domingo, outubro 11, 2009

MARCOS COIMBRA

OS CANDIDATOS EM CAMPANHA

CORREIO BRAZILIENSE


Enfim, lá vão os candidatos, cumprindo a rotina de uma eleição que foi exageradamente antecipada. Quanto aos eleitores, na sua imensa maioria, não estão nem aí para o que eles fazem

É algo conhecido faz tempo, mas espanta o ritmo acelerado em que vai andando a campanha para a eleição presidencial de 2010. Quem acompanhou o noticiário político da semana voltou a ver quão rápido ele é. Olhando para o que fizeram quase todos os pré-candidatos, tem-se a impressão de que vamos escolher o sucessor de Lula daqui a semanas e não meses, muitos meses. Todos estão com agendas cheias, multiplicando-se em reuniões, encontros, viagens daqui para ali. A eleição está longe, mas eles agem como se estivesse pertíssimo.

Quem mais tem se esforçado parece ser Dilma. Pudera, ela tem que recuperar um tempo precioso que perdeu para os concorrentes no período em que precisou descansar para cuidar da saúde. Na corrida frenética em que todos estão, ela agora se desdobra em mil atividades, que a levam de Norte a Sul do país. Um dia estava no Paraná, visitando hospitais; outro no Rio, por conta da Olimpíada; depois em São Paulo, orando com uns; agora em Belém, acompanhando o Círio. Ufa!

Como ministra, ela pode se movimentar pelo país sem as limitações de recursos e agenda que os demais. Comparada com a deles, sua infraestrutura de campanha ganha de goleada, mesmo lembrando que dois são governadores de estados ricos. Serra e Aécio precisam ter um motivo ponderável para se ausentar de seus postos em horário, digamos, comercial. Dilma pode ter afazeres em qualquer lugar.

Ainda mais quando Lula está no Brasil, coisa que, é verdade, não é tão comum. Quando podem, os dois têm compromissos quase diários. Nesta semana, por exemplo, vão passar juntos três dias em viagem pela Bacia do São Francisco, na qual até dormir em barracas (talvez para criar um clima de aventuras) vão dormir. O pretexto é “supervisionar” as obras de transposição do rio, mas poderia ser outro.

Os tucanos só raramente têm justificativas administrativas para viajar, o que significa, também, que a maior parte de seus contatos políticos se dá quando recebem convidados em São Paulo ou Belo Horizonte. Dilma, Ciro e Marina estão em Brasília por obrigação (ou, pelo menos, deveriam estar) — o que facilita as coisas.

Se analisarmos o que fazem os dois que são parlamentares, vemos diferenças. Marina continua a usar a tribuna do Senado para se posicionar a respeito de temas que dizem respeito à campanha presidencial. Nada a objetar, pois isso é compatível com o exercício do mandato que recebeu dos eleitores do Acre. O mesmo, porém, não se pode dizer de muitos de seus compromissos, que a levam a lugares e eventos irrelevantes para os interesses de seu estado.

A menos que se imagine que ela pode fazer o que quiser com o mandato, como se tivesse recebido um cheque em branco dos eleitores. Caberia a ela própria interpretar o desejo dos que nela votaram e agir em consonância com essa interpretação.

Nisso, Ciro foi mais longe, ao transferir seu domicilio eleitoral para São Paulo. Aliás, temos que acreditar que o deputado resolveu, de fato, mudar-se para a cidade, lá fixando residência. Como ele não deve estar faltando com a verdade para com a Justiça Eleitoral, é lá mesmo que vai morar. Fica a dúvida se faz sentido uma interpretação tão elástica do mandato que recebeu dos eleitores do Ceará.

Dado que Ciro não esconde de ninguém que um de seus principais objetivos em 2010 é atazanar José Serra, não há nada de estranho que lideranças do PSDB pretendam questionar essa transferência. É claro que é uma ação política, o que não muda o fato de que viver na metrópole e representar o Ceará tem cheiro do Brasil de antigamente. Da época em que vários deputados faziam sua vida no Rio e só iam por obrigação a seus estados.

Ninguém sabe o efeito eleitoral de tanta agitação. A presença de um possível candidato em uma cidade, para uma breve visita, a esta distância da eleição, sequer é notada pelo cidadão comum. Para a minoria que a percebe, é pouco provável que tenha qualquer impacto na decisão de voto que tomará lá na frente.

Mesmo se for Dilma. Quando vai sozinha, fica igual aos demais, passando despercebida. Acompanhando Lula, ainda que ele a puxe para a frente do palanque, se torna presença menor. Lula está com imagem tão grande que, a seu lado, todos somem.

Enfim, lá vão os candidatos, cumprindo a rotina de uma eleição que foi exageradamente antecipada. Quanto aos eleitores, na sua imensa maioria, não estão nem aí para o que eles fazem.


Marcos Coimbra, Sociólogo e Presidente do Instituto Vox Populi

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