quarta-feira, novembro 28, 2012

Hora das amarras - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 28/11

Da mesma forma que agiu rápido para afastar Rosemary Noronha e apadrinhados do governo, a presidente Dilma Rousseff precisa agora jogar na arena da política para proteger o Poder Executivo dentro do Congresso. E uma das maneiras que escolheu para fazer isso foi chamando líderes e aliados para “aquela conversa”. Os líderes do PT e do governo foram chamados ontem. Mas todos estão conscientes de que apenas isso não basta.

Aos líderes do governo, foi dada a tarefa de repetir diuturnamente que o Poder Executivo está aberto a dar explicações, e que, da parte da presidente, as ações mais urgentes já foram adotadas. Ok, mas isso não tira da oposição o direito e até o dever de cobrar detalhes. A oposição quer saber, por exemplo, quem dava tanto poder a Rosemary Noronha, e que história é essa de uma simples chefe do escritório paulista — cargo que nunca na história desse país foi tão conhecido — ter tantos indicados. E essa pergunta pode desaguar no ex-presidente Lula, daí, a conversa envolver os líderes petistas que ficarão encarregados de fazer a defesa do ex-presidente, a figura mais popular e carismática do PT.

Dentro dessa linha de defesa, não será surpresa se governo e PT adotarem a mesma estratégia usada quando da divulgação do escândalo do mensalão, em 2005. Naquela temporada, Lula recorreu ao PMDB de Michel Temer. O então deputado Geddel Vieira Lima virou ministro da Integração Nacional. Para os peemedebistas do Senado coube o Ministério de Minas e Energia. Da parte da Câmara, houve ainda a ascensão ao Ministério da Saúde.

Desta vez, com Dilma no comando, antes mesmo de estourar a Operação Porto Seguro e a investigação sobre a chefe do escritório presidencial em São Paulo, já havia o interesse de dar mais espaço ao PMDB e ainda acolher o partido do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. As razões, entretanto, eram apenas evitar que esses aliados e potenciais apoiadores rumo a 2014 terminassem migrando para um projeto alternativo, leia-se, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos.

Agora, os ventos indicam que essas amarras, tanto no caso de Kassab quanto do PMDB, passam a deixar de ser apenas de preventivas a médio e longo prazo. A ordem é reforçar as alianças o mais rápido possível, para não expor ainda mais o PT e seu maior líder. Da ótica do partido, já basta o fato de tentarem envolver Lula no episódio do mensalão.

Não foi à toa que Kassab, por exemplo, já foi chamado para integrar a base do governo e apoiar a presidente Dilma. Ontem, na parte fechada da reunião da Executiva do PSD em Brasília, Kassab contou a seus correligionários que Dilma tem algumas opções de ministérios para integrar o partido a seu governo. Ou seja, a intenção dela não é restringir a participação da legenda de Kassab a um posto periférico. A fase agora é de consultar os nomes mais importantes do PSD pelo Brasil afora para, a partir daí, dar uma resposta à presidente.

Enquanto isso, o governo faz as contas

Só o fato de Dilma ter convidado Kassab para apresentar um nome a sua equipe já é sinal de que a reforma ministerial está em estudo e não vai demorar tanto quanto se previa em outubro. Afinal, uma bancada com mais de 50 deputados, o caso do PSD, não pode ser desdenhada ou deixada à deriva, pronta para se aproximar da oposição. Kassab, por sua vez, não pretende criar problemas para a presidente, nem para o antecessor dela.

Na hipótese de o PSD passar a compor a bancada governista, ainda que com um certo viés de independência, Dilma passará a contar teoricamente com quase 400 deputados na sua base. Número para ninguém botar defeito.

Por falar em números…

Quem sonha em ter todo esse apoio é o deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), candidato a presidente da Câmara. A marca, entretanto, será difícil de alcançar porque as candidaturas começam a sair da toca. Ontem, por exemplo, o deputado Júlio Delgado (PSB-MG) aproveitou o futebol em comemoração ao seu aniversário para sentir o clima para se apresentar. Juntando isso, com o fato de Eduardo Campos ter dito que, em relação à sucessão na Câmara, acolherá o que a bancada socialista decidir, pode-se concluir que Delgado está terminando a fase de aquecimento para entrar em campo. Se entrar, é sinal de que os ventos e os temporais que muitos consideravam que iriam para longe da disputa da Câmara, se aproximam. Mas essa é outra história.

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