quarta-feira, agosto 12, 2009

VINÍCIUS TORRES FREIRE

Exportador quer um dinheiro aí


Folha de S. Paulo - 12/08/2009



Empresas pedem crédito do IPI, querem menos tributos, querem "intervenção" no câmbio; pressão está forte


O LOBBY empresarial pelo direito de usar o crédito-prêmio do IPI seria forte em qualquer ocasião, pois está em jogo muito dinheiro (trata-se da disputa judicial a respeito de utilizar um desconto de imposto previsto por decreto de 1969, que beneficiava exportadores). Com a queda de 31% das exportações de manufaturados, de 20% a 30% das carnes, perdas tremendas nos metais e metalúrgicos, com dólar a R$ 1,80 e, enfim, dados os prejuízos violentos com aventuras cambiais, o crédito-prêmio do IPI pode ser uma transfusão de sangue para companhias avariadas.
Mas as empresas também querem umas bolsas de soro e uns antibióticos, recursos terapêutico-cambiais adicionais. Mesmo que várias companhias, endividadas em dólar, tenham registrado melhoras fortes em seus balanços, devido também à criticada valorização do real.
As empresas pressionam o governo. Por isso Lula queria uma solução "negociada" para o pleito do IPI, mas não no valor demandado por Fiesp, CNI e grandes empresas, que sangraria demais o Tesouro. É por isso que Lula pressiona seus economistas para que arrumem algum esparadrapo para exportadores.
A decisão do IPI está na mão do Supremo. Podem não valer nada as generosidades decididas no Congresso, mas as negociações entre os três (sic) Poderes estão quentes.
Os empresários, bidu, reclamam do câmbio, mas eles mesmos dizem que por aí não tende a acontecer nada. Mas há economistas no governo que defendem mexidas nas normas do mercado de câmbio, de modo a reduzir o poder de fogo de quem aposta na valorização do real, e assim a favorece. A ideia seria "dar um sufoco" no mercado futuro e, ao mesmo tempo, "aumentar mais rapidamente as reservas cambiais", dizem tais economistas. Tal zum-zum já chegou ao mercado, mas não tem sido do feitio do governo Lula deixar que tais ideias prosperem.
Os empresários, bidu, reclamam de impostos. O Ministério da Fazenda não quer fazer quase nada a respeito, neste ano. A redução de impostos sobre a folha de pagamento morreu? "Está viva e andando, mas não deve chegar neste ano", disse à Folha o ministro Guido Mantega, faz cerca de uma semana. O dinheiro do governo para bondades em 2009 acabou. Em 2010 será pouco, será "tarde" (dizem exportadores) e, enfim, será disputado com outras prioridades eleitorais, como o reajuste dos aposentados que Lula vai aprovar. Será pouco mesmo que o governo gaste parte do fundo soberano em 2010, como cogita.
No cardápio de esparadrapos há medidas menores. Taxar investimentos financeiros de não residentes, por exemplo (mas, sozinha, essa andorinha do IOF não faz um verão cambial). Mas o BC é contra e, parece, por ora, ganhou Lula.
Os exportadores devem vender cerca de US$ 46 bilhões menos em 2009 que em 2008. Muitos mantêm o faturamento, mas as margens caem. As previsões para 2010 são de melhora muito discreta, mas as importações vão aumentar, com a volta do crescimento. O câmbio continuaria na mesma, dizem previsões de bancos daqui. Bancos lá de fora discutem o fim do ciclo de baixa mundial do dólar, dados os sinais de recuperação nos EUA.

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