FOLHA DE SÃO PAULO - 29/10/09
RIO DE JANEIRO - Alguma coisa está errada quando entrar para o partido é a forma mais rápida de ascensão social. Esta análise, feita por um líder sul-africano, aparece no documentário "Os Sonhos Sobrevivem ao Poder?", da cientista política libanesa Jihan El-Tahri, recentemente exibido no Festival do Rio, sobre a era do CNA (Congresso Nacional Africano) à frente da África do Sul.
Desde o fim do apartheid, o CNA governa por meio de uma ampla aliança, que inicialmente contou até com aqueles que reprimiram os negros e encarceram Nelson Mandela por 27 anos. A própria aliança com Judas, como citou Lula.
Nos 124 minutos do filme, impressiona a semelhança entre CNA e PT. Os dois partidos foram criados da costela de um líder de massas. De agremiações de esquerda ortodoxa, tornaram-se maleáveis às ideias econômicas liberais, lotearam o poder e enfrentaram graves acusações de corrupção.
Ex-correspondente no Oriente Médio, Jihan El-Tahri fez uma obra retilínea, sem grande invenção cinematográfica, mas equidistante na narrativa da disputa entre os dois representantes mais importantes da política sul-africana depois de Mandela: Thabo Mbeki e Jacob Zuma, este atual presidente. Acusado de estuprar uma mulher com Aids, Zuma é absolvido da relação sexual forçada, mas, cândido, aparece dizendo que fez sexo com a acusadora sem preservativo porque acreditava que bastava se higienizar com água após o ato.
A impressão final é que os sonhos são depauperados pela política. A imensa alegria e cantoria dos sul-africanos até nas convenções partidárias soa inocente perto do ministro que interfere por um grupo alemão em licitação de milhões de dólares em armamentos. A massa dança e urra por seu líder, sem saber que faz "uh!" para Judas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário