terça-feira, abril 13, 2010

ARNALDO JABOR

O perigo da 'grande marcha'... a ré
O GLOBO - 13/04/10

Vivemos um momento delicado para a democracia

Lula é um reality show permanente. Lula está em “fremente lua de mel consigo mesmo”, como dizia N. Rodrigues.
Mas, em sua viagem narcisista, começam os sintomas do erro. A sensatez do velho sindicalista virou deslumbramento. Um dia, abraça o Collor, no outro está com o Hamas e o Irã.
Freud (não o Freud Godoy dos “aloprados”...) tem um trabalho clássico, “O fracasso após o triunfo”, no qual mostra que há indivíduos que lutam e vencem, e, depois da vitória, se destroem, porque muitos carregam no inconsciente complexos inibidores do pleno sucesso.
Quanto mais medíocre é o dirigente, mais ele despreza a inteligência e a cultura, e se transforma numa ilha cercada de medíocres.
Será que foi por isso que Lula escolheu uma senhora sem tempero, uma gaffeuse sem prática, com “olhos de vingança”, como me disse um taxista? Parece um sintoma.
A grande ironia é que Lula foi reeleito por FH.
Sem o Plano Real, o governo Lula seria o pior desastre de nossa História. E, ajudado também pela economia mundial em bonança compradora, ele hoje diz que é responsável pelos bons índices econômicos que o governo anterior organizou.
E não cai um raio do céu em cima...
Afinal, o que fez o governo Lula, além de se aproveitar do que chamava de “herança maldita”, além do Bolsa Família expandido e dos shows de TV? Os primeiros dois anos foram gastos no assembleísmo vacilante dos “Conselhos” que ele nunca ouviu, depois a briga com a gangue dos quatro do PT, expulsos. Depois, a aventura da quadrilha de corruptos “revolucionários” que Roberto Jefferson desbaratou — para sua e nossa sorte —, livrando-o do Dirceu e de seus comunas mais ativos. Aí, Lula pôde voltar a seu populismo personalista.
Lula continua o símbolo do “povo” que chegou ao poder, mascote dos desvalidos e símbolo sexual da Academia. Lula descobriu que a economia anda sozinha, que basta imitar o Jânio Quadros, o inventor da “política do espetáculo”, e propagar aos berros o tal PAC, esse plano virtual dos palanques.
Lula tem a aura sagrada, “cristã” do mito de operário ignorante e, por isso, intocável.
Poucos têm coragem de desmentir esse dogma, como a virgindade de Nossa Senhora...
Por isso, vivemos um importante momento histórico, que pode marcar o Brasil por muitos anos. Agora, com as eleições, vai explodir a guerra com o sindicalismo enquistado no Estado: 200 mil contratados com a voracidade militante de uma porcada magra que não quer largar o batatal.
Para isso, topam tudo: calúnias, números mentirosos, alianças com a direita mais maléfica, tudo para manter o terrível “patrimonialismo de Estado”. Não esqueçamos que o PT combateu o Plano Real até no STF, como fez com a Lei de Responsabilidade Fiscal, assim como não assinou a Constituição de 88. Este é o PT que quer ficar na era pós-Lula. Seu lema parece ser: “Em vez de burgueses reacionários mamando na viúva, nós, do povo, nela mamaremos”.
Os “companheiros” trabalham sincronizados como um formigueiro. O sujeito pode até bater na mãe que continua “companheiro”. Só deixa de sê-lo se criticar o partido, como o Paulo Venceslau, que ousou denunciar roubos nas prefeituras, que depois se confirmaram na tragédia de Celso Daniel.
FH resumiu bem: se continuar o “lulismo” com sua tarefeira Dilma, “sobrará um subperonismo contagiando os dóceis fragmentos partidários, uma burocracia sindical aninhada no Estado e, como base do bloco de poder, a força dos fundos de pensão”.
Ou seja, o velho Brasil volta a seu pior formato tradicional, renascendo como rabo de lagarto. O país tem um movimento “regressista” natural, uma vocação populista automática.
Será o início da grande marcha a ré...
Com a eventual vitória do programa do PT, teremos a reestatização da economia, o inchamento maior ainda da máquina pública, a destruição das Agências Reguladoras, da Lei de Responsabilidade Fiscal, em busca de um getulismo tardio, uma visão do Estado como centro de tudo, com desprezo pelas reformas, horror pela administração e amor aos mecanismos de “controle” da sociedade, essa “massa atrasada” inferior aos “revolucionários”. A esquerda psicótica continua fixada na ideia de “unidade”, de “centro”, de Estado-pai, de apagamento de diferenças, ignorando a intrincada sociedade com bilhões de desejos e contradições.
A tarefa principal da campanha de Serra será explicar qual é o “pensamento tucano”. Como ensinar a população ignorante que só um choque democrático e empresarial pode enxugar a máquina podre das oligarquias enquistadas no Estado? Como explicar um programa de “mudanças possíveis” na infraestrutura e na educação, contraposto a este marketing salvacionista de Lula? Este é o desafio da campanha do PSDB.
Aécio Neves fez bem em se indignar com a demagogia de Dilma no túmulo de Tancredo — ele nos lembrou que o PT não apenas não apoiou Tancredo em 85 como expulsou seus três deputados que votaram nas eleições pela democracia.
A maior realização deste governo foi a desmontagem da Razão. Podemos decifrar, analisar, comprovar crimes ou roubos, mas nada acontece. Ninguém tem palavras para exprimir indignação, ou melhor, ninguém tem mais indignação para exprimir em palavras.
Aécio Neves devia ir além e ser vice, sim. Seria um gesto histórico que lhe daria riquíssimos frutos, para além do interesse pessoal de uma política imediata. Aécio ganharia uma rara grandeza na Historia do país. Seu avô aprovaria.
Só uma alternância de poder, fundamental na democracia, pode desfazer a sinistra política que topa tudo pelo poder e que planeja, com descaro, transformar-se numa espécie do PRI mexicano, que ficou 70 anos no poder, desde 1929. Durante o poder do PRI, as eleições eram uma simulação de aparente democracia, incluindo repressão e violência contra os eleitores. Em 1990, o escritor peruano Mario Vargas Llosa chamou o governo mexicano, sob o PRI, de uma “ditadura perfeita”. Será que isso nos espera?

RUBENS BARBOSA

A cúpula sobre segurança nuclear
O ESTADO DE SÃO PAULO -  13/04/2010



Para a Cúpula de Segurança Nuclear (Nuclear Security Summit), realizada em Washington no fim de semana, estiveram reunidos 46 chefes de governo, inclusive o presidente Lula.

O encontro, convocado pelo presidente Barack Obama, tinha como objetivo coordenar ações para fortalecer a segurança internacional, em particular no que diz respeito ao combate ao terrorismo nuclear, uma das preocupações centrais da política doméstica norte-americana desde os ataques de 11 de setembro de 2001.

A crescente ameaça das redes terroristas internacionais e a dificuldade para identificar e controlar o comércio de materiais ou de armas nucleares levaram os EUA a mobilizar a comunidade internacional para enfrentar esse desafio.

Logo depois de sua eleição, em abril de 2009, para enfrentar a ameaça nuclear do terrorismo internacional, o presidente Obama definiu uma estratégia com propostas visando a: 1) Adotar medidas para reduzir e eventualmente eliminar os arsenais nucleares existentes; 2) fortalecer o Tratado de Não-Proliferação (TNP) e dificultar a proliferação de armas nucleares; e 3) impedir que grupos terroristas possam ter acesso a armas ou materiais nucleares.

A agenda da cúpula, refletindo os objetivos do governo dos EUA, concentrou-se no exame de medidas de prevenção do terrorismo nuclear e sobre o acesso de agentes não-estatais a materiais físseis, que poderiam ser utilizados para a produção de explosivos atômicos.

Os presidentes concentraram sua atenção nos seguintes tópicos:

a ameaça do terrorismo nuclear;

ações nacionais para prevenção do terrorismo nuclear e proteção de materiais físseis;

o papel da Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea) na segurança nuclear; e

ações internacionais para prevenção do terrorismo nuclear e proteção de materiais físseis.

A cúpula aprovou um Comunicado Conjunto e um Programa de Ação, cujos elementos, trabalhados em reuniões preparatórias (Washington, novembro de 2009; Tóquio, dezembro de 2009; e Haia, fevereiro de 2010), apontam para medidas visando a alcançar um maior grau de segurança nuclear no desenvolvimento e na expansão do uso da energia nuclear para fins pacíficos.

O Brasil manifestou-se favorável à adoção de medidas acautelatórias, mas ressaltou que a questão da segurança nuclear é mais ampla e complexa. O presidente Lula apoiou a iniciativa do presidente Obama e se associou ao consenso para a adoção do documento final do encontro.

A discussão sobre segurança nuclear faz-se igualmente relevante diante da necessidade de a operação das instalações nucleares e do manejo do material nuclear serem realizados de forma segura. Sua abrangência, no entanto, deveria ter sido tratada de maneira mais ampla.

Segurança nuclear, segundo definição da Aiea, envolve "a prevenção e a detecção de roubo, sabotagem, acesso não autorizado, transferência ilegal ou outros atos maliciosos envolvendo material nuclear, outras substâncias radioativas ou as instalações a ela associadas, bem como a resposta a esses eventos".

Nesse contexto, a segurança está vinculada diretamente à proteção física do material nuclear, não apenas para a prevenção do terrorismo, mas, principalmente, para a criação de um ambiente nacional, regional e global seguro que facilite e fortaleça a promoção dos usos pacíficos da energia nuclear.

Além de tentar controlar o terrorismo nuclear, preocupação central do encontro, a reunião de cúpula foi uma oportunidade para preparar alguns temas da conferência de revisão do Tratado de Não-Proliferação, que ocorrerá em maio, e para examinar, nos bastidores, a questão das sanções da ONU ao Irã.

No encontro de maio, o futuro do tratado será discutido e serão examinados assuntos sensíveis, como a questão do desarmamento nuclear e a da não-proliferação. Esses temas interessam diretamente a países como o Brasil, que tem avanços significativos no domínio do ciclo do combustível nuclear.

A questão do desarmamento nuclear tem ocupado uma posição secundária na agenda política internacional em virtude de preocupações mais urgentes como o conflito no Oriente Médio, as guerras do Afeganistão e do Iraque, as diferenças com a China, além de preocupações regionais mais prementes como os desastres no Haiti e no Chile e o terrorismo no Paquistão e na Índia.

Há mais de dez anos as negociações relativas ao TNP estão paralisadas pela dificuldade de conciliar interesses divergentes entre os países nucleares e os não nucleares. Nesse período, contra o espírito e a letra do TNP, Índia e Paquistão passaram a integrar o restrito número de países nuclearizados em termos militares, sem oposição das potências nucleares. Israel, que decidiu não participar da cúpula de Washington, embora não o admita, também dispõe de armas nucleares.

Com o objetivo de dar impulso a essas negociações, os EUA anunciaram nas últimas semanas duas importantes iniciativas: o acordo com a Rússia para redução em 30% dos estoques de armas nucleares nos dois países e a revisão da política nuclear. A revisão inclui a promessa de reduzir o papel das armas nucleares na estratégia de segurança dos EUA e a proibição, como previsto no tratado, do emprego de armas nucleares contra Estados não nucleares membros do TNP, desde que sejam cumpridas as obrigações de não-proliferação (condição que passou a fazer parte das ameaças ao Irã).

Nesta mesma semana, no dia 16, o Irã promoverá conferência alternativa sobre o uso pacífico da energia nuclear. O Brasil deverá adotar uma posição discreta e, com prudente cautela, não enviará delegação de nível alto, por conta do sinal político controverso que isso sugere.

Rubens Barbosa, Presidente do Conselho de Comércio Exterior da Fiesp, foi embaixador em Washington 

CELSO MING

Inconsistências 

O Estado de S.Paulo - 13/04/2010

Um festival de inconsistências e de falsas soluções vem sendo detonado no governo e fora dele com o objetivo aparente de impedir que o Banco Central puxe os juros básicos (Selic) na sua reunião de 28 de abril.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, por exemplo, anunciou sexta-feira que está disposto a reduzir as alíquotas do Imposto sobre Importação (tarifas alfandegárias) para derrubar os preços finais do produto importado e, assim, aumentar a concorrência interna, de modo a conter a disparada da inflação e evitar a alta dos juros.

Os dirigentes da Fiesp, que não devem ter gostado dessa ideia, argumentam agora que o ritmo dos investimentos conseguirá garantir a normalização da oferta e, assim, dispensar o ajuste dos juros. No entanto, não conseguem ver que boa parte das pressões inflacionárias está concentrada nos serviços, que não se aliviam com investimentos em máquinas e ampliação de fábricas.

O ministro entende, corretamente, que o produto brasileiro está perdendo competitividade e que, por isso, é preciso tomar medidas para neutralizar esse efeito, que prejudica as exportações e estica o déficit em conta corrente. Mas ele próprio é um dos obstáculos a que o governo baixe um pacote de estímulo às exportações porque sabe, também corretamente, que o Tesouro está sendo bastante pressionado e que, nessas condições, não pode ser ainda mais sangrado. Mas, quando avisa que pode amolecer as tarifas alfandegárias, tende a aumentar a perda de competitividade do exportador brasileiro.

Quando insiste em que esta é a "inflação do tomatinho", Mantega está tentando dizer que o principal componente do atual strike inflacionário são fatores sazonais, como o excesso de chuvas em fevereiro e março, que derrubaram a produção e elevaram os preços dos alimentos.

Por trás desse diagnóstico está a conclusão de que, uma vez chegada a meia-estação, os preços do tomate voltarão ao normal e, com ele, a inflação recuará. Mas, se insiste em que é preciso derrubar as tarifas alfandegárias, Mantega reconhece que o principal componente da inflação não é sazonal, mas sim a forte demanda que precisa ser atendida com mais oferta.

É que nenhum piloto de política econômica reduz Imposto de Importação para combater "inflação do tomatinho". Nem o ministro da Fazenda de 1983, Delfim Netto, reduziu as tarifas aduaneiras para combater o que identificou então como a "inflação do feijão-preto", nem antes dele, em 1977, o então ministro da Fazenda, Mário Henrique Simonsen, fez o mesmo para combater a "inflação do chuchu".

De todo modo, a área fiscal, que Mantega comanda, pode fazer muito mais para evitar a alta da Selic e até mesmo para forçar sua baixa, desde que também faça o diagnóstico correto. Há, sim, forte componente de demanda na inflação atual.

Todos sabemos que o principal fator que pesa hoje na inflação é a disparada do consumo, que, por sua vez, tem a ver com o excesso de despesas correntes do governo, que saltaram 17% neste ano. Quando ameaça baixar as tarifas aduaneiras, Mantega está admitindo o fator demanda. E, se der um jeito de sentar-se sobre o cofre de maneira a que o governo deixe de fazer as extravagâncias que faz, certamente estaria colaborando mais com a redução da escalada dos preços do que estaria com a redução do Imposto de Importações.
Confira

Crime sem castigo

Está fechado: a Grécia receberá pelo menos ? 30 bilhões em empréstimos dos membros da União Monetária Europeia, a juros de 5% ao ano. Fica estabelecido o precedente que qualquer país da área pode fazer todo o tipo de lambança fiscal. Se tudo der errado, terá o socorro que merece, a juros de apenas 5% ao ano. Falta saber quando será a vez de Portugal, Espanha, Itália, Irlanda e quem mais entrar nessa fila.
O curso do Titanic
Artigo publicado ontem no New York Times, assinado por Frank Rich, comenta afirmação feita no Congresso americano por Alan Greenspan, ex-presidente do Fed (o banco central dos Estados Unidos). Ao ser questionado por não ter previsto e por nada ter feito no Fed para conter a crise, Greenspan se justificou assim: "Eu estava correto 70% do tempo e errado em 30% do tempo." O comentário de Frank Rich foi o seguinte: "Se seguisse o modelo Greenspan, o capitão do Titanic poderia ter alegado que o curso do seu navio estava correto 70% do tempo."

GOSTOSA

PAULO MALUF


AVISO DO BLOG
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Promotores têm medo da Justiça?
FOLHA DE SÃO PAULO - 13/04/10
PAULO MALUF

Quando atuam de maneira irresponsável, procuradores devem arcar com as consequências de atentados à honra dos administradores

ALGUNS POUCOS promotores e procuradores do Ministério Público recorrem a uma das práticas mais usadas por Joseph Goebbels, ministro da Propaganda de Hitler, quando tentam desclassificar o projeto de lei nº 265/2007, que apresentei no Congresso Nacional.
Dizia Goebbels: nunca tente desqualificar uma ideia ou proposta, mas, sim, o seu autor. Apelando para o processo da desqualificação, alguns promotores e procuradores parecem ter medo da Justiça.
O projeto de lei que proponho, como está em seu artigo 1º, quer deixar expressa a responsabilidade de quem ajuíza ação civil pública, ou popular, ou de improbidade administrativa temerárias, com má-fé, manifesta intenção de promoção pessoal ou visando perseguição política.
Ou seja, certo é que a característica basilar do Estado democrático de Direito é o fato de que ninguém está acima da lei. Assim, em caso de autores que praticam atos com desvio de finalidade, sem base legal ou jurídica, nada mais correto do que a sua devida responsabilização.
O projeto de lei nº 265, de minha autoria, foi aprovado por maioria absoluta na Comissão de Constituição e Justiça, constituída por juristas, professores de direito, ex-governadores, ex-prefeitos e constitucionalistas.
Atuando de maneira irresponsável, procuradores e autores populares devem arcar com as consequências de atentados à boa imagem e à honra dos administradores, nunca sendo demais lembrar que atos de improbidade podem ocorrer em ambos os lados. Mas o que o projeto de lei nº 265/ 2007 apresenta que tanto atemoriza alguns promotores e procuradores?
Nada além de que eles cumpram com seu dever.
Meu projeto de lei não tenta impedir que o Ministério Público investigue o que quer que seja, mas propõe que a investigação seja imparcial, profunda, sem poupar nada do que seja necessário esclarecer.
O ex-ministro Eduardo Jorge, durante anos, foi acusado, execrado, vilipendiado publicamente pelo procurador Luiz Francisco, com ampla cobertura da mídia e, depois, foi inocentado pela Justiça. E agora, quem paga os prejuízos morais e financeiros que Eduardo Jorge sofreu?
Promotores e procuradores tentaram me desqualificar neste espaço ("A vingança de Maluf", "Tendências/Debates", 6/4). Tratam-me, no artigo, como culpado, quando nenhum dos processos movidos contra mim por eles foi julgado. Dizem que estive preso por mais de 40 dias, mas escondem que a maioria do Supremo Tribunal Federal julgou essa minha prisão ilegal e sem base jurídica. Esgotadas todas as instâncias jurídicas aqui no Brasil, procuradores e promotores foram aos Estados Unidos e instaram um promotor local a apresentar denúncia, em Nova York, sobre supostas irregularidades cometidas na construção de uma avenida aqui em São Paulo.
Usaram como testemunha o falso depoimento de um doleiro de caráter duvidoso e violaram naquele país a soberania de um outro Estado, atacando um congressista brasileiro legitimamente eleito.
A democracia brasileira tem sorte na presente quadra de ter dois defensores. O ministro Gilmar Mendes, do STF, que colocou nos seus devidos lugares aquelas instituições da polícia e doMinistério Público que queriam substituir o Judiciário, e o atual procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que, com sua autoridade moral, tenta restringir os desmandos de poucos promotores e procuradores.
Tentam desqualificar, pejorativamente, meu projeto de lei nº 265/ 2007, simplesmente por responsabilizar quem proponha ação popular ou processo de improbidade administrativa sem base legal ou jurídica. E há alguma coisa mais justa do que isso? Hoje, quem arca com todas as despesas nesses procedimentos é o acusado, e não quem acusa.
Em muitas cidades do interior, a maior autoridade não é mais o prefeito, mas o Ministério Público, que apresenta com frequência, contra o eleito, acusações que depois não são provadas.
Aqui mesmo em São Paulo, capital, o prefeito Gilberto Kassab (DEM), eleito com mais de 4,5 milhões de votos, já foi alvo de acusações desse tipo feitas por um promotor.
Não há nenhum desejo meu de vingança. Moro há 45 anos no mesmo endereço, nunca me recusei a comparecer para depor, sempre confiei e confio na Justiça. A mesma Justiça da qual certos procuradores e promotores parecem ter medo.
PAULO MALUF , 78, engenheiro, é deputado federal pelo PP-SP. Foi governador de São Paulo (1979-1982) e prefeito da cidade de São Paulo (1969-1971, 1993-1996).

MARCOS NOBRE

Nem bandido nem mocinho
FOLHA DE SÃO PAULO - 13/04/10

A DEMOCRACIA BRASILEIRA não teria avançado tanto desde 1988 se a Constituição não tivesse dado ao Ministério Público (MP) as atribuições e prerrogativas que deu. O MP se interessou sempre por aquilo por que ninguém se interessa. Em um país sem educação, procurou fazer cumprir as leis e falar por quem não recebeu condições para exercer plenamente seus direitos.
É contra tudo isso que se volta a chamada "Lei Maluf", atualmente em tramitação no Congresso.
A simples ideia de que um insigne capacho da ditadura militar possa dar nome a uma lei já é infame por si mesma. Sim, trata-se de legítimo representante do povo.
Mas cuja base eleitoral é resquício do autoritarismo e da intolerância produzidos por mais de 20 anos de ditadura.
Dito isso, não cabe fazer da discussão sobre o papel do MP um pastelão em que só há bandidos e mocinhos. Uma discussão em que só se pode ser contra ou a favor não permite discutir nada a sério.
O atual espírito de corpo do MP se formou na luta contra o autoritarismo, o preconceito e a ignorância. A impressão que se tem, no entanto, é a de que o MP continua a se colocar em posição de vanguarda, como se o Estado de Direito estivesse em perigo como antes, como se todos os demais órgãos do Estado fossem inimigos da democracia.
O resultado é que o MP corre hoje o risco de se isolar e mesmo de se tornar um freio a possíveis avanços institucionais. Isso porque seu ímpeto transformador pode acabar se revertendo em mero paternalismo.
Pode ajudar a perpetuar a situação que pretende combater, mantendo cidadãs e cidadãos na posição de incapazes de exercer por si próprios seus direitos, de discernir por si mesmos seus verdadeiros interesses. Riscos que se tornam ainda maiores em vista da atual tentativa de rever a sábia proibição de que integrantes do MP que ingressaram depois de 1988 possam se candidatar a cargos eletivos no exercício do cargo.
Diante da nova situação histórica da democracia e do MP, o Congresso Nacional deveria responder com a rejeição da proposta infame de Maluf e, ao mesmo tempo, com um expressivo incremento de verbas para o Conselho Nacional do Ministério Público. Basta comparar a dotação desse órgão de controle externo com a do seu equivalente para o Judiciário, o Conselho Nacional de Justiça, para que se veja o quanto ainda precisa ser feito.
E o MP como um todo deveria estar coeso no apoio a esse órgão de controle democrático de sua atuação, dando o exemplo de transparência que, com legitimidade e rigor, exige de qualquer agente público ou privado.

GOSTOSA

JOSÉ PASTORE

A frustração dos jovens
O Estado de S.Paulo - 13/04/10

Não há nada mais frustrador para um jovem do que completar um curso, receber o diploma e não conseguir emprego. Esse é o caso de milhões de brasileiros que se formam em nossas faculdades.

A frustração aumenta em tempos de demanda crescente por profissionais qualificados como ocorre nos dias atuais, por conta da aceleração do crescimento econômico. No meu e-mail, multiplicam-se as mensagens de jovens que expressam o seu inconformismo diante desse quadro contraditório. Por que não conseguem emprego se têm educação muito acima da média da força de trabalho?

Além de sofrerem as consequências das escolas precárias em que estudaram, os jovens deparam-se com a resistência das empresas para contratar pessoas sem experiência. Esse é o problema. Cerca de 45% dos desempregados são jovens de 15 a 24 anos, um verdadeiro bolsão de desocupados. É desolador. Do lado das empresas, a busca da experiência é justificável. Mas convenhamos: como podem os jovens ter experiência se nunca trabalharam? E como adquirir essa experiência se não começarem a trabalhar?

Mas a alegação da falta de experiência é apenas uma parte da história real.

A outra parte se liga à nossa legislação trabalhista. Sim, porque as despesas para se contratar um jovem inexperiente são as mesmas que se aplicam à contratação de um profissional experiente (102,43% sobre o salário). Nessas condições, enquanto houver uma boa oferta de profissionais experientes, as empresas não têm estímulo para contratar jovens inexperientes. E, assim procedendo, perpetuarão a indesejável inexperiência. É um circulo vicioso entre a falta de contratação e a falta de experiência. Daí a indignação dos jovens e também de seus pais que desanimam ao ver um filho que estudou, se formou e que procura emprego e não acha.

São muitos os jovens que são levados a prolongar sua vida escolar ? o que é bom ? por falta de experiência para o trabalho ? o que é ruim. Como sair dessa armadilha? Como estimular as empresas a contratar jovens sem experiência para que deem início à carreira profissional?

Muito simples. A legislação brasileira poderia prever a admissão de jovens recém-formados com menos despesas de contratação. Se tais despesas caíssem, digamos, de 102,43% para cerca de 60% ou 65%, as empresas seriam estimuladas a admitir bons talentos que ainda não têm a necessária experiência.

Esse é o papel de um "contrato de formação", uma espécie de contrato de aprendizagem para quem acaba de se formar e nunca trabalhou. Um expediente desse tipo seria útil para os jovens, as empresas e a sociedade em geral. Por exemplo, um engenheiro recém-formado que viesse a trabalhar em uma Petrobrás, Vale ou Votorantim teria aí uma verdadeira escola para aprender o que não aprendeu na faculdade e uma valiosa fonte de referência para futuros empregos. Para as empresas, seria uma oportunidade de ouro para observar cuidadosamente o desempenho desses jovens antes de contratar os mais brilhantes de forma definitiva ? depois de expirado o contrato de formação que, evidentemente, teria vigência limitada de, por exemplo, 18 meses. Para a sociedade haveria um ganho valioso ao abrir para a juventude uma oportunidade de trabalho e de aprendizagem. Esses jovens seriam contratados legalmente, com as proteções da legislação trabalhista e previdenciária e recolhendo contribuições para a Previdência Social e outros órgãos, o que ajudaria bastante as finanças públicas.

A tarefa consiste em aprovar uma legislação específica para tirar o jovem desse indesejável círculo vicioso. Essa legislação seria, assim, a viabilizadora da experiência que é tão importante para o trabalho atual.

Está aí uma sugestão para os candidatos neste ano eleitoral: contratos de formação. Não sou político. Mas, ao reduzir a frustração dos jovens e de seus pais, essa proposta me parece ser uma verdadeira usina de votos. O importante, porém, é implementá-la depois da eleição.

PROFESSOR DE RELAÇÕES DO TRABALHO DA FEA-USP.

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Realidade real 

O Estado de S.Paulo - 13/04/2010

Miguel Jorge anda se espantando com a volatilidade das previsões sobre o resultado da balança comercial brasileira. Mesmo quando são favor. "Não sei de onde tiram tantos números. Foi só o minério aumentar de preço que os analistas, que sabe-se-lá apostavam em US$ 5 bilhões de saldo em 2010, passaram a prever US$ 15 bilhões".

Na verdade, a preocupação de Lula, hoje, são importantes, dois déficits da balança: o resultante da importação de autopeças pesando US$ 5 bilhões, e o dos eletroeletrônicos custando US$ 20 bilhões por ano. "São problemas sérios que temos que resolver logo".

Como? Aumentando impostos na importação, por exemplo.
Canções de papel
Roberto Carlos abre o baú. Manda para sua exposição na Oca manuscritos originais de suas composições. Com direito até a música que ele rabiscou em papel de pão.
O Cadillac vermelho, reformado por Emerson Fittipaldi? Pretende estacioná-lo por lá ainda esta semana.
Ponte aérea
Fabio Giambiagi e Márcio Garcia fazem nova tentativa para lançar seu livro Risco e Regulação, no Espaço Cultural BM&F Bovespa.

Semana passada, não conseguiram voar do Rio para São Paulo e remarcaram o encontro para amanhã.
Sem fumaça
Kassab leva adiante os planos para introduzir carros elétricos na cidade. Assina hoje, em almoço no Clube Monte Líbano, protocolo de intenções com Carlos Ghosn, presidente mundial do grupo Renault/Nissan.

Começam pela criação de uma comissão que estudará a viabilidade da chamada "política de emissão zero" de poluentes.
Boto na fita
Juca Ferreira criou plano para "incluir" a Amazônia Legal no mapa cultural do País. Montou estratégia para ter pelo menos um projeto em cada uma dos 800 cidades da região.

E começa a aceitar até inscrições orais, de indígenas e ribeirinhos entre 17 e 29 anos.
Palco tucano
A confusão no evento do PSDB de sábado foi tão grande que não foi possível passar o vídeo sobre a vida de Serra. O "documentário", montado pelo marqueteiro Luiz Gonzalez, ia ao ar assim que ele terminasse de discursar.

No entanto, quando o tucano terminou de falar, o palco foi invadido, e ...fim.
Palco 2
Depois da convenção em Brasília, Serra foi visto à noite no Fasano, em São Paulo. Chegou às 23 horas, sentando-se à mesa onde estavam Lu e Ronaldo Cesar Coelho, Sonia e Andrea Matarazzo, mais o genro Alex Bourgeois.

Ali ficaram até altas horas.
Palco 3
E os tucanos paulistas já acertam a festa para Alckmin. O pré-lançamento da candidatura está previsto para dia 29.
Noite de arte

Jorge Gerdau recepcionou, semana passada, parte do PIB cultural do País, em sua casa. Logo depois da abertura, na Fundação Iberê Camargo, da mostra de León Ferrari e Mira Schendel.

Que acaba de sair do MoMA.
Cor de morango
Julianne Moore escreveu e Fernanda Torres traduziu.

O livro infantil Morango Sardento, inspirado na infância da atriz, sai no Brasil pela Cosac Naify.
"Somos um espelho"
James Cameron perdeu seu bilhete de volta para os EUA. No Brasil há duas semanas, o simpático diretor de Avatar já plantou pau-brasil, gritou seguidas vezes contra a construção da usina de Belo Monte, foi a fórum de sustentabilidade e encontrou-se domingo, em SP, com Marina Silva.

"Ela é inteligente", limitou-se a dizer à coluna. Integrante novato do bloco contrário à construção de Belo Monte, o diretor justifica: "Desde Avatar tenho recebido pedidos de ONGs do mundo inteiro. Faço uma filtragem e abraço as causas nas quais acredito."

Mas a festa no Brasil ainda não acabou. A comitiva passou de SP para Brasília e, dali, ruma para Altamira, no Pará. De onde decola amanhã rumo a Washington, onde tem encontro com Obama.

Foi depois da conversa com Marina que o diretor teve finalmente seu "momento business", em jantar na casa de Nizan Guanaes. Ali, cordão de cipó no pescoço - presente de um índio xavante - o cineasta assistiu a versões de seu longa em DVD e blue-ray.

Entre uma centena de convidados, os cerca de dez índios da festa eram recebidos aos abraços por James. Com cocar e corpo pintado eles faziam fila para convidá-lo a visitar as aldeias. Sorridente, dizia sim a todos. Mas, e os indígenas americanos? "Se alguém tivesse feito algo nos EUA como estamos fazendo agora, eles não teriam sido dizimados. Nós somos o espelho de um futuro que pode ser evitado", disse.

Sigourney Weaver, estrela do filme, foi mais econômica nas palavras. Quando se rendeu a um papo com um índio do Rio Negro, foi surpreendida. Ele desatou a falar sobre suas experiências como... ator. Foi quando a estrela, queixando-se de dor de cabeça, decidiu deixar a festa.
Na frente
André Esteves, do Pactual, comemora. Foi eleito pelo LIDE o Empreendedor do Ano. Recebe troféu no Fórum Empresarial de Comandatuba, que começa dia 21.

Depois de seis anos, Thereza Collor lança o livro Alagoas Um Olhar. Amanhã, no Museu da Casa Brasileira.

O espetáculo de dança Baseado em Fatos Reais, de Ângelo Madureira e Ana Catarina Vieira, estreia amanhã, no Sesc Consolação.

Raquel Arnaud abre, sábado, a mostra Cor, Corte & Ferrugem, de Alberto Martins.
Zico desembarca , hoje, no Museu do Futebol. Lança seu DVD, Zico na Rede.

Mallu Magalhães, Lobão e Pitty trocam microfones por carrapetas na festa do ObaOba. Dia 28, no LionsClub.

Conhecido banqueiro foi parar no Sírio Libanês na madrugada de domingo, após festa black-tie. Sua pressão havia baixado e os braços estavam dormentes. Examina de cá, de lá e descobrem: tudo fruto de um colarinho ultra-apertado...

O CANALHA

MÔNICA BERGAMO

Cameron na floresta paulistana 
Folha de S.Paulo - 13/04/2010

"Preciso ir ao banheiro."

Depois de passar boa parte do dia dando entrevistas, plantando árvores e se encontrando com militantes do Partido Verde, o diretor James Cameron, de "Avatar", chega aflito à casa do publicitário Nizan Guanaes e de sua mulher, Donata Meirelles, onde foi homenageado com um jantar na noite de domingo. "Eu fiquei a tarde toda andando, não consegui parar!", explica o cineasta, atravessando apressado a multidão de convidados rumo ao toalete.

Assim que deixa o lavabo, Cameron é levado para um canto por Roberto Klabin, presidente da SOS Mata Atlântica, que dá a ele um livro de fotos sobre o Pantanal -e pede autógrafo para o filho, Diogo, de 9 anos: "É como Diego, só que é Diogo".

O ator Victor Fasano, militante verde, explica ao diretor a sensação de "pertencimento do lugar". "Quando a gente entra numa floresta, a gente é o povo daquele lugar." "Gostei dessa expressão: povo da floresta", responde Cameron.

E assim foi a noite inteira: para desespero dos cinco seguranças que o acompanhavam, Cameron foi abordado por praticamente todos os 150 convidados da festa, organizada por Nizan e João Doria Jr., que duas semanas antes o receberam num fórum em Manaus.

Ao perceber o tamanho da encrenca, a atriz Sigourney Weaver sai à francesa, alegando uma leve "dor de cabeça". "Ela pensava que era um jantar mais privado", cochicha uma assessora da Fox Film.

"Nós explicamos tudo para o James Cameron. Só de ele falar contra a construção da usina de Belo Monte [no Pará] na mídia internacional já é bom, aumenta a pressão sobre o [presidente] Lula. Porque aqui no Brasil, com 80% de popularidade, ele pode fazer tudo, nada o atinge. Só se ele [Lula] for flagrado matando a mãe", diz Sergio Leitão, do Greenpeace.

Na mesma festa, o ex-governador Eduardo Braga (PMDB-AM), do Amazonas, favorável à construção da usina, tentou convencer Cameron a ficar longe da briga dos ambientalistas. "Eu disse a ele que, primeiro, Belo Monte não é no Amazonas, é no Pará; segundo, é muito melhor a gente ter energia hidráulica do que a diesel, a gás ou nuclear."

Um outro convidado argumenta: "A Amazon Watch [ONG que ciceroneou o diretor no Brasil] é ligada a uns iranianos [Atossa Soltani, diretora executiva da entidade, nasceu no Irã e vive há 30 anos em Los Angeles] que não têm responsabilidade [administrativa] com o Brasil, podem falar o que quiser. E, afinal, para ele [Cameron], defender a Amazônia é um bom marketing".

Pois o diretor não só está dando entrevistas contra a construção de Belo Monte como enviou uma carta a Lula pedindo para ser recebido e elencando, segundo disse à coluna, "razões racionais e razões emocionais" para que o presidente "reconsidere a questão".

Até ontem, Lula não tinha respondido ao diretor.

Barriga de chope
As principais cervejarias do Brasil serão obrigadas a divulgar, nos rótulos de suas cervejas, quantas calorias tem a bebida. A Promotoria do Consumidor de SP processou AmBev, Kaiser, Schincariol, Cerpa, Cintra e a cerveja Colônia para que apresentem a informação. Caso descumpram a medida, estão sujeitas a multa diária de R$ 30 mil.

EM NENHUM LUGAR
No processo, as cervejarias afirmam que seus rótulos estão de acordo com as determinações do Ministério da Agricultura e da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária); a Schincariol diz ainda que indicar as calorias no rótulo de bebidas alcoólicas não é praxe no mercado mundial. A Colônia diz que, mesmo discordando da determinação, fará as modificações.

MERGULHO
O cineasta Fernando Meirelles levou um tombo há alguns dias e bateu a cabeça. Nada grave, mas os médicos preferiram interná-lo para fazer uma tomografia e afastar suspeita de risco maior.

MUROS D'ALMA
Caroline Pivetta, condenada a quatro anos de prisão por pichar a Bienal e que agora deve ser incluída na programação oficial da mostra, ainda tem (algumas) contas a acertar com a Justiça. Nesta semana, seus advogados comparecem a uma audiência para defendê-la em outro processo, na Justiça Militar, em que é acusada de pichar o muro de um quartel.

FILHA ÚNICA
Uma pulseira Sutra de R$ 682 mil -é isso mesmo, R$ 682 mil!- desenhada por Diane Von Furstenberg foi vendida no almoço que a H.Stern ofereceu na semana passada, em SP, para a estilista, que cria coleções exclusivas para a joalheria. A peça, em elos de ouro branco cravejados de brilhantes, foi comprada por uma mulher -a H.Stern não revela o nome da cliente.

EM DUPLA
A pulseira pode ser vista também na vitrine do shopping Iguatemi, entrelaçada com outra peça, uma pulseira com pedras coloridas (safiras, rubis, ametistas) que custa R$ 397 mil. A H.Stern sugere que as duas sejam usadas juntas, formando um colar -desde que o cliente possa (e tope) pagar, no total, R$ 1.079 milhão por elas.

PARATODOS
O PV (Partido Verde) de Marina Silva pode se aliar ao DEM no Rio Grande do Norte. O partido, que não lançará candidato a governador no Estado, deve apoiar a demista Rosalba Ciarlini, pré-candidata ao governo; para o Senado, vai de José Agripino Maia (DEM-RN).

SÓ COM CANUDO
E, na contramão da revogação da obrigatoriedade do diploma de jornalismo pelo STF (Supremo Tribunal Federal), os vereadores de Natal aprovaram lei que exige que a prefeitura da cidade só contrate profissionais diplomados para a assessoria de imprensa dos órgãos municipais. A prefeita Micarla de Souza (PV-RN), que é jornalista, sancionará a regra.

CARTIER-BRESSON
A Cosac Naify irá lançar, em parceria com o MoMA, de NY, o livro "Henri Cartier-Bresson: The Modern Century", com documentos, pinturas e fotos raras do francês. O museu inaugurou mostra com as imagens que estarão na obra. O livro deve ser lançado em junho.

CURTO-CIRCUITO
O CURSO "Grandes Publicitários", de Celso Loducca, tem início hoje, às 20h, na Casa do Saber da rua Dr. Mario Ferraz, no Itaim Bibi.
O BAIXISTA Andy Rourke, da banda The Smiths, é a atração da nova festa Six Degrees hoje, à meia-noite, no clube Lions. Classificação etária: 18 anos.
O FILME "Alice no País das Maravilhas" tem pré-estreia para convidados hoje, às 21h30, no shopping Cidade Jardim. Classificação etária: 10 anos.
ACONTECE HOJE o debate sobre arte urbana com Alexandre Orion, José de Souza Martins e Valéria Virgínia Lopes, às 19h, no CCBB. 13 anos.
A MARCA de roupas A. Niemeyer lança coleção de inverno hoje e amanhã, das 12h às 20h, em seu showroom no Itaim Bibi.

LUIZ GARCIA

Problemas em Roma
O GLOBO - 13/04/10

Não demorou muito: no fim da semana passada, o Vaticano pela primeira vez reconheceu a necessidade de providências práticas contra o problema da pedofilia no clero. E anunciou atitude inédita: colaborar com a Justiça civil na investigação de denúncias de abusos sexuais envolvendo sacerdotes.

A nova postura foi anunciada sem rodeios.

“Somente assim poderemos reconstruir um clima de justiça e confiança plena na Igreja Católica”, disse o portavoz do Vaticano, Frederico Lombardi.

A espinhosa questão dos abusos sexuais de menores por sacerdotes viera à tona na Semana Santa. Enquanto o pregador oficial do Vaticano colocava a Igreja como vítima de ataques injustos, cardeais de prestígio investiram contra os padres culpados de abusos, que definiram como “traidores do Evangelho”.

Era uma acusação e também uma autocrítica.

Nem uma coisa nem outra tinha ocorrido até agora, em relação ao problema, que raramente foi encarado de frente pelo Vaticano. Na missa da Sexta-Feira Santa, o pregador oficial do Vaticano, Raniero Cantalamessa, citou relatos sobre pedofilia de sacerdotes — e a indiferença da cúpula da Igreja a essas acusações. O Papa Bento XVI não abriu a boca.

Mas outros sacerdotes tomaram a iniciativa de condenar os abusos sexuais.

Um cardeal chegou a cobrar do Vaticano atitude inédita: enfrentar a “dolorosa realidade”. O enfrentamento poderia ter duas frentes de combate: punição dos culpados e investigação das causas do problema.

Uma pergunta continua no ar: qual seria o fator singular que torna o problema tão frequente na Igreja Católica? A resposta parece ser mais óbvia ainda: o celibato. Seria absurdo imaginar que o celibato induz à pedofilia. Mas talvez faça sentido imaginar que uma minoria não desprezível dos católicos que escolhem a batina seja indiferente à proibição do casamento. E nesse grupo existiria segunda minoria, cuja indiferença seria justificada por uma tendência à pedofilia.

Palpiteiros de fora podem admitir que o Vaticano não pode acabar com o homossexualismo ou a pedofilia. Mas pode rever os critérios de avaliação dos candidatos ao sacerdócio. A tendência ao homossexualismo pedófilo não é muito difícil de ser detectada.

O combate oficial e aberto aos abusos sexuais não vai além da promessa de punição do crime da pedofilia. Mas talvez possa abrir um debate interno sobre a exigência do celibato.

EDUARDO SALOMÃO

Ética na advocacia e tragédia grega
 O Estado de S.Paulo - 13/04/10

A voz do jovem executivo passou rapidamente de amistosa a tensa: "Mas seu escritório não pode nos dar essa segurança? O advogado da outra parte já disse que dá, e precisamos soltar o dinheiro amanhã." "Impossível", respondi, explicando que o negócio que ambos queriam fazer - a venda de papéis de uma grande empresa no mercado intermediada pelo banco - esbarrava em obstáculo legal intransponível. A lei e as decisões dos tribunais diziam que não podia.

A solução que encontramos foi uma conversa com o advogado da empresa que emitia os papéis e que deveria, em primeiro lugar, ter chamado a atenção para a falha. Quem tem experiência na profissão sabe que nessas horas não se deve esperar reconhecimento de erros, ou pedido de desculpas. Mas previa embaraço ou, um pouco pior, irritação do colega. Nada disso aconteceu: uma voz bem disposta e de polidez a toda prova me informou que seu escritório, conhecido como dinâmico na execução de negócios, documentara daquela forma diversas transações anteriores e não poderia entrar em discussões técnicas.

Renunciei ao caso. A cena se passou há alguns anos, não muitos.

Na tragédia Édipo Rei, de Sófocles, Édipo ouve de um profeta cego, Tirésias, a alusão à causa da insatisfação dos deuses e das consequentes tragédias que infelicitavam Tebas: Édipo havia assassinado seu pai, Laio, e casado com sua mãe, Jocasta, sem saber. Édipo não acredita e acusa Tirésias de mau e traiçoeiro. Seu impulso é culpar todos os que o cercam, menos a si próprio. Aos poucos percebe a verdade, quando fatos se acumulam a sua volta. Desesperado, cega os próprios olhos, entregando-se à metáfora de que, paradoxalmente, só a partir desse ato de desespero conseguiria enxergar.

O que têm que ver cenas tão diversas?

A primeira é, infelizmente, cada vez mais comum na advocacia. Nossa profissão mudou e lentamente o advogado deixou de ser visto como um profissional intelectualmente autônomo, em processo que aqui se acelerou depois da virada do milênio. Bom advogado é aquele que encontra meios de fazer um negócio acontecer, mesmo que se associando ao cliente no risco da ilicitude. Mau advogado, o que não o faz. O resultado aparece narrado na primeira história, que para antes do fim, mas pode originar investidores correndo riscos de que não foram avisados, prejuízos ao Fisco e à credibilidade das instituições econômicas, etc.

Mas de quem é a culpa? Da interposição de intermediários, como os bancos de investimento, entre o advogado e o destinatário final de seus serviços, com executivos voltados mais ao recebimento de bônus no curto prazo e menos para o interesse do próprio cliente ou do mercado que recebe os investimentos ofertados? Dos muitos escritórios de advocacia que aceitam remuneração vinculada ao sucesso da transação e o conflito de interesses que isso produz? Ou de forma mais etérea e diplomática dever-se-ia atribuir a culpa ao "mercado", que pretensamente exigiria documentos imutáveis que copiem a última transação bem-sucedida?

Assim pensaria Édipo, de Sófocles, se fosse bacharel e refletisse sobre a causa da infelicidade que o cerca, sem recurso ao autoconhecimento. E, fazendo isso, esqueceria de um princípio básico de Direito, o de que a cada privilégio corresponde um ônus.

Os advogados recebem por lei importantes privilégios que os cidadãos comuns não têm: postular perante o Poder Judiciário e aconselhar sobre o Direito aplicável a fatos concretos. Pesam ônus sobre nós para contrabalançar esses privilégios, ônus que constam de lei: segundo o Estatuto da Advocacia, em "seu ministério privado, o advogado presta serviço público e exerce função social". Atua o advogado a partir da perspectiva do interesse de uma parte, que deve defender em relação aos interesses da outra, seja essa outra parte um particular, seja o Estado. Nunca, entretanto, em detrimento do interesse público em ver as leis cumpridas.

Na essência do problema da desvalorização da advocacia está a perda de noção pelos advogados da natureza pública do serviço que prestam. Mal que se inicia com a visão de que o advogado é um mero técnico e que a qualidade de seu serviço deve ser aquilatada por sua capacidade de "fazer as transações acontecerem", segundo o lugar-comum promocional usado por muitos escritórios. Bordão justo na maioria dos casos, mas que esquece a significativa minoria de negócios que simplesmente não devem acontecer, porque na forma ou no conteúdo violam a lei.

Se o prejuízo ao interesse público que resulta desse enfraquecimento ético não for suficiente, há também grandes prejuízos privados. O cliente que vê o advogado como um simples técnico o remunera como tal, muitas vezes promovendo cotações entre escritórios que julga farão trabalho semelhante, e contratando sempre e invariavelmente o mais barato. O jovem profissional bem formado, inteligente e idealista se afasta da prática da advocacia, procurando servir o interesse público diretamente, como juiz, integrante do Ministério Público, da Defensoria Pública e carreiras afins. O resultado de todos esses fatores se soma, criando para a advocacia ambiente mais pobre em termos morais, intelectuais e econômicos.

A solução reside numa palavra de três letras: "não." Precisamos reaprender essa palavra simples e usá-la com parcimônia, mas firmeza, sempre que o interesse público de que somos depositários exigir. Não a materiais de oferta de investimentos que omitem a verdade sobre a empresa em que se investe, a planejamentos fiscais que escondem, em vez de evitar o tributo que é devido, a interpretações da lei que ignoram sua letra e espírito, para levar em conta apenas o interesse financeiro imediato do cliente de ocasião.

Porque a alternativa é a tragédia grega.

ADVOGADO, É LIVRE-DOCENTE DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP)

MÍRIAM LEITÃO

Curto alívio 

O Globo - 13/04/2010

A bilionária oferta européia de socorro à Grécia põe fim a um dilema da Zona do Euro: se deveria ou não resgatar países encrencados por dificuldades fiscais.

Ontem, o euro subiu, e o custo da dívida grega diminuiu, mostrando que o mercado viu com bons olhos o fim do dilema. Mas os problemas ainda estão longe do fim, e o alívio é apenas de curto prazo. A médio e longo prazo, a dúvida grega continua.

É o que pensa, por exemplo, o economista Ilan Goldfajn, do Itaú Unibanco: — O mercado olha para o futuro da Grécia, com uma dívida de 113% do PIB, um déficit de 12% e juros de 7%, e conclui que isso é explosivo.

Os juros caíram ligeiramente com a oferta do pacote de ajuda, mas a situação ainda é difícil.

A preocupação com a Grécia fez com que surgissem, pela primeira vez, dúvidas sobre o sistema monetário europeu. A Zona do Euro continua forte, mas apareceram incertezas sobre se é possível manter a mesma moeda para economias com pesos e situações fiscais tão diferentes.

— No começo, todos os países passaram a pagar juros alemães. E foi uma festa.

A “prestação”, digamos, ficou mais baixa. Mas agora, quando entra a crise, os países descobrem que não têm uma ferramenta. Não podem desvalorizar a moeda para ajudar a resolver os problemas — diz Ilan.

Ele registra ainda que o prêmio de risco da Grécia caiu ontem, mas o mercado continua achando o pacote de ajuda financeiro muito abstrato.

Mas há boas notícias em outras frentes da crise da economia mundial, que começou em 2008. Economias se recuperam, e isso vai gerando um circulo virtuoso.

Ontem, o “Wall Street Journal” noticiou que o custo para o contribuinte americano da ajuda aos bancos e empresas está encolhendo, com os pagamentos feitos pelos bancos e com a venda de ações que foram compradas pelo Tesouro.

Ilan acha, no entanto, que subsiste uma dúvida: — Até que ponto essa recuperação da economia se deve aos estímulos econômicos e aos juros zero? Nada disso durará para sempre.

Todos sabiam que viria em algum momento uma crise fiscal. Ela veio mais rápido do que se esperava, e a Grécia é apenas o primeiro sinal.

— A água que estava na altura do nariz, agora volta para o queixo — diz o economistachefe da Austin Rating, Alex Agostini.

Depois do anúncio, os juros pagos pelos gregos caíram de 7,2% para 6,5%.

Queda forte para um único dia, mas que ainda os deixa acima da última captação, que teve juros de 5%. Parte da estratégia do pacote é justamente derrubar os juros, para que os gregos possam fazer novos empréstimos.

Seria uma forma de dividir a conta com o mercado. Ontem, os juros gregos atingiram a menor diferença dos últimos três meses em relação aos juros pagos pelos alemães.

A situação da Grécia não é simples: o país tem, em 2010, C 53 bilhões em dívida para rolar. Somente no mês de maio, são C 11 bilhões.

A dívida total é calculada, na melhor conta, em C 300 bilhões, cerca de 113% do PIB. A Zona do Euro colocou C 30 bilhões à disposição do país, e o FMI pode entrar com mais C 10 a 15 bilhões. Tudo isso, este ano. Ao todo, o pacote pode chegar a C 80 bi. Mas, nos próximos três anos, a Grécia tem C 150 bilhões em vencimentos para pagar.

Agostini acha que é muito difícil que a Zona do Euro e o FMI queiram financiar tudo isso: — O problema não foi resolvido de forma definitiva.

O pacote só dará certo dentro de um contexto de recuperação — afirmou.

A análise do banco Morgan Stanley é de que o risco de longo prazo continua intacto. Para piorar, o banco prevê que a economia grega sofrerá retração de 2,5% este ano: “Enquanto os riscos de curto prazo diminuíram, os riscos de insolvência no longo prazo continuam firmes no mesmo lugar”, disse o banco em relatório.

O economista-chefe do banco West LB, Roberto Padovani, acha que o problema grego deixou de ser a moratória e passou a ser o baixo crescimento. Ele aponta para o risco de uma espiral negativa no país, como houve na Argentina, em 2001.

— O governo cortará gastos para diminuir o déficit público, só que isso pode também desacelerar a economia e diminuir a arrecadação.

Aí o governo cortará mais gastos, a economia voltará a desacelerar, e a arrecadação também.

Nesse contexto, haveria fuga de investidores. Por isso, a recuperação global é importante — explica.

Álvaro Bandeira, da Ágora Corretora, acredita que o pacote diminui o ataque especulativo ao euro. Ontem, o euro se valorizou 1,4% em relação ao dólar, cotado a US$ 1,3691, a maior cotação das últimas três semanas, mas depois de ter caído 14% em quatro meses.

— O mercado ainda olha com certa prudência. Outros países, como Espanha, Portugal, Irlanda e Itália, também devem precisar de ajuda. Outro ponto de dúvida é como a Itália, que está com problemas, participará do socorro à Grécia.

De uma maneira geral, todos os países estão com problemas fiscais — disse.

O pacote grego é um alívio de curto prazo, mas a crise que começou em 2008 ainda continua produzindo seus desdobramentos.

BRASIL S/A

O poder da versão
Antonio Machado

CORREIO BRAZILIENSE - 13/04/10

BC está cercado pela certeza do mercado de que a demanda cresce em ritmo maior que o da produção


Pela 12ª semana, a estimativa da inflação para 2010 veio em alta, conforme o mirante da centena de bancos, consultorias e entidades empresariais consultadas pelo Banco Central. De 5,18%, uma semana atrás, saltou para 5,29%. E de 4,74%, em 2011, para 4,80%.

Ambas as medidas, balizadas pelo IPCA, índice do IBGE que capta a variação dos preços ao consumidor, estão acima do centro da meta — 4,5%, com intervalo de 2,5% a 6,5%. Fecha-se, assim, o cerco sobre a reunião do dia 28 do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC.

Nela, a Selic voltará a estar em foco. E deverá subir, segundo o Focus, boletim semanal do BC sobre os anseios do chamado mercado. Parada em 8,75% ao ano desde julho de 2009, é uma das mais altas do mundo e, paradoxalmente, a menor já praticada pelo BC.

A Selic é referência para o custo das operações interbancárias e, portanto, funciona como piso para os juros pagos aos investidores no processo de formação das taxas cobradas no mercado de crédito.

É com ela que o BC influencia as expectativas inflacionárias. Mas as expectativas também podem influenciá-lo, sempre que o seu papel de coordenação estiver questionado. A ata do último Copom, quando, segundo seu relato, a conjuntura indicava o aumento da Selic, que não aconteceu, confundiu as percepções. O mercado se viu sem chão.

A indecisão do presidente do BC, Henrique Meirelles, sobre o seu destino político envenenou o quadro. Ele decidiu ficar, mas agora à frente de uma diretoria 100% formada por funcionários. O último diretor egresso do setor privado, Mário Mesquita, saiu. Não é que isso possa fazer alguma diferença. O BC já foi tocado por quadros de carreira sem se desviar um milímetro da ortodoxia monetária.

Mas é outro questionamento num ano eleitoral, ao que se adicionam a combatividade do ministro da Fazenda, Guido Mantega, para que o crescimento acelerado não sofra percalços, e a ordem do presidente Lula ao ministério, em reunião no início da semana passada, para que o orçamento de cada pasta seja gasto até o último centavo.

Assim está o BC em relação ao que fazer com a Selic, função, por sua vez, do que se espera da inflação — resultado de fundamentos identificáveis pelos modelos de projeção, mas também de profecias baseadas em crendices econômicas e de apostas dos que operam com a arbitragem de taxas no mercado de títulos da dívida pública.

Só o passado é certo

Tudo isso é ponderado pelo BC, até o lobby disfarçado de análise técnica. Certo é só o passado. Ele diz à luz do IPCA em doze meses até março que a sua variação acumulada, 5,17%, supera a meta anual (4,5%), mas no mês cresceu abaixo do esperado pelo mercado, 0,52%, e muito menos que o resultado de fevereiro sobre janeiro, 0,78%.

Fatores pontuais inflaram a inflação corrente, como o excesso de chuvas, que impacta os preços dos gêneros agrícolas, e reajustes de IPTU, IPVA, as tarifas de ônibus e mensalidades escolares.

O dialeto do mercado

É a carestia datada, razão pela qual a inflação projetada para os próximos doze meses se adapta a um ritmo menor que o previsto para o ano-calendário. Na média intersemanal do Focus, ela foi de 4,63% a 4,69%: acima da meta e abaixo do estimado para o ano (5,29%).

Essa sopa de números é o dialeto do “mercado” para dialogar com o BC. Traduzindo o seu significado: 1º, não há pressão factual sobre os preços; 2º, mas ela haverá, se a aceleração da demanda não for ajustada à da produção, uma função do investimento, complementada pelas importações; e 3º, o mercado diz que, mesmo supondo aumento da Selic dos atuais 8,75% para 11,25% este ano e assim ficando até o fim de 2011, a inflação só voltará ao centro da meta em 2012.

Expectativa dá o tom

Para as fontes que formam a média das projeções do Focus, o BC se atrasou em relação à Selic. Como a inflação corrente não sanciona o vaticínio, só a projetada, o BC pisa em ovos. Os inflacionistas alegam que a folga da capacidade instalada aberta pela crise está se fechando e que o ritmo dos investimentos, embora forte, não vai expandir a oferta, suplementada com importação, a tempo de demover uma onda de remarcação preventiva de preços. Há controvérsias.

O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, argumenta que o cenário do Focus não confere com o mapa dos investimentos em curso. Não há gargalo de oferta, ele sustenta. Mas há, admite, “problema com as expectativas do mercado”, que acredita noutra coisa. O que fazer?

“O BC tem de controlá-las”, diz. Ou faz ou a profecia do mercado se tornará realidade. É triste, mas o BC não vai bancar a aposta.

PIB pode chegar a 7%

Aos olhos de quem só vê a dinâmica que a Selic tende a assumir, há um grande desarranjo. Não há. Há é uma recuperação cíclica que vai impressionar. Para o economista Fernando Montero, será a maior em 25 anos. O aumento do PIB, estimado em 5,8% pelo BC, já chega a 7% em suas contas. O Bradesco acaba de rever sua projeção para 6,4%.

O Tesouro deve estar esperando um aumento dessa grandeza, segundo Montero, já que, diz, sem superarrecadação tributária, não há como entregar a meta anual de superávit primário (3,3% do PIB), como o governo garante que fará. Em tal cenário, é a inflação de 2011 que pode desgarrar. Para pegá-la no laço, o BC deve começar já agora a pôr fermento na Selic. Essa é a motivação, não o IPCA de 2010.

ANCELMO GÓIS

A Barrafunda  
O Globo - 13/04/2010

A BARAFUNDA DAS calçadas cariocas, de obstáculos variados, ganhou os objetos das fotos, tiradas pela coleguinha Rejane Guerra. São carrinhos de supermercados “estacionados” ao lado de árvores, e presos por correntes, um no Leblon, na esquina das avenidas Ataulfo de Paiva e Afrânio de Melo Franco (foto de cima), o outro na Glória, na Rua Conde Laje.
Provavelmente, são de moradores de rua, que os utilizam para guardar seus pertences, na migração permanente em que vivem

Os fuzis
Amanhã, os soldados da Unidade de Polícia Pacificadora do Morro Dona Marta, no Rio, iniciam treinos para uso de spray de pimenta.
A ideia é que os policiais das UPPs usem cada vez mais armas não letais. A meta é reduzir, paulatinamente, o uso de fuzis, que ficaria restrito a 20% da guarnição nestas comunidades.

Chame Jack Bauer
A bomba que explodiu o carro do bicheiro Rogério Andrade foi, provavelmente, detonada por um celular.
O uso desta tecnologia no crime carioca acendeu um alerta na polícia e nas Forças Armadas.
Na série “24h”, a do agente Jack Bauer, o presidente dos EUA, vivido por Dennis Haysbert, sofreu um atentado assim.

Varig, Varig, Varig

O juiz Luiz Ayoub condenou, cinco anos depois, o ex-presidente da Varig Marcelo Bottini e seus antigos diretores a devolverem, com juros e correção, R$ 1,1 milhão à finada voadora.
A grana é referente a rescisões antecipadas pagas, segundo o Sindicato Nacional dos Aeroviários, aos caciques da falecida, “em detrimento dos trabalhadores, ainda hoje sem receber”.

Marketing na Copa
A Vivo, que já patrocina a seleção, assinou com Pelé.

Contra Hu Jintao
A ONG inglesa Free Tibet, que luta pela libertação do Tibete, fará um protesto amanhã contra a visita do presidente da China, Hu Jintao, ao Brasil.
Será em frente ao consulado do país no Rio, das 16h às 18h.

Telefone para o céu
A José Olympio vai relançar “Se eu morrer, telefone para o céu”, de José Cândido de Carvalho, autor do clássico “O coronel e o lobisomem”.
O livro, que ficou décadas esquecido, sairá pela coleção Sabor Literário.

Diário de Justiça
A Comissão de Anistia, que julga casos de quem reclama ter sofrido perseguições políticas, analisa amanhã um pedido de Norma Bengell, 75 anos.
Em recente entrevista à “Folha de S. Paulo”, a atriz e diretora disse que “perdeu as contas de quantas vezes foi detida na ditadura”. Norma teve bens bloqueados pela Justiça por causa de “O guarani”, acusada de mau uso de dinheiro de incentivo fiscal para fazer o filme, em 1995.

Amor em pedaços
O casamento do jogador Alexandre Pato com a atriz Stephany Britto não anda bem.

Cinema livre
O senador Francisco Dornelles apresentou projeto para prorrogar até 2016 o artigo 1º da Lei do Audiovisual (expira este ano).
Baseada em renúncia fiscal, a lei representa uma injeção no setor de R$ 40 milhões anuais.

Acorda, Jorge!
Embora Niterói tenha umas 30 áreas problemáticas, a equipe da Defesa Civil da prefeitura da cidade é formada por... quatro funcionários.

Igreja Católica
Leonardo Boff, cujas idéias políticas já renderam um litígio com o Vaticano, voltou a enfrentar problemas na Igreja.
É que Boff foi convidado para fazer a palestra de abertura da II Conferência Municipal de Saúde Mental, sexta, na Universidade Católica de Petrópolis (UCP), mas teria sido vetado pelo bispo dom Filippo Santoro.

O outro lado...
Segundo o monsenhor Daher, vigário-geral diocesano, a UCP cederia o espaço ao evento, mas os organizadores não mandaram a tempo toda programação: — A universidade, por ser católica, tem responsabilidade com a Igreja. E em vários destes encontros há coisas que podem bater com posições da Igreja. A decisão de proibir foi da universidade e não do bispo — diz o monsenhor.

Negócio fechado
Já é dada como sacramentada a compra da Richards e da Salinas pelo grupo InBrands, o mesmo das marcas Ellus, Isabela Capeto e 2nd Floor.

Tem culpa eu?
Luiz Pezão foi ontem ao Morro do Bumba, em Niterói. No meio do papo, um morador perguntou se ele era jornalista.
Quando Pezão disse que era vice-governador, o homem ficou aliviado: “Não aguentamos mais tantos jornalistas em cima.”

VOVÔ ZECA
Pagodinho, nosso sambista, posa todo coruja com o primeiro neto, Noah, no Porcão da Barra. Vovô bamba é outra coisa

O CANTOR ALEJANDRO
Sanz recebe carinho em dose dupla da atriz Sheron Menezes e da modelo Letícia Birkheuer nos bastidores do “Domingão do Faustão”

PONTO FINAL
A Light ouviu as preces da coluna, e os cariocas correm menos risco devido a uma instalação elétrica clandestina. Foram retiradas, veja na foto, tomadas que levavam energia ilegal a camelôs, na Rua do Lavradio, no Centro. Ainda bem.