FOLHA DE SP - 06/09
BRASÍLIA - O Banco Central mudou de posição sobre o efeito da política fiscal na inflação brasileira.
Até julho, Alexandre Tombini e seus colegas de diretoria acreditavam que os gastos públicos eram um elemento de pressão sobre os preços. Agora, essas despesas saíram da lista de inconvenientes ao controle inflacionário.
É difícil entender tal mudança. A política de aperto dos gastos públicos não sofreu nenhuma alteração que pudesse suscitar nova análise entre a reunião de julho do Comitê de Política Monetária e o encontro realizado na semana passada. As evidências indicam que não há no horizonte sinais de aumento da austeridade fiscal.
O ministro Guido Mantega (Fazenda) insiste que, até dezembro, União, Estados e municípios vão entregar a poupança prometida para pagar os juros da dívida pública. Fora dos gabinetes oficiais, a melhor aposta é que essa economia vai ficar em 70% do prometido.
As perspectivas para 2014 vão na mesma linha. O último ano de mandato da presidente Dilma será o de maior aumento dos gastos em proporção às receitas, de acordo com a proposta orçamentária enviada ao Congresso.
Mesmo que a economia cresça os 4% estimados (o que ninguém acredita) e as receitas avancem como projetado, o aperto fiscal será menor do que o governo diz que entregará em 2013. Para a conta fechar, governadores e prefeitos precisam bancar quase metade do esforço --outra aposta otimista, considerando o histórico.
Detalhe importante: gastos públicos aumentam em anos eleitorais, como 2014, não o contrário.
Diante desses dados, a mudança de postura do BC conseguiu apenas abrir um novo flanco de dúvidas. Para uma instituição que se esforça para recuperar a credibilidade, este não é o melhor momento para levantar questionamentos sobre um tema tão delicado.
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