sábado, junho 22, 2013

Mudanças no mundo do trabalho - KÁTIA ABREU

FOLHA DE SP - 22/06

É importante reconhecer os benefícios que vieram com a globalização, o livre comércio e a economia de mercado


Estive esta semana em Genebra, onde levei à Conferência da Organização Internacional do Trabalho (OIT) alguns temas que considero relevantes para o mundo do trabalho como um todo.

Representei o setor empresarial brasileiro, em especial a agropecuária, e confesso ter me sentido particularmente à vontade naquele encontro em que os aspectos humanos da economia estiveram em primeiro plano.

De forma geral, o empregador brasileiro está bastante consciente das dificuldades que o mundo atravessa. Vivemos num país que ainda precisa avançar na redução dos índices de pobreza. Só recentemente, mais de 20 milhões de brasileiros deixaram essa condição.

Manifestei em meu pronunciamento a certeza de que, quaisquer que venham a ser as mudanças na sociedade e na economia, a OIT não pode renunciar às suas responsabilidades com os que sofrem injustiças, privações e, sobretudo, com a falta de condições decentes de trabalho

Esse posicionamento não se confunde com compaixão. Demanda esforço permanente para compreender as transformações e a verdadeira natureza das crises, e para reconhecer o que está, ou não, dentro dos limites do controle de nossa vontade.

Tanto o ceticismo em relação à nossa capacidade de intervir nos processos econômicos e sociais como o excesso de voluntarismo ou a tentação das utopias nos impedem de construir os avanços que constituem o verdadeiro progresso humano.

Embora uma parte importante do mundo esteja em crise "" e padecendo do mais terrível efeito dela, que é o desemprego-- é impossível não reconhecer que ele está melhorando e se tornando mais justo.

Nos últimos 20 anos, o número de pessoas vivendo em pobreza absoluta foi reduzido à metade. No Brasil, este progresso é visível, transformando a estrutura social e a própria fisionomia das cidades e dos campos.

Neste momento, as economias emergentes e em desenvolvimento já têm uma participação maior na produção mundial do que as economias desenvolvidas.

Importante reconhecer que tudo isto é fruto, primordialmente, do crescimento econômico resultante da globalização, do livre comércio e da economia de mercado.

Esses princípios surgiram e se impuseram nas sociedades dos países ricos e foram suas melhores mercadorias de exportação. Não seria justo nem compreensível que, diante de dificuldades transitórias, estes países patrocinassem a volta aos mercados protegidos e ao Estado onipresente. Tudo o que não lhes serviu em suas marchas para o progresso.

A organização da produção econômica e o mundo do trabalho estão em processo de transformação acelerada. A produção está fragmentada em longas cadeias que cruzam regiões e fronteiras nacionais. As formas tradicionais de relação de trabalho não sobrevivem às novas realidades.

Segundo o sociólogo espanhol Manuel Castells, a produtividade e a competitividade são os processos centrais da economia moderna. A produtividade depende de um processo contínuo de inovação que, no seu curso, desloca o trabalho entre indústrias, setores e regiões. E a competitividade em níveis globais apoia-se na flexibilidade.

Tudo isso conspira contra a estabilidade do trabalho e das vidas humanas. São mudanças que, de um lado, implicam muitos custos sociais, mas de outro criam renda e riqueza, absorvendo novos trabalhadores, antes excluídos.

Neste contexto, proteger os direitos essenciais da pessoa obriga que sejamos inovadores e criativos.

Como bem registrou o diretor-geral da OIT, Guy Ryder, às vezes, questões de princípio viram pretexto para a intransigência. Padrões de garantia que serviram no passado podem ser disfuncionais na atualidade.

E não podemos perder de vista que as condições sociais e culturais no mundo ainda são muito heterogêneas. Abrir-se para este reconhecimento não é sinal de fraqueza, mas de sabedoria.

Os países emergentes não podem deixar de ser otimistas em relação ao futuro e às transformações presentes. O mundo do trabalho está mudando e o grande desafio é proteger o ser humano em primeiro lugar.

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