FOLHA DE SÃO PAULO - 11/10/09
RIO DE JANEIRO - O iracundo Helmut Kohl, que em seus 16 anos à frente do governo alemão se tornou o mais duradouro chanceler daquele país, foi levado a conhecer a praia de Copacabana na primavera de 1996, quando de sua visita oficial ao país. Com a lógica fria de quem comandou a unificação alemã, ao avistar do calçadão milhares de pessoas sob o sol nas areais da zona sul, num dia de semana, ou seja, dia supostamente útil, questionou: "Essa gente não trabalha?".
O IBGE mostra que mais de 3 milhões de jovens entre 20 e 24 anos relatam não estudar nem trabalhar; no máximo se dedicam a afazeres domésticos. Poucos desses estão entre a juventude bronzeada que espantou Kohl.
São na realidade um exército de reserva de mão de obra do capitalismo, como afirmava Marx? Dificilmente. O capitalismo moderno já os dispensou. Quem os alista agora são os exércitos da marginalidade, do tráfico ou, na melhor das hipóteses, da economia informal.
O sociólogo polonês Zygmunt Bauman aponta como sinal da modernidade dois grandes grupos sociais: os turistas e os vagabundos. Os primeiros são sintoma de uma sociedade de consumo de grande circulação de dinheiro e mercadorias, sem nenhum apego ao chão onde pisam. Os segundos são os excluídos da força de trabalho e do mercado de consumo. São aqueles que foram feitos vagabundos; não escolheram ser vagabundos.
A hora de a gente bronzeada mostrar seu valor passou. O samba de 1940 do compositor baiano Assis Valente é de uma alegria ufanista que não combina com o autor -suicidou-se em 1958, aos 46 anos, e deixou nos bolsos um bilhete pedindo que Ary Barroso pagasse seus aluguéis em atraso. No Brasil, é assim: valente ufanista morre pobre e endividado; jovem já é descartado antes mesmo de começar a viver.
RIO DE JANEIRO - O iracundo Helmut Kohl, que em seus 16 anos à frente do governo alemão se tornou o mais duradouro chanceler daquele país, foi levado a conhecer a praia de Copacabana na primavera de 1996, quando de sua visita oficial ao país. Com a lógica fria de quem comandou a unificação alemã, ao avistar do calçadão milhares de pessoas sob o sol nas areais da zona sul, num dia de semana, ou seja, dia supostamente útil, questionou: "Essa gente não trabalha?".
O IBGE mostra que mais de 3 milhões de jovens entre 20 e 24 anos relatam não estudar nem trabalhar; no máximo se dedicam a afazeres domésticos. Poucos desses estão entre a juventude bronzeada que espantou Kohl.
São na realidade um exército de reserva de mão de obra do capitalismo, como afirmava Marx? Dificilmente. O capitalismo moderno já os dispensou. Quem os alista agora são os exércitos da marginalidade, do tráfico ou, na melhor das hipóteses, da economia informal.
O sociólogo polonês Zygmunt Bauman aponta como sinal da modernidade dois grandes grupos sociais: os turistas e os vagabundos. Os primeiros são sintoma de uma sociedade de consumo de grande circulação de dinheiro e mercadorias, sem nenhum apego ao chão onde pisam. Os segundos são os excluídos da força de trabalho e do mercado de consumo. São aqueles que foram feitos vagabundos; não escolheram ser vagabundos.
A hora de a gente bronzeada mostrar seu valor passou. O samba de 1940 do compositor baiano Assis Valente é de uma alegria ufanista que não combina com o autor -suicidou-se em 1958, aos 46 anos, e deixou nos bolsos um bilhete pedindo que Ary Barroso pagasse seus aluguéis em atraso. No Brasil, é assim: valente ufanista morre pobre e endividado; jovem já é descartado antes mesmo de começar a viver.
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