sábado, agosto 18, 2012

O exemplo londrino - LUIZ FERNANDO JANOT

O GLOBO - 18/08


Passada a ressaca das comemorações esportivas, os londrinos retomaram a sua vida rotineira com a certeza de que o legado olímpico lhes foi extremamente vantajoso. Se Londres já era considerada a principal metrópole europeia, agora, após a realização dos Jogos Olímpicos, esse reconhecimento não poderá ser contestado. Desde as Olimpíadas de Barcelona, em 1992, não se via um processo de planejamento e realização tão bem conduzido.

A intenção de deixar para a cidade um legado urbano e social consistente estimulou a formulação de propostas arquitetônicas inovadoras e de extrema qualidade. Do ponto de vista urbanístico foi louvável a demarcação de espaços na área central da cidade para a realização de algumas competições esportivas. Essa medida propiciou um harmonioso convívio social nas tradicionais ruas do centro histórico. Enquanto a região central recebia as benfeitorias necessárias, outra localidade, distante alguns quilômetros do centro, passava por um extraordinário processo de reabilitação urbana.

Tratava-se de um bairro degradado, habitado por imigrantes e trabalhadores pouco qualificados. A estratégia de construir nesse local o Parque Olímpico e outras instalações teve como objetivo dotar essa região de infraestrutura urbana capaz de atender aos interesses da população residente e, paralelamente, atrair investimentos para o local. Para facilitar a sua integração com o restante da cidade foi construída uma extensão exclusiva do metrô, com trem de alta velocidade. Trata-se de uma cultura política e empresarial bem diferente daquela com que estamos acostumamos a conviver.

O imediatismo arraigado em nossa cultura tende a favorecer os grandes conchavos onde o poder da grana, quase sempre, fala mais alto. A maneira brasileira de planejar não costuma seguir os mesmos preceitos dos ingleses. No Rio, os altos investimentos públicos para viabilizar megaeventos esportivos priorizam, quase sempre, os interesses do mercado imobiliário.
Em vez de promover a reabilitação urbana de uma grande área degradada, como foi feito em Londres, a opção foi concentrar a maioria dos equipamentos olímpicos na Barra da Tijuca, um bairro que dispensa incentivos dessa magnitude para continuar se desenvolvendo.

Perdeu-se uma excelente oportunidade para assegurar a imediata renovação da área portuária do Rio, onde poderia ficar concentrada a totalidade dos equipamentos olímpicos. Infelizmente, o que sobrou para essa área, como prêmio de consolação, foi a Vila da Mídia e dos Árbitros. Não há dúvida de que a falta de transparência na formulação do projeto da candidatura foi a principal responsável pela opção de um modelo que não considera o legado social como prioridade em um evento dessa natureza.

O que nos resta agora é exigir uma legislação urbana e ambiental que controle a ganância do mercado imobiliário nas áreas contempladas pelos corredores de ônibus articulados (BRT). E que se cumpra a promessa de pacificação, urbanização e melhorias habitacionais em todas as favelas no entorno dos equipamentos esportivos. Só assim conquistaremos, de fato, um legado olímpico para a cidade do Rio de Janeiro.

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