ISTO É PIAUÍ - 06/09
O ex-ministro Antonio Delfim Nerto conclamou os críticos impertinentes a fazerem justiça à retórica de Guido Mantega em recente artigo publicado no Valor (O ministro tinha razào). “Mantega estava certo quando alertou o mundo para a guerra cambial perpetrada pelos EUA, esses implacáveis belicistas monetários. Percebam o quão extraordinariamente visionário fora Guido Mantega logo agora, com o enfraquecimento generalizado das moedas dos países emergentes movidos pelas ameaças de reversão do laxisMG monetário americano.
A crise deflagrada pela hecatombe financeira de 2008, que fará cinco anos nas próximas semanas, suscitou respostas de política econômicas inéditas. A expansão monetária americana que dela proveio, foi a forma de não deixar que os EUA, e o mundo junto com eles, afundassem numa depressão à anos 30. Essa foi a principal motivacão para os QEs em série e para as demais inovações introduzidas pelo Fed. Evidentemente, os efeitos colaterais de qualquer experimentalismo são inevitáveis. A política de juros nulos levou às valorizações das moedas emergentes na busca frenética dos investidoreis internacionaís por retomo. Contudo, urge perguntar: o que seria preferível essa situação ou uma em que, em vez de o mundo ter saído, em meados de 2009, da recessão sincronizada que se abateu sobre diversos países, tivesse ficado preso torvelinho da falta de financiamento da escassez, do investimento, da queda da demanda e da tragédia do desemprego por anos a fio?
Passados cinco anos da pior crise econômica da história recente, o mundo avançado se recupera. Os EUA dão sinais claros de retomada de atividade, a despeito da disfuncionalidade do sistema político que impera. A Europa dá sinais de estabilidade – há seis meses a taxa de desemprego está estagnada na zona do euro. Parafraseando Mantega e sua inigualável criatividade parece que os países do Europa superaram o fundo do poço. O Japão adotou medidas extraordinárias e a economia parece estar reagindo. A China, apesar dos temores – recorrentes que tumultuam os o a mercados, continua a se expandir num ritmo invejável
Pode-se concluir desses fatos que, se as moedas da índia e do Brasil estão sendo rechaçadas, a culpa não é só do malvado do Fed, que quer enfraquecer o dólar e penalizar a todos com suas políticas disparatadas. O enfraquecimento é resultado, também, de políticas mal concebidas e geridas em nosso país, como o ex-ministro Delífim pontuou em diversas ocasiões.
Os mercados financeiros não são perfeitos e invariavelmente se metem em enrascadas. Isso, entretanto, não sanciona a tese de Mantega, tampouco os controles de capitais nos países emergentes. O que isso necessita é de um. arcabouço robusto e coordenado de regulação local e internacional, como escreveu a professora Hélène Rey, citada por Delfim. Algo que o mundo ainda está longe de implantar.
Superar o fundo do poço dá trabalho. Requer uma conduta macroeconômica impecável perante os novos desafios. Por enquanto, tudo o que conseguimos oferecer ao mundo e a nós mesmos foram floreios linguísticos, imagens fortes e narrativas distorcidas da realidade. Desse jeito, superaremos o fundo do poço em mais de um sentido.
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