sobre o estágio semiacabado dos apartamentos inaugurados fez gelar a comitiva presidencial. Em fevereiro, ele reclamou quando percebeu que casas do PAC em Goiânia não tinham acabamento.
Ela com elas. Em Tatuí, o cerimonial do evento com Lula, Dilma e José Serra fez um ajuste de última hora para incluir uma prefeita no grupo de prefeitos que subiram ao palco para receber as chaves das novas ambulâncias.
Companheiro 1. Principal corrente da Apeoesp, sindicato dos professores da rede paulista que lidera o protesto contra Serra, a Artsind (Articulação Sindical) tem entre seus integrantes Delúbio Soares, o tesoureiro do mensalão. É também a corrente da atual presidente da entidade, Maria Izabel de Azevedo Noronha.
Companheiro 2. Em agosto passado, a Apeoesp promoveu seminário que homenageou Delúbio. Em nota oficial, foi feito agradecimento "pelo seu papel na construção da história vitoriosa que o PT possui, mas também na sua contribuição para a trajetória da esquerda brasileira".
Cobertor curto 1. A inclusão de Paulo Souto (DEM) na lista de opções de vice para José Serra esbarra numa dificuldade de ordem prática: se ele não disputar o governo da Bahia, o tucano ficará sem palanque sólido no quarto colégio eleitoral do país.
Cobertor curto 2. A ideia de contar com Geddel Vieira Lima (PMDB), antes acalentada pelo PSDB, está desativada. Embora vá enfrentar Jaques Wagner (PT) na disputa pelo governo, o ministro da Integração dificilmente teria discurso para se opor à candidata presidencial de Lula.
Por que não? Na negociação para compor a chapa de Jaques Wagner como candidato ao Senado, o ex-governador Cesar Borges (PR) manifestou o desejo de se tornar ministro dos Transportes no eventual governo Dilma.
Empurrãozinho. Presidente do PT, José Eduardo Dutra desembarca hoje em São Luís para tentar articular o apoio do partido à candidatura da governadora Roseana Sarney (PMDB) à reeleição.
Noiva. O PT maranhense sofre também o assédio de Flávio Dino (PC do B). No sábado, o partido define o rumo.
Aposentadoria. Depois de anunciar que ficará no governo do Piauí até o final do ano, desistindo de disputar cadeira no Senado, Wellington Dias (PT), enviou projeto à Assembleia criando seis cargos de "segurança e apoio pessoal em favor de ex-governador", além do uso de carro oficial.
Outro lado. Bernardo Hees, presidente da concessionária ferroviária ALL, diz que não foi à CPI na Assembleia paulista por considerar que se trata de tema federal.

com SILVIO NAVARRO e LETÍCIA SANDER
Tiroteio 
A relação do PSDB com Roriz e Arruda é histórica no Distrito Federal. Pode-se esquecer as ideias de FHC, mas não os amigos que ele fez e cultiva até hoje. 

Do deputado (PT-MG), sobre a recente visita feita ao ex-presidente pelo ex-governador do DF, cujo partido (PSC) cogita aliança eleitoral com os tucanos.
Contraponto 
Baile da saudade Lula discursava ontem em cerimônia para entrega de ambulâncias no município paulista de Tatuí. Cumprimentou José Serra, prefeitos e demais autoridades presentes e então resolveu fazer piada com o presidente da Câmara:
-O Temer disse que Tatuí tinha o melhor Carnaval do interior e que o prefeito está brigando para que volte a ser bom.
A plateia aplaudiu, e Lula emendou:
-Mas eu garanto que nem o prefeito nem o Temer vão conseguir dançar como dançavam há 45 anos...

VERME PAI, VERME FILHO

WASHINGTON NOVAES


Alguns passos na área do lixo

O Estado de S.Paulo - 26/03/10

Afinal, depois de 19 anos de tramitação, a Câmara dos Deputados, em Brasília, aprovou um projeto de Política Nacional de Resíduos Sólidos. Ainda terá de passar pelo Senado. Mas contém princípios interessantes. Como o que recomenda conferir prioridade aos estímulos para as cooperativas de catadores de resíduos - que, segundo as justificativas ao texto, já contam com 800 mil pessoas no País. Também dá preferência a materiais reciclados em compras da administração pública; aprova a chamada logística reversa, em que os responsáveis pelas embalagens devem ser responsabilizados pelo retorno dos resíduos nas áreas dos agrotóxicos, pilhas, baterias, lâmpadas, pneus; define que a responsabilidade pelos resíduos deve ser compartilhada por governos, empresas e sociedade. Tudo para contemplar os objetivos centrais da política, que são a redução dos resíduos, sua reutilização e - caso impossíveis - sua reciclagem. A deposição em aterros deve ser a opção final, pois só recomenda a incineração caso não haja outra possibilidade. E será proibida a catação de lixo em aterros.

São, todos eles, princípios interessantes. Mas, além de ainda terem de passar pelo Senado, não criam instrumentos práticos para enfrentar a gravíssima questão dos resíduos no País, principalmente para eliminar os lixões a céu aberto, que ainda recebem mais de metade dos resíduos totais. O projeto recomenda que se criem consórcios intermunicipais para isso e que eles tenham prioridade para receber recursos federais. Além disso, os municípios terão de fazer planos de gestão integrada de resíduos sólidos e estabelecer metas para a coleta seletiva. Paralelamente, o setor empresarial deverá "gerenciar seus resíduos", especialmente criar pontos para receber de volta resíduos problemáticos e/ou perigosos, como pilhas, baterias, lâmpadas fluorescentes, pneus, produtos eletrônicos, além de embalagens. Resíduos do saneamento, industriais, de serviços de saúde, da mineração, de empresas de construção e resíduos perigosos obrigarão os respectivos responsáveis a fazer planos de gerenciamento.

São avanços condicionados a que os princípios sejam seguidos por planos em cada Estado, em cada município, em cada setor. E que haja recursos financeiros para enfrentar a situação dramática nesse setor. Porque estamos hoje com uma realidade de cerca de 1,5 quilo de lixo domiciliar por dia por habitante e os 3.639 lixões recebendo 55 milhões de toneladas de resíduos por ano (no País, são 703 aterros adequados e 899 "controlados"). Todas as capitais mais populosas estão com seus aterros esgotados; 25 mil famílias moram em lixões. E os municípios gastam alguns bilhões de reais a cada ano, com a coleta e a deposição dos resíduos, com serviços próprios ou de terceiros (que recebem entre R$ 30 e R$ 60 por tonelada). As licitações para serviços nessa área são apontadas como um dos caminhos mais frequentes para doações ilegais nas campanhas eleitorais.

E tudo isso é um enorme desperdício, como já se escreveu aqui tantas vezes. O setor deveria, ao contrário, transformar-se em grande gerador de trabalho e renda para setores desfavorecidos. Para isso o melhor caminho é o das cooperativas de catadores. Mas ele precisa avançar, com o poder público financiando a construção e implantação de usinas de reciclagem (a reciclagem em usinas públicas não passa de 1% do total), a compra de equipamentos de coleta. Por aí é possível - como já o demonstrou em outros tempos, quando teve mais apoio, o Núcleo Industrial da Reciclagem, de Goiânia - reduzir em até 80% a deposição de resíduos em aterros. Compostando todo o lixo orgânico para transformá-lo em fertilizantes para jardins, recomposição de encostas, etc.; transformando todo o papel e papelão em telhas revestidas de betume, que substituem com muitas vantagens as de amianto; reciclando todo o PVC e transformando-o em mangueiras pretas ou pellets para empresas que os utilizam como matéria-prima; prensando latas e moendo vidros para recicladoras. E, last but not least, gerando trabalho e renda para pessoas com pouca educação formal. Sem perigo de desperdiçar o investimento, pois a cessão às cooperativas deve ser feita pelo regime de comodato renovável periodicamente.

Por caminhos como esse é possível reduzir fortemente os investimentos multimilionários necessários para novos aterros. E cidades como São Paulo geram mais de 12 mil toneladas diárias de resíduos. Também por aí é possível reduzir muito o desperdício mostrado em estudo da Unesp (Sorocaba) com o lixo de Indaiatuba (125 mil habitantes), onde 91% dos 135 mil quilos de resíduos levados para o aterro a cada dia seriam reutilizáveis ou recicláveis.

Há ainda um ponto do projeto aprovado pela Câmara que precisa ser destacado - pela mesma razão, desperdício: o caminho da incineração só deve ser tomado em último caso. Além de caro, o método tem uma contradição insuperável, já enfrentada por vários países europeus: se o objetivo principal de uma boa política para o lixo deve ser reduzir a produção, como se fará com usinas incineradoras, que exigem, no mínimo, a manutenção da quantidade produzida - principalmente se forem utilizadas para gerar energia? Sem falar nos altos custos, já que a incineração de materiais orgânicos exige altíssimas temperaturas, para evitar a liberação de agentes cancerígenos.

Hoje estamos desperdiçando (estudos do Cempre, IBGE e WWF) mais de metade do vidro, papel e papelão, embalagens de PET e plásticos levados ao lixo, além de mais de 70% das embalagens longa vida. A recente decisão do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) de simplificar as regras para licenciamento de aterros que recebam até 20 toneladas diárias pode ajudar também nos municípios com até 30 mil habitantes. Mas não resolve, sozinha. Será preciso apressar a tramitação no Senado do projeto aprovado na Câmara. E criar os instrumentos práticos para concretizar as decisões.

DORA KRAMER


Propaganda enganosa 
O Estado de S.Paulo - 26/03/2010

Cenografia eleitoral não é prerrogativa dos candidatos às eleições de outubro com estruturas dos Poderes Executivos à disposição. Elas são apenas mais evidentes. Os deputados federais usam a Câmara do mesmo jeito, com a vantagem de nem precisar deixar seus mandatos para isso e ainda ficar imunes a críticas.


É o crime perfeito. Ou haverá outra razão que não a proximidade da eleição para a Câmara dos Deputados incluir agora em sua pauta de votações propostas moralizadoras para as quais não deu a menor bola durante toda a legislatura?

Qual outro motivo faria a Câmara, que nenhuma providência tomou contra a farra das passagens aéreas, sugerir de repente, não mais que de repente, normas mais rígidas para o Conselho de Ética da Casa, um colegiado que outro dia mesmo se lixou para a opinião pública? Só a proximidade das eleições.

A questão dos chamados fichas-sujas é típica. A discussão foi levantada antes da eleição municipal de 2008. Não se conseguiu estabelecer nenhum impedimento nem mesmo que os candidatos, antes tão interessados em debater o assunto, levassem o tema a debate durante a campanha.

Passadas as eleições, em 2009 foi apresentada uma emenda popular com 1,6 milhão de assinaturas, que a Câmara simplesmente ignorou. Apenas neste ano foram realizadas audiências públicas e, mediante muita insistência e meia dúzia de deputados, o presidente Michel Temer concordou em marcar o início da votação para o dia 7 de abril.

Naquela data serão consultados os líderes dos partidos. Depois disso, haverá consultas às bancadas. Aí, então, votação em plenário. Tudo correndo nos conformes, o mês de abril, concluiu-se o processo. Em maio, a emenda vai para o Senado. Óbvio que um assunto dessa natureza não passará sem alterações.

Portanto, voltará à Câmara. Em junho, os partidos estarão ocupados com as convenções para escolha de candidatos a presidente, governadores, deputados e senadores. Em julho, recesso parlamentar e Copa do Mundo. Em agosto, começa a campanha e dificilmente alguém aparecerá em Brasília para votar coisa alguma.

É de se perguntar: se a proposta estava no Congresso desde o ano passado por que dar andamento a ela em cima da hora? Só pode ser por estratégia. Porque não dá tempo. Porque ninguém quer aprovar, mas todos querem faturar as boas intenções.

O mesmo ocorre com as mudanças "rigorosas" nas regras do Conselho de Ética. Em 2009, a Câmara viveu o ano inteiro em crise, do começo ao fim. Nada fez a não ser celebrar o compadrio, desmoralizar o decoro, livrar todos os que estiveram implicados em complicações de natureza ética.

Às vésperas das eleições, faltando três meses para o início da campanha propriamente dita, é que suas excelências acharam por bem dar uma satisfação à opinião pública.

Deveriam ter pensado nisso antes e dedicado ao menos parte dos quatro anos de mandato aos bons combates. De preferência de interesse coletivo.

Agora é tarde. A sorte está lançada. Pode ser que seja tudo como dantes e a lassidão prevaleça. Ou pode ser que não, que desta vez quem se lixe seja a opinião pública, cansada de se deixar enganar.

Panaceia. O fato de o deputado Ciro Gomes não ser o inventor não o desqualifica como porta-voz da recorrente proposta de um governo de coalizão entre PT e PSDB. A intenção é das melhores. O problema é a suposição de que os dois partidos detenham o monopólio da decência e que nos outros grasse a safadeza, sem exceções.

A história atesta o oposto, e supor diferente é fazer aliança com o equívoco. Homens e mulheres de bem e do mal, óbvio, há em toda parte.

Basta ver como se imaginava que os civis uma vez assumindo o poder com a redemocratização, reorganizado institucionalmente o País mediante a Assembleia Nacional Constituinte tudo estaria resolvido.

Mal sabíamos que conquistávamos a democracia, mas era preciso saber o que fazer com ela.

Assim é com a relação governo-partidos-sociedade. Não basta juntar os que nos parecem mais distintos e achar que está tudo resolvido porque não está.

MERVAL PEREIRA


Fio tênue
O GLOBO - 26/03/10

A midiatização da política está levando não apenas a que as qualidades de um candidato sejam medidas mais pela sua capacidade de comunicação com o eleitor do que por suas propostas.

A política vivenciada como espetáculo faz com que um presidente como Lula transformese em um eterno candidato, mesmo quando já não pode mais se candidatar.

Se não sai dos palanques, se sua prioridade do último ano de mandato é eleger sua sucessora, a agenda governamental transforma-se em uma maratona de inaugurações, mesmo que as obras estejam inacabadas. Essa maneira de fazer política exclui o debate, afasta também a possibilidade de entendimentos com adversários para políticas de Estado.

A política transforma-se em uma permanente disputa corpo a corpo, “nós contra eles”, num espírito de pelada que não contribui para o desenvolvimento da cidadania.

O problema é que políticos como Lula querem tornar o que é eventual em permanente, negando a validade de uma das pilastras da democracia, a alternância de poder.

E ele não se contenta com pouco. Tem uma popularidade que causa inveja aos políticos de todas as partes do mundo, mas quer a unanimidade.

Quando outro dia mais uma vez queixou-se da imprensa, ele simplesmente disse que os jornalistas que o criticam deveriam olhar as pesquisas de opinião para constatarem que estão indo de encontro à opinião de 83% da população brasileira.

Este é um raciocínio perigoso para um chefe de governo que se diz um democrata convicto. É como se pensar diferente da maioria estivesse proibido, como na prática está proibido na Venezuela, país que segundo Lula tem “democracia até demais”.

Ontem, Guillermo Zuloaga, presidente da rede de TV venezuelana de oposição Globovisión, foi impedido de sair do país devido a uma denúncia de um deputado governista que o acusa de ter dado “declarações desrespeitosas e ofensivas contra o chefe de Estado”.

A prisão de Zuloaga se soma a do político oposicionista Oswaldo Álvarez Paz, preso após uma entrevista à mesma Globovisión, em que comentava uma investigação realizada na Espanha que liga a Venezuela a grupos que apoiam o narcotráfico, como as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), e o grupo separatista basco ETA.

Há nesses constantes embates entre governos, democráticos ou não, com a chamada mídia, questões distintas.

Uma é permanente em políticos, seja de que tendência for, que querem ver seus feitos glorificados.

O presidente Lula reclama que a imprensa tem “predileção pela desgraça” e “não quer escrever a coisa certa e escreve a coisa errada”. Nesse caso, “escrever a coisa errada” é criticar o governo em vez de elogiá-lo.

Mas essa reclamação “até de notícia boa” não é privilégio de Lula. O governador paulista José Serra tem essa fama entre os jornalistas, e ele veio em socorro a Lula repetir o discurso do presidente contra a imprensa.

Assim como Lula acha que a grande imprensa é dominada por uma conspiração contra seu governo, Serra também acha que a Ptpress domina a imprensa, e ontem se queixou de que não faz reportagens sobre suas realizações e obras.

Lula inaugurou duas mil casas e “não saiu uma linha”.

Serra inaugurou um centro de reabilitação para doentes mentais, e, segundo ele, ninguém da imprensa ligou.

O próprio presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, vem tendo uma confrontação quase permanente com o canal Fox, de propriedade do magnata da mídia Rupert Murdoch e de tendência conservadora.

Obama acusa a Fox de se dedicar totalmente a atacar seu governo, sem exibir nenhuma reportagem positiva sobre sua gestão.

São reações naturais de políticos que seguem a tradição de não separar notícia da propaganda. Tudo o que os governantes querem que seja publicado é propaganda.

O resto é notícia.

Outra questão mais séria é quando os governos tentam controlar a informação, cerceando a liberdade de expressão. O caso da Venezuela é o mais grave entre todos, pois o país ainda não é uma ditadura formalizada e tenta manter uma aparência de democracia.

Enquanto o governo brasileiro se contentar em criticar a “mídia” dia sim outro também, estará tensionando o ambiente democrático do país, e incentivando atitudes mais radicais contra os meios de comunicação por parte de seguidores menos equilibrados, ou daqueles que, dentro do governo, tentam impor limitações à liberdade de imprensa.

Esse é o limite que o governo tem que resguardar, se não consegue respeitar o direito à informação como um valor em si.

Mas as constantes tentativas de “controle social” dos meios de comunicação, surgidas desde o primeiro ano de governo com o Conselho Nacional de Jornalismo, e repetidas em diversas ocasiões desde então, demonstram que Lula é mais do que simplesmente um ranzinza em busca de elogios unânimes.

Ele não entende a liberdade de expressão como um valor democrático, como por exemplo, Thomas Jefferson, autor do seguinte depoimento: “Se me coubesse decidir se deveríamos ter um governo sem jornais ou jornais sem um governo, não hesitaria um momento em preferir a última solução”.

A necessidade de a imprensa ocupar um lugar antagônico ao governo foi percebida com clareza pelos fundadores dos Estados Unidos, e por isso tornaram a liberdade de imprensa a primeira garantia da Carta de Direitos.

“Sem liberdade de imprensa, sabiam, as outras liberdades desmoronariam.

Porque o governo, devido à sua própria natureza, tende à opressão. E o governo, sem um cão de guarda, logo passa a oprimir o povo a que deve servir”, explicou o famoso jornalista americano Jack Anderson.

Entre a reclamação dos governantes e a tentativa de controle da informação está o tênue fio que sustenta a democracia.

JOÃO MELLÃO NETO


Quem vai ser presidente?
O ESTADO DE SÃO PAULO - 26/03/10

Estou começando a achar que eu dou não dou sorte. Na primeira vez, por volta de um ano atrás, que critiquei, neste Espaço Aberto, a dona Dilma Rousseff, candidata do Partido dos Trabalhadores à Presidência da República, ela, segundo as pesquisas, contava com apenas 3% da preferência popular. Também não era para menos. Se Nosso Senhor a investiu de grandes predicados - como assevera o presidente Luiz Inácio Lula da Silva -, com certeza foi mais frugal nos encantos.

Passaram-se alguns meses e eis que dona Dilma abriu mão de algumas de suas arraigadas convicções feministas - em especial, aquela que prega que os cuidados de beleza femininos representariam uma subserviente e inaceitável concessão ao machismo.

Dona Dilma é surpreendente. Eis que, num certo dia, ela literalmente se transformou. Não chegou a ficar, por assim dizer, exatamente bela, é verdade, mas aproximou-se o possível disso: emagreceu visivelmente, passou por um "extreme makeover", notadamente no rosto, trocou os pesados óculos por lentes de contato, mudou o penteado - agora com o cabelo mais curto e tingido - e se apresentou, leve e brejeira, trajando roupas mais modernas, joviais e descontraídas. Deixou de parecer a vovó irascível que ninguém gostaria de ter. Passou a aparentar mais, digamos, algo como uma tia mais velha... que todos tolerariam possuir. Mas o mais importante é que, pela primeira vez desde que apareceu na vida pública, ela finalmente se dispôs a sorrir. No início, com uma certa dificuldade - afinal, passava a acionar músculos faciais que anteriormente jamais saíam da posição de repouso. Depois tomou gosto pela coisa: hoje ela se entrega a generosas risadas, até mesmo quando recebe notícias tristes.

Dona Dilma é uma mulher que tem método, autodisciplina e obstinação. São qualidades essenciais para uma eficiente guerrilheira; são também atributos que ela entende como indispensáveis a uma pleiteante à Presidência do País.

O fato é que dona Dilma, antes sempre gelada, austera e reservada, de repente mudou. Hoje, esforçadamente, ela se mistura no meio da massa popular, troca beijos, cumprimenta várias vezes as mesmas pessoas - e há quem jure que a viu abraçar até poste...

"Tudo pelo povo, tudo para o povo - mas precisa ser tudo com o povo?", certamente há de pensar consigo mesma. "Paciência. Depois de eleita, mando cercar o palácio com um fosso de jacarés...", talvez pondere.

Pois essa é a nova dona Dilma - que, se eleita, previsivelmente há de implantar no Brasil um governo esquerdista de cunho populista e autoritário.

Para enfrentá-la já se apresentaram a verde Marina Silva, o incansável Ciro Gomes e o ex-mal-humorado José Serra.

É praticamente impossível antecipar o que acontecerá durante uma campanha política presidencial. Mal comparando, trata-se de um evento que guarda alguma semelhança com uma corrida de Fórmula 1. Os concorrentes são todos extremamente talentosos e bem preparados; suas equipes são compostas pelos melhores e mais experimentados especialistas do ramo. Recursos não faltam para incrementar o desempenho. Tudo é minuciosamente visto e revisto para que não ocorra nenhuma surpresa desagradável depois que for dada a largada. Os disputantes sabem, de antemão, que qualquer erro ou falha poderá ser fatal. E para que tal não ocorra assistem a vídeos para avaliar os acertos e erros dos demais concorrentes.

Ninguém pode falhar. Uma frase ou expressão infeliz ou mal colocada será, com certeza enfatizada e explorada pelos adversários e tem potencial, no limite, de inviabilizar uma promissora candidatura.

Quais são os prognósticos? Isso é mais difícil do que fazer previsões meteorológicas.

Com base nos resultados das eleições presidenciais anteriores, levando-se em conta a extraordinária popularidade alcançada pelo presidente Lula, computando a seu favor os programas sociais de grande apelo eleitoral - como é o caso do Bolsa-Família - e também as habilidades e limitações de cada um dos candidatos, pode-se prever - ceteris paribus - o seguinte.

Se concorrerem, Marina Silva e Ciro Gomes alcançarão, no máximo, 10% dos votos cada um. Marina tira votos que seriam destinados a Dilma Rousseff e Ciro desvia votos que seriam, preferencialmente, de José Serra.

Se haverá segundo turno ou não, isso vai depender da continuação, na disputa, desses dois candidatos citados.

José Serra terá, com certeza, votação maior que a de Dilma nos Estados de São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul, Goiás e Santa Catarina. Dilma, é certo, será mais votada do que Serra em todos os Estados das Regiões Norte e Nordeste e na maior parte da Centro-Oeste.

O Rio Grande do Sul e o Rio de Janeiro deverão ficar com Dilma; Minas Gerais e Espírito Santo representam as incógnitas no processo. Se Aécio Neves não for constrangido pelo PSDB a ser candidato a vice-presidente na chapa de Serra, o mais provável é que deixe a campanha presidencial correr, em Minas, espontaneamente. Suas maiores preocupações, no momento são eleger-se senador com votação inédita e eleger o seu atual vice, Antonio Augusto Anastasia, para o governo mineiro.

Aécio mantém boas relações tanto com o tucanato como com Lula, Dilma e o PT. Aos 50 anos de idade, ainda lhe restam, teoricamente, 20 anos para poder disputar a Presidência com chances de vitória. Por que haveria de pôr todo esse cacife a perder agora? Por amor a Serra? É improvável...

É assim que se apresentam os candidatos, agora. Boa sorte para o Brasil.

Dilma, não! O que você acha da Dilma presidente

JAPA GOSTOSA

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Falta luz 

O Estado de S.Paulo - 26/03/2010

Belo Monte pode viver seu dia de Cesp. O que significa isto? Que Lula pode sentir na pele o mesmo drama de Serra, que não conseguiu vender a estatal paulista por falta de interessados. O governo pediu que as propostas pela construção de Belo Monte fossem apresentadas até hoje. E, pelo que se apurou até o fim da tarde de ontem, nenhum dos dois grupos estaria se preparando para tanto, por discordar das regras. Nem o da Camargo Corrêa, Odebrecht, CPFL e Braskem, nem o da Andrade Gutierrez, Vale e Votorantim.
E tampouco teria dado certo a tentativa do governo de incentivar o Grupo Suez a se tornar um terceiro player.

Falta luz 2

Se o Ministério de Minas e Energia voltar atrás e modificar o edital lançado há dez dias, vai ficar desacreditado. Se não o fizer, ficará sem leilão. A saída? Negociar o futuro. A noite em Brasília, ontem, deve ter sido longa...

Na bica

Depois da scooter, vem aí a moto elétrica de alta potência.
Desenvolvida pela Kasinski.

Cobra no ninho

Sorte ou azar do Irã? Laércio Antônio Vinhas, especialista em segurança nuclear da CNEN, será exportado por cinco anos. Entrou no time fiscalizador da Agência Internacional de Energia Nuclear.
Ele só fala nisso há... 45 anos.

Calhambeque

Descoberto: custou US$ 9 milhões o Learjet 40 da Bombardier que Roberto Carlos comprou. E voa a 860 km por hora - bem mais que o "calhambeque" dos anos 60.
Davids decolam sem Golias Recebidos os slots da Anac para Congonhas, as aéreas menores se definiram. A NHT pediu rota para Curitiba, a Azul para Porto Seguro e a Webjet para Porto Alegre, Porto Seguro e Rio.


Follow the money

Estrela de Wall Street por 30 anos, Jon Corzine volta ao mercado, via MF Global, depois de passar pelo Senado e o governo de Nova Jersey.
Vai refazer caixa? Só na campanha para senador ele tirou do bolso... US$ 60 milhões.

JOSÉ SIMÃO


Páscoa! A volta do túnel de ovo!
FOLHA DE SÃO PAULO - 26/03/10

E os textos do Bial? Parece texto chinês de cabeça para baixo! Ninguém entende!


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta! Olha esse anúncio no classificado de sexo: "Não sei fazer nada, mas faço de tudo". Rarará!
Socuerro! A volta do túnel de ovo! Alguém já foi ao supermercado esses dias? Só tem ovo de Páscoa! É tanto ovo pendurado no teto que a gente tem que fazer compra de quatro. Sabão em pó? Não tem. Tem ovo. Desodorante? Não tem. Tem ovo. Túnel de ovo. E com a eterna placa: "Favor não apertar os ovos". Aiiiiiii. Só de ler, senti dor! Custa escrever "de Páscoa"? Favor não apertar os ovos VÍRGULA de Páscoa!
E os textos do Bial? Parece um texto chinês de cabeça pra baixo! Ninguém entende nada. Eu vou escrever a BIALGRAFIA do Bial intitulada "OI, BIAL!". E diz que o Bial vai entrar pra Academia Brasileira de Letras apoiado pela Ana Maria Braga e o Louro José. Rarará!
E a Nair Bello do Twitter disse que uma menina de 14 anos falou pra ela no elevador que os amigos torcem pelo Dourado porque têm medo de serem chamados de gays! No comments. Os aburrescentes!
E socuerro! Eu não consigo me livrar do Sarney. "Suíça bloqueia conta de filho de Sarney." Todo mundo no Brasil é filho do Sarney. Quem não é filho do Sarney é porque não fez exame de DNA. Rarará! Sarney, o Morimbundo de Fogo.
Tem gente que só se conhece pela televisão. Desde menino que eu vejo o Sarney na televisão. Aí, a gente vê o Sarney envelhecer pela televisão. O Sarney envelheceu pela televisão! A gente cria apego. Rarará! O Maluf e o Sarney vão ser indiciados por formação de família!
E olha a placa num bordel em Canaã, no Pará: "É proibido entrar mulher particular". E a frase masculinista do dia: "Casamento é um workshop, enquanto um work, a outra shop". Rarará! É mole? É mole, mas sobe! Ou como disse aquele outro: é mole, mas trisca pra ver o que acontece! Duro, mas desce!
Antitucanês Reloaded, a Missão. Continuo com a minha heroica e mesopotâmica campanha Morte ao Tucanês. É que em Pedra do Guaratiba, no Rio, tem uma loja de construção chamada Primeira Loja Bicha Louca! Ueba! Então vai ter uma rede Bicha Louca! Rarará! Mais direto, impossível. Viva o antitucanês! Viva o Brasil!
E atenção! Cartilha do Lula. O Orélio do Lula. Mais um verbete pro óbvio lulante. "Condoído": companheiro depois do exame de próstata. Rarará! O lulês é mais fácil que o ingrêis. Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje só amanhã. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

ANCELMO GÓIS

Saravá Mãe Beata!  

O Globo - 26/03/2010



Haroldo Costa, o produtor, diretor, ator, escritor e batalhador da cultura brasileira, prepara uma biografia de Mãe Beata de Iemanjá, a badalada ialorixá do Rio, para a Editora Garamond.
Sai ainda este ano pela coleção “Personalidades Negras”.

Fim dos carimbos
Desde 10 de fevereiro, os Correios aboliram carimbos em cartas e pacotes registrados.
Há quem ache que a intenção seja dificultar a vida de quem reclama de atraso na entrega.
É que o carimbo trazia a data da postagem, prova inconteste em eventuais reclamações — inclusive, na Justiça.

Mas...
Os Correios negam, claro.
Dizem que um estudo descartou a necessidade de carimbar correspondência registrada.
É que, pelo número do registro, já é possível obter no site da empresa ou na Central de Atendimento ao Cliente todas as informações (agência, data de postagem etc.). É. Pode ser.

Air Ivete
Quatro aviões da TAM serão personalizados com o nome de Ivete Sangalo, em setembro.
Vão levar passageiros, em voos charter, para um grande show da cantora baiana, com gravação de CD, no Madison Square Garden, em Nova York.

Big Bob
A BFFC, holding do Bob’s e gestora no Brasil das marcas KFC, Doggis e Pizza Hut, deve abrir até o fim do ano cerca de 200 lojas das quatro marcas.
Hoje, são 684 do Bob’s, 15 da Pizza Hut, 12 da KFC e cinco da Doggis.

Planeta água
A Vale decidiu que dois terços da água necessária para o funcionamento de sua nova usina no Espírito Santo, Companhia Siderúrgica Ubu, virão do mar.
A obra, que deve ficar pronta em 2014, custará US$ 6 bi.

DEPOIS DE DOIS anos de quarentena, longe dos palcos e dos estúdios, Sandy, a cantora, vai retomar a carreira. A bela lançará em maio o primeiro CD solo de seus 27 anos de idade e 20 de estrada. Desde o fim da dupla com o irmão, Júnior, Sandy se casou, deixou de lado a vida profissional e começou a compor. “Manuscrito”, nome do disco que sairá pela Universal, mostrará esta produção.
Há até parcerias com o marido, Lucas Lima. “É um disco muito meu, botei a mão em todas as etapas, das composições ao projeto gráfico”, diz. O repertório é metade intimista, metade pop.
“É como meu primeiro filho.” Que seja feliz

A luta continua
Semana que vem, o ministro Temporão se reúne com Nelson Arns, o filho de Zilda Arns que assumiu o lugar da mãe, morta no terremoto no Haiti, como coordenador internacional da Pastoral da Criança.
A ideia é retomar o trabalho da Pastoral no Haiti.

Haiti que segue...
Aliás, hoje, o ministro voa para Porto Príncipe, com escala em Havana, onde tratará de uma parceria com Cuba para ajudar na reconstrução do Haiti.
É prevista a construção lá de dez espécies de UPAs, as Unidades de Pronto-Atendimento que existem no Rio.

Real nas alturas
A “Capital”, revistona de economia alemã, publicou esta semana artigo em que prevê a entrada de duas moedas no mercado como reserva para intercâmbio comercial.
Uma é o won, da Coreia do Sul. A outra, o... real.

ZONA FRANCA
O autor da ação contra o prédio que a Brascan deseja construir em São Conrado é o deputado Otavio Leite.
Sereno da Madrugada, de Fernando Temporão, toca hoje no Democráticos.
Ex-alunos da UFRJ homenageiam Heloisa Buarque de Hollanda, dia 31.
Leslie Aloan é o mais novo membro da Academia Fluminense de Medicina.
Hebraica-Rio homenageará Marília Pêra, Maria Bethânia e outras mulheres, em sua sede, sábado à noite.
Pedro Kastrup Buzanovisky assinou o projeto da nova Skunk em Niterói.
O “Guiness” estará na maior aula do mundo de Krav Maga, em Copacabana, dada pelo mestre Kobi Lichtenstein.
Pax chegou ao fim do Leblon.
Zé Renato faz show de voz e violão, hoje e amanhã, na Lapinha.

DP grampeada
Segunda à tarde, foi apreendido um aparelho de escuta de ambiente no forro da Delegacia de Repressão ao Tráfico de Armas, na Praça Mauá, no Rio.
O equipamento, miúdo, é menor do que um celular e pouco maior do que uma caixa de fósforos.

O ‘gato’ e as gatas
Uma administradora de empresas do Rio, inconformada com o fim de seu relacionamento com uma publicitária, denunciou a ex por... furto de energia.
A Light foi lá, constatou o “gato” e chamou a polícia, que prendeu a publicitária em flagrante.

Mas...
A 1ª Câmara Criminal do Rio considerou que não havia provas da autoria e inocentou a publicitária.
O “gato”, na verdade, teria sido instalado pela administradora sem o conhecimento da companheira, dona do imóvel.

Padre verde na PUC
O padre Jesus Hortal, reitor da PUC-Rio desde 1995, deixará o posto agora em abril.
Em seu lugar, assumirá o também jesuíta Josafá Carlos de Siqueira, atual vice-reitor.
Ambientalista, padre Josafá criou um jardim de plantas bíblicas no campus, na Gávea.

Maldade
Tem gaiato, certamente da torcida arcoiacute;ris, sugerindo a Sérgio Cabral que a próxima Unidade de Polícia Pacificadora seja na... sede do Flamengo.
É que uma turma de craques do clube (Adriano, Vagner Love, Willians, Bruno...) volta e meia se mete em confusão.

MARIANA XIMENES, coisa linda, exibe o visual que usará no filme “Quincas Berro D’Água”, de Sérgio Machado, inspirado na obra de Jorge Amado, no qual viverá Vanda, filha do protagonista

IRMÃ DA personagem de Taís Araújo na novela “Viver a vida”, Aparecida Petrowski veste a camisa do Rio na luta pelos royalties e ajuda a divulgar o abaixoassinado contra a Emenda Ibsen

PONTO FINAL

No mais
Eu apoio a criação da página www.eunão-assisto-ao-circo-macabro-do-julgamento-do-caso-nardoni.com.br.

ELIANE CANTANHÊDE


O totem da impunidade
FOLHA DE SÃO PAULO - 26/03/10


BRASÍLIA - Justiça se faça aos maus políticos brasileiros: eles não são nada modestos. Afora o Severino Cavalcanti, escorraçado da presidência da Câmara porque recebia propina de, sei lá, uns R$ 2 mil por mês do restaurante, os encrencados não querem saber de merreca.
Vejamos o deputado, ex-prefeito e ex-governador Paulo Maluf. Numa única conta no exterior, no Safra National Bank da 5ª Avenida de Nova York, ele tinha US$ 11,7 milhões em depósitos de 1998, justamente, ora, ora, quando era prefeito de São Paulo e tocava a obra da então avenida Água Espraiada. Vejamos agora o empresário Fernando Sarney, que vem de uma das mais conhecidas famílias políticas brasileiras. Só numa das suas aparentemente muitas contas no exterior, a da plácida e liberal Suíça, ele tinha US$ 13 milhões.
Maluf vive às voltas com a Justiça e as suspeitas no Brasil há três décadas, e não acontece nada. Faltou combinar com a Interpol, que o colocou na sua "lista vermelha" de procurados mundo afora. Significa que Maluf pode circular à vontade e em grande estilo no Brasil, mas não pode botar os pés em 181 outros países. O risco é ir em cana.
Os Sarney mandam no Maranhão lá se vão uns 50 anos. O resultado é o pior IDH e os piores desempenhos de alunos em matemática e em português do país, mas Lula se atirou de cabeça na operação para manter o patriarca na presidência do Senado. Faltou combinar com a PF, a Justiça e o governo suíço -que bloqueou a conta milionária e ilegal justamente quando ela tentava voar sorrateiramente para o paraíso fiscal de Liechtenstein.
Você imagina o que sejam US$ 11,7 milhões ou US$ 13 milhões? Seriam fundamentais para milhares de vidas brasileiras, mas uma pessoa ou uma família não conseguem sequer gastar em gerações. São como um totem, o totem dinheiro, com tudo o que atrai de poder, de endeusamento.
Ou seja: um desvio patológico alimentado pela impunidade.

CLÁUDIO HUMBERTO

“Vou trazer a conta para vocês... Eu vou cobrar”
LULA AMEAÇANDO TRANSFERIR AO ELEITOR AS MULTAS POR CAMPANHA ANTECIPADA DE DILMA


FRANÇA CONCEDE ASILO A IRMÃO DE CELSO DANIEL
Apesar da gentileza aparente, pela venda bilionária de aviões-caça ao Brasil, é ruim a reputação do governo Lula junto ao governo francês, que oficialmente concedeu asilo político a Bruno Daniel, irmão do prefeito assassinado de Santo André (SP) Celso Daniel, a sua mulher Marilena Nakano e três filhos. O governo Lula nunca se empenhou pelo esclarecimento do crime. Suspeita-se do envolvimento de petistas.


IMPUNIDADE
Suposto mandante da morte de Celso Daniel, Sérgio “Sombra” está solto. E oito testemunhas do crime já foram assassinadas.


SOB VIGILÂNCIA
Bruno Daniel já esteve refugiado na França entre março de 2006 e agosto de 2008, quando era vigiado por arapongas brasileiros.


PORTO SEGURO
A França tem tradição na concessão de asilos políticos, que incluem até o pagamento de pensão.


PERGUNTA SECRETA
Depois de Paulo Maluf, agora é Fernando Sarney que também não tem conta na Suíça?


WAGNER OFICIALIZA CUNHADO EM SUA ASSESSORIA 
Agora é oficial: servidor do Tribunal de Justiça da Bahia, Francisco Mendonça foi colocado à disposição do gabinete do cunhado, o governador Jaques Wagner (PT), de quem já era assessor informal. O ato da presidente do TJ-BA, desembargadora Telma Brito, foi publicado na edição do “Diário da Justiça” em que ela se queixa da carência de pessoal para suspender benefícios de servidores, como licença-prêmio.


OPERAR É COM ELE 
Ignora-se a profissão de “Mendoncinha”, o buliçoso cunhado de Jaques Wagner, mas deve ser cirurgião: ele tem fama de “grande operador”.


ELE É CARIOCA 
A CIA foi desmoralizada no Rio. Um tal Bin Laden, quem diria, acabou (preso) em Bangu. Seria o gerente do tráfico de drogas na Zona Oeste. 


GREVE NA PF
À espera da recomposição salarial prometida há um ano, a PF entra em greve dia 14, parando investigações, fiscalização, etc.


CREDIBILIDADE RECONHECIDA
Pesquisa da FSB Comunicação revela pela terceira vez que esta é a coluna de notas preferida da maioria absoluta do Congresso (52%). Só na Câmara, é leitura regular de uma “bancada” de 255 deputados. “Dá pra aprovar lei complementar”, brinca Gustavo Krieger, diretor da FSB.


RICO CABIDE 
No Tocantins, o governador Carlos Henrique Gaguim (PMDB) vai criar o Tribunal de Contas dos Municípios. O presidente da OAB-TO, Ercilio Bezerra, está revoltado: serão R$ 30 milhões por ano só em salários.


KINDER OVO
O líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), garantiu que será votada em até 20 dias a MP reajustando as aposentadorias com mais um mínimo. Primeiro de abril se aproxima.


A FAMOSA QUEM?
Receoso da Justiça Eleitoral, Lula vai evitar citar a ministra-candidata Dilma nas “inaugurações” e afins. Sugestão: elogiar Estela, Luísa ou Vanda, codinomes da ex-guerrilheira do Colina e Var-Palmares. 


FALTAM NOMES
Só se pode disputar a eleição indireta de governador do DF com o referendo do partido, por isso o DEM pode ficar de fora: o interventor, senador Marco Maciel (PE), não escolheu os dirigentes. Ele espera concluir logo o trabalho, mas ignora qualquer candidatura do partido.


LULA, O BRINCALHÃO
O presidente brinca tanto, mas tanto na retórica, que ironizou ontem até o Tribunal Superior Eleitoral, empurrando para o povo a possível multa por citar a candidata Dilma. Pensando bem, ele e o TSE se merecem.


BUROCRACIA ENJAULADA
Em Brasília, policiais da 6ª DP apreenderam 70 pássaros engaiolados, alguns em extinção. O delegado Miguel Lucena pediu que o Ibama os recolhesse, mas a chefe de fiscalização exigiu um ofício protocolado. Após dois dias em meio a muito alpiste, o delegado deve soltá-los hoje.


BRECHOLÂNDIA 
Tem tudo para ser sucesso a recém-inaugurada lojinha de souvenir da Câmara dos Deputados. Seria estrondoso se vendesse memorabilia de escândalos como a meia de um, a maleta do outro, agenda, vibrador...


PENSANDO BEM...
...Agora na Câmara, está todo mundo “de olho na butique dela”, como diz aquela música.


PODER SEM PUDOR 
O NARIZ DE TANCREDO?
O falecido Maurício Fruet adorava atormentar os amigos, pregando-lhes peças. Prefeito de Curitiba, convidou a cúpula do seu partido, o PMDB, para inaugurar uma estátua de Tancredo Neves. Minutos antes, chamou Ulysses Guimarães, apontou para as nuvens carregadas e disse, com ar grave:
– Roubaram o nariz de Tancredo, logo o nariz, tão característico dele...
– E agora, o que você vai fazer? – perguntou Ulysses, olhos arregalados.
– Mandei fazer outro, com massa de pão, pintado da cor da estátua. Fruet se divertiu durante toda a solenidade: caía uma chuva fina e Ulysses passou todo o tempo tenso, sem tirar os olhos do nariz de Tancredo.