terça-feira, junho 21, 2011

ANCELMO GÓIS - Um tempo para SP

Um tempo para SP
ANCELMO GÓIS
O GLOBO -21/06/11

A Fifa decidiu ontem não mais anunciar dia 30 de julho os nomes dos estádios que vão receber o jogo de abertura e a final da Copa de 2014. Deixou a decisão para setembro ou outubro, na esperança de que, até lá, São Paulo tome tenência e consiga provar que erguerá um estádio capaz de abrigar a partida inaugural.

Arraiá da Dilma
Este ano não tem forró na Granja do Torto, tradição dos anos do pernambucano Lula. Mas a mineira Dilma pretende ir sexta, Dia de São João, a Caruaru, PE, uma das mais belas festas juninas do país.

Serra a galope

No mesmo dia em que Aécio caiu do cavalo e se quebrou todo, José Serra fez um checkup completo em São Paulo. O resultado: está melhor do que há três anos, data do exame anterior.

Retratos da vida

A atriz Norma Blum, 72 anos de idade e 57 de carreira, conseguiu sua aposentadoria. Vai receber... um salário mínimo mensal. Norma começou na TV Tupi em 1954.

Se liga, Infraero
Dia 6 de julho, aeroportuários (funcionários da Infraero) prometem parar os seis principais aeroportos do país num ato contra a promessa de privatização. O direito ao protesto é sagrado. Mas bem que estes trabalhadores poderiam também fazerum ato assim para denunciar a má qualidade dos serviços prestados aos passageiros.

Cinco milhões
“Ágape”, livro do padre Marcelo Rossi lançado pela Editora Globo, chegou a cinco milhões de exemplares vendidos. Foi lançado em agosto de 2010 e está, desde então, em primeiro lugar na lista dos mais vendidos no Brasil.

Vai dormir, p##@!
A Sextante lança em julho no Brasil o livro “Go the f...k to sleep”, do americano Adam Mansbach, fenômeno comercial mundo afora, primeiro na lista de mais vendidos do “NY Times”. O título aqui será “Vai dormir, p*##@!”.

Calma, papai...
Aliás, o título do livro, espécie de literatura infantil para adultos, surgiu de uma piada do autor no Facebook, após perder a paciência com a filha de 2 anos, que não queria dormir.

Neymar na rede
O Brasil não ficará sem a transmissão dos jogos da Copa América pela internet. A TV Globo decidiu exibir as partidas da seleção de Neymar & Cia. pelo Globoesporte. com. O internauta poderá ver os jogos ao vivo por computador, celular, iPhone, iPad etc.

Livre, leve e solto

Edmundo, o Animal, preso semana passada por homicídio culposo e solto no mesmo dia, estava ontem, por volta de 13h, na 5a-
Avenida, em Nova York. Fazia comprinhas na Gap.

Racha na missa
Hoje, a cúpula do PDT lembra os sete anos da morte de Brizola em missa, às 11h, na Igreja de São Benedito dos Homens Pretos, na Rua Uruguaiana, no Rio. Haverá outra missa ali perto, às 12h15m, na Igreja de N. S. do Bom Parto, na Rua Rodrigo Silva, convocada por dissidentes do partido, entre os quais o ex-deputado Vivaldo Barbosa.

Silêncio no chope
A boemia do Leblon está de luto. Morreu Antônio, 52 anos, garçom das madrugadas do boteco Jobi, vítima de complicações da diabetes.

Dia da dedada
A Câmara do Rio instituiu 17 de novembro como Dia de Combate ao Câncer de Próstata.

Botafogo 2016
Domingo, antes de seu jogo contra o Grêmio, no Engenhão, o Botafogo fará um desfile olímpico com seus 600 atletas de todas as modalidades esportivas. A direção artística será do alvinegro Max Lopes.

Léo e Odílio

Sabe o casal gay cuja união estável foi anulada pelo juiz Jeronymo Villas-Boas, em Goiânia? O governo fluminense o socorreu. Amanhã, Léo e Odílio vão se “casar” de novo naquela cerimônia de união homoafetiva do estado para 50 casais gays.

ILIMAR FRANCO - Atrás do palco

Atrás do palco
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 21/06/11
 
Os petistas estão em campanha para impedir que a presidente Dilma nomeie o senador Eduardo Braga (PMDB-AM) líder do governo no Congresso. Acusam- no de ser um crítico da ação governamental. Querem colocar um petista no posto e tentam emplacar o senador Walter Pinheiro (PT-BA). Mas, no Planalto, o nome de Pinheiro não sensibiliza. Todos lembram que ele foi um dos primeiros a abrir artilharia contra o ex-ministro Palocci.

São Paulo e Rio: Enfim juntos!
O governador Geraldo Alckmin (SP) esteve no Rio ontem para debater a partilha dos royalties do petróleo com o governador Renato Casagrande (ES) e o vice Luiz Fernando Pezão (RJ). Alckmin abandonou a postura anterior do governo paulista de lavar as mãos e vai lutar pelas receitas do petróleo, pois muitas das novas descobertas no pré-sal estão em seu mar territorial. Uma das estratégias é tentar atrair, para a posição dos três produtores, outros estados em cujas águas estão sendo anunciadas novas jazidas. A outra é tratar do tema junto com o novo Fundo de Participação dos Estados (FPE).

O líder do governo no Congresso sempre foi um cargo do Senado”— Renan Calheiros, líder do PMDB no Senado (AL), citando os últimos três ocupantes do posto: Fernando Bezerra, Roseana Sarney e Ideli Salvatti

TENTATIVA DE ACORDO. A ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) recebe na próxima semana os relatores do Código Florestal no Senado e os presidentes das comissões que analisarão a matéria. A conversa com o senador Luiz Henrique (PMDB-SC) deve ser particularmente difícil. Quando era governador de Santa Catarina, ele diminuiu a área de preservação nas margens de rio, e Ideli ficou contra.

O telefone toca
A presidente Dilma ligou ontem cedo para o presidente da Câmara, Marco Maia (PTRS): “Estou te ligando porque não quero começar a semana com todo mundo pensando que a gente está brigado. ”Eles se despediram rindo.

Na unha
Para manter os quadros do partido, assediados pelo PSD, o presidente do DEM, senador José Agripino (RN), viaja toda semana para dois estados. Nas reuniões, além de líderes e parlamentares, também são chamados os filiados.

Itamaraty pelo fim do sigilo
O Ministério de Relações Exteriores, por determinação do ministro Antonio Patriota, fez uma varredura nos documentos diplomáticos considerados ultrassecretos. Depois de minuciosa avaliação, concluiu: “Não há nada que nos constranja”. O Itamaraty, que, por um mecanismo de prudência, era contra a abertura, está hoje alinhado com a posição da presidente Dilma, de que os documentos devem ser todos tornados públicos.

Prioridade

O governo quer votar o projeto que cria a Comissão da Verdade antes do recesso de julho. O objetivo é aprová-lo sem alterações. O ministro Nelson Jobim (Defesa) vai se reunir com o PSDB, após o feriado, para tentar fechar um acordo.

Meta
Reunido em Recife no último sábado, o PT do Nordeste estabeleceu como prioridade nas eleições municipais manter as prefeituras de Recife e Fortaleza, e ganhar as de Salvador e Aracaju, capitais de estados dirigidos por petistas.

 HÁ MUITA resistência no PT contra a candidatura do ministro Fernando Haddad (Educação) para a prefeitura de São Paulo. Ele é o nome preferido do ex-presidente Lula e da presidente Dilma.
 O INSTITUTO Ipespe fez pesquisa, para o PCdoB, sobre eleições em São Paulo, capital. Deu Aloizio Mercadante, 26%; José Serra, 22%; e, Netinho de Paula, 17%. Em outra simulação: Netinho, 23%; Paulo Skaf, 10%; Gabriel Chalita, 2% e Fernando Haddad, 1%.
● O GOVERNADOR Marcelo Déda (SE) arrastou o presidente do TCU, Benjamin Zymler, para o Forró Caju, em Aracaju, no último fim de semana.

CELSO MING - A Europa vacila

A Europa vacila
CELSO MING 
O Estado de S.Paulo - 21/06/2011

Se fosse um banco, a Grécia já teria sido resgatada? Provavelmente, sim. Mas a Grécia é apenas a Grécia e, como tal, segue à beira do abismo - e, com ela, o resto da Europa.

Os políticos, que não vacilaram quando se tratou de prover socorro aos bancos, continuam paralisados diante do risco de naufrágio. Já há suficiente percepção de que não se pode deixar que a Grécia se vire sozinha com seus cacos. Isso produziria um caos financeiro, de consequências políticas imprevisíveis. Pelo menos outros cinco países da área poderiam quebrar logo em seguida, o euro perderia até mesmo o chão instável em que está assentado e sabe-se lá quantos grandes bancos quebrariam com eles.

A condição mais conhecida é a de que o governo do primeiro-ministro grego, George Papandreou, arranque do Congresso um plano forte de austeridade fiscal que torne sustentável a administração da dívida. Mas não basta impor à população sacrifícios à beira do insuportável. A solução tem de se estender também aos bancos que sustentam a dívida grega e a dos outros países da zona do euro.

Até a semana passada, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, exigia a participação dos credores num outro pacote de ajuda financeira à Grécia. É o que equivaleria a impor certo calote aos bancos. No entanto, apesar de herdeiro da cultura de austeridade do Bundesbank da Alemanha, o Banco Central Europeu (BCE) antepôs feroz resistência a qualquer solução desse tipo, porque não quer a calamidade para os bancos, que ficaria inevitável.

Na edição deste domingo, o diário inglês The International Herald Tribune mostrou haver mais coisas graves acontecendo, além da rebelião popular. Informações do próprio BCE dão conta de que, mesmo sem a suspensão dos pagamentos, os depositantes estão sacando seus depósitos bancários. Em abril, os bancos da Grécia perderam US$ 2,4 bilhões; em maio, outros US$ 4 bilhões. A fuga de capitais do país já alcança um total de US$ 60 bilhões, o equivalente a 25% do seu PIB. Pela enérgica reação do BCE à tentativa de empurrar um pedaço reduzido da conta da crise para os bancos, não parece descabido pensar que esses movimentos de saque não se restrinjam aos bancos da Grécia. Os mais apavorados podem estar fazendo o mesmo, inclusive, com os bancos mais expostos às dívidas de outros países europeus.

Sexta-feira, a chanceler Angela Merkel avisou que a participação do setor financeiro num plano de resgate da Grécia se assentará sobre "bases voluntárias". A ideia original era a de que os credores empurrassem as atuais posições em títulos gregos por mais sete anos. Mas essa proposta vinha com um viés de imposição que o BCE também considerou inaceitável, pelas consequências negativas que provocaria na saúde dos bancos.

Muita gente estranha a crueldade dos mercados que, aparentemente, dispensam espantosa generosidade aos banqueiros - essa espécie destituída de alma e de coração - e, ao mesmo tempo, tratam com casca e tudo os países, onde vive gente feita de carne e osso. Mas essa distinção é descabida.

Os bancos lidam com ativos e passivos, a um triz do descasamento. Se levarem um calote que abale a confiança, correm o risco de não poderem pagar nem seus depositantes nem os aplicadores em seus títulos, especialmente numa situação de corrida aos passivos. E é essa condição que o BCE quer evitar a qualquer custo.

Confira

Efeito contrário
O governo festejou a promoção da dívida brasileira na tabela de classificação de risco da Moody"s. Em seu pronunciamento, a agência avisou que pesou decisivamente na promoção do Brasil o alto nível de reservas externas. Outra vez, reservas altas atraem dólares. Se o Banco Central segue as empilhando para evitar a valorização do real, na prática, está produzindo efeito contrário.

MERVAL PEREIRA - Visão autoritária

Visão autoritária
MERVAL PEREIRA 
O Globo - 21/06/2011

Não terá sido por acaso que no espaço de poucos dias o governo federal decidiu por medidas restritivas, em dois casos de repercussão nacional, com o objetivo de impedir, por razões diversas, que a sociedade se inteire de informações que estão sob o controle do Executivo.

O cerne da questão é sua tendência controladora e autoritária, uma continuidade do estilo implantado pelo antecessor e tutor político, que sempre se incomodou com os órgãos de controle externo, seja o Tribunal de Contas da União ou o Tribunal Superior Eleitoral nas campanhas políticas.

A manutenção do chamado "sigilo eterno" para alguns documentos oficiais é uma afronta, sobretudo, à sociedade, submetida a conviver com uma "História oficial" que muito pouco tem de verdadeira.

A mudança de opinião da presidente Dilma Rousseff, que antes mesmo de assumir a Presidência da República já defendia, na Casa Civil, a adoção de uma legislação avançada de acesso a documentos públicos, em nome da liberdade de expressão e da cidadania, tem a mesma justificativa utilizada para esconder documentos referentes ao regime militar: podem abrir feridas, causar mais danos do que benefícios.

Como se mentir sobre fatos históricos, ou escondê-los, fosse melhor para o cidadão brasileiro e para a História do país do que conhecer seu passado, em muitos casos para evitar que certos fatos se repitam.

Já a questão do Regime Diferenciado de Contratações (RDC), com que o governo pretende recuperar o tempo perdido na execução das obras para a Copa do Mundo de 2014, tem mais a ver com a incompetência administrativa do que com outra coisa, embora a consequência possa ser mais escândalos de corrupção.

Pode ser coincidência, mas, desde que o país foi anunciado como o organizador da Copa do Mundo, comentava-se que as obras ficariam atrasadas até que, por questões de emergência, os controles fiscalizadores fossem afrouxados, permitindo um lucro maior aos envolvidos nas obras.

Por isso mesmo, foi ridicularizada desde o início a afirmação do presidente da CBF, Ricardo Teixeira, de que não haveria dinheiro público nas obras da Copa, ficando tudo a cargo da iniciativa privada.

É verdade que há vários tribunais de contas pelos estados e municípios que endurecem muito no processo licitatório, em vez de acompanhar a execução do projeto depois.

O RDC tem o claro objetivo de mitigar o controle, especialmente na fase licitatória, e vai exigir que os tribunais se desdobrem no acompanhamento da execução.

Ontem mesmo o ministro do Supremo Gilmar Mendes, falando em tese, defendeu a modernização da Lei 8.666, das licitações, para que torne mais ágeis os mecanismos de fiscalização.

Mas é também fato que para fiscalizar as obras é preciso ter regras fixas, porque há toda uma estrutura montada para esse trabalho, programas de computador, pessoas treinadas.

O primeiro grande inconveniente é exatamente mudar as regras da fiscalização em cima da hora, com as obras todas atrasadas. Na prática, a mudança, se não impede, pelo menos dificulta muito a fiscalização.

Mesmo que fosse para mudar a legislação para melhor, dizem especialistas, teria que haver certo tempo para adaptar a estrutura de fiscalização às novas regras.

A nova legislação também ampliou muito o alcance das novas regras, permitindo que qualquer obra possa ser enquadrada nela, dependendo da vontade do Executivo.

Em vez de se restringir o novo sistema a poucas obras, um hospital, uma estrada, um aeroporto, qualquer obra pode ser considerada importante para a realização da Copa do Mundo, mesmo que não esteja em um estado onde os jogos se realizarão.

Pelas regras atuais, qualquer obra só pode ter seu preço aumentado em 25%, com as explicações necessárias, para evitar abusos.

Agora, sob a nova legislação, o gasto pode ser ampliado sem limites, sob a justificativa de que pode haver uma exigência da Fifa que terá de ser cumprida.

A questão mais polêmica, a cláusula do sigilo do preço básico, está mobilizando até mesmo os principais líderes da base aliada, tendo o presidente do Senado, José Sarney, já dado o sinal para que seja derrubada.

Há países que usam esse sistema, mas não é nossa tradição nem há previsão na Lei 8.666. Especialistas dizem que não há vantagem nesse sigilo, pois o preço-base não é o preço máximo, não sendo proibido reduzir esse preço.

Com o sigilo, a licitação fica sem parâmetros, e a alegação de que ele impede a cartelização é considerada irreal, pois não há como impedir que as empresas envolvidas em uma licitação se acertem antes de apresentar seus preços, e nesse caso serão as empreiteiras que fixarão o preço-base.

O fato é que o RDC afrouxa muito a lei de licitações quando aceita, por exemplo, haver apenas um projeto básico, mesmo quando a empreiteira pode assumir o chamado "contrato global" que não está especificado.

Essa modalidade existe, mas aumenta o risco, a fiscalização fica mais difícil. Se chegar ao fim da obra e der errado, como resolver? Quanto mais cedo há a fiscalização, mais fácil evitar erros.

O inconveniente principal é criar dois sistemas de licitações de obras públicas, tornando muito mais difícil fiscalizá-las.

MIRIAM LEITÃO - Absoluto e relativo

Absoluto e relativo
MIRIAM LEITÃO 
 O Globo - 21/06/2011

O Brasil passou ontem, na medição da Moody"s, a ter uma nota melhor do que a da Irlanda, país que recentemente precisou de socorro da Europa e do FMI. Ainda está seis degraus atrás de Espanha e Itália, que estão com problemas, como se sabe. A nota do Brasil devia ser melhor. Mas as contas brasileiras também deveriam ser mais sólidas, levando-se em conta o bom momento da economia do país.

Em resumo, o Brasil é melhor do que dizem as notas das agências de classificação, se olharmos como outros países são classificados. Mas não estamos tão bem quanto poderíamos estar. Se o Brasil olhar para o lado, ele está relativamente muito melhor do que inúmeros outros países, até porque eles pioraram. Mas o Brasil fecha todo ano com déficit fiscal de 2,5% do PIB, apesar de as receitas terem crescido 15,76% em 2010; tão esquisito quanto uma pessoa fechar no vermelho no mês em que tem um grande aumento de salário.

As agências vivem errando, mas são inevitáveis. Por mais que cometam erros, tenham critérios estranhos, o mercado financeiro internacional e os reguladores se guiam por elas para fazer ou permitir investimentos. O Brasil é investment grade, ou seja, país considerado bom investimento. Mas para vocês terem uma ideia da esquisitice, até julho do ano passado o governo grego tinha avaliação de risco melhor do que a do Brasil, apesar de já ter sido socorrido por um empréstimo que era de 50% do seu PIB. Obviamente as notas estavam erradas: a deles e a nossa.

A economista Monica de Bolle, da Galanto Consultoria, avalia que a melhora do Brasil também se deve à piora dos outros, ou seja, relativamente estamos melhores. Mas ela lembra que a dívida bruta do Brasil pela metodologia antiga é de 64% do PIB. Pela nova metodologia, adotada desde 2007, é de 56% em abril de 2011. A nova não conta os títulos emitidos pelo Tesouro mas que estão em carteira do Banco Central, só registra o que o governo de fato deve ao mercado e aos financiadores da sua dívida.

O governo gosta de usar o conceito de dívida líquida que diminui os ativos que ele tem e o que tem a receber. A dívida líquida é de 39,8% do PIB. Mas esse é um conceito mais difícil de comparar com outros países, porque os critérios de cada um são diferentes. Além disso, o Tesouro tem se endividado para transferir dinheiro para o BNDES, e isso não entra na conta porque supostamente é um empréstimo e o BNDES um dia pagará ao Tesouro. Ninguém acredita que isso seja "empréstimo".

Monica acha que há uma informação não exatamente numérica que acaba entrando na avaliação de risco:

- Se formos comparar o Brasil com a Espanha, não temos a mesma educação que eles; nós decretamos moratória, e eles, nunca; nós tivemos hiperinflação. Tudo isso pesa. O Brasil no seu melhor momento tem déficit de 2,5% do PIB.

Raphael Martello, da Tendências consultoria, explica que a Irlanda ainda é grau de investimento, apesar do socorro que recebeu do FMI, porque nas últimas décadas o governo fez um forte ajuste fiscal e reduziu bastante a dívida pública:

- A Irlanda tinha posição fiscal muito boa, que só se deteriorou por causa da crise bancária decorrente da crise americana. Eles tiveram que resgatar bancos e isso aumentou muito a dívida pública. É um problema de liquidez. O país fez um enorme dever de casa e isso não vai desaparecer do dia para a noite. A Irlanda não é um país gastador.

De fato, a Irlanda fez um enorme esforço de trazer a dívida de mais de 100% do PIB para menos de 30%, mas a crise catapultou a dívida de volta para 95%. E o que as notas teriam que refletir é a capacidade atual de pagar, e não o histórico. O Brasil tem uma história cheia de problemas, mas desde a estabilização isso vem mudando. Irlanda, Portugal, Espanha podem virar a bola da vez, assim que a Grécia decretar moratória, negociada ou não. A Grécia estava melhor do que o Brasil há um ano e hoje está na pior nota que algum país pode ter, Caa1. Não ficou assim de repente. Faltou capacidade de análise e previsão às agências de risco. Elas constatam fato consumado e só conseguem seguir aquele ritual demorado. Um país que tem uma piora súbita vai descendo degrau a degrau; um país que melhora consistentemente sobe devagar. E por isso estamos com pior nota do que Portugal, o que evidentemente não reflete os fatos.

O Brasil poderia estar melhor do que está porque é um bom momento, o país cresce, as receitas aumentam mais do que o PIB, a carga tributária sobe. O governo deveria ser capaz de pagar todas as contas e fechar em equilíbrio. Tem feito superávit primário e mantido a dívida com tendência de queda, mas poderia ter como objetivo o déficit zero. É rudimentar pensar que as contas estão bem porque os outros países pioraram muito. Melhor seria perceber que essa é a hora de zerar o déficit, exatamente para que se algum imprevisto ocorrer no futuro o país possa enfrentá-lo com elevação de gastos.

Por outro lado, a Moody"s elevou o risco do Brasil para o nível do Cazaquistão e das Ilhas Maurício e continuamos perdendo de países europeus que podem estar na fila de reestruturação da dívida se a Grécia declarar moratória.

LUIZ EDUARDO ROCHA PAIVA - Pacífico, mas não desarmado


Pacífico, mas não desarmado
LUIZ EDUARDO ROCHA PAIVA
O Estado de S.Paulo - 21/06/11

"Não se pode ser pacífico sem ser forte" Barão do Rio Branco (referência de estadista e diplomata)


O Brasil pretende alcançar o status de potência global e a Nação precisa ter consciência de que essa posição implica tomar atitudes no cenário internacional, não só no campo diplomático, mas também no militar, onde os custos costumam ser altos. No âmbito interno, sendo uma democracia, a sociedade terá poder para pleitear um nível de bem-estar compatível com a pujança econômica do País, em via de ser uma das cinco maiores economias do mundo. Tal grau de desenvolvimento implicará o consumo de recursos em montante e diversidade que exigirão explorar sem ingerência estrangeira as riquezas nacionais, algumas escassas noutras partes do mundo e vitais à sobrevivência de potências globais. Além disso, também precisará garantir o acesso a fontes externas de matérias-primas em face da dificuldade de satisfazer as crescentes aspirações e necessidades da Nação, explorando apenas os recursos internos, parte dos quais serão produtos de exportação ou reserva estratégica. O cidadão deve estar ciente de que essas exigências são comuns a todas as potências globais e fontes de conflitos de interesses.

Portanto, um Brasil potência mundial deveria ter Forças Armadas (FAs) aptas, de fato, a defender a Pátria e apoiar a política exterior - suas missões mais relevantes. A primeira requer capacidade de proteger o patrimônio e o território, dissuadindo ameaças e, se preciso, revidando agressões. A segunda implica dispor de forças de pronto emprego, a fim de compor uma força expedicionária, seja autônoma para garantir interesses vitais próprios, seja subordinada a organismos internacionais para atender a compromissos externos do País; e, também, de forças aptas a participar de missões de paz e humanitárias, sendo estas últimas as únicas disponíveis, ainda assim com restrições.

Porém o Brasil cometeu o erro estratégico de importar a visão das potências ocidentais, nascida após a queda da URSS, de que as FAs deveriam preparar-se para enfrentar novas ameaças - terrorismo, crimes ambientais, crime organizado, violações de direitos humanos e de minorias, desastres naturais, litígios étnicos, sociais e religiosos - e também para missões de paz e humanitárias. É a nefasta servidão intelectual, que não contextualiza conceitos do Primeiro Mundo à realidade brasileira. Ora, com a queda da URSS, os países europeus e os EUA deixaram de ter uma ameaça militar a seus territórios e passaram a se preocupar apenas com as que afetam seus interesses imperialistas em todo o mundo. O Brasil, ao contrário, tem ameaças ao seu patrimônio na Amazônia Verde, cuja soberania é discutida mundialmente, e na Amazônia Azul, ambas vulneráveis e com riquezas cobiçadas por potências contra as quais não temos a menor capacidade de dissuasão. Falta de visão e servidão intelectual das lideranças, aliadas à submissão ao politicamente correto (máscara da tibieza moral), ao não apontar as reais ameaças e sua magnitude, desviaram o País do que deveria ser o foco das estratégias de defesa. Ora, contra novas ameaças, para que mísseis, canhões, forças blindadas, caças e submarinos? Resultado: FAs raquíticas, obsoletas e sem um projeto integrado que oriente sua evolução. É intenção dos EUA e aliados que as FAs da América do Sul deixem a defesa externa em suas mãos, voltando-se para as novas ameaças e liberando-os para a concretização de interesses prioritários. Quem nos protegeria dos novos protetores?

O Ministério da Defesa é um interlocutor fraco no núcleo decisório do Estado, onde prevalece o Ministério das Relações Exteriores (MRE) que, incoerente com o status pretendido para o País, endossa a ideia de Brasil potência da paz, cuja atuação restrita ao soft power seria suficiente para uma forte influência internacional, dispensando um poder militar compatível com seu perfil estratégico. O MRE advoga a assinatura de acordos do interesse das potências dominantes, que restringem o desenvolvimento científico-tecnológico e militar ou põem em risco a soberania em áreas estratégicas nacionais. Ora, a vocação pacífica do Brasil está na Constituição como guia de nossas relações internacionais, mas não obriga o País a estar desarmado. A Carta Magna estabelece que soberania e independência são objetivos nacionais e que o presidente da República tem de sustentar a integridade do Brasil, imposições que implicam um poder militar compatível com os desafios de um mundo onde o poder subordina o direito.

A necessidade de atribuir alta prioridade ao fortalecimento das FAs teria de ser esclarecida à Nação, mas a liderança nacional visa o retorno político imediato, mesmo comprometendo a segurança das gerações vindouras. A indigência militar e científico-tecnológica do Brasil só será revertida com alto e permanente investimento nesses setores. A transformação do País numa das cinco maiores potências militares, num lapso de duas décadas, deve ser política de Estado, pois antes desse horizonte temporal seremos um dos cinco maiores PIBs do planeta. Alcançado esse patamar, a única ameaça militar à segurança do território e à exploração soberana do patrimônio, interesses inegociáveis do País, viria de conflitos com os EUA, isolados ou coligados a outras potências. China e Rússia, embora já se projetem sobre o entorno brasileiro, seriam dissuadidas pelos EUA de ameaçar, de per si, militarmente o Brasil.

A razão indica e a experiência comprova que não existe grandeza comercial que seja durável se não puder unir-se, necessariamente, a uma potência militar (Tocqueville). O Brasil potência da paz é um ator de peso apenas em agendas como a econômica e a ambiental, sendo irrelevante em questões que exijam não discursos utópicos e bravatas, mas uma postura de potência real, sem delicadas adjetivações.

GENERAL DA RESERVA, PROFESSOR EMÉRITO E EX-COMANDANTE DA ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO, É MEMBRO DA ACADEMIA DE HISTÓRIA MILITAR TERRESTRE DO BRASIL

MÔNICA BERGAMO - MERCADO NEGRO


MERCADO NEGRO
MÔNICA BERGAMO
O GLOBO - 21/06/11

O modelo masculino que mais fez desfiles nesta temporada foi Ronaldo Martins.

"Espero ter trabalhado para sete marcas por meu perfil, e não pela cor." A cota de 10% de modelos negros por desfile, recomendada pela SPFW, não mudou o mercado no dia a dia. "Ele continua sendo maciçamente branco", diz Drica Lopez, presidente do Sindicato dos Modelos e Manequins do Estado de São Paulo. Por outro lado, a cota serviu para a inserção de empresas menores no evento. "Só modelos afro da minha agência entraram nesta edição da SPFW", diz Elian Gallardo, que trabalha com 40 manequins, todos homens.

FREYRE NO ENVELOPE

A Fundação Gilberto Freyre planeja lançar uma série de livros com as cartas trocadas pelo sociólogo, autor de "Casa Grande & Senzala", com seus pais, com a mulher, Maria Magdalena Guedes Pereira, e com intelectuais como Manuel Bandeira, José Lins do Rêgo e Rodrigo de Mello Franco. Os dois primeiros volumes, da correspondência familiar, já estão em produção. Os outros empacaram nas negociações com herdeiros de alguns dos amigos de Freyre.

CASA GRANDE

"Alguns não estão muito à vontade [com a publicação], outros não chegaram a um acordo financeiro", diz Jamille Menezes, gerente da fundação. A correspondência com os pais vai de 1918, quando Freyre foi para os EUA, a 1943. As cartas a Magdalena revelam os pedidos de namoro e de casamento. Com Mello Franco, Freyre discutiu a criação do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).

É JUSTO

Lideranças do DEM voltaram a trabalhar num velho projeto: transformar o publicitário e apresentador Roberto Justus em candidato a prefeito de São Paulo.

E já tentam agendar até encontros para convencê-lo.

AO DEUS DARÁ

O diretório municipal do PSDB aposta nas prévias para definir seu candidato a prefeito de São Paulo como uma forma de evitar que o partido espere até a última hora o ex-governador José Serra decidir se entra ou não na disputa. O deputado Ricardo Tripoli e os secretários Bruno Covas, José Aníbal e Andrea Matarazzo já manifestaram desejo de disputar as prévias.

EM BUSCA DO OURO

Autor de "Transformando Suor em Ouro", que já vendeu 340 mil exemplares, o técnico Bernardinho, da seleção masculina de vôlei, prepara novo livro "sobre liderança e motivação" para 2012, ano de Olimpíada.

ESBOÇOS CÂNDIDOS

O MAM (Museu de Arte Moderna) abre em julho "No Ateliê de Portinari (1920-1945)", que trará esboços que originaram grandes obras do artista, como o desenho preparatório para o quadro "Mestiço". O museu recebeu empréstimos de obras -o técnico Emerson Leão é um dos colaboradores- e R$ 600 mil da Sabesp.

AVIS RARA
Um maçarico, ave do hemisfério Norte, foi avistado no Parque Ecológico do Tietê. É a primeira vez que o pássaro aparece em SP, diz o ornitólogo Guto Carvalho.

TODOS DE ROSA

Jô Soares fará com Aracy Balabanian e Nathalia Timberg homenagem a Noel Rosa no palco do Prêmio da Música Brasileira, no dia 6.

FIM DE MARATONA
O ex-jogador Raí, a cantora Céu e a modelo Barbara Beluco circularam pelos corredores da Bienal no último dia da SPFW. Do lado externo do prédio, onde desfilou para a grife Ellus, a modelo Aline Weber posou para a coluna.

JOVEM BATUTA

A Orquestra Simon Bolívar, da Venezuela, se apresentou na Sala São Paulo durante o fim de semana. A atriz Irene Ravache e a jornalista Mônica Waldvogel foram assistir à sessão, regida pelo jovem maestro Gustavo Dudamel.

CURTO-CIRCUITO

A escritora Noemi Jaffe participa do projeto 34 Leituras Íntimas, hoje, às 21h, na Casa de Francisca.

A agência Mundo Pride Viagens faz festa de inauguração na Galeria Romero Britto hoje, para convidados.

O jornalista Antonio Matiello lançou o blog Crônicas do Vinho, com dicas, serviços e opiniões sobre o tema.

A Diageo lança hoje o rum Zacapa com jantar feito por Helena Rizzo. Na Casa Panamericana, às 20h. Luly e Fabio Vidigal fazem jantar em sua casa, para levantar fundos em prol da Tucca. Hoje, às 21h.

Luiz Fux e Sidnei Epelman participam de noite filantrópica na próxima segunda na Sinagoga Beit Chabad Morumbi.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA, THAIS BILENKY e CHICO FELITTI

ROBERTO ROMANO - A chantagem santa


A chantagem santa
ROBERTO ROMANO
O Estado de S.Paulo - 21/06/11

A palavra "ética", no Brasil, já foi incluída no pacote coletivo de risadas, algo bom para as caricaturas e nada mais. Quem retroage aos anos 90 do século 20 testemunha: na imprensa e nos debates universitários da época, as mesmas pessoas e os mesmos partidos que exigiam transparência dos governantes hoje zombam da opinião pública.

Como derradeiro fruto das campanhas em prol da lisura, a Câmara dos Deputados planejou o primeiro Seminário sobre Ética e Decoro Parlamentar (dezembro, 2003), que deveria ser realizado no Salão Nereu Ramos. Ali, perto de 500 pessoas poderiam ser acolhidas. Convidado, cheguei antes do início. Como o Partido dos Trabalhadores era o campeão da "ética na política", imaginei que o evento reuniria inúmeros petistas e pessoas da esquerda. No imenso espaço foi ocupada apenas a primeira fila de poltronas. Seria natural, disse aos meu botões, dado o atraso costumeiro em reuniões similares. Mas os trabalhos foram até o fim com audiência diminuta. Entendi: o tema não tinha mais serventia para quem chegara (finalmente!) ao Palácio, deixando a praça para os que ainda acreditavam em "bravatas".

Ética na política, mercadoria com validade vencida. Depois de 2003, quanta ética, quanto decoro notamos no Estado brasileiro!

O seminário foi transferido para uma sala de comissão e não a lotou. Nos corredores vi antigos exemplares de palavrosos "éticos". Muitos deles participaram comigo, pelos Brasis afora, de atos em defesa da nitidez administrativa. Nenhum deles foi ao debate. Naquele dia, nos corredores da Câmara eram definidos urgentes acertos políticos. Ao mesmo tempo, cultos religiosos (contrários à ordem legal) eram praticados aos berros. Tudo valeu para mandar às urtigas a reflexão sobre a moralidade.

Antes de me dirigir aos presentes, ouvi parlamentares, como o dr. Jorge Hage. Após conceitos importantes, escutei dele que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) integraria o Conselho de Transparência, a ser definido na lei de número 10.683. Tal enunciado me fez perguntar se tinha ouvido bem, se era mesmo CNBB que lhe surgira nos lábios. O conselho, esclareceu Jorge Hage, deveria "sugerir e debater medidas de aperfeiçoamento dos métodos, sistemas e estratégias de incremento da transparência, do controle e do combate à corrupção e à impunidade, com representação paritária do setor público e do setor privado, isto é, da sociedade civil".

No decreto, ainda em minuta na Casa Civil, o referido conselho reuniria o ministro da Transparência, alguém da Casa Civil, da Advocacia-Geral da União (AGU), dos Ministérios da Justiça, da Fazenda, do Planejamento, da Comissão de Ética Pública. Como autoridades convidadas, representantes do Tribunal de Contas e do Ministério Público da União. Da sociedade civil, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), a Transparência Brasil e outras entidades. "Por fim", declarou Hage, "um cidadão brasileiro que exerça atividade acadêmica, científica, cultural ou artística, escolhido entre pessoas de idoneidade moral e reputação ilibada, cuja atuação seja notória na área de competência do conselho. Por isso, a CNBB irá participar".

Agradeci a resposta do eminente gestor, que muito respeito. Mas a minha frase foi a seguinte: "Não sei se por deformação profissional, tive a impressão de ouvir, num certo momento, o dr. Jorge Hage falar da participação da CNBB em conselho". A maioria dos presentes não percebeu a crítica: a pergunta era sobre a natureza do regime político brasileiro. Em termos populares, "o que, diabos, faria a CNBB, subordinada a um Estado estrangeiro, num conselho cujo alvo é combater a corrupção política nacional? Existiria ainda a separação de Igreja e Estado?". Digam qual o direito, para tal fato, argumentaria Immanuel Kant!

Se o nosso Estado reserva um lugar para a CNBB numa Comissão de Transparência, por que não para os representantes de outros cultos?

Oito anos se escoaram no Brasil corrupto e as notícias sobre a Comissão de Transparência lembram apenas uma utopia (ou propaganda?) delirante. Por outro lado, nas últimas eleições a candidata governista à Presidência da República foi assediada por um vagalhão confessional que chegou a configurar chantagem. Logo após o estouro do caso Antônio Palocci (fortuna sem transparência, dada a confidencialidade nos contratos entre o legislador e firmas privadas), deputados, mas também senadores evangélicos e católicos, assumiram nova pressão sobre a Presidência da República: ou seria retirado o "kit contra a homofobia" ou os santos políticos votariam... por um trabalho parlamentar contrário ao então chefe da Casa Civil.

Nem uma vírgula dos Evangelhos permite tal procedimento. A justiça - divina e humana - exige apurar os fatos e depois julgar. A troca do mencionado kit pelo acobertamento do ex-ministro Palocci, para ele, é insultuosa e, para o Brasil, catástrofe ética. A CNBB, que apoiou o golpe de Estado em 1964, abençoando o Ato Institucional n.º 5 (AI-5), de 1968, e cujo lobby mina a laicidade do Estado brasileiro desde 1988, poderia mesmo integrar a republicana Comissão de Transparência?

Uma parcela da Igreja (as várias pastorais, a Comissão de Justiça e Paz e outras), que reuniu bispos e leigos, lutou contra o arbítrio, angariando respeito da cidadania, então amordaçada pela censura e pela repressão. A CNBB não deu o mesmo exemplo. A façanha dos políticos que hoje usam o cristianismo evidencia que seu elo com o poder não é de ordem espiritual, mas de interesse mundano. Os santos chantagistas do Congresso deveriam fazer muito jejum de cargos públicos ou benesses e, sobretudo, ler e meditar sobre o Evangelho Segundo Mateus (4, 1-11).

ARNALDO JABOR - ''Flower power e web power''


''Flower power e web power''
ARNALDO JABOR
O Estado de S.Paulo - 21/06/11

Felizmente, a marcha pela maconha foi considerada legal pelos caretas supremos do Tribunal Federal (será que eles já ficaram doidões algum dia?) Vendo os votos na TV, lembrei-me dos hippies, os velhos pais fundadores do "desbunde" tecnológico atual, que substituiu flores por blogs e intervenções na web.

Lembrei-me que estava em Londres em 1967, quando saiu o disco dos Beatles Sargent Pepper e lembro que em Kings Road havia uma espécie de "comício" dissolvido nos olhares, nos sorrisos das pessoas, com uma palavra de ordem que flutuava no vento, "blowing in the wind", como cantava o Bob Dylan. O mundo careta vivia ameaçado, de um lado pelo perigo do comunismo e, de outro, pela alegre descrença que os hippies traziam. O capitalismo rosnava de humilhação, condenado por fora e por dentro, como sistema injusto de produção, além de repressor da sexualidade. Hoje, mudou tudo. Onde estão os hippies? Melhor dizendo, onde estão os movimentos alternativos neste mundo careta?

Será que a vida vai ser sempre estes cappuccinos frappés, estas opções na Bolsa, estes fluxos de capital, estes implantes de seios, por toda a eternidade?

Será que só nos restou esta muralha corporativa, este exército de executivos globais vorazes? Não; agora é "webpower" em vez de "flower power".

O que houve no mundo foi o fim do sonho da unidade, o fim da possibilidade de uma "grande narrativa" - como dizem os pós-utópicos, perplexos e com uma pontinha de alívio da obrigação de grandes "relevâncias". O que acabou foi o "UM". Acabou o anseio totalizante de se achar uma única resposta, desejo antiquíssimo de tudo reduzir a um símile do corpo humano: a sociedade funcionando como um organismo sob controle. Isso se deu não só com o socialismo real, mas com o próprio capitalismo. Depois da queda do Muro de Berlim, a arrogância dos USA, sua vontade de unir o mundo todo numa grande mcdonaldização da vida também caiu por terra, pois o american way esbarrou nas diferenças culturais, na inércia da miséria, na tradição teocrática de tantos países, no crescimento populacional. O 11 de Setembro sacramentou a infinita fragmentação do mundo. O que morreu não foi o socialismo nem o hippismo; o que morreu foi a racionalidade "empombada" do Ocidente, a possibilidade de planejar algum futuro. Que futuro? O presente é incompreensível e o passado se alonga: os criminosos da crise de 2008 em Wall Street estão todos empregados e felizes, com bônus bilionários, enquanto a Europa se ferra.

O mundo se globaliza em economia, mas se "balcaniza" em ilhas culturais e psicológicas; melhor que "ilhas", o mundo se "desunifica" em esponjas, em vazios, em avessos, em "buracos brancos" que vão se alargando à medida que o tecido da sociedade "linear" se esgarça. Não são "células de resistência", mas "buracos de desistência".

A desesperança de mudar o mundo politicamente já está parindo filhos alternativos. Milhões de "manos" cibernéticos profanam alegremente a internet com redes e blogs.

Todos estes movimentos (seria melhor dizer "espasmos") - todos estes espasmos de defesa contra a opacidade do mundo são afásicos, por escolha. Odeiam o lero-lero ideológico e não se explicam nem a si mesmos. Não têm manifestos e, no entanto, todos se "unem" (oh, mania de tudo explicar, da qual não me livro!...) na recusa a levantar bandeiras, garantir certezas, a aderir a uma razão organizacional qualquer.

Há uma "tribalização" de grupos, sem proselitismo, há uma recusa ao mundo sem denunciá-lo, mas aceitando-o como algo irremediável. Por dentro de seu luto, as tribos se desenham. As primeiras tribos de jovens que antes professavam subculturas totalizantes, através de orientalismos bobos ou "holismos" diversos, hoje foram substituídas por brilhantes programadores de computação. O que os "anonimous" e mesmo outros "hacketativismos" mais apolíticos querem é alcançar uma identidade corrosiva. As tribos não querem a adesão de todos, pois elas não almejam o poder - almejam não tê-lo. Se antes a ideia de alienação era condenável, hoje a alienação é aquilo que se deseja alcançar.

R.U.Sirius, fundador da ciberrevista Mondo 2000, afirmou com precisão: "Se, antes, havia a polarização de ideologias em oposições binárias, pretos contra brancos, socialismo versus capitalismo, isso vinha da ideia de "sistema e contra-sistema", de "cultura e contra-cultura"." Essa oposição acabou.

Tudo era banhado pela luz atemorizante de uma futura mídia centralizada, buscando uma narrativa única. Mas, as distopias de Orwell ou Huxley foram superada pelos restos podres do mercado e pela "anomia" (e anemia) de qualquer projeto totalitário. Que teremos no futuro? "Que futuro?" - seria a pergunta certa. No mundo central, teremos fria competência no "mainstream" e "esponjas "alternativas" na periferia.

Hoje, a desesperança com qualquer hipótese de totalidade está parindo novas formas larvais de sobrevivência neste mundo decepcionante. E o que nos restará serão os buracos esgarçados por entre a solidez paranoica das corporações globais, estragando, como um terrorismo mudo, sua eficiência sinistra.

Essas tribos estão partindo para uma prática nietzschiana espontânea, pela produção de uma "arte-de-vida" (ou "vida-arte"), dividindo-se em grupos aparentemente antagônicos, mas coincidentes: não acreditam totalmente em nada.

Jean Baudrillard em seu ensaio A Ilusão Vital cita uma linda e profética frase de Heidegger: "Quando olhamos para a essência ambígua da tecnologia, nós contemplamos a constelação, o curso estelar do mistério". E Baudrillard, a ovelha negra das "Academias", conclui: "Além da Razão, além do discurso da "verdade", reside o valor poético e enigmático do pensamento. Pois, diante de um mundo que é ininteligível e problemático, nossa tarefa é clara: precisamos tornar este mundo ainda mais ininteligível, ainda mais enigmático".

Falou e disse.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Susep intensifica fiscalização em área veicular
MARIA CRISTINA FRIAS
FOLHA DE SÃO PAULO - 21/06/11

A Susep (Superintendência de Seguros Privados), vinculada ao Ministério da Fazenda, vai fiscalizar, por meio de uma nova comissão, as cooperativas que vendem proteção veicular.
"Essas empresas não cumprem regras básicas do mercado de seguros, como patrimônio mínimo e provisões técnicas, criadas para proteger o consumidor", afirma Luciano Portal Santanna, o novo superintendente da Susep, que tomou posse ontem em Brasília.
Nos próximos dias, a Procuradoria Federal junto à Susep, órgão da AGU (Advocacia Geral da União), deve entrar com 20 ações civis públicas contra essas cooperativas. Mais de cem empresas atuam nesse mercado.
Santanna compara a atividade exercida por essas cooperativas à dos camelôs.
"Vendem um produto ruim e criam uma situação de concorrência desleal em relação às seguradoras que atuam corretamente."
A E & E Associação Proteção Veicular informa que atende os casos que não são cobertos por seguradoras.
"Não concorremos com seguradoras porque atendemos clientes com carros mais antigos ou que não têm condições de pagar o valor de um seguro", diz Eduardo Rocha Gomes, diretor da E & E.
O risco para o consumidor é o de não receber pela proteção. "Como as empresas não têm um lastro patrimonial sólido, em um momento de crise, elas não teriam como arcar com os compromissos", diz Santanna.

TREMOR NA ENERGIA

A maior consequência econômica do terremoto no Japão e dos conflitos políticos na África é a volatilidade do preço da energia, segundo estudo da KPMG International, com 300 executivos.
Até o impacto no crescimento econômico dessas regiões preocupa menos o empresariado que a energia.
Dos entrevistados, 92% disseram que o valor da energia será afetado. Ao mesmo tempo, 79% afirmaram que o crescimento econômico na Ásia sofrerá consequências.
A volatilidade nos preços vem na esteira do vazamento da usina de Fukushima e da decorrente redução de produção de energia nuclear.
Os executivos dizem que o aumento no preço da energia prejudicará a já afetada demanda do consumidor.

NA FAVELA

O Santander atingiu na sexta-feira a marca de R$ 1 bilhão em concessão de microcrédito produtivo orientado, voltado para clientes de comunidades carentes.
A operação, que já concedeu crédito para 220 mil pessoas, começou em 2002, na favela de Heliópolis, na cidade de São Paulo. A carteira é formada, em sua maioria, por mulheres (70%) e nordestinos (80%).
"O perfil dos clientes são mulheres que passaram a ser chefe da casa após os maridos buscarem um ganho maior em outras regiões", diz o diretor-presidente do Santander Microcrédito, Jerônimo Ramos.
A operação, que movimentou R$ 118 milhões no primeiro trimestre deste ano, tem valor médio concedido de R$ 1.800 e inadimplência de 0,6%.
Bradesco e HSBC não possuem serviço semelhante. O Itaú Unibanco finaliza a metodologia da operação.

INGLÊS BOLIVIANO

A rede de ensino de idiomas Fisk abrirá sua primeira unidade na Bolívia, em Santa Cruz de La Sierra, até o começo de julho.
Com a inauguração, a companhia estará presente em seis países (Angola, Argentina, EUA, Japão e Paraguai), além do Brasil.
"A economia boliviana parece viver um momento mais estável e os jovens querem aprender idiomas para ter oportunidades nas empresas multinacionais", diz o CEO da rede, Bruno Caravati.
A Fisk afirma estar em negociações para abrir sua terceira unidade em Angola e entrar em outros mercados, como o Chile.
"Temos grande interesse no mercado chileno, pois é um país moderno, que trata a educação com um grande carinho."
No Brasil, a empresa tem aberto 50 franquias por ano, meta que será atingida em 2011, segundo Caravati. A companhia prevê aumento de 20% sobre o faturamento de 2010, de R$ 700 milhões.

Contratação 
A empresa de estratégia de gestão Europraxis investirá até R$ 50 milhões nos próximos cinco anos no Brasil. O valor será aplicado na criação de uma nova divisão no país e na contratação de estrangeiros e de brasileiros que moram no exterior.

Expansão feminina 
A MOB planeja dobrar a presença em multimarcas nos próximos dois anos (de 400 para 800 pontos) e vai inaugurar seis escritórios, em Belo Horizonte, Porto Alegre, Vitória e em outras três cidades no Nordeste e no Centro-Oeste.
com JOANA CUNHA, ALESSANDRA KIANEK, VITOR SION e LUCIANA DYNIEWICZ

CARLOS HEITOR CONY - O nó da questão


O nó da questão
CARLOS HEITOR CONY
FOLHA DE SÃO PAULO - 21/06/11


RIO DE JANEIRO - Considero um saco abordar assunto que é comentado por toda a mídia. Talvez seja uma expressão do espírito de porco do qual a natureza me dotou, desde o berço distante até o túmulo próximo. Mas vamos lá.
No momento, discute-se em vários níveis a questão do sigilo ou do segredo de documentos oficiais ou oficiosos. Como bem lembrou a Eliane Cantanhêde, há coisas do arco da velha na anexação do Acre e na Guerra do Paraguai que podem comprometer a glória de alguns vultos do panteão nacional, como o barão do Rio Branco e o duque de Caxias. Não são temas da atualidade, mas de interesse dos historiadores profissionais e pesquisadores especializados.
O clamor da sociedade neste início de século, o nó da questão é contra o sigilo (ou o segredo) dos documentos relativos aos anos de repressão do regime militar (1964-85), dos quais a nação não tem conhecimento. Há pouco, tivemos uma polêmica entre o Persio Arida e o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o primeiro revelando as torturas que sofreu, o segundo negando-as. Esta é uma questão que não diz respeito apenas aos dois, mas a todos os que precisam conhecer como as coisas se passavam entre nós, contemporâneos. Uma questão que servirá de exemplo e advertência aos nossos descendentes.
Bem ou mal, a anistia que tivemos foi um acordo que possibilitou o fim da ditadura e o regime democrático em que vivemos. Não entrou em jogo a punição de culpados que hoje é reclamada por diversos escalões da vida pública. Mas há a necessidade de todos conhecermos o que realmente se passava nos chamados "porões da ditadura".
JK reclamava que os diversos inquéritos e depoimentos prestados por ele às autoridades militares não fossem divulgados. No mesmo caso estão milhares de brasileiros que sofreram e morreram nas mãos de assassinos e torturadores.

O SALVADOR NA COPA

VINICIUS TORRES FREIRE - A economia de Dilma é essa aí

A economia de Dilma é essa aí
VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SÃO PAULO - 21/06/11
Fazenda e Banco Central parecem até aqui felizes com os efeitos da política econômica "heterodoxa"


PARA QUEM ainda acha que o governo Dilma Rousseff "se arrependeu" da política econômica "heterodoxa" que implementava já desde a transição de governo, em dezembro de 2010, conviria prestar atenção a declarações recentes das duas autoridades da área, Guido Mantega, ministro da Fazenda, e Alexandre Tombini, presidente do Banco Central (ou de documentos e entrevistas oficiais do pessoal do BC).
Note-se, além do mais, como Mantega e Tombini fazem questão de se mostrar afinados em público (e não há notícia de que estejam se bicando nas internas).
1) A ata do Copom da semana passada não evidenciou nenhuma grande ou nova inquietação do BC, que continuou a dizer que os juros ficariam altos por um tempo "suficientemente" longo. Isso significa que pode vir apenas uma alta adicional de 0,25 ponto percentual (interpretação dos economistas dos maiores bancos do país). E que os juros podem (e provavelmente vão) ficar altos, por aí, durante 2012;
2) O presidente do BC afirma e reafirma que não considera razoável dar um pontapé nos juros de modo a levar a inflação à meta no ano- calendário e talvez nem nos próximos 12 meses. Certo ou errado, o BC não compartilha, pois, da opinião dos economistas-padrão na praça, "ortodoxos", para os quais o enfoque "gradualista" apenas aumenta os custos de colocar a inflação de novo na meta (dada a indexação, na prática, da economia etc.);
3) O BC parece mesmo achar que a taxa de juros necessária para abater a inflação é menor do que no passado, mesmo no passado recente. A taxa real de juros anda apenas agora pela casa de 7%. Na rodada anterior e sistemática de aumentos de juros (meados de 2008), logo de cara a taxa real foi para 8,5%. Para falar curto e grosso, se o BC de agora fosse se pautar pelo comportamento do BC de antanho, a Selic estaria perto de 14%, não em 12,25%;
4) Mantega saiu ontem de uma reunião com Dilma dizendo que o governo está "satisfeito" porque "conseguiu estabilizar a economia brasileira em patamar de [crescimento anual] 4,5%, o que, para nós, é muito bom. Para um ano de ajustes, é um crescimento excelente". Esse crescimento de 4,5% é um número que Dilma repete (em público e nas internas) pelo menos desde uma entrevista ao jornal "Valor", em março. As diretrizes da sua política econômica não mudaram desde então. Não houve novidades na área fiscal (gastos públicos) nem na monetária (juros);
5) Mantega não deve ter saído da reunião dizendo tais coisas sem ter tido aval ou aprovação de Dilma.
Isto posto, o importante para o governo parece ser que a inflação não estoure a meta (passe de 6,5% ao final do ano), que o crescimento fique em torno de 4,5%, que a restrição ao crédito incida mais sobre o consumo do que sobre o investimento. Não há meta fiscal de médio prazo (um plano de redução de deficit e dívida de uns cinco anos), ideia que Dilma chegou a lançar durante a campanha. Nem há planos de reduzir a meta de inflação (no médio ou longo prazo), que o CMN deve deixar na mesma na semana que vem.
Goste-se ou não, certo ou errado, coerente ou não, de fôlego curto ou não, essas são as balizas que a presidente parece ter na cabeça e é isso que ela parece esperar da política de seus economistas.

JOÃO PEREIRA COUTINHO - Mais champanhe, por favor


Mais champanhe, por favor
JOÃO PEREIRA COUTINHO
FOLHA DE SÃO PAULO - 21/06/11

Qualquer manual de ética médica dirá que a função da medicina é curar, não matar. E não é mero truísmo


BARBARA GANCIA dedicou-me a sua última coluna aqui nesta Folha ("Santo dr. Kevorkian", 17/6/2011). É sempre um prazer lê-la. Mas que fiz eu para despertar a amigável ira da colunista?
Simples: terei escrito um texto "tinhoso" onde encontrei uma "saída fácil" para o problema da eutanásia ("Champanhe e ópio", 13/6/2011).
Pior ainda: usei Oscar Wilde, e sua combinação letal de champanhe e ópio, para defender que uma sociedade civilizada alivia a dor de quem sofre, e não mata quem sofre.
Barbara Gancia tem outra opinião. Ou, para sermos exatos, duas.
A primeira baseia-se em amigos seus que, padecendo de Aids, não embarcaram em boemias; agarraram-se antes "ao que é mais comezinho" e tentaram comemorar cada manhã como um milagre.
Como é evidente, o meu texto não lidava com esses casos; lidava, relembro, com situações terminais, onde a dor é insustentável, e a opção é tripla: continuar sofrendo; aliviar esse sofrimento com "champanhe e ópio" (uma metáfora paliativa, claro); ou matar pura e simplesmente o doente.
O segundo caso apresentado pela colunista, porém, merece outra reflexão: trata-se do pai de Barbara Gancia, que "agonizou" dois anos num hospital com Alzheimer. Não teria sido preferível ministrar-lhe o "método Kevorkian", ou seja, e com todas as letras, matá-lo?
Infelizmente, não é possível discutir temas éticos quando eles são apresentados como prolongamentos de experiências pessoais.
Se tal fosse possível, ou até desejável, só haveria um castigo no mundo para quem comete homicídios: a pena de morte. Se Barbara Gancia tem dúvidas, sugiro-lhe que pergunte à família das vítimas.
Mas o erro de Barbara Gancia não está apenas em tornar universal o que é do domínio pessoal. Existe um erro maior na defesa de que um médico "pode desafiar a lei".
Essa, aliás, teria sido a proeza de Jack Kevorkian, um pioneiro da eutanásia e do suicídio assistido e, segundo Gancia, um "santo".
Sobre o pioneirismo de Kevorkian, nada a dizer: há pioneiros para tudo. Mas estranho a "santidade" dele, sobretudo quando se sabe que Kevorkian não se limitou a matar (ou a fornecer os instrumentos de morte) a doentes irrecuperáveis ou terminais.
Jack excedeu esses limites e, mais que uma vez, despachou para o outro lado gente que estava longe dessas situações extremas. Ou, mais grave ainda, gente que nem sequer estava realmente doente.
Moral da história? Qualquer manual de ética médica dirá que a função da medicina é curar, não matar. E isso não é um mero truísmo.
Quando se afirma que a vocação da medicina é curar, e não matar, o que se afirma é que existem limites à ação dos médicos. E esses limites são importantes porque os médicos detêm literalmente um poder de vida e morte sobre outros homens.
Daniel Callahan, conhecido filósofo que tem escrito sobre bioética, é ainda mais claro sobre esse ponto: a proibição da eutanásia e do suicídio assistido, que vigora na esmagadora maioria dos países, não se deve apenas à "imoralidade" do ato.
Deve-se também à necessidade de proteger os doentes de "santos" como o dr. Kevorkian.
Regresso ao início: champanhe e ópio. Quando Oscar Wilde abandonou os tratamentos e encomendou a sua farra final, sabia que a farra seria final. Mas Wilde não foi caso único. Hoje mesmo, enquanto escrevo, existem famílias em quartos de hospital que se confrontam com o mesmo dilema. E que também sabem que certas doses de opióides acabam por apressar o fim inevitável.
Existe um termo técnico para isso -eutanásia do duplo efeito. E há quem diga que ela não se distingue da eutanásia ativa e voluntária pois o fim, ainda que colateral, é o mesmo. Sim, talvez o fim seja o mesmo; mas os meios são diferentes.
E quando imagino Oscar Wilde no seu quarto de Paris, eu não o imagino a morrer de fome ou de sede, como acontece quando se suspendem os suportes vitais de um doente. Nem o imagino em espasmos de agonia, como acontece aos pacientes que viajam para a Suíça e, muitas vezes, são gaseados nas clínicas da morte. Com o meu romantismo "tinhoso", prefiro imaginar o velho Wilde com uma taça na mão, bebendo champanhe e nunca pentobarbital sódico.

JOSÉ SIMÃO - Ueba! O cavalo caiu do Aécio!


Ueba! O cavalo caiu do Aécio!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 21/06/11

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
Abertura de Campeonato de Surfe em Portugal! Declaração do surfista Tiago Pires: "Sinto-me bem e cheio de pica para começar". Hoje eu também acordei assim! Rarará!
E a verdadeira Dilma. Olha esta placa em São Bernardo: "Dilma Depilação". Vai encarar? Já imaginou ser depilado pela Dilma? "Cala a boca! Engole o choro! Vai trabalhar!". Rarará!
E mais uma dos véio doidão, manchete do "Piauí Herald": "FHC convida ministros do Supremo para um luau". Rarará!
E buemba mineira! O cavalo caiu do Aécio. Ops, o Aécio caiu do cavalo. Mas não se preocupem: o cavalo passa bem! Rarará! O Aécio perdeu a carteira de motorista e caiu do cavalo. Agora não pode nem dirigir nem andar a cavalo. Só falta perder o passaporte! Rarará! E o cavalo era do PT?
Mas o Sensacionalista afirma que o cavalo se chamava Serra. E que o Aécio adorou montar no Serra! Rarará! E o cavalo se recusou a fazer o teste do bafômetro? O relinchômetro! E os cariocas perguntam: que diabos o Aécio tava fazendo em Minas numa sexta-feira? Rarará!
E uma amiga minha pergunta: cair do cavalo é uma expressão popular, um esporte nobre ou um acidente? E esta do ministro dos Esportes: "As obras da Copa 2014 terão transparência máxima". Tão transparentes, mas tão transparentes, que vão virar invisíveis! Estádios Invisíveis!
E a sabatina do Kassab na Folha/UOL? Falando sobre o seu partido, o PSD. Partido Sem Direção! O partido do Kassab devia se chamar repartido. O REPARTIDO DO KASSAB! E esta: "No meu partido nunca vai ter racha". Rarará! Partido Sem Dilmas! Clube do Bolinha!
Kassab não descarta eventual filiação do Maluf ao PSD! Mas o Maluf tem a esfirra suja! E um amigo meu vota até hoje no Maluf por três motivos: rouba, mas faz; mente, mas não convence; é culpado, mas ninguém prova!
E o Kassab tá cada dia mais parecido com o Seu Barriga do Chaves. Rarará! E esse partido do Kassab vai morrer afogado na primeira enchente! Primeiro requisito pra entrar no repartido do Kassab: saber nadar! Entre no partido do Kassab e morra afogado! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza.
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Quase lá
SONIA RACY
O ESTADÃO - 21/06/11

Mais um passo de Salvatore Cacciola em direção à liberdade. O TRF de São Paulo concedeu uma liminar ao ex-banqueiro e cassou seu último mandado de prisão.

Mas para sair da cadeia, ele ainda aguarda decisão da Vara das Execuções Criminais do Rio de janeiro sobre o pedido de livramento condicional.

Antes tarde...
Dilma e Fernando Haddad tiveram três audiências semana passada e programaram mais duas nesta. Elaboram conjunto de ações para resolver, no curto prazo, a questão da escassa qualificação de mão de obra na educação. A presidente pediu pressa e quer algo que transcenda o Pronatec, focado na construção de escolas técnicas.

Implícito o recado: Haddad não pretende deixar o ministério.

A cara dos EUA
Em voo entre Washington e Paris, no fim de semana, um passageiro sacou seu iPad e ficou horas jogando Monopoly (versão americana do Banco Imobiliário). Também devorou histórias em quadrinhos.

Até aí normal, se o homem não fosse... Andrew Shapiro, o número dois para Assuntos Político-militares dos Estados Unidos. Pelo menos ele não jogava War.

Olha a chuva...

Lula já tem onde dançar quadrilha neste fim de semana. Zé Dirceu começa a convidar amigos para o "Arraiá do Zé e da Eva", em sua casa, em Vinhedo. E pede no convite: "Levar uma prenda e um trem de comer ou beber".

Avanço
A Petrobrás está mais colorida. Na semana que antecede a Parada do Orgulho Gay, em SP, a estatal contabiliza: possui 107 funcionários homossexuais, sendo 60 homens e 47 mulheres. E todos já usufruem do direito de incluir os seus companheiros no plano de saúde da estatal.

Tudo acompanhado de perto pela comissão de diversidade da petroleira.

Espelho meu

Depois de caçar pessoas "feias" na SPFW para seu Grampo MTV, Cazé Peçanha sucumbiu ao bom e velho anúncio de jornal.

Missão falida. Somente três pessoas ligaram, admitindo serem feias para participar do programa que vai ao ar hoje.

Itu... perdeO BTG/Pactual, de André Esteves, deu mais um passo rumo à pretendida união com a W/Torre. Na costura de uma imobiliária ainda sem nome, foi formada uma nova empresa onde cada uma das partes colocará R$ 1,5 bilhão em ativos imobiliários. Entretanto, será o BTG a ter 70% do controle.

Esteves pretende se transformar no controlador da maior empresa imobiliária do País.

Aço, aço, aço
Depois do "beirutaço", a favor da manutenção do restaurante Frevo na Oscar Freire, agora é a vez do "penicaço", dia 13 de julho. Organizado por Ivald Granato, manifestantes prometem levar penicos decorados para montar uma instalação em frente ao MAM, acompanhada de shows e performances ao vivo.

Trata-se de um protesto pelo fato do museu não ter aceitado 14 das 16 obras doadas, em testamento, por Arcângelo Ianelli.

Aço, aço 2
O conselho consultivo e a curadoria do MAM justificam: dono de um acervo significativo do artista, apenas duas das obras não apresentam "sobreposição".

Esperando tu
O dia de vencimento das opções, na BM&F/Bovespa, é normalmente tumultuado.

Mas ontem não foi. Todos os players do mercado financeiro brincavam de "congelar" para ver o que o mundo decidirá hoje sobre o destino da Grécia.

Relíquia
Enquanto a SPFW acontecia no Ibirapuera, no outro canto da cidade - na Barra Funda - um modelo especial atraía olhares, sábado. Um Souper Dress, feito à imagem e semelhança da Campbell''s Soup, famosa obra de Andy Warhol.

O vestido foi arrematado em um leilão em Paris, no mês passado, pelo colecionador João Grinspum Ferraz, sócio da Galeria Transversal. E quem exibiu a arte foi Julia Valiengo, cantora da Trupe Chá de Boldo, durante show de abertura da primeira coletiva do espaço.

Na frente

Alckmin e Raimundo Colombo, de Santa Catarina, assistem juntos ao jogo do Santos amanhã, no Pacaembu.

Luly e Fabio Vidigal enceram a campanha de arrecadação pró TUCCA hoje, com jantar solidário em sua casa.

Nelson de Oliveira autografa hoje Geração Zero Zero. Na Livraria da Vila da Fradique.

Troca programada nos comandos dos CCBBs de São Paulo e Rio. Marcos Mendonça vai para Cidade Maravilhosa e Marcos Mantoan se instala em Sampa.

Edgard Scandurra- com Les Provocateurs e Jaques Morelenbaum - homenageiam Serge Gainsbourg. Hoje, no Centro da Cultura Judaica.

Vizinhos atestam: Palocci se mudou para seu novo apartamento no fim de semana.

GOSTOSA

DORA KRAMER - Exercício da razão


Exercício da razão
DORA KRAMER
O ESTADÃO - 21/06/11

Desde que o PT virou governo, raras vezes se vê uma liderança do partido produzir uma análise da conjuntura clara, substancial e proveitosa.
Isso não porque entre os petistas não existam formuladores competentes.

Existem vários. Ou melhor, existiam quando o partido era oposição e eles costumavam destoar da estridência de uns e do sectarismo de outros.

Depois de 2003, os que não se recolheram a atividades regionais encamparam o projeto de poder de tal forma que substituíram a capacidade (ou a liberdade) de interpretação pela necessidade de se expressar por bordões meramente governistas.

Marcelo Déda, governador reeleito de Sergipe, em entrevista à edição de ontem (20) do jornal Valor Econômico, recupera a embocadura da linhagem dos formuladores petistas com uma avaliação consistente sobre partido e governo. Afirma o sentimento partidário sem perder o senso crítico.

Sobre a reunião de Guido Mantega com os governadores para discutir a reforma tributária Déda diz o seguinte: “Sentamos à mesa e percebemos que não era nada de reforma.

Era uma nova regulação do ICMS. Então, vamos chamar o bicho pelo nome, porque não sabemos se morde ou não. Foi uma valsa vienense mal executada”.

Veto presidencial à distribuição dos royalties do pré-sal: “Um veto presidencial tem de ser apreciado pelo Congresso.

Esse trunfo é favorável a nós. O veto não caiu porque não foi votado e quem segura o veto é a gaveta do Sarney”.

Articulação política: “Precisa refletir a ação do presidente. O que sustenta a articulação política é o interlocutor no Congresso saber que aquele ministro tem mandato do presidente para resolver questões e encaminhar problemas”.

PT e o governo: “O PT não pode perder de vista que é o partido da presidente e que tem a primeira das responsabilidades na garantia da estabilidade, mas a presidente é o árbitro da governabilidade. O PT tem de entender isso e não fomentar a instabilidade”.

PT e os cargos: “Hoje o PT aparece mais na mídia pedindo cargos que apresentando propostas. Devemos reivindicar nosso espaço, mas precisamos qualificar nossa relação com o governo”.

PT x PMDB: “Ceder é um verbo que não existe nem no dicionário do PMDB nem no do PT. Como grandes partidos, costumam ocupar mais espaço e não recuar naquele que já conquistaram. O problema não é de nenhum dos dois partidos, é da presidente como juíza da ocupação desses espaços”.

Caso Palocci: “Se no início tivessem sido dadas explicações e negociada uma explicação ao Congresso, talvez houvesse capacidade de gerir a crise. Trabalhou-se como se o tempo fosse um aliado e quando se mostrou um inimigo a situação estava perdida”.

Partidário, sem perder a civilidade nem ceder à bajulação, Marcelo Déda é raridade por algo que deveria ser trivial: o exercício da razão.

Financiador
Novidade mesmo no caso dos aloprados não é o fato de Aloizio Mercadante saber da trama. Isso ficou patente à época quando o coordenador da campanha dele ao governo de São Paulo, em 2006, foi um dos envolvidos na compra de um dossiê contra José Serra.
Novidade é a revelação de que Orestes Quércia (falecido em 2010) foi um dos financiadores da operação e, portanto, dono ao menos em parte do dinheiro (R$ 1,7 milhão) encontrado pela polícia com os petistas e de cuja origem nunca se soube.

Tempos estranhos
O deputado Chico Alencar constata que “algo está fora da ordem nacional, além dos jabutis nas medidas provisórias”, e enumera os exemplos.
“Aldo Rebelo virou guru dos ruralistas; Sarney Filho, líder dos ambientalistas; José Guimarães, petista aplaudido por Ricardo Teixeira e Joseph Blatter; Luís Adams, advogado-geral da União, defende anistia dos torturadores (de Dilma), e a presidente se alia a Sarney e Collor para manter sigilo eterno dos documentos oficiais.”
E conclui: “Ásperos tempos de sinais trocados, cartas embaralhadas e coerência política em franca extinção”.

RENATA LO PRETE - PAINEL


Sinal verde
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SÃO PAULO - 21/06/11

Levantado por senadores aliados e abraçado pelo Planalto, o argumento segundo o qual o fim do sigilo eterno de documentos oficiais criaria incidentes diplomáticos é desautorizado pelo próprio Itamaraty. "Do ponto de vista do ministério, não há nenhuma razão para privar o público do acesso a papéis históricos. Nós inclusive já facultamos isso a pesquisadores", afirma o porta-voz da chancelaria, Tovar Nunes.
Ele reconhece que o Itamaraty manifestou, no passado, restrições à abertura total. Mas afirma que, após extensa pesquisa no acervo, concluiu-se que não há potencial de dano caso o governo opte pela liberação.

Solidário
Ao saber que a Lei de Acesso à Informação pode ter ajudado a inviabilizar a ida de Mendes Ribeiro (PMDB-RS) para a liderança do governo no Congresso, o ex-deputado José Genoino (PT-SP) quis registrar: "Esse relatório saiu a quatro mãos. Tenho tanta responsabilidade quanto ele". Foi a Câmara que eliminou do texto a possibilidade de sigilo eterno.

Diagnóstico... 
De Dilma para o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), em telefonema logo cedo: "Não quero começar a semana com todo mundo dizendo que estamos brigados".

...e receita 

A presidente continuou: "Vamos combinar de falar todo dia de manhã, para que ninguém mais diga que estamos brigados".

Forró 
Dilma pensa em conferir nesta sexta o São João de Caruaru (PE).

Que fase! 

Primeiro, Cid Gomes (PSB-CE) bateu de frente com o ministro Alfredo Nascimento (Transportes). Depois, Marcelo Déda (PT-SE) saiu pisando duro do gabinete de Guido Mantega (Fazenda). Por fim, Eduardo Campos (PSB-PE) perdeu a paciência com Ideli Salvatti (Relações Institucionais). A sequência levou um aliado a observar: "Esses governadores estão mesmo à beira de um ataque de nervos".

É isso aí 

Presidente interino do PMDB, Valdir Raupp (RO) endossa a declaração de José Sarney (AP) segundo a qual o Senado vai derrubar o artigo da MP que mantém em segredo orçamentos das obras da Copa e da Olimpíada. "Não tem necessidade."

Autógrafo 
Onze deputados do PT assinaram o requerimento de CPI sobre os royalties da mineração. O pedido está nas mãos de Marco Maia, a quem caberá dizer se há o "fato determinado" exigido para criar a comissão.

Encalhe 1 
Em polvorosa com a perspectiva de cancelamento, no final deste mês, de obras de anos anteriores que não saíram do papel, deputados e senadores preparam medida para forçar o Planalto a diminuir o estoque dos "restos a pagar".

Encalhe 2 

Relator da LDO, Márcio Reinaldo (PP-MG) promete estabelecer regra que leve a uma queda de até 20% ao ano no volume de obras que são jogadas para os orçamentos seguintes.

Truque 
Como no PT a decisão sobre política de alianças é exclusiva do Diretório Nacional, a iniciativa de levar a voto, em encontro da seção paulista, a possibilidade de coligação com o PSD foi vista por muitos no partido como manobra para "tirar o tatu da toca".

Como assim? 

A proposta de votação foi feita por adversários da aproximação com o PSD. Expoente do kassabismo no PT, o presidente do diretório paulista, Edinho Silva, precisou se expor ao máximo para aprovar a ideia. Ainda assim, com placar literalmente rachado.

com LETÍCIA SANDER e RANIER BRAGON

tiroteio

"Nós, que trabalhamos arduamente pela realização da Copa em SP, agradecemos o apoio do vereador Floriano Pesaro."
DO TUCANO FÁBIO LEPIQUE, secretário particular de Geraldo Alckmin, ironizando a crítica do correligionário à isenção de impostos no valor de R$ 420 milhões oferecida pela prefeitura para a construção do Itaquerão.

contraponto

Ligeirinho
Durante sabatina no Teatro Folha, ontem, Gilberto Kassab foi questionado sobre dois incidentes: o primeiro, em 2007, quando xingou um manifestante de "vagabundo" num posto de saúde; o segundo, em 2010, quando um ambulante tentou atingir o prefeito com garrafas d'água na Virada Esportiva.
Com semblante sério, assistiu ao vídeo das duas cenas. Chamado a comentá-las, saiu-se com bom humor:
-Bom... Pela segunda intervenção deu para ver que eu estou em forma- brincou, numa referência à agilidade com que se esquivou dos objetos voadores.

ELIANE CANTANHÊDE - Não fosse a imprensa...


Não fosse a imprensa... 
ELIANE CANTANHÊDE 
FOLHA DE SÃO PAULO - 21/06/11

Quem descobriu que o poderoso Palocci havia multiplicado seu patrimônio por 20 em quatro anos e acabara de comprar um apartamento pela bagatela de R$ 6,6 milhões foi a imprensa: os repórteres Andreza Matais e José Ernesto Credendio, da Folha de São Paulo.

Quem acrescentou que Palocci ganhara R$ 20 milhões no ano eleitoral e que metade disso foi quando já era chefe da transição e virtual homem forte do governo Dilma foi a imprensa: a repórter Catia Seabra, da mesma Folha.

Quem alertou para os riscos de libertinagem orçamentária com o tal RDC (Regime Diferenciado de Contratações) para a Copa e a Olimpíada foi a imprensa.

Quem também identificou um contrabando que vincula a transparência dos contratos à ‘conveniência do Executivo’ foi a... imprensa.

Ou seja: estão afrouxando as regras das licitações e do fluxo do dinheiro público para a iniciativa privada e mantendo tudo bem escondidinho do distinto público pagante.

De Sarney, sobre o RDC: ‘Nós devemos encontrar uma maneira de retirar esse artigo, uma vez que ele dá margem inevitavelmente a que se levante muitas dúvidas sobre os orçamentos da Copa’. Palavras dele, hein, gente?!

E, enfim, quem mostrou o recuo na questão do sigilo eterno de documentos públicos foi a imprensa, o que colocou o governo numa gangorra, para cima e para baixo, sem encontrar o equilíbrio entre o que a pessoa física Dilma pensa e o que a pessoa pública Dilma precisa fazer.

É por isso que Lula se encontra com os tais ‘blogueiros independentes’ (sic, porque muitos são, mas nem todos...) e desanda a falar em controle da imprensa. E nem se tocou aqui em mensalão...

Some-se o silêncio da imprensa ao sigilo do patrimônio de autoridades, ao sigilo dos documentos oficiais e ao sigilo dos contratos e gastos da Copa e da Olimpíada e tem-se o ambiente perfeito para... ah! você sabe. É como o diabo gosta. 

BRAZIU: O PUTEIRO

CLAUDIO HUMBERTO



“Eu não tinha qualquer indício de participação nesse episódio”
MINISTRO ALOIZIO MERCADANTE, SOBRE NOVOS INDÍCIOS CONTRA ELE NA GANGue DOS ALOPRADOS

RECEITA FEDERAL AJUDOU KASSAB A FUNDAR 
O PSD Até a Receita Federal deu uma mãozinha para criar o PSD, partido do prefeito paulistano Gilberto Kassab. Documentos em poder da coluna atestam que a Receita concedeu o nº de CNPJ (13629827/0001-00) ao PSD em 13 de abril, mas o partido seria registrado no Cartório do 2º Ofício de Registro Civil, em Brasília (protocolo 73948), apenas em 10 de maio. O CNPJ somente poderia ter sido emitido após o registro. A Receita Federal não se explicou até o fechamento desta edição. 

SEM EXPLICAÇÃO 
O advogado do PSD em Brasília, Admar Gonzaga, diz que “por algum erro”, a Receita “registrou o CNPJ com a data de 13 de abril”. Ah, bom.

A REGRA É CLARA 
Está na Instrução Normativa da Receita 200/2002: cópia autenticada do estatuto registrado em cartório é condição básica para emitir o CNPJ.

PEIXE VIVO 
Novo slogan do governo, inspirado nas declarações do deputado e ex-jogador Romário (PSB-RJ): “Só Jesus salva a Copa de 2014”.

BOBÃO OFF-LINE 
Luiz Sérgio ainda é “ministro das Relações Institucionais” no Twitter. No último post, dia 9, jurou: “Não pedi demissão”. É verdade. Foi demitido.

CARTEL: CÂMARA INTERPELA ORACLE E AÇÃO INFORMÁTICA 
O presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara, deputado Bruno Araujo (PDT-PE), enviou questionários ao presidente no Brasil na multinacional Oracle, Cyro Diehl, e ao dono da Ação Informática, Maurício Teixeira, para esclarecer denúncia de cartel e abuso de poder econômico, em razão da venda exclusiva (e suspeita) de produtos para o governo. É um negócio de R$ 400 milhões por ano.

SE COLAR, COLOU 
Em concorrências públicas, propostas de preços de software da Oracle apresentam diferenças que chegam a variar 50%.

CONVITE IGNORADO 
Os presidentes da Oracle e da Ação deveriam ter comparecido em maio à Câmara, mas ignoraram o convite para prestar esclarecimentos.

BOCA DE SIRI 
Cyro Diehl (Oracle) e Maurício Teixeira (Ação) não atenderam a coluna, ontem, para comentar a interpelação da Câmara dos Deputados.

PRB EXIGE SEU ESPAÇO 
O senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) reclamará por carta à presidente Dilma o espaço no governo acertado no Jaburu numa mesa de feijão com torresmo, na campanha, com a presença do falecido José Alencar. “Não se pode enterrar uma aliança com um morto”, tem dito Crivella.

TESTEMUNHAS 
Estavam no acerto do PRB com a candidata Dilma os “três porquinhos” e Vitor Paulo (RJ), presidente do partido. Palocci bateu três vezes na mesa de madeira: “Falar em ministérios antes da eleição dá azar...”.

TURISTA ACIDENTAL 
O governador Sérgio Cabral foi para Porto Seguro (BA) no avião do empresário Eike Batista, e não com Fernando Cavendish, dono da construtora Delta. Cabral está de licença, após escapar por pouco da tragédia em Trancoso. Ausência que dificilmente será notada.

APAGÃO 
A tragédia em Trancoso poderia ter sido evitada se o aeroporto de Porto Seguro, de onde decolou, tivesse fiscalização do DAC, fechada pela Anac. Sem brevê, piloto não chegaria perto do helicóptero.

MUDANÇA NA EBC 
A jornalista Tereza Cruvinel pode não ser reconduzida à presidência da EBC, estatal da tevê do Lula. Ela própria já admitiu isso, em conversas reservadas. Dilma sinaliza o ex-jornalista Franklin Martins no cargo.

MÃO AMIGA 
O Ministério da Integração confirma que o deputado Antônio Balhmann (PSB-CE), amigo do ministro Fernando Bezerra, foi investigado por acúmulo ilegal de cargos e salários, e “inocentado” em novo parecer. Mas a CGU permanece inconformada com a mão amiga do ministro.

ELES AMAM ÓPERA 
Em Brasília, a apresentadora Marília Gabriela foi com a irmã Marisa de Macedo Soares ao Festival de Ópera, que se realiza até o fim do mês. Quando soube da presença ilustre, o secretário de Cultura do DF, que não tinha intenção de aparecer, surgiu de repente na poltrona do lado.

PARA QUEM PODE 
Um casamento no gramado do Congresso, sábado, teve o deputado Odacir Zonta (PP-SC) como padrinho. E o noivo Jackson Domenico é advogado da ex-deputada Eurides Brito, estrela dos vídeos de 
Durval.

PENSANDO BEM... 
...Está hora de a própria Dilma pedir o “impeachment” de Lula, uma espécie de presidente do B. 

PODER SEM PUDOR
SARNEY CHAMOU O URUTU 
O senador José Sarney contou certa vez uma conversa que teve com o general Leônidas Pires Gonçalves às vésperas da sua posse na presidência da República. Sarney disse ao futuro ministro do Exército que o então presidente João Figueiredo não lhe passaria a faixa presidencial.
– Faixa é coisa secundária – reagiu Leônidas – Deixe isso comigo.
A bordo do Urutu, o general mostrou que a faixa era só um detalhe e garantiu sua posse.