O banco de reservas joga mal?
FOLHA DE SÃO PAULO - 11/10/09
DESDE MEADOS do ano, o Banco Central compra todos os dólares que "sobram", o saldo do fluxo cambial, e ainda mais um pouco. Mas o dólar desliza para o fundo do vale como os morros brasileiros em dias de chuva. Apesar de eufemismos e desconversas, o real se valoriza também em relação às moedas dos países com os quais o Brasil tem mais comércio (qualquer que seja a cesta de moedas, entre as mais usadas no país). Desde o início do ano, as reservas internacionais do Brasil aumentaram US$ 37,7 bilhões, para US$ 231,5 bilhões. Desde o setembro de 2008 da explosão da crise, cresceram US$ 25 bilhões. No ritmo de compras deste ano, o país chegaria ao final do governo Lula com quase US$ 300 bilhões na caixinha. Com dólar a R$ 1,50?
Essa "estimativa" de reservas não passa de regra de três, e previsão de câmbio é chute. Mas a imagem ilustra a disparidade entre o esforço de incrementar as reservas e o seu benefício. A depender do gosto do freguês, o benefício pode ser entendido como evitar um real ainda mais forte ou aumentar o seguro financeiro proporcionado pelas reservas. Mas o benefício, que parece decrescer, compensa a despesa adicional?
É a pergunta de Otaviano Canuto, um dos vices do Banco Mundial, e Bruno Saraiva, economista do BID, em artigo no RGE Monitor, o site de Nouriel Roubini. Canuto e Saraiva lembram que o governo do Brasil tem deficit fiscal e dívida pública que custa por ano 5% do PIB em juros. Estimam que o custo mensal de manter reservas anda por US$ 800 milhões (o que dá 0,7% do PIB em um ano. As reservas custam porque o governo emite dívida para comprar dólares; a taxa de juros da dívida em reais é muito maior que a obtida pelo país ao aplicar os dólares).
Porém, o país empilhou reservas bastantes para conter os efeitos maiores da pior crise financeira em 80 anos. No meio do tumulto, pôde baixar juros e gastar a fim de estimular uma recuperação rápida da economia, o que é inédito. Precisa de mais reservas? Para quê?
Saraiva e Canuto dizem que, por ora, não haveria evidências de que o real forte prejudica a indústria, embora acreditem que é preciso estudar melhor o assunto e os riscos de o mercado fazer lambança daninha com a taxa de câmbio. Mas qual a melhor estratégia para evitar a excessiva valorização do real, supondo que algo deva ser feito?
Um: óbvio, reduzir juros e taxar a entrada de dólares; dois, abrir ainda mais o mercado, de modo a facilitar a saída de dólares, ou estimular o investimento brasileiro no exterior; três, manter a estratégia atual, que, porém, torna-se contraproducente se a compra de dólares for ainda maior (e já não tem funcionado).
A estratégia de drenar a sobra de dólares torna-se ainda menos eficaz dadas a sobra de dinheiro global e a revalorização das commodities que o país exporta e a diferença ainda brutal entre os juros daqui e no centro do mundo. Mesmo depois de enxuto o excesso de liquidez global, porém, a tendência de valorização do real tende a continuar (se o país continuar a melhorar). O que fazer então? Lidar logo com "os fatores negativos que afetam diretamente a competitividade dos setores tecnologicamente mais dinâmicos da economia brasileira", escreve a dupla.
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