segunda-feira, agosto 06, 2012

No cativeiro estatal - VINICIUS MOTA

Folha de S. Paulo - 06/08


SÃO PAULO - Não há anomalia no apoio de Paulo Maluf ao PT em São Paulo; tampouco na adesão do PR, de Valdemar Costa Neto, ao PSDB. Petistas e tucanos, que polarizam as principais disputas no país há 18 anos, absorveram as regras do jogo.

A diretriz é maximizar a exposição na TV e no rádio durante o horário eleitoral chamado de gratuito, mas regiamente pago pelos contribuintes. Tudo o mais se coloca a serviço desse propósito.

Lula dispôs-se ao desgaste da pose com o "filhote da ditadura" -epíteto cantado no inesquecível sotaque gaúcho de Brizola em debates de 1989. Como não rasga dinheiro, o aiatolá petista calculou que até esse vexame é menor que o bônus à frente.

Isso ocorre porque, sob a conivência interessada de tucanos e petistas, os partidos brasileiros continuam no cativeiro estatal. Agremiações partidárias, que deveriam ser representantes da sociedade, estão protegidas por um cipoal de regras e tutelas e afogadas em tanto financiamento público que podem praticar promiscuidade política à vontade.

Os reclames no rádio e na TV, por exemplo, são uma benesse do Estado a todos os partidos que aumenta conforme seu peso na Câmara dos Deputados. Compele legendas competitivas a se coligarem às nanicas em todos os rincões. Convida aos acertos espúrios e promove distorções entre representatividade local e nacional.

Como organizações da sociedade, partidos deveriam financiar-se apenas na sociedade e ser autorizados a comprar, dentro de limites, espaço para sua propaganda. Agremiações representativas e organizadas não mais seriam induzidas a aliar-se com siglas irrelevantes. Doutrina, programa e coerência com as bases ganhariam mais peso nas alianças.

Partidos sustentados pela sociedade prestam contas das opções eleitorais às suas bases. As siglas do Brasil, que mamam nas tetas do Estado, giram em torno do próprio eixo. Não devem satisfação a ninguém.

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