sábado, junho 22, 2013

Quem atirou a primeira pedra? - JORGE BASTOS MORENO - Nhenhenhém

O GLOBO - 22/06

Registrou-se, anteontem, a maior manifestação popular da História do país: 1,2 milhão de pessoas foi às ruas com uma pauta de reivindicações, a mais importante das quais, a redução de tarifas de ônibus, já atendida em grande parte das cidades.
E, já que estamos, com toda a razão, perplexos com números e recordes, refresquemos nossa memória. Há cinco meses, outro número assustador, também, bateu às portas do Congresso Nacional: 1,3 milhão de assinaturas pela não posse de Renan Calheiros na presidência do Senado.
Além de jogar no lixo o documento, o Congresso fez de Henrique Alves presidente da Câmara e de Marcos Feliciano presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos. E, já como requinte de crueldade dos acintes cometidos contra a sociedade, o PMDB, maior partido da Casa, fez de Eduardo Cunha seu líder na Câmara. Ninguém poderia imaginar que aquelas assinaturas ganhariam pernas e iriam para a rua.

Mártir
O PT tirou um dos melhores quadros da academia e o botou na política.
Com seis meses no terceiro maior cargo executivo do país, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, foi esfolado em praça pública pelo partido.
Para não virar "pato manco", abrigou-se sob as asas do governador Geraldo Alckmin.
E de lá não pretende sair tão cedo.

Bullying
No colo do governador, o prefeito contou como foi desmoralizado por Dilma, Lula e Rui Falcão.

Elogio
A um amigo, o prefeito disse ter ficado impressionado com a Dilma.
- Ela está muito focada no trabalho. Noventa por cento da nossa conversa foram sobre o PAC. Nem parecia que o país está de cabeça para baixo.

Impedimento
Ávido por mostrar serviço, Renan tentou entabular negociação com os manifestantes.
Não logrou êxitos.
Nem poderia.
Ele é pauta das reivindicações.

Ação
As ruas, em poucas horas, envelheceram partidos e seus quadros.
É, portanto, exercício de insanidade especular sobre sucessão presidencial.
Esse movimento das ruas não tem "day after".
É um movimento em construção.

FH, de fora
A média de idade da maioria dos manifestantes está na faixa dos 17 aos 25 anos.
Portanto, grande parte desses jovens estava na casa de um dígito apenas quando FH deixou o poder.
Seus erros estão prescritos, mas os do PSDB, não.

Quase
As manifestações vieram no momento em que o mercado pressionava por uma mudança radical de rumos do governo.
Henrique Meirelles voltaria, mas desta vez para a Fazenda, no lugar de Guido Mantega.

Exageros
Dilma amanheceu de mau humor porque a mídia mundial transformou seu despacho rotineiro com o ministro da Justiça em reunião de emergência do ministério.

"Em pauta"
A presidente acompanhou tudo pela Globo News.
Onde o clima esquentava, ela ligava na hora para o governador.
Cabral mereceu atenção especial.
Até governadores que nunca receberam telefonemas dela ouviram palavras de apoio e oferecimento de ajuda.

Tentativa
Correndo atrás dos prejuízos, o presidente da Câmara, Henrique Alves, convocou líderes para desarmar as duas bombas que ameaçam explodir agora.
A PEC 37 e a "cura gay".

Diferença
Agora que a comparação é inevitável e recorrente, aqui vai uma pequena contribuição para mostrar a diferença fundamental das "Diretas" com relação às manifestações de agora.
Ulysses, jogando a toalha no voo da madrugada de Cuiabá para São Paulo:
- Lula, nós botamos o povo nas ruas. Quem é que vai tirá-lo de lá?
Desta vez, ninguém botou. Ele caminhou com as próprias pernas.

Nenhum comentário: