sábado, junho 22, 2013

Não importa a distância - ORLANDO BRITO

CORREIO BRAZILIENSE - 22/06

Londres, maio de 1976. Brasileiros e ingleses portam cartazes em dois idiomas de protesto contra as torturas, comparando Ernesto Geisel a Augusto Pinochet e exigindo liberdade para o povo durante a visita do presidente brasileiro à Grã-Bretanha.

Como foi 
Durante esta semana, vendo pela tevê e na internet o apoio de brasileiros residentes no exterior às recentes manifestações que pedem mudanças econômicas, políticas e sociais do país, observei uma faixa que dizia, em grandes letras:

"Não importa a distância, nossas causas são as mesmas."

Em mais de 50 grandes cidades do estrangeiro, houve manifestações idênticas. A solidariedade de conterrâneos que residem em outros países me fez relembrar: de 1966 até hoje, faço cobertura da Presidência da República. De Castelo Branco a Dilma Rousseff. Nem sei quantas vezes viajei ao exterior para fotografar as viagens dos presidentes que tiveram assento no Palácio do Planalto nesse período. Em muitas delas, presenciei e retratei protestos semelhantes contra questões parecidas.

Recordo-me de quando o general Garrastazu Médici foi a Lisboa em viagem oficial, em 1973. Havia pichações em poucos muros da Avenida da Liberdade contra o regime militar brasileiro. Eram poucos porque Portugal também vivia clima de ditadura. Aliás, o regime militar do Brasil sempre foi alvo de manifestações. Não somente de estrangeiros, mas principalmente, e brasileiros que, por várias razões, moravam fora do país. Muitos, na verdade, exilados políticos.

Em duas ocasiões, por exemplo, fotografei protestos destinados ao general Ernesto Geisel. Essa aí, em Londres, chamou-me a atenção pelo clima pacífico entre os manifestantes e a polícia inglesa, a Scotland Yard. Pude documentar também movimento similar durante sua ida ao México, em 1978. Um grupo de exilados fez passeata defronte ao hotel da comitiva presidencial.

Alguns historiadores afirmam que aqueles protestos contribuíram para o destino do Brasil e tenham se somado às outras razões que levaram Geisel a botar em curso o processo de reabertura política.

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