FOLHA DE SP - 06/09
Apesar de mercado interno desanimar, produção e exportações de veículos cresce bem
AS MONTADORAS estão menos animadas com a venda de carros no Brasil, que deve crescer até uns 2%, em vez de 4,5% da previsão anterior da Anfavea, a associação do setor. Mas a produção de veículos aumentou uma enormidade, quase 14% até agosto, deve fechar o ano em alta de uns 12%, ante previsão anterior de 4,5%.
Mais produção e menos vendas domésticas significa que ao menos parte do estoque espirra para fora: tem sido exportado. É o que está acontecendo, um tanto surpreendentemente. A venda de automóveis e comerciais leves cresceu quase 31% neste ano (sobre os oito primeiros meses de 2012). A exportação total de veículos montados, incluídos aí ônibus e caminhões, até agora cresceu 28,4% (em número de unidades).
Apesar de estoques em alta, o setor está calminho, reclamando pouco. Também pudera, pode-se dizer, depois do impostaço sobre importados, de dezembro de 2011, e de redução de impostos para vendas domésticas. A participação de importados no mercado nacional caiu de 26%, na média do trimestre final de 2011, para 18,4%, no trimestre junho-agosto deste ano.
Olhando pelo retrovisor, o aumento das exportações começou em abril, maio (se a comparação é feita com as vendas do mesmo mês do ano anterior). Foi então que começou a onda recente de desvalorização do real. Em tese, os veículos brasileiros ficam mais baratos para o consumidor lá fora (pois o real foi um dos campeões em desvalorização neste ano).
Mas tal explicação por ora não faz lá muito sentido. Ou melhor, não conta toda a história. Primeiro, porque o dólar mais caro também aumenta custos das montadoras (que importam peças). Segundo, simplesmente porque não deu muito tempo: tempo de o dólar caro alterar custos relativos, preços em contratos etc.
Sim, a desvalorização do real deve ter dado um impulso nas vendas. Ainda assim, é preciso haver mercado comprador. Seria um sinal de recuperação da economia mundial? De que os argentinos, nossos maiores clientes em matéria de veículos, querem mais carros brasileiros? De que as montadoras, com um pé lá e outro aqui, acharam mais lucrativo forçar a mão do fluxo do comércio de carros no (falido) Mercosul?
De qualquer modo, melhor assim.
ESTRANHO BC
O Banco Central do Brasil acredita que o governo federal vai controlar seus gastos de modo a reduzir o impulso que tais despesas dão à inflação. É o que está dito na exposição de motivos da reunião do Comitê de Política Monetária da semana passada, em que a direção do BC estuda a conjuntura e decide a taxa de juros "básica" da economia, a Selic. O documento é conhecido como Ata do Copom.
A direção do BC acredita que o governo vai maneirar nos gastos até mais ou menos o final de 2014 ("no horizonte relevante de política monetária" deve querer dizer mais ou menos isso).
Bem, o próprio governo, na proposta de Orçamento apresentada na semana passada, disse que NÃO vai maneirar. Vai até dar uma relaxada, considerados os números deste ano. Isso é o que governo diz. O que ele vai fazer pode ser ainda pior: ano que vem tem Copa, eleição etc.
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