FOLHA DE SP - 06/09
A Venezuela sofreu nesta semana mais um dos apagões elétricos que se tornaram frequentes desde 2009, como resultado da gestão temerária de Hugo Chávez (morto em março deste ano) e Nicolás Maduro, que o sucedeu na Presidência.
Apesar da extensão do blecaute --a falha afetou 14 dos 23 Estados e atingiu parte da capital-- e de a Venezuela já ter declarado estado de emergência elétrica em abril, é pouco provável que a população receba explicação diversa da hipótese oficial de "sabotagem".
Há uma razão simples para isso: Maduro, fiel à doutrina chavista, não descuidou de cercear os meios de comunicação oposicionistas. Sufocados há anos, veículos alternativos ao discurso dogmático têm cada vez menos espaço.
Em maio, o canal privado de televisão Globovisión foi comprado por empresários alinhados ao governo. Desde então, vários jornalistas deixaram a empresa relatando ingerência oficialista.
Pode-se argumentar, com razão, que a cobertura da Globovisión pautava-se pelos desejos da oposição, mas seu noticiário era uma das poucas vozes dissonantes. Se esse tipo de contraditório já escasseava desde que Chávez, em 2007, deixou de renovar a concessão da RCTV, agora não há mais abrigo para o pluralismo na televisão aberta.
A Venevisión e a Televen mudaram a linha editorial no intuito de não criar indisposição com o governo. Mesmo assim, ouviram de Maduro a exigência por uma programação de "paz e estabilidade". Trata-se de tirar do ar notícias sobre a violência epidêmica no país.
O controle aumentou até nos canais estatais. Recentemente, um comentarista foi demitido após chamar de "ridícula" a campanha de desarmamento do governo.
Também sofrem os meios impressos, habitualmente mais críticos --liderados por "El Universal" e "El Nacional", ambos tradicionais publicações de Caracas. Três jornais regionais deixaram de circular nas últimas semanas devido à falta de papel, cuja importação tem sido dificultada pelo governo.
Resta, é claro, o recurso à internet. A iniciativa, porém, tropeça no serviço de banda larga da Venezuela --que ocupa o 173º lugar entre 186 países num ranking de velocidade em que o Brasil é o 75º.
São problemáticas, sem dúvida, as quedas de energia. No caso venezuelano, contudo, mais preocupante é o apagão de informações.
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