O GLOBO - 13/12
Nos últimos dez anos as condições externas extremamente favoráveis permitiram que a economia brasileira tivesse um desempenho muito positivo. A taxa de câmbio veio de 4 reais para 2, as reservas internacionais cresceram, fruto de um aumento expressivo no saldo comercial devido à grande melhoria nos termos de troca, e os juros reais e nominais despencaram.
De 2003 a 2008 o Brasil foi favorecido pela “época de ouro” da economia mundial com o período da “grande moderação”, quando a atividade econômica e a taxa de inflação no mundo se mantiveram com baixa flutuação, fruto de intensa movimentação nas taxas de juros praticadas pelos bancos centrais, em especial o FED americano.
A crise de 2008, em boa parte consequência do excessivo juro baixo desses anos anteriores, trouxe uma retração da economia mundial sem precedentes nas últimas décadas. A resposta dos bancos centrais foi uma explosão de liquidez e redução de juros para praticamente zero.
Vivemos hoje uma situação inédita, com as economias desenvolvidas mantendo a liquidez abundante e o juro real negativo. Estamos pisando um terreno desconhecido, em que mesmo os bancos centrais vão ter de usar muita arte para sair dessa situação de emergência e voltar para a normalidade.
Daqui para a frente o mundo caminha para a volta da política monetária convencional. Com a retomada, ainda que gradual, do crescimento americano, vamos assistir nos próximos anos a uma redução da liquidez mundial e aumento nas taxas de juros externas.
Esse retorno à normalidade no mundo vai pegar o Brasil numa situação de fragilidade. Alguns preços importantes estão errados, como a taxa de câmbio e a taxa de juros. Não somente por decisões equivocadas de política econômica no Brasil, como também pela própria mudança que o mundo vai enfrentar nos próximos anos, com juro maior e liquidez menor.
A decisão mais apropriada para o Brasil enfrentar as mudanças externas seria a de repetir a experiência de janeiro de 1999. Deixar o câmbio flutuar, apertar a política monetária, o que implicaria jogar o juro para cima, e mudar a política fiscal com o objetivo de alcançar um superávit primário elevado.
Essa estratégia, em resposta às mudanças das condições de liquidez mundial, deve implicar em taxa de câmbio e taxa de juro bem mais altas do que as atuais, e uma recessão temporária na economia brasileira.
Como 1999 nos mostrou, após algum período de ajuste, a economia brasileira sairia mais forte, com os preços ajustados, e pronta para iniciar um novo ciclo de crescimento de forma saudável.
Nos próximos anos no Brasil temos um encontro marcado com um ajuste de preços na economia , em especial câmbio e juros. A alternativa ao ajuste à la 99 seria não fazer nada e esperar que a correção de preços venha de forma confusa e atabalhoada. A decisão mais sensata, e melhor para nossa economia, parece ser a de se antecipar e tomar as decisões necessárias para enfrentar os desafios que vamos ter pela frente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário