sexta-feira, dezembro 13, 2013

México derruba um tabu econômico, o do petróleo - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 13/12

O Brasil terá agora pela frente forte competidor na atração de investimentos para o setor e, por isso, precisará rever regras que fizeram o país caminhar para trás



O México passou por uma grande transformação econômica nos anos 1990, que tirou o país da estagnação. Herança da revolução zapatista no início do século XX, a agricultura mexicana mantinha uma estrutura arcaica de produção que a fazia só definhar, a ponto de parte do milho consumido (alimento básico na dieta da população, acreditando-se até mesmo que o nome México derive da palavra que identificava o cereal na língua nahuatl, falada pelos astecas) ser importado dos Estados Unidos. O excesso de intervencionismo estatal determinava que uma autorização de instalação de um simples posto de gasolina era prerrogativa do presidente da República. Caminhões que transportavam mercadorias voltavam vazios porque não lhes era permitido aceitar outros tipos de carga, e assim por diante.

As reformas mudaram o quadro, e a economia mexicana se revitalizou, pavimentando caminho para o país ingressar em um tratado de livre comércio com dois parceiros poderosíssimos, os Estados Unidos e o Canadá (Nafta). Não fossem tais mudanças, a economia mexicana teria sido esmagada mais tarde pela avalanche industrial chinesa. Mas o México sobreviveu a esse massacre e tem atraído grande volume de capitais estrangeiros para atividades importantes, como, por exemplo, o setor automobilístico (o Brasil importa muitos modelos de lá) e a petroquímica.

Embora as reformas tenham sido amplas, eliminando antigos e ineficientes monopólios estatais, um deles permaneceu intocado: o do petróleo. “Nacionalizado” pelo presidente Lázaro Cárdenas, em 1938, o petróleo permanecia como um velho símbolo da revolução mexicana. É preciso entender a dificuldade de se ultrapassar barreiras culturais envolvendo o tema naquele país. O México nunca superou o trauma da conquista espanhola, que se superpôs a uma civilização já existente (a então capital asteca tinha um número de habitantes similar ao de Paris na época da chegada dos espanhóis). No século XIX, quase 50% do seu antigo território foi vendido aos Estados Unidos, e a relação com o país vizinho nem sempre foi amistosa. O ditador Porfírio Diaz proferiu uma célebre frase: “Pobre México, tão longe de Deus, tão perto dos Estados Unidos”.

O tabu caiu por força da realidade — como caem todos. Sob as rédeas da Pemex, a estatal petrolífera, o México perdeu posições no ranking dos grandes produtores mundiais. Há décadas a produção não cresce — ao contrário, caiu — e, para recuperar reservas, o país terá de multiplicar investimentos. Apoiado pelo PRI, partido que está no poder (cuja sigla significa Partido Revolucionário Institucional), o Congresso mexicano acaba de aprovar a lei que admite a entrada de novos investidores no seu mercado de petróleo.

O Brasil, que andou para trás nas regras referentes à indústria do petróleo, agora terá um forte competidor na disputa por investimentos. Se quiser atrai-los terá de repensar o modelo de partilha de produção que foi adotado para o pré-sal.

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