segunda-feira, agosto 06, 2012

O que estamos plantando? - ROBERTO P. COELHO


O Globo - 06/08


A aprovação da proposta que descriminaliza o porte e o plantio de drogas para consumo pessoal deu um grande passo de avanço. Avanço em direção a um precipício ou desastre médico psicossocial.

Qual a diferença do crime de usar drogas que continuam ilícitas em locais públicos, frequentados por crianças e adolescentes, daquele cometido dentro de uma casa familiar, onde o usuário, com sua própria plantação, faz uso na frente dos seus familiares? Será que as autoridades apelarão para o bom-senso dos usuários, cujo bom-senso já foi distorcido ou abolido pela droga de consumo ou de abuso?

Até onde o espaço da vida privada de uma pessoa envolvida com o uso de drogas, que a proposta de descriminalização visa a resguardar, não afeta a vida de outras pessoas, que ainda nem começaram a experimentar - como crianças, que, testemunhando a facilidade da nova prática, serão estimuladas a usar, seja mais cedo ou mais tarde?

Se refletirmos sobre o impacto de danos das drogas lícitas em nosso país, como o cigarro e as bebidas alcoólicas, será que não vale a pena perguntar: já não temos drogas legalizadas demais? O que aprendemos sobre e com elas? Descriminalizar novas drogas não seria negarmos o doloroso aprendizado com as drogas lícitas?

A questão fundamental é: por que uma sociedade desejaria estabelecer e financiar um sistema que a torne doente e dependente?

Com o surgimento de novos usuários não ampliaríamos uma clientela de dependentes químicos que não terá condições de ser atendida por um sistema público de saúde que já não dá conta da demanda de usuários envolvidos com acidentes de trânsito, lesões corporais, homicídios, violência doméstica? Desta forma, não se agravaria o colapso já existente neste sistema público? Quem pagaria o custo médico, familiar e social?

Um governo que capitule diante da premissa de "que é inevitável o uso de drogas no mundo", confundindo a população quanto a substâncias úteis à preservação da vida e outras que causam mais danos do que benefícios, estará diante de sua própria incapacidade de orientar os jovens para a vida. A banalização das drogas parece vir acompanhada da banalização da falta de sentido para a vida.

Não precisamos de caminhos sancionados pela Justiça para chegar mais facilmente às drogas, mas sim de uma Justiça que caminhe com uma consciência capaz de ajudar os cidadãos, sobretudo os jovens, a encontrar sua capacidade de fazer escolhas com lucidez e responsabilidade.

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