quinta-feira, março 31, 2011

CELSO MING

Tombini se escreve com T de Tolerância
CELSO MING

O ESTADO DE SÃO PAULO - 31/03/11

E certa tolerância com a inflação é a nova cara do Banco Central, que optou pela suavidade, pela graduação e pelo "devagar com o andor". Não dá para dizer que essa política esteja errada. Ela apenas não se afina com o discurso da presidente Dilma Rousseff, que vem pregando tolerância zero com a inflação. Em parte, o desencontro entre a condução do Banco Central e as expectativas dos "fazedores de preços" encontra explicação nessa desafinação. (Em tempo: Alexandre Tombini é, desde janeiro, o presidente do Banco Central).
O Relatório de Inflação ontem divulgado deixou claro o que antes ainda não tinha sido tão contundente: que a inflação não deve ser combatida com tratamentos de choque, sejam eles de que natureza forem. A nova política é enfrentá-la com moderação em tudo para que, lá na frente, depois de todos os impactos do momento terem se arrefecido, como indicam as apostas oficiais, garantir finalmente a convergência para a meta.
O diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton Araújo, chegou a surpreender, quando ontem afirmou: "Não sei se a inflação é o maior problema do Brasil". Deixou a impressão de que o Banco Central devesse se preocupar com outros problemas, como se o corpo de bombeiros repentinamente se ocupasse mais com surtos de dengue ou com o consumo de drogas do que com incêndios. Mas, afinal, qual seria o principal problema econômico do País: o baixo crescimento, a excessiva valorização do real, os juros altos ou o novo fôlego da indexação?
Neste ano, o Banco Central passou a proclamar as excelências do uso das políticas macroprudenciais no combate à inflação. A princípio, a impressão que ficou é que essas políticas vinham com o objetivo de reduzir riscos no mercado de crédito e no câmbio, mas com o grande efeito colateral de ajudar a derrubar a inflação. Aos poucos, consolidou-se a impressão de que se passou a dar mais ênfase a essas políticas visando a se dispensar algum nível de aperto monetário (alta dos juros).
O problema é que nem nas políticas macroprudenciais o Banco Central consegue exercer mão pesada contra a inflação. Também são brandas, frouxas e suaves. Elas bem que vêm produzindo alguns efeitos que os diretores do Banco Central exibem em seus gráficos: os juros nas operações de crédito aumentaram e as prestações ficaram mais altas. Mas não estão conseguindo conter o consumo exacerbado e não servem para segurar a escalada dos preços nos serviços, onde o crédito conta pouco ou quase nada.
Enfim, voltando ao exemplo do bombeiro: o Banco Central avisa que não vale a pena gastar tanta água no combate ao incêndio. Prefere que o fogo perca força sozinho, com a queima do material inflamável. Está errada essa estratégia gradualista? Apesar de arriscada, talvez não esteja. Mas não é isso que causa estranheza. Até agora, o governo federal avisava que usaria mão pesada contra a inflação. Agora, vem o Banco Central, como veio ontem, para passar o recado de que "haveria um custo alto demais se a meta de inflação de 2011 tivesse de ser cumprida à risca". Por esses motivos, fica tudo para 2012.
Enquanto isso, a inflação vai rodando a 6,25% em 12 meses - como vêm avisando os top 5, os cinco escritórios de análise que mais acertam projeções, segundo avalia o próprio Banco Central. E ninguém lá em cima segue dizendo que assim fica mais difícil estabilizar a economia.

CONFIRA
Derreteu

 Um dia depois de anunciada mais uma paulada na entrada de recursos externos destinada a segurar as cotações do dólar, o câmbio fechou 1,4% mais baixo, a R$ 1,629 por dólar, o ponto mais baixo desde 27 de agosto de 2008, dias antes do estouro da crise global.

Enxugando gelo
Enquanto isso, o Banco Central segue comprando dólares. As reservas externas já ultrapassaram os US$ 316 bilhões. Enquanto houver abundância de recursos no mundo, quanto mais altas as reservas brasileiras, mais dólares continuarão atraindo. 

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