O Estado de S.Paulo - 03/10
Mais um resultado medíocre da indústria. Em agosto não houve nem crescimento nem queda da produção industrial sobre junho. Mas o número final tem de ser encarado como negativo porque o IBGE reviu para menos (-2,4%) do que tinha visto antes (-2,2%) a produção de julho. Ou seja, o ponto de partida de agosto ficou abaixo do que se imaginava. No acumulado dos oito primeiros meses do ano, o crescimento da indústria foi de apenas 1,6% e, em 12 meses, de 0,7%.
A nota positiva está no segmento de bens de capital (máquinas e equipamentos) que avançou 2,6% em agosto e 13,5% no acumulado de janeiro a agosto. É indicador de que, apesar de tudo, a indústria está investindo, o que também está sendo confirmado a partir das informações colhidas no movimento de importações que, neste ano, vêm crescendo à média diária de 6,5%.
Alguns analistas olham para curvas como as que estão publicadas ao lado e se preocupam com o que entendem como forte volatilidade da atividade industrial. Mas o resultado é lamentável também quando se examinam as médias móveis trimestrais, que minimizam o efeito volátil.
O mau desempenho da indústria não pode ser debitado quase unicamente à crise externa, como estão argumentando as autoridades. É verdade que nos nove primeiros meses deste ano a exportação de produtos industrializados caiu 2,6%. Aí há muito jogo contra do próprio governo, na medida em que tolera injustificadamente a retranca comercial, contrária aos tratados, por parte da Argentina e pouco ou quase nada vem fazendo para abrir mercado externo para a produção brasileira (e não só para a indústria), por meio de acordos comerciais.
Mas o buraco é ainda mais embaixo. Os custos de produção continuam subindo em reais; até mesmo o excelente desempenho agrícola produz um efeito ruim porque estressa ainda mais a utilização da já precária infraestrutura brasileira; os custos trabalhistas estão aumentando; e a burocracia da Receita Federal chegou ao cúmulo de exigir das empresas duas contabilidades paralelas, com duas auditorias também paralelas.
O governo alardeia, como há três dias o fez o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que tem baixado os custos: do crédito, da energia elétrica, dos encargos sociais. São iniciativas casuísticas, pouco abrangentes e quase sempre temporárias. Quando são minimamente eficientes, provocam distorções, porque favorecem algumas empresas em detrimento de outras e desequilibram preços relativos. Tudo isso contribui para minar a confiança, fator que também ajuda a derrubar o resultado.
A competitividade da indústria brasileira, que é reconhecidamente baixa, está para enfrentar novos impactos dramáticos nos próximos anos, quando as indústrias instaladas nos Estados Unidos, no Canadá e no México tiverem acesso a gás natural e energia elétrica a uma fração do custo atual em consequência da revolução do xisto. Não há mobilização do governo para enfrentar esse novo nível de competitividade do qual a indústria americana começa a tirar proveito.
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